Escribas e fariseus da época de Jesus
AI DE VÓS ESCRIBAS E FARISEUS
Ai
de vós, ó fariseus, que pagais os dízimos da hortelã e da arruda, da mostarda e
do cominho, do funcho e de todas as outras hortaliças, mas vos descuidais da
justiça e do amor a Deus. Pagar os dízimos é um dever, e se cumpre. Mas há
outros deveres, e que também são cumpridos. Ai de quem observa as coisas
exteriores, e se descuida de observar as interiores, baseados sobre o amor a
Deus e ao próximo.
Ai
de vós, ó fariseus, que amais os primeiros lugares nas sinagogas e nas
reuniões, e gostais de ser reverenciados nas praças, mas não pensais em fazer
os obras que vos dêem um lugar no Céu, e mereçam para vós a reverência dos
anjos. Vós sois parecidos a uns escondidos, que ficam sem serem observados por
quem passa por perto deles e não sente arrepios, mas que arrepios sentiria, se
pudesse ver o que é que está fechado dentro deles. Deus porém, vê todas as
coisas até as mais ocultas, e não se engana ao julgar-vos.”
Jesus
é interrompido por um doutor da Lei, que se levanta, e põe-se de pé para
contradizê-lo. “Mestre, falando assim nos ofendes, logo a nós, e isso não te
convém, porque nós devemos te julgar.”
“Não. Não vós. Vós não podeis julgar-me,
vós é que sereis os julgados e não juízes, e quem vos julga é Deus. Vós podeis
falar, emitir sons por meio de vossos lábios. Mas nem mesmo a voz mais poderosa
é capaz de chegar aos Céus, nem percorre toda a terra. Num pequeno espaço de
tempo, volta o silêncio... E, depois de pouco tempo, vem o esquecimento. Mas o
julgamento de Deus é uma voz que permanece, e não está sujeita a esquecimentos.
Séculos e séculos já se passaram, desde quando Deus julgou a Lúcifer, e julgou
a Adão. Mas a voz daquele juízo não emudeceu. E as conseqüências daquele juiz
ainda existem. E, se aos homens, por
meio do Sacrifício perfeito, o juízo sobre o ato de Adão continua sendo o que
é, e é chamado “Culpa de origem”, assim o será sempre. Os homens serão
redimidos, lavados por uma purificação superior a qualquer outra, mas nascerão
com aquele sinal, porque Deus decretou que aquele sinal deva estar em todos os
nascidos de mulher, menos para aqueles que, não por obra de homem, mas pelo
Espírito Santo, foi feito e para a Preservada e o Pré-santificado, virgens para
sempre. A Primeira, para poder ser a Mãe de Deus, e o segundo para poder vir à
frente do Inocente, nascendo já limpo, pela fruição antecipada dos méritos
infinitos do Salvador Redentor.
E
Eu vos digo que Deus vos julga... E vos julga, dizendo:
“Ai
de vós, doutores da Lei, porque sobrecarregais o povo com pesos insuportáveis,
transformando em castigo o paterno Decálogo, pelo Altíssimo dado ao seu povo.”
Ele com amor e por amor o havia dado para que o homem fosse ajudado por um justo
guia, o homem, esse eterno imprudente, e ignorante menino. E vós, em vez das
amorosas andadeiras com que Deus havia ajudado as suas criaturas, a fim de que
pudessem andar para a frente, pelo seu caminho, e apertá-las sobre seu coração,
substituístes as andadeiras por montanhas de pedras agudas, pesadas,
atormentadoras, com um labirinto de prescrições, um íncubo de escrúpulos, pelo
qual o homem fica esmagado, extraviado, e para, e fica com medo de Deus, como
de um inimigo. Vós criais obstáculos para a ida dos corações a Deus. Vós
separais o Pai dos filhos. Vós negais, com as vossas imposições, esta doce,
bendita, verdadeira Paternidade. Vós, porém, os pesos que dais aos outros não
quereis, nem com um dedo, tocar neles. Vós vos julgais justificados, só por haver-lhes
dado aqueles pesos.
Mas, ó estultos, não
sabeis que sereis julgados por aquilo que houverdes julgado ser necessário para
a salvação? Não sabeis que Deus vos dirá: “Vós dizeis que era sagrada e justa a
vossa palavra. Pois bem. Eu também a julgo assim. E, visto que a impusestes a
todos, e pelo modo como foi acolhida e praticada é que tendes julgado os
irmãos, eis que Eu vos julgo pela vossa palavra. E, pois que não fizestes o que
dissestes a eles que fizessem, sede condenados!”
Ai
de vós que ergueis sepulcros para os profetas, que os vossos pais mataram. E,
por que não? Achais que com isso diminuireis a gravidade da culpa de vossos
pais? E que a anulareis aos olhos dos pósteros? Não, pelo contrário. Vós dais
testemunhos desses atos dos vossos pais. Não somente isso. Mas os aprovais, e
estais prontos para imitá-los, erguendo depois um sepulcro em honra do profeta
perseguido, para poderdes dizer: “Nós lhe prestamos honras”. Hipócritas! É por
isso que a sabedoria de Deus disse: “Eu lhes mandarei profetas e apóstolos. E
deles eles matarão alguns, perseguirão a outros, para que se possa exigir desta
geração o sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a criação do
mundo até hoje, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto
entre o altar e o Santuário.”
Sim. Em verdade, em verdade, Eu vos digo
que de todo esse sangue de santos será pedida conta a esta geração, que não
sabe distinguir onde é que está Deus e persegue o justo, e o mata, porque o
justo é a prova viva da injustiça deles.
Ai
de vós, doutores da Lei, que usurpais a chave da ciência, e fechais o templo
para não entrardes nele, a fim de por ela serdes julgados, e não permitistes
que os outros lá entrassem. Porque vós sabeis que, se o povo fosse doutrinado
pela verdadeira Ciência, isto é, pela Sabedoria santa, poderia julgar-vos. Por
isso vós preferis que ele fique ignorante, para que não vos julgue. E vós me
odiais, porque Eu sou a palavra da Sabedoria, e gostaríeis de ver-me fechado,
antes do tempo, em um cárcere, em um sepulcro, para que Eu não falasse mais.
Mas Eu falarei, enquanto ao Pai agradar
que Eu fale. E depois falarão as minhas obras, mais ainda do que as minhas
palavras. E falarão os meus merecimentos, mais ainda do que as minhas obras, e
o mundo será instruído, e ficarão sabendo, e vos julgará, o primeiro juízo é
sobre vós. Depois virá o segundo, o juízo singular, na morte de cada um de vós.
E finalmente o último, o Universal. E vos lembrareis deste dia, e destes dias,
e vós sozinhos, conhecereis o Deus terrível, que vos tereis esforçado para
apresentar como uma visão de íncubo, diante do espírito dos simples, enquanto
vós, no interior do vosso sepulcro, tiverdes zombado dele e do primeiro e
principal mandamento: O Amor, até o último dado no Sinai, pois não tivestes
respeito a ele, e desobedecestes.
Inutilmente,
ó Elquias, é que não tenhas figurações em tua casa. Inutilmente, ó vós todos,
que não tenhais objetos esculpidos em vossas casas. No interior de vossos
corações é que tendes o ídolo, muitos ídolos. Um deles é que vós creiais uns
deuses, os das vossas concupiscências.
Vinde,
vós.
Vamos
embora.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol 6, pgs.363 a 367)