O BOM USO DAS RIQUEZAS.
“ A paz esteja com todos vós! "
Ontem Eu falei da oração, do juramento, do
jejum. Hoje quero instruir-vos sobre outras perfeições. Elas também são oração,
confiança, sinceridade, amor, religião. A primeira, de que hoje falo é sobre o
justo uso das riquezas, a serem transformadas pela boa vontade do servo fiel em
outros tantos tesouros no Céu. Os tesouros da terra não duram. Mas os tesouros
do Céu são eternos. Tendes em vós amor ao que é vosso? Ficais tristes por
terdes que morrer, e de não poderdes mais cuidar de vossos bens, e de terdes
que deixá-los? E, então, transportai-os para o Céu!
Vós dizeis: "No Céu não entra o que é da
terra, e Tu nos ensinas que o dinheiro é a coisa mais suja da terra. Como,
então poderemos transportá-lo para o Céu?" Não. Não podeis transportar as
moedas, que são coisas materiais, para o Reino, onde tudo é espiritual. Mas
podeis levar convosco o fruto das moedas. Quando dais a um banqueiro o vosso
ouro, para que é que lho entregais? Para que o faça produzir frutos. Certamente
não quereis privar-vos dele, nem mesmo momentaneamente, nem quereis que o
banqueiro vo-lo entregue tal qual o recebeu. Mas vós quereis que sobre dez
talentos ele vos entregue dez mais um, ou até mais. E, se assim for, ficais
felizes, e falais bem do banqueiro. Se não for assim, vós dizeis: "Ele e
um homem honesto, mas é um tolo." E, se acontecer que, em vez de dez mais
um, ele vos entregue nove, dizendo: "Eu perdi o resto", vos o
denunciais, e o pondes na cadeia. O que é o fruto do dinheiro? Por acaso o
banqueiro semeia o vosso dinheiro, ou o rega, para fazê-lo crescer? Não. O
fruto provem de um acertado manejo dos negócios, de tal modo que, por meio de
hipotecas, ou empréstimos a juros, o dinheiro vá aumentando do ágio justamente
pedido pelo favor do ouro que foi emprestado. Não é assim? Pois bem.
Então ouvi: Deus vos dá riquezas terrenas. A
alguns dá muitas, a outros dá somente as de que eles precisam para viver, e vos
diz: "Agora é contigo. Eu tas dei. Usa delas como de um meio para chegares
a um fim como o meu amor o deseja para o teu bem. Eu as confio a ti. Mas não
para que delas faças um mal. Pela estima que tenho por ti, por reconheceres os
meus dons, faze que frutifiquem para a verdadeira Pátria os teus bens. E aí
está o método para se chegar a esse fim. Não queirais acumular os vossos
tesouros na terra, vivendo por eles, sendo cruéis por causa deles, sendo
malditos pelo próximo e por Deus por causa deles. Não vale a pena. Eles estão
sempre sem segurança aqui em baixo. Os ladrões sempre podem roubar-vos. O fogo
pode destruir vossas casas. As doenças nas plantas e nos rebanhos podem acabar
com o vosso gado e com os vossos pomares. Quantas coisas perseguem os vossos
bens. Ainda que eles sejam imóveis e inatacáveis, como as casas e o ouro, podem
ainda estar sujeitos a se estragarem em sua natureza, como todos os seres que
vivem, os vegetais e os animais. E, por mais que sejam estofos preciosos, estão
sujeitos à desvalorização.
Um raio que cai nas casas, o fogo e a água. Os
ladrões, a ferrugem, a seca, os roedores, os insetos nas lavouras; a vertigem
dos cavalos, as febres, o desconjuntamentos das pernas e a peste dos animais,
tinhas e os camundongos nos tecidos preciosos e nos móveis de estimação; a
erosão produzida pela oxidação nas vasilhas, nos lustres e grades artísticas;
tudo, tudo está sujeito a estragar-se. Mas, se vós, de todos estes bens terrenos
fazeis um bem sobrenatural, logo ele fica a salvo de todos os estragos do
tempo, dos homens e das intempéries. Fazei para vós bolsas no Céu, lá onde não
entram os ladrões, e onde não acontecem desventuras. Trabalhai com o amor
misericordioso para com todas as misérias da terra. Acariciai, sim, as vossas
moedas, e até beijai-as, se quiserdes, alegrar-vos com as colheitas que
melhoram, com os vinhedos carregados de cachos, com as Oliveiras que se
inclinam sob o peso de numerosíssimas azeitonas, com as ovelhas de seios
fecundos e mamas cheias. Fazei tudo isso. Mas, não de um modo estéril, não de
um modo humano. Fazei-o com amor e admiração, com gozo e com um cálculo
sobrenatural. "Obrigado, meu Deus, por estas moedas, colheitas, plantas,
por estas ovelhas, por estes negócios. Obrigado,
ovelhas, plantas, prados, negócios, que
me servis tão bem. Sede benditos todos, porque por tua bondade, ó Eterno, e por
vossa bondade, ó coisas, e que eu posso fazer tanto bem a quem tem fome, a quem
está nu, a quem não tem casa, a quem está doente, sozinho....
No ano passado eu fiz por dez. Neste ano,
porque, ainda que eu tenha dado muito em esmolas, tenho mais dinheiro e mais
gordas foram as minhas colheitas e mais numerosos os meus rebanhos, eu, então
darei duas, três vezes o que eu dei no ano passado. Porque todos, até os
privados de seus próprios bens, participem da minha alegria, e possam gozar e
bendizer comigo a Ti, Senhor Eterno." Esta é a oração do justo. A oração
que unida à ação, transporta os vossos bens para o Céu, e, não só vo-los
conserva para sempre, mas vos faz encontrá-los, aumentados pelos frutos santos
do amor. Tende o vosso tesouro no Céu, para que lá tenhais o vosso coração
acima e além do perigo, que não somente o ouro, as casas os campos e os
rebanhos possam passar por desventuras, mas que o vosso coração seja insidiado
e despojado, ou queimado e morto pelo espírito do mundo. Se assim fizerdes,
tereis o vosso tesouro em vosso coração, porque tereis a Deus em vós, até o dia
feliz no qual estareis nele. Mas, para não diminuir o fruto da caridade, tomai
cuidado para que sejais caridosos, com um espírito sobrenatural. Como Eu disse
da oração e do jejum, assim digo da beneficência e de todas as outras boas
obras que possais fazer.
Conservai o bem que fazeis longe
da violação pela sensualidade do mundo, conservai-o virgem dos louvores
humanos. Não profaneis a rosa perfumada da vossa caridade e das vossas boas
obras, - verdadeiro turíbulo de perfumes agradáveis ao Senhor. O que profana o
bem e o espírito de soberba, o desejo de serdes vistos fazendo o bem e a
procura de elogios. A rosa da caridade fica, então, babada e corroída pelas
grandes lesmas viscosas do orgulho satisfeito, e no turíbulo caem palhas
fedorentas da liteira na qual o soberbo se pavoneia, como um animal bem
alimentado. Oh! Aquelas beneficências feitas só para dar que falar! Pois
melhor, melhor mesmo, teria sido não fazê-las! Quem não as faz, peca por dureza
de coração. E quem as faz, querendo que seja conhecida a importância que deu e
o nome de quem a recebeu, está pedindo a esmola de um louvor, e peca por soberba, tornando conhecida a sua oferta,
e é o mesmo que dizer: "Estais vendo quanto eu posso?"; peca por
falta de caridade, porque humilha o beneficiado, tornando conhecido o seu nome;
e peca por avareza espiritual, querendo acumular elogios humanos... que são
palhas. Palhas, nada mais do que palhas.
Fazei que vos louve Deus com os
seus anjos. Vós, quando derdes esmola, não fiqueis tocando a trombeta em vossa
frente, para chamar a atenção dos que estão passando e para serdes elogiados,
como os hipócritas que querem ser aplaudidos pelos homens e por isso só dão
esmolas onde possam ser vistos por muitos. Também estes já receberam a sua
recompensa, e não receberão outra de Deus. Que vós não incorrais na mesma culpa
e na mesma presunção.
Mas, quando derdes esmola, que não saiba a
vossa mão esquerda o que a direita está fazendo, porque escondida e discreta há
de ser a vossa esmola, e, depois esquecei-vos dela. Não fiqueis a olhar
repetidamente para vós mesmos, depois de terdes feito aquele ato, inchando-vos
com ele, como faz o sapo, que fica se olhando nas águas do brejo, com seus
olhos anuviados, e que, vendo refletidos na água parada as nuvens, as árvores e
o carro parado perto da margem, e, vendo-se tão pequeno, diante de todas
aquelas coisas maiores do que ele, começa a encher-se de ar, até estourar.
Também a caridade que fizestes não é nada, em comparação com a infinita
Caridade de Deus e, se quiserdes tornar-vos semelhante a Ele e tornar grande a
vossa pequena caridade, e maior, para igualar a dele, ir-vos-íeis enchendo do
vento do orgulho, e acabaríeis perecendo. Esquecei-vos disso. Até do ato em si
mesmo, esquecei-vos. Estarvos-à sempre
presente uma luz, uma voz, um mel, e vos tornará luminoso o dia, doce e feliz o
dia. Porque aquela luz será o sorriso de Deus, aquele mel será a paz
espiritual, que também é Deus, e aquela voz é a voz de Deus-Pai que vos dirá:
"Obrigado". Ele vê o mal oculto e vê o bem escondido, e vos dará a
recompensa...
... Perdoai, como Eu perdôo.
Porque, se perdoardes aos homens as suas faltas, também o vosso Pai do Céu vos
perdoará os vossos pecados. Mas, se guardardes rancor e não perdoardes aos
homens, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas faltas. E todos precisam
do perdão.
Eu vos estava dizendo que Deus
vos dará recompensa, mesmo se vós não lhe pedirdes um prêmio pelo bem que
fizestes. Mas vós não façais o bem para terdes recompensa, para terdes uma
fiança no dia de amanhã. Vós não façais o bem sob medida nem retidos pelo medo,
dizendo: "E depois, ainda sobrará para mim ? E, se não sobrar, quem é que
me ajudará? Será que encontrarei quem faça por mim o que estou fazendo pelo
outro? E, quando eu não tiver mais nada para dar, serei ainda amado?"
Olhai bem: Eu tenho amigos
poderosos entre os ricos, e amigos entre os miseráveis da terra. E, em verdade,
Eu vos digo que não são os amigos poderosos os mais amados. Eu vou a eles, não
por amor a Mim, ou por ser uma vantagem para Mim. Mas, sim, porque deles eu
posso receber muito para quem não tem nada. Eu sou pobre. Não possuo nada.
Gostaria de ter todos os tesouros do mundo e transformá-los em pães para quem
está com fome, em casas para quem está sem casa, em roupas para quem está nu,
em remédios para quem está doente. Vós me direis: "Mas Tu podes
curar". Sim. Isto e outras coisas Eu posso. Mas nem sempre há fé nos
outros, e Eu não posso fazer o que faria e quereria fazer, se encontrasse nos
corações alguma fé em Mim. Eu quereria
fazer o bem também a esses que não têm fé. E, visto que eles não pedem o
milagre ao Filho do homem, eu quereria, de homem para homem, prestar-lhes
socorro. Mas Eu não tenho nada. Por isso, estendo a mão a quem tem e peço:
"Faze-me uma caridade, em nome de Deus" Aí está porque é que tenho
muitos amigos lá no alto.
Amanhã, quando Eu não estiver mais na terra,
aí ainda estarão os pobres, e Eu já não estarei aí nem para realizar milagres
para quem tem fé, nem para dar esmolas e assim levá-los à fé. Mas, então, os
meus amigos ricos terão aprendido, pois estiveram em contato comigo, como é que
se faz a beneficência, e os meus apóstolos terão, também pelo contato que
tiveram comigo, aprendido a pedir esmolas por amor dos irmãos. E assim os
pobres serão sempre socorridos. Pois bem. Ontem Eu, de um que não tem nada,
recebi mais do que tudo que me foi dado por todos aqueles que têm. É um amigo
tão pobre como Eu. Ele me deu uma coisa que não se compra com nenhuma moeda, e
que me fez feliz, fazendo-me lembrar das horas serenas de minha meninice e
juventude, quando, cada tarde, sobre minha cabeça se impunham as mãos do Justo,
e Eu ia descansar com sua bênção, que ficava guardando o meu sono. Ontem este
meu amigo pobre me fez um rei com a sua bênção. Vede que isto que ele me deu
nenhum dos meus amigos ricos nunca me deu. Por isso, não tenhais medo. Mesmo se
não tiverdes mais o poder do dinheiro, contanto que tenhais amor e santidade,
podereis fazer o bem a quem é pobre e está cansado ou aflito. E por isso vos digo: não fiqueis preocupados
demais, por medo de terdes pouco. Vós tereis sempre o necessário. Não sejais
preocupados demais, pensando no futuro. Ninguém sabe quanto de futuro tem ainda
à sua frente. Não fiqueis pensando no que havereis de comer para sustentar-vos
na vida, nem com que vos vestireis para conservar fluente o vosso corpo. A vida
do vosso espírito é bem mais preciosa do que o ventre e os membros, vale muito
mais do que o alimento e as vestes. E o vosso Pai sabe disso. Que vós também o
saibais.
Olhai as aves do céu: não
semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros e, no entanto, não morrem de fome,
porque o Pai dos Céus as nutre. Vós, homens, criaturas prediletas do Pai,
valeis muito mais do que elas. Quem de vós, com toda a sua inteligência, será
capaz de aumentar um côvado em vossa altura? Se não conseguis aumentar a vossa
altura nem um palmo, como podeis pensar em mudar as vossas condições futuras,
aumentando as vossas riquezas, para garantir para vós uma longa e próspera
velhice? Podeis dizer à morte: "Tu só me virás buscar, quando eu
quiser"? Não o podeis. Para que então, viverdes preocupados com o amanhã?
E, por que ficardes tristes por medo de ficar sem com que vestir-vos?
Olhai como crescem os lírios do campo: eles não sofrem cansaço, não
fiam, não vão aos vendedores de tecidos fazer suas compras. E, no entanto, Eu
vos asseguro que nem mesmo Salomão, com toda a sua glória, nunca se vestiu como
um deles. Ora, se Deus veste assim a erva, que hoje existe, e amanhã já vai
servir para aquecer o forno, ou para a pastagem do rebanho, e termina sempre virando
cinzas, ou esterco, quanto mais não proverá Ele para vós, que sois seus filhos?
Não sejais pessoas de pouca fé. Não vos
angustieis, porque o futuro é incerto, nem fiqueis dizendo: "Quando eu
ficar velho, o que é que vou comer? O que é que vou beber? Com que me vou
vestir?" Deixai essas preocupações para os pagãos, que não tem a sublime
certeza da paternidade divina. Vós a tendes e sabeis que o Pai conhece as
vossas necessidades, e vos ama. Confiai, pois, nele. Procurai primeiro as
coisas verdadeiramente necessárias: a fé, a bondade, a caridade, a humildade, a
misericórdia, a pureza, a justiça, a mansidão, as três e as quatro virtudes
principais, e todas, todas as outras também, de modo que possais ser amigos de Deus
e ter direito ao seu Reino. Eu vos asseguro que tudo mais vos será dado de
acréscimo, sem que vós o pesais. Não há rico mais rico do que o santo e seguro
mais seguro do que ele. Deus está com o santo. E o santo está com Deus. Para o
seu corpo ele não pede e Deus o provê do necessário. Mas ele trabalha para o
seu espírito, e a ele Deus se dá a Si Mesmo aqui neste mundo, e lhe dá o
Paraíso depois desta vida. Não fiqueis sofrendo por uma coisa que não merece o
vosso sofrimento. Afligi-vos, sim, por serdes imperfeitos, mas não por terdes
poucos bens terrenos. Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã
pensará por si mesmo, e vós pensareis nele quando já o estiverdes vivendo. Por
que pensar nele desde hoje? A vida já não está bem cheia das lembranças tristes
de ontem e dos pensamentos desagradáveis de hoje, para sentirdes ainda
necessidade de viver com o pesadelo de ficar pensando como será o dia de
amanhã? Deixai para cada dia os seus problemas! Existirão sempre mais
sofrimentos, do que nós quereríamos nesta vida, sem que fiquemos precisando
aumentar os sofrimentos presentes com o pensamento dos futuros! Dizei sempre a
grande palavra de Deus: "Hoje".
Sede seus filhos, feitos à sua semelhança. Dizei, pois com Ele:
"Hoje".
E hoje Eu vos dou a minha benção. Que ela vos
acompanhe até o começo do novo hoje, isto é, do amanhã, e então Eu vos darei de
novo a paz em nome de Deus.
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vol 3, pgs 107,108,109,110,111,112,113,114,115)
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