O AMOR ANDOU NA TERRA, E SEU NOME É JESUS DE NAZARÉ.
E agora, ide dar comida ao vosso corpo, depois
de terdes nutrido a vossa alma. Aqueles dois pobrezinhos fiquem conosco. Eles
serão os hóspedes benditos, que darão sabor ao nosso pão. A paz esteja convosco.
" E os dois pobrezinhos ficam. São uma mulher muito magra e um velho já
bem velho. Mas eles não estão juntos. Estavam ali por acaso, reunidos com os
outros, e tinham ficado em um canto, deprimidos, estendendo inutilmente suas
mãos aos que passavam diante deles. Jesus vai diretamente a eles, que não têm
coragem de ir para a frente, e os toma pelas mãos, levando-os para o centro do
grupo dos discípulos, para debaixo de uma tenda que Pedro ergueu num canto, e
sob a qual eles talvez possam abrigar-se de noite e fazer suas reuniões nas
horas mais quentes do dia. É um galpão coberto de folhagem e de... capas.
..."Aqui está o pai, e aqui está uma
irmã. Trazei tudo o que temos. Enquanto vamos tomar a nossa refeição, ouviremos
a história deles". E, pessoalmente, Jesus vai servindo aos dois, que estão
envergonhados, e vai escutando as lamentações de suas narrações. O velho tinha
ficado sozinho, depois que a filha foi-se embora para longe com seu marido e
esqueceu-se de seu pai. A velha também ficou sozinha, depois que a febre matou
seu marido, e ela também ficou doente. "O mundo nos despreza, porque somos
pobres", diz o velho. Eu vivo pedindo esmolas para ir ajuntando e ter com
que fazer a Páscoa. Estou com oitenta anos. Sempre eu fiz a Páscoa, e esta pode
ser a última vez. Mas não quero ir para o seio de Abraão com nenhum remorso. E,
como eu perdôo à minha filha, assim espero ser perdoado. E quero fazer a minha
Páscoa."
"Longo é o caminho, pai." "Mais
longo é o do Céu, se faltar quanto ao rito."
"Andas sozinho? E se te
sentires mal pelo caminho?"
"O Anjo de Deus me fechará os olhos."
Jesus o acaricia na cabeça trêmula e branca, e pergunta à mulher: "E
tu?" "Eu vou procurando trabalho. Se eu fosse bem alimentada, ficaria
curada dessas febres. E, se ficasse curada, poderia trabalhar até nos trigais.
"
"Crês que só o alimento
te curaria?" "Não. Temos também a Ti... Mas eu sou uma pobre coisa,
uma coisa pobre demais para poder pedir piedade."
"E se Eu te curasse, que quererias
depois?"
"Nada mais. Já teria tido muito mais do
que eu pudesse esperar."
Jesus sorri, e lhe dá um pedaço de pão molhado
em um pouco de água e vinagre, que serve de bebida. A mulher o come sem falar,
e Jesus continua a sorrir. A refeição termina logo. Era tão frugal! Apóstolos e
discípulos vão à procura de sombra pelas encostas, por entre as moitas. Jesus
fica no galpão. O velho encostou na parede forrada de erva e, cansado, pega no
sono. Pouco depois, a mulher, que também se havia afastado para procurar uma
sombra, para lá descansar, vem vindo para Jesus, que lhe sorri para
encorajá-la. Ela vem com timidez e, mesmo assim vem alegre, até chegar perto da
tenda. Depois senta-se vencida pela alegria e dá os últimos passos com rapidez,
deixando-se cair de bruços, com um grito meio sufocado:
"Tu me curaste! Bendito! É a hora do
grande calafrio e eu não o tenho mais. Oh!" e beija os pés de Jesus.
"Tens certeza de que estás curada? Eu não te falei isto. Pode ter sido um
acaso...". "Oh! Não! Agora compreendo o teu sorriso, quando me deste
aquele pão. O teu poder penetrou em mim com aquele pedaço. Eu nada tenho para
dar-te em troca, a não ser o meu coração. Manda à tua serva, Senhor, e ela te
obedecerá até à morte."
"Sim. Estás vendo aquele velho? Está
sozinho e é um justo. Tu tinhas um marido, e a morte o levou. Ele tinha uma
filha, e o egoísmo Iha tirou. Ele está pior do que tu. Mas não diz imprecações.
E não é justo que fique vivendo sozinho em suas últimas horas. Sê tu para ele
uma filha."
"Sim, meu Senhor."
"Mas, olha bem, que isto significa
trabalhar por dois.
"Agora eu estou forte, e o farei."
Vai, então, até lá, à beira daquele barranco, e dize ao homem, que está
descansando lá, aquele que está vestido de cinzento, que venha até Mim. "
A mulher vai sem demora, e volta com Simão, o Zelotes. "Vem cá, Simão.
Preciso falar-te. E tu, fica esperando aí, mulher." Jesus se afasta a
alguns metros dali. "Achas que Lázaro teria dificuldades em receber mais
uma empregada?"
"Lázaro? Mas eu acho que
ele nem sabe quantos são os seus empregados! Um a mais, um a menos!... Mas quem
é?" "Aquela mulher. Eu a curei e..." "Basta, Mestre. Se Tu
a curaste, é sinal de que a amas. E o que amas para ele é sagrado. Podes deixar
comigo, que eu respondo em lugar dele.
"É verdade. O que Eu amo é sagrado para
Lázaro. Tu disseste bem. E por isso Lázaro se tornará santo, porque, amando o
que Eu amo, amará a perfeição. Eu quero pôr aquele velho na companhia daquela
mulher, e fazer que aquele patriarca faça com alegria a sua última Páscoa. Eu
quero muito bem aos velhos santos e, se lhes posso dar um passamento sereno,
fico feliz." "Tu queres bem também as crianças... "Sim, e aos
doentes..." "E aos que estão chorando..." "E aos que estão
sozinhos... " "Oh! Mestre meu!
Mas, não percebes que queres bem a todos? Até aos teus inimigos?" Eu não
percebo isso, Simão. Amar é a minha natureza.
Olha, o Patriarca está acordando. Vamos
dizer-lhe que ele fará a sua Páscoa com uma filha per to dele, e sem sentir
mais falta de pão." Eles voltam à tenda, onde a mulher os estão esperando,
e vão os três até o velho, que está sentado e amarrando as sandálias. "Que
estás fazendo, pai?" "Vou descer para o vale. Espero encontrar abrigo
para a noite. Amanhã vou pedir esmola pela estrada, e depois descendo, sempre
descendo, dentro de um mês, se eu não morrer, estarei no Templo. "
"Não. " "Não devo ir? Por que?" "Porque o bom Deus não
quer. Não irás sozinho. Esta aqui irá contigo. Ela te levará para onde Eu
disser, e sereis acolhidos, por amor de Mim. Farás a tua Páscoa, mas sem te
cansares. A tua cruz, já a levaste, pai. Deixa-a agora. E recolhe-te em ação de
graças ao bom Deus. "
"Mas, por que?...mas, por que?... eu...
eu não mereço tudo isso... Tu... uma filha... E mais do que se me desses vinte
anos... E para onde, para onde é que me envias?..." O velho está chorando
por detrás da moita de sua grande barba.
"Irás para a casa de Lázaro de Teófilo.
Não sei se o conheces." "Oh! Eu sou dos confins da Síria, e me lembro
de Teófilo. Mas... mas... Oh! Filho bendito de Deus, deixa que eu te
abençoe!" E Jesus, sentado como está na relva, bem na frente do velho, de
fato se curva para deixar que o velho, todo solene, lhe imponha as mãos sobre a
cabeça, trovejando, com sua voz cavernosa de ancião, as palavras da antiga
bênção: "O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor te mostre a sua face e
tenha misericórdia de ti. O Senhor volte o seu rosto para ti e te dê a sua paz.
"
E Jesus, Simão e a mulher respondem juntos:
"E assim seja."
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtotta, Vol 3 pag 96,97,98,99,100,102,102,103,104,105,106,107)
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