O bom Pastor se arrisca perder a própria vida para trazer de volta a ovelha desgarrada.
RECOMENDAÇÕES AOS
EVANGELIZADORES.
13 de agasto de 1944.
Diz Jesus: “Desde janeiro, desde quando Eu te fiz ver a
ceia na casa de Simão, o leproso, tu, e quem te guia, desejastes conhecer mais
sobre Maria de Magdala e que palavras Eu tive para ela. Sete meses depois, Eu
vos descubro estas páginas do passado, para contentar-vos e para dar uma norma
aqueles que devem saber inclinar-se sobre estas leprosas da alma, e uma palavra
que conceda a essas infelizes, que se sufocam em seu sepulcro de vícios, ao
tentarem sair dele. Deus é bom. Ele é
bom com todos. Ele não mede com medidas humanas. Não faz diferença entre pecado e pecado
mortal. O pecado o entristece, seja ele qual for. O arrependimento o faz ficar
alegre e pronto para perdoar. A resistência a graça o torna inexoravelmente
severo, porque a Justiça não pode perdoar ao impenitente, que morre assim mesmo
com todos os auxílios que tiver recebido para que se convertesse. Mas, nas
conversões que falharam, se não a metade, pelo menos quatro décimos têm como
causa primeira o descuido dos que estão á frente do trabalho de conversão, por
um zelo mal entendido e mentiroso que, como um toldo descido sobre um real
egoísmo e orgulho, pelos quais ficam eles tranqüilos em seu próprio abrigo, sem
descerem para o meio da lama, a fim de arrancar dela um coração. “Eu sou puro.
Eu sou digno de respeito. Não vou aos lugares onde há corrupção moral, nem onde
me podem faltar com a reverencia.” Mas quem fala assim não leu o Evangelho
naquele ponto onde está dito que o Filho de Deus veio para converter os
publicanos e as meretrizes, além das pessoas honestas que assim o eram, ainda
que somente segundo a Lei Antiga? Não pensará esse tal que o orgulho é uma
impureza da mente, e que a falta de caridade é uma impureza do coração? Ficarás
vilipendiado? Eu já o fui antes, e mais do que tu, e Eu era o Filho de Deus.
Deverás andar com tuas vestes sobre as imundícies? E Eu, não toquei com as
minhas mãos esta imundície, para pô-la de pé e dizer-lhe: “Caminha por este
novo caminho”? Não vos lembrais do que foi que Eu disse aos vossos primeiros
predecessores? “Em qualquer cidade ou vila em que entrardes, informai-vos sobre
quem há nela que o mereça, e ficai na casa dele.” Isto para que o mundo não
fique murmurando. O mundo que é fácil demais para ver o mal em todas as coisas.
Mas Eu acrescentei: “Ao entrardes nas casas, -
”casas”, Eu disse, e não “casa” - saudai-as dizendo: “Paz a esta casa”. Se a
casa for digna, a paz virá sobre ela e, se não for digna, voltará para vós.”
Isto é para ensinar-vos que, enquanto não houver uma prova certa de
impenitência, deveis ter para com todos um mesmo coração. E Eu completei o
ensinamento, dizendo: “E, se algum não vos recebe e não escuta as vossas
palavras, ao sairdes daquelas casas e daquelas cidades, sacudi a poeira que
ficou pegada á sola de vossos pés.” A fornicação nos bons, pelos quais a
Bondade é constantemente amada, faz que eles sejam como um dado de vidro liso,
e ela não é mais do que pó. Um pó que, basta que o sacudamos, ou que sopremos
sobre ele, para que ele voe, sem deixar nenhuma lesão. Sede verdadeiramente
bons. Formal um só bloco, com a Bondade 39 eterna no centro. E nenhuma corrupção
será capaz de subir para vos sujar, a não ser nas solas de vossos pés, pois
estão apoiados no chão. A alma fica muito ao alto. A alma de quem é bom e de
quem faz uma coisa só com Deus. A alma está no Céu. Até lá não chegam nem a
poeira nem a lama, nem mesmo quando esta é jogada com ódio contra o espírito do
apóstolo. A carne pode ferir-vos. Ferir-vos, quer dizer, materialmente,
moralmente, perseguindo-vos, porque o Mal odeia o Bem, ou ofendendo-vos. E que
tem isso? Também Eu não fui ofendido? Não fui ferido? Mas será que aqueles
golpes ou aquelas palavras obscenas ficaram gravadas em meu Espírito? Será que
o perturbaram? Não. Será como um cuspo lançado contra um espelho, ou como uma
pedra jogada contra a polpa suculenta de uma fruta: deslizam sem conseguirem
penetrar, ou penetram, mas somente na superfície, sem ferirem o germe que está
dentro do caroço, e, pelo contrário, até o ajudam a nascer, porque é mais fácil
sair para fora de uma massa já meio aberta, do que de uma completamente
fechada. É morrendo que o grão germina e que o apóstolo produz. Morrendo
materialmente ás vezes, morrendo quase diariamente, num sentido metafórico,
porque com isso fica mais do que machucado o eu do homem. E isso não é morte: é
Vida. Triunfa o espírito sobre a morte da humanidade. Vinda a Mim por um capricho de ociosa, que não
sabe como encher suas horas de ócio, os
seus ouvidos atordoados pelas mentirosas gentilezas de quem a acarinhava com
hinos á sensualidade, para poder tê-la como escrava, aos seus ouvidos ressoou a
voz límpida e severa da Verdade. Da Verdade que não tem medo de ser escarnecida
e incompreendida e que fala suas palavras olhando para Deus. E, como um coro de
sinos em festa, todas as vozes se fundiram na Palavra. São as vozes usadas para
ressoarem nos Céus, no azul livre do ar, propagando-se por vales e colinas,
planícies e lagos, para fazer lembradas as glórias do Senhor e suas
festividades. Não vos lembrais do repicar festivo dos sinos em festa, que nos
tempos de paz tornava tão alegre o dia dedicado ao Senhor? O sino maior dava
com seu badalo que suscitava o som, o primeiro toque em nome da Lei divina. Ele
dizia: “Eu estou falando em nome de Deus, Juiz e Rei.” E depois os sinos
menores arpejavam: “que é bom, misericordioso e paciente”, até que chegou a vez
do sino mais sonoro, com sua voz de anjo, dizer: “cujo amor o leva a perdoar e
a compadecer-se, para vos ensinar que o perdão é mais útil do que o rancor, e
que é melhor ter compaixão do que ser inexorável. Vinde a quem perdoa. Tende fé
em quem se compadece”. Eu também, depois
de ter feito que seja lembrada a Lei, que foi pisada pela pecadora, fiz cantar
a esperança do perdão. Como uma faixa verde e azul de seda, eu a sacudi por
entre as tintas pretas, para que aí ela colocasse as suas reconfortantes
palavras. O perdão! Ele é uma orvalhada sobre o ardor em que está o culpado. A
orvalhada não é o granizo que fere, como uma flecha, que golpeia, ricocheteia e
depois vai-se, sem penetrar, matando a flor. O orvalho desce de um modo tão
leve, que a flor, ainda que seja muito delicada, não o sente pousar-se sobre
suas pétalas de seda. Mas depois ela bebe o frescor dele e se restaura. O
orvalho vai pousar também junto ás raízes, sobre a gleba esturricada, e vai até
além... E uma umidade de lágrimas, e um pranto das estrelas, amoroso pranto das
nutrizes sobre os filhos que têm sede e que desce, esse mesmo, restaurador,
junto com o leite gostoso e fecundo. Oh! Os mistérios dos elementos que
trabalham par a ele, mesmo quando o homem toma o seu descanso, ou quando peca!
O perdão é como este orvalho. Ele traz consigo, não somente a limpeza, mas os
sucos vitais, arrebatados, não dos outros elementos, mas das lareiras divinas.
Depois, após a promessa de perdão, eis a Sabedoria que fala, e diz o que é ou
não é lícito, e nos chama e sacode. Não o faz por dureza. Mas pela solicitude
materna de salvar. Quantas vezes a vossa pederneira se faz ainda mais
impenetrável e agressiva para com a Caridade que sobre vós se inclina!...
Quantas vezes a evitais, quando Ela vos quer falar!... Quantas vezes não
zombais dela! Quantas vezes a odiais!... Se a Caridade usasse para convosco dos
modos de que usais para com Ela, o que seria de vossas almas?! Mas, vede como é
o contrário. Ela é a Incansável Caminhante, que vem á procura de vós. Ela vem
procurar-vos, mesmo quando vos entocais em vossas nojentas tocas. Por que Eu quis ir àquela casa? Por que não operei
nela o milagre? Para ensinar aos apóstolos como agir, desafiando os
preconceitos e as críticas para cumprir um dever tão alto, que esta acima
dessas coisinhas do mundo. Por que Eu disse a Judas aquelas palavras? Os
apóstolos eram muito homens. Todos os cristãos são muito homens, até os santos
da terra o são, ainda que de maneira menor.
Todo bom Pastor leva suas ovelhas a bons pastos.
Alguma coisa de humano persiste até
nos perfeitos. Mas os apóstolos ainda não eram perfeitos. Os pensamentos deles
estavam cheios do que é humano. Eu os levava para o alto. Mas o peso da
humanidade deles os puxava para baixo. Para fazer que eles descessem sempre
menos. Eu devia colocar no caminho da subida algumas coisas próprias para parar
a descida, de modo tal, que, indo de encontro a elas, eles parassem, meditassem
e repousassem, para depois subirem mais, até além do limite de antes. Coisas
que fossem de primeira qualidade, a fim de persuadi-los de que Eu era Deus. Por
exemplo, a introspecção das almas, a vitoria sobre os elementos, os milagres, a
transfiguração, a ressurreição e a ubiqüidade. Eu estive na estrada de Emaús,
enquanto estava no Cenáculo e, a hora daquelas duas presenças, verificadas
pelos apóstolos e discípulos, foi uma das razões que mais os impressionou,
soltando-os de seus laços e dirigindo-os para os caminhos de Cristo. Mais do
que para Judas, que já incubava em si o plano da morte, Eu falei para os outros
onze. Que Eu era Deus, era o que Eu necessariamente devia fazer brilhar diante
dos olhos deles, não por orgulho, mas por necessidade de sua formação. Eu era
Deus e Mestre. Aquelas minhas palavras diziam que Eu era isto. Eu me revelo com
uma faculdade extra-humana, e ensino uma perfeição: não ter discursos maus, nem
mesmo com o nosso interior. Pois que Deus está vendo e Deus deve ver um
interior puro, para poder nele descer e aí fazer sua morada. Por que não operei
o milagre naquela casa? Para fazer que todos compreendessem que a presença de
Deus exige um ambiente puro. Pelo respeito à sua excelsa majestade.
Para falar sem a palavra nos lábios, mas com
uma palavra ainda mais profunda, ao espírito da pecadora, e dizer-lhe: “Estás
vendo, infeliz? Estás tão suja, que tudo ao redor de ti fica sujo. Tão sujo,
que aí Deus não pode operar. Tu estás suja mais do que estes. Porque tu repetes
a culpa de Eva e ofereces o fruto aos Adãos, tentando-os, afastando-os do
Dever. Tu, ministra de Satanás”. Por que não quero que seja chamada “Satanás”
pela mãe angustiada? Por que nenhuma razão justifica o insulto e o ódio. A
primeira necessidade, a primeira condição para termos Deus conosco é não termos
rancor e sabermos perdoar. A segunda necessidade é sabermos reconhecer que
também nós, ou quem é nosso, é culpado. Não vejamos somente a culpa dos outros.
A terceira necessidade é sabermos conservar-nos gratos e fiéis, depois de
termos recebido graças, e fazendo o que é justo para com o Eterno. Infelizes
daqueles que, depois de receberem a graça, ficam piores do que cães, pois já
não se lembram do seu Benfeitor, enquanto que o animal se lembra dele! Eu não disse uma palavra á Madalena. Como se ela
fosse uma estátua, Eu a olhei por um instante, e depois a deixei. Voltei para
os “vivos”, que Eu queria salvar. A ela, uma matéria morta como e mais do que
um mármore esculpido, Eu a envolvi com uma indiferença aparente. Mas Eu não
disse nem uma palavra, nem fiz ato algum que não tivesse como alvo principal a
sua pobre alma, que Eu queria redimir. E a última palavra: “Eu não insulto. Não
insultes. Reza pelos pecadores. E Nada mais”, é como uma grinalda de flores que
se terminou, e tal palavra vai juntar-se com a primeira palavra, que foi dita
lá sobre o monte: “O perdão é mais útil do que o rancor, e a compaixão do que a
inexorabilidade.” E a fecharam, á pobre infeliz, em um círculo aveludado,
fresco, perfumado pela bondade, fazendo-a perceber como servir a Deus é
diferente daquela feroz escravidão a Satanás, e como é suave o perfume celeste,
em comparação com o fedor da culpa, e como é repousante ser amados santamente,
em comparação com ser possuídos satânicamente. Vede como o Senhor usa de
medidas em seu querer. Ele não exige conversões fulminantes. Não pretende ter
de um coração o absoluto. Sabe esperar. E sabe contentar-se. E, enquanto espera
que a perdida encontre de novo o caminho, que a louca encontre a razão, Ele se
contenta com tudo o que lhe puder dar a mãe transtornada pela dor. Eu não lhe
pergunto mais do que isto: “Podes perdoar?” Quantas outras coisas Eu teria tido
que perguntar-lhe, para torná-la digna do milagre, se Eu tivesse que julgar
conforme as medidas humanas. Mas Eu meço divinamente as vossas forças. Aquela
pobre mãe transtornada já estaria fazendo muito, se conseguisse perdoar. E Eu
lhe pergunto somente isto, naquela hora. Depois, entregando-lhe o filho, lhe
digo: “Sê santa, e faze santa a tua casa”. Mas, enquanto o espasmo a
transtorna, não lhe peço senão o perdão para a culpada. Não se pode exigir tudo
de quem, pouco antes, estava no nada das trevas. Aquela mãe viria depois á luz
total, e com ela a esposa e os meninos. No momento, aos seus olhos, cegos de
tanto chorar, era preciso que se fizesse chegar o primeiro crepúsculo da luz: o
perdão, que é a aurora do dia de Deus. Nos presentes, só um - não estou contando
Judas, pois falo dos cidadãos lá acolhidos e não dos meus discípulos - só um
não teria vindo à Luz. Estes malogros estão juntos com as vitórias do
apostolado. Há sempre alguém por quem o apóstolo se afadiga em vão. Mas essas
derrotas não o devem fazer perder o alento. O apóstolo não deve pretender
conseguir tudo. Contra ele há forças adversas, que têm muitos nomes, e que,
como tentáculos de polvos, pegam de novo a presa, que ele lhes havia
arrebatado. O merecimento do apóstolo permanece igual. Infeliz do apóstolo que
diz: “Eu sei que lá não poderei converter, e por isso, não vou. Esse é um
apóstolo de bem pouco valor. É preciso
ir, mesmo que entre mil só um se salve. Sua jornada apostólica será
frutuosa com aquele homem, como se fossem mil. Porque ele terá feito tudo o que
podia, e Deus lhe dá o prêmio por isso. É preciso também pensar que onde o
apóstolo não pode conseguir conversões, por que os que precisam da conversão
estão por demais seguros pelas garras do demônio e, quando as forças do
apóstolo são inferiores ao esforço que delas se requer, nesse caso Deus pode
intervir. E, então? Quem é mais do que Deus?
Outra coisa que deve absolutamente praticar o
apóstolo é o amor. Amor manifesto. Não somente o amor secreto, que existe no
coração dos irmãos. Aquele basta para os bons irmãos. Mas o apóstolo é operário
de Deus, e não deve limitar-se a rezar: deve agir. Aja com amor. Com grande
amor. O rigor paralisa o trabalho do apóstolo e o movimento das almas para a
Luz. Não rigor, mas amor. O amor é a veste de amianto, que torna uma pessoa
inatacável pelas labaredas das paixões. O amor é a saturação de essências
preservadoras, que impedem que a podridão humano-satânica penetre em nós. Para
se conquistar uma alma, é preciso saber amá-la. Para se conquistar uma alma é
preciso levá-la a amar. Amar o Bem, repudiando os seus próprios pobres amores
de pecado. Eu queria a alma de Maria. E, como para ti, pequeno João, Eu não me
limitei a falar de minha cátedra de Mestre. Eu desci a procurá-la pelos
caminhos do pecado. Eu a acompanhei e persegui com o meu amor. Doce
perseguição! Entrei, Eu-Pureza onde estava ela-impureza. Não tive medo de
escândalo, nem para Mim, nem para os outros. Escândalo em Mim não podia entrar,
porque Eu era Misericórdia. E esta chora, sim, sobre as culpas, mas não fica
escandalizada por elas. Infeliz do pastor que se escandaliza, e atrás deste
pára-vento, se entrincheira para abandonar uma alma! Não sabeis que as almas são
mais dispostas do que os corpos a ressurgir e que a palavra piedosa e amorosa,
que diz: “Minha irmã, levanta-te para o teu bem”, opera muitas vezes o milagre?
Eu não tinha medo do escândalo
dos outros. Diante dos olhos de Deus, o que Eu fazia estava justificado. Diante
dos olhos dos bons estava compreendido. O olho mau no qual fermenta malícia,
evaporando-se de um interior corrompido, não tem valor. Ele acha culpa até em
Deus. Não vê ninguém perfeito, a não ser ele mesmo. Por isso, Eu não o curava.
As três fases da salvação de uma alma são:
Ser tanto mais íntegros,
quanto possível, para poder falar sem o temor de ficar obrigados ao silêncio.
Falar a toda uma multidão, de tal modo que a
nossa palavra apostólica, dita ás turbas que se aglomeram ao redor da barca
apostólica, vá fazendo círculos como a onda, atingindo sempre pontos mais
distantes, até chegar á beira lamacenta, onde estão estendidos aqueles que se
estancaram na lama, e não se preocupam com o conhecimento da Verdade. Este é o
primeiro trabalho, para romper a crosta da gleba dura e prepará-la para receber
a semente. Isto é o mais difícil para quem o faz e para quem o recebe, porque a
palavra deve, como um vômer cortante, ferir para abrir. E na verdade Eu vos digo
que o coração do apóstolo bom se fere e derrama seu sangue, pela dor de ter que
ferir para abrir. Mas também esta dor é fecunda. Com o sangue e o pranto do
apóstolo, torna-se fértil a gleba inculta.
Segunda qualidade: Operar também naquele lugar
em que alguém, menos compenetrado de sua missão, dela teria fugido.
Sacrificar-se no esforço de arrancar a cizânia, a tiririca e os espinheiros
para pôr a nu o terreno arado a fim de fazer brilhar sobre eles, como o Sol, o
poder de Deus e sua bondade e, ao mesmo tempo, trabalhando como juiz e como
médico, ser severo, sem deixar de ser compassivo, saber parar numa pausa de
espera para dar tempo às almas de superar a crise, meditar, decidir.
Terceiro ponto: Não só com a
alma que no silêncio se arrependeu, chorando e pensando nos seus erros, ousa
vir timidamente, temerosa de ser expulsa, até chegar ao apóstolo, que o
apóstolo tenha um coração maior do que o mar, um coração mais doce de que um
coração de mãe, mais enamorado que um coração de esposo, e o abra todo, para
fazer que fluam dele ondas de ternura. Se tivésseis Deus em vós, Deus que é
Caridade, encontraríeis facilmente as palavras de caridade a serem ditas ás
almas. Deus falará em vós e por vós e, como o mel que escorre de um favo e
bálsamo que flui de uma ampola, o amor chegará até os lábios ressequidos e
enfastiados, chegará aos espíritos feridos, e será alívio e remédio. Fazei que
os pecadores vos amem, ó vós, doutores das almas. Fazei que sintam o sabor da
Caridade celeste e se rendam a Ela, cheios do desejo de não procurarem nunca
mais outro alimento. Fazei que sintam na vossa doçura um tal alívio, que o
procurem para todas as suas feridas. É preciso que a vossa caridade expulse
para longe deles todo o temor, porque, como diz a epístola que leste hoje: “O
temor supõe o castigo, e quem teme, não está perfeito na caridade.”
Mas não o está também aquele que faz temer.
Não digais: “Que foi que eu fiz?” Não digais: “Vai-te embora” Não digais: “Tu
não podes gostar do amor bom.” Mas, dizei assim, dizei-o em meu nome: “Ama, e
eu te perdôo.” Dizei “Vem, os braços de Jesus estão abertos.” Dizei: “Prova
deste Pão angélico e desta Palavra, e esquece-te do piche do inferno e das
zombarias de Satanás.”
Fazei-vos como animais de carga para suportar
as fraquezas dos outros. O apóstolo há de suportar as suas e as dos outros. E,
enquanto estiverdes vindo a Mim, trazendo nos ombros as ovelhas feridas,
tranqüilizai a estas errantes, e dizei-lhes: “Tudo está esquecido, a partir
deste instante.” Dizei: “Não tenhas medo do Salvador. Ele veio do Céu para ti,
precisamente para ti. Eu não sou mais do que uma ponte para levar-te a Ele, que
te está esperando, do outro lado do rio da absolvição penitencial, para
conduzir-te ás suas pastagens santas, cujos princípios estão aqui nesta terra,
mas continuam depois, com uma beleza eterna que nutre e faz feliz nos Céus. “
Eis o comentário. A vós pouco
interessa, a vós, ó ovelhas fiéis ao Bom Pastor. Mas, se a ti, ó pequena
esposa, trouxe um aumento de confiança, para o Padre haverá ainda mais luz, na
sua luz de juiz, e para muitos será um estímulo para irem ao Bem. Mas será uma
orvalhada que penetra e que nutre, da qual Eu falei, e que faz reviverem as
flores que estavam murchas. Levantai vossas cabeças. O Céu está acima. Vai em
paz, Maria. O Senhor está contigo.”
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vol 4 pgs 38,39,40,41,42,43,44,45,46)