JESUS FAZ
CESSAR UMA TEMPESTADE
“Estais vendo como se está bem
aqui? Não é melhor aqui do que em um pobre palácio do rei? Onde me acharíeis
melhor, e mais poderoso, mais afável, mais rico de tesouros sem fim, senão ao
me terdes como Salvador, Redentor, Rei espiritual e Amigo amoroso?”
“É verdade. É verdade. Oh!
Eles nos seduziram, e parecia-nos te estar prestando honras, e que o pensamento
deles fosse justo.”
“Não penseis mais nisso. Já
passou. Pertence ao passado. Deixai que o tempo, passando veloz, como um
turbilhão que nos está atacando, o leve para longe e o perca para sempre... Mas
entremos em casa. Não é possível ficarmos aqui...”
E, de fato, é um verdadeiro
turbilhão, o que se arroja, vindo do norte, sobre o povoado. Galhos são
arrancados, telhas estão voando, um ou outro dos pequenos muros dos terraços
sobre os tetos, caem com fragor. A nogueira e a macieira se torcem, como se
quisessem arrancar-se do chão.
Entram em casa, e os quatro
apóstolos olham, espantados o rosto ainda úmido dos dois discípulos, por causa
das lágrimas, em contraste com o sorriso que agora está em seus rostos, Mas não
dizem nada.
“Alguma desgraça está para
acontecer”, diz o velho João.
“Sim. Aqueles que agora estão
debaixo das cabanas, não sei como farão...”, diz Pedro.
O vento está tão forte, que as
chamas de uma candeia de três bicos que foram acesos para iluminar o quarto
fechado, estão vacilando, mesmo com as portas fechadas. Com o grande barulho
que o vento está fazendo, e ao levantar por sobre a casa o terriço e os
detritos, a tal ponto que parece estar caindo uma chuva de granizo muito miúdo,
a tudo isso se ajuntam os gritos das mulheres, ouvidos cada vez mais perto. São
as esposas espantadas e as mães angustiadas: “Ai de nossos maridos! Ai de
nossos filhos. Eles estão na estrada. Estamos com medo. Um muro da casa
abandonada já caiu... Senhor! Jesus! Piedade.”
Jesus põe-se de pé, abre com
dificuldade a porta, que o vento está empurrando com toda a sua violência.
Algumas mulheres, que se inclinaram para melhor poderem resistir ao vento, --
uma verdadeira tromba de ar, sob um céu apavorante – gemem estendendo os
braços.
“Entrai. Não temais!, diz
Jesus. Ele olha para o céu e para as árvores que já estão para ser arrancadas.
“Vem para dentro, Jesus! Não
vês como os galhos já estão sendo arrancados e as telhas estão caindo? Não é prudente
ficar do lado de fora”, grita Judas de Alfeu.
“Pobres oliveiras! Agora é
chuva de pedras! Onde ela está caindo, acabaram de fazer a colheita”, diz
Pedro.
Jesus não vai para dentro. Ao
contrário, sai completamente para fora, no meio do turbilhão, que lhe torce a
veste e faz esvoaçarem seus cabelos. Ele abre os braços, reza, e depois dá esta
ordem: “Basta! Assim Eu quero!” E torna a entrar em casa.
O vento dá um último gemido, e
cessa de repente. É impressionante o silêncio que se faz, depois daquele fragor
todo tão estranho que, nas casas vêem-se nas janelas os rostos assombrados. O
que sobra são os sinais do aeromoto: as folhas, os galhos quebrados, os
farrapos das tendas. Mas está tudo quieto. O firmamento responde à terra, não
mais transtornada, mas com o amenizar-se das nuvens que, de escuras se tornam
claras, espalham-se sem fazer mal, mas deixando cair uns borrifos de chuva, que
acaba de purificar o ar, que ficou ainda turvo de tanta poeira.
“Mas, que aconteceu?”
“Terminou assim?”
“Parecia o fim de tudo, e
agora o tempo está sereno.”
São estas as perguntas que
estão fazendo em cada uma das casas. As mulheres, que haviam recorrido a Jesus,
saem para fora.
“O Senhor! O Senhor está
conosco! Ele fez o milagre! Fez o vento parar! Rasgou as nuvens! Hosana!
Hosana! Louvor ao Filho de Davi. Paz! Bênção! Cristo está conosco! Conosco está
o Bendito! O Santo! O Santo! O Messias está conosco! Aleluia!”
O povoado derrama para fora todos
os seus moradores reais e os ocasionais, isto é, os apóstolos e discípulos, que
acorrem todos para a casinha onde está Jesus. Todos querem beijá-lo, tocar
nele, exaltá-lo.
“Louvai ao Senhor Altíssimo.
Ele é o dono dos ventos e da águas. Se Ele ouviu ao seu Filho assim o fez para
premiar a fé e o amor que vós tendes tido para com Ele.”
E quereria despedir-se deles.
Mas, quem é que pode acalmar um povoado em festa, agitado por um evidente
milagre? Especialmente quando é um povoado cheio de mulheres. Os esforças de
Jesus foram em vão. Ele sorri, paciente, enquanto o velho, que o hospeda, o
lava com suas lágrimas, e lhe beija a mão esquerda.
Eis os primeiros homens
ofegantes, apavorados, que estão chegando de volta de Jerusalém. Talvez estejam
com medo de alguma desgraça. Mas eles estão vendo o povo em festa. “Que é? Que
houve? Mas não tivestes uma tempestade? Lá do monte se via como a cidade ia
desaparecendo sob nuvens de poeira. Nós pensávamos que ela estivesse destruída.
Mas aqui está tudo salvo!”
“O Senhor! Foi o Senhor! Ele
veio a tempo para salvar-nos da ruína. Somente caiu a casa maldita e alguma
telha, algum galho. E a vós? Que aconteceu em Jerusalém?”
As perguntas e as respostas se
cruzam. Mas os homens abrem caminho para irem venerar o Salvador. Somente
depois é que explicam que na cidade o medo era da tempestade iminente, e que
todos fugiam das cabanas para as casas e que os donos dos olivais já estavam chorando,
pensando na colheita... quando, de repente o vento se acalmou e o céu foi
clareando com pouca chuva... e que a cidade estava assombrada. E, como a
fantasia trabalha rapidamente em certos casos, os homens contavam que, enquanto
o povo ia fugindo, muitos que tinham ficado no Templo nos dias anteriores,
vendo que o Monte Mória era o mais atacado pelas rajadas, a tal ponto que os
bancos dos trocadores de moedas haviam sido derrubados e que estragos haviam
sido feitos na casa do Pontífice. E diziam que era o castigo de Deus pelos
insultos feitos ao Messias. E por aí afora... Quanto mais homens iam chegando,
com mais cores iam contando a história. Em alguns momentos torna-se mais
apocalíptica a história do que a do dia da Sexta-Feira Santa...
(de Jesus à Valtorta, Vol. 7. Pgs.
432 a 436)