A RESPOSTA DE JESUS AOS JUDEUS QUE O CRITICARAM POR SALVAR A VIDA DE UM GENTIO.
Uma mulher alta e formosa chama o Lúcio e ele
deixa Jesus, gritando: "É a mamãe!", e a mulher ele grita:
"Tenho um amigo grande, sabes? É um
Mestre!...".
A mulher não se afasta com o
filho, ao contrário, vai até Jesus e lhe pergunta: "Salve! Não és Tu o
homem da Galiléia, que ontem falou no porto?".
"Sou Eu".
"Espera-me aqui, então.
Eu volto logo", e se vai com o seu pequeno. Entrementes, os outros
apóstolos lambem chegaram, todos, com exceção de Mateus e de João, e perguntam:
"Quem é ela?".
"É uma romana, penso eu", responde Simão e os outros "Que é que
ela queria?".
"Ela disse que a esperasse aqui. Logo
saberemos".
Algumas pessoas, neste meio tempo, foram
chegando perto e curiosas esperam. A mulher volta com outros romanos.
"Então, Tu és o Mestre?", pergunta um, que parece ser servo de alguma
casa senhoril. E, tendo obtido a confirmação, pergunta: "Sentirias
repugnância em curar uma filha pequena de uma amiga de Cláudia? A menina está à
morte, porque se sente sufocada e nem o médico sabe de que é que ela está
morrendo. Ontem à tarde estava boa. Esta manhã em agonia". "Vamos.”
Dão uns poucos passos por um caminho que vai em direção ao lugar em que
estiveram ontem e chegam ao portão, todo aberto, de uma casa que parece
habitada por romanos.
"Espera um momento". O homem entra
depressa e logo depois torna a aparecer, dizendo: "Vem". Mas antes
ainda que Jesus pudesse entrar, sai de lá uma jovem de aspecto senhoril, mas em
condições mais que visíveis de uma grande aflição. Tem nos braços uma pequenina
criatura de poucos meses, quase inerte, lívida como alguém que se está
sufocando. Eu diria que estava com uma difteria mortal e já em seus últimos
momentos de vida. A mulher se refugia no peito de Jesus, como um náufrago que
se apega a um rochedo. O seu pranto é tal, que não a deixa falar. Jesus pega a
criaturinha, que está com pequenas movimentos convulsivos, com as mãozinhas cor
de cera e as unhas já roxas e a levanta. A cabecinha dela cai para trás, sem
força. A mãe, sem soberba de romana diante do hebreu, deixou-se cair na poeira
aos pés de Jesus e soluça, com o rosto erguido, os cabelos meio soltos, os
braços estendidos tocando na veste e no manto de Jesus. Atrás dela e ao redor,
os romanos da casa e as hebréias da cidade estão olhando. Jesus molha o seu
dedo indicador direito em sua saliva e o põe na boquinha anelante, introduzindo-o
para baixo. A menina se debate e torna-se mais escura ainda. A mãe grita:
"Não! Não!" e parece alguém que se contorce sob uma lamina que a
traspassa. As pessoas suspendem a respiração. Mas o dedo de Jesus sai de lá
envolvido por uma pelota de membranas purulentas e a menina não mais se debate
e, depois de uma pequena ameaça de choro, se acalma, com um sorriso inocente,
agitando as mãozinhas e movendo os lábios como um passarinho que pipila,
batendo as pequenas asas, à espera de que se lhe dê comida.
"Toma, mulher. Dá-lhe o
leite. Ela está curada". A mãe está de tal modo atordoada, que pega a
pequenina e estando como está, na poeira, beija-a e a acaricia, dá-lhe o peito
e, como uma louca, se esquece de tudo que não seja a sua pequenina. Um romano
pergunta a Jesus: "Mas como foi que pudeste? Eu sou o médico do Procônsul
e sou douto. Procurei remover o obstáculo. Mas ele estava em baixo, muito em
baixo!... E Tu... assim...".
"Tu és douto. Mas contigo não está o Deus
verdadeiro. Que Ele seja bendito por isso! Adeus". E Jesus põe-se em movimento,
como querendo sair dali. Mas eis que um
pequeno grupo de israelitas se sente na necessidade de intervir.
"Como foi que te
permitiste aproximar-te dos estrangeiros? Eles são corruptos, são impuros, e
todos os que se aproximam deles ficam como eles". Jesus os olha - são três
- fixo, severo e depois fala:
"Não és tu o Ageu? O homem de Azoto, que
veio aqui no mês de Tisri passado procurar fazer negócios com o mercador, que
tem seu posto nos alicerces da fonte velha? E tu, não és o José de Ramá, que
vieste até aqui para consultar o médico romano, e tu bem sabes, como Eu sei, o
porquê? E então? Não vos sentis impuros?".
"Um médico nunca é estrangeiro. Ele cura
o corpo, e o corpo é igual para todos".
"A alma o é, com maior razão do que o
corpo. Afinal, que foi que Eu curei? O corpo inocente de um pequenino e, por
este meio, espero curar as almas não inocentes dos estrangeiros. Como médico e
como Messias, posso, portanto, aproximar-me seja lá de quem for".
"Não o podes".
"Não, Ageu? E tu, por que
tratas com o mercador romano?".
"E, uma vez que não tocas na sua carne,
mas somente aquilo que foi tocado pela sua mão, achas que não te contaminas.
Oh! Como sois cegos e cruéis! Ouvi, todos. Justamente no livro do Profeta do
qual esse traz o nome, está escrito: "Apresenta aos sacerdotes esta
questão sobre a Lei: 'Se um homem leva uma carne santificada na dobra de sua
veste e com ela toca depois no vinho ou nas comidas, no pão, ou no óleo ou
outros alimentos, ficarão eles santificados?'. E os sacerdotes responderam:
'Não'. Então Ageu disse: 'Se alguém, que ficou imundo por ter tocado em um
morto, tocar em uma destas coisas, ficará ela contaminada?'. E os sacerdotes
responderam: 'Sim"'. Por esta astuciosa, mentirosa e incoerente maneira de
agir, vós impedis e condenais o Bem e só aceitais o que vos traz vantagens.
Então cessa o desprezo, a repugnância, a náusea. Vós discernis, desde que não
vos traga prejuízo pessoal, se uma coisa é imunda ou torna impuro, e se aquela
outra não o é. E como podeis, bocas mentirosas, professar que, se aquilo que é
santificado por ter tocado numa carne ou coisa santa, não santifica aquilo que
toca, aquilo que tocou coisa imunda possa tornar imundo aquilo que toca? Não
compreendeis que vos estais desmentindo a vós mesmos, ó mentirosos ministros de
uma Lei de Verdade, ó aproveitadores da mesma, que a torceis como uma corda,
conforme achais que podeis tirar dela alguma vantagem, ó fariseus hipócritas
que, sob um pretexto religioso, quereis desafogar o vosso rancor humano,
completa mente humano, ó profanadores do que é de Deus, ó insultadores e
inimigos do Mensageiro de Deus?
Em verdade, em verdade Eu vos digo que todos
os vossos atos, todas as vossas conclusões, todos os vossos movimentos, têm
como motivo um completo mecanismo de astúcia, ao qual servem de rodas e de
molas, de pesos e tirantes, os vossos egoísmos, as vossas paixões, as vossas
insinceridades, os vossos ódios, as vossas sedes de dominar, as vossas invejas.
Que vergonha! Avarentos, tremebundos, rancorosos, vós viveis com o medo
orgulhoso de que alguém vos supere, mesmo quando não são da vossa casta. E
mereceis, então, ser como aquele do qual tendes medo e raiva! Vós, como diz
Ageu, que, de um montão de vinte alqueires fazeis um de dez, e de cinquenta
barris fazeis vinte, embolsando a vantagem da diferença, enquanto, e pelo
exemplo a ser dado ao homem, e pelo amor a ser prestado a Deus, deveríeis ao
monte dos alqueires e ao monte dos barris, não tirar, mas acrescentar, do vosso
bolso, em favor de quem tem fome, e mereceis ser esterilizados pelo vento
abrasador, pela ferrugem e pelo granizo em todas as obras de vossas mãos. Quem
são entre vós os que vêm a Mim? Estes, estes que para vós são esterco e
imundície, estas supremas ignorâncias, que nem sabem que há um verdadeiro Deus,
eles vêm a Quem traz presente este Deus, nas palavras e nas obras. Mas vós, mas
vós! Vós vos fizestes um nicho, e aí estais. Áridos, frios como ídolos à espera
dos incensos e adorações. E, visto que vos credes uns deuses, parece-vos inútil
pensar no verdadeiro Deus, assim como deve ser pensado, e vos parece perigoso
que outros, que não sois vós, ousem fazer o que vós não ousais. Vós não podeis,
na verdade, ousá-lo, porque sois uns ídolos. E porque sois servos do ídolo.
Mas, quem ousa, pode, porque não ele, mas Deus opera nele.
Ide! Ide dizer a quem vos enviou
atrás de meus calcanhares, que Eu
desprezo os mercadores, que acham não ser contaminação vender as mercadorias,
ou a pátria, ou o Templo àqueles de quem recebem dinheiro. Dizei a esses que Eu
sinto repugnância dos brutos, que só têm o culto da própria carne e do próprio
sangue e pela cura destes não acham ser contaminação aproximarem-se de um
médico estrangeiro. Ide dizer que a medida é igual e que não há duas medidas.
Ide dizer que Eu, o Messias, o Justo, o Conselheiro, o Admirável, Aquele que
terá sobre si o Espírito do Senhor com seus sete dons, Aquele que não julgará
pelo que aos olhos parece ser, mas pelo que é segredo de corações, Aquele que
não condenará pelo que ouve com os ouvidos, mas pelas vozes espirituais que
ouvirá no interior de cada homem, Aquele que tomará a defesa dos humildes e
julgará os pobres com justiça, Aquele que Eu sou, porque isto Eu sou, já estou
julgando e punindo os que sobre a terra são somente terra, e o sopro da minha
respiração, fará morrer o ímpio e exterminará o seu covil, enquanto que haverá
Vida e Luz, Liberdade e Paz para aqueles que, desejosos de justiça e de fé, virão
ao meu monte santo, para se saciarem da Ciência do Senhor.
Isto é Isaías, não é verdade ó
meu povo! Todo ele vem de Adão, e Adão vem de meu Pai. Todo ele, pois, é obra
do Pai e a todos tenho o dever de reunir ao Pai. E Eu os conduzo a Ti, ó Pai
santo, eterno, poderoso. Eu os conduzo a Ti estes filhos errantes, depois de
havê-los reunido, chamando-os com palavras de amor, reunindo-os sob a minha
vara de pastor, parecida com a que Moisés levantou contra as serpentes
mortíferas, para que Tu tenhas o teu Reino e o teu povo. Nem faço distinções,
porque no fundo de cada vivente Eu vejo um ponto que brilha mais do que o fogo:
a alma, uma centelha de Ti, ó eterno Esplendor. Ó meu eterno desejo! Ó minha
incansável vontade! Isto Eu quero. Com isto Eu me queimo. Uma terra que cante,
toda, o teu Nome. Uma humanidade que te chame Pai. Uma redenção que salve a
todos. Uma vontade fortificada que faça todos obedientes à tua vontade. Um
triunfo eterno, que encha o Paraíso com um hosana sem fim... Oh! Multidão dos
Céus!... Aí está. Eu vejo o sorriso de Deus... e este é o prêmio contra todas
as durezas humanas".
Os três fugiram, sob a
saraivada de reprovações. Os outros todos, romanos ou hebreus, ficaram de boca
aberta. A mulher romana, com a pequenina, saciada de leite que dorme tranquila
no colo materno, ficou lá onde estava, quase aos pés de Jesus, e chora de
alegria ma terna e de comoção espiritual. Muitos estão chorando, por causa da
arrasadora conclusão de Jesus que, em seu êxtase, parece flamejar. E Jesus,
abaixando o olhar e o espírito do Céu para a terra, vê a multidão, vê a mãe...
e, ao passar, depois de um gesto de adeus a todos, toca de leve com a mão a
jovem romana, como que a abençoá-la por sua fé. E vai-se embora com os seus,
enquanto o povo, ainda assombrado, fica onde está...
( O Evangelho como me foi
revelado – Maria Valtorta Vol 2)
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