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– JESUS
DECIDI IR A BETÂNIA
(
24 de Dezembro de 1946)
...”
Paz! Paz! Não é verdade que são doze as horas do dia? Se alguém caminha de dia,
não tropeça, porque está vendo a luz deste mundo. Mas, se ele caminha de noite
tropeça, porque não pode enxergar. Eu sei o que estou dizendo, porque a Luz
está em Mim. E vós, deixai-vos guiar por quem enxerga. E depois, ficai sabendo
que enquanto não chegar a hora das trevas, nada de tenebroso poderá acontecer.
Portanto quando chegar aquela hora, nenhuma distância e nenhuma força, nem
mesmo as forças armadas de César, poderão salvar-me dos judeus. Porque o que
está escrito deve acontecer, e as forças do mal já estarão operando ocultamente
para completar o seu trabalho. Portanto, deixai-me agir, e fazer o bem, enquanto
Eu estiver livre para fazê-lo. Chegou a hora na qual não poderei mais mover nem
um dedo, nem dizer uma palavra para operar o milagre. O mundo ficará vazio, sem
a minha força. Será uma hora tremenda de castigo para o homem, mas não para
Mim. Para o homem que não terá querido me amar. É uma hora que se repetirá pela
vontade do homem que terá rejeitado a Divindade, até o ponto de fazer de si
mesmo um semi-deus, um sequaz de Satanás e do seu filho maldito. A hora que
virá, quando estiver próximo o fim deste mundo, a falta de fé, que impera
tornará mulo o meu poder de milagre. Não porque Eu o possa perder. Mas porque o
milagre não pode ser concedido onde não houver fé e vontade de obtê-lo, onde do
milagre se fará um objeto de escárnio e um instrumento do mal, usando o bem
para fazer um mal maior. Agora posso ainda fazer o milagre e fazê-lo para dar
glória a Deus. Vamos, pois, ao nosso amigo que está dormindo, vamos despertá-lo
deste sono, para que esteja bem disposto e pronto para servir ao seu Mestre.”
“Mas,
se ele está dormindo, tudo bem. Acabará ficando curado, o sono já é um remédio.
Para que ir despertá-lo?”, ponderam eles.
“Lázaro
está morto. Eu esperei que ele morresse para ir até lá, não por causa de suas
irmãs, nem dele. Para que acrediteis. Para que cresçais na fé. Vamos a Lázaro.”
“Está
bem. Então vamos. Morreremos todos, como ele morreu, e como Tu queres morrer”,
diz Tomé, como um resignado fatalista.
“Tomé,
Tomé! E vós todos que em vosso interior tendes críticas e resmungos, ficai
sabendo que quem quiser seguir-me deve ter para com a vida o mesmo cuidado que
tem o passarinho para com a nuvem que passa; deixá-la passar, de acordo com o
vento que a impele. O vento é a vontade de Deus, e pode dar-vos ou tirar-vos a
vida, a seu prazer, e vós não tendes de queixar-vos disso, como não se queixa o
passarinho da nuvem que passa, mas continua a cantar do mesmo modo, pois tem a
certeza de que depois voltará o tempo sereno. Porque a nuvem e o incidente, e o
céu é a realidade. O céu fica sempre azul, mesmo se as nuvens parecerem
torná-lo cinzento. Ele é e permanece azul acima das nuvens. Assim acontece com
a Vida verdadeira. Ela é e continua a ser, mesmo quando a vida humana cessa.
Quem quer seguir-me não deve conhecer o que é a ânsia pela vida, nem o medo de
perder a vida. Eu vos mostrarei como é que se conquista o Céu. Mas, como
podereis imitar-me, se estais com medo de ir à Judéia, vós a quem nenhum mal se
fará por enquanto? Tendes o escrúpulo de apresentar-vos em minha companhia?
Sois livres, se quereis deixar-me. Mas, se quereis ficar, deveis aprender a
desafiar o mundo,com suas críticas, suas insídias, suas derisões, os seus
tormentos, para conquistardes o meu Reino. Vamos, pois, tomar da morte Lázaro,
que dorme a dois dias no sepulcro, tendo morrido na tarde em que veio o servo
de Betânia. Amanhã, à hora sexta, depois de ser atendido aos que estão
esperando o dia de amanhã, para receberem de mim algum conforto e um prêmio
para sua fé, partiremos daqui e atravessaremos o rio, parando pela noite na
casa da Nique, Depois da aurora, partiremos para Betânia, indo pela estrada que
passa por Ensemes. Estaremos em Betânia antes da sexta. E lá haverá muita
gente. E os corações ficarão estremecidos. Eu prometi, e o cumprirei...”
“A
quem Senhor”, pergunta temeroso o Tiago do Alfeu.
“A
quem me odeia, e a quem me ama, a ambos de um modo justo. Não vos lembrais da
discussão em Quedes com os escribas? Podiam eles dizer que Eu era mentiroso,
por ter ressuscitado uma menina, que tinha acabado de morrer e um morto depois
de um dia. Eles disseram: “Ainda não soubeste reconstruir uma coisa que se
desfez.” De fato, só Deus pode do barro tirar o homem e da podridão fazer de
novo um corpo intacto e cheio de vida. Pois bem, Eu o farei. No mês de Casleu,
ás margens do Jordão, Eu mesmo fiz que os escribas se lembrassem desse desafio,
e lhes disse: “Na lua nova isso se fará. Isso seja dito aos que me odeiam.” Mas
as irmãs, que me amam de um modo absoluto, Eu lhes prometi premiar a sua fé, se
tivessem continuado a esperar, apesar de tudo o que parecia incrível. Eu as
submeti a muitas provas e a muitas aflições, só Eu conheço os sofrimentos dos
corações delas durante estes dias, e também o seu perfeito amor. Em verdade Eu
vos digo que merecem um grande prêmio, porque além de não terem visto
ressuscitado o seu irmão, ainda estão angustiadas por poder estar Eu sendo
escarnecido. Eu vos parecia estar absorto, cansado e triste. Eu estava perto
delas com o meu espírito, ouvia os seus gemidos, e contava suas lágrimas.
Pobres irmãs! Eu agora tenho o desejo ardente de reconduzir um justo à vida sobre
a Terra, um irmão aos braços de sua irmãs, um discípulo ao meio de meus discípulos.
Tu estás chorando, Simão? Sim, Tu e Eu somos os maiores amigos de Lázaro, e no
teu pranto há uma dor pela dor de Marta e de Maria, e pela agonia do amigo, mas
ela é também já a alegria de saber que brevemente ele será restituído ao nosso
amor. Levantemo-nos para prepararmos as sacolas e irmos tomar nosso repouso e
pôr de novo as coisas em ordem aqui... aonde não temos certeza de voltar. Será
necessário distribuir aos pobres o que tivermos e dizer aos mais ativos que detenham
os peregrinos para que não vão ao meu encontro, enquanto não estivermos outro
lugar seguro. Também será preciso dizer-lhes que avisem aos discípulos a fim de
que vão procurar-me na casa de Lázaro. Há muitas coisas que fazer. Todas serão
feitas, antes que cheguem os peregrinos... Vamos... Apagai o fogo, e acendei os
tochas, e cada um vá fazer o que deve, e depois vá descansar. A paz a todos
vós.”
Ele
se levanta. Abençoa, e se retira para o seu pequeno quarto.
“Ele
morreu há muitos dias”, diz Selotes.
“Isto
é um milagre!”, exclama Tomé.
“Eu
só quero ver o que é que vão achar depois, para duvidarem ainda”, diz André.
“Mas,
quando foi que veio o servo?”, pergunta Iscariotes.
“Na
tarde antes da sexta-feira”, responde Pedro.
“Sim?
E por que não o disseste?”, pergunta Iscariotes.
“Porque
o Mestre me havia mandado ficar calado”, rebate Pedro.
“Então...
quando chegarmos lá... já haveria quatro dias que ele está no sepulcro?”.
“Com
certeza. Na tarde de sexta-feira, um dia. Na tarde de sábado, dois dias. Nesta
tarde, três dias. Amanhã, quatro... Por isso serão quatro dias e meio. Poder
eterno! Mas o morto estará em pedaços”, diz Mateus.
“Já
estará em pedaços. Eu também quero ver isso e depois...”
“E
depois o que, Simão Pedro?”, pergunta Tiago de Alfeu.
“Depois,
se Israel não se converter, nem mesmo Javé, com relâmpagos e trovões, o pode
converter.”
E
assim falando eles se vão.
(O
EVANGELHO COMO ME FOI REVELADO – MARIA VALTORTA)
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