“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

domingo, 26 de março de 2023

O ESPÍRITO SANTO FALA


 




O ESPÍRITO SANTO FALA

 

 

João, que ficou o tempo todo escutando de cabeça inclinada e sorrindo para si mesmo, levanta um rosto iluminado, e toma a palavra.

 

“Meus irmãos! Só de pensar em subir já dá vertigem. É verdade. Mas, quem vos está dizendo que é preciso procurar atingir as alturas diretamente? Isto não só os pequenos, mas nem os adultos o podem fazer. Somente os anjos podem projetar-se no azul, porque eles estão livres de todo peso da matéria. Isso, entre os homens, só os heróis da santidade o podem fazer.

Nós temos alguém, que ainda está vivo neste mundo tão envilecido, que sabe ser herói de santidade como aqueles antigos de que Israel se gloria, quando os Patriarcas eram amigos de Deus, e a palavra do Código eterno era a única, mas era obedecida por toda criatura integra. João, o Precursor, ensina como é que se atinge as alturas diretamente. E João é um homem. Mas a Graça que o fogo de Deus lhe comunicou, purificando-o desde o ventre de sua mãe, do mesmo modo que foi purificado pelo Serafim o lábio do Profeta a fim de que ele pudesse preceder ao Messias, sem deixar o fedor da culpa original sobre o caminho real do Cristo, deu a João asas de anjo, e a penitência as fez crescer, abolindo, ao mesmo tempo, aquele peso de humanidade que a sua natureza de nascido de mulher havia conservado nele. É daí que João, de sua caverna onde prega a penitência, e do seu corpo no qual arde o espírito desposado com a Graça, daí é que ele se projeta, e pode lançar-se a si mesmo até ao ápice do arco, além do qual está Deus, o Altíssimo Senhor nosso Deus, e pode, dominando os séculos passados, o dia presente e o tempo futuro, anunciar com voz de Profeta e com olhos de águia, capazes de fixar o Sol eterno, e de reconhecê-lo: “Eis o Cordeiro de Deus, o que tira os pecados do mundo” e morrer, depois desse seu canto sublime, que será usado, não só no tempo limitado, mas no tempo sem fim, na Jerusalém para sempre eterna e feliz, para aclamar a Segunda Pessoa, para invocá-la sobre as misérias humanas, para cantar-lhe hosanas nos fulgores eternos.

Mas o Cordeiro de Deus, o Dulcíssimo Cordeiro, que deixou a sua luminosa morada dos Céus, nos quais Ele é fogo de Deus em abraço de fofo oh! Eterna geração do Pai que concebe com o Pensamento ilimitado e santíssimo o seu Verbo, e o absorve, produzindo uma fusão de amor que cria o Espírito de Amor, no qual se concentra o Poder e a Sabedoria! – mas o Cordeiro de Deus, que deixou a sua puríssima e incorpórea forma, para encerrar sua pureza infinita, sua santidade, sua natureza divina em carne mortal, sabe que nós não somos os purificados pela Graça, ainda não o somos, e sabe que não poderíamos, como a águia que é João, projetar-nos ás alturas, ao cume onde está Deus Uno e Trino. Nós somos esses pequenos passarinhos dos telhados e da rua, somos as andorinhas que tocam no azul, mas vivem comendo insetos; somos as cotovias, que querem cantar para imitar os anjos, mas que, diante do canto deles, o nosso é um frêmito desafinado de cigarra de verão. Isto, o Doce Cordeiro de Deus, que veio tirar os pecados do mundo, sabe muito bem. Porque, se não é mais o Espírito Infinito dos Céus, tendo-se limitado a Si mesmo pela carne mortal, a sua infinidade não fica diminuída por isso, e tudo sabe, ficando sempre infinita a sua sabedoria.

E eis que agora, Ele está nos ensinando o seu caminho. O caminho do amor. Ele é o Amor que, por misericórdia para convosco se faz carne. Eis que agora este Amor misericordioso cria para nós um caminho por onde até os pequeninos podem subir. E Ele, não por sua necessidade, mas para no-lo ensinar, o percorre como o primeiro à nossa frente. Ele nem teria necessidade de abrir as asas para voar, e já estaria intimamente unido ao Pai. O seu espírito, eu vo-lo garanto, está encerrado aqui, nesta pobre terra, mas está sempre com o Pai, porque Deus tudo pode, e Ele é Deus. Mas Ele vai à frente, deixando atrás de si os aromas de sua santidade, o ouro e o fogo do seu amor. Observai o seu caminho. Oh! Como chega até ao ápice do arco! Mas, como é tranquilo e seguro! Não vai em linha reta, vai numa espiral. É mais comprido, e o sacrifício dele, sacrifício de amor misericordioso, se revela nesse comprimento, sobre o qual Ele se detém a Si mesmo, por amor de nós que somos fracos. Mais comprido, mas mais adaptado à nossa miséria. A subida para o Amor, para Deus, é simples, como simples é o Amor. Mas é profunda, porque Deus é um abismo, que diria inatingível, se Ele não se tivesse abaixado para fazer-se atingível, para sentir-se beijar pelas almas por Ele enamoradas. É comprido o caminho simples do Amor, porque o Abismo, que é Deus, não tem fundo, e tanto alguém pode subir, quanto quiser. Mas o Abismo Admirável chama o nosso abismo miserável. Chama com as suas luzes e diz: “Vinde a Mim!”

Oh! O convite de Deus! Convite de Pai! Ouvi! Ouvi! Dos Céus deixados abertos, porque Cristo escancarou as portas dele, colocando, para conservá-las assim, os anjos da Misericórdia e do Perdão, para que, na expectativa da Graça, descessem deles pelo menos as luzes, os perfumes, os cantos e orvalhos, próprios para seduzir santamente os corações dos homens, e de lá estão chegando até nós palavras suavíssimas. É a voz de Deus que fala. E a voz diz: “A vossa meninice? Mas é a vossa melhor moeda! Eu quereria que todos vós vos tornásseis pequenos, para terdes em vós a humanidade, a sinceridade e o amor dos pequenos, o confiante amor dos pequenos para com o Pai. Sereis incapazes? Mas esta é a minha glória! Oh! Vinde. Eu nem vos peço que vós, por vós mesmos, tireis a prova do som das pedras boas e más. Mas dai-as a Mim! Eu as escolherei, e vós reconstruireis. Será uma subida para a perfeição? Oh! Não meus pequenos filhos. Aqui com a mão na mão do meu Filho, vosso irmão, agora e assim, ao lado dele, subi...” Subir! Ir a Ti, Eterno Amor! Tomar a tua semelhança, isto é o Amor!

Amar! Ai está o segredo!... Amar! Dar-se! Aniquilar-se, fundir-se. A carne, a dor, não é nada. E o tempo? Não é nada. Até o pecado se torna um nada, se eu o dissolvo no teu fogo, ó Deus! Só o Amor é tudo. O Amor! O Amor que nos deu o Verbo encarnado nos dará todo perdão. E amar é uma coisa que ninguém sabe melhor do que os pequenos. E ninguém é mais amado do que um pequeno.

Ó tu, que eu não conheço, mas que queres conhecer o Bem para distingui-lo do Mal, para teres o azul, o Sol celeste, tudo o que é alegria sobrenatural, ama, e o terás. Ama o Cristo, Morrerás na vida, mas ressuscitarás no espírito. Com um espírito novo, sem teres mais necessidade de fazer uso de pedras, serás por toda a eternidade um fogo que não morre. Sua chama sobe. Ela não precisa de degraus nem de asas para subir. Livra o teu eu de toda construção, põe em ti o amor. Inflamar-te-ás. Deixa que isso aconteça sem restrições. Excita, pelo contrário, a chama, dando-lhe para alimentá-la, todo o eu passado de paixões, de saber. Na chama se destruirá o que for menos bom, e o que é metal nobre se tornará puro. Joga-te ó irmão, no amor ativo e jubiloso da Trindade.

Compreenderás isso que agora te parece incompreensível, porque compreenderás a Deus, que é compreensível somente por aqueles que se entregam sem medida ao seu fogo sacrificador. Fixar-te-ás finalmente em Deus, em um abraço de chama, rezando por mim, o pequeno de Cristo, que ousou falar-te de Amor.”

 

 

 

(O Evangelho como me foi revelado-Maria Valtorta-Vol. 3 pgs. 45,46,47,48)