Moisés recebendo as tábuas com os dez mandamentos de Deus no Monte Sinai
A PARÁBOLA DOS DEZ MONUMENTOS
“Para
fazer-vos compreender bem o que são os dez mandamentos e qual a importância que
há em segui-los, vou contar-vos uma parábola.
Um
ai de família tinha dois filhos igualmente amados, e dos quais ele queria ser,
em medida igual, o benfeitor. Esse pai tinha além da casa onde estavam os
filhos, algumas propriedades onde havia grandes tesouros escondidos. Os filhos
sabiam desses tesouros, mas não sabiam quais os caminhos para se ir até eles,
porque o pai por motivos que só ele sabia, não tinha revelado aos filhos o
caminho para se chegar até lá. E isso foi assim por muitos e muitos anos. Mas,
em certo momento, ele chamou os seus dois filhos, e lhes disse: “É bom que
agora fiqueis sabendo onde estão os tesouros que o vosso pai pôs de lado para
vós e, para poderdes chegar até eles, eu agora vo-lo direi. Por enquanto,
conhecereis bem a estrada, para que vós não percais o caminho certo. Ouvi-me,
então. Os tesouros não estão na planície de águas estagnadas, onde o sol é
ardente, onde a poeira os encobriria, os espinheiros e os abrolhos os
sufocariam, nem onde facilmente os ladrões poderiam chegar para vo-lo roubar.
Os tesouros estão no alto, bem no alto daquele monte escabroso. Eu os coloquei
lá e lá eles estão esperando. Para ir-se ao monte, há um caminho, ou melhor, há
vários caminhos. Mas só um deles é bom. Dos outros, uns vão dar em precipícios,
outros obstáculos, outros em cavernas sem saída, outros em fossas cheias de
água lamacenta, outros em ninhos de víboras, outros em crateras cheias de
enxofre aceso, outros em muralhas intransponíveis. O bom, por sua vez, é
cansativo, mas chega ao cume, sem ser interrompido por precipícios nem outros
obstáculos. Para que vós o possais reconhecer, eu coloquei ao longo dele, em
distâncias regulares, dez monumentos feitos com pedras, tendo gravadas sobre
cada um deles três palavras pelas quais eles podem ser reconhecidos: “Amor,
obediência, vitória.” Ide por esse caminho, e chegareis ao lugar do tesouro.
Eu, porém, por um outro caminho só por mim conhecido, irei, e vos abrirei as
portas, a fim de que sejais felizes.”
Os
dois filhos saudaram ao pai que, enquanto podia ser ouvido por ele, repetia:
“Ide pelo caminho de que eu vos falei. É para o vosso bem. Não vos deixeis
tentar pelos outros caminhos, ainda que possam parecer-vos melhores. Perderíeis
o tesouro e a mim também...”
Ei-los
chagados aos pés do monte. O primeiro dos monumentos estava exatamente no
começo do caminho, junto ao centro de um círculo de onde partiam diversos
caminhos, que dali saíam para a conquista do monte, por todos os lados. Os dois
irmãos começaram a subida pelo caminho bom. Ele era muito bom nas primeiras
horas, pois não tinha nem um fio de sombra. Do alto do céu os raios do sol
desciam a pino, inundando o monte de luz e calor. O rochedo esbranquiçado, no
qual havia sido escavado o caminho, um céu límpido acima de suas cabeças e um
sol ardente ao redor de seus membros, era isso o que os dois irmãos podiam ver
e perceber. Animados pela boa vontade, pela lembrança do pai e de suas
recomendações, eles ainda iam subindo alegres para o cume.
Chegaram
ao segundo monumento... e depois ao terceiro. O caminho era cada vez mais
cansativo, solitário e sob um forte calor. Já nem mais se podiam ver os outros
caminhos, nos quais havia ervas e árvores, ou águas claras, ou, pelo menos uma
subida mais suave, menos a pique, e feita sobre a terra, em vez de o ser sobre
a rocha.
“Nosso
pai quer que cheguemos mortos”, disse um dos filhos, ao chegarem ao quarto
monumento. E começou a dar passos mais vagarosos. O outro procurou animá-lo a
continuar a andar, dizendo-lhe: “Ele nos ama como fossemos ele mesmo,e mais
ainda, porque ele guardou para nós o tesouro de um modo tão maravilhoso. Este
caminho feito na rocha e que, sem erro vem subindo desde lá debaixo até o cume,
foi ele que escavou. Estes monumentos, ele os fez para nos guiarmos por eles.
Pensa, meu irmão! Ele sozinho fez tudo isso por amor! Para dá-lo a nós. Para
fazer que nós cheguemos ao tesouro sem possibilidade de erro e sem perigo.”
Eles
ainda continuaram a caminhar. Mas os caminhos que eles tinham deixado no vale,
de vez em quando passavam por perto do caminho que fora cavado na rocha, e
sempre mais assim o faziam. Quanto mais se aproximavam do cume, estreitando-se
o caminho em que estavam, quando estavam já perto do ápice do cone. E aqueles
caminhos, como eram bonitos, sombreados, convidativos!...
“Eu
quase peguei um daqueles”, disse o descontente, ao chegar ao sexto monumento.
“Ele, tanto como este, chega também lá em cima.”
“Tu
não podes dizer isso. Pois não vês se ele desce ou se sobe”
“Olha
a passagem dele lá em cima!”
“Não
se sabe bem se é este. Além disso, o pai disse que não deixássemos o caminho
seguro...”
De
má vontade, o desanimado prosseguiu. Eis o sétimo monumento. “Oh! Eu vou-me
embora mesmo.”
“Não
faças isso, meu irmão!”
A
parte mais alta do caminho já ia ficando verdadeiramente muito difícil. Mas o
cume já estava perto. Eis que o oitavo monumento também já está perto, e está
passando rente ao deles o caminho florido.
“Oh!
Estás vendo como se não vai em linha reta, mas não vai subindo também este?”
“Não
sabes se é este.”
“Sim.
Eu o reconheço.”
“Tu
estás enganado.”
“Não.
Eu vou.”
“Não
faças isso. Pensa no pai, nos perigos, no tesouro.”
“Que
todos se percam! Que é que eu vou fazer com esse tesouro, se chego lá em cima
quase morto? Que perigo pode haver maior do que esta estrada? E que ódio maior
do que este do pai, que nos burlou com esta história do caminho, para fazer-nos
morrer? Adeus. Eu chegarei antes de ti, e chegarei vivo...”, e se jogou no
caminho ao lado, desaparecendo com uma exclamação de alegria, atrás dos troncos
das árvores que lhe davam sombra.
O
outro prosseguiu com tristeza. Oh! O caminho, em seu último trecho, era
realmente horrível! O viandante não agüentava mais. Estava como um embriagado,
por causa do cansaço e do sol! Ao chegar ao nono monumento, ele parou,
ofegante, apoiou-se na pedra gravada, e leu, maquinalmente as palavras que nela
estavam escritas. Ali por perto passava um dos caminhos sombreados, com fontes
de água, com flores... “Vou... ou não vou? Mas, não. Ali está escrito, e foi
meu pai que o escreveu: “Amor, obediência, vitória”. Eu devo crer. Crer em seu
amor, em sua verdade, e devo obedecer para mostrar-lhe o meu amor... Vamos...
Que o amor me sustente!... “Ali está o décimo monumento... O viandante,
exausto, queimado pelo sol, ia caminhando encurvado, como sob um jugo... Era o
amoroso e santo jugo da fidelidade, que é amor, obediência, fortaleza, esperança,
justiça, prudência, tudo... Em vez de apoiar-se, jogou-se sentado àquela meia
sombra que o monumento formava sobre o chão. Sentia-se morrendo... Do caminho
ao lado o rumor de um regato e um cheiro de bosque... “Pai, meu pai, ajuda-me
com o teu espírito, na tentação... ajuda-me a ser fiel até o fim!”
De
longe, por entre risadas, ouve-se a voz do irmão: “Vem, eu te espero. Aqui é um
éden... vem...”
“E
se eu fosse?...” e, gritando bem alto: “Por aí se sobe mesmo para o cume?”
“Sim,
vem, Há uma galeria fresca, que conduz para cima. Vem! Eu já estou vendo o
cume, para lá da galeria do rochedo...”
“Vou?
Ou não vou? Quem é que me socorre?... Eu vou... Firmou no chão as mãos para
levantar-se e, enquanto assim fazia, notou que as palavras gravadas não estavam
tão bem esculpidas, como as do primeiro monumento. Em cada monumento as
palavras iam ficando cada vez mais apagadas, como se o pai, cansado, já
estivesse com menos forças para gravá-las. E... olha! Também aqui aparece
aquele sinal vermelho-escuro, que já... era visível, desde o quinto monumento. A
diferença é que somente aqui, é que ele preenche o vazio de cada palavra, e
escorreu para fora, regando o rochedo como umas lágrimas escuras, parecendo ser
de sangue...” Raspou com o dedo no lugar onde havia uma grande mancha na
largura de duas mãos. E a mancha se esfarinhou, deixando descobertas e frescas
estas palavras: “Assim eu vos amei. E derramei o sangue para conduzir-vos até o
Tesouro.”
“Oh!
Oh! O meu pai! E poderia eu pensar em não cumprir a tua ordem? Perdão, meu pai!
Perdão!” O filho chorou junto ao rochedo, e o sangue que enchia o vazio das
palavras, tornou-se fresco de novo, brilhando como um rubi, e as lágrimas foram
comida e bebida para o filho bom, e também lhe deram força... Ele se
levantou... Por amor chamou o seu irmão em voz alta, bem alta. Queria
contar-lhe a sua descoberta... o amor do pai, e dizer-lhe: “Volta!”, mas
ninguém lhe respondeu.”
O
jovem começou de novo a andar, quase de joelhos, sobre a pedra quente, porque
ele estava quase exausto em sua carne pelo cansaço, mas seu espírito estava tranqüilo.
Aí está o cume... E ali está o pai. “Meu pai!” “Filho querido!” O jovem
abandonou-se sobre o peito paterno, e o pai o acolheu, cobrindo-o de beijos.
“Estás
sozinho?”
“Sim.
Mas logo chegará o irmão...”
“Não.
Ele não chegará mais. Ele deixou o caminho dos dez monumentos. Ele não voltou
atrás depois dos primeiros desenganos que o advertiam. Queres vê-lo? Ei-lo lá.
Está no abismo de fogo... Ele ficou obstinado na culpa. Eu o teria ainda
perdoado e esperado, se, depois de ter reconhecido seu erro, ele tivesse
voltado sobre os seus passos e ainda que com atraso, tivesse passado por onde o
Amor passou primeiro, sofrendo até derramar o seu sangue, a parte mais querida
de Si mesmo, por causa de vós.”
“Ele
não sabia.”
“Se
tivesse olhado com amor as palavras esculpidas nos dez monumentos, teria lido o
seu verdadeiro significado. Tu o leste, desde o quinto monumento, e o fizeste
notar ao outro, dizendo: “O pai aqui deve ter-se ferido!” E o leste no sétimo,
no oitavo, no nono... cada vez mais claro, até que tiveste o instinto de
descobrir o que é que estava por debaixo do meu sangue. Sabes qual é o nome
daquele instinto?
“A
tua verdadeira união comigo”. As fibras do teu coração, unidas às minhas
fibras, estremeceram, e te disseram: “Aqui terás a medida de quanto te ama o
pai”. Agora entra na posse do Tesouro e de mim mesmo, tu que foste amoroso,
obediente e vitorioso para sempre.”
Esta
é a parábola.
Os
dez monumentos são os dez mandamentos. O vosso Deus os esculpiu e colocou sobre
o caminho que leva ao Tesouro eterno, e sofreu para conduzir-vos àquele
caminho. Vós sofreis? Deus também. Vós tendes que forçar-vos a vós mesmos? Deus
também. Sabeis até que ponto? Sofrendo por separar-se de Si mesmo e por
forçar-se a conhecer o ser homem com todas as misérias que a humanidade leva
consigo: a de nascer, de passar frio, fome, cansaço, ser tratado com sarcasmos,
afrontas, ódio, insídias, e enfim, a morte, dando o seu Sangue, para dar-vos o
Tesouro. Isto sofre Deus, que desceu para salvar-vos. Isto sofre Deus no alto
do Céu, permitindo a Si mesmo o sofrer.
Em
verdade Eu vos digo, que nenhum homem por mais cansativo que seja o seu caminho
para chegar ao Céu, não irá nunca por um caminho tão cansativo e doloroso como
o que o Filho do homem percorre para vir do Céu à Terra e da Terra ao
sacrifício, feito para abrir-vos as portas do Tesouro.
Nas
tábuas da Lei já está o meu Sangue.
No
caminho que Eu vos traço está o meu Sangue.
A
porta do Tesouro se abre por baixo da onda do meu Sangue.
A
vossa alma se torna cândida e forte, ao banhar-se e ao alimentar-se com meu
Sangue.
Mas
vós, para que ele não seja derramado em vão, deveis andar pelo caminho imutável
dos dez mandamentos.
...A
paz do Senhor esteja convosco.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol. 7, pgs 138 a 143)
OS DEZ MANDAMENTOS.
1 – Amar a Deus sobre todas as coisas, com toda a sua alma, com todas
as suas forças.
2 – Não invocar ou falar o Teu Santo Nome em vão.
3 – Guardar e santificar os domingos e festas.
4 – Honrar pai e mãe.
5 – Não Matar.
6 – Não pecar contra a castidade.
7 – Não roubar.
8 – Não mentir, ou não levantar falso testemunho.
9 – Não desejar a mulher do próximo.
10 – Não cobiçar as coisas alheias.