Jesus visita o Batista perto de Hinon.
27 de abril de 1945.
Uma clara noite de luar, tão clara, que o
terreno se revela em todos os seus particulares e os campos com o trigo nascido
há poucos dias, parecem tapetes de uma felpa verde prateada, listrados pelas
fitas escuras dos caminhos e vigiados pelos troncos das árvores todos brancos
do lado da lua e todos pretos do lado do poente. Jesus caminha tranquilo e
sozinho. Vai muito rápido, até encontrar um curso d'água, que desce borbulhante
em direção à planície no sentido noroeste. Sobe por ele até um lugar solitário
perto de uma encosta cheia de árvores. Faz uma volta ainda, subindo por um atalho,
e chega a um abrigo natural, num dos lados da colina.
Entra e se inclina sobre alguém que está
deitado, e que mal pode ser visto ao clarão do luar, que ilumina o caminho, mas
não penetra na caverna. Jesus o chama: "João".
O homem desperta e se assenta,
ainda ofuscado pelo sono. Mas logo dá-se conta de Quem é que o está chamando e
num pulo põe-se de pé, para depois prostrar-se por terra, dizendo:
"Como é que veio a mim o meu
Senhor?".
"Para contentar o teu coração e o meu. Tu
me queria ver, João. Eis-me. Levanta-te. Vamos sair para a luz do luar e
sentar-nos na pedra que está junto à caverna para conversarmos".
João obedece, levanta-se e sai. Mas quando
Jesus sentou-se, ele em sua pele de ovelha, que mal lhe cobre o corpo
magríssimo, põe-se de joelhos diante do Cristo, joga para trás seus cabelos
longos e descompostos, que lhe estavam caindo sobre os olhos, para ver melhor o
Filho de Deus. O contraste é muito forte. Jesus é pálido e loiro, de cabelos
macios e penteados, com uma barba curta por baixo do rosto, e o outro é uma
verdadeira touceira de pelos muito pretos dos quais apenas aparecem dois olhos
encovados, eu diria febris, de tanto que brilham em sua cor negra de azeviche.
"'Vim para dizer-te:
"obrigado". Tu tens cumprido e estás cumprindo, com a perfeição da
Graça que há em ti, a tua missão de meu Precursor. Quando chegar a hora,
entrarás a meu lado no Céu, porque tudo terás merecido de Deus. Mas, naquela espera,
já estarás na paz do Senhor, meu amigo dileto".
"Bem depressa entrarei na paz. Meu Mestre
e Deus, abençoa o teu servo para fortalecê-lo na última prova. Eu não ignoro
que ela já está próxima e que ainda tenho que dar um testemunho: o sangue.
E Tu, mais ainda do que eu, não ignoras que
está para chegar a minha hora. A tua vinda foi a misericordiosa bondade do teu
coração de Deus que a quis, para fortalecer o último mártir de Israel e o
primeiro mártir dos tempos novos. Mas diz-me uma coisa: terei que esperar muito
a tua vinda?".
"Não, João. Não muito
mais do que o tempo que decorreu do teu ao meu nascimento".
"Seja bendito o Altíssimo por isso.
Jesus... posso dizer-te assim?". "Tu o podes, tanto pelo sangue, como
pela santidade. Aquele Nome, que os pecadores também dizem, pode ser dito pelo
santo de Israel. Para eles é salvação, para ti seja doçura. Que queres de
Jesus, teu Mestre e primo?".
"Eu vou morrer. Mas como
um pai se preocupa com seus filhos, eu me preocupo com os meus discípulos. Os
meus discípulos... Tu és Mestre e sabes como para com eles é vivo em nós o
amor. A única pena que eu tenho ao morrer é o temor de que eles se percam, como
ovelhas sem pastor. Recolhe-os, Tu. Eu te entrego os três que já são teus e que
me foram perfeitos discípulos, à espera de Ti. Neles, e especialmente em
Matias, está realmente presente a Sabedoria. Outros tenho. E a Ti virão. Mas a
estes, deixa que eu os confie a Ti pessoal mente. São os três mais
queridos". "
E Eu também os considero
queridos.
Vai tranquilo, João. Eles não se perderão. Nem
estes nem os outros que tens, verdadeiros discípulos. Eu recolho a tua herança
e a velarei como o tesouro mais caro, vindo de perfeito amigo meu e servo do
Senhor". João se prostra por terra
e, o que parece impossível em tão austero personagem, chora com fortes soluços
de alegria espiritual. Jesus pousa a mão sobre a cabeça dele. "O teu
pranto, que é de alegria e humildade é o eco de um canto longínquo, ao som do
qual o teu pequeno coração pulou de júbilo. São, aquele canto e este pranto, o mesmo
hino de louvor ao Eterno que "fez grandes coisas, Ele que é poderoso, nos
espíritos humildes". Também minha Mãe está para entoar de novo o seu
canto, já cantado então. Mas depois, também para Ela virá a maior glória, como
para ti, depois do martírio. Eu te trago também as saudações Dela. Todas as
despedidas e todos os confortos. Tu o mereces. Aqui não há mais do que a mão do
Filho do homem, que está sobre a tua cabeça, mas, do Céu aberto, desce a Luz e
o Amor a abençoar-te, João".
"Eu não mereço tanto. Eu
sou o teu servo".
"Tu és o meu João. Naquele dia, junto ao
Jordão, Eu era o Messias que se manifestada; aqui agora é o primo e o Deus, que
te quer dar o viático do seu amor de Deus e de parente. Levanta-te, João. Demos
um ao outro o beijo de adeus".
"Não mereço tanto... Eu
sempre o desejei durante toda a vida. Mas não ouso fazer este ato sobre Ti. Tu
és o meu Deus".
"Sou o teu Jesus. Adeus. A minha alma
estará perto da tua até à paz. E vive e morre em paz quanto aos teus
discípulos. Não posso dar-te senão isto agora. Mas no Céu te darei o cêntuplo,
porque achaste graça aos olhos de Deus".
Jesus o levantou e o abraçou, beijando-o nas
faces e sendo por ele beijado. Depois João se ajoelha ainda e Jesus lhe impõe
as mãos sobre a cabeça e reza com os olhos voltados para o céu. Parece que o
está consagrando. É majestoso. O silêncio se prolonga assim por algum tempo.
Depois Jesus se despede, com sua doce saudação:
"A minha paz esteja sempre contigo",
e retoma o caminho por onde veio.
( O Evangelho como me foi revelado
– Maria Valtorta, Vl 2, pgs 422,423,424,425.)
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