O LIVRO DA VIDA
“Fazei somente que vosso nome possa ser escrito nos livros do
Céu, nos quais não estão marcados os nomes, conforme as mentiras humanas, ao
louvar aos que menos merecem louvor. Mas neles, com justiça e amor, estão
escritas as obras dos bons, para dar-lhes o prêmio prometido aos benditos por
Deus.” (Valtorta-Vol.
3-pg. 89)
Nesta passagem Jesus nos esclarece que os nomes dos salvados
são aqueles que fizeram boas ações, boas obras e tiveram mérito usando o livre
arbítrio. Em resposta ao delírio da soberba dos escribas e fariseus que diziam
que todos os de Israel, por serem o “povo de Deus”, tinham seus nomes no Livro
da vida.
No julgamento particular com Jesus, no momento que o homem
deixa esta vida, completa-se os atos bons desta alma ali encerrada, e depois
confirmada diante de toda a criação no Julgamento Final, quando será revelado
os nomes dos salvados.
A alma quando é criada por Deus e colocada no nascituro ainda
no ventre materno, é pura, branca, sem qualquer tipo de mancha, a não ser a
original. Tal mancha original é retirada no momento do batismo e o homem para
mantê-la pura precisa não trazer novas sombras, que são os pecados, os quais
também podem ser anulados com o arrependimento da confissão dos mesmos. Esta
alma durante a vida do homem registra tudo o que seu portador fez de bom ou de
ruim, como se fosse um livro da vida particular de cada ser humano. São estes
dados bons registrados na alma de cada um, que certificarão o nome do portador
desta alma. É somente depois desta vida, que aquela alma boa tem seu nome
escrito no Livro da Vida. Portanto as páginas, que são as almas boas que
viveram na Terra, formarão o enorme Livro da Vida com o nomes dos vitoriosos.
Como Jesus já separou, está separando e ainda vai separar no juízo particular
os bons dos maus, é crível pensar então, que no último dia já estarão colocados,
devido este primeiro julgamento, uns a esquerda(maus), outros a direta(bons),
com seus espíritos unidos a carne para receberem a sentença eterna de salvação
ou de condenação.
“No coração do homem, há um ponto que se recorda do rosto de
Deus, é o ponto mais eleito, aquele que é o nosso Sancta Sanctorum, aquele do
qual nascem as santas inspirações e as santas decisões, aquele que perfuma como
um altar, brilha como uma fogueira, canta como um coro de serafins. Mas quando
em nós o pecado fumega, eis que aquele ponto se ofusca tanto que cessa a luz, o
perfume, o canto, e fica somente o mau cheiro de uma fumaça pesada e um gosto
de cinza.” (Valtorta-Vol.2-pg.97)
Muitos, e não são poucos, os cristãos que acreditam que Deus
antes de criar o universo, já havia em seu pensamento, definido os nomes daqueles
que seriam salvos, aqueles que teriam seus nomes escritos no Livro da vida, e
daqueles que não estariam neste Livro. E não percebem que pensando assim,
excluem o livre arbítrio do homem, excluem o mérito do homem, excluem o
Julgamento de nossas ações. Ora, se já estão escolhidos os eleitos e os
condenados antes de existirem, para que servirá o Julgamento Final? Para que
julgar se já estão definidos? Percebem como é perniciosa para a alma esta
teoria?
É uma ofensa contra Deus. Deus é Amor. O Amor não poderia
assim que nascesse um ser humano impor a este pequenino e puro nascituro, sua
condenação, ou a outro impor sua salvação. Deus criou seus anjos e os humanos
livres de pensamento, dotados de inteligência e razão, formando com isso
vontade própria, discernimento, para escolher entre o bem e o mal. Deus é Amor?
Sim, é Amor! Mas também é Justiça e Verdade. Este é o trinômio de Deus.
Os salvados serão aqueles que tiveram mérito, e os condenados
serão aqueles que não obtiveram mérito e foram além, quiseram de livre e espontânea
vontade estarem sem Deus. E onde não há Deus, não há luz, não há paz, não há
música, não há perfume, somente Trevas e dor. Neste raciocínio lógico, é claro
que os nomes dos salvados não estão escritos antecipadamente no Livro da vida,
porque eles terão que ir se formando, conforme cada vida humana se desenrola e
termina na terra com seus bons atos. Nenhum de nós nasce com um destino já
traçado, somos nós mesmos que traçamos o nosso destino.
Epístola de São Paulo aos Filipenses. 4:3-“
Também te rogo a ti ainda ó fiel companheiro, que as ajude como pessoas que
trabalharam comigo no Evangelho com Clemente, e com os outros que me ajudaram,
cujos nomes estão no livro da vida.”
Aqui Paulo tomado pelo Espírito Santo previu a sorte de seus
ajudantes na Evangelização dizendo que seus nomes estão no Livro. Pode-se dizer
que profetizou a sentença divina daquelas almas, as quais se referiu. Não é uma
regra geral para todos os seres humanos. Paulo falou especificamente de alguns
de seus colaboradores.
Tudo que foi criado tem assistência Divina. Imaginem se não
teria o homem, criatura querida por Deus. Por isso o Altíssimo, através de sua
providência, pensando sempre na nossa salvação, colocou seus servos como luzes
para mostrar o caminho, pois sem a ajuda de Deus o homem seria um animal
falante e nada mais. Assim seus Santos e Mártires, predestinados por Deus,
indicaram o caminho a seguir para manter-nos fortalecidos na fé e esperança de
voltar ao convívio dos eleitos. Porém todos estes Santos tiveram que passar
pela prova, pelo mérito, usando seu livre arbítrio e assim escolheram seguir ao
Senhor. Deus não se impõe contra a vontade do homem. É o homem que decide por
si só qual caminho seguir.
Os Apóstolos foram escolhidos no pensamento de Deus antes
mesmo de existir o mundo, esperando que eles aceitassem de boa vontade o
chamado de seu Filho. Os Apóstolos de Cristo foram perseguidos e martirizados,
mostrando uma heroicidade total mesmo diante da morte. Os exemplos são muitos. Assim
foi a dura prova de Abraão, vencida com uma obediência sobrenatural, levando
seu próprio filho ao sacrifício, e se o Anjo do Senhor não aparece para
contê-lo teria completado a ordem do Altíssimo, assim foi com Noé, vencida com
uma obediência longínqua, construindo a Arca durante dezenas de anos, assim foi
com Moisés, com sua obediência à Palavra de Deus, levando o povo Judeu para
novas terras, e assim por diante, sempre provados antes de terem seus nomes
escrito no Livro da Vida. Ajudados por Deus, sim, mas com suas próprias
vontades. Podemos dizer então, que excepcionalmente estes personagens marcantes
da história humana tiveram um destino? Em grande parte sim, se entendermos que
tal destino foi a Vontade de Deus, foi o Amor. Para o nosso bem comum.
Em Lucas 10:20. Diz Jesus: “E contudo, o sujeitarem-se-vos
os espíritos, não é o de que vós vos deveis alegrar, mas sim deveis alegrar-vos
de que os vossos nomes estão escritos nos Céus.”
Neste texto das escrituras, Jesus já tinha seus Apóstolos
decididos a segui-lo e portanto sabia que assim se manteriam até o final de
suas vidas, e por isso disse que seus nomes já estavam escritos no Livro da
Vida. Muitos nomes são indicados para servirem o Senhor, mas nem todos vingam,
porque a carne é fraca e Satanás tenta.
Ap 3:5- “Aquele que vencer será assim vestido de
vestiduras brancas, e eu não apagarei o seu nome do livro da vida, e
confessarei o seu nome diante de meu Pai, e diante dos seus anjos.”
Esta passagem reflete o pensamento de que alguns nomes foram
escolhidos, mas que poderiam ser apagados caso tal escolhido caísse em
tentações não vencidas durante sua vida. O texto diz claramente: “Aquele
que vencer”, portanto ainda desconhecidos.
Já nas passagens do Apocalipse onde é mencionado o Livro da Vida,
se refere às almas do final dos tempos, onde já foram registrados todos os que
no exílio terrestre venceram o mundo e assim conquistaram seus nomes no Livro.
Ap 13:8- “E todos os habitantes da terra a adoraram,
aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro, que foi
imolado desde o princípio do mundo.”
Os cordeiros oferecidos a Deus desde o princípio, representam
simbolicamente Jesus o Cordeiro pascal eterno, que tira os pecados do mundo.
Antigamente os hebreus ofereciam sacrifício de um cordeiro puro, sem manchas e
sem defeito a Deus, para remissão dos pecados. Visto que Cristo foi imolado no
seu tempo e não desde o princípio do mundo, mas simbolicamente sim.
Ap 17:8- “A Besta, que tu viste, era e já não é, e
ela há de subir do abismo, e há de ser precipitada na perdição; e os habitantes
da terra cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde o princípio do
mundo, se encherão de pasmo, quando virem a Besta, que era, e já não é.”
Quando se diz neste texto: “cujos nomes não estão escritos”,
Deus não está se referindo a nomes já estabelecidos, mas sim de uma
maneira geral, ou seja, haverá uma certa quantidade de nomes, mas não
especificando antecipadamente tais nomes. Os que não estão escritos no Livro, serão aqueles que seguirem a Besta, as
quais saberemos somente no último dia, do julgamento final.
Como Deus estabeleceu um tempo de prova para a humanidade é
óbvio que também estabeleceu uma certa quantidade de almas que irão habitar o seu
Reino. A história humana terrestre teve um início e terá um fim. É sugestivo
pensar que Deus deu um tempo de prova para chegar à um número perfeito e justo
de habitantes humanos no Céu, semelhante a quantidade dos Anjos.
Ap 21:27- “Não entrará nela coisa alguma contaminada,
nem quem cometa abominação, ou mentira, mas somente aqueles que estão escritos
no livro da vida do Cordeiro.”
Aqui há uma expressão diferente, “no livro da vida do Cordeiro”,
que significa os salvados por Cristo, mas se refere ao mesmo Livro da Vida que
será aberto no final dos tempos.
Somente Deus que já está presente no futuro sabe os nomes.
Isto não significa que Deus determinou este ou aquele nome desde o princípio,
mas como já conhece o futuro, sabe quem são os eleitos escritos no Livro da
Vida. Para nós mortais, o futuro existirá depois de um tempo transcorrido, mas
para Deus não existe o tempo.
Deus é! Uma simples frase que nos revela tantas coisas.
Antonio Carlos Calciolari