PARÁBOLA DA VIDEIRA DA HORTA
“Um
homem tinha uma bela videira. Mas, não sendo ele possuidor de uma vinha, sua
videira havia sido plantada na pequena horta de casa, a fim de que subisse para
o terraço, desse sombra e produzisse cachos. E muitos cuidados ele tomava com
sua videira. Mas ela ia crescendo no meio das casas, perto da rua, e, por isso
a fumaça das cozinhas e dos fornos e a poeira da estrada subiam para molestar a
videira. E, enquanto ainda desciam do céu as chuvas de Nisã, as folhas da
videira se limpavam das impurezas, e se fortaleciam com o sol, e o ar, sem
terem sobre sua superfície a feia crosta de sujeira para a estorvarem. Quando
porém, chegou o verão e a água não desceu mais do céu, a fumaça, a poeira e os
excrementos dos passarinhos foram-se depositando em espessas camadas, sobre as
folhas, ao mesmo tempo que o sol quente as ia secando. O dono da videira dava
água às raízes que estavam dentro da terra. E por isso a planta não morria, mas
ia vegetando com dificuldade, porque a água chupada pelas raízes subia apenas
pelo interior, e as pobres folhas nada aproveitavam dela. Ao contrário, do solo
tórrido, molhado com pouca água, subiam a água tornada quente, e as exalações
que secavam as folhas, manchando-as com pústulas malignas. Enfim, veio uma
grande chuva do céu sobre as folhas, e escorreu ao longo dos ramos, dos cachos,
do tronco, mitigou o ardor dos muros e do chão, e, tendo passado a tempestade,
o dono da videira viu uma planta limpa, para gozar e produzir alegria, sob um
céu sereno.” Aí está a parábola.”
“Está
bem. Mas e a comparação com o homem?”
“Mestre,
isto faze-o Tu.”
“Não.
Tu. Estamos entre irmãos, não precisas ter medo de fazer má figura.”
“Se
é pela triste figura, dela eu não tenho medo, por ser uma coisa penosa. Pelo
contrário, até gosto dela, porque serve para me tornar humilde. É que eu não
quereria dizer coisas erradas...”
“Eu
irei te corrigindo.”
“Oh!
Então! Eis aqui. Eu diria: “Assim acontece com o homem que não vive ocupado nas
hortas de Deus, mas vive no meio da poeira e da fumaça das coisas do mundo,
coisas estas que lentamente vão criando sobre ele sujeira, talvez inadvertidamente,
e ele se encontra esterilizado em seu espírito e sob uma crosta de humanidade
tão espessa, que a aura de Deus e o Sol da Sabedoria não podem mais ajudá-lo. E
inutilmente procura remediar o caso com um pouco de água apanhada para os usos
pessoais, e usada com tantos cuidados nas partes inferiores, que as partes
superiores ficaram sem ela... Ai do homem que não se limpa com a água do Céu,
que o limpa das impurezas, que apaga os ardores das paixões e que
verdadeiramente alimenta todo o eu.
Tenho dito.”
“Falaste
bem. Eu diria também que, com a diferença da planta que é uma criatura privada
do livre arbítrio e fincada na terra e por isso não podendo andar em busca do
que lhe agrada, nem evitar aquilo que lhe faz mal, o homem pode andar para ir
buscar a água do Céu, para escapar da poeira, do ardor da carne e do mundo e do
demônio.
Seria assim mais completo o ensinamento.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol. 7, pgs. 86. 87)
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