A PALAVRA DE DEUS NÃO PRODUZ O MESMO EFEITO EM TODOS OS CORAÇÕES.
Diz Jesus:
"De Cafarnaum até aqui, Eu vim pensando
que palavras vos iria dizer. E encontrei quais eram as mais adequadas, ao
relembrar os fatos desta manha. Vós vistes os três homens que vieram a Mim. Um
veio espontaneamente, outro, porque foi por Mim convidado, e o terceiro, porque
entusiasmou-se de repente. E vistes também que daqueles três Eu fiquei só com
dois. Porque será? Teria Eu visto um traidor no terceiro? Em verdade, não. Mas
vi nele alguém ainda despreparado. Pelas aparências, o que parecia mais
despreparado era esse, que agora está aqui ao meu lado, pois antes estava com a
intenção de ir sepultar o seu pai. Mas é que o mais despreparado era o
terceiro. Este era tão preparado que mesmo sem saber, soube fazer um sacrifício
bem heróico. O heroísmo em seguir a Deus é sempre uma prova de uma forte
preparação espiritual. Isto é o que explica alguns fatos surpreendentes, que
acontecem ao redor de Mim. Os mais preparados para receber Cristo, seja qual
for a sua casta ou cultura, costumam vir a Mim com uma prontidão e uma fé
absolutas. Os menos preparados ficam observando-me, como se Eu fosse um homem
que foge do que é costumeiro ou então me ficam estudando com desconfiança e
curiosidade, ou ainda, me atacam e me denegrecem, acusando-me de várias coisas.
As diversas atitudes tomadas estão na proporção da falta de preparação dos
espíritos. No povo eleito deveriam encontrar-se por toda parte espíritos
prontos para receber este Messias, em cuja espera consumiram-se em desejos os
Patriarcas e os Profetas, este Messias, que finalmente veio, precedido e
acompanhado por todos os sinais que estavam profetizados, este Messias, cuja
figura espiritual se delineia sempre mais clara, por meio dos milagres visíveis
sobre os membros e os elementos e os milagres invisíveis, realizados sobre as
consciências dos que se convertem e sobre os pagãos que se voltam para o
Verdadeiro Deus. Mas assim não é. Pois a prontidão em seguir o Messias é fortemente
obstaculizada, justamente entre os filhos deste povo, e é doloroso dizer-se, o
é tanto mais, quanto mais se sobe por entre as classes mais altas deste mesmo
povo. Eu não digo isto para vos escandalizar. Mas sim, para induzir-vos a rezar
e a refletir. Por que acontece isso? Por que os pagãos e os pecadores procuram
andar mais pelo meu caminho? Por que eles acolhem mais o que Eu digo, e os
outros não? E porque os filhos de Israel estão ancorados, como ostras que
produzem pérolas, no lugar em que nasceram?
Porque estão saturados, empanturrados, obesos
com a sabedoria deles, e não sabem abrir caminho para a minha, jogando fora o
supérfluo, para darem lugar ao necessário. Os outros não tem esta escravidão.
São eles pobres pagãos, ou pobres pecadores, ainda desancorados como barcos à
deriva, são pobres que não possuem tesouros próprios, mas somente fardos de
erros ou de pecados, dos quais se despojam com alegria logo que conseguem
compreender o que é a Boa Nova, e sentem nesta um mel fortificante bem
diferente da insípida mixórdia dos seus pecados. Ouvi, e talvez podereis
compreender melhor como podem haver frutos diferentes de uma mesma obra.
Um semeador saiu para semear. Seus campos eram muitos e de
qualidades diferentes. Havia alguns, que ele tinha herdado de seu pai e sobre
os quais havia deixado proliferar plantas espinhosas. Outros haviam sido
adquiridos por ele, e ele os comprara do jeito em que estavam, de um dono
negligente, e tais como eram os deixou. Outros ainda, haviam sido entrecortados
por estradas, pois o homem era um grande comodista e não queria andar muito
para ir de um lugar para outro. Enfim, havia alguns, os mais próximos da casa,
dos quais ele tomava cuidado, só para que dessem um aspecto agradável à frente
da casa. Estes estavam bem limpos de pedregulhos, de espinhos, da grama e assim
por diante. O homem, pois, tomou o seu saco de grãos para ir semear grãos da
melhor qualidade, e começou a semeadura. A semente caiu no terreno bom, fofo,
arado, limpo e adubado dos campos próximos à casa. Caiu também nos campos
entrecortados por caminhos e trilhas, que os parcelava levando, além disso, a
sujeira da poeira árida para cima da terra fértil. Outras sementes caíram sobre
os campos, onde a inépcia do homem tinha deixado que crescessem as plantas
espinhosas. Agora o arado as havia revirado, e nem parecia que elas estivessem
mais ali, mas elas estavam, porque somente o fogo é que é a radical destruição
das ervas más, impedindo-as de nascer. As últimas sementes caíram nos campos
comprados ultimamente, e que ele tinha deixado como estavam, sem destorroá-los
em profundidade, sem limpá-los de todas as pedras afundadas na terra e fazendo
com ela um pavimento duro no qual não conseguiam agarrar-se as tenras raízes.
Depois, tendo semeado todas as sementes, voltou para casa, e disse: "Agora
está tudo bem. É só esperar as colheita."
E assim se alegrava quando, com o correr dos
meses, podia já ver, à frente de sua
casa, o trigo que ia germinando e crescendo... Oh! Crescia como um tapete macio
e já ia soltando espigas... Parecia um mar, lourecendo e batendo espigas contra
espigas, cantando hosanas ao sol.
O homem dizia: "Como este campo devem
estar todos os outros. Preparemos as foices e os celeiros. Quanto pão! Quanto
ouro!" E estava feliz. Cortou o trigo dos campos mais próximos, depois
passou aos que herdou do pai, mas ele os tinha deixado virar mato. E o homem
ficou muito aborrecido. Todos os grãos haviam nascido, porque os campos eram
bons e a terra adubada pelo pai estava gorda e fértil. Mas sua fertilidade
tinha sido boa também para as plantas espinhosas, que ficaram cobertas pela
terra, reviradas com ela, mas não esterilizadas. Elas tinham renascido e
formado um verdadeiro forro de ramagens cheias de espinhos, através das quais o
trigo não tinha podido passar para cima, a não ser com uma espiga aqui, outra
acolá, e morreu quase todo sufocado. O homem disse: "Eu fui negligente com
este campo. Mas nos outros não havia espinheiros, e deverão estar melhores.
Passou então aos campos recentemente adquiridos. Lá seu espanto cresceu, até
transformar-se em tristeza. Finas e já ressecadas, as folhas do trigo estavam
espalhadas por toda parte, como feno seco. Feno seco! Mas, como? Como foi
isso?, gemia o homem. E, no entanto, aqui não há espinhos! E, além disso, a
somente do trigo era a mesma.
E aqui também ela tinha nascido, e o trigal
estava tão viçoso, que dava alegria vê-lo! Pode-se ver ainda como suas folhas
estavam bem formadas e grande número. Por que será que aqui o trigo todo morreu
sem produzir espigas?" E, com grande tristeza, pôs-se a cavar o solo, para
ver se encontrava ninhos de toupeiras, ou outras pragas. Insetos e roedores,
não havia. Mas, que quantidade de pedras! Um verdadeiro pedregal! Os campos
estavam literalmente calcetados com escamas de pedras, e a pouca terra que as
cobria era um engano. Oh! Se tivesse afundado mais o arado, enquanto era tempo!
Oh! Se ele tivesse feito escavações, antes de aceitar aqueles campos e de
comprá-los como se fossem bons! Oh! Pelo menos, depois daquele erro de adquirir
o que era oferecido, sem ter-se informado da boa qualidade deles, se ele os
tivesse feito ficar bons, à custa do cansaço de seus rins! Mas agora já era
tarde e inúteis eram quaisquer queixumes. O homem se pôs de pé, arrasado, e
dali se foi para os campos entrecortados por pequenas caminhos, feitos para sua
comodidade... E rasgou suas vestes de tristeza. Aqui não havia nada.
Absolutamente nada... A terra escura do campo estava coberta por uma ligeira
camada de pó branco... O homem se agachou no chão, e gemia dizendo: "Mas,
por que? Aqui não há espinhos, nem pedras, pois estes campos antes já eram
nossos. Meu avô, meu pai, eu, sempre os possuímos e, por anos e anos, os fomos
tornando férteis. Neles eu abri estradas, terei tirado alguma terra do campo,
mas isso não é o que o terá feito ficar estéril assim..." Ainda estava ele
chorando, quando recebeu, para sua tristeza, a resposta, dada por um cerrado
bando de passarinhos, que estavam chegando esfomeados, vindos dos caminhos para
o campo e dos campos para os caminhos para procurarem continuamente sementes de
trigo, e mais e mais sementes... O campo havia-se transformado numa rede de
pequenos caminhos, em cujas beiras o trigo semeado tinha caído, e havia atraído
muitos passarinhos, e estes, primeiro comeram os grãos na estrada e depois os
plantados no campo, até o ultimo grão. Desse modo, a semente, igual para todos
os campos, num havia produzido cem por um, noutro sessenta, noutro trinta e
noutro nada.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. A semente é
a Palavra: é igual para todos. O lugar onde cai a somente são os vossos
corações. Cada um aplique a si a parábola e compreenda.
A paz esteja convosco."
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, Vol 3 pgs 151,152,153,153,155,156)
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