Sabedoria é amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo
VIVER COM SABEDORIA
Jesus começa a falar:
“A paz esteja com todos vós."
Certamente o ter que morrer desagrada aos ricos e aos jovens,
quando eles querem ser ricos, mas somente em dinheiro e em anos. Aqueles,
porém, que são ricos em virtude, e jovens pela pureza de costumes, a eles isso
não lhes causa tristeza. O verdadeiro sábio, desde a idade da razão em diante,
se regula de tal modo, que possa tornar para si uma coisa tranqüila o morrer. A
vida é a preparação para a morte, assim como a morte é uma preparação para a
vida maior. O verdadeiro sábio, desde que chega a compreender a verdade do que
é o viver e do que é o morrer, e do morrer para depois ressurgir, preocupa-se,
de todos os modos, com despojar-se de tudo o que é inútil, e enriquecer-se de
tudo o que é útil, isto é, das virtudes e dos atos bons, para poder ter uma
provisão de bens, diante daquele que o chama a Si, para julgá-lo, para
premiá-lo, ou para castigá-lo, com uma justiça perfeita.
O verdadeiro sábio leva uma vida que o torna adulto, mais do
que envelheceu na sabedoria, e mais do que um jovem, um adolescente, porque vivendo
ele com virtude e justiça, conserva em seu coração um frescor de sentimentos
que algumas vezes nem mesmo os jovenzinhos têm. Nesses casos, é suave morrer. Reclinar a cabeça cansada no seio do Pai,
recolher-se em seu abraço, dizer por entre as névoas da vida, que está
terminando: “Eu te amo, espero em Ti, em Ti eu creio”, dizendo isto pela última
vez na terra, a fim de poder dizê-lo depois num jubiloso “Eu te amo”, por toda
a eternidade, por entre os fulgores do Paraíso.
Será duro o pensamento da morte? Não. É um justo decreto para
todos os mortais, não é opressivo e cheio de aflição, a não ser para aqueles
que não crêem, e estão carregados de culpas. Perde seu tempo o homem que, para
explicar as aflições perturbadoras de alguém que está para morrer, e que em sua
vida não foi bom, e explica-o assim: “É porque ele não quereria morrer já,
porque não chegou a realizar alguma coisa boa, ou fez pouco bem, e quereria
viver mais, para reparar a sua falta.” É em vão que ele diz: “Se ele tivesse
vivido mais tempo, teria podido ter um prêmio maior, pois teria realizado mais
coisas.” Um nada de tempo em comparação com a eternidade. E a alma estimula o
“eu” todo para agir. Mas, pobre alma! Como muitas vezes ela é dominada e
pisada, amordaçada para não ouvir as suas palavras. Isto acontece com aqueles a
quem falta a boa vontade. Enquanto que nos homens justos, desde sua meninice
houve uma auscultação da alma, uma obediência aos seus conselhos, houve uma
operosidade contínua. E o jovem pelos anos, mas rico de merecimentos, morre
como um santo, às vezes ainda na aurora da vida. E nem com mais cem ou mil anos que fossem dados a ele, poderia ele ser
mais santo do que já é, porque o amor a Deus e ao próximo, praticado de todas
as formas, e com toda a generosidade, já o tornam perfeito. No Céu não se olha
para quantos anos alguém viveu, mas como foi que eles foram vividos.
Costuma-se pôr luto, por causa dos cadáveres. Chora-se sobre
eles. Mas o cadáver não chora. Teme-se por se ter que morrer. Mas ninguém pensa
em viver de tal modo, que não seja preciso tremer na hora da morte. E, por que
é que não se chora e não se põe luto pelos cadáveres vivos, que são os
verdadeiros cadáveres, os que levam em si uma vida morta, como se já estivessem
no sepulcro? E, por que é que aqueles que choram, pensando que hão de morrer em
sua carne, não choram sobre os cadáveres que eles têm dentro de si mesmos?
Quantos cadáveres Eu
vejo, que riem e contam piadas, e não choram sobre si mesmos! Quantos pais, esposas, irmãos,
filhos, amigos, sacerdotes, mestres Eu vejo chorarem estultamente por um filho,
um esposo, um irmão, um pai ou mãe, um amigo, um fiel discípulo, mortos em
evidente amizade com Deus, depois de uma vida, que é uma grinalda de perfeição,
e que não choram sobre os cadáveres das almas de um filho, esposo, irmão, pai,
um amigo, um fiel discípulo, que morreu por causa do vício, por causa do
pecado, e morreu para sempre, e para sempre está perdido, se não se arrependeu?
Por que não procurar ressuscitá-los? Isto é que é amor, sabeis? É o maior dos
amores. Oh! Como são estultas as lágrimas derramadas sobre a poeira, para qual
o homem voltou! Oh! Idolatria dos afetos! Oh! Hipocrisia dos afetos! Chorai,
mas pelas almas mortas dos vossos mais queridos. Procurai levá-los à vida. E Eu
falo especialmente a vós, ó mulheres que tanto poder tendes sobre aqueles que
amais.
Agora, juntos, vamos olhar para o que a Sabedoria mostra como
causa de morte e de vergonha.
Não fiqueis insultando a Deus, fazendo mau uso de vossa vida,
que Ele vos deu, emporcalhando-a com más ações, que desonram o homem. Não
fiqueis insultando os vossos pais, com uma conduta que joga lama sobre os
cabelos brancos deles, e espinhos de fogo sobre os últimos dias deles. Não
fiqueis proferindo insolências contra quem vos governa, porque não é com a
rebelião contra os governantes que se tornam livres e grandes as nações, mas é
com a conduta santa dos cidadãos que se obtém a ajuda do Senhor, o qual pode
tocar o coração dos governantes, ou tirá-los de seu lugar ou até da vida, como
muitas vezes nos ensinou a nossa história de Israel, quando eles passaram da
medida, e especialmente quando o povo, santificando-se, merece o perdão de
Deus, que por isso, tira o instrumento opressor do pescoço dos que estavam
sendo castigados. Não profirais insolência contra a esposa, acusando-a de
amores adulterinos, e não profirais insolências contra os vossos filhos
inocentes, ao terdes notícias de seus ilícitos amores.
Sede santos diante deles, pois eles vêem em vós, por afeto ou
por dever, aqueles que hão de ser para eles um exemplo em suas vidas. Não
podeis separar a santidade para com o próximo, que está mais perto de vós, da
santidade para com Deus, porque uma gera a outra como os dois amores: o de Deus
e o do próximo, nascendo um do outro.
Sede justos para com os amigos. A amizade é um parentesco da
alma. Está escrito: “Quanto é belo para os amigos que eles andem juntos.” Mas é
belo, quando eles andam pelo caminho do bem. Ai daquele que corrompe e trai a
amizade, transformando-a em egoísmo, ou em uma traição, ou em um vício, ou em
uma injustiça. São muitos demais aqueles que dizem: “Eu te amo”, para ficarem
sabendo as coisas do amigo, e desfrutando delas em seu próprio favor. São
muitos demais os que usurpam os direitos do amigo.
Sede honestos para com os juízes. Todos os juízes. Desde o
Juiz Altíssimo, que é Deus, até o juiz íntimo, que é a nossa consciência, até
aqueles amorosos e sofredores, que estão atentos em seu amor vigilante, como
são os olhos de nossos familiares, até aquele severo, dos juízes do povo. Não
mintais, invocando a Deus para dardes mais força à mentira.
Sede honestos no vender e no comprar. Quando estais vendendo,
e a concupiscência vos diz: “Rouba, para teres lucro”, enquanto que a
consciência vos diz: “Sê honesto, porque te arrependerias de ter roubado”. Daí ouvidos
a esta última voz, lembrando-vos de que não deve ser feito aos outros o que não
gostaríamos que fosse feito a nós mesmos. O dinheiro que vos é pago em troca de
uma mercadoria, está muitas vezes molhado pelo suor e pelas lágrimas do pobre.
Ele custou canseiras. Vós não sabeis quanta dor ele custa, quantas dores estão
atrás daquela moeda, que a vós, vendedores, parece sempre muito pouco demais
pelo que vendeis. Criaturas doentes, filhos sem pai, velhos com uns escassos
trocados no bolso... Oh! Dor santa, Oh! Santa dignidade do pobre que o rico não
compreende, porque não és meditada? Por que há honestidade em vender ao forte,
ao poderoso, por medo de suas represálias, enquanto que se abusa do indefeso, e
do irmão desconhecido? Isto já é um delito, mais contra o amor do que contra a
própria honestidade. E Deus o amaldiçoa, porque lágrima derramada pelo pobre,
que só tem o seu pranto como reação contra abuso, diante do Senhor tem a mesma
voz que tem o sangue arrancado das veias de um homem por um homicida, por um
Caim de seu próprio semelhante.
Sede honestos nos olhares, assim como nas palavras e nas ações.
Um olhar dado a quem não merece, ou negado a quem o merece, é como um laço e um
punhal. O olhar que se enlaça com a pupila despudorada da meretriz, e lhe está
dizendo: “Tu és bonita!”, é pior do que o punhal no corredio para a garganta do
sufocado. O olhar negado ao parente pobre ou amigo que caiu na miséria, é
semelhante a um punhal fincado no coração daqueles infelizes. E assim o olhar
de ódio, ou de desprezo, voltado para o inimigo ou o mendigo. O inimigo é
perdoado e amado, pelo menos com o nosso espírito, quando nossa carne se recusa
a amá-lo. O perdão é sempre o amor do
espírito, o não vingar-se é amor do espírito. O mendigo é amado, porque ninguém
o conforta. Não basta jogar uma esmola, e ir para adiante com desdém. A esmola
é boa para a carne esfaimada, nua, sem abrigo. Mas a piedade, que sorri ao dar,
que se interessa pelo pranto do infeliz, essa é um pão para o coração. Amai,
amai, amai.
Sede honestos nos dízimos e nos costumes, honestos no
interior de vossas casas, não exigindo do empregado além da medida, e não
cometendo atentado contra a empregada, que dorme em vossa casa. Ainda que o
mundo não saiba do furto cometido no segredo de uma casa, o furto feito à vossa
mulher, que não o sabe e à empregada que desonrais, Deus sabe de vosso pecado.
Sede honestos na língua. E honestos em educar filhos e
filhas. Está escrito: “Faze isto, a fim de que tua filha não te torne o objeto
do riso da cidade.” E Eu digo: “Fazei isso, para que o espírito de vossa filha
não pereça.”
E agora ide. Eu também me vou, depois de vos ter dado uma
provisão de sabedoria para a viagem. Que o Senhor esteja com aqueles que se
esforçam por amá-lo.”
(De Jesus à Valtorta, Vol. 6, pgs. 168 a 173)
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