NO TEMPLO A
REVELAÇÃO DE QUE JESUS E DEUS SÃO UMA SÓ PESSOA
537 – NO TEMPLO, NA FESTA DA DEDICAÇÃO, JESUS
SE MANIFESTA AOS JUDEUS, QUE TENTAM LAPIDÁ-LO
(O Evangelho como me foi Revelado – Maria
Valtorta – Vol. 5 – pgs.308 a 320)
...”Eu estou esperando os doentes. Eles me
viram entrar na cidade, e a notícia certamente já se espalhou. Nas horas mais
quentes eles virão. Fiquemos pelo menos até um terço da sexta”, responde Jesus.
E recomeça a caminhar para adiante e para trás, a fim de não ficar parado naquele
ar gelado.
E, na verdade, depois de pouco tempo, quando
o sol já está abrandando os efeitos do vento norte, chega a mulher com uma
menina doente, pedindo a cura dela. Jesus a contenta. A mulher coloca sua
esmola aos pés de Jesus, dizendo: “Isto é para outros meninos que sofrem.”
Iscariodes recolhe as moedas.
Mais tarde, sobre uma pequena padiola, levam
um homem já velho, doente das pernas. E Jesus o cura.
Em terceiro lugar bem um grupo de pessoas que
estão pedindo a Jesus que saia fora dos muros do Templo, para expulsar o
demônio de uma menina, cujos gritos dilacerantes são ouvidos até lá dentro. E
Jesus sai atrás deles, e vai chegar à estrada que vai para a cidade.
Algumas pessoas, entre as quais estão uns
estrangeiros, se ajuntaram ao redor dos que estão segurando a jovenzinha, que
está espumando e se contorcendo, revirando os olhos. Palavrões de todos os
calibres saem dos lábios dela e, quanto mais eles vão saindo, mais Jesus se
aproxima dela, e mais cresce o debater-se dela. Com dificuldade a estão
segurando quatro homens, jovens e robustos. E, junto com os impropérios,
prorrompem gritos dizendo que ele conhece o Cristo, e súplicas angustiantes do
espírito que a possui pedindo para não ser expulso, e também dizendo algumas
verdades, repetidas monotonamente. “Fora! Não me façais
ver este maldito! Vai-te embora! Fora! És a causa de nossa ruína. Eu sei quem
Tu és... Tu é o Cristo. Tu és... Não foste ungido por outro óleo, mas pelo lá
de cima, o poder do Céu te cobre e te defende. Eu te odeio. Maldito! Não me
expulses. Por que nos expulsas, e não nos queres, enquanto tens perto de Ti uma
legião de demônios em um só? Sim, que o sabes. Deixa-me aqui, pelo menos até a
hora de...” A palavra fica embargada algumas vezes, como que
estrangulada, e outras vezes muda, ou se detêm, ou se prolonga por entre gritos
desumanos, como quando urra: “Deixa-me entrar pelo
menos nele. Não me mandes lá para o Abismo!Por que nos odeias, ó Jesus, Filho
de Deus? Não te basta o que já és? Porque queres mandar em nós? Nós não queremos
ser mandados. Por que vieste perseguir-nos, se nós te renegamos? Vai-te embora.
Não mandes sobre nós os fogos do Céu! Esses Teus olhos! Quando eles ficarem
apagados nós nos riremos... Ah! Não! Mas, nem mesmo assim... Porque Tu nos
vences. Sê maldito, Tu e o Pai que te mandou e Aquele que de vós procede e é
vós. Aaaaah!”
Esse último grito é realmente espantoso, como
o de uma criatura que está sendo degolada, e na qual vai entrando lentamente o
ferro homicida, e é causado pelo fato de que Jesus, depois de ter dado muitas
vezes a ordem de cessar aquilo, por meio de um comando mental, põe fim as
palavras da possessa, tocando com um dedo a fronte da jovenzinha. E aquele
grito termina com uma convulsão horrível, e com o fragor da risada de quem sai
de um pesadelo, quando o demônio a deixa, gritando:
“Mas eu não vou para longe... Ah!
Ah! Ah!”, o que é
acompanhado por um estampido como o de um raio, ainda que o céu esteja
completamente limpo.
Muitos fogem dali aterrorizados. Outros se
aglomeram ainda mais para observarem a jovenzinha, que se acalmou de repente,
descansando nos braços dos que a estavam segurando. Fica assim por alguns
instantes, e depois abre os olhos, sorri, vê-se entre pessoas que não tem véu
sobre o rosto nem sobre a cabeça, e inclina seu rosto, para escondê-lo por
baixo do braço que lhe levanta o rosto. Quem está com ela gostaria que ela
agradecesse ao Mestre. Mas Ele diz: “Deixai-a em seu pudor. A alma dela já me
agradece. Levai-a de novo para casa, para a mãe. É o seu lugar de menina...” e
vira as costas para as pessoas, tornando a entrar no Templo, e indo ficar onde
estava antes.
“Tu viste, Senhor, como muitos judeus vieram
ás nossas costas? Eu reconheci alguns deles... Lá estão eles: são aqueles que
nos estavam espiando antes. Olha como estão discutindo entre si...”, diz Pedro.
“Estarão discutindo sobre quem entre eles o
diabo entrou. Lá está também Naum, o homem de confiança de Anás. É um tipo
idôneo...”, diz Tomé.
“Sim. E tu não viste, porque estavas de
costas. Mas o fogo desceu justamente sobre a cabeça dela”, diz André batendo um
pouco os dentes. Eu estava perto e fiquei com medo!”
“É verdade. Estavam todos juntos. Mas eu vi o
fogo abrir-se sobre nós, e achei que ia morrer. E cheguei a tremer mais foi
pelo Mestre. O fogo parecia suspenso sobre a cabeça dele”, diz Mateus.
“Mas, não. Eu o vi sair da menina e explodir
em cima do muro do Templo”, replica Levi, o pastor discípulo.
“Não fiqueis discutindo uns com os outros, o
fogo não foi para por ninguém em destaque. Foi apenas o sinal de que o demônio
havia fugido”, diz Jesus.
“Mas ele disse que não ia para longe!...”,
diz André.
“São palavras de demônio... Não devem ser
ouvidas. Louvemos pois o Altíssimo por estes três filhos de Abraão, curados no
corpo e na alma.”
Nesse meio tempo, muitos judeus, que se
desentocaram daqui e dali – mas não faz parte do grupo deles nenhum fariseu –
nenhum escriba e nenhum sacerdote – se aproximam de Jesus e o rodearam, e um
deles se aproxima mais, e diz: “Grandes coisas Tu fizeste neste dia, obras
realmente de profeta, e grande profeta. E os espíritos do Abismo disseram de Ti
grandes coisas. Mas as palavras deles não podem ser aceitas, se não forem
confirmadas pela tua palavra. Nós estamos assustados por aquelas palavras. Mas
também temos medo de algum grande engano, pois é sabido que Belzebu é espírito
de mentira. Não quereríamos enganar-nos a nos mesmos, nem ser enganados.
Dize-nos então, quem és, pela tua boca de vontade e justiça.”
“E Eu já não vos disse muitas vezes quem Eu
sou? Há quase três anos que Eu o venho dizendo e, antes de Mim, já o disse João
no Jordão e a voz de Deus dos Céus.”
“É verdade. Mas nós não estávamos aqui nas
outras vezes. Nós... Tu, que és justo, deves entender a nossa aflição. Nós
quereríamos crer em Ti como Messias. Mas muitas vezes o povo de Deus já foi
enganado por falsos Cristos. Consola o nosso coração, que espera ouvir, e está
pronto a ouvir com atenção tua palavra segura, e nós te adoraremos.”
Jesus olha para eles muito sério. Seus olhos
parecem perfurar as carnes e pôr a nu os corações. Depois diz: “Na verdade,
muitas vezes os homens sabem dizer mentiras melhor do que Satanás. Não. Vós não
me adorareis nunca. Seja lá o que for que Eu vos disser. E, ainda que
chegásseis a fazê-lo, a quem é que adoraríeis?”
“A quem? Ora! Ao nosso Messias!”
“Seríeis capazes de fazer isso? Para vós quem
é o Messias? Respondei, para que Eu fique sabendo o que valeis.”
“O Messias? Mas o Messias é aquele que,
mandado por Deus, reunirá o disperso Israel, e fará dele um povo triunfante,
sob cujo poder estará o mundo. E então? Tu não sabes o que é o Messias?”
“Eu o sei, e vós não o sabeis. Pois para vós
será um homem que, superando Davi, Salomão e Judas Macabeu, fará de Israel a
Nação rainha do mundo.”
“É isso. Deus o prometeu. Toda vingança, toda
glória, toda reivindicação virá do Messias prometido.”
“Foi dito: “Não adorarás a outro, mas só ao
Senhor teu Deus.” Por quê, então, vós me adoraríeis, se em mim só poderíeis ver
o Homem-Messias?”
“E que mais devemos ver em Ti?”
“Que mais? E é com estes sentimentos que me
vindes interrogar? Raça de víboras traiçoeiras e venenosas! E sacrílegas
também. Porque se em Mim não pudésseis ver mais do que um messias humano, e me
adorásseis, seríeis idólatras. Somente a Deus se pode adorar. E em verdade Eu
vos digo que vós estais fingindo estar numa missão, tendo os poderes e os
encargos que vós, privados de espírito e de sabedoria, imagineis ter. O Messias
não vem para dar ao seu povo um reino como vós pensais, não vem para exercer
vingança sobre outros poderosos. O reino dele não é deste mundo, e o seu poder
supera todos os poderes limitados do mundo.”
“Tu nos estás humilhando, Mestre. Se Tu és
Mestre, e nós somos ignorantes, por que não nos queres instruir?”
“Há três anos que Eu venho fazendo isso, e
vós ficais sempre nas trevas, porque rejeitais a Luz.”
“É verdade. Talvez seja verdade. Mas o que
aconteceu no passado pode não acontecer no futuro. E, então? Tu que tens
piedade dos publicanos e das meretrizes, e que absolves os pecadores, queres
ser sem piedade para conosco, só porque somos de cerviz dura e achamos difícil
compreender quem és Tu?”
“Não é que vós acheis difícil o que não
quereis entender. Ser hebetado não seria culpa. Deus tem tantas luzes, que
poderia fazer brilhar a luz, até na inteligência mais obtusa, mas cheia de boa
vontade. E esta em vós está faltando. Ao contrário, vossa vontade é até o
oposto dessa. É por isso que não compreendeis quem Eu sou.”
“Será como Tu dizes. Tu estás vendo como
somos humildes. Mas nós te pedimos em nome de Deus. Responde as nossas perguntas.
Não nos deixes mais suspensos. Até quando o nosso espírito deverá ficar na
incerteza? Se Tu és o Cristo, dize-o a nós abertamente.”
“Eu já vo-lo disse. Nas casas, nas praças,
pelas estradas, pelos povoados e sobre os montes, ao longo dos rios, á frente
do mar, diante dos desertos, no Templo, nas sinagogas, nas feiras. Eu já vo-lo
disse, e vós não credes. Não há nenhum ponto de Israel que não tenha ouvido a
minha voz. Até os lugares que trazem abusivamente o nome de Israel há séculos,
mas que estão separados do Templo, até os lugares que deram o nome a esta nossa
terra, mas que de dominadores se tornaram súbditos, e nunca se livraram
completamente de seus erros, para virem a Verdade, até a Siro-Fenícia, evitada
pelos Rabis como terra de pecado, ouviram a minha voz e conheceram o meu ser.
Eu vo-lo disse, e não credes em minhas palavras. Eu agi, e as minhas ações não
prestastes atenção, com boa intenção. Se o tivesses feito com a reta intenção e
respeito de Mim, teríeis chegado a fé em Mim, porque as obras que Eu faço em
nome do Pai dão testemunho de Mim. Aqueles de boa vontade que vieram
acompanhar-me, porque me reconheceram como Pastor, acreditaram em minhas
palavras e no testemunho que dão as minhas obras. E então? Credes talvez que o
que Eu faço não tenha sido feito para a vossa utilidade? E de utilidade para
todas as criaturas? Desenganai-vos. E não queirais ficar pensando que o que é
útil já é dado pela saúde para cada um em particular, apenas readquirida pelo
meu poder, ou pela libertação de uma possessão, ou do pecado deste ou daquele.
Pois esta é uma utilidade circunscrita ao indivíduo. É muito pouca coisa,
comparada com o poder que foi usado, e com uma fonte sobrenatural, e mais do
que sobrenatural: Divina, que é usada por ser a única utilidade. Eis aí a
utilidade coletiva nas obras que Eu faço. A utilidade para tirar todas as
dúvidas daqueles que não têm certeza, e convencer os que lhe são contrários,
além de reforçar sempre mais a fé dos que crêem. É para essa utilidade
coletiva, a favor de todos os homens do presente e do futuro, pois as minhas
obras testemunharão sobre Mim diante dos futuros e os convencerão a respeito de
Mim, e que o meu Pai me dá poder para Eu fazer o que faço. Lembrai-vos sempre
disso. Meditai nesta verdade.”
Jesus para por um momento. Fixa seu olhar
sobre um judeu, que está de cabeça baixa, e depois diz: “Tu, que estás pensando
assim, tu, esse da veste da cor da azeitona madura, e estás te perguntando se
também o Satanás terá um fim bom. Não sejas tolo para seres contra Mim, e ficares
procurando erro em minhas palavras. Eu te respondo que Satanás não é obra de
Deus, mas da livre vontade do anjo rebelde. Deus o tinha feito seu glorioso
ministro, e assim o havia criado para um fim bom. Eis. Agora, tu, falando com o
teu próprio eu, dizes: “Então, Deus é estulto, por ter dado a glória a um
futuro rebelde, e confiado seus planos a um desobediente”. Eu te respondo:
“Deus não é estulto, mas perfeito em suas ações e pensamentos. E é
perfeitíssimo. As criaturas são imperfeitas, até as mais perfeitas. Sempre há
nelas um ponto de inferioridade, em comparação com Deus. Mas Deus, que as ama,
concedeu às criaturas o livre arbítrio, para que , através dele, a criatura se
complete nas virtudes e se faça por isso semelhante a Deus, seu Pai. E ainda te
digo, ó irrisor e astuto procurador de pecado em minhas palavras, que, do Mal
que voluntariamente te formou. Deus ainda faz sair um fim bom que é o de servir
para fazer dos homens possuidores de uma glória merecida. As vitórias sobre o
Mal são a coroa dos eleitos. Se o Mal não pudesse suscitar uma conseqüência boa
para os homens dispostos e de boa vontade, Deus o teria destruído, Porque nada
do que existe em toda a Criação deve estar totalmente privado de um incentivo
bom ou bons, por conseqüência.
Não respondes? Será duro para ti teres que
proclamar que Eu li em teu coração e que venci as ilações injustas de teu
pensamento tortuoso? Eu não te forçarei a fazê-lo. Mas, á vista de todos, Eu te
deixarei com a tua soberba. Eu não exijo que tu me proclames vitorioso. Mas,
quando estiveres sozinho com estes, semelhantes a ti, e com aqueles que vos
mandaram, então, confessa, tu também, que Jesus de Nazaré, leu os pensamentos
de tua mente, e estrangulou as tuas objeções na garganta, somente com a arma de
sua palavra de verdade.
Mas abandonemos esta interrogação pessoal, e
voltemos aos muitos que me estão ouvindo. Se apenas um só de todos eles, pelas
minhas palavras, convertesse o seu espírito para a Luz, estaria recompensado o
meu cansaço por falar a pedras, ou melhor, a sepulcros cheios de víboras.
Eu estava dizendo que os que me amam me
reconheceram como Pastor, pelas minhas palavras e minhas obras. Mas vós não
credes, não podeis crer, porque não sois das minhas ovelhinhas.
Que é que vós sois? Eu vo-lo pergunto.
Perguntai-o ao interior de vossos corações. Não sejais estultos. Podeis
conhecer-vos pelo que sois. Basta que escuteis a voz de vossa alma, que não
está tranqüila por continuar a ofender o Filho daquele que a criou. Vós mesmos
conhecendo o que sois, não o direis. Não sois nem humildes, nem sinceros. Mas
Eu vos digo o que sois. Sois em parte uns lobos, e, em parte uns cabritos
selvagens, mas ninguém de vós, apesar da pele de cordeiro, que levais para
fingir-vos de cordeiros, passais por verdadeiros cordeiros. Por baixo do velo
macio e branco, tendes todas as cores ferozes, e chifres pontudos, dentes e
garras de bode ou de fera, e quereis ficar assim, e vos comprazeis ainda por
serdes assim, e sonhais com ferocidade e rebelião. Por isso, vós não me podeis
amar, e não podeis acompanhar-me e compreender-me.
Se entrais no rebanho, é para fazer-lhe mal,
ou causar sofrimento, ou levar para o meio dele a desordem. As minhas ovelhas,
têm medo de vós... Se elas fossem como vós sois, deveriam odiar-vos. Mas elas
não sabem odiar. São os cordeirinhos do Príncipe da Paz, do Mestre do Amor, do
Pastor misericordioso. Eu não vos odiarei nunca. Deixo para vós o ódio, que é o
mau fruto da tríplice concupiscência, o eu desencadeado no animal homem, que
vive esquecido de que é também espírito, e não só carne. Eu fico com o que é
meu: o Amor. E isso é o que Eu ensino aos meus cordeirinhos, e e ofereço a vós,
para vos tornardes bons. Se vos tornásseis bons, então me entenderíeis, e vos
tornaríeis do meu rebanho, semelhantes aos outros que estão nele. Nós nos
amaríamos. Eu e as minhas ovelhas nos amamos. Elas me escutam, reconhecem a
minha voz.
Vós não sabeis o que é em verdade conhecer a
minha voz e não ter dúvidas sobre sua origem e saber distingui-la entre mil
outras vozes de falsos profetas, como se fosse a verdadeira voz vinda do Céu.
Agora e sempre, e até aqueles que se crêem, e que em parte o são, seguidores da
sabedoria, haverá muitos que não saberão distinguir a minha voz das outras
vozes que falarão de Deus, mais ou menos com justiça, mas que serão todas elas
vozes inferiores a minha...”
“Dizeis sempre que em breve te vais embora, e
depois queres dizer que falarás sempre? Se tiveres ido embora, não falarás
sempre”, diz um judeu, com um tom de desdém, como se falasse a um débil mental.
...”Eu falarei sempre, a fim de que o mundo
não se torne todo idólatra. E falarei aos meus escolhidos, para repetir-vos as
minhas palavras. O Espírito de Deus falará, e eles entenderão a palavra, a
frase, o modo, o lugar, o como, o instrumento, através dos quais a palavra
fala, enquanto que os meus eleitos não se perderão nesses estudos inúteis, mas
escutarão, atentos só ao Amor, e compreenderão, porque será o Amor quem vos
falará. Eles saberão distinguir as ornadas páginas dos doutos ou as mentirosas
páginas dos falsos profetas, dos escribas, que ensinam doutrinas inquinadas, ou
ensinam o que não praticam, das palavras simples e verdadeiras, profundas, que
por Mim serão proferidas. Mas o mundo as odiará por isso, porque o mundo me
odeia a Mim, a Luz, e odeia os filhos da Luz. Esse mundo tenebroso, que ama as
trevas, apropriadas para os seus pecados.
As minhas ovelhas me conhecem e me conhecerão
a Mim, e me seguirão sempre, até pelos caminhos de sangue e de dor, que Eu
percorrerei à frente delas, e que elas percorrerão depois de Mim. Os caminhos
que levam as almas a sabedoria, os caminhos que o sangue e o pranto dos
perseguidos, porque ensinam a justiça e os tornam luminosos para que resplendam
no meio da escuridão das fumaças do mundo e de Satanás, e sejam como fulgores
de estrelas para conduzir quem procura o Caminho, a Verdade e a Vida, mas não
encontra quem a tudo isso os conduza. Porque disso é que precisam as almas: de
quem as conduza à Vida, à Verdade, ao Caminho certo.
Deus é piedoso para com as almas que procuram
e não acham, não por culpa delas, mas pela preguiça dos pastores ídolos.
Deus é piedoso para com as almas que,
deixadas a si mesmas, se perdem, e são acolhidas pelos ministros de Lúcifer,
prontos para acolher aos desviados e fazer deles prosélitos de sua doutrinas.
Deus é piedoso para com aqueles que caem no
engano, somente porque os rabis de Deus, os assim chamados rabis de Deus, se
desinteressaram por elas.
Deus é piedoso para com todos esses que vão
ao encontro do desconforto, das escuridões, da morte por culpa dos falsos
mestres, que de mestres não tem mais do que a veste e o orgulho de serem assim
chamados.
E, por essas pobres almas, como mandou os
profetas para o seu povo, como mandou-Me a Mim para todo o mundo, assim, depois
de Mim mandará os servos da Palavra, da Verdade e do Amor, para repetirem as
minhas palavras. São as minhas palavras as que dão a Vida. De tal modo que as
minhas ovelhas de agora e de depois, terão a Vida que Eu lhes darei, através da
minha palavra que é Vida eterna para os que a acolhem, e não perecerão nunca
mais, e ninguém os arrancará de minhas mãos.”
“Nós nunca rejeitamos as palavras dos
verdadeiros profetas. Sempre respeitamos o João, o último profeta”, responde
com ira um dos judeus, e os seus companheiros lhe fazem eco.
“Ele morreu em tempo, para não ser mal visto
por vós, e ser perseguido também por vós. Se ele ainda estivesse entre os
vivos, suas palavras “não é lícito”, que ele disse referindo-se a um incesto
carnal, ele o diria também a vós, que praticais um adultério espiritual,
fornicando com Satanás contra Deus. E vós o mataríeis, como tendes a intenção
de me matar.”
Os judeus fazem um tumulto, cheios de ira, e
já prontos a atacá-lo, cansados como estão, por precisarem fingir-se de mansos.
Mas Jesus não se preocupa com isso. Levanta a voz para dominar o tumulto, e
grita: “E vós me perguntastes quem sou Eu, ó hipócritas? Dizíeis querer saber
para ficardes seguros? E agora dizeis que João foi o último profeta. E assim
duas vezes vos condenais pelo pecado de mentira. Uma vez, porque dizeis que
nunca rejeitastes as palavras dos verdadeiros profetas. E na outra, dizendo que
João é o último profeta e que vós credes nos verdadeiros profetas, não aceitais
que Eu seja também profeta, e verdadeiro profeta. Bocas mentirosas! Corações
enganadores! Sim, em verdade, Eu aqui na casa de meu Pai, proclamo que sou mais
do que profeta. Eu tenho o que o meu Pai me deu. E o que o Pai me deu é mais
precioso do que tudo e do que todos, pois é uma coisa sobre a qual a vontade, e
o poder dos homens não pode pôr suas mãos rapinantes. Eu tenho o que Deus me
deu e que, mesmo estando em Mim, está sempre em Deus, e ninguém pode arrancá-lo
das mãos de meu Pai nem de Mim, porque é a mesma a nossa Natureza Divina. Eu e
o Pai somos Um.”
“Ah! Que horror! Blasfêmia! Anátema!” A
gritaria dos judeus ressoa no Templo e mais uma vez as pedras usadas pelos
cambistas e pelos vendedores de animais para conservarem em ordem os seus
recintos, transformam-se em provisão para os que estão procurando boas para
atacar.
Mas Jesus se ergue, com os braços cruzados
sobre o peito. Ele subiu sobre uma cadeira de pedra, a fim de ficar mais alto e
visível, e de lá domina tudo com os raios de seus olhos de safira. Domina e
desfere raios. E está tão majestoso, que os para lisa. Em vez de jogar as
pedras, jogam-nas fora, ou seguram na mão, mas já sem terem a ousadia de
jogá-las contra Ele. Até a gritaria se acalma, em um estranho desânimo. É o
próprio Deus que cintila no Cristo. E quando Deus cintila assim, até o homem
mais insolente torna-se pequeno e espavorido.
...Jesus fica assim alguns minutos. Depois
começa de novo a falar para esta multidão vendida e vil, que perdeu toda a sua
arrogância, somente por ter visto um relâmpago divino. “Pois bem. Que quereis
fazer? Vós me havíeis perguntado quem Eu era. E Eu vo-lo disse. Vós ficastes
furiosos. Eu vos fiz lembrar de tudo o que Eu fiz, fiz-vos ver e recordar
muitas obras que provieram de meu Pai e foram feitas com o poder que Me vem de
meu Pai. Por qual delas é que me apedrejais? Por haver ensinado a justiça? Por
ter trazido aos homens a Boa Nova? Por ter vindo convidar-vos para o Reino de
Deus? Por ter curado os vossos doentes, e dado a vista aos vossos cegos, dado o
movimento aos paralíticos, a palavra aos mudos, a liberdade aos possessos, a
ressurreição aos mortos, ter feito bem aos pobres, perdoado aos pecadores,
amado a todos, mesmo aos que me odeiam, como vós e os que vos mandaram? Por
qual então, dessas obras é que me quereis apedrejar?”
“Não é pelas boas obras que fizeste que te
apedrejamos, mas pela tua blasfêmia, porque Tu, sendo homem te fazes Deus.”
“Não está escrito na vossa Lei: “Eu disse:
vós sois deuses e filhos do Altíssimo?” Pois bem. Se Deus chamou de “deuses” a
quem Ele falou, dando-lhes um mandamento, o de viver de tal modo que a semelhança
e a imagem de Deus, que está no homem, apareça claramente, e o homem não seja
um demônio, nem um animal. Se “deuses” são chamados os homens na escritura, que
é toda inspirada por Deus, e por isso a escritura não pode ser alterada nem
anulada, segundo o prazer ou o interesse do homem, por que me dizeis que Eu
estou blasfemando, Eu a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, só porque Eu
digo: Sou o Filho de Deus? Se Eu não fizesse as obras do meu Pai, teríeis razão
para não crerdes em Mim. Mas Eu as faço. E vós não quereis acreditar em Mim.
Crede, então, pelo menos nessas obras a fim de que saibais e reconheçais que o
Pai está em Mim e que Eu estou no Pai.”
A tempestade dos gritos e das violências
recomeça mais forte do que antes. De um dos terraços do Templo, sobre o qual
certamente estavam escutando, escondidos os sacerdotes, os escribas e os
fariseus grasnam muitas vezes: “Agarrai esse blasfemador. Sua culpa já se
tornou pública. Todos nós já ouvimos. Morte ao blasfemador, que se proclama
Deus. Dai-lhe o mesmo castigo que foi dado ao filho da Salumit de Dabri. Que
seja levado para a fora da cidade e apedrejado. Fazer isso é direito nosso!
Está escrito: “O blasfemador seja condenado à morte.”
...Eu perdi completamente de vista a Jesus.
Não poderia nem dizer para onde Ele foi, nem por qual porta saiu.
(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta.)