JESUS É O SENHOR DO
SÁBADO
Maria Valtorta viu e
ouviu por um desejo de Deus o seguinte relato, em 13 de julho de 1945:
Ainda estão no mesmo lugar, mas o sol está menos implacável,
porque o fim do dia se aproxima.
“Precisamos andar para chegarmos àquela casa”, diz Jesus.
E lá se vão. Afinal, chegam à casa. Pedem pão e alguma coisa
para restaurarem as forças. Mas o feitor os rechaça duramente.
“Raça de filisteus! Víboras! São sempre os mesmos! Nasceram
daquele tronco e dão frutos venenosos”, resmungam os discípulos, esfomeados e
cansados. “Que vos seja dado o que nos dais.”
“Mas, porque faltais com a caridade? Não estamos mais no
tempo do talião. Vinde para a frente. Ainda não é noite e não estais morrendo
de fome. Um pouco de sacrifício, para que estas almas cheguem a ter fome de Mim”,
anima-os Jesus.
Os discípulos, porém, eu acho que mais por despeito, do que
por uma fome insuportável, entram por um campo adentro e põem-se a colher
espigas e as debulham com as palmas das mãos, e começam a come-las.
“São boas, Mestre”, grita Pedro. “Não vais apanhar delas?
Além disso, elas tem um duplo sabor... Eu quereria comer um campo inteiro cheio
delas.”
“Tens razão. Assim eles se arrependeriam de não nos terem
dado pão”, dizem os outros, e vão caminhando pelo meio das espigas e comendo à
vontade. Jesus vai caminhando sozinho pela estrada poeirenta. Uns cinco ou seis
metros atrás, estão Zelotes com Bartolomeu e vão falando um com o outro.
Em uma encruzilhada, onde uma estrada secundária atravessa a
estrada mestra, lá está, parado naquele ponto, um grupo de carrancudos
fariseus, que certamente estão de volta das funções do sábado, das quais eles
participam no lugarejo que se vê lá no fundo desta estrada secundária, um lugar
largo e plano, como se fosse um grande animal escondido em sua toca.
Jesus os vê, olha para eles, manso e sorridente, e os saúda:
“A paz esteja convosco!”
Em vez de responder a saudação, um dos fariseus lhe pergunta
com arrogância: “Quem és?”
“Jesus de Nazaré.”
“Estais vendo que é ele?”, diz um dos outros. Nesse meio
tempo Natanael e Simão se aproximam do Mestre, enquanto os outros, caminhando
por entre os sulcos, vêm vindo para o caminho. Estão ainda mastigando e com as
conchas das mãos cheias de grãos de trigo.
O fariseu que falou primeiro, talvez o mais poderoso, volta a
falar com Jesus, que parou na expectativa de ouvir o resto: “Ah! Então és o
famoso Jesus de Nazaré? Como foi que chegaste até aqui?”
“Porque aqui também há almas para salvar.”
“Para isso bastamos nós. Nós sabemos salvar as nossas e
sabemos salvar as dos que dependem de nós.”
“Se é assim, fazeis bem. Mas Eu fui enviado para evangelizar
e salvar.”
“Enviado! Enviado! E quem é que prova isso? Certamente que
não o provam as tuas obras.”
“Por que é que dizes isto? Não te importas com a tua vida?”
“Ah! Agora, sim. Tu és aquele que dá a morte àqueles que não
te adoram. Queres então matar toda classe sacerdotal, a dos fariseus, e dos
escribas e muitas outras, porque não te adoram e não te adorarão nunca. Nunca,
compreendes? Nunca nós os eleitos de Israel, haveremos de adorar-te. E também
não te amaremos.”
“Eu não vos forço a me amar, e vos digo: “Adorai a Deus”,
porque...”
“Isto é, a Ti, porque tu és Deus, não é? Mas nós não somos os
piolhentos populares galileus, nem os tolos da Judéia, que andam atrás de Ti,
esquecendo-se dos nossos Rabis...”
“Não te preocupes homem. Eu não peço nada. Eu cumpro a minha
missão, ensino a amar a Deus, e torno sempre a repetir o Decálogo, porque ele
está por demais esquecido e, pior ainda, está sendo mal aplicado. Eu quero dar
a vida, a Vida Eterna. Eu não desejo para ninguém a morte corporal nem muito
menos a morte espiritual. A Vida que Eu te perguntava se não te importavas em
perder, era a da tua alma, porque Eu amo a tua alma, mesmo quando ela não me
ama. E fico angustiado, ao ver que tu a matas, quando ofendes o Senhor,
desprezando o Messias.”
O fariseu parece ter sido invadido por uma convulsão, pelo
tanto que está agitado, ele descompõe suas vestes, desfia as franjas, tira o
turbante, desgrenha os cabelos, e grita: “Ouvi! Ouvi! A mim, a Jônatas de
Uziel, descendente direto de Simão, o justo, a mim é que se vem dizer uma coisa
destas! Eu, ofender o Senhor! Não sei que, me segura, que eu não te amaldiçoe,
mas...”
“É o medo quem te segura. Mas, faze o que queres. Por isso
não é que não irás ser reduzido a cinzas. A seu tempo o serás e me invocarás,
então. Mas, entre Mim e ti, haverá então, um pequeno rio vermelho: o meu
sangue.
“Está bem. Mas enquanto isso, Tu que te dizes santo, por que
é que permites certas coisas? Tu, que te dizes Mestre, por que é que não
instrui os teus apóstolos antes dos outros? Olha para eles, ali atrás de Ti...
Olha para eles, que estão ainda com o instrumento de pecado nas mãos! Não os
estas vendo? Eles apanharam espigas e hoje é sábado. Apanharam espigas que não
eram deles. Violaram o sábado e ainda roubaram.
“Nós estamos com fome. Nós pedimos ao lugar aonde chegamos
ontem à tarde, que nos dessem alojamento e comida. Mas eles nos rechaçaram.
Somente uma velhinha nos deu do seu pão e um punhado de azeitonas. Que Deus lhe
dê cem vezes mais, porque ela nos deu tudo o que tinha, pedindo somente uma
benção. Caminhamos uma milha, depois paramos, como é de Lei, e bebemos a água
de um rio. Em seguida, quando chegou o pôr do sol, fomos àquela casa... Fomos
expulsos de lá. Estás vendo que em nós havia vontade de obedecer a Lei”,
responde Pedro.
Mas não o fizestes. No sábado não é lícito fazer trabalho
manual e nunca é permitido apanhar o que é dos outros. Eu e os meus amigos
ficamos escandalizados com isso.”
“Mas Eu, não. Não lestes
como Davi, em Nob, apanhou os pães sagrados da Preposição, para alimentar-se a
si e aos seus? Os
pães estavam consagrados a Deus em sua casa, reservados, por uma ordem eterna
aos sacerdotes. Está dito: “Pertencerão a Aarão e a seus filhos, que os comerão
no lugar santo, porque são uma coisa santíssima.” No entanto, Davi os apanhou
para si e para os seus companheiros porque estavam com fome. Agora, pois, se o
santo rei entrou na casa de Deus e comeu os pães da Preposição num sábado, ele
a quem não era permitido comer deles e contudo isso não lhe foi imputado como
pecado, porque Deus continuou, mesmo depois disso, a trata-lo como seu querido,
como podes tu dizer que nós somos pecadores, se colhemos no terreno de Deus as
espigas que cresceram e amadureceram por vontade Dele, as espigas que pertencem
também aos passarinhos, e tu negas que delas se possam alimentar os homens,
filhos de Pai?”, pergunta Jesus.
“Eles pediram aqueles pães. Não os apanharam sem pedir. E
isso muda o aspecto da coisa.”
“Além disso, não é verdade que Deus não imputou aquilo a Davi
como pecado. Deus o golpeou duramente.”
“Mas não foi por isso. Pela luxúria, pelo recenseamento, e
não por...”, responde Tadeu.
“Oh! Basta. Não é permitido, e não é permitido! Não tendes o
direito de fazê-lo e não o fareis. Ide-vos embora! Não vos queremos em nossas
terras, Não precisamos de vós.”
“Nós iremos embora”, diz Jesus, não permitindo aos seus
discípulos retrucar.
“E para sempre recordai-o! Que nunca mais Jonatas de Uziel te
encontre em sua frente. Fora!”
“Sim. Fora. Contudo, ainda nos encontraremos. E, então, será
Jonatas quem me quererá ver, para repetir a condenação e para livrar para
sempre de Mim o mundo. Mas, então, será o Céu que te dirá: “Não te é permitido
fazer isso.” E aquele “não te é permitido” te soará no coração como o ressoar
de uma buzina durante toda a vida, e além da vida. Assim como nos dias de sábado, os sacerdotes no Templo violam o repouso
sabático e não cometem pecado, assim nós, sevos do Senhor podemos, uma vez que
o homem nos nega amor, buscar amor e socorro no Pai Santíssimo, sem com isto
cometer faltas. Aqui está alguém que é muito maior do que o Templo, e pode
apanhar o que quiser de tudo que houver na natureza, porque Deus tudo fez para
servir de escabelo para sua Palavra. E Eu, não só apanho, como dou. Assim as
espigas do Pai, colocadas nesta imensa mesa que é a Terra, como a Palavra, Eu
apanho e dou. Aos bons, como os maus. Porque eu sou a misericórdia. Mas vós não
sabeis o que é misericórdia. Se soubésseis o que quer dizer esse meu “ser
Misericórdia”, compreenderíeis também que Eu não quero mais do que ela. Se vós
soubésseis o que é misericórdia, não teríeis condenado os inocentes. Mas vós
não sabeis. Vós não sabeis nem mesmo que Eu não vou condeno, vós não sabeis que
Eu vos perdoarei e que até pedirei perdão ao Pai por vós. Porque Eu quero a
misericórdia e não o castigo. Mas vós não sabeis. Não quereis saber. É este um
pecado maior do que aquele que me atribuis e que dizeis que estes inocentes
cometeram.
Afinal, ficai sabendo que o sábado foi feito para o homem e
não o homem para o sábado, e que o Filho do homem é dono até do sábado.
Adeus...”
E Jesus se vira para os discípulos: “Vinde. Vamos procurar
uma cama entre as areias, que já estão perto. Sempre teremos como companheiras
as estrelas, e nos dará sustento o orvalho. Deus proverá, Ele que mandou o maná
para Israel, alimentara a nós também, a nós pobres, mas fiéis a Ele.” E Jesus
deixa assim no ar o grupo odiento, e lá se vai com seus discípulos, enquanto a
tarde vai chegando com as suas primeiras sombras violáceas...
Encontraram finalmente uma sebe de figueiras da Índia, em
cuja copa, arrepiada com suas pazinhas agressivas, estão figos, começando a
ficar maduros. Mas tudo é bom para quem está com fome. Em ferindo-se, os discípulos
vão colhendo os mais maduros, e vão andando, até que os campos terminam em umas
dunas arenosas, Ouve-se lá ao longe um rumor do mar.
“Permaneçamos aqui. A areia está fofa e quente. Amanhã,
entraremos em Ascalon”, Diz Jesus e todos caem cansados aos pés de uma alta
duna.
(O Evangelho como me foi revelado-Valtorta-Vol. 3,pgs.413 a
417)
Comentário meu:
Fica nítido neste texto, quando Jesus diz que é o dono do
sábado, estava se referindo a sua condição de Divindade, de que Ele próprio
escreveu o Decálogo, portanto é o autor, possuidor, soberano, o dono, e todo
dono faz o que bem entende daquilo que é dono. Não está incitando a
descumpri-lo, mas dizendo indiretamente que o amor para com os homens está
acima das restrições de uma lei. O sábado
foi feito para os homens, ou seja, o dia de adoração foi feito para o
homem, porque sem Deus no coração o homem não tem Vida, e o homem não foi feito para o sábado, ou seja, as necessidades
fisiológicas do homem vem em primeiro lugar, afim de mantê-lo vivo, para que
possa depois reverenciar seu Criador.
Mas os doutores difíceis dirão que este texto se refere
unicamente a Ele, como Deus e não a toda cristandade. Que os cristão não podem
por isso justificar adorá-lo em outro dia da semana. Ah! Teimosa pretensão de
tentar diminuir a extensão que é Jesus Cristo. Por acaso a figura de Jesus
representa somente Deus? É claro que não. Não exclusivamente o que representou
Jesus em sua passagem pela terra, sendo Homem-Deus, Mestre, Sacerdote, Profeta,
Exorcista e Médico miraculoso. Mas a extensão de sua representatividade no
contexto universal.
Quem segue Jesus é chamado cristão, a nova criação destinada
à salvação através de sua doutrina celeste, incubada dentro de sua Igreja, que
se espalhou pelo mundo. Jesus é o Pão que desceu do Céu, para nutrir os homens
de santidade, e este Pão é servido durante a Eucaristia, como sua própria carne
e o vinho como seu próprio sangue. Jesus é o fundador da Igreja na Terra, é a
Cabeça, o Mentor, o Instrutor, o Consolador, o Dono, mas não somente isso, a
Igreja é seu Corpo, sua esposa eterna e indivisível, são uma só coisa. Ora, se
Jesus é a Igreja, esta Igreja é dona do sábado, assim como Ele, e pode ter um
entendimento diferente, porque é movida e instruída pelo Espírito Santo em suas
decisões. Pode considerar o sábado inferior ao domingo, dia do Senhor Jesus
Cristo, sem alterar o Decálogo. É bom que se diga, a Igreja Católica não
adulterou o decálogo, não substituiu o culto aos sábados pelo domingo (são dias
diferentes da semana), não criou um novo mandamento adorando o Senhor aos
domingos, visto que tem missas todos os dias da semana. Os Católicos que
participam das missas aos sábados estão reverenciando o Criador, seu dia de
descanso conjuntamente com a adoração ao Senhor Redentor. A Igreja deixa o
decálogo como sempre foi, esta é a verdade. Todo o Decálogo está expressado e
justificado na ressurreição de Cristo no domingo, todo o Amor de um Deus para
com seus semelhantes é relembrado neste
dia. Este é o dia mais importante para o cristianismo e para a humanidade em
todos os tempos. É a concretização da Nova Aliança com os homens, do novo
Templo que nos une intimamente com Deus.
No Catecismo da Igreja confirma a importância de preservar
inalterado os dez mandamentos quando diz: “Por
sua parte, o homem deverá se conservar fiel a este fundamento e respeitar as
leis que o Criador inscreveu nele.” Quando fala do domingo o descreve
assim: “O oitavo dia. Para nós, porém,
nasceu um dia novo: o dia da ressurreição de Cristo. O sétimo dia encerra a primeira
criação. O oitavo dia dá início a nova criação. Assim, a obra da criação
culmina na obra da redenção. A primeira criação encontra seu sentido e seu
ponto culminante na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da
primeira.”
O “oitavo dia” é o primeiro dia da semana, o domingo. Usa a
expressão de “oitavo dia” como sendo um dia novo para a cristandade relembrar
com o Sacrifício Perpétuo nos Missais, a Paixão de Cristo.
Jesus é o dono da Graça que salva, um dom inestimável de
Deus, um desejo que gratuitamente infunde no homem virtudes, afim de
santifica-lo.
A Graça da santificação obtida pelo fogo do Espírito Santo,
para aqueles que mantiveram a fé, esperança e caridade, aferidos pelos sete
sacramentos, que é o caminho, a verdade e a vida do cristão fiel: Batismo,
Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos enfermos, Ordem e Matrimônio,
para se chegar ao ápice da santidade, com os sete dons do Espírito Santo:
sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor a Deus.
Completamente cheios de Graça.
Maria nossa Mãe, é a cheia
de graça porque tem todos os dons do Espírito Santo, como nos confirma os
evangelhos. Atingiu o vértice da santidade, inferior somente a Jesus Cristo.
Também existe o aspecto universal da existência de Jesus,
porque tudo foi criado por causa Dele. Se existimos é porque no princípio no
pensamento do Criador estava Jesus Cristo, portador das chaves do Paraíso.
Jesus Cristo veio ao mundo trazendo nossa cura, para obtermos mediante nossa
vontade em aceitar seus preceitos de amor, nossa volta ao que éramos, quando
criou os progenitores. Sem Jesus Cristo o homem teria deixado de existir. É por
isso que nosso bondoso Criador, antes de criar o homem, desejou a segunda
pessoa num excesso de Amor. Por isso temos que ter a consciência de que entre
todas as coisas criadas por Deus, o homem foi a mais amada, visto que o próprio
Deus se deixou crucificar para obter o remédio de nossas enfermidades corporais
e espirituais. Se isto não for amor, e o maior dos amores, nada mais é.
Jesus também é o dono da Fonte de Água Viva que jorra do lado
direito do Trono de Deus. Fonte de Vida, Árvore da Vida Eterna. Nós não somos
como os anjos que são somente espírito, eles não vão precisar beber daquela
Água. Quando formos habitantes do Paraíso teremos necessidade dela em nosso
espírito, preenchido pela carne vivificada por esta Água eternamente. No
Banquete dos eleitos haverá para todo o sempre desta Água Salutar.
Jesus simboliza o Tau, é o dono do Sinal que salva,
representado pela Cruz.
Como Jesus Cristo ressuscitou num domingo, e sendo autor da
oração do Pai Nosso, é chamada de oração dominical. É a mais perfeita das orações, resume todo o
Evangelho, também se identifica como oração Eucarística(Paixão do Senhor, o pão nosso de cada dia). É a oração do
Senhor por excelência. Como tem uma conotação dominical, infelizmente a maioria
dos evangélicos não a rezam, para não contradizer a lei sabática.
A vinda de Cristo mudou a história da humanidade para sempre.
Se Ele não viesse a humanidade teria deixado de existir. Se temos bons homens,
justos, honestos, compreensivos, amorosos, mansos, é porque a Graça que provém
Dele está atuando nos corações.
Graça e paz para todos.
Antonio Carlos Calciolari