“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quarta-feira, 6 de março de 2019

A REVELAÇÃO DE QUE JESUS E DEUS SÃO UMA SÓ PESSOA






NO TEMPLO A REVELAÇÃO DE QUE JESUS E DEUS SÃO UMA SÓ PESSOA


537 – NO TEMPLO, NA FESTA DA DEDICAÇÃO, JESUS SE MANIFESTA AOS JUDEUS, QUE TENTAM LAPIDÁ-LO
(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta – Vol. 5 – pgs.308 a 320)

...”Eu estou esperando os doentes. Eles me viram entrar na cidade, e a notícia certamente já se espalhou. Nas horas mais quentes eles virão. Fiquemos pelo menos até um terço da sexta”, responde Jesus. E recomeça a caminhar para adiante e para trás, a fim de não ficar parado naquele ar gelado.
E, na verdade, depois de pouco tempo, quando o sol já está abrandando os efeitos do vento norte, chega a mulher com uma menina doente, pedindo a cura dela. Jesus a contenta. A mulher coloca sua esmola aos pés de Jesus, dizendo: “Isto é para outros meninos que sofrem.” Iscariodes recolhe as moedas.
Mais tarde, sobre uma pequena padiola, levam um homem já velho, doente das pernas. E Jesus o cura.
Em terceiro lugar bem um grupo de pessoas que estão pedindo a Jesus que saia fora dos muros do Templo, para expulsar o demônio de uma menina, cujos gritos dilacerantes são ouvidos até lá dentro. E Jesus sai atrás deles, e vai chegar à estrada que vai para a cidade.
Algumas pessoas, entre as quais estão uns estrangeiros, se ajuntaram ao redor dos que estão segurando a jovenzinha, que está espumando e se contorcendo, revirando os olhos. Palavrões de todos os calibres saem dos lábios dela e, quanto mais eles vão saindo, mais Jesus se aproxima dela, e mais cresce o debater-se dela. Com dificuldade a estão segurando quatro homens, jovens e robustos. E, junto com os impropérios, prorrompem gritos dizendo que ele conhece o Cristo, e súplicas angustiantes do espírito que a possui pedindo para não ser expulso, e também dizendo algumas verdades, repetidas monotonamente. “Fora! Não me façais ver este maldito! Vai-te embora! Fora! És a causa de nossa ruína. Eu sei quem Tu és... Tu é o Cristo. Tu és... Não foste ungido por outro óleo, mas pelo lá de cima, o poder do Céu te cobre e te defende. Eu te odeio. Maldito! Não me expulses. Por que nos expulsas, e não nos queres, enquanto tens perto de Ti uma legião de demônios em um só? Sim, que o sabes. Deixa-me aqui, pelo menos até a hora de...” A palavra fica embargada algumas vezes, como que estrangulada, e outras vezes muda, ou se detêm, ou se prolonga por entre gritos desumanos, como quando urra: “Deixa-me entrar pelo menos nele. Não me mandes lá para o Abismo!Por que nos odeias, ó Jesus, Filho de Deus? Não te basta o que já és? Porque queres mandar em nós? Nós não queremos ser mandados. Por que vieste perseguir-nos, se nós te renegamos? Vai-te embora. Não mandes sobre nós os fogos do Céu! Esses Teus olhos! Quando eles ficarem apagados nós nos riremos... Ah! Não! Mas, nem mesmo assim... Porque Tu nos vences. Sê maldito, Tu e o Pai que te mandou e Aquele que de vós procede e é vós. Aaaaah!”
Esse último grito é realmente espantoso, como o de uma criatura que está sendo degolada, e na qual vai entrando lentamente o ferro homicida, e é causado pelo fato de que Jesus, depois de ter dado muitas vezes a ordem de cessar aquilo, por meio de um comando mental, põe fim as palavras da possessa, tocando com um dedo a fronte da jovenzinha. E aquele grito termina com uma convulsão horrível, e com o fragor da risada de quem sai de um pesadelo, quando o demônio a deixa, gritando:
“Mas eu não vou para longe... Ah! Ah! Ah!”, o que é acompanhado por um estampido como o de um raio, ainda que o céu esteja completamente limpo.
Muitos fogem dali aterrorizados. Outros se aglomeram ainda mais para observarem a jovenzinha, que se acalmou de repente, descansando nos braços dos que a estavam segurando. Fica assim por alguns instantes, e depois abre os olhos, sorri, vê-se entre pessoas que não tem véu sobre o rosto nem sobre a cabeça, e inclina seu rosto, para escondê-lo por baixo do braço que lhe levanta o rosto. Quem está com ela gostaria que ela agradecesse ao Mestre. Mas Ele diz: “Deixai-a em seu pudor. A alma dela já me agradece. Levai-a de novo para casa, para a mãe. É o seu lugar de menina...” e vira as costas para as pessoas, tornando a entrar no Templo, e indo ficar onde estava antes.
“Tu viste, Senhor, como muitos judeus vieram ás nossas costas? Eu reconheci alguns deles... Lá estão eles: são aqueles que nos estavam espiando antes. Olha como estão discutindo entre si...”, diz Pedro.
“Estarão discutindo sobre quem entre eles o diabo entrou. Lá está também Naum, o homem de confiança de Anás. É um tipo idôneo...”, diz Tomé.
“Sim. E tu não viste, porque estavas de costas. Mas o fogo desceu justamente sobre a cabeça dela”, diz André batendo um pouco os dentes. Eu estava perto e fiquei com medo!”
“É verdade. Estavam todos juntos. Mas eu vi o fogo abrir-se sobre nós, e achei que ia morrer. E cheguei a tremer mais foi pelo Mestre. O fogo parecia suspenso sobre a cabeça dele”, diz Mateus.
“Mas, não. Eu o vi sair da menina e explodir em cima do muro do Templo”, replica Levi, o pastor discípulo.
“Não fiqueis discutindo uns com os outros, o fogo não foi para por ninguém em destaque. Foi apenas o sinal de que o demônio havia fugido”, diz Jesus.
“Mas ele disse que não ia para longe!...”, diz André.
“São palavras de demônio... Não devem ser ouvidas. Louvemos pois o Altíssimo por estes três filhos de Abraão, curados no corpo e na alma.”
Nesse meio tempo, muitos judeus, que se desentocaram daqui e dali – mas não faz parte do grupo deles nenhum fariseu – nenhum escriba e nenhum sacerdote – se aproximam de Jesus e o rodearam, e um deles se aproxima mais, e diz: “Grandes coisas Tu fizeste neste dia, obras realmente de profeta, e grande profeta. E os espíritos do Abismo disseram de Ti grandes coisas. Mas as palavras deles não podem ser aceitas, se não forem confirmadas pela tua palavra. Nós estamos assustados por aquelas palavras. Mas também temos medo de algum grande engano, pois é sabido que Belzebu é espírito de mentira. Não quereríamos enganar-nos a nos mesmos, nem ser enganados. Dize-nos então, quem és, pela tua boca de vontade e justiça.”
“E Eu já não vos disse muitas vezes quem Eu sou? Há quase três anos que Eu o venho dizendo e, antes de Mim, já o disse João no Jordão e a voz de Deus dos Céus.”
“É verdade. Mas nós não estávamos aqui nas outras vezes. Nós... Tu, que és justo, deves entender a nossa aflição. Nós quereríamos crer em Ti como Messias. Mas muitas vezes o povo de Deus já foi enganado por falsos Cristos. Consola o nosso coração, que espera ouvir, e está pronto a ouvir com atenção tua palavra segura, e nós te adoraremos.”
Jesus olha para eles muito sério. Seus olhos parecem perfurar as carnes e pôr a nu os corações. Depois diz: “Na verdade, muitas vezes os homens sabem dizer mentiras melhor do que Satanás. Não. Vós não me adorareis nunca. Seja lá o que for que Eu vos disser. E, ainda que chegásseis a fazê-lo, a quem é que adoraríeis?”
“A quem? Ora! Ao nosso Messias!”
“Seríeis capazes de fazer isso? Para vós quem é o Messias? Respondei, para que Eu fique sabendo o que valeis.”
“O Messias? Mas o Messias é aquele que, mandado por Deus, reunirá o disperso Israel, e fará dele um povo triunfante, sob cujo poder estará o mundo. E então? Tu não sabes o que é o Messias?”
“Eu o sei, e vós não o sabeis. Pois para vós será um homem que, superando Davi, Salomão e Judas Macabeu, fará de Israel a Nação rainha do mundo.”
“É isso. Deus o prometeu. Toda vingança, toda glória, toda reivindicação virá do Messias prometido.”
“Foi dito: “Não adorarás a outro, mas só ao Senhor teu Deus.” Por quê, então, vós me adoraríeis, se em mim só poderíeis ver o Homem-Messias?”
“E que mais devemos ver em Ti?”
“Que mais? E é com estes sentimentos que me vindes interrogar? Raça de víboras traiçoeiras e venenosas! E sacrílegas também. Porque se em Mim não pudésseis ver mais do que um messias humano, e me adorásseis, seríeis idólatras. Somente a Deus se pode adorar. E em verdade Eu vos digo que vós estais fingindo estar numa missão, tendo os poderes e os encargos que vós, privados de espírito e de sabedoria, imagineis ter. O Messias não vem para dar ao seu povo um reino como vós pensais, não vem para exercer vingança sobre outros poderosos. O reino dele não é deste mundo, e o seu poder supera todos os poderes limitados do mundo.”
“Tu nos estás humilhando, Mestre. Se Tu és Mestre, e nós somos ignorantes, por que não nos queres instruir?”
“Há três anos que Eu venho fazendo isso, e vós ficais sempre nas trevas, porque rejeitais a Luz.”
“É verdade. Talvez seja verdade. Mas o que aconteceu no passado pode não acontecer no futuro. E, então? Tu que tens piedade dos publicanos e das meretrizes, e que absolves os pecadores, queres ser sem piedade para conosco, só porque somos de cerviz dura e achamos difícil compreender quem és Tu?”
“Não é que vós acheis difícil o que não quereis entender. Ser hebetado não seria culpa. Deus tem tantas luzes, que poderia fazer brilhar a luz, até na inteligência mais obtusa, mas cheia de boa vontade. E esta em vós está faltando. Ao contrário, vossa vontade é até o oposto dessa. É por isso que não compreendeis quem Eu sou.”
“Será como Tu dizes. Tu estás vendo como somos humildes. Mas nós te pedimos em nome de Deus. Responde as nossas perguntas. Não nos deixes mais suspensos. Até quando o nosso espírito deverá ficar na incerteza? Se Tu és o Cristo, dize-o a nós abertamente.”
“Eu já vo-lo disse. Nas casas, nas praças, pelas estradas, pelos povoados e sobre os montes, ao longo dos rios, á frente do mar, diante dos desertos, no Templo, nas sinagogas, nas feiras. Eu já vo-lo disse, e vós não credes. Não há nenhum ponto de Israel que não tenha ouvido a minha voz. Até os lugares que trazem abusivamente o nome de Israel há séculos, mas que estão separados do Templo, até os lugares que deram o nome a esta nossa terra, mas que de dominadores se tornaram súbditos, e nunca se livraram completamente de seus erros, para virem a Verdade, até a Siro-Fenícia, evitada pelos Rabis como terra de pecado, ouviram a minha voz e conheceram o meu ser. Eu vo-lo disse, e não credes em minhas palavras. Eu agi, e as minhas ações não prestastes atenção, com boa intenção. Se o tivesses feito com a reta intenção e respeito de Mim, teríeis chegado a fé em Mim, porque as obras que Eu faço em nome do Pai dão testemunho de Mim. Aqueles de boa vontade que vieram acompanhar-me, porque me reconheceram como Pastor, acreditaram em minhas palavras e no testemunho que dão as minhas obras. E então? Credes talvez que o que Eu faço não tenha sido feito para a vossa utilidade? E de utilidade para todas as criaturas? Desenganai-vos. E não queirais ficar pensando que o que é útil já é dado pela saúde para cada um em particular, apenas readquirida pelo meu poder, ou pela libertação de uma possessão, ou do pecado deste ou daquele. Pois esta é uma utilidade circunscrita ao indivíduo. É muito pouca coisa, comparada com o poder que foi usado, e com uma fonte sobrenatural, e mais do que sobrenatural: Divina, que é usada por ser a única utilidade. Eis aí a utilidade coletiva nas obras que Eu faço. A utilidade para tirar todas as dúvidas daqueles que não têm certeza, e convencer os que lhe são contrários, além de reforçar sempre mais a fé dos que crêem. É para essa utilidade coletiva, a favor de todos os homens do presente e do futuro, pois as minhas obras testemunharão sobre Mim diante dos futuros e os convencerão a respeito de Mim, e que o meu Pai me dá poder para Eu fazer o que faço. Lembrai-vos sempre disso. Meditai nesta verdade.”
Jesus para por um momento. Fixa seu olhar sobre um judeu, que está de cabeça baixa, e depois diz: “Tu, que estás pensando assim, tu, esse da veste da cor da azeitona madura, e estás te perguntando se também o Satanás terá um fim bom. Não sejas tolo para seres contra Mim, e ficares procurando erro em minhas palavras. Eu te respondo que Satanás não é obra de Deus, mas da livre vontade do anjo rebelde. Deus o tinha feito seu glorioso ministro, e assim o havia criado para um fim bom. Eis. Agora, tu, falando com o teu próprio eu, dizes: “Então, Deus é estulto, por ter dado a glória a um futuro rebelde, e confiado seus planos a um desobediente”. Eu te respondo: “Deus não é estulto, mas perfeito em suas ações e pensamentos. E é perfeitíssimo. As criaturas são imperfeitas, até as mais perfeitas. Sempre há nelas um ponto de inferioridade, em comparação com Deus. Mas Deus, que as ama, concedeu às criaturas o livre arbítrio, para que , através dele, a criatura se complete nas virtudes e se faça por isso semelhante a Deus, seu Pai. E ainda te digo, ó irrisor e astuto procurador de pecado em minhas palavras, que, do Mal que voluntariamente te formou. Deus ainda faz sair um fim bom que é o de servir para fazer dos homens possuidores de uma glória merecida. As vitórias sobre o Mal são a coroa dos eleitos. Se o Mal não pudesse suscitar uma conseqüência boa para os homens dispostos e de boa vontade, Deus o teria destruído, Porque nada do que existe em toda a Criação deve estar totalmente privado de um incentivo bom ou bons, por conseqüência.
Não respondes? Será duro para ti teres que proclamar que Eu li em teu coração e que venci as ilações injustas de teu pensamento tortuoso? Eu não te forçarei a fazê-lo. Mas, á vista de todos, Eu te deixarei com a tua soberba. Eu não exijo que tu me proclames vitorioso. Mas, quando estiveres sozinho com estes, semelhantes a ti, e com aqueles que vos mandaram, então, confessa, tu também, que Jesus de Nazaré, leu os pensamentos de tua mente, e estrangulou as tuas objeções na garganta, somente com a arma de sua palavra de verdade.
Mas abandonemos esta interrogação pessoal, e voltemos aos muitos que me estão ouvindo. Se apenas um só de todos eles, pelas minhas palavras, convertesse o seu espírito para a Luz, estaria recompensado o meu cansaço por falar a pedras, ou melhor, a sepulcros cheios de víboras.
Eu estava dizendo que os que me amam me reconheceram como Pastor, pelas minhas palavras e minhas obras. Mas vós não credes, não podeis crer, porque não sois das minhas ovelhinhas.
Que é que vós sois? Eu vo-lo pergunto. Perguntai-o ao interior de vossos corações. Não sejais estultos. Podeis conhecer-vos pelo que sois. Basta que escuteis a voz de vossa alma, que não está tranqüila por continuar a ofender o Filho daquele que a criou. Vós mesmos conhecendo o que sois, não o direis. Não sois nem humildes, nem sinceros. Mas Eu vos digo o que sois. Sois em parte uns lobos, e, em parte uns cabritos selvagens, mas ninguém de vós, apesar da pele de cordeiro, que levais para fingir-vos de cordeiros, passais por verdadeiros cordeiros. Por baixo do velo macio e branco, tendes todas as cores ferozes, e chifres pontudos, dentes e garras de bode ou de fera, e quereis ficar assim, e vos comprazeis ainda por serdes assim, e sonhais com ferocidade e rebelião. Por isso, vós não me podeis amar, e não podeis acompanhar-me e compreender-me.
Se entrais no rebanho, é para fazer-lhe mal, ou causar sofrimento, ou levar para o meio dele a desordem. As minhas ovelhas, têm medo de vós... Se elas fossem como vós sois, deveriam odiar-vos. Mas elas não sabem odiar. São os cordeirinhos do Príncipe da Paz, do Mestre do Amor, do Pastor misericordioso. Eu não vos odiarei nunca. Deixo para vós o ódio, que é o mau fruto da tríplice concupiscência, o eu desencadeado no animal homem, que vive esquecido de que é também espírito, e não só carne. Eu fico com o que é meu: o Amor. E isso é o que Eu ensino aos meus cordeirinhos, e e ofereço a vós, para vos tornardes bons. Se vos tornásseis bons, então me entenderíeis, e vos tornaríeis do meu rebanho, semelhantes aos outros que estão nele. Nós nos amaríamos. Eu e as minhas ovelhas nos amamos. Elas me escutam, reconhecem a minha voz.
Vós não sabeis o que é em verdade conhecer a minha voz e não ter dúvidas sobre sua origem e saber distingui-la entre mil outras vozes de falsos profetas, como se fosse a verdadeira voz vinda do Céu. Agora e sempre, e até aqueles que se crêem, e que em parte o são, seguidores da sabedoria, haverá muitos que não saberão distinguir a minha voz das outras vozes que falarão de Deus, mais ou menos com justiça, mas que serão todas elas vozes inferiores a minha...”
“Dizeis sempre que em breve te vais embora, e depois queres dizer que falarás sempre? Se tiveres ido embora, não falarás sempre”, diz um judeu, com um tom de desdém, como se falasse a um débil mental.
...”Eu falarei sempre, a fim de que o mundo não se torne todo idólatra. E falarei aos meus escolhidos, para repetir-vos as minhas palavras. O Espírito de Deus falará, e eles entenderão a palavra, a frase, o modo, o lugar, o como, o instrumento, através dos quais a palavra fala, enquanto que os meus eleitos não se perderão nesses estudos inúteis, mas escutarão, atentos só ao Amor, e compreenderão, porque será o Amor quem vos falará. Eles saberão distinguir as ornadas páginas dos doutos ou as mentirosas páginas dos falsos profetas, dos escribas, que ensinam doutrinas inquinadas, ou ensinam o que não praticam, das palavras simples e verdadeiras, profundas, que por Mim serão proferidas. Mas o mundo as odiará por isso, porque o mundo me odeia a Mim, a Luz, e odeia os filhos da Luz. Esse mundo tenebroso, que ama as trevas, apropriadas para os seus pecados.
As minhas ovelhas me conhecem e me conhecerão a Mim, e me seguirão sempre, até pelos caminhos de sangue e de dor, que Eu percorrerei à frente delas, e que elas percorrerão depois de Mim. Os caminhos que levam as almas a sabedoria, os caminhos que o sangue e o pranto dos perseguidos, porque ensinam a justiça e os tornam luminosos para que resplendam no meio da escuridão das fumaças do mundo e de Satanás, e sejam como fulgores de estrelas para conduzir quem procura o Caminho, a Verdade e a Vida, mas não encontra quem a tudo isso os conduza. Porque disso é que precisam as almas: de quem as conduza à Vida, à Verdade, ao Caminho certo.
Deus é piedoso para com as almas que procuram e não acham, não por culpa delas, mas pela preguiça dos pastores ídolos.
Deus é piedoso para com as almas que, deixadas a si mesmas, se perdem, e são acolhidas pelos ministros de Lúcifer, prontos para acolher aos desviados e fazer deles prosélitos de sua doutrinas.
Deus é piedoso para com aqueles que caem no engano, somente porque os rabis de Deus, os assim chamados rabis de Deus, se desinteressaram por elas.
Deus é piedoso para com todos esses que vão ao encontro do desconforto, das escuridões, da morte por culpa dos falsos mestres, que de mestres não tem mais do que a veste e o orgulho de serem assim chamados.
E, por essas pobres almas, como mandou os profetas para o seu povo, como mandou-Me a Mim para todo o mundo, assim, depois de Mim mandará os servos da Palavra, da Verdade e do Amor, para repetirem as minhas palavras. São as minhas palavras as que dão a Vida. De tal modo que as minhas ovelhas de agora e de depois, terão a Vida que Eu lhes darei, através da minha palavra que é Vida eterna para os que a acolhem, e não perecerão nunca mais, e ninguém os arrancará de minhas mãos.”
“Nós nunca rejeitamos as palavras dos verdadeiros profetas. Sempre respeitamos o João, o último profeta”, responde com ira um dos judeus, e os seus companheiros lhe fazem eco.
“Ele morreu em tempo, para não ser mal visto por vós, e ser perseguido também por vós. Se ele ainda estivesse entre os vivos, suas palavras “não é lícito”, que ele disse referindo-se a um incesto carnal, ele o diria também a vós, que praticais um adultério espiritual, fornicando com Satanás contra Deus. E vós o mataríeis, como tendes a intenção de me matar.”
Os judeus fazem um tumulto, cheios de ira, e já prontos a atacá-lo, cansados como estão, por precisarem fingir-se de mansos. Mas Jesus não se preocupa com isso. Levanta a voz para dominar o tumulto, e grita: “E vós me perguntastes quem sou Eu, ó hipócritas? Dizíeis querer saber para ficardes seguros? E agora dizeis que João foi o último profeta. E assim duas vezes vos condenais pelo pecado de mentira. Uma vez, porque dizeis que nunca rejeitastes as palavras dos verdadeiros profetas. E na outra, dizendo que João é o último profeta e que vós credes nos verdadeiros profetas, não aceitais que Eu seja também profeta, e verdadeiro profeta. Bocas mentirosas! Corações enganadores! Sim, em verdade, Eu aqui na casa de meu Pai, proclamo que sou mais do que profeta. Eu tenho o que o meu Pai me deu. E o que o Pai me deu é mais precioso do que tudo e do que todos, pois é uma coisa sobre a qual a vontade, e o poder dos homens não pode pôr suas mãos rapinantes. Eu tenho o que Deus me deu e que, mesmo estando em Mim, está sempre em Deus, e ninguém pode arrancá-lo das mãos de meu Pai nem de Mim, porque é a mesma a nossa Natureza Divina. Eu e o Pai somos Um.”
“Ah! Que horror! Blasfêmia! Anátema!” A gritaria dos judeus ressoa no Templo e mais uma vez as pedras usadas pelos cambistas e pelos vendedores de animais para conservarem em ordem os seus recintos, transformam-se em provisão para os que estão procurando boas para atacar.
Mas Jesus se ergue, com os braços cruzados sobre o peito. Ele subiu sobre uma cadeira de pedra, a fim de ficar mais alto e visível, e de lá domina tudo com os raios de seus olhos de safira. Domina e desfere raios. E está tão majestoso, que os para lisa. Em vez de jogar as pedras, jogam-nas fora, ou seguram na mão, mas já sem terem a ousadia de jogá-las contra Ele. Até a gritaria se acalma, em um estranho desânimo. É o próprio Deus que cintila no Cristo. E quando Deus cintila assim, até o homem mais insolente torna-se pequeno e espavorido.
...Jesus fica assim alguns minutos. Depois começa de novo a falar para esta multidão vendida e vil, que perdeu toda a sua arrogância, somente por ter visto um relâmpago divino. “Pois bem. Que quereis fazer? Vós me havíeis perguntado quem Eu era. E Eu vo-lo disse. Vós ficastes furiosos. Eu vos fiz lembrar de tudo o que Eu fiz, fiz-vos ver e recordar muitas obras que provieram de meu Pai e foram feitas com o poder que Me vem de meu Pai. Por qual delas é que me apedrejais? Por haver ensinado a justiça? Por ter trazido aos homens a Boa Nova? Por ter vindo convidar-vos para o Reino de Deus? Por ter curado os vossos doentes, e dado a vista aos vossos cegos, dado o movimento aos paralíticos, a palavra aos mudos, a liberdade aos possessos, a ressurreição aos mortos, ter feito bem aos pobres, perdoado aos pecadores, amado a todos, mesmo aos que me odeiam, como vós e os que vos mandaram? Por qual então, dessas obras é que me quereis apedrejar?”
“Não é pelas boas obras que fizeste que te apedrejamos, mas pela tua blasfêmia, porque Tu, sendo homem te fazes Deus.”
“Não está escrito na vossa Lei: “Eu disse: vós sois deuses e filhos do Altíssimo?” Pois bem. Se Deus chamou de “deuses” a quem Ele falou, dando-lhes um mandamento, o de viver de tal modo que a semelhança e a imagem de Deus, que está no homem, apareça claramente, e o homem não seja um demônio, nem um animal. Se “deuses” são chamados os homens na escritura, que é toda inspirada por Deus, e por isso a escritura não pode ser alterada nem anulada, segundo o prazer ou o interesse do homem, por que me dizeis que Eu estou blasfemando, Eu a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, só porque Eu digo: Sou o Filho de Deus? Se Eu não fizesse as obras do meu Pai, teríeis razão para não crerdes em Mim. Mas Eu as faço. E vós não quereis acreditar em Mim. Crede, então, pelo menos nessas obras a fim de que saibais e reconheçais que o Pai está em Mim e que Eu estou no Pai.”
A tempestade dos gritos e das violências recomeça mais forte do que antes. De um dos terraços do Templo, sobre o qual certamente estavam escutando, escondidos os sacerdotes, os escribas e os fariseus grasnam muitas vezes: “Agarrai esse blasfemador. Sua culpa já se tornou pública. Todos nós já ouvimos. Morte ao blasfemador, que se proclama Deus. Dai-lhe o mesmo castigo que foi dado ao filho da Salumit de Dabri. Que seja levado para a fora da cidade e apedrejado. Fazer isso é direito nosso! Está escrito: “O blasfemador seja condenado à morte.”
...Eu perdi completamente de vista a Jesus. Não poderia nem dizer para onde Ele foi, nem por qual porta saiu.

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta.)

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