“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

PARÁBOLA DA ENCRUZILHADA


PARÁBOLA DA ENCRUZILHADA



Jesus começa a falar.

“Aqueles que percorrem as estradas do Senhor, as estradas indicadas pelo Senhor, e as percorrem com boa vontade, acabam encontrando o Senhor. Vós encontrais o Senhor, pois estais vindo depois de terdes cumprido o vosso dever de fiéis israelitas na Santa Páscoa. E eis que a sabedoria vos fala nesta encruzilhada, onde a bondade divina fez que nos encontrássemos. Tantas são as encruzilhadas que o homem encontra no caminho de sua vida! E ainda mais encruzilhadas sobrenaturais, do que encruzilhadas materiais. Cada dia nossa consciência se vê colocada na frente de bívios e quadrívios do Bem e do Mal. E ela deve escolher com atenção, para não errar. Porque se errar, deverá voltar humildemente atrás, ao ser chamada ou advertida por alguém. E, ainda que lhe pareça mais bonito o caminho do Mal, ou simplesmente o da tibieza, ela deve saber escolher o caminho escabroso, mas seguro do Bem.
Ouvi uma parábola.
Um grupo de peregrinos, que vinha de longínquas regiões, em busca de trabalho, chegou aos confins de uma província. Nesses confins havia muitos homens procurando trabalho, mandados Poe seus diversos patrões. Uns procuravam homens para as minas, outros para os campos de bosques, outros procuravam servos para um rico infame, e outros soldados para um rei que residia no alto de um monte, em seu castelo, ao qual se podia chegar por uma estrada muito íngreme.
O rei queria suas milícias, mas exigia que elas fossem, não umas milícias de violência, e sim, de sabedoria, a fim de enviá-las depois pelas cidades para santificarem os seus súbditos. Por isso, ele vivia lá em cima, como em um ermitério, a fim de formar os servos, sem que as distrações mundanas os corrompessem, atrasando ou anulando a formação de seus espíritos. Não prometia altos pagamentos. Não prometia uma vida cômoda. Mas garantia que do seu serviço nasceria a santidade e o prêmio. Assim diziam os seus enviados àqueles que chegavam do outro lado da fronteira.
Os enviados pelos patrões das minas ou dos campos, por sua vez diziam: “Não vai ser uma vida cômoda, mas sereis livres, e ganhareis o suficiente com que possais ter um pouco de passatempo.” E os que estavam procurando servos para o patrão infame, prometiam logo comida abundante, ociosidade, prazeres e riquezas: “Basta que consintais em seus duros caprichos. Oh! De modo nenhum insuportáveis, e gozareis como uns sátrapas.”
Os peregrinos trocaram, então idéias uns com os outros. Dividirem-se eles não queriam... Perguntaram: “Mas, os campos e as minas, o palácio do homem gozador e o do rei, estão perto uns dos outros?”
“Oh! Não!”, responderam os que procuravam homens. “Vinde até aquele quadrívio, e vos mostraremos as diversas estradas.” Eles foram.
“Eis! Esta esplêndida estrada sombreada, florida, plana, com fontes de água fresca, desce até o palácio do Senhor”, disseram os procuradores de homens. “Esta estrada, que é poeirenta, por entre campos serenos, conduz aos campos.”
“Eis! Está exposta ao sol, mas vede que ainda está bonita”, disseram os dos campos. “Esta assim sulcada por pesadas rodas e coberta de manchas escuras, mostra a direção das minas.”
“Eis! Este caminho escabroso, aberto pelo meio das rochas, que o sol incendeia, cheio de abrunheiros e precipícios, que fazem a gente andar devagar, mas que, em compensação servem de defesa fácil contra os assaltos dos inimigos, conduz ao oriente, ao castelo severo, quase diríamos sagrado, onde os espíritos se formam para o Bem”, disseram os do rei.
E os peregrinos ficaram olhando. Eles faziam seus cálculos... Estavam sendo tentados por diversas coisas, das quais só uma era totalmente boa. E pouco a pouco, foram-se separando. Eles eram dez. Três resolveram ir para os campos... dois para as minas. Os que restaram olharam-se uns aos outros, e dois deles disseram: “Vinde conosco. Vamos ao rei. Não ganharemos nem gozaremos sobre a terra, mas seremos santos para sempre.”
“Por aquele caminho ali? Só se fôssemos doidos! Não ganhar? Não gozar? Não valia a pena deixar tudo e vir para um exílio, para termos menos do que tínhamos em nossa terra. Nós queremos é ganhar e gozar...”
“Mas vós perdereis o Bem eterno! Não ouvistes dizer que o patrão é infame?”
“Isso são histórias! Depois de pouco tempo, nós o deixaremos, mas teremos gozado e estaremos ricos.”
“Nunca mais ficareis livres dele. Mal fizeram os primeiros, indo atrás da avidez pelo prazer. Ah! Não troqueis a vida eterna por uma hora fugaz!”
“Vós sois uns tolos, e credes em promessas de coisas irreais. Nós vamos atrás da realidade. Adeus!...”, e correndo, entram pela bonita estrada sombreada, florida, rica em águas, plana, e no fundo da qual está brilhando ao sol o magnífico palácio do gozador.
Os dois, que restaram, tomaram, chorando e rezando o caminho íngreme. E, tendo andado uns poucos metros por ele, desanimaram, por ser ele muito difícil. Mas depois perseveraram. E a carne lhes ia parecendo sempre mais leve, quanto mais eles andavam para a frente, e seu cansaço tinha como consolo um júbilo estranho. Chegaram ofegantes e arranhados, ao cume do monte, e foram admitidos à presença do rei, o qual lhes disse tudo o que exigia para fazer deles os seus valentes, e terminou dizendo: “Pensai nisso, durante oito dias, e depois respondei.”
E eles pensaram muito, sustentaram duras lutas contra o Tentador, que queria inquietá-los com a carne, que lhes dizia: “Vós me estais maltratando”, com o mundo, cujas lembranças os seduziam ainda. Mas eles venceram. Ficaram. Tornaram-se heróis do Bem.
Veio-lhes depois a morte, isto é, a glorificação. Lá do alto dos Céus eles viram lá em baixo os que tinham ido para o patrão infame. Acorrentados, até depois da vida, gemiam na escuridão do Inferno.
“Eles queriam ser livres e gozar”, disseram os dois santos.
E os três condenados os viram e, horrendos, os maldisseram, e maldisseram a todos, a Deus em primeiro lugar, dizendo: “Todos vós nos enganastes!”
“Não. Não podeis dizer isso. Havia-vos sido falado sobre o perigo. Vós quisestes o vosso mal”, responderam os bem-aventurados, serenamente, ainda que estivessem vendo e ouvindo os sarcasmos obscenos e as blasfêmias obscenas atiradas sobre eles.
E viram os dos campos e das minas em diversas regiões de purificação, e eles também os viram, e disseram: “Nós não fomos nem bons nem maus, e agora estamos expiando a nossa tibieza. Rezai por nós.”
“Oh! Nós o faremos! Mas, por que foi que não quisestes vir conosco?
“Porque fomos não demônios, mas homens... não fomos generosos. Amamos o que era passageiro, ainda que fosse honesto, mais do que o que era Eterno e Santo. Agora estamos aprendendo a conhecer e a amar com justiça.”
A parábola terminou.
Todos os homens estão no quadrívio. Em um eterno quadrívio. Felizes daqueles que estão firmes e generosos em querer seguir os caminhos do Bem. Deus esteja com eles. Que Deus toque neles e os converta aos que assim não estão, e os leve a ser assim.
Ide em paz.”


(De Jesus à Valtorta, Vol. 6. Pgs. 181 a 184)

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