PARÁBOLA DOS MAUS CONSELHEIROS.
Diz Jesus:
Ouvi. Uma vez um grande rei
mandou para uma parte do seu reino, que ele queria provar se lhe era fiel, o
seu filho amado, dizendo a ele: “ Vai, percorre todos os lugares, faze benefícios
em meu nome, instrui o povo sobre mim, faze que eu seja conhecido e amado. Eu
TR dou todo poder, e tudo o que fizeres, estará bem feito.” O filho do rei,
tendo recebido a bênção do pai, foi para onde o pai o havia mandado, e levando
consigo algum dos seus escudeiros, seus amigos, incansavelmente pôs-se a
percorrer aquela parte do reino de seu pai.
Ora, aquela região, por uma
sucessão de acontecimentos desventurosos, se havia subdividido em partes, uma
contra a outra, cada uma por sua conta, dando grandes gritos, e enviavam
instantes súplicas ao rei, cada uma dizendo que era a melhor, a mais fiel, e
que as vizinhas eram pérfidas e merecedoras de castigo. Assim sendo, o filho do
rei se encontrou á frente de uns cidadãos cujos humores eram diferentes,
conforme a cidade a que pertenciam, mas iguais em duas coisas: a primeira, que
cada um se julgava melhor do que os outros, e a segunda, era o quererem eles
destruir a cidade vizinha e inimiga, fazendo que ela decaísse no conceito do
rei. Mas, justo e sábio como ele era, o filho do rei tentou então, com muita
misericórdia, tratar com justiça cada uma das partes daquela região, para
torná-la toda unida e bem amada por seu pai. E, como ele era bom, ia conseguindo,
ainda que lentamente, porque como sempre acontece, somente os de coração reto
de cada uma das províncias da região já seguiam os seus conselhos. Contudo, é
justo dizê-lo, justamente lá onde com desprezo se dizia haver menos sabedoria e
boa vontade, foi lá que ele encontrou mais boa vontade de ouvi-lo e de se
tornarem sábios na verdade.
Então os outros das províncias
vizinhas disseram: “ Se não começarmos a agir, a graça do rei irá para esses
que nós desprezamos. Vamos então, vamos submeter aqueles que nós odiamos, e
unamo-nos fingindo que estamos convertidos e dispostos a depor os ódios, para
prestarmos honras ao filho do rei.” E começaram. Espalharam-se, fingindo-se
amigos, por entre as cidades da província rival, aconselhando com falsa bondade,
as coisas que haviam de ser feitas para honrar sempre mais e sempre melhor o
filho do rei e, portanto, ao rei seu pai. Porque uma honra prestada ao filho é
também sempre prestada a quem o mandou. Mas eles não honravam o filho do rei,
pelo contrário, eles o odiavam fortemente, até o ponto de quererem torná-lo
odioso aos súbditos ao próprio rei. Foram tão astutos em sua falsa bonomia, e
tão bem souberam apresentar como ótimos os seus conselhos, que muitos da região
vizinha acolheram como bom o que era mau, e deixaram o caminho justo que
seguiam, para tomar um injusto, constatando que sua missão entre muitos ia
fracassando.
Agora dizei-me vós: qual foi o
maior pecador aos olhos do rei? Qual o pecado daqueles que aconselhavam e o
daqueles que aceitaram o conselho?
E vos pergunto ainda: com quem
é que aquele rei bom terá sido mais severo?
Não sabeis responder-me?
Eu vo-lo direi.
O maior pecador aos olhos do
rei foi aquele que instigou para o mal o seu próprio próximo, por ódio ao
mesmo, pois queria rechaçá-lo para as trevas ainda mais profundas da
ignorância, por ódio para com o filho do rei, que queria sair-se bem em sua
missão, fazendo-o parecer um incapaz aos olhos do rei e dos súditos, por ódio
para com o próprio rei, porque se o amor dado ao filho é amor dado ao pai,
igualmente o ódio dado ao filho é ódio dado ao pai. Portanto, o pecado daqueles
que aconselhavam mal, com pleno conhecimento de que estavam aconselhando mal,
era um pecado de ódio, além de ser também de mentira, um ódio premeditado, e o
daqueles que aceitaram o conselho, crendo que ele era bom, era simplesmente um
pecado de estultice.
Mas vós bem sabeis que é
responsável por suas ações aquele que é inteligente, ao passo que quem por
doença ou outra causa, é estulto, não é responsável, mas os seus pais é que são
responsáveis por ele.
Por isso, enquanto um rapaz
não tem maioridade, é tido como irresponsável, e é o pai que responde pelas
ações do filho. Por isso, o rei, que era bom, foi severo com os maus
conselheiros inteligentes e benigno para com os que foram enganados pelos
outros, e lhes fez apenas uma censura: a de terem acreditado neste ou naquele
súbdito, antes de ter ido perguntar diretamente ao filho do rei, e saber dele
quais eram em verdade as coisas que deviam ser feitas. Porque somente um filho
é que sabe realmente as vontades de seu pai.
Esta é a parábola, ó povo de
Silo. De Silo, onde muitas vezes, no correr dos séculos, foram dados por Deus,
pelos homens e por Satanás conselhos de diversas naturezas, os quais
floresceram produzindo o bem, quando eram conselhos de bem, ou foram
rejeitados, quando foram reconhecidos como conselhos de mal, que floresciam
produzindo o mal, não acolhidos quando eram Santos e acolhidos quando eram
maus.
Porque o homem tem esta
magnífica liberdade de querer e pode livremente querer, o bem ou o mal, e tem
outro magnífico dom, o de uma inteligência capaz de discernir o bem e o mal e
por isso não somente o conselho em si mesmo, mas o modo com o qual pode ser
aceito, o faz merecer prêmio ou castigo.
Porque se ninguém há que
proíba os maus de tentar o seu próximo para arruiná-lo, nada pode impedir aos
bons de repelirem a tentação e permanecerem fiéis ao bem. Um mesmo conselho
pode fazer mal a dez e ajudar a outros dez. Porque, se quem o segue fica
prejudicado, quem não o segue ajuda a sua alma.
Por isso, ninguém diga: “ Disseram-me que eu fizesse.” Mas cada
um diga sinceramente: “ Eu quis fazer.” Tereis assim, pelo menos o
perdão que se dá aos sinceros. E, se não tendes a certeza da bondade dos
conselhos que recebestes, meditai antes de aceitá-los e de pô-los em prática.
Meditai, invocando o Altíssimo o qual não deixa nunca de dar as suas luzes aos
espíritos de boa vontade. E, se a vossa consciência, iluminada por Deus, vê,
ainda que seja um só ponto, pequenino, quase imperceptível, mas tal que não
possa estar em nenhuma obra de fidelidade, então dizei: “ Isto eu não farei,
porque é uma fidelidade espúria.”
Oh! Em verdade Eu vos digo que quem fizer bom uso de sua inteligência e
de sua liberdade de escolha, e invocar ao Senhor para poder ver a verdade das
coisas, não será arruinado pela tentação, porque o Pai do Céu o ajudará a fazer
o bem, contra todas as insídias do mundo e de Satanás...
... Os conselhos têm dois
valores: o valor da fonte da qual eles provêm. E isso já é uma grande coisa,
porque pode ter conseqüências incalculáveis; e o coração ao qual eles foram
dados. O valor que dá a eles o coração ao qual eles foram propostos é um valor,
não só incalculável, mas imutável. Porque se o coração é bom, e segue o bom conselho,
dá ao conselho o valor de obra justa, e, se não o segue, tira a segunda parte
do valor, ao mesmo tempo que continua como conselho, mas nada produz, pois o
mérito dele será para quem o deu. E, se o conselho é mau, e não é acolhido pelo
coração bom, e em vão tentado com blandícias ou terrores para levá-lo á
prática, então ele adquire um valor de vitória sobre o mal, e de martírio pela
fidelidade ao bem e por isso prepara um grande tesouro no Reino dos Céus.
Quando pois, o vosso coração
for tentado por outros, meditai, pondo-vos sob a Luz de Deus. Se isso pode ser
palavra boa, e se, com a ajuda de Deus, que permite as tentações, mas que não
quer a vossa ruína, olhai se isso é, ou não coisa boa, e sabei dizer a vós
mesmos a quem vos tenta:
“ Não. Eu continuo fiel ao meu Senhor, e que esta fidelidade me absolva
dos meus pecados passados, e me readmita, não do lado de fora, mas do lado de
dentro, nos confins dele, porque também para mim o Altíssimo mandou o seu
Filho, a fim de conduzir-me á salvação eterna.”
( O Evangelho como me foi
Revelado – Maria Valtorta, pgs. 141,142,143,144,145)
A paz de Jesus.
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