NÃO JURAR NUNCA!
Jesus fala:
"Um dos erros mais
encontrados no homem é a falta de honestidade até para consigo mesmo. E, dado
que o homem seja dificilmente sincero e honesto, ele por si mesmo quis criar
para si um freio, para ser obrigado a ir pelo caminho que ele escolheu. É um
freio que, afinal, ele, como um cavalo indomável, acaba deixando de lado, para
mudar o andar conforme o seu gosto, ou para o abandonar completamente, fazendo
como lhe parece mais cômodo, sem ficar pensando que pode estar recebendo a
desaprovação de Deus, dos homens e de sua própria consciência. Esse freio se
chama juramento. Mas entre pessoas honestas não é necessário o juramento, e por
isso não foi Deus quem vo-lo ensinou. Ao contrário, Ele até vos mandou dizer:
"Não levantar falso testemunho," sem acrescentar mais nada. Porque o
homem deveria ser sincero, sem necessidade de mais nada, alem da fidelidade à
sua palavra. Quando no Deuteronômio se fala dos votos e mesmo dos votos que são
uma coisa que sai de um coração que se julga esteja unido a Deus, e os votos
são por necessidade ou por reconhecimento, ainda assim, lá está escrito: "Uma vez que uma palavra saiu dos teus lábios,
tu a deves sustentar, fazendo tudo o
que prometeste ao Senhor teu Deus, tudo o que por tua vontade, e por tua boca
disseste" Sempre se fala de palavra dada, bastando tal palavra. Aquele
que sente a necessidade de jurar, é porque já não confia em si mesmo e no que
os outros já estão pensando a respeito dele. E, quem faz que outro jure,
mostra, com essa exigência, que desconfia da sinceridade e honestidade daquele
que jura. Como estais vendo, esse hábito de jurar é uma consequência da
desonestidade moral do homem. E é uma vergonha para o homem. E uma dupla
vergonha, porque o homem não é fiel nem mesmo a essa coisa vergonhosa, que é
ter que jurar, e, zombando de Deus com a mesma facilidade com que zomba do
próximo, chega até a jurar falso, com toda a facilidade e tranquilidade. Poderá
haver criatura mais abjeta do que um perjuro? Ele, usando frequentemente de uma
fórmula sagrada, e chamando assim a Deus para ser seu cúmplice e fiador, ou
usando os nomes dos seus entes mais queridos: do pai, da mãe, da mulher, dos
filhos, dos seus mortos, da sua própria vida e de seus órgãos mais preciosos,
tudo isso é invocado em apoio de sua palavra mentirosa e induz o próximo a
prestar-lhe fé. E assim o consegue enganar. Ele é um sacrílego, um ladrão, um
traidor, um homicida. De quem? Ora, de Deus. Porque ele vai misturando a
Verdade com a infâmia de sua mentira, e zomba dele, dizendo: "Fere-me,
desmente-me, se puderes. Tu estás ai, eu estou aqui, e me rio." Oh! Se
estais rindo, continuai a rir, ó mentirosos e zombadores! Mas haverá um momento
em que não rireis mais, e será quando Aquele, a quem todo poder foi dado, vos
aparecerá, terrível em sua majestade, e somente com o seu aparecimento
aterrorizar-vos-á, e só com os seus olhares vos fulminará, antes, antes ainda
que sua voz vos precipite em vosso destino eterno, marcando-vos com a sua
maldição. Ele é um ladrão, porque se apropria de uma estima que não merece. O
próximo, impressionado pelo juramento dele, se lhe entrega, e a serpente se
adorna com isso, fingindo ser o que não é. Ele é um traidor, porque com
juramento promete uma coisa que pretende não cumprir. É um homicida, porque ou
mata a honra do seu semelhante, tirando-lhe, com o falso juramento, a estima do
próximo, ou mata a sua alma, porque o perjuro é um pecador abjeto aos olhos de
Deus, olhos que, mesmo quando outro olho não vê a verdade, eles a estão vendo.
Deus não pode ser enganado, nem com palavras falsas, nem com ações hipócritas.
Ele vê. Nem por um instante perde de vista nenhum dos homens. E não existe fortaleza
tão bem munida, nem cantina que seja tão profunda, que nela seu olhar não
consiga penetrar. E até no interior de vós, nessa fortaleza que cada homem tem
ao redor do seu coração, até ai Deus penetra. E Ele vos julga, não pelo que
jurais, mas pelo que fazeis. Por isso,
Eu, depois de vos ter dado uma ordem, quando o juramento foi colocado em maior
evidência, como um meio para pôr-se um freio à mentira e à facilidade de faltar
com a palavra dada, vou agora substituir aquela ordem por outra: Já não digo,
como diziam os antigos: "Não jures falso, mas guarda os teus
juramentos", mas Eu vos digo: "Não
jureis nunca" nem pelo Céu, que é o trono de Deus, nem pela terra, que
é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém e o seu Templo, que são a cidade do
grande rei e a Casa do Senhor, nosso Deus. Não jureis nem pelos túmulos dos
antepassados, nem por suas almas. Os túmulos estão cheios das partes inferiores
do homem, partes que os animais também têm, e as almas, deixai-as em suas
moradas. Fazei que não sofram, nem, se horrorizem, se são almas de justos que
já estão no conhecimento antecipado de Deus. E, ainda que seja um conhecimento
antecipado, um conhecimento parcial, pois que, até o momento da Redenção, não
possuirão ainda a Deus na plenitude de seus esplendores, não podem deixar de
sofrer, ao verem que sois pecadores, E,
se justos eles não são, não aumenteis o seu tormento por terem-se lembrado, com o vosso pecado, do pecado deles. Deixai,
deixai os santos mortos em paz; e os mortos não santos, em suas penas. Não
tireis nada aos primeiros, nem acrescenteis nada aos segundos. Por que apelar
para os mortos? Eles já não podem falar. O mortos santos não podem, porque a caridade
lho proíbe; deveriam vos desmentir vezes sem conta. Os condenados também não,
porque o Inferno não abre as suas portas, e os condenados não abrem suas bocas,
a não ser para maldizer. E a voz de todos fica sufocada pelo ódio de Satanás e
dos satanases, pois os condenados são satanases.
Não jureis nem pela cabeça do pai, nem pela da
mãe, nem pela da esposa e dos filhos inocentes. Não tendes direito de fazer
isso. Serão eles, por acaso, uma moeda ou uma mercadoria? Serão eles como uma
assinatura, ao fim de um documento? Eles são mais e são menos do que estas
coisas. São sangue e carne do teu sangue, ó homem, mas são também criaturas
livres, e tu não podes usar delas como de um aval para o teu juramento falso. E
são eles menos do que uma firma tua, porque tu és inteligente, livre e adulto,
e não um incapaz ou um pequenino, que não sabe o que faz e que, por isso,
precisa ser representado pelos pais. Tu és tu: um homem dotado de razão e, por
isso, és responsável por tuas ações, e deves agir por ti mesmo, dando como aval
para tuas ações e para tuas palavras a tua honestidade e a tua sinceridade, a
estima que soubeste fazer nascer em teu próximo, e não a sinceridade dos
parentes e a estima que souberam fazer nascer nos outros por eles.
Serão responsáveis os pais
pelos filhos? Sim, mas somente enquanto eles estão na menoridade. Depois cada
um é responsável por si mesmo. Nem sempre de justos nascem justos, e nem sempre
uma mulher santa é casada com um homem santo. Por que, então, usar como base de
garantia a justiça de quem está em vossa companhia? Igualmente, de um pecador
podem nascer filhos santos e, enquanto são inocentes, todos são santos. Por
que, então, buscar a ajuda de alguém que seja puro para aprovar um vosso ato
impuro, como é o vosso juramento, que depois de feito pretendeis violar? Não
jureis, nem mesmo pela vossa cabeça, pelos vossos olhos, vossa língua e vossas
mãos. Não tendes direito a isso. Tudo quanto tendes é de Deus. Vós não sois
mais que uns guardiões provisórios, os banqueiros dos tesouros morais ou
materiais que Deus vos concedeu. Por que, então, usar do que não é vosso?
Podeis pôr mais um fio de cabelo em vossa cabeça, ou mudar a cor de vossos
cabelos? E, se não podeis fazer isso, por que é que usais, então, a vossa
vista, a palavra, a liberdade de vossos membros para dar força a um vosso
juramento? Não desafieis a Deus. Ele poderia pegar-vos em vossa palavra, e
fazer ficarem secos os vossos olhos, assim como pode fazer ficarem secas as
vossas árvores frutíferas, ou arrebatar-vos os vossos filhos, como pode
arrancar as vossas casas, a fim de que vos lembreis de que Ele é o Senhor e de
que vós sois os seus súbditos, e que é um maldito aquele que se faz ídolo de si
mesmo, a ponto de julgar-se mais do que Deus, desafiando-o com suas mentiras. O vosso
falar seja sim, sim; e não, não. Nada além disso. O que se diz além disso e
sugerido pelo Maligno, para depois rir-se de vós, que, não podendo lembrar-vos
de tudo o que dissestes, cais em mentiras e sois feitos objetos de zombarias, e
passais a ser conhecidos como mentirosos. Sinceridade, meus filhos. Tanto nas
palavras, como na oração. Não façais como os hipócritas que, quando oram,
gostam de ficar nas sinagogas, ou nos cantos das praças, para serem vistos
pelos homens, e elogiados como homens piedosos e justos, enquanto depois, no
interior das famílias, são culpados diante de Deus e diante do próximo. Não
refletis que isso é como um juramento falso? Porque quereis vos afirmar o que
não é verdade, com a intenção de conquistar uma estima, que não mereceis? A
oração hipócrita tem a intenção de dizer: "Em verdade, eu sou santo. Eu
juro diante dos olhos dos que me estão vendo, e que não podem mentir, quando
disserem que me viram orando." Como um véu estendido sobre a maldade
latente, a oração feita com tais intenções se torna uma verdadeira blasfêmia.
Deixai que Deus vos proclame
santos, e fazei que toda a vossa vida proclame, em lugar de vós: "Este é
um servo de Deus." Mas vós, mas vós, por amor a vós mesmos, calai-vos. Não
façais de vossa língua, movida por vossa soberba, um objeto de escândalo para
os olhos dos anjos. Melhor seria que vos tornásseis mudos, naquele mesmo
instante, se é que não tendes força para dominar o orgulho e a vossa língua,
vos auto-proclamando justos e agradáveis a Deus. Deixai para os soberbos e os falsos esta pobre glória. Deixai para os
soberbos e os falsos essa efêmera recompensa. Pobre recompensa! Mas ela é como
eles a querem, e outra recompensa não terão, porque mais de uma recompensa não
se pode ter. Ou a verdadeira glória, a do Céu, que é eterna e justa. Ou a não
verdadeira, a da terra, que só dura o que dura a vida de um homem, e até menos,
e que depois, sendo injusta, vai ser cobrada, depois desta vida, e vai ser paga
com uma bem humilhante punição.
( O evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, pgs 96 – 107, Vol
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