“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ENSINAMENTOS ETERNOS







ENSINAMENTOS ETERNOS


Diz Jesus:

“Filhos, minhas palavras estão chegando ao fim, como está chegando ao fim este dia que já declina com o Sol para o lado do ocidente. Desta reunião no monte quero que vós lembreis das palavras que aqui vos foram ditas. Esculpi-as em vossos corações. Tornai a lê-las seguidamente. Que elas vos sirvam sempre de guia. E sobretudo sede bons com quem é fraco. Não julgueis para não serdes julgados. Recordai-vos de que poderia chegar o momento no qual Deus vos fizesse lembrar: “Assim tu julgaste. Por isso sabias que isso era mal. Com conhecimento do que fazias, cometeste o pecado. Cumpre agora a tua pena".
A caridade já é uma absolvição. Tende a caridade em vós para com todos e sobre tudo. Se Deus vos dá tantos auxílios para que vós conserveis retos, não vos enchais de orgulho por isso. Mas procurai subir, porque é a escada da perfeição e estendei a mão aos cansados, aos ignorantes, aos que são presas de súbitas desilusões. Por que ficar observando com tanta atenção o cisco no olho do teu irmão, se não procura tirar antes a trave que está no teu? Como podes dizer ao teu próximo: “Deixa que eu tire do teu olho esse cisco”, enquanto a trave que está no teu te faz cego? Não sejas hipócrita, filho: tira primeiro a trave que está no teu olho e, depois, poderás tirar o cisco do olho do teu irmão, sem que o leses gravemente.
Assim como não deveis cometer faltas de caridade, não tenhais também a imprudência. Eu vos disse: “Estendei vossas mãos aos cansados, aos ignorantes, àqueles que são presas de imprevistas desilusões.” Mas, se é caridade instruir os ignorantes, animar os cansados, dar novas asas àqueles que, por muitas causas, as quebraram é imprudência revelar as verdades eternas aos que estão infeccionados pelo satanismo, os quais se apropriam delas para se fingirem de profetas, para se insinuarem entre os simples, para corromper, falsificar e sujar sacrilegamente as coisas de Deus. Respeito absoluto, saber falar e saber calar-se, saber refletir e saber agir, aí estão as virtudes do verdadeiro discípulo para fazer prosélitos e servir a Deus. Vós tendes uma razão e, se usais dela com justiça, Deus vos dará todas as suas luzes, para guiar ainda melhor a vossa razão. Pensai que as verdades eternas são semelhantes a pérolas, e nunca se viu jogar pérolas aos porcos, que preferem as bolotas e a lavagem mal cheirosa ás pérolas preciosas, e até as esmagariam sem dó com os seus pés, para depois, com a fúria de quem foi ludibriado, virarem-se contra vós para despedaçar-vos. Não deis as coisas santas aos cães. Isto serve para agora e para depois.
Muitas coisas Eu vos disse, meus filhos. Escutai as minhas palavras, quem as escuta e as põe em prática é comparável a um homem que refletiu, quando queria construir uma casa e escolheu um lugar rochoso. Certamente ele se cansou para construir as bases. Teve que trabalhar com picareta e buril, teve que calejar suas mãos e cansar os seus rins. Mas depois ele pôde passar argamassa de cal nas fendas da rocha e ir colocando os tijolos e fechando com eles as paredes, formando como que uma fortaleza, e a casa foi crescendo tanto, sólida como um monte. Vieram as intempéries, os aguaceiros. As chuvas fizeram transbordar os rios, assobiaram os ventos, as ondas bateram na casa, mas ela resistiu a tudo. Assim é aquele que tem uma fé bem fundada. Mas, ao contrário, quem ouve com superficialidade e não se esforça para gravar em seu coração as minhas palavras, porque sabe que isso exige trabalho, que é preciso passar pela dor, extirpar muitas coisas, esse tal é semelhante a quem por preguiça e estultícia constrói sua casa sobre a areia. Nem ainda bem chegou a tempestade, a casa rapidamente construída, rapidamente cai, e o estulto fica olhando desolado para os escombros dela e para a ruína do seu capital.
Mas aqui há mais do que uma ruína, porque esta ainda pode ser reparada com despesas e trabalho. Aqui, tendo vindo abaixo o edifício mal construído de um espírito, não se tem mais nada para construí-lo de novo. Na outra vida não se edifica. Ai de quem lá se apresentar com escombros!
Terminei. Agora, vou descer para o lago e vos abençôo em nome de Deus Uno e Trino. A minha paz esteja convosco.”

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta- Vol. 3 – pg. 133,124,135)  

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

COMO DEVEMOS REZAR?







COMO DEVEMOS REZAR?


“Ouvi como deveis orar, com os lábios e com o trabalho, com todo o vosso ser, pelo impulso do coração que ama, sim, a Deus, e o sente como pai, mas que sempre lembra quem é o Criador, e quem é a criatura, e se põe com um amor reverencial sempre na presença de Deus, tanto quando ora, como quando está fazendo seus negócios, tanto quando está andando, como quando está descansando, tanto quando ganha, como quando está distribuindo os seus bens. Por impulso do coração, Eu disse. É esta a qualidade primeira e essencial. Porque tudo vem do coração, e como for o coração assim será a mente, assim será a palavra, o olhar e a ação.
O homem justo tira do seu coração de justo o bem e, quanto mais tira, mais acha para tirar, porque o bem que foi feito cria um novo bem, assim como o sangue que se renova na circulação pelas veias, e volta ao coração enriquecido com sempre novos elementos apanhados com o oxigênio que absorveu e com o suco dos alimentos que assimilou. Enquanto isso, o homem perverso, do seu coração tenebroso, cheio de fraudes e venenos, não pode tirar senão fraudes e venenos, que sempre mais vão aumentando, fortalecidos pelas culpas que se vão acumulando, assim como no homem bom vão-se acumulando as bênçãos de Deus. Podeis, pois, acreditar que a exuberância do coração é que transborda dos lábios e se manifesta nas ações.
Fazei que vosso coração seja humilde e puro, amoroso, confiante, sincero. Amai a Deus com amor pudico que uma virgem tem para com o seu esposo. Em verdade, eu vos digo que todas as almas são como umas virgens desposadas ao Eterno Amor, a Deus nosso Senhor; esta terra é o tempo do noivado, tempo no qual o anjo, dado para a guarda de todo homem, é o paraninfo espiritual e todas as horas e todas as contingências da vida são outras tantas servas, que preparam o enxoval das núpcias. A hora da morte é a hora em que se completam as núpcias, e ai vem o conhecimento, o abraço, a fusão e, com s veste de uma verdadeira esposa, a alma pode levantar o seu véu e lançar-se nos braços do seu Deus, sem que, por amar assim ao seu esposo, possa induzir outros a escândalo. Mas, por enquanto, ó almas ainda sacrificadas no laço do noivado com Deus, quando quiserdes falar com o esposo, ponde-vos na paz da vossa morada, e acima de tudo na paz da vossa morada interior, e falai, - anjo de carne ladeado pelo Anjo da Guarda, - falai ao Rei dos Anjos.
Falai ao vosso Pai no segredo do vosso coração e do vosso quarto interior. Deixai fora tudo o que é do mundo, o desejo de quererdes ser vistos e o de edificar, e os escrúpulos das longas orações cheias de palavras monótonas, cheias de tibieza e pálidas em amor.
Por caridade! Livrai-vos das medidas no orar. Na verdade, há alguns que perdem horas em um monólogo, que eles vão repetindo, apenas com os lábios, e que não passa de um solilóquio, pois nem o Anjo da Guarda o ouve, de tão grande que é o rumor vazio para o qual ele procura achar remédio, aprofundando-se, por sua vez, em uma ardente oração em favor do seu ignorante protegido. Em verdade, há alguns que não fariam uso diferente daquelas horas, nem que Deus lhes aparecesse, e lhes dissesse: “A salvação do mundo depende de que tu abandones esta linguagem sem vida, e vás, simplesmente, buscar água em um poço e derramar essa água no solo, por amor de Mim e dos teus semelhantes.” Em verdade, há alguns que acham que é mais importante o seu monólogo do que o ato delicado de quem acolhe um visitante ou socorre um necessitado. São almas que caíram na idolatria da oração.
A oração é um ato de amor. E amar é coisa que se pratica, tanto quando se ora, como quando se faz pão; tanto meditando, como prestando assistência a um enfermo; tanto fazendo uma peregrinação ao Templo, como cuidando das necessidades da família; tanto sacrificando um cordeiro, como sacrificando até os nossos desejos de recolhimento junto ao Senhor. Basta que nos impregnemos completamente a nós mesmos e as nossas ações com o amor. Não tenhais medo! O Pai está vendo. O Pai compreende. Ele está ouvindo. Ele concede. Quantas graças são concedidas por apenas um só e perfeito suspiro de amor! Quanta abundância por um sacrifício íntimo, mas feito com amor. Não sejais como os pagãos. Deus não precisa que lhe digais o que Ele deve fazer, porque daquilo vós estais necessitando. Isto os pagãos podem dizer aos seus ídolos, que não os podem atender. Não vós a Deus, ao Deus, o verdadeiro Deus espiritual, que não é somente Deus e Rei, mas é vosso Pai, e sabe, antes mesmo que lho peçais, de que é que estais precisando.
Pedi, e vos será dado, procurai e achareis, batei, e se vos abrirá. Porque quem pede, recebe; quem procura, acha e será aberta a porta a quem nela toca. Quando um vosso filhinho vos estende a mãozinha e diz: “Meu pai, estou com fome”, será que lhe dareis uma pedra? Será que lhe dareis uma cobra, quando ele vos pede um peixe? Não, mas vós lhe dais pão e peixe, e além disso, o acariciais e abençoais, porque para o pai é um prazer alimentar o seu filho, e vê-lo feliz em seu sorriso. Se, pois, vós que tendes o coração imperfeito, sabeis dar presentes bons aos vossos filhos, por um amor natural, que até os animais têm para com as suas crias, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus concederá àqueles que lhas pedirem as coisas boas e necessárias para a sua vida. Não tenhais medo de pedir, e não tenhais medo de ficar sem receber!
Mas, Eu vos quero pôr em guarda contra um erro muito comum, - mas não façais como os fracos na fé e no amor, os pagãos da verdadeira religião, - porque mesmo entre os que têm fé há pagãos, cuja pobre religião é um emaranhado de superstições e de fé, um edifício arruinado pela metade, no qual se infiltraram as ervas parasitas de todas as espécies, a ponto dele se encher de gretas, e ir-se destruindo, e eles enfraquecidos e pagãos, percebem que sua fé está morrendo, se não forem atendidos.
Vós pedis. E achais que é justo pedir. De fato, para aquele momento não deixaria de ser justa aquela graça. Mas é que a vida não termina naquele momento. E o que é bom hoje, pode não ser amanhã. Disso vós não sabeis, porque vós só conheceis o presente, e isso é também uma graça de Deus. Mas Deus, conhece também o futuro. E muitas vezes, para poupar-vos um sofrimento maior, deixa de atender uma vossa oração. No meu ano de vida pública, mais de uma vez ouvi que os corações gemiam: “Quanto eu sofri, quando Deus não me ouviu.” Mas agora Eu digo: “Foi bom assim, porque aquela graça me teria impedido de chegar a esta hora de Deus.” A outros Eu ouvi dizer, ou dizerem de Mim: “Por que Senhor, não me ouves? A todos ouves, e a mim não?” E Eu, mesmo sentindo a dor de ver que sofriam, precisei dizer: “Eu não posso.” Pois se os atendesse, isso seria pôr um estorvo à frente deles, no vôo em que estavam para a vida perfeita.
Também o Pai as vezes diz: “Não posso”. Não porque não possa fazê-lo imediatamente. Mas porque não o quer fazer, em vista das consequências futuras. Ouvi: Um menino está doente das vísceras. A mãe chama o médico, e o médico lhe diz: “Para que ele fique bom, é preciso que faça um jejum absoluto.” O menino chora, grita, suplica, parece extremamente debilitado. A mãe, sempre compadecida, une os seus lamentos ao do filho. Acha que o médico é muito rigoroso, ao falar daquela proibição total de alimento. Mas o médico continua intransigente. E, afinal, ele diz: “Mulher, eu sei e tu não sabes. Queres que o teu filho morra, ou que eu o salve?” A mãe diz em alta voz: “Eu quero que ele viva!” Então, diz-lhe o médico: “Eu não posso permitir que ele tome alimento. Pois ele morreria.”
Também o Pai, as vezes, diz assim. Vós, ó mães compadecidas do vosso eu, não quereis vê-lo sofrer por lhe ter sido negada uma graça. Mas Deus diz: “Eu não posso. Seria isso o teu mal.” Mas chegará o dia ou virá a eternidade, na qual chega-se a dizer: “Obrigado, meu Deus por não terdes dado ouvidos à minha tolice.”
Tudo Eu disse sobre a oração, digo-o também sobre o jejum. Quando jejuardes, não fiqueis com aquele ar triste, como costumam ficar os hipócritas, que sabem desfigurar o próprio rosto, a fim de que o mundo fique sabendo e acreditando, ainda que não seja verdade, que eles estão jejuando. Também esses já receberam, com o louvor do mundo, a sua recompensa, e outra não terão. Mas, vós, quando jejuardes, tomai um ar alegre, lavai bem o vosso rosto, para que ele apareça vistoso e liso, ungi bossa barba e perfumai vossos cabelos, tende entre os lábios o sorriso dos que estão bem nutridos. Oh! Pois na verdade, não há alimento que nutra tanto como o amor! E, quem jejua com espírito de amor, de amor se nutre! Em verdade vos digo que, ainda que o mundo vos chame de “vaidosos” ou “publicanos”, o vosso Pai está vendo o vosso heróico segredo, e dele vos dará uma dupla recompensa: uma pelo jejum, e a outra, pelo sacrifício de não procurar ser louvados por causa dele.


() Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta- Vol. 3-pgs. 96 a 103)

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

TERCEIRO SERMÃO DA MONTANHA





TERCEIRO SERMÃO DA MONTANHA


“Por tudo o que vos disse ontem, não deveis ficar pensando que Eu tenha vindo abolir a Lei. Não. Somente, visto que Eu sou Homem, e compreendo as fraquezas do homem, o que Eu quis foi encorajar-vos a segui-la, dirigindo os vossos olhares espirituais, não para o abismo escuro, mas para o abismo luminoso. Porque, se o medo do castigo pode fazer alguém deter-se, três em dez vezes, a certeza de um prêmio o faz arremessar-se para a frente sete em dez vezes. Por onde se vê que a confiança faz mais do que o medo. E Eu quero que tenhais uma confiança plena, firme, para que possais fazer não sete em dez partes de bem, mas dez em dez, para conquistardes este prêmio santíssimo que é o Céu.
Eu não mudo nem um i da Lei.
E quem foi que a deu, por entre raios no Sinai? O Altíssimo.
Quem é o Altíssimo? O Deus Uno e Trino.
E de onde foi que Ele a tirou? Do seu pensamento.
E, como foi que a deu? Com sua palavra.
Por que foi que a deu? Pelo seu Amor.
Vede, pois que a Trindade estava presente. E o Verbo, obediente como sempre ao Pensamento e ao Amor, falou pelo Pensamento e pelo Amor.
Poderia Eu desmentir-me a Mim mesmo? Não poderia. Mas Eu posso, já que tudo posso, completar a Lei, torná-la divinamente completa, não como fizeram ficar os homens que, durante os séculos, não a tornaram completa, mas indecifrável, impossível de ser cumprida, sobretudo leis e preceitos, preceitos e leis, tudo tirado do pensamento deles, conforme as vantagens deles, e jogando todo esse entulho para apedrejar e sufocar, para soterrar e esterilizar a Lei Santíssima, que foi dada por Deus. Poderá uma planta sobreviver, se estiver sempre mergulhada em avalanchas, em escombros e inundações? Não. A planta morre. A Lei está morta em muitos corações, sufocada debaixo das avalanchas de exageradas superestruturas. Eu vim para tirá-las todas e, tendo desenterrado a Lei, tendo ressuscitado a Lei, eis que agora Eu faço dela não mais lei, mas Rainha.
As rainhas promulgam as leis. As leis são obras das rainhas, mas não são mais do que as rainhas. Eu, ao contrário, faço da Lei a rainha: Eu a completo, a corôo, colocando no seu ápice a grinalda dos conselhos evangélicos. Primeiro era a ordem. Agora é mais que a ordem. Antes era o necessário. Agora é mais do que o necessário. Agora ela é a perfeição. Quem a desposa, assim como Eu vo-la dou, no mesmo instante se torna rei, porque alcançou o que há de perfeito, porque não se tornou só obediente, mas heróico, isto é, santo, sendo a santidade a soma das virtudes levadas até o ápice, o ponto mais alto que possa ser atingido por uma criatura, heroicamente amadas e servidas com um completo desapego de tudo o que é apetite ou reflexão humana, seja lá o que for. Eu poderia dizer que o santo é aquele para o qual o amor e o desejo servem de obstáculo para qualquer outra vista, que não seja Deus. Não distraído por outras vistas inferiores, ele tem as pupilas do coração firmes no Esplendor Santíssimo que é Deus, e no qual ele vê, pois que tudo é em Deus, a agitação dos irmãos que, suplicantes, lhe estendem as mãos. E, sem afastar o olhar de Deus, o santo se inclina para atender aos irmãos que lhe suplicam. Contra a carne, contra as riquezas, contra as comodidades, ele ergue o seu ideal: servir. Fica pobre o santo? Fica diminuído? Não. Ele chegou a possuir a sabedoria e a riqueza verdadeiras. Por isso, possui tudo. E não sente cansaço, porque, se é verdade que ele é um produtor contínuo, também é verdade que ele é nutrido continuamente. Porque, se é verdade que ele compreende a dor do mundo, também é verdade que ele se alimenta com a alegria do Céu. De Deus ele se nutre, em Deus ele se alegra. Ele é a criatura que compreendeu o sentido da vida.
Como estais vendo, Eu não mudo, nem mutilo a Lei, como também não a corrompo com as superposições de fermentantes teorias humanas. Mas Eu a completo. Ela é o que é, e assim será até o último dia, sem que dela se mude uma só palavra, ou se tire um só preceito. Ela está coroada pela perfeição. Para ter-se a salvação, basta aceitá-la como foi dada. Para ter uma imediata união com Deus, é preciso vivê-la, como Eu a aconselho. Mas, visto que os heróis são uma exceção, Eu falarei para as almas comuns, para a massa de almas, para que não se diga que, por querer a perfeição, Eu faço que fique desconhecido o necessário. Mas, de tudo o que Eu digo, guardai bem isto: quem se permite violar um só entre os menores destes mandamentos será considerado o menor no Reino dos Céus. E aquele que levar outros a violá-los será considerado o menor pelo que ele fez e por causa daqueles que ele tiver levado à violação. Ao passo que aquele que, com sua vida e suas obras, ainda mais do que com as palavras, tiver persuadido outros a obedecerem, este será grande no Reino dos Céus, e sua grandeza irá aumentando por cada um daqueles que ele tiver levado a obedecer e assim santificar-se.
Eu sei que o que estou para dizer-vos será desagradável para muitos. Mas Eu não posso mentir, ainda que a verdade que Eu estou para dizer me crie inimigos.
Em verdade, Eu vos digo que, se a vossa justiça não se criar de novo, e não se separar completamente da pobre e injustamente chamada justiça, que vos foi ensinada pelos escribas e fariseus; que pensam que são justos quando aumentam as fórmulas, mas sem procurar uma mudança substancial em seu espírito, não entrareis no Reino.
Guardai-vos dos falsos profetas e dos ensinadores do erro. Eles vem a vós com veste de cordeiro, mas são uns lobos ferozes. Vêm vestidos de santidade, mas são uns zombadores de Deus, pois dizem que amam a verdade, mas se nutrem com a mentira. Observai-os bem, antes de acompanhá-los.
O homem tem uma língua, e com ela pode falar, tem olhos, e com eles olha, tem mãos, e com elas faz sinais. Mas ele tem uma outra coisa, que dá testemunhos mais verdadeiros de quem ele é: são os seus atos. O que é que quereis vós que seja um par de mãos juntas em oração, se com elas depois o homem se entrega ao roubo e a fornicação? O que é que valem dois olhos que, querendo passar por inspirados, viram-se para todos os lados, se, quando passou da hora daquela comédia, eles sabem fixar-se, bem cobiçosos, sobre uma mulher, ou sobre o inimigo, no primeiro caso para a luxúria, e no outro para o homicídio? O que quereis que seja uma língua, que sabe assobiar uma mentirosa canção de louvores, e seduzir com suas palavrinhas melosas, enquanto por detrás de vós ela vos calunia, e é ainda capaz de jurar falso, contanto que vos possa fazer passar por uma pessoa desprezível? Que é a língua, que faz longas orações hipócritas, e depois sai dali rapidamente, para ir arrasar a boa fama do próximo, ou seduzir a boa fé dele? Dá náusea. Dão náusea aqueles olhos e aquelas mãos mentirosas. Mas os atos do homem, seus verdadeiros atos, isto é, o seu modo de comportar-se em família, no comércio, no trato com o próximo e com os seus criados, esses podem dar dele este testemunho: “Este é um servo de Deus”. Porque as ações santas são o fruto de uma verdadeira religião.
Uma árvore boa não dá frutos maus, e uma árvore má não dá frutos bons. Estas moitas de espinho, por acaso poderão dar-vos uvas saborosas? E aqueles cardos, ainda mais espinhosos, poderão dar-vos um dia figos maduros e tenros? Não, porque em verdade, poucas e ásperas frutinhas colhereis das primeiras, e um fruto que não se pode comer é o que virá daquelas flores, pois mesmo estando elas agora em flor, já estão cercadas de espinhos. O homem que não é justo, poderá ele talvez incutir respeito com sua aparência, mas só com ela. Também aquele pé de cardo parece feito de penas, parece um floco de finos fios de prata, que o orvalho recobriu, fazendo que pareçam estar cheios de diamantes. Mas, se, distraidamente, tocardes nele, vereis que não se trata de nenhum floco, mas de um monte de espinhos, que ferem o homem, fazem mal ás ovelhas e, por isso, os pastores os arrancam de seus pastos, e os jogam no fogo que eles acendem de noite, a fim de que nem as sementes escapem. É uma medida justa e previdente. Eu não vos digo: “Matai os falsos profetas e os fiéis hipócritas.” Antes vos digo: “Deixai isso para Deus.” Eu vos digo: “Estai atentos, afastai-vos deles para não vos envenenardes com os seus sucos.”
Como Deus há de ser amado, Eu vo-lo disse ontem. Eu insisto em dizer como é que há de ser amado o próximo.
Noutros tempos se dizia: “Amarás o teu amigo e odiarás o teu inimigo.” Não. Não é assim. Isto era bom naqueles tempos em que o homem não tinha o conforto do sorriso de Deus. Mas agora chegaram os tempos novos, nos quais Deus ama tanto o homem, que lhe manda o seu Verbo para redimi-lo. Agora o Verbo está falando, E é a Graça que já se está difundindo. Depois, o Verbo consumará o sacrifício de paz e de redenção, e a Graça não só se difundirá, mas será dada a todos os espíritos que crêem no Cristo. Por isso é preciso elevar à perfeição o amor ao próximo, a tal ponto que já não se faça diferença entre o amigo e o inimigo.
Estais sendo caluniados? Amai e perdoai. Recebestes agressões ou pancadas? Amai e oferecei a outra face a quem vos esbofeteia, e pensai que é melhor que a ira se desafogue em vós, que a sabeis suportar, do que em algum outro, que iria vingar-se da afronta. Fostes roubados? Não fiqueis pensando: “Este meu próximo é um cobiçoso”, mas pensai com caridade: “Este meu pobre irmão é um necessitado”, e dói-lhe até a túnica, se já vos tirou a capa. Assim fareis que fique impossível para ele cometer um duplo furto, pois não terá mais necessidade de espoliar outro da túnica. Vós dizeis: “Mas poderia ser um vício, e não uma necessidade.” Está bem, mas daí assim mesmo. Deus vos recompensará por isso, e o que for injusto será castigado. Mas muitas vezes, e isso relembra tudo o que Eu disse ontem sobre a mansidão, vendo-se tratado assim, o vício cai do coração do pecador, e ele se redime, chegando até a reparar o seu furto com a entrega do que roubou.
Sede generosos com aqueles que, mais honestos, em vez de roubar-vos, vos pedem o que precisam. Se os ricos fossem realmente pobres de espírito, como vos ensinei ontem, não haveria essas lamentáveis desigualdades sociais, causas de tantas desventuras humanas e sobre-humanas. Pensai sempre: “Mas se eu estivesse na necessidade, como é que eu receberia a recusa de uma ajuda?” E agi de acordo com a resposta do vosso eu. Fazei aos outros o que gostaríeis que vos fosse feito, e não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fosse feito.
Antiga é aquela palavra: “Olho por olho, dente por dente”, palavra que não está nos dez mandamentos, mas que foi colocada depois, porque o homem privado da Graça é uma fera tal, que só pode compreender a vingança. Mas aquela palavra antiga está anulada por esta palavra nova: “Ama quem te odeia, reza por quem te persegue, perdoa a quem te calunia, fala bem de quem fala mal de ti, faze o bem a quem te prejudica, sê paciente com o briguento, condescendente com quem te aborrece, ajuda de boa vontade a quem recorre a ti, e não uses de usura com ele, não vivas criticando nem julgando os outros.” Vós não sabeis em que condições são praticadas suas ações pelos homens. Em toda espécie de socorro sede generosos, sede misericordiosos. Quanto mais derdes mais vos será dado, e uma medida bem cheia e calcada será despejada por Deus no seio de quem for generoso. Deus, não só vos dará conforme tiverdes dado, mas mais, muito mais. Procurai amar e fazer-vos amar. As brigas acabam custando muito mais do que entrar em entendimento amigável. E viver em amizade é como um mel, que deixa por muito tempo o seu gosto na língua.
Amai! Amai! Amai amigos e inimigos, para serdes semelhantes ao vosso Pai, que faz chover sobre os bons e sobre os maus, e faz descer a luz do sol sobre justos e injustos, reservando-se o direito de dar sol e orvalhadas eternas, e fogo e saraivadas infernais, no dia em que os bons vão ser separados como espigas escolhidas, por entre os feixes da colheita. Não basta amar aos que vos amam, e dos quais esperais uma retribuição. Isso não tem merecimento, é uma alegria, a até os homens honestos por natureza o sabem fazer. Os próprios publicanos e pagãos o fazem. Mas vós amais como Deus ama, amais por respeito a Deus, que é o Criador também dos que são vossos inimigos, ou para vós pouco amáveis. Eu quero em vós a perfeição do amor, e por isso Eu vos digo: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai, que está nos Céus.”
Tão grande é o preceito do amor para com o próximo e do aperfeiçoamento do amor para com o próximo, que Eu não vos digo mais como se dizia: “Não matar”, porque aquele que mata será condenado pelos homens. Mas Eu vos digo: “Não vos ireis”, porque um juízo mais alto que o dos homens, está acima de vós, e leva em conta também as ações imateriais. Quem tiver insultado o irmão, será condenado pelo Sinédrio. Mas quem o tiver tratado de doido, e portanto o tiver prejudicado, será condenado por Deus. É inútil fazer ofertas ao altar, se antes não se fez no interior do coração o sacrifício dos próprios rancores, por causa de Deus, e não se cumpriu o rito santíssimo de saber perdoar. Por isso, quando estiveres para fazer uma oferta a Deus, se tu te lembrares de que tens uma falta contra teu irmão, ou de que ainda estás guardando rancor por uma falta dele, deixa a tua oferta aí, diante do altar, faze primeiro a imolação do teu amor próprio, reconcilia-te com teu irmão, e depois vem para diante do altar, e agora, mas só agora é que o teu sacrifício será santo. Um bom acordo é sempre o melhor que se pode fazer. O juízo dos homens é sempre incerto, e quem, com teimosia, se aventura a crer nele, poderia perder a causa, devendo pagar ao adversário até a última moeda, ou ir apodrecer na cadeia.
Em tudo levantai o olhar para Deus. Perguntai a vós mesmos: “Terei eu o direito de fazer o que Deus não faz comigo?” Porque Deus não é tão inexorável e obstinado como vós sois. Ai de vós, se Ele o fosse! Ninguém se salvaria. Que esta reflexão vos leve a ter sentimentos de mansidão, de humildade, de piedade. E, então, não vos faltará da parte de Deus, nesta vida e na outra, a recompensa.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta- Pag. 89 a 95- vol 3)