“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

domingo, 26 de janeiro de 2020

A VERDADE É DEUS







A VERDADE É DEUS



Diz Jesus:

Muitos são os que procuram a verdade, durante toda a vida, sem chegarem a encontrá-la. Ficam parecendo loucos, que querem ver mesmo tendo uma corrente de bronze sobre os olhos, e ficam apalpando, de um modo convulsivo, e de tal maneira, que sempre vão-se afastando da Verdade, ou então a escondem, despejando sobre ela coisas que a procura deles vai removendo de sua frente, ou faz sair para fora dali. Não lhes pode acontecer senão assim, porque vão procurar a verdade onde ela não pode estar.
Para encontrar a Verdade, é preciso unir a inteligência com o amor e olhar as coisas, não somente com olhos sábios, mas também com olhos bons. Porque vale mais a bondade do que a sabedoria. Aquele que ama, sempre consegue achar um caminho para chegar á verdade.
Amar não quer dizer gozar de uma carne, ou pela carne. Isso não é amor. É sensualidade. Amor é o afeto de um espírito a outro espírito, de uma parte superior a outra parte inferior, pelo qual na companheira não se há de ver uma escrava, mas a geradora dos filhos, só isto, ou seja, a metade, que forma com o homem um todo, que é capaz de criar uma vida, e mais vidas, e até a companheira que é mãe, irmã e filha do homem, que é mais fraco do que um recém nascido e mais forte que um leão, conforme os casos, e que como mãe, irmã, filha, e amada com um respeito confiante e protetor. O que não for como estou dizendo, não é amor. É vício. Não leva para o alto, mas para baixo. Não para a luz, mas para as trevas. Não para as estrelas, mas para a lama. Amar a mulher, para saber amar ao próximo. Amar ao próximo para saber amar a Deus.
Então se terá encontrado o caminho da Verdade. A Verdade está aqui, ó homens que a estais procurando. A Verdade é Deus. A chave para compreender o que é preciso saber está aqui.
A doutrina que é sem defeito, é a de Deus somente. Como pode o homem achar resposta para suas perguntas, se ele não tiver Deus para responder? Quem é que pode revelar os mistérios do universo, para falar, por enquanto, só e simplesmente deles, senão o Criador Supremo que fez o universo? Como compreender esse prodígio vivo que é o homem, esse ser em que se une a perfeição animal com a perfeição imortal, que é a alma, pela qual somos deuses, se tivermos em nós viva a alma, isto é, livre daquelas culpas que aviltaram até um bruto, e que o homem comete e ainda se vangloria de cometer?
Eu vos digo as palavras de Jó, ó procuradores da verdade: “ Interroga os jumentos, e eles te instruirão, os passarinhos, e eles te mostrarão. Fala a terra, e ela te responderá, aos peixes, e eles te farão saber” ( Jó 12,3-8).
Sim, a terra, esta terra verdejante e florida, estas frutas que entumecem nas árvores, estes passarinhos que criam seus filhotes, estas correntes de vento, que distribuem as nuvens pelo céu, este sol que não se esquece de nascer desde séculos e milênios, tudo fala de Deus, tudo explica Deus, tudo revela e desvela Deus. Se a ciência não se apóia em Deus, torna-se erro, e não mais nos eleva, mas avilta. O saber não é corrupção, mas religião. Quem sobe por Deus, não cai, porque sente a própria dignidade e porque crê no seu futuro eterno.
Mas é preciso procurar o Deus real. Não os fantasmas, que deuses não são, mas simplesmente delírios de homens ainda envolvidos nas faixas da ignorância espiritual, pela qual não há nem sombra de sabedoria em suas religiões, nem sombra de verdade em suas crenças.
Qualquer idade é boa para nos tornarmos sábios. E é ainda em Jó que está escrito: “ Ao chegar a tarde, te surgirá uma espécie de luz do meio dia e, quando pensares que estás acabado, surgirás como a estrela da manhã. Estarás cheio de confiança pela segurança do que te aguarda.” ( Jó 11, 17-18)
Basta a boa vontade de achar a verdade e mais cedo ou mais tarde, ela se deixará encontrar. Mas, uma vez que tenha sido achada, ai de quem não a seguir e ficar imitando os cabeçudos de Israel que, tendo já nas mãos o fio condutor para encontrarem a Deus, isto é, todas as coisas que de Mim foram ditas no Livro, não querem render-se á Verdade, e a odeiam, acumulando em suas inteligências e em seus corações, os entulhos do ódio e das fórmulas e não sabem que, por causa do peso demais, a terra se abrirá debaixo dos pés deles, que acham que seus pés são pés de triunfadores, mas que não são mais do que pés de escravos dos formalismos, do ódio, dos egoísmos, e que eles serão engolidos, precipitando-se no lugar para onde vão os culpados conscientes de um paganismo mais culpável ainda do que o dos povos que, por si mesmos, arranjaram para si uma religião, que lhes sirva de norma para regularem suas vidas.
Mas é que Eu, assim como não rejeito aos que se arrependem entre os filhos de Israel, assim também não rejeito nem mesmo a estes idólatras, que creem naquilo que lhes foi dado para crer, mas que dentro de si, em seu interior, gemem dizendo: “ Dai-nos a Verdade!”
Tenho dito.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta – Vol 4- pg.92,93,94)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

EU NÃO TE CONHEÇO






EU NÃO TE CONHEÇO

“...Mas não tenhais dúvida disso. Como diz Jeremias, eles reconhecerão, pelas provações, como é doloroso e amargo terem abandonado o Senhor. Por certos delitos meus amigos, não há salitre nem potassa, que consigam tirar a nódoa que eles deixam, nem mesmo o fogo do inferno é capaz de tirar aquela nódoa. Ela é indelével.
Também aqui é necessário reconhecer a justiça das Palavras de Jeremias. Realmente, os nossos grandes de Israel parecem as jumentas selvagens das quais fala o Profeta, Acostumados com o deserto de seus corações, porque, podeis crer, enquanto alguém estiver com Deus, ainda que seja pobre como Jó, ainda que esteja sozinho, ainda que esteja nu, nunca está sozinho, nunca é pobre, nunca está despojado, nunca é um deserto. Mas eles tiraram Deus dos seus corações, e, por isso se acham num árido deserto. Como as jumentas selvagens, que farejam no vento o cheiro dos machos, que aqui no caso, pela libidinagem deles, tem o nome de poder ou dinheiro, além da luxúria verdadeira e propriamente dita, a acompanham aquele cheiro, até chegarem ao delito. Sim. Eles o acompanham, e ainda mais o acompanharão. Eles não sabem que estão, não com os pés, mas com o coração exposto ás flechas de Deus, que vingará o seu delito. Como, então, não haverão de ficar confusos o rei e os príncipes, os sacerdotes e os escribas que, na verdade disseram e dizem aquilo que nada é, ou, pior ainda, aquilo que é o pecado: “Tu és meu pai. Tu me geraste!”
Em verdade, em verdade, Eu vos digo que Moisés quebrou com ira as tábuas da Lei, ao ver o povo na idolatria e, depois de subir de novo ao monte, orou, adorou e conseguiu. E isto, há muitos séculos. Mas ainda não acabou, nem acabará. Ao contrário, cresce como fermento posto na farinha a idolatria no coração dos homens. Agora, quase cada um dos homens tem seu próprio bezerro de ouro. A Terra é um matagal de ídolos, porque cada coração virou um altar e dificilmente se encontra Deus sobre ele. Quem não tem uma paixão maligna tem outra, quem não tem uma concupiscência tem uma outra com outro nome. Quem não é todo pelo ouro é todo por alguma posição, quem não é todo pela carne é todo pelo egoísmo. Quantos “eu” transformados em bezerros de ouro, não são adorados nos corações! Virá por isso um dia, em que eles, golpeados clamarão ao Senhor e ouvirão dele esta resposta: “Vira-te para os teus deuses. Eu não te conheço.”
Eu não te conheço. Terrível é esta palavra quando dita por Deus a um homem. Deus criou o homem como uma raça, e conhece cada homem em particular. Quando, pois, Ele diz: “Eu não te conheço”, isto é sinal de que Ele apagou com a força de sua vontade, aquele homem de sua lembrança. Eu não te conheço! Será Deus severo demais por proferir este veredicto? Não. O homem gritou ao Céu: “Eu não te conheço!”, e o Céu respondeu ao homem: “Eu não te conheço”, com a fidelidade de um eco. E meditai, o homem é obrigado a conhecer a Deus por um dever de gratidão e por respeito para com a sua própria inteligência.
Por gratidão: Deus criou o homem, dando-lhe o dom inefável da vida e provendo-o do dom superinefável da graça. Perdida esta por própria culpa, o homem ouve que lhe é feita uma grande promessa: “Eu te darei de novo a graça”. É Deus que foi ofendido que fala assim ao seu ofensor, como se fosse Ele, Deus, o culpado, obrigado a dar uma reparação. E Deus mantém a promessa. Eis que aqui estou para dar de novo a Graça ao homem. Deus não se limita a dar o sobrenatural, mas faz descer até nós sua Essência Espiritual, a fim de prover ás grosseiras necessidades da carne e do sangue do homem, dá-lhe o calor do sol, o refrigério da água, os grãos dos cereais, as videiras, as árvores de todas as espécies, os animais de todas as espécies. Assim p homem recebeu de Deus todos os meios para conservar a vida. Deus é o seu benfeitor. É preciso que lhe sejamos reconhecidos e lhe mostremos isso, esforçando-nos por conhecê-lo.
Por respeito Para com nossa própria razão. O mentecapto e o idiota não são gratos para com quem cuida deles, porque não compreendem os cuidados em seu verdadeiro valor, e há quem os lava ou lhes põe a comida na boca, a quem os guia ou os põe na cama, aquém os vigia para que não se exponham aos perigos. Eles ainda lhes tem ódio, porque, bestiais como são por causa de sua doença, acham ainda que aqueles cuidados são torturas. O homem que está em falta contra Deus é alguém que se desonra a si mesmo, a um ser dotado de razão. Só os idiotas e os doidos é que não conseguem distinguir o seu pai de um estranho, o benfeitor de um inimigo. Mas o homem inteligente conhece o seu pai e o seu benfeitor e se compraz em conhecê-lo sempre melhor, mesmo naquelas coisas que ele ignora, porque aconteceram antes que ele nascesse ou que recebesses os benefícios do pai ou do benfeitor. Assim deve-se fazer também com o Senhor, a fim de mostrar-lhe que somos inteligentes, e não brutos. Mas muitos em Israel são semelhantes a estes doidos que não reconhecem o seu pai e o seu benfeitor.
Jeremias pergunta a si mesmo: “Poderá, acaso, a virgem esquecer-se de seus ornamentos e uma esposa do seu cinto?” Oh! Sim. Israel está constituído por estas virgens, por essas esposas impudicas, que se esquecem dos seus ornamentos honestos e da cintura para usarem ouropéis, como as meretrizes. E isso se encontra em medida sempre maior, quanto mais se sobe até as classes que deveriam ser as mestras do povo. E a reprovação de Deus, ---com sua irritação e o seu pranto, ---lhes é dirigida. “Por que te esforças em mostrar tua boa conduta, e procurar amor, tu, que ao contrário, ensinas as malícias e os teus modos de fazer, e fizeste que se encontrassem nas abas das vestes, o sangue dos pobres e dos inocentes?”
Amigos, a distância é um bem e é um mal. Estar muito longe dos lugares, onde com facilidade Eu falo é um mal, porque vos impede de ouvir as palavras da Vida. E vós vos queixais disso. Pois é verdade. Mas é um bem, porque vos conserva afastados dos lugares em que fermenta o pecado, onde ferve a corrupção, onde as ciladas sibilam, tramando contra Mim, estorvando-me em minha obra e insinuando dúvidas e mentiras nos corações a respeito de Mim. Mas Eu prefiro que estejais longe a que estejais corrompidos. Eu proverei á vossa formação. Vós estais vendo que Deus proveu, antes que nós nos conhecêssemos e, por isso, nos amássemos. Eu já era conhecido, antes que nós nunca nos tivéssemos visto. Isaac foi o vosso anunciador. Eu vou mandar muitos Isaaques para dizer-vos as minhas palavras. E ficai sabendo também que Deus pode falar em toda parte a sós com o espírito do homem e fazê-lo crescer em sua doutrina.
Não tenhais medo de que, por estardes sozinhos, isso vos possa fazer cair em erros. Não. Se não quiserdes, não sereis infiéis ao Senhor e ao seu Cristo. Afinal, quem de verdade não pode ficar longe do Messias, fique sabendo que o Messias lhe abre o coração e os braços, e lhe diz: “Vem.” Vinde, vós que quereis vir. Permanecei, vós, que quereis ficar. Mas, pregai o Cristo, tanto uns como os outros, com uma vida honesta. Pregai contra a desonestidade, que se aninha em muitos corações. Pregai isto contra a leviandade dos muitíssimos que não sabem permanecer fiéis e que se esquecem dos seus ornamentos e cintos das almas chamadas para as núpcias com Cristo. Vós me dissestes felizes: “Desde quando Tu vieste, nós não tivemos mais doenças nem mortos. A Tua benção nos protegeu.” Sim grande coisa é a saúde. Mas, fazei que a minha vinda de agora vos faça a todos sãos de espírito, e sempre e em tudo. Para isso, Eu vos abençôo e vos dou a minha paz, a vós e aos vossos filhos, aos campos, ás casas, ás messes, aos rebanhos, ás árvores frutíferas. Servi-vos de tudo isso com santidade, não vivendo para essas coisas, mas por meio delas, dando o supérfluo a quem não tem e adquirindo a medida calcada das bênçãos do Pai, e um lugar no Céu. Ide. Eu fico para rezar...”

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta – Vol 3-pg. 386 a 389)

sábado, 4 de janeiro de 2020

A DOR É CRUZ MAS TAMBÉM É ASA






A DOR É CRUZ MAS TAMBÉM É ASA


“A paz esteja convosco. Ontem Eu ouvi falar de dois infelizes. Um ainda na aurora da vida e o outro no fim, duas almas que choravam na desolação.
Eu chorei com elas em meu coração, vendo quanta dor existe nesta terra e como só Deus pode aliviá-la. Deus! Só o conhecimento exata de Deus, de sua grande e infinita bondade, da sua constante presença, das suas promessas. Eu vi como o homem pode ser torturado pelo homem e como pode ser atropelado pela morte com desolações. Nas quais trabalha Satanás, para aumentar a dor e para produzir ruínas. Eu disse então a Mim mesmo: “Não devem os filhos de Deus sofrer com esta tortura das torturas. Demos o conhecimento de Deus a quem não o tem, demo-lo de novo a quem o esqueceu, envolvido nas tempestades da dor.” Mas Eu vi também que, por Mim só, Eu não basto mais para satisfazer às infinitas necessidades dos irmãos. E decidi chamar a muitos, em número cada vez maior, a fim de que todos os que têm necessidade do conforto do conhecimento de Deus o possam ter.
Estes doze são os primeiros. Como meus seguidores, são capazes de conduzir a Mim e, por isso, ao conforto todos aqueles que estão encurvados sob os pesos de dores grandes demais. Em verdade, Eu vo-lo digo: “Vinde a Mim todos os que estais angustiados, desgostosos, com o coração ferido, cansados, e Eu compartilharei da vossa dor e vos darei paz. Vinde, por meio dos meus apóstolos, por meio dos meus discípulos e discípulas, que cada dia aumentam com novos voluntários. Encontrareis o consolo em vossas dores, companhia em vossas solidões, o amor dos irmãos para fazer-vos esquecer o ódio do mundo, encontrareis como mais alto do que todos, como mais consolador do que todos, como o companheiro perfeito: o amor de Deus.
Não duvidareis de mais nada. E nunca mais direis: “Para mim tudo acabou!” Mas direis: “Tudo para mi está começando, num mundo sobrenatural, que abole as distâncias e acaba com as separações”, e pelo qual os filhos órfãos serão reunidos aos seus pais, levados ao seio de Abraão, e os pais e as mães, as esposas e os viúvos, reencontrarão os filhos perdidos, e o consorte perdido.
Nesta terra da Judéia, aqui perto de Belém de Noemi, Eu vos lembro que o amor alivia a dor e traz alegria. Olhai vós que estais chorando, para a desolação de Noemi, depois que sua casa ficou sem homens. Ouvi suas palavras de desconsoladas despedidas a órfã e a Rute: “Voltai daqui para a casa de vossa mãe. Que o Senhor use de misericórdia convosco, como vós usastes para com aqueles que morreram e para comigo...” Ouvi as suas cansadas insistências. Já não esperava mais nada da vida aquela que, tempos atrás, era a bela Noemi, e que agora era a trágica Noemi, esmagada pela dor, só esperava voltar aos lugares em que tinha sido feliz no tempo de sua juventude, entre o amor do marido e os beijos dos filhos, para lá morrer. Ela dizia: “Ide, ide. É inútil ficar comigo... Eu estou como morta... Minha vida já não é mais aqui, e sim lá na outra vida, onde eles estão. Não sacrifiqueis mais a vossa juventude ao lado de uma coisa que está morrendo. Porque realmente eu sou “uma coisa”. Tudo me é indiferente. Deus me tomou tudo. Eu sou uma angústia. E faria a vossa angústia, e está me pesaria no coração. E o Senhor me pediria contas. Ele, que tanto já me feriu, porque ter-vos vivas junto de mim já morta, seria um egoísmo meu. Portanto, ide para vossas mães...”
Mas Rute ficou para consolar aquela dolorosa velhice. Rute havia compreendido que há dores sempre maiores do que a nossa, e que sua dor de jovem viúva era menor do que da mulher que havia perdido, além do marido, os dois filhos; assim como a dor do menino órfão, que se vê obrigado a viver pedindo esmolas, sem receber nunca mais as carícias, e nunca mais os bons conselhos, é bem maior do que a da mãe privada dos filhos; assim como a dor de quem, por um complexo de motivos, chega a ter ódio do gênero humano, e vê em cada homem um inimigo, que ele deve temer e do qual se defender é ainda maior do que as outra dores, porque envolve, não somente a carne, o sangue e a mente, mas até o espírito com os seus deveres e direitos sobrenaturais, e o leva a perder-se. Quantas mães sem filhos, e filhos sem mãe há neste mundo! Quantas viúvas sem prole existem, para terem piedade das velhices solitárias! Quantos há, que ficaram privados de seus amores, para se dedicarem totalmente aos infelizes, segundo a necessidade que sentem de amor, combatendo assim o ódio, dando-se a si, dando sempre amor à Humanidade infeliz, que está sempre mais sofrendo, porque está sempre odiando.
A dor é cruz, mas também é asa. O luto despoja, mas é para revestir. Levantai-vos vós que estais chorando! Abri os olhos, saí de vossos pesadelos, saí das trevas, dos egoísmos! Olhai... O mundo é como uma terra árida e inculta, onde se chora e se morre. E ele grita: “Acudi-me!” O mundo grita pela boca dos órfãos, dos doentes, dos que estão sozinhos, dos que não sabem o que fazer, e pelas bocas daqueles que uma traição ou uma crueldade tornaram prisioneiros do rancor. Ide a estes que estão gritando. Esquecei-vos entre os esquecidos. Fazei a cura entre os doentes! Esperai entre os desesperados. O mundo está aberto ás vontades de servir a Deus no próximo e de se conquistar o Céu: a união com Deus e a reunião com aqueles pelos quais choramos. Aqui é o campo das competições. Lá está o triunfo.
Vinde. Imitai Rute, estando ao lado de todas as dores. Dizei, vós também: “Eu estarei convosco até á morte.” E se vos responderem estas desventuras que se julgam incuráveis: “Não me chameis Noemi, mas chamai-me Mara, porque Deus me cumulou de amarguras”, persisti. E Eu, em verdade, vos digo que um dia, pela vossa persistência nessas desventuras ainda exclamarão: “Seja bendito o Senhor, que tirou minha amargura, minha desolação, minha solidão, por obra de uma criatura, que soube fazer sua dor produzir frutos bons. Deus a abençoe para sempre, porque ela foi a minha salvadora.”
O ato bom de Rute para com Noemi, pensai nisso, deu ao mundo o Messias, porque de Davi, filho de Isaí, filho de Obed veio o Messias, como Obed de Booz, Booz de Salmon, Salmon de Naasson, Naasson de Aminadab de Aram, Aram de Esron, Esron de Farés, e eles vieram para povoar os campos de Belém, preparando os antepassados do Senhor. Todo ato bom dá origens a grandes coisas nas quais vós nem pensais. O esforço de alguém contra o seu egoísmo, pode provocar uma tal onda de amor, que é capaz de subir, subir conservando em sua pureza aquele que a provocou, até o ponto de levá-lo ao pé do altar, ao coração de Deus.
Deus vos dê a paz.”


(O Evangelho como me foi revelado – Maria Valtorta – Vol 3, pg 363 a368)