O MESTRE FALA SOBRE AS RELAÇÕES CONJUGAIS
TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DA JESUS
“ A paz
esteja com todos vós. Estáveis me esperando? Estáveis com medo de que Eu
escapasse, sem saudar-vos? Eu nunca falto com minhas promessas. Hoje Eu estou
convosco para evangelizar-vos e ficar convosco, conforme prometi, para abençoar
as vossas casas, as hortas e as barcas, para que sejam santificadas todas as
famílias, e o trabalho seja também santificado. Mas, lembrai-vos de que a minha
bênção, para produzir frutos, deve ser ajudada pela vossa boa vontade. E vós
sabeis qual é a boa vontade que deve animar uma família, para que seja santa a
casa que a hospeda. Nela o homem deve ser chefe, mas não déspota, nem da esposa
nem dos filhos, nem dos servos e, ao mesmo tempo, deve ser o rei,
verdadeiramente o rei, no sentido bíblico da palavra. Estais lembrados do
capítulo oitavo do primeiro livro dos Reis? Os anciãos de Israel se reuniram, e
foram para Rámata, onde morava Samuel, e lhe disseram: “Eis que ficaste velho,
e os teus filhos não estão andando pelos teus caminhos. Para julgar-nos,
estabelece sobre nós um rei, como o têm todas as nações.”
Portanto,
rei quer dizer “juiz”, e deveria ser juiz justo para não fazer de seus súbditos
uns infelizes no tempo de guerras, de abusos, de impostos injustos, nem na
eternidade, exercendo uma realeza completamente cheia de molezas e de vícios.
Ai
daqueles que faltam com o seu ministério, que fecham os ouvidos às vezes dos
súbditos, que fecham os olhos diante das chagas da nação, que se tornam
cúmplices da dor do povo com alianças injustas, além de reforçarem o seu poder
com a ajuda de aliados!
Mas ai
também daqueles pais que faltam com sua obrigação, que são cegos e surdos às
necessidades e aos defeitos, que são causa de escândalos e dor para ela, que
descem dos membros da família compromissos de núpcias indignas, contanto que
possam aliar-se com famílias ricas e poderosas, sem refletirem que o matrimônio
é uma união querida para elevação e conforto do homem e da mulher, além de o
ser para a procriação. É um dever, é um
ministério. Não é um mercado, uma
dor, não é aviltamento de um dos cônjuges, nem do outro. É amor, e não ódio. Portanto
que o chefe seja justo, sem excessivas durezas ou pretensões, e sem excessivas
condescendências e fraquezas. Mas, se tivésseis que escolher entre o excesso de
uma coisa ou de outra, escolhei a segunda, porque pelo menos desta Deus vos
poderá dizer: “Por que foste tão bom assim?”, e não condenar-vos, uma vez que o
excesso da bondade pune o homem, com as prepotências que os outros se permitem
contra os bons, enquanto que a dureza sempre vos reprovaria, porque é uma falta
de amor para com o próximo mais próximo.
E justa
seja a mulher, em sua casa para com o esposo, os filhos e os servos. A seu
esposo dê obediência e respeito, conforto e ajuda. Obediência, enquanto esta
não assumir substancialmente um consentimento para o pecado. A mulher deve ser
submissa, mas não degradada. Olhai, ó esposas, que o primeiro que vos julga,
depois de Deus, por certas condescendências culpáveis, é o vosso próprio
marido, que vos leva a elas. Nem sempre são desejos de amor, mas também são uma
prova de vossa virtude. Mesmo que no momento não se reflita, pode chegar o dia
em que o esposo diga a si mesmo: “Minha mulher é muito sensual”, e por isso
fique com suspeitas contra a vossa fidelidade conjugal.
Sede castas no casamento. Fazei que vossa
castidade imponha ao esposo aquela cautela que se toma diante das coisas puras,
e vos olhe como suas semelhantes, e não como escravas ou concubinas, mantidas
somente para serem “prazer”, e rejeitadas quando não agradam mais. A mulher virtuosa eu diria, a mulher que, mesmo
depois da união conjugal, conserva ainda aquele “que” de virginal em seus atos,
nas palavras, nos abandonos de amor; pode levar o marido a uma elevação da
sensualidade para o sentimento, pelo qual o esposo se despoja da luxúria e se
torna verdadeiramente um único “que” com sua esposa, que ele passa a tratar com
o cuidado com que cada pessoa trata uma parte de si mesma, e justo é que assim
seja, porque a mulher é “osso de seus ossos e carne de sua carne”, e ninguém
maltrata os seus ossos nem a sua carne, mas, ao contrário, os ama, para que o
esposo e a esposa, como os dois primeiros esposos, olhem um para o outro, e não
se vejam em sua nudez sensual, mas se amem pelo espírito, sem vergonhas
aviltantes.
Que a mulher seja paciente, maternal com o
marido. Que ela o considere como o primeiro de seus filhos, porque a mulher é
sempre mãe, e o homem está sempre necessitado de uma mãe, que seja paciente,
prudente, afetuosa, confortadora. Feliz
aquela mulher que de seu próprio cônjuge sabe ser companheira, e, ao mesmo
tempo a mãe, para ampará-lo, e a filha, para ser guiada. Que a mulher seja
trabalhadeira. O trabalho, impedindo os devaneios, faz bem à honestidade, além
de fazê-lo à bolsa. Que ela não fique atormentando o marido com tolos ciúmes,
que para nada servem. O marido é honesto? O ciúme torna-o estulto, obrigando-o
a sair de casa, o coloca no perigo de cair nas malhas de alguma meretriz. Ele
não é honesto e fiel? Não serão as iras da ciumenta que irão corrigi-lo, mas,
sim, o procedimento, sem mau humor e grosserias, com dignidade e amor, com amor
digno, e isso é o que faz refletir e recuperar o juízo. Procurai saber
reconquistar o marido, quando uma paixão o afastou de vós, com a vossa virtude,
assim como em vossa juventude o conquistastes pela vossa beleza. E, para terdes
força no cumprimento desse dever, e resistir à dor que poderia tornar-vos
injustas, amai os filhos, pensai neles, no bem deles.
Tudo uma mulher tem em seus filhos: a alegria,
a coroa real nas horas alegres em que ela é realmente uma rainha da casa e do
marido, e o bálsamo nas horas dolorosas em que uma traição, ou outras penosa
experiências da vida conjugal flagelavam sua fronte e sobretudo o coração com
os espinhos de sua realeza como esposa e mártir. Julgai-vos tão espezinhadas, que quereis
voltar para casa de vossos pais, ou procurar compensação e, algum amigo
fingido, que tem desejo de mulher, mas finge ter piedade do coração da que foi
traída? Não, mulheres, não! Aqueles filhos, aqueles filhos inocentes, já
perturbados, já precocemente entristecidos pelo ambiente doméstico, que não é
mais sereno, não é mais justo, têm os seus direitos sobre a mãe, sobre o pai,
sobre o conforto em uma casa onde, se pereceu um amor, o outro ainda continua a
velar por eles. Aqueles olhares inocentes deles olham para vós, vos estudam, e
compreendem mais do que vós pensais e formam os seus espíritos pela medida
daquilo que vêem e compreendem. Não
sirvais nunca de escândalo para os vossos inocentes, mas refugiai-vos neles,
como em um baluarte de lírios adamantinos entre as fraquezas da carne e as
insídias das serpentes.
E que a mulher
seja mãe. A mãe justa, que é irmã, ao mesmo tempo que é mãe, sobretudo e acima
de tudo. Velar sobre os filhos e as filhas, corrigir amorosamente, ajudar,
fazer meditar, e tudo sem preferências, pois os filhos são todos nascidos de
uma semente e de um seio, e, se é natural que eles sejam bem queridos, pela
alegria que dão os filhos bons, é também um dever que sejam amados, ainda que
com um amor doloroso, e os filhos não bons fazem lembrar que o homem não deve
ser mais severo do que Deus, o qual ama não somente os bons, mas também os não
bons, e os ama para ver se os faz bons, e para dar-lhes o modo e o tempo de o
serem, e suporta até à morte do homem, reservando-se o direito de ser justo,
quando o homem não pode mais reparar.
...E,
voltando ao assunto de como devem ser os componentes de uma família, os
habitantes de uma casa, para que nela se mantenha frutuosamente a minha bênção,
Eu vos digo, ó filhos, que vós sejais submissos aos vossos pais, respeitosos,
obedientes para poderdes sê-lo também para com o Senhor vosso Deus. Porque, se
não aprenderdes a obedecer as pequenas ordens de Deus, que vos estais vendo,
como podereis obedecer às ordens de Deus, que vos são ensinadas em seu Nome,
mas que vós não estais vendo, nem ouvindo? E, se não aprendeis a crer que quem
ama, como um pai e uma mãe amam, e não podem mandar senão coisas boas, como
podereis crer que sejam boas as coisas que vos foram ditas como ordem de Deus? Deus ama, é Pai, sabeis disso? Mas,
justamente porque vos ama, e vos quer consigo, ó caros amigos. Ele vos quer
bons. E a primeira escola em que aprendeis a sê-lo é a família. Nela aprendeis
a amar e a obedecer, e nela é que começa para vós o caminho que leva para o
Céu.
Portanto
sede bons, respeitosos, dóceis. Amai vosso pai, mesmo quando ele vos corrige,
pois ele faz assim para o vosso bem, e à mãe, se ela vos afasta de ações que
sua experiência julga não boas. Honrai-os, não os fazendo passar vergonha por
vossas más ações. O orgulho não é coisa boa, mas existe um santo orgulho, que é
o de se poder dizer: “Não fiz sofrer nem a meu pai nem à minha mãe.” E isso que
nos faz gozar da convivência com eles, enquanto estão vivos, é para vós uma paz
sobre a ferida, que a morte deles vos causa, enquanto que as lágrimas que um
filho fez seu pai derramar, hão de marcar com sulcos, como chumbo derretido o
coração do filho mau, e, apesar de todo o trabalho para anestesiar aquela
ferida, que continua a doer, a doer, e sempre dói mais, quando a morte do pau
impediu ao filho de fazer uma reparação... Oh! Filhos, sede bons, sempre, se
quereis que Deus vos ame.
Enfim,
santa é aquela casa onde, pela justiça dos donos, tornam-se justos até com os
sevos e os empregados. Lembrem-se os patrões que um mau comportamento irrita e
desgasta o servo, e o servo que o seu mau comportamento desgosta ao patrão.
Esteja cada um em seu lugar, mas com um liame de amor ao próximo, a preencher a
separação que há entre os servos e os patrões. E, então, a casa abençoada por
Mim conservará a sua bênção, e Deus morará nela. E assim também conservarão sua
bênção, e portanto a proteção, as barcas, as hortas e as ferramentas de
trabalho e de pesca, quando santamente forem usadas, nos dias permitidos, e
santamente dedicados ao culto de Deus no sábado, e vós vivereis a vossa vida de
pescadores e hortelãos, e não cometereis no vender e no pesar, não amaldiçoareis
o trabalho, nem fareis tanto dele o rei da vossa vida, a ponto de dardes mais
valor a ele do que a Deus. Porque, se o trabalho vos leva a obter um ganho,
Deus vos dá o Céu.
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi revelado –Vol. 7, pgs. 128 a 132)
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