PARÁBOLA DOS MAL ACONSELHADOS.
Ouvi:
Tempos atrás, havia uma
família muito numerosa, que mais parecia uma tribo. Os filhos em grande número
se haviam casado, e formaram, ao redor da primeira muito numerosa, muitas
outras famílias ricas de filhos, e estes, por sua vez, casando-se, haviam
formado outras famílias. Desse modo o velho pai se achou á frente de um pequeno
reino, do qual ele era o rei. Como sempre acontece nas famílias, entre os
muitos filhos e os filhos dos filhos, bem diversos eram os caracteres. Uns eram
bons e justos, outros eram prepotentes e injustos. Uns estavam contentes com o
que tinham, outros estavam invejosos, parecendo a estes que sua parte era menor
do que a do irmão, ou do parente. Ora, ao lado do mais malvado, estava o melhor
de todos. E era natural que o bom fosse mais ternamente amado pelo pai de toda
a grande família. E, como sempre, aconteceu que o malvado e aqueles mais
semelhantes a ele, passaram a odiar o bom, porque ele era mais amado, sem
refletirem que eles também teriam podido ser amados, se tivessem sido bons como
ele. E o bom, ao qual o pai confiava os seus pensamentos, para que ele os fosse
transmitir a todos, era acompanhado pelos outros bons. De tal modo que, depois
de muitos anos, a grande família se havia dividido em três partes. A dos bons e
a dos maus. E, entre esta e aquela, estava a terceira parte, formada pelos
duvidosos, os quais se sentiam atraídos pelo filho bom, mas tinham medo do
filho mau e dos que eram do partido dele. Esta terceira parte procurava
acomodar-se entre uma e a outra das duas primeiras, e não sabia decidir-se nem
por uma nem por outra, com firmeza.
Então o velho pai, vendo
aquela incerteza, disse ao seu filho: até agora, tu fizeste uso da tua palavra,
especialmente a favor daqueles que a recebem bem e por aqueles que não a
recebem, porque os primeiros a querem para me amarem sempre com mais justiça, e
os outros são uns estultos, que devem ser chamados á justiça. Mas tu estás
vendo como estes estultos, não só não o aceitam, ficando como eram, mas a sua
primeira injustiça contra ti, que és cumpridor da minha vontade, eles unem
ainda a de corromper com maus conselhos, aqueles que ainda não sabem querer de
verdade o caminho melhor.
Vai então a eles, e fala-lhes
sobre o que é que eu sou, e sobre o que tu és, e sobre o que é que eles devem
fazer para estarem comigo e contigo. O filho sempre obediente, foi fazer como o
pai queria, e cada dia ia procurando conquistar os corações. Assim o pai pôde
ver claramente quais eram os seus filhos que eram claramente rebeldes, e olhava
para eles com severidade, mas sem reprová-los, porque ele era pai, e queria
atraí-los com paciência, com amor e com o exemplo dos bons.
Mas os malvados, vendo-se
sozinhos, disseram: “ Assim, claramente demais fica parecendo que nós somos os
rebeldes. Antes, nos confundiam com aqueles que não eram nem bons nem maus.
Agora, olhai-os lá! Vão indo todos atrás do filho dileto. É preciso agir. Destruir
o trabalho deles. Vamos, finjamo-nos de arrependidos, entre aqueles que
acabaram de converter-se agora, e também entre os melhores dentre os mais
simples. E espalharemos por aí que o filho dileto apenas finge que está
servindo ao pai, mas na verdade, mas na verdade ele se faz um dos seguidores
dele, para depois revoltar-se contra ele. Ou então, digamos que o pai tem a
intenção de eliminar o filho e seus seguidores, porque estão triunfando demais
e ofuscando a sua glória de pai-rei, longe da casa paterna, onde o que o espera
é a traição.”
E lá se foram, tão astutamente
finos em sugerir e em espalhar boatos e conselhos, que muitos caíram na
armadilha, especialmente aqueles que havia pouco tempo que se tinham
convertido, e aos quais os maus conselheiros davam este mau conselho: “ Estais
vendo quanto ele vos amou? Ele achou melhor vir para o meio de nós do que ficar
com o pai, ou, muito menos, com os bons irmãos e, tanto ele fez, que á vista do
mundo, vos levantou de vossa objeção de seres que não sabiam nem o que queriam,
e por isso eram objeto de zombaria para todos. Por causa dessa predileção dele
por vós, vós tendes o dever de defendê-lo, e até de entregá-lo até com a força,
se não bastarem as vossas palavras para persuadi-lo, ou então, revoltai-vos,
proclamando-o vosso chefe e rei, e marchai contra o pai iníquo e os filhos
iníquos como ele.”
Estavam ainda falando a quem
estava hesitando, e faziam esta observação: “ Mas ele quer, sempre quis que nós
fossemos como ele prestar honras ao pai e conseguiu para nós bênçãos e perdão”,
e diziam a esses: “ Não acrediteis. Nem tudo o que ele disse é verdade, nem
toda a verdade ele vos mostrou. Ele fez assim porque percebe que o pai está
para traí-lo, e quis submeter á prova os vossos corações, a fim de saber onde encontrar
proteção e refúgio. Mas talvez... ele seja muito bom. Talvez depois se
arrependerá de ter duvidado do pai e quererá voltar para ele. Não permitais
isso.”
E muitos prometeram: “ Não o
permitiremos”, e se entusiasmaram com seus planos para deterem o filho
predileto, sem se darem conta de que, enquanto isso, os maus conselheiros
diziam: “ Nós vos ajudaremos a salvar o bendito” , e os olhos deles estavam
cheios de um brilho de mentira e de crueldade, e que eles o piscavam, enquanto
esfregavam as mãos, e diziam sussurrando: “ Estão caindo na armadilha! Nós
triunfaremos!”, a cada vez que mais alguém aderia ás traiçoeiras palavras
deles.
Depois eles se foram, os maus
conselheiros. Lá se foram, espalhando por outros lugares o boato de que dentro
em breve se haveria de ver a traição do filho dileto,, que sairia das terras do
pai pra criar um reino contra o pai, com aqueles que tinham ódio ao pai, ou
pelo menos tinham um amor duvidoso. E os que acolhiam as sugestões dos maus
conselhos, enquanto isso, tramavam quanto ao modo de fazer o filho dileto cair
no pecado de uma rebelião, que haveria de escandalizar o mundo.
Somente os mais sábios entre
eles, aqueles nos quais havia penetrado mais profundamente a palavra do justo,
e neles havia lançado suas raízes, por terem caído em terreno desejoso de
acolhê-la é que disseram, depois de terem refletido: “ Não. Não é bom fazer
isso, é um ato de maldade para com o pai, contra o filho, e até contra nós. Nós
conhecemos a justiça e a sabedoria tanto de um, como do outro. E a conhecemos,
ainda que infelizmente não lhe tenhamos obedecido sempre. E não devemos ficar
pensando que os conselhos daqueles que sempre estiveram abertamente contra o
pai e a justiça, e até contra o filho predileto do pai, possam ser mais justos
do que aquele que nos deu o filho bendito.” E não os acompanharam. Pelo
contrário, com amor e dor, deixaram ir o filho lá para onde queria, e se
limitaram a acompanhá-lo, com sinais de amor até os limites de seus campos, e a
prometer-lhe, ao se despedirem: “ Tu vais. Nós ficamos. Mas as tuas palavras
estão em nós e, de agora em diante, faremos o que o pai quer. Vai tranqüilo. Tu
nos tiraste sempre do lugar em que nos encontraste. Agora, colocados no bom
caminho, saberemos ir para a frente por ele, até chegarmos á casa do pai, de
tal modo, que sejamos abençoados por ele.”
Do outro lado alguns aderiram
aos maus conselhos, e pecaram tentando levar ao pecado o filho predileto e
zombando dele, chamando-lhe de bobo, quando ele teimava em cumprir o seu dever.
Agora Eu vos pergunto: Porque
foi que um mesmo conselho produziu efeitos diferentes?
Não respondeis?
Eu vo-lo direi, como já o
disse em Silo. Foi porque os conselhos ganham valor, ou não valem nada,
conforme o caso, se são ou não são bem recebidos. Inutilmente alguém é tentado
com maus conselhos, porque se ele não quer pecar, não pecará. E não será punido
por ter tido que ouvir as insinuações dos malvados. Não será punido porque Deus
é justo, e não pune por culpas não cometidas. Será punido se, depois de ter
ouvido o Mal que tenta, sem fazer uso da inteligência para meditar na qualidade
do conselho nem na origem dele, o vai pôr em prática. E não terá desculpa se disser: “ Eu pensei que ele era bom.” Bom é
aquilo que agrada a Deus. Poderá por acaso Deus aprovar e receber com agrado
uma desobediência? Pode Deus abençoar uma coisa que redunda em desobediência?
Pode Deus abençoar uma coisa que esteja em contraste com sua Lei, isto é, com
sua Palavra? Em verdade Eu vos digo que não, Eu vos digo que é necessário saber
morrer e não transgredir a Lei Divina.
( O Evangelho como me foi
Revelado - Maria Valtorta, Vol 9, pgs
149,150,151,152)
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