“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

domingo, 17 de novembro de 2024

BÍBLIA SAGRADA - ADVENTO DA IGREJA - VOLUME 1

 

BÍBLIA SAGRADA

 

 

 

ADVENTO DA IGREJA

 

 

 

VOLUME 1

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

               A Bíblia não se encerra com o Livro do Apocalipse de João. Ela é a revelação da existência de Deus como único Criador de tudo que existe, seja visível ou invisível. É a Palavra de Deus, inspirada por Ele nas consciências dos homens, que às professam por meio de palavras e escritos. É a história humana terrestre desde seu início, e terá um fim ao completar os sete mil anos proféticos, e então, o último dia chegará com o julgamento de toda vida humana, desde Adão e Eva até o último homem nascido de mulher. Nos primórdios dos tempos, como existiam apenas cinco livros, eram chamados de Torá em hebraico e Pentateuco em grego. Com a inclusão dos livros subsequentes do Antigo Testamento, chegando a quarenta e seis, naturalmente os gregos os chamavam Bíblia, que na língua deles significa livros. Com o Novo Testamento da Nova Aliança agregou-se mais 27 livros, totalizando setenta e três, mas a história humana terrestre não terminou, a Palavra de Deus também não se calou. Ela continuou a ser escrita pelo Espírito Santo através de seus Santos e Mártires até o dia de hoje, e tais livros com as revelações do Céu devem ser agregadas na Bíblia, fazer parte dela, como continuação. Não podemos deixa-la com a história da humanidade escrita parcialmente, aceitando somente os primeiros quatro mil anos, desde a queda de nossos progenitores. A continuação da Bíblia deve conter primeiramente o início da história da Esposa de Cristo na Terra, a Igreja Católica Apostólica Romana, sua nascente, e através dela colocar todos os livros inspirados de seus Santos, visionários, com a história de todos os Papas. Nesta continuação da Bíblia foram incluídas milhares de Palavras vindas do Céu, porém, não foi possível, infelizmente, colocar todas as mensagens.

               O advento da Igreja, é o tempo do Espírito Santo, da Terceira Pessoa da Trindade, se assim não o fizermos, dando continuidade, estaremos menosprezando-A. Seria como se o Espírito Santo não tivesse existido. É o advento da “Pedra” profetizada por Daniel, referente ao sonho de Nabucodonosor sobre a Estátua, que destrói todos os reinos, saindo-se única vencedora. Também é a “Pedra”, alegoria dada por Jesus à Pedro Apóstolo como primeiro Pontífice da Nova Aliança. É a Pedra rejeitada pelos construtores do Templo tornando-se Pedra angular, perfeita e eterna. Felizes aqueles que acreditaram e praticaram os ensinamentos da Tradição da Igreja, instrumento infalível para a salvação das almas, cuja função foi entronizar Deus no coração dos homens, transformando-o Templo do Espírito Santo. Este é o Templo verdadeiro onde Deus deseja estar, no coração dos homens. Também é preciso reconhecer que somente dentro das Igrejas Católicas, depois do Rito Eucarístico, recebemos verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Cristo transubstanciado, adquirindo portanto, naquele momento sublime e milagroso, Deus em nossos corações, com a consumação da hóstia consagrada. Os sete Sacramentos da Igreja dão uma grande ajuda para as almas desejosas de serem salvas da condenação eterna, mas o Sacramento da Eucaristia é o momento de maior elevação espiritual para os cristãos. Deus permanece naquele coração, enquanto não pecar novamente.

               Os antipapas que surgiram durante a história da Igreja, nada mais são do que cismáticos, que ousaram se auto proclamar Pontífices, esquecidos de seus deveres cristãos em aceitar as recomendações tradicionais da Igreja. A Velha Serpente colocou trinta e nove antipapas nestes dois mil anos, sendo o último deles Mario Jorge Bergoglio, identificado no livro do Apocalipse como a Besta que veio da Terra, o lacaio do Anticristo. A ação das Trevas foi constante, a fim de desestabilizar a Igreja de Cristo, criar confusão e divisão. É esta história riquíssima que devemos eternizar para os habitantes do último milênio, o legado da Igreja, a história completa da luta da Luz contra as Trevas.

               Neste tempo da Igreja, uma missão especial de salvação foi dada pelo Criador à Maria Santíssima, a Mulher Vestida de Sol, a fim de preparar o rebanho para a Grande Tribulação. Com as inúmeras aparições da Mãe em muitos lugares da terra, contribuiu com suas revelações, desvendar as ciladas de Satanás, nos orientar e elevar a nossa fé. Ela, a Mãe do Verbo, salvou mais almas para a glória de Deus, do que todos os Santos juntos. Houve em torno de duas mil aparições de Maria desde a fundação da Igreja, e em quase todos estes lugares pediu para construir um Santuário, uma Igreja Católica em sua memória; nestes livros do advento da Igreja estão somente as mais reveladoras. Não porque tais aparições excluídas sejam menos importantes, muito menos os inúmeros cristãos desconhecidos do mundo que aqui não foram lembrados, mas conhecidos e amados pelo Senhor, devido ao grande trabalho em prol da Igreja e da conversão das almas. Há mais de vinte mil Santos e beatos católicos reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica através do processo de canonização, nossos heróis que fizeram a vontade de Deus no mundo, a ponto de, pela graça de Deus, merecerem esse reconhecimento. Foram luzes de fé e esperança, engrandecendo espiritualmente a Santa Igreja através dos tempos. Nesta continuação da Bíblia estão mencionados apenas os mais relevantes. Muitos destes Santos e mártires Católicos ficaram com seus corpos incorruptíveis depois da morte. Alguns levaram décadas para começarem a se decompor, outros mais de cem anos, e outros permanecem incorruptíveis até os dias de hoje. Trata-se de pessoas com uma espiritualidade muito elevada, que perseveraram até o fim de suas vidas purificando a alma e o corpo, doando-se inteiramente ao Senhor. Os corpos incorruptos destes Santos ficaram assim por um milagre sobrenatural vindo do Criador, com o intuito de mostrar que é possível a matéria se eternizar conjuntamente com o espírito para o julgamento final, e para que crêssemos no que disseram e fizeram esses servos do Altíssimo. Esses inúmeros corpos estão em exposição nos Santuários e Igrejas de Cristo espalhadas pelo mundo.

               Lembremos também que todas as relíquias de Jesus Cristo estão nesta Santa Igreja, tais como: O Santo Sudário de Turim, o pano que cobriu Jesus no túmulo de José de Arimatéia, a Túnica de Argentil, confeccionada por Maria, vestiu Jesus durante o carregamento da Cruz, o Santo Sudário de Oviedo, colocado sobre a cabeça de Jesus no sepulcro, a Coroa de espinhos, os pregos, o Véu de Verônica, pano que enxugou o rosto de Cristo durante o carregamento da Cruz, onde miraculosamente se estampou o Rosto Santo do Salvador, além de outras. Nossa Senhora guardou tais relíquias num baú de madeira, e depois de sua morte foi entregue a João Apóstolo e dele para outros lugares. Esta Igreja tem sido a força motriz por trás de alguns dos principais eventos da história mundial, incluindo a cristianização da Europa Ocidental, Central e da América Latina, a disseminação da alfabetização, hospitais, o desenvolvimento da arte e música, literatura, arquitetura, contribuições para o método científico, além de outras inestimáveis e necessárias influência social enfatizando as virtudes e a moralidade. Ela desempenhou um papel poderoso nos assuntos globais, incluindo a Reconquista, as Cruzadas, a Inquisição, a Controvérsia da Investidura, o estabelecimento do Sacro Império Romano e a queda do Comunismo na Europa Oriental no final do século XX. Durante todos estes conflitos, principalmente durante a primeira e segunda guerra mundial, atuou sempre como pacificadora, ajudando a todos os necessitados que a ela recorriam como última instância, para sobreviverem. Não é ousado dizer que o mundo sem o cristianismo teria se tornado uma ruína moral e social em todos os aspectos.

               A Igreja Católica Apostólica Romana é a maior e mais longínqua instituição da terra, e a ela devemos nossa gratidão a Deus, por tê-la criado para o nosso bem. Esta grandiosíssima instituição chega nestes finais dos tempos com os números de sua imponência: tem quase 220 mil Igrejas espalhadas pelo mundo, aproximadamente um bilhão e quatrocentos mil fiéis, 5.340 Bispos, 407.870 Sacerdotes, 49.200 diáconos. Ajuda administrar 74.368 Jardins de Infância, frequentados por 7.565.095 alunos, 100.939 escolas primárias com 34.699.835 alunos, 49.868 escolas secundárias para 19.485.025 alunos. Acompanha 2.483.406 alunos do ensino médio e 3.925.325 estudantes universitários. Banca 5.405 hospitais, 15.276 lares de idosos, 10.567 creches. O Legado da Igreja é a certeza de que mostrou o Caminho certo a seguir, a Verdade contida em sua doutrina para conquistar a Vida eterna. Enquanto a Bíblia anterior foi escrita providencialmente por Deus com enigmas indecifráveis, a atual chegou para revelá-los, a fim de que a humanidade fique sabendo o significado de cada Profecia, antes da segunda vinda de Cristo. Deus, amorosíssimo como é, jamais deixaria de providenciar tais revelações, utilizando para isso seus servos, os visionários do final dos tempos. As visões e mensagens inspiradas pelo Paráclito, recebidas pelos visionários – antigamente chamados de Profetas -, o autor é Deus. Já a história dos Papas, e os eventos escatológicos mais marcantes da humanidade, foram escritas e reescritas por inúmeros autores, por centenas de anos, mantendo sempre a mesma história, mudando apenas a forma de contá-las, de acordo com cada autor-biográfico, portanto não se pode cobrar direitos autorais dos textos aqui apresentados. A grande maioria das citações históricas foi escrita por integrantes da própria Igreja, identificando seu escrevente apenas como fonte de informação. A começar pela Bíblia, o Martirológio Romano, Martirológio Jeronimiano, o Liber Pontificalis, Legenda Áurea, entre outros, são obras da Igreja Católica. Sendo a fonte das mensagens deste livro inspiradas por Deus, ou historicamente por ministros da Igreja, o conteúdo torna-se propriedade de toda a humanidade, porque é a herança de nossos pais, é o legado da Igreja, a Verdade que não se cala. Em apocalipse 22;18-19, João nos adverte para que ninguém tire ou acrescente nada no Livro por ele escrito. Muitos entenderam que não era para acrescentar novas revelações do Céu. Não, meus queridos cristãos. A recomendação foi apenas para não alterar somente o que ele havia escrito. Afinal, quem é que pode limitar as providências Divinas? Quem como Deus?   

 

ÍNDICE GERAL

 

Nesta continuação da história humana adotou-se como referência de busca a escatologia, portanto não tem número de páginas, nem mesmo capítulos e versículos.

 

BÍBLIA - ADVENTO DA IGREJA - VOLUME 1

 

1 – S.PEDRO – 33-67

1.1- Nossa Senhora do Pilar

2 – S. LINO – 67-76

3 – S. CLETO – 77-88

4 – S. CLEMENTE I – 89-98

5 – S. EVARISTO – 98-105

6 – S. ALEXANDRE I – 105-115

7 – S. SISTO I – 115-125

8 – S. TELÉSFORO – 125-136

9 – S. HIGINO – 137-140

10 – S. PIO I – 140-155

11 – S. ANICETO – 155-166

12 – S. SOTERO – 166-175

13 – S. ELEUTÉRIO – 175-189

14 – S. VÍTOR I – 189-199

15 – S. ZEFERINO – 199-217

16 – S.CALISTO I – 217-222

Antipapa: Hipólito (217-235)

17 – S. URBANO I – 222-230

17.1 - Santa Cecília

18 – S. PONCIANO – 230-235

19 – S. ANTERO – 235-236

20 – S. FABIANO – 236-250

21 – S. CORNÉLIO – 251-253

Antipapa: Novaciano (251)

22 – S. LÚCIO I – 253-254

23 – S. ESTÊVÃO I – 254-257

24 – S. SISTO II – 257-258

25 – S. DIONÍSIO – 259-268

26 – S. FÉLIX – 269-274

27 – S. EUTIQUIANO – 275-283

27.1 – Santa Helena

28 – S. CAIO – 283-296

29 – S.MARCELINO – 296-304

30 – S. MARCELO I – 307-309

31 – S. EUSÉBIO – 309-310

32 – S. MELQUÍADES – 311-314

33 – S. SILVESTRE I – 314-335

33.1 - São Nicolau

34 – S. MARCOS - 336

35 – S. JÚLIO I – 337-352

36 – S. LIBÉRIO – 352-366

Antipapa: Félix II (355- 365)

36.1 - Aparição de Nossa Senhora das Neves

37 – S. DÂMASO I – 366-384

Antipapa: Ursino (366-367)

37.1 - São Jerônimo

38 – S. SIRÍCIO – 385-398

38.1 - Santo Agostinho de Hipona

39 – S. ANASTÁCIO I – 399-401

40 – S. INOCÊNCIO I – 401-417

41 – S. ZÓSIMO – 417-418

42 – S. BONIFÁCIO I – 418-422

Antipapa: Eulálio (418-419)

43 – S. CELESTINO I – 422-432

44 – S. SISTO III – 432-440

45 – S. LEÃO I – 440-461

46 – S. HILÁRIO – 461-468

47 – S. SIMPLÍCIO – 468-483

48 – S. FÉLIX III – 483-492

49 – S. GELÁSIO I – 492-496

50 – S. ANASTÁCIO II – 496-498

51 – S. SÍMACO – 498-514

Antipapa: Lourenço (498-505)

51.1 - São Bento

52 – S. HORMISDAS – 514-523

53 – S. JOÃO I – 523-526

54 – S. FÉLIX IV – 526-530

55 – BONIFÁCIO II – 530-532

Antipapa: Dióscoro (530)

56 – JOÃO II – 533-535

57 – S.AGAPITO I – 535-536

58 – S. SILVÉRIO – 536-537

59 – VIRGÍLIO – 537-555

60 – PELÁGIO I – 556-561

61 – JOÃO III – 561-574

62 – BENTO I – 575-579

63 – PELÁGIO II – 579-590

64 – S. GREGÓRIO I – 590-604

65 – SABINIANO – 604-606

66 – BONIFÁCIO III - 607

67 – S. BONIFÁCIO IV – 608-615

68 – S. ADEODATO I – 615-618

69 – BONIFÁCIO V – 619-625

70 – HONÓRIO I – 625-638

71 – SEVERINO - 640

72 – JOÃO IV – 640-642

73 – TEODORO I – 642-649

74 – S. MARTINHO I – 649-655

75 – S. EUGÊNIO I – 654-657

76 – S. VITALIANO – 657-672

77 – ADEODATO II – 672-676

78 – DONO – 676-678

79 – S. AGATO – 678-681

80 – S. LEÃO II – 682-683

81 - 684-685 – S. BENTO II – 684-685

82 – JOÃO V – 685-686

83 – CÓNON – 686-687

Antipapas: Teodoro (687), Pascoal (687-692)

84 – S. SÉRGIO I – 687-701

85 – JOÃO VI – 701-705

86 – JOÃO VII – 705-707

87 – SISÍNIO - 708

88 – CONSTANTINO – 708-715

89 – S.GREGÓRIO II – 715-731

90 – S. GREGÓRIO III – 731-741

91 – S. ZACARIAS – 741-752

92 – ESTÊVÃO I (II) - 752

93 – S.ESTÊVÃO II (III) – 752-757

94 – S. PAULO I – 757-767

Antipapas: Constantino II (767-768), Filipe (768)

95 – S. ESTÊVÃO III (IV) – 768-772

96 – ADRIANO I – 772-795

97 – S.LEÃO III – 795-816

97.1 - Aparição de Nossa Senhora em Corbie

98 – S. ESTÊVÃO IV, (V) – 816-817

99 – S. PASCOAL I – 817-824

100 – EUGÊNIO II – 824-827

101 – VALENTINO - 827

102 – GREGÓRIO IV – 827-844

Antipapa: João (844)

103 – SÉRGIO II – 844-847

104 – S.LEÃO IV – 847-855

Antipapa: Anastácio (855)

105 – BENTO III – 855-858

106 – S. NICOLAU I – 858-867

107 – ADRIANO II – 867-872

107.1 - Santos Cirilo e Metódio

108 – JOÃO VIII – 872-882

109 – MARINO I – 882-884

110 – ADRIANO III – 884-885

111 – ESTÊVÃO V (VI) – 885-891

112 – FORMOSO – 891-896

113 – BONIFÁCIO VI - 896

114 – ESTÊVÃO VI (VII) – 896-897

115 – ROMANO - 897

116 – TEODORO II - 897

117 – JOÃO IX – 898-900

118 – BENTO IV – 900-903

119 – LEÃO V - 903

Antipapa: Cristóvão (903-904)

120 – SÉRGIO III – 904-911

121 – ANASTÁCIO III – 911-913

122 – LÂNDO – 913-914

123 – JOÃO X – 914-928

124 – LEÃO VI - 928

125 – ESTÊVÃO VII (VIII) – 929-931

126 – JOÃO XI – 931-935

127 – LEÃO VII – 936-939

128 – ESTÊVÃO VIII (IX) – 939-942

129 – MARINO II – 942-946

130 – AGAPITO II – 946-955

131 – JOÃO XII – 955-963

132 – LEÃO VIII – 963-964

133 – BENTO V – 964-965

134 – JOÃO XIII – 965-972

135 – BENTO VI – 973-974

Antipapa: Bonifácio VII (974)

136 – BENTO VII – 975-983

137 – JOÃO XIV – 983-984

138 – JOÃO XV – 985-996

139 – GREGÓRIO V – 996-999

Antipapa: João XVI (997- 998)

140 – SILVESTRE II – 999-1003

141 – JOÃO XVII - 1003

142 – JOÃO XVIII – 1003-1009

143 – SÉRGIO IV – 1009-1012

144 – BENTO VIII – 1012-1024

Antipapa: Gregório (1012)

145 – JOÃO XIX – 1024-1032

146 – BENTO IX – 1032-1044

147 – SILVESTRE III - 1045

148 – BENTO IX - 1045

149 – GREGÓRIO VI – 1045-1046

150 – CLEMENTE II – 1046-1047

151 – BENTO IX – 1047-1048

152 – DÂMASO II - 1048

153 – S. LEÃO IX – 1049-1054

154 – VÍTOR II – 1055-1057

155 – ESTÊVÃO IX (X) – 1057-1058

Antipapa: Bento X (1058)

156 – NICOLAU II – 1059-1061

156.1 - Aparição de Nossa Senhora de Walsingham

157 – ALEXANDRE II – 1061-1073

Antipapa: Honório II (1061-1072)

158 – S. GREGÓRIO VII – 1073-1085

Antipapa: Clemente III (1080 e 1084-1100)

159 – VÍTOR III – 1086-1087

160 – URBANO II – 1088-1099

160.1 - Santo Anselmo de Cantuária

161 – PASCOAL II – 1099-1118

Antipapas: Teodorico (1100-1102), Alberto (1102), Silvestre IV (1105-1111)

162 – GELÁSIO II – 1118-1119

Antipapa: Gregório VIII (1118-1121)

163 – CALISTO II – 1119-1124

164 – HONÓRIO II – 1124-1130

Antipapa: Celestino II (1124)

165 – INOCÊNCIO II – 1130-1143

Antipapas: Anacleto II (1130-1138), Vítor IV (1138)

166 – CELESTINO II – 1143-1144

167 – LÚCIO II – 1144-1145

168 – EUGÊNIO III – 1145-1153

168.1 – Santa Hildegarda de Bingen

169 – ANASTÁCIO IV – 1153-1154

170 – ADRIANO IV – 1154-1159

171 – ALEXANDRE III – 1159-1181

Antipapas: Vítor IV (1159-1164), Pascoal III (1164-1168), Calisto III (1168-1178), Inocêncio III (1179-1180)

172 – LÚCIO III – 1181-1185

173 – URBANO III – 1185-1187

174 – GREGÓRIO VIII - 1187

175 – CLEMENTE III – 1187-1191

176 – CELESTINO III – 1191-1198

177 – INOCÊNCIO III – 1198-1216

177.1 - São Domingos Gusmão

177.2 - Aparição de Nossa Senhora em Prouile

177.3 - São Francisco de Assis

177.4 - Santa Clara de Assis

178 – HONÓRIO III – 1216-1227

179 – GREGÓRIO IX – 1227-1241

180 – CELESTINO IV - 1241

181 – INOCÊNCIO IV – 1243-1254

181.1 – Santa Matilde de Hackeborn

181.2 - Aparição de Nossa Senhora do Carmo

182 – ALEXANDRE IV – 1254-1261

183 – URBANO IV – 1261-1264

184 – CLEMENTE IV – 1265-1268

185 – GREGÓRIO X – 1271-1276

186 – INOCÊNCIO V - 1276

187 – ADRIANO V - 1276

188 – JOÃO XXI – 1276-1277

189 – NICOLAU III – 1277-1280

190 – MARTINHO IV – 1281-1285

191 – HONÓRIO IV – 1285-1287

192 – NICOLAU IV – 1288-1292

193 – S.CELESTINO V - 1294

194 – BONIFÁCIO VIII – 1294-1303

195 – BENTO XI – 1303-1304

196 – CLEMENTE V – 1305-1314

197 – JOÃO XXII – 1316-1334

Antipapa: Nicolau V (1328-1330)

198 – BENTO XII – 1334-1342

199 – CLEMENTE VI – 1343-1352

199.1 - Santa Catarina de Siena

199.2 - Santa Brígida da Suécia

200 – INOCÊNCIO VI – 1352-1362

201 – URBANO V – 1362-1370

202 – GREGÓRIO XI – 1370-1378

202.1 - Santa Francisca Romana

203 – URBANO VI – 1378-1389

204 – BONIFÁCIO IX – 1389-1404

205 – INOCÊNCIO VII – 1404-1406

206 – GREGÓRIO XII – 1406-1417

Antipapas: Clemente VII (1378-1394), Bento XIII (1394-1423), Alexandre V (1409-1410), João XXIII (1410-1415)

207 – MARTINHO V – 1417-1431

207.1 - Santa Joana d`Arc

208 – EUGÊNIO IV – 1431-1447

Antipapa: Félix V (1439-1449)

208.1 - Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio

209 – NICOLAU V – 1447-1455

209.1 - Santa Catarina Gênova

210 – CALISTO III – 1455-1458

210.1 – Os Catorze Santos Auxiliares

211 – PIO II – 1458-1464

212 – PAULO II – 1464-1471

213 – SISTO IV – 1471-1484

214 – INOCÊNCIO VIII – 1484-1492

214.1 - Aparição de Nossa Senhora da Guarda

215 – ALEXANDRE VI – 1492-1503

216 – PIO III - 1503

217 – JÚLIO II – 1503-1513

218 – LEÃO X – 1513-1521

219 – ADRIANO VI – 1521-1523

220 – CLEMENTE VII – 1523-1534

220.1 - Santa Angela de Mérice

220.2 - Aparição de Nossa Senhora em Guadalupe

221 – PAULO III – 1534-1549

222 – JÚLIO III – 1550-1555

223 – MARCELO II - 1555

223. 1 - Aparição de Nossa Senhora em Kazan

224 – PAULO IV – 1555-1559

225 – PIO IV – 1559-1565

226 – S. PIO V – 1566-1572

226.1 - Santa Tereza D`avila

226.2 - Aparição de Nossa Senhora da Boa Saúde

227 – GREGÓRIO XII – 1572-1585

227.1 - Aparição de Nossa Senhora do Fetal

227.2 - São Camilo de Léllis

228 – SISTO V – 1585-1590

229 – URBANO VII - 1590

230 – GREGÓRIO XIV – 1590-1591

231 – INOCÊNCIO IX - 1591

232 – CLEMENTE VIII – 1592-1605

232.1 - Aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso

233 – LEÃO XI - 1605

234 – PAULO V – 1605-1621

234.1 - Aparição de Nossa Senhora de Siluva

235 – GREGÓRIO XV – 1621-1623

236 – URBANO VIII – 1623-1644

236.1 - São Vicente de Paulo

237 – INOCÊNCIO X – 1644-1655

237.1 - Aparição de Nossa Senhora de Coromoto

238 – ALEXANDRE VII – 1655-1667

238.1 - Aparição de Nossa Senhora de Jesus de Ágreda

238.2 - Aparição de Nossa Senhora de Laus

239 – CLEMENTE IX – 1667-1669

240 – CLEMENTE X – 1670-1676

241 – INOCÊNCIO XI – 1676-1689

242 – ALEXANDRE VIII – 1689-1691

243 – INOCÊNCIO XII – 1691-1700

244 – CLEMENTE XI – 1700-1721

244.1 - Aparição de Nossa Senhora Aparecida, Portugal

244.2 - Prodígio de Nossa Senhora Aparecida, Brasil

244.3 – Nossa Senhora Desatadora dos Nós

245 – INOCÊNCIO XIII – 1721-1724

246 – BENTO XIII – 1724-1730

247 – CLEMENTE XII – 1730-1740

248 – BENTO XIV – 1741-1758

248.1 - Santo Afonso de Ligório

248.2 - Aparição de Nossa Senhora da Ortiga

249 – CLEMENTE XIII – 1758-1769

250 – CLEMENTE XIV – 1769-1774

251 – PIO VI – 1775-1799

251.1 - Aparição de Nossa Senhora de Lavang

252 – PIO VII – 1800-1823

252.1 - Santa Ana Catarina Emmerich

253 – LEÃO XII – 1823-1829

254 – PIO VIII – 1829-1830

254.1 - Aparição de Nossa Senhora das Graças, Medalha Milagrosa

255 – GREGÓRIO XVI – 1831-1846

256 – PIO IX – 1846-1878

256.1 - São João Bosco

256.2 - Aparição de Nossa Senhora de La Salete

256.3 - Aparição de Nossa Senhora em Lichen

256.4 - Aparição de Nossa Senhora em Lurdes

256.5 - Aparição de Nossa Senhora da Boa Ajuda, Champion

256.6 - Aparição de Nossa Senhora da Esperança, Pontmain

 

BÍBLIA – ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 2

256.7 - Aparição de Nossa Senhora de Pellevoisin

257 – LEÃO XIII – 1878-1903

257.1 - Beata Maria Serafina Micheli

257.2- Aparição de Nossa Senhora de Knock

257.3 - Aparição de Nossa Senhora de Sheshan

257.4 - Beato Charles de Foucauld

257.5 - Santa Tereza de Lisiex

257.6 - Santa Josefa Menendes

258 – S. PIO X – 1903-1914

259 – BENTO XV – 1914-1922

259.1 - Aparição de Nossa Senhora em Fátima

260 – PIO XI – 1922-1939

260.1 - Santa Tereza Benedita da Cruz

260.2 - Santa Faustina Kowalska

260.3 - Aparição de Nossa Senhora das Lágrimas

260.4 - Aparição de Nossa Senhora a Beata Alexandrina M.C.Balazar

260.5 - Aparição da Virgem do Coração de Ouro

260.6 - Aparição de Nossa Senhora dos Pobres

260.7 - Aparição de Nossa Senhora no Sítio da Guarda

261 – PIO XII – 1939-1958

261.1 - Aparições de Jesus e Nossa Senhora à Maria Valtorta

261.1.1 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 1

261.1.2 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 2

261.1.3 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 3

261.1.4 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 4

 

BÍBLIA – ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 3

261.1.5 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 5

261.1.6 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 6

261.1.7 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 7

261.1.8 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 8

261.1.9 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 9

 

BÍBLIA – ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 4

261.1.10 - O Evangelho como me foi revelado, Volume 10

261.2 - Aparição de Nossa Senhora em Umbe

261.3 - Aparição de Nossa Senhora de Bonate

261.4 - Aparição de Nossa Senhora em La Codosera

261.5 - Aparição de Nossa Senhora de Todas as Nações

261.6 - Aparição de Nossa Senhora em Marienfried

261.7 - Aparição de Nossa Senhora do Rosário da Cova da Cruz

261.8 - Aparição de Nossa Senhora Virgem da Revelação

261.9 - Aparição de Nossa Senhora Rosa Mística, Montichiari

261.10 - Aparição de Nossa Senhora na Ilha de Bouchard

261.11 - Aparição de Nossa Senhora Medianeira

261.12 - Aparição de Nossa Senhora em Necedah

261.13 - Aparição de Nossa Senhora da América

261.14 - Prodígio de Nossa Senhora das Lágrimas, Itália

261.15 - Beata Elena Aielo

262 – Antipapa JOÃO XXIII – 1958-1963

262.1 - Aparição de Nossa Senhora Rainha de Turzovka

262.2 - Aparição de Nossa Senhora em Garabandal

263 – PAULO VI – 1963-1978

263.1 - Aparição de Nossa Senhora das Rosas, Maria Aux. Das Mães, Baisaid

263.2 - Aparição de Nossa Senhora Aparecida, Guiricema

263.3 - Aparição de Nossa Senhora da Eucaristia

263.4 - Aparição de Nossa Senhora em Akita

263.5 - Aparição de Nossa Senhora em Cua

263.6 - Aparição de Nossa Senhora em Caserta

263.7 - Aparição de Nossa Senhora ao Padre Stefano Gobbi

263.8 - Aparição de Jesus à Matilde Oliva Arias

264 – JOÃO PAULO I - 1978

265 – JOÃO PAULO II – 1978-2005

265.1 - Aparição de Nossa Senhora em Cuapa

265.2 - Aparição de Nossa Senhora em Medjugorje

265.3 - Aparição de Nossa Senhora em Naju

265.4 - Aparição de Jesus, Nossa Senhora, Miguel Arcanjo, e São Jose ao Discípulo

 

BÍBLIA – ADVENTO DA IGREJA – VOLUME 5

265.5 - Aparição de Nossa Senhora Rainha da Paz em Anguera

266 – BENTO XVI – 2005-2013

266.1 - Aparição de Jesus, Nossa Senhora à Maria Divina Misericórdia

267 - Antipapa FRANCISCO – 2013-2028

Legado do advento da Igreja

 

                           ABREVIATURAS      

1 Co = 1ª Epístola aos Coríntios

1 Cr = 1º Livro de Crônicas

1 Jo = 1ª Epístola de João

1 Pe = 1ª Epístola de Pedro

1 Rs = 1º Livro de Reis

1 Sm = 1o. Livro de Samuel

1 Tm = 1ª Epístola a Timóteo

1 Ts = 1ª Epístola aos Tessalonicenses

2 Co = 2ª Epístola aos Coríntios

2 Cr = 2º Livro de Crônicas

2 Jo = 2ª Epístola de João

2 Pe = 2ª Epístola de Pedro

2 Rs = 2ª Livro de Reis

2 Sm = 2º Livro de Samuel

2 Tm = 2ª Epístola a Timóteo

2 Ts = 2ª Epístola aos Tessalonicenses

3 Jo = 3ª Epístola de João

Ag = Ageu

Am = Amós

Ap = Apocalipse

At = Atos dos Apóstolos

Cl = Colossenses

Ct = Cântico dos Cânticos (ou Cantares de Salomão)

Dn = Daniel

Dt = Deuteronômio

Ec = Eclesiastes

Ed = Esdras

Ef = Efésios

Ex = Êxodo

Ez = Ezequiel

Fm = Filemon

Fp = Filipenses

Gl = Gálatas

Gn = Gênesis

Hb = Hebreus

Hc = Habacuque

Is =Isaías

Jd = Judas

Jl =Joel

Jn =Jonas

Jo = João

Jó = Jó

Jr = Jeremias

Js = Josué

Jz = Juízes

Lc = Lucas

Lm = Lamentações de Jeremias

Lv = Levítico

Mc = Marcos

Ml = Malaquias

Mq = Miquéias

Mt = Mateus

Na = Naum

Ne = Neemias

Nm = Números

Ob = Obadias

Os = Oséias

Pv = Provérbios

Rm = Romanos

Rt = Rute

Sf = Sofonias

Sl = Salmos

Tg = Tiago

Tt = Tito

Zc = Zacarias


 

 

ABREVIATURAS DAS ORDENS CATÓLICAS

 

               É uso corrente na Igreja Católica apor a sigla da ordem ou congregação religiosa logo após o nome do religioso ou da religiosa. Estas letras são, em geral, as iniciais da designação latina da organização.

A.A. - Congregação dos Agostinianos da Assunção; Pia Sociedade dos Padres da Assunção; Assuncionistas

A.B.A. - Monges Antonianos Beneditinos Armênios; Antonianos

A.C.J. - Servas do Sagrado Coração de Jesus

A.C.I. - Escravas do Sagrado Coração de Jesus

A.D. - Servas do Senhor; Congregação das Servas Pobres de Jesus Cristo, de Dernbach

A.M. - Agostinianas Missionárias

A.M.J. - Ancilas do Menino Jesus

A.S. - Auxiliares do Sacerdócio

A.S.C. - Adoradoras do Sangue de Cristo

A.S.C.J. - Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus

A.S.J.M. - Agostinianas Servas de Jesus e Maria

A.S.M. - Arautos da Misericórdia Divina: Comunidade dos Apóstolos de Santa Maria; Apóstolos de Santa Maria

B. - Clérigos Regulares de São Paulo; Barnabitas

B.A. - Basilianos Melquitas de Alepo; Ordem Basiliana Alepina

B.C. - Ordem Basiliana de São João Batista dos Melquitas; Ordem Basiliana Chouerita de São João Batista; Basilianos Choueritas

B.D.P. - Fraternidade Beneditina da Divina Providência; Monges Beneditinos da Divina Providência

B.M.M.D. - Monges e Monjas Beneditinos de Maria Mãe de Deus.

B.S. - Ordem Basiliana do Santíssimo Salvador dos Melquitas; Basilianos Salvatorianos; Basilianos Melquitas de São Salvador

C.A.S.H. - Clérigos Apostólicos de São Jerônimo; Jesuatas

C.B. - Irmãos das Escolas Cristãs da Irlanda

C.C.N. - Instituto Religioso Chemin Neuf; Instituto Religioso do Caminho Novo

C.C.V. - Carmelitas da Caridade de Vedruna

C.C.V.I. - Congregação da Caridade do Verbo Encarnado

C.D.C. - Congregação dos Padres Seculares da Doutrina Cristã; Doutrinários; Congregação da Doutrina Cristã

C.D.P. - Carmelitas da Divina Providência

C.F.A. - Congregação dos Irmãos Aleixanos; Irmãos Celitas; Celitas

C.F.C. - Congregação dos Irmãos da Caridade; Bigi

C.F.H. - Irmãos Cristãos da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem e Mãe de Deus Maria; Irmãos de Huybergen; Irmãos de Huijbergen

C.F.M.I. - Congregação dos Filhos de Maria Imaculada; Pavonianos de Bréscia

C.F.P. - Congregação dos Irmãos dos Pobres de São Francisco Seráfico (de Aachen)

C.F.V. - Congregação dos Religiosos de São Vicente de Paulo; Congregação dos Irmãos de São Vicente de Paulo

C.F.X. - Congregação dos Irmãos de São Francisco Xavier

C.I.A.S.P. - Congregação das Angélicas de São Paulo

S.S.A. - Congregação das Irmãs de Santa Ana

C.F.S. - Congregação da Fraternidade Sacerdotal

CIANSP - Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade

C.I.C.M. - Congregação do Imaculado Coração de Maria; Missionários de Scheut

C.I.I.C. - Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição

C.J. - Instituto dos Josefinos; Josefinos da Bélgica

C.J.M. - Congregação de Jesus e Maria; Eudistas

C.M. - Congregação da Missão; Lazaristas; Vicentinos

C.M.E.S - Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo

C.M.F. - Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria; Claretianos

C.M.I. - Congregação dos Carmelitas de Maria Imaculada

C.M.M. - Congregação dos Missionários de Mariannhill

C.M.P.S. - Comunidade Missionária Providência Santíssima (Jardinopólis, Brasil)

C.M.S.F. - Congregação Missionária de São Francisco de Assis; Irmãos Missionários de São Francisco de Assis

C.O. - Congregação do Oratório de São Filipe Neri; Congregação do Oratório; Filipinos; Oratorianos; Confederação do Oratório de São Filipe Neri[2]

C.O.S.J. - Congregação dos Oblatos de São José de Asti

C.P. - Congregação da Santíssima Cruz e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; Passionistas; Clérigos Descalços da Santíssima Cruz e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; Congregação da Paixão de Jesus Cristo

C.P.O. - Congregação dos Operários Pios; Calasantinos

C.P.P.S. - Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue

C.P.P.S. - Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue; Missionários do Preciosíssimo Sangue

C.R. - Ordem dos Clérigos Regulares; Clérigos Regulares de São Caetano de Thiene; Teatinos

C.R. - Congregação da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo; Ressurrecionistas

C.R.L. - Cônegos Regulares Lateranenses; Ordem dos Cônegos Lateranenses

C.R.S.A. - Confederação dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho

C.R.S.P. - Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo; Barnabitas

CS - Caritas Socialis

C.S. - Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu; Scalabrinianos

C.S.B. - Congregação de São Basílio

C.S.C. - Congregação de Santa Cruz

C.S.J. - Congregação de São José; Josefinos de murialdo

C.S.S. - Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo; Estigmatinos

C.S.Sp. - Congregação do Espírito Santo; Missionários do Espírito Santo.

C.Ss.R. - Congregação do Santíssimo Redentor; Redentoristas.

C.V.S. - Sodalício dos Clérigos Paroquiais; Clérigos Paroquiais; Clérigos de São Viator; Catequistas de São Viator

D.C. - Congregação dos Padres da Doutrina Cristã; Doutrinários

E.P. - Arautos do Evangelho

Es. - Família da Esperança

F.A.M. - Filhos do Amor Misericordioso

F.D.C. - Congregação das Filhas do Amor Divino; Filhas do Amor Divino

F.D.P. - Congregação da Pequena Obra da Divina Providência; Filhos da Divina Providência; Pequena Obra da Providência Divina; Orionitas

F.B.M.V. - Filhas da Bem-aventurada Virgem Maria

F.B.O.S.J. - Fraternidade Beneditina dos Oblatos de São José - Ordinariado Militar do Brasil

F.F.I. - Frades Franciscanos da Imaculada

F.M.A. - Filhas de Maria Auxiliadora

F.M.B.A.V.S.B. - Família Monástica de Belém, da Assunção da Virgem e de São Bruno

F.M.M.A. - Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora

F.M.M.D.P. - Congregação das Religiosas Franciscanas Missionárias da Mãe do Divino Pastor; Franciscanas Missionárias da Mãe do Divino Pastor

F.M.M.M.D. - Fraternidade Missionária Maria Mãe de Deus - Instituto Pobres servos de Maria por Amor (ramos feminino e masculino)

F.M.I - Congregação dos Filhos de Maria Imaculada (Pavonianos)

F.M.S. - Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas; Irmãos Maristas; Irmãozinhos de Maria; Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria; Maristas

F.M.V.D. - Fraternidade Missionária Verbum Dei

F.N.D.L. - Congregação dos Irmãos de Nossa Senhora de Lourdes

F.N.S.V. - Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias; Irmãs Vitorianas

F.S.A. - Filhos de Sant'Ana

F.S.C. - Irmãos das Escolas Cristãs; Irmãos Lassalistas; Irmãos de La Salle

F.S.C.J - Congregação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus

F.S.E. - Irmãs Franciscanas da Eucaristia

F.S.C.J. - Congregação das Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus; Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus

F.S.G.M. - Irmãs Franciscanas do Mártir São Jorge

F.S.M. - Fraternidade São Mauro

F.S.M.P. - Filhas de Santa Maria da Providência; Irmãs Guanellianas

F.S.P. - Pia Sociedade das Filhas de São Paulo; Paulinas

I.B.D.P. - Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência[2]

I.F.E. - Instituto dos Frades de Emaús, Emautanos; Família Emautana

I.M. - Instituto Internacional das Irmãs de Santa Marcelina; Irmãs Marcelinas.

I.M.C. - Instituto da Consolata para as Missões Estrangeiras; Instituto das Missões da Consolata de Turim; Padres da Consolata

I.M.S.S -Instituto Mãe do Santíssimo Sacramento

IR.S.C. - Instituto dos Irmãos do Sagrado Coração (Lyon - França)

I.S.B. - Instituto das Irmãs Sacramentinas de Bérgamo

I.V.E - Instituto do Verbo Encarnado

L.C. - Legionários de Cristo, Missionários do Sagrado Coração e da Virgem das Dores

M.A.D. - Congregação das Irmãs Mensageiras do Amor Divino

M.S.S.P.S. - Missionárias Servas do Espírito Santo; Congregação das Missionárias Servas do Espírito Santo

M.C. - Missionárias da Caridade

M.C.C.J. - Congregação dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus; Combonianos

M.I. - Ordem dos Ministros dos Enfermos Camilianos

M.I.C. - Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição

M.L.M. - Missionários das Lágrimas de Maria; Missionários de Nossa Senhora das Lágrimas

M.O.P.P. - Missão Operária São Pedro e São Paulo

M.S. - Congregação dos Missionários de Nossa Senhora da Salette

M.S.C. - Sociedade dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus

M.S.C.S. - Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo; Scalabrinianas

M.S.F. - Congregação dos Missionários da Sagrada Família

N.D.S. - Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion

O.Ann.M. - Ordem da Anunciação; Ordem da Anunciação da Virgem Maria; Anunciadas

O.A.D. - Ordem dos Agostinianos Descalços; Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho

O.A.R. - Ordem dos Agostinianos Recoletos; Agostinianos; Recoletos de Santo Agostinho

Obl. OSB. - Oblatos beneditinos, Ordem de São Bento; Beneditinos

O. Carm. - Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo; Ordem do Carmo; Ordem dos Carmelitas; Carmelitas Calçados; Carmelitas da Antiga Observância; Ordem dos Carmelitas Observantes;

O.C.D. - Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo; Ordem dos Carmelitas Descalços; Carmelitas Descalços; Ordem Carmelitana Descalça

O.C.D.S. - Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares; Carmelitas Descalços Seculares; Ordem Carmelita Secular; Carmelo Secular

O. Cart. - Ordem Cartusiana; Ordem da Cartuxa; Religiosos da Cartuxa; Cartusianos; Cartuxos; Monges e Monjas Cartuxos

O. Cist. - Ordem de Cister; Ordem Cisterciense; Cistercienses

O.C.S.O. - Ordem Cisterciense da Estrita Observância; Trapista

O.de.M - Ordem de Nossa Senhora das Mercês; Mercedários

O.F.B. - Ordem dos Irmãos de Nossa Senhora de Belém; Ordem dos Irmãos de Belém; Betlemitas

O.F.M. - Ordem dos Frades Menores; Franciscanos

O.F.M. Cap - Ordem dos Frades Menores Capuchinhos; Capuchinhos

O.F.M. Conv - Ordem dos Frades Menores Conventuais; Conventuais

O.F.S. - Ordem Franciscana Secular; Franciscanos Seculares

O.H. - Ordem Hospitaleira de São João de Deus; Irmãos de São João de Deus

O.L.M. - Ordem Libanesa Maronita; Baladitas

O.M. - Ordem dos Mínimos de São Francisco de Paula; Ordem dos Mínimos; Paulanos, Mínimos

O.M.I. - Missionários Oblatos de Maria Imaculada;

O.Min. - Ordem dos Menores de São Francisco de Assis

O.M.M. - Ordem Maronita da Bem Aventurada Virgem Maria

O.M.V. - Oblatos de Maria Virgem

O.P. - Ordem dos Pregadores (Dominicanos)

O.Praem. - Ordem Premonstratense; Premonstratenses; Frades Regulares de Prémontré; Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses; Norbetinos; Cônegos Brancos

O.S.A. - Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos)

O.SS.A. - Ordem da Santíssima Anunciação, Celestes

O.S.B. - Ordem de São Bento; Beneditinos

O.S.B. - Beneditinas Missionárias de Tutzing

O.S.B.M. - Ordem de São Basílio Magno; Ordem Basiliana de São Josafat

O.S.B.Oliv. - Ordem de Nossa Senhora do Monte Oliveto; Olivetanos

O.S.C. - Ordem da Santa Cruz; Padres Crúzios; Cônegos Regulares da Ordem da Santa Cruz; Padres e Irmãos Crúzios; Crúzios;

O.S.F.S - Congregação dos Oblatos de São Francisco de Sales

O.S.H. - Ordem de São Jerônimo; Monges jerônimos; Monjas jerônimas

O.S.J. - Congregação dos Oblatos de São José; Josefinos de Asti

O.S.M. - Ordem dos Servos de Maria; Servitas

O.S.O. - Ordem de Santa Eulália; Eulalistas

O.Ss.S. - Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida; Brigidinas

O. Trinit. - Ordem da Santíssima Trindade e da Redenção dos Cativos; Trinitários

O.T.C. - Ordem Terceira do Carmo; Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo; Terceiros Carmelitas

P.I.M.E. - Pontifício Instituto das Missões; Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras; Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras de Milão; Instituto Pontifício dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e dos Santos Ambrósio e Carlos para as Missões Estrangeiras; PIME

P.S.D.P. - Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência; Calabrianos

P.S.S.C.  - Pia Sociedade São Caetano

P.S.S.P. - Pia Sociedade de São Paulo - Padres e Irmãos Paulinos

R.A.D. - Congregação das Religiosas do Amor de Deus

R.B.P. - Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor; Congregação das Irmãs do Bom Pastor; Irmãs do Bom Pastor; Religiosas do Bom Pastor

R.C.J. - Rogacionistas do Coração de Jesus; Filhas do Divino Zelo

S.A.C. - Sociedade do Apostolado Católico; Palotinos

S.C.J. - Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus; Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus; Dehonianos

S.C.J. - Congregação do Sagrado Coração; Padres de Timon David

S.D.B. - Sociedade de São Francisco de Sales; Salesianos de Dom Bosco; Sociedade Salesiana; Salesianos

SdC. - Servos da Caridade; Obra de Dom Guanella

s.d.P. - Missionários Servos dos Pobres (Servos dos Pobres)

SDM - Instituto dos Servos da Divina Misericórdia (Pequenos Servos do Coração Imaculado de Maria) Associação Pública de Fiéis, fundada em 23 de abril de 2010, por Padre Sérgio Nishiyama, SDM, e aprovada suas Constituições e Normas por Dom Ladislau Biernaski, Bispo Diocesano de São José dos Pinhais, Paraná, Brasil. O Instituto dos Servos da Divina Misericórdia está com a Sede-Geral e o Seminário no município de Fazenda Rio Grande/PR e no município de Curitiba/PR encontra-se o Noviciado, Postulantado e Aspirantado.

S.D.N. - Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento; Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora; Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora; Instituto dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento; Sacramentinos de Nossa Senhora

S.D.S. - Sociedade do Divino Salvador (Salvatorianos)

S.J. - Companhia de Jesus; Jesuítas

SSCC - Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento; Congregação dos Sagrados Corações; Congregação de Picpus; Padres de Picpus

SSS - Congregação do Santíssimo Sacramento; Sacramentinos

S.S.P. - Sociedade S. Paulo; Paulistas ou Paulinos

S.V.D. - Congregação do Verbo Divino; Missionários do Verbo Divino; Verbitas

S.X. - Pia Sociedade de São Francisco Xavier para as Missões Estrangeiras; Xaverianos

T.O.R. - Terceira Ordem Regular de São Francisco

U.A.C. - União do Apostolado Católico

 

 

Explicitação de inúmeras denominações

Martirológio Romano - O Martirológio Romano é uma coletânea histórica dos Santos e beatos honrados pela Igreja Católica Romana. Apesar do nome, inclui todos os Santos conhecidos e não apenas os mártires. A sua primeira versão foi escrita no século XVI e aprovada pelo Papa Gregório XIII em 1586, tendo sido revisto múltiplas vezes. A atual edição do Martirológio Romano (2001), que atualizou a edição de 1956, inclui 6538 Santos e beatos, mas o seu número total é maior, já que em muitos casos se refere apenas um nome, acompanhado pela menção: «e companheiros mártires». É um livro litúrgico que constitui a base dos calendários litúrgicos que determinam a data das festas religiosas anuais. O documento está ordenado segundo os dias do calendário, nele se anotando o local e a data de morte, o título canônico (apóstolo, mártir, confessor, virgem, ou outro), o tipo de memória litúrgica e algumas notas sobre a sua espiritualidade e factos relevantes da vida e obra.

Martirológio Jeronimiano -  Ou Martirológio de Jerônimo (em latim: Martyrologium Hieronymianum) constitui o mais antigo catálogo dos mártires cristãos da Igreja Católica. Deve o seu nome ao fato de ter sido atribuído a São Jerônimo.

Liber Pontificalis -  Do latim, o Livro dos Pontífices, é um livro de biografias de Papas de São Pedro, até o Papa Estêvão V do século XV. A publicação original parou com o Papa Adriano II (867-872) ou o Papa Estêvão V (885-891), mas foi posteriormente completada em um estilo diferente até que o Papa Eugênio IV (1431-1447) e, em seguida o Papa Pio II (1458-1464).

Legenda Áurea: É uma coletânea de narrativas hagiográficas, de Santos Católicos, reunidas por volta de 1260 pelo dominicano e futuro Bispo de Gênova Tiago de Voragine. É uma reunião de biografias de santos escritas no século XIII com a intenção de difundir valores morais edificantes e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O objetivo imediato do autor era fornecer aos frades material para elaboração de sermões, de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente. A coletânea conheceu enorme sucesso na Idade Média e se tornou referência nos estudos religiosos. Ao selecionar vasto material erudito e popular, Tiago de Voragie conta a trajetória dos santos de forma envolvente - tendo em vista os que ouviam a pregação - e também eficiente do ponto de vista teológico. Nos relatos, o autor combina simbologia e história, teologia e mitologia.

Pelagianismo - Foi um conceito teológico que negava o pecado original, a corrupção da natureza humana, o servo arbítrio (arbítrio escravizado, cativo) e a necessidade da graça divina para a salvação. O termo é derivado do nome de Pelágio da Bretanha. Acreditavam que todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto, não necessita da graça divina, em que todo homem nasce "moralmente neutro", sendo capaz, por si mesmo, sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar.

Visigodos - Foram um de dois ramos em que se dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro os ostrogodos. Ambos pontuaram entre os bárbaros que penetraram o Império Romano tardio no período das migrações. Após a queda do Império Romano no Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na Península Ibérica, onde substituíram o domínio romano na Hispânia, reinando de 418 até 711, data da invasão muçulmana.

Nestorianismo - É uma doutrina cristológica proposta por Nestório, Patriarca de Constantinopla (428–431). A doutrina, que foi formada durante os estudos de Nestório sob Teodoro de Mopsuéstia na Escola de Antioquia, enfatiza a desunião entre as naturezas humana e divina de Jesus.

Novacianismo - Foi um movimento durante o cristianismo primitivo formado pelos seguidores de Novaciano e que se recusavam a readmitir em comunhão os lapsi - os cristãos batizados que tinham renegado a sua fé e realizado sacrifícios aos deuses pagãos - durante a perseguição de Décio em 250. Eles foram posteriormente declarados como heréticos.

Monofisismo - É o ponto de vista cristológico que defende que, depois da união do divino e do humano na encarnação de Jesus Cristo, teria apenas uma única "natureza", a divina, e não uma síntese de ambas. O monofisismo é contraposto pelo diofisismo (ou "diafisismo"), que defende que Jesus preservou em si as duas naturezas.

Maniqueísmo - É uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo usado para descrever todas as doutrinas fundamentadas nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.

Arianismo - Foi uma visão cristológica antitrinitária sustentada pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai, que os igualasse. Ou seja negava a divindade de Jesus Cristo.

Três Capítulos - A Controvérsia dos Três Capítulos, uma das fases da controvérsia calcedônia, foi uma tentativa de reconciliar os cristãos ortodoxos orientais das províncias romanas da Síria (Igreja Ortodoxa Síria) e Egito (Igreja Ortodoxa Copta) com a Igreja Ortodoxa, logo após o fracasso do Henótico. Os Três Capítulos consistiam nas proposições anatemizando: Teodoro de Mopsuéstia e suas obras. Algumas obras específicas de Teodoreto de Ciro. A carta de Ibas de Edessa para Máris de Calcedônia.

Origenismo - Cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão, foi um teólogo, filósofo neoplatônico patrístico e é um dos Padres gregos. Um dos mais distintos pupilos de Amônio de Alexandria, Orígenes foi um prolífico escritor cristão, de grande erudição, ligado à Escola Catequética de Alexandria, no período pré-niceno.

Lombardos ou longobardos - Eram um povo germânico originário da Europa Setentrional que colonizou o vale do Danúbio e, a partir dali, invadiu a Itália bizantina, em 568, sob a liderança de Alboíno. Lá estabeleceram um Reino Lombardo, posteriormente chamado de Reino Itálico, que durou até 774, quando foi conquistado pelos francos.

Anglo-saxões - Os anglo-saxões ou anglo-saxônicos foram um povo que habitou a Grã-Bretanha a partir do século V. Eles compreendem um povo formado de tribos germânicas que migraram para a ilha a partir da Europa continental, seus descendentes (anglos, frísios, jutos e saxões) e grupos celtas britânicos (bretões) que adotaram alguns aspectos da cultura e língua anglo-saxônica.

Iconoclastia - Doutrina bizantina dos séculos VIII e IX que repudiava a representação e o culto de imagens sagradas.

Adocionismo - Algumas vezes chamado de monarquianismo dinâmico, é uma visão teológica não trinitária do cristianismo primitivo, que professa que Jesus nasceu humano, tornando-se posteriormente divino por ocasião do seu batismo, ponto em que foi adotado como filho de Deus.

Docetismo -  Foi uma heresia cristã primitiva que promovia uma visão falsa da humanidade de Jesus. A palavra docetismo vem do grego dokein, que significava “parecer”; segundo o docetismo, Jesus Cristo só parecia ter um corpo humano como o nosso. O docetismo aceitava que Jesus podia ter sido de alguma forma divino, mas negava a Sua plena humanidade. Os docetistas convictos ensinavam que Jesus era apenas um fantasma ou uma ilusão, parecendo ser humano, mas não tendo corpo algum. Outras formas de docetismo ensinavam que Jesus tinha um corpo “celestial” de algum tipo, mas não um corpo real e natural de carne. O docetismo estava intimamente relacionado ao gnosticismo, que via a matéria física como inerentemente má e a substância espiritual como inerentemente boa.

Normandos - Foram um povo germânico estabelecido no norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de viquingues da Escandinávia. Eles desempenharam um importante papel político, militar e cultural na parte norte e mediterrânea da Europa Medieval e Oriente Médio, por exemplo: a colonização da Normandia, a Conquista Normanda da Inglaterra, o estabelecimento de estados na Sicília e sul da península Itálica e as Cruzadas. Sua rica história originou várias lendas a seu respeito.

Guelfos e Gibelinos - Constituíam facções políticas que, a partir do século XII, estiveram em luta na Itália, especialmente na República Florentina. Os conflitos se intensificaram sobretudo a partir do século XIII. Na origem, tratava-se de uma disputa entre os partidários do papado (os guelfos) e os partidários do Sacro Império Romano-Germânico (os gibelinos).

Jansenismo - É a doutrina dos seguidores de Cornelius Jansen, teólogo holandês que se tornou bispo católico de Ypres. Atribui a salvação da alma ao juízo prévio do Criador, predestinação, e não às "boas obras" ou à disposição da criatura, do livre arbítrio. Ou seja, segundo esta teoria, todos os seres humanos já nascem com seu destino traçado por Deus, são escolhidos aqueles que vão se salvar ou ser condenados antecipadamente pelo Criador. A teoria jansenista se acompanhava de uma ética severa e rigoroso ascetismo.

Tomismo -  é o sistema filosófico e teológico de Santo Tomás de Aquino.

Cátaros ou albigenses - surgiram na França e possuíam uma visão dualista do mundo, ou seja, o mundo material era mau e o mundo espiritual era bom. Afirmavam que o mundo havia sido criado por Satã, contestavam a Trindade e condenavam o casamento e a procriação. Foram perseguidos durante a Cruzada Albigense (1209-1229), e a heresia desapareceu a partir do século XIV.

Valdenses - também surgiram na França a partir das pregações de Pedro Valdo, rico comerciante de Lyon que abandonou seu ofício em 1176 para seguir a vida como pregador. Faziam voto de pobreza, contestavam a autoridade da Igreja Católica e afirmavam obedecer somente a Deus. Foram perseguidos pela Inquisição, mas sobreviveram e fundaram igrejas que hoje atuam em vários países.

Reconquista -  É o processo histórico ao longo do qual os reinos cristãos da Península Ibérica procuraram dominar a região durante o período de al-Andalus. Tal processo decorreu entre 718 ou 722 e 1492, com a conquista do Emirado de Granada pelos reinos cristãos.

Controvérsia das Investiduras - Foi um conflito entre o papado e o Sacro Império Romano-Germânico, que ocorreu entre 1075 e 1122, que teve como objeto o poder de nomear Bispos.

As cruzadas - Foram expedições militares organizadas por católicos da Europa Ocidental, com o objetivo inicial de reconquistar para o mundo cristão lugares sagrados, como o Santo Sepulcro, em Jerusalém, na Palestina, que estavam sob o domínio militar dos muçulmanos.

Inquisição ou Santa Inquisição - Foi um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater a heresia, apostasia, blasfêmia, feitiçaria e costumes considerados perniciosos para a alma.

Escolasticismo ou Filosofia Escolástica - É um método ocidental de pensamento crítico e de aprendizagem, com origem nas escolas monásticas cristãs, que concilia a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega.

Montanismo - Foi um movimento cristão fundado por Montano por volta de 156-157, que se organizou e difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no Norte de África. O movimento caracterizou-se como uma volta ao profetismo, pretendendo revalorizar elementos esquecidos da mensagem cristã primitiva, sobretudo a esperança escatológica. Propunha um rigoroso ascetismo, visando à preparação para o momento final, preceituando-se a castidade durante o casamento e proibindo-se as segundas núpcias. No plano alimentar instituiu-se o jejum durante duas semanas por ano e a xerofagia (consumo de alimentos secos), sem o consumo de carne. Negavam a absolvição aos réus de pecados graves (mesmo após o batismo com confissão e arrependimento). As mulheres eram obrigadas ao uso de véu nas funções sagradas. Recomendava-se aos fiéis que não fugissem às perseguições e que se oferecessem voluntariamente ao martírio.

Gnosticismo - Designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem. Os gnósticos consideram a existência humana neste mundo como não natural, por estar submetida a diversos sofrimentos. Segundo o gnosticismo, o caminho para a libertação desses sofrimentos é através do conhecimento. Não um conhecimento adquirido de forma racional e com base científica, mas um conhecimento intuitivo e transcendental que dá sentido à própria vida humana. Tem origem em várias seitas religiosas anteriores ao cristianismo, mas nos primeiros séculos da era cristã chega a misturar-se com o próprio cristianismo.

Marcionismo - É uma corrente religiosa que surgiu no século II, fundada por Márcion de Sinope. Essa doutrina defendia a existência de dois deuses distintos: um deus do Antigo Testamento, considerado um deus vingativo e cruel, e um deus do Novo Testamento, que seria o verdadeiro Deus, de amor e misericórdia.

 

 

 

INÍCIO DO ADVENTO DA IGREJA

 

O advento da Igreja se iniciou com os atos dos Apóstolos após a morte de Cristo, tendo como Pontífice Simão Pedro.

               Em Jerusalém, sobre o Monte Calvário, o céu estava limpo e o sol escaldante, mas de repente se transformou num céu negro cheio de raios e ventanias. Um grande estrondo provocado por um terremoto sacode a terra, deixando rachaduras, assustando os judeus que fogem aterrorizados. Um Anjo do Senhor neste mesmo momento rasga o Véu dos Santos dos Santos no Templo de alto a baixo, como um sinal de abandono da presença Divina. Uma lágrima vermelha do Criador cai na terra, banhando-a de Sangue, com a morte de seu Primogênito. Porém, no terceiro dia, uma luz vinda dos confins do universo, como um meteoro vai direto até o sepulcro, quando um novo estrondo estremece a terra, afastando a enorme pedra que o selava, e os guardas romanos, atordoados, fogem. A Luz então entra no Corpo inerte de Jesus, que em seguida levanta, transpassando os panos da mortalha com seu Corpo imaterial fulgurante. Ressuscitando dos mortos com uma matéria incorpórea de intensa Luz, conhecida apenas por Deus, de uma beleza indescritível. Depois de quarenta dias ressuscitado volta aos Céus, posicionando-se à direita do Pai, donde há de vir e julgar os vivos e os mortos.

               E o Verbo que era Deus se fez Hóstia, transformando-se em Comida e Bebida vinda do Céu para os homens, na Nova Aliança eterna, para os purificar e salvar. Convidando-nos para a Graça, o Amor, afim de elevar-nos novamente ao patamar puríssimo de nossos progenitores quando foram criados.

               Jesus nasceu no dia 25 de dezembro e viveu 33 anos completos, vindo a falecer numa sexta-feira dia 3 de abril do ano 34 d.C., ressuscitando três dias depois num domingo dia 6. Durante 40 dias esteve presente na terra ressuscitado, chegando ao dia 15 de maio do ano 34 d.C., quando subiu aos Céus. Assume então no dia 16 de maio de 34 d.C. o primeiro representante de Deus na terra, o Apóstolo Pedro, primeiro Pontífice da Nova Aliança. Assim começa o advento da Santa Igreja.

 

1º - São Pedro - 34 – c.67

               Simão Pedro, filho de Jonas, casado com Porfíria, sem filhos, natural de Betsaida, trabalhava como pescador em Cafarnaum. Adotou um órfão de 12 anos, chamado Marzian no segundo ano de evangelização do Senhor, que depois de alguns anos se tornou discípulo de Cristo. No ano 34 d.C., logo depois da morte do Senhor, Pedro assumiu o posto de líder dos Apóstolos, conforme Jesus havia profetizado anteriormente dizendo que ele seria a Pedra de sua Igreja. Logo nos primeiros meses depois do Pentecostes, quando os Apóstolos e Nossa Senhora receberam o Espírito Santo, Pedro decidiu que o sábado deveria ficar com os Judeus, e que o dia para realizar os Missais em memória do Senhor, seria no domingo, dia da ressurreição. A primeira Missa do cristianismo foi realizada no Cenáculo em Jerusalém por Jesus Cristo. O Cenáculo é portanto a primeira Igreja do cristianismo, onde Pedro realizou a segunda Missa, e depois passou ao Apóstolo Thiago, irmão de Judas Tadeu, primos de Jesus. Thiago foi o primeiro Bispo do cristianismo em Jerusalém. Pedro ajudou na fundação da Igreja de Antioquia, depois se dirigiu a Roma e la ficou até sua morte. Durante seu Pontificado morreu o discípulo Estevão em c.34 d.C., ex-aluno do Fariseu e Doutor Gamaliel; também foi assassinado o Apóstolo Thiago primo de Jesus, em c.41 d.C. e a miraculosa Assunção de Nossa Senhora em c.44 d.C. Em c.48 d.C. foi necessário o primeiro Concílio do cristianismo presidido por Pedro. O Concilio de Jerusalém foi uma reunião inicial entre as lideranças cristãs nos meados do século I, para abordar se os gentios deveriam seguir as leis de Moisés. Entre alguns da Judeia estabeleceu-se uma dúvida e uma polêmica: saber se os gentios, ao se converterem ao cristianismo, teriam que adotar algumas das práticas antigas da Lei Mosaica para poderem ser salvos, inclusive fazer-se circuncidar. O apóstolo Paulo, ao levar o cristianismo à outros povos, não exigia a circuncisão desses novos cristãos. Diante disso os presbíteros de Jerusalém se reuniram em torno de Pedro, que já exercia sua função de chefe dos Apóstolo e da igreja, com o Bispo do Cenáculo em Jerusalém, Tiago, primo de Jesus. Na reunião deste Concílio, Pedro foi enfático em afirmar que não havia diferença entre os gentios e eles; portanto deveriam seguir a doutrina de Jesus igual para todos, excluindo, obviamente, os costumes Mosaicos.

               A comunidade cristã de Roma foi fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo. Por esta razão desde a antiguidade a comunidade de Roma teve o primado sobre todas as outras comunidades locais; nessa visão o ministério de Pedro continua sendo exercido até hoje pelo Bispo de Roma, assim como o ministério dos outros apóstolos é cumprido pelos outros Bispos unidos a ele, que é a cabeça do colégio apostólico, do colégio episcopal. Nestes 33 anos do Pontificado de Pedro, muita coisa permaneceu encoberta pelo véu do mistério divino. Devido as perseguições implacáveis do Anticristo Nero, logo depois de ter incendiado Roma, São Pedro foi crucificado – a seu pedido - de cabeça para baixo, pois não se achava digno morrer como Cristo morreu, e agonizante desfaleceu. Seu túmulo está sob a Basílica de São Pedro no Vaticano, em Roma. Pedro, a Pedra, faz parte literalmente das pedras da Sede da Igreja Católica. São Paulo Apóstolo morreu nesta mesma época.

 

1 . 1 - Nossa Senhora do Pilar

               A conversão da Espanha ao cristianismo foi muito difícil. O Apóstolo Tiago, que em espanhol é chamado de Santiago, sofria grandes desafios para evangelizar os pagãos da Península Ibérica. Estamos falando dos anos 40 do primeiro século da nossa era: fazia pouco tempo que Jesus tinha morrido e ressuscitado. Seus apóstolos ainda viviam neste mundo, assim como sua Mãe, Nossa Senhora, que morava na Terra Santa. Acontece que, certa noite, para encorajar o Apóstolo a não esmorecer diante da resistência pagã na Espanha, a Virgem Santíssima apareceu para São Tiago na região de Caesaraugusta, hoje Saragoça (em espanhol, Zaragoza), acompanhada por um coro de anjos. Ela estava sobre um pilar e afirmava a São Tiago que, no futuro, a fé daqueles povos ibéricos seria profunda e firme. Assim incentivado, o Apóstolo perseverou na árdua missão e o resultado é que, hoje, uma das mais numerosas parcelas de católicos de todo o planeta reza em espanhol. Maria tinha pedido a São Tiago que construísse naquele mesmo lugar uma igreja cujo altar ficasse ao redor do pilar onde ela estava. E fez uma promessa: “Este lugar permanecerá até o fim do mundo para que a graça de Deus realize milagres e prodígios pela minha intercessão àqueles que suplicarem a minha ajuda”.

               São Tiago e seus seguidores atenderam ao pedido de Nossa Senhora e construíram ali a capela que foi chamada de Nossa Senhora do Pilar. Foi o primeiro templo dedicado à Virgem Maria. Essa devoção foi se consolidando até que Nossa Senhora do Pilar fosse reconhecida, como é até hoje, a Padroeira da Espanha. Depois de evangelizar a região, São Tiago, irmão de João, voltou para Jerusalém e lá morreu martirizado por volta do ano 44. Segundo a tradição, os seus discípulos levaram o corpo de volta à Espanha para sepultá-lo onde hoje se ergue um dos mais populares destinos de peregrinação do mundo inteiro: Santiago de Compostela. Quanto à aparição de Maria como Nossa Senhora do Pilar, trata-se, a rigor, de um caso de bilocação, ou seja, o fenômeno de se estar fisicamente presente em dois lugares ao mesmo tempo. Recordemos que, na época, Nossa Senhora ainda estava nesta Terra, morando na Palestina, quando apareceu para São Tiago em Saragoça. E quanto ao pilar, ele existe até hoje, tendo resistido a quase dois milênios de invasões, perseguições, batalhas, a brutal Guerra Civil Espanhola e até mesmo à queda de três bombas, que, milagrosamente, não explodiram.

 

2º - São Lino - c.67 – c.76

               Lino foi um dos setenta e dois discípulos de Jesus. Nas escrituras é mencionado em 2 Timóteo 4;21. Nasceu em Túcia, Itália no ano 10 d.C. Com sua cidadania romana, Lino se tornou influente em Roma ao lado de Pedro. Como ainda não havia uma Igreja em Roma, as Igrejas nesta época eram improvisadas nas casas de conhecidos cristãos. Antes, porém, que fosse eleito bispo, trabalhava pela salvação das almas ao lado de São Pedro, de quem era grande colaborador. Teria recebido a missão de pregar na Gália. Chegando àquelas terras, estabeleceu-se em Vesôncio (atual Besançon), capital do Franco Condado. Graças ao apoio que tinha do tribuno Onósio, principal magistrado que tinha por missão lutar pelas causas do povo, São Lino acabou transformando-se em um homem público, exercendo preponderante papel junto à população. Em pouco tempo tornou-se um líder influente, de grande capacidade intelectual. Dadas as circunstâncias, aproveitou o terreno para plantar as sementes da religião cristã, mesmo sabendo que os obstáculos, dificuldades e perseguições seriam inevitáveis. Por conseguinte, empreendeu intenso esforço para afastar o povo da idolatria e da adoração de deuses estranhos. Seus discursos eram duros, porém, verdadeiros e por isso, não tardou que acabasse sendo violentamente escorraçado da cidade. Era uma figura extremamente incômoda e inconveniente aos líderes pagãos, que diante da persuasão junto ao povo, temiam a perda de seu espaço. São Lino testemunhou a queda de alguns imperadores romanos e a destruição de Jerusalém pelo Imperador Tito, em 70 d.C., cumprindo-se a profecia de Jesus. Em sua última prática na cidade de Vesôncio, São Lino criticou e repreendeu veementemente os idólatras, feiticeiros renomados e diversos pagãos, que ofereciam sacrifícios aos seu ídolos e seus deuses. "Cessai", disse São Lino, "cessai de render adoração a tão vis criaturas". Os líderes presentes, percebendo que estavam prestes a cair em descrédito pela força de sua palavra, gritaram ao povo, dizendo que as insolências sacrílegas proferidas por Lino, iriam provocar a ira dos deuses e caso lhe dessem ouvidos, sério castigo se precipitaria sobre o povo. Continuando a esbravejar, incitaram o povo, que acabou investindo contra o santo mediante golpes, tendo sido expulso da cidade completamente ferido e também abandonado, até mesmo por aqueles que sempre o apoiaram. Dali retornou para Roma, onde permaneceu até ser escolhido como sucessor de São Pedro. As sementes que deixou para trás, germinaram com grande vigor, tanto que passaria a ser venerado pelo povo tempos depois, em sua primeira Sede Episcopal de Besançon. Lino, depois de curar a filha do Consul Sênio Saturnino, o mesmo se voltou contra ele, dominado por insinuações mentirosas de seus conselheiros, mandou degolar Lino no dia 23 de Setembro de c.76 d.C.

 

3º - Santo Anacleto - c.77 – c.88

               Nasceu em Atenas, Grécia, faleceu em Roma, 92 d.C. Foi Papa durante o reinado de Tito, quando em 24 de agosto de 79 o Monte Vesúvio causou a destruição das cidades de Estábia, Ercolano e Pompéia. Cletus, nome grego que também identifica Anacleto, viveu os anos iniciais do cristianismo, marcados por perseguições e descrenças. A Igreja Católica apenas começava a se organizar para propagar os ensinamentos de Jesus Cristo, o qual deixou seu Apóstolo Pedro como responsável romano pela palavra. Anacleto assumiu o papado no ano 77, sucedendo o Papa Lino, e viveu entre oscilações de paz e perseguições. Naquele momento, no entanto, as perseguições aos cristãos eram bem mais intensas e cotidianas, especialmente porque Roma ainda era um império pagão, cultuava vários deuses. O Papa Anacleto conviveu com o reinado do imperador Vespasiano e de seus dois filhos, que eram pagãos e perseguiam a religião do Senhor. Esses cristãos pioneiros ainda viviam sob a expectativa do fim do mundo a qualquer momento, o que incomodava também os interesses de Roma. Há poucas informações registradas sobre o papado de Anacleto, pois se trata de um período muito distante e é bem provável que documentos dos cristãos tenham sido destruídos entre as constantes perseguições. Mas sabemos que Anacleto ordenou sacerdotes em Roma, construiu um monumento sobre a sepultura de Pedro e instituiu sua veneração. Anacleto também orientou que os cristãos não aceitassem comida oferecida aos deuses pagãos e condenou o culto de objetos supostamente mágicos e de feitiçaria em geral. Embora Anacleto tenha conseguido alguns momentos de paz para os cristãos, o que predominou foi mesmo a perseguição. O final de sua vida foi em decorrência justamente desse cenário opressor. No ano 88, o segundo filho de Vespasiano a ocupar o trono de imperador, Domiciano, promoveu uma perseguição que capturou o Papa Anacleto e o assassinou. O Papa foi martirizado e sepultado ao lado de Lino na Colina do Vaticano, local de construção da Basílica de São Pedro.  

 

4º - São Clemente I - c.89 – c.98

               Também conhecido como Clemente Romano. Nascido em Roma, nos arredores do Coliseu, de família hebraica, foi um dos primeiros a receber o batismo de São Pedro. Foi sucessor de Anacleto I, e autor da Epístola de Clemente aos Coríntios (segundo Clemente de Alexandria e Orígenes), talvez o segundo documento de literatura cristã, endereçada à Igreja de Corinto. Ele foi considerado posteriormente o primeiro Pai da Igreja Apostólica Romana por ter defendido publicamente o sistema religioso através da hierarquia sacerdotal e rituais dogmáticos. Estabeleceu o uso da Crisma, deu início ao rito papado sendo o primeiro Papa instituído e iniciou o uso da palavra Amém nas cerimônias religiosas. É conhecido pela carta que escreveu para a comunidade de Corinto, na qual rezava uma convicta censura à igreja, devida sobretudo às discórdias entre os fiéis (consta que os presbíteros mais jovens teriam expulsado do meio dos cristãos os bispos nomeados pela Igreja de Roma), estabeleceu normas precisas referentes à ordem eclesiástica hierárquica (bispos, presbíteros, diáconos) e ao primado da Igreja de Roma. Neste pontificado ocorreu uma segunda perseguição aos cristãos, na época de Domiciano. Com Nerva, os cristãos viveram uma temporada de paz. Mais tarde, Clemente foi preso no reinado de Trajano. Após ser detido e condenado ao exílio, com trabalhos forçados nas minas de cobre de Galípoli; no ano 97, decidiu que os cristãos não podiam ficar sem um guia espiritual, renunciando em favor de Santo Evaristo. Converteu muitos presos e por isso, no ano 100 foi atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço, tornando-se num mártir cristão dos princípios da Cristandade. Seu corpo foi recuperado das águas e sepultado em Quersoneso, na Crimeia, de onde, mais tarde, por ordem de Nicolau I, seu corpo foi levado a Roma.

 

5º - Santo Evaristo - c.98 – c.105

               Temos muito poucas informações certas a respeito de Santo Evaristo, um dos primeiros sucessores de Pedro. Santo Ireneu e Santo Eusébio indicam-no como sucessor imediato de são Clemente, e por isso foi por volta do ano 98 que ele se tornou Papa, ou mais exatamente bispo de Roma. Esse esclarecimento faz-se oportuno, pois então o título de papa, ou seja pai, era conferido a qualquer autoridade religiosa: só a partir do século VI ficou reservado ao pontífice romano. Era grego originário de Antioquia, enquanto seu pai, de nome Judas, era judeu de Belém. O Martirológio Romano, que escreve precisamente: “Em Roma, santo Evaristo, Papa e mártir, que, sob o Imperador Adriano empurpurou com o seu sangue a Igreja de Deus”. Há duas disposições tomadas por santo Evaristo no exercício do seu pontificado: a distribuição dos sacerdotes de Roma nos vinte e cinco títulos ou igrejas paroquiais da cidade, que teriam sido instituídas já por São Cleto; e que os diáconos estivessem ao lado do bispo enquanto este pregava e proclamava o prefácio da missa, para testemunhar, em caso de necessidade, a ortodoxia e também para conferir maior solenidade à celebração.

               Neste Pontificado morre João Apóstolo. João foi preso em Éfeso pelos Romanos e levado para Roma afim de ser morto numa grande vasilha de óleo fervente. Porém Deus tinha outros planos para o Apóstolo querido, e um milagre aconteceu. João saiu do óleo fervente como se fosse apenas água. Depois disso o Imperador Domiciano irritado mandou exilar João na Ilha Grega de Patmos, onde escreveu o Apocalipse. Morreu em Éfeso, no ano de c.103 d.C. Acredita-se que João foi arrebatado por Deus ao Céu, como Enoc e Elias, por isso não tem túmulo.

 

6º - Santo Alexandre - c.105 – c.115

               Nascido em Roma no ano 75, Aleksander esteve entre os primeiros cristãos e, por consequência, sofreu com as perseguições do Império Romano. Fiel e seguidor dos ensinamentos de Jesus Cristo, Aleksander dedicou-se à religião desde cedo. Sua firmeza de personalidade e sua capacidade de exercer influência sobre as pessoas o levaram a uma posição de destaque no cristianismo. O romano era conhecido também por sua piedade, o que o representava como uma santidade. Suas características de homem pacífico, porém determinado, ajudaram a converter centenas de pessoas à fé cristã, incluindo membros do Senado e da nobreza romana. Ações que representaram verdadeiras conquistas para a Igreja Católica, pois as décadas e séculos iniciais do cristianismo foram repletos de perseguição e insatisfação com a religião monoteísta que nascia e crescia em um império historicamente identificado pelo politeísmo. Com todas suas notáveis características para o momento, Aleksander, ou simplesmente Alexandre, foi escolha imediata para suceder o Papa Evaristo, falecido no ano 105. Naquela época, Alexandre tinha apenas 30 anos, mas já era bem conhecido na esfera política e possuía um histórico favorável. O papado de Alexandre I deixou um legado representativo especialmente para a liturgia católica. O Papa estabeleceu o uso de pão sem fermento durante a celebração da eucaristia, assim como a mistura de um pouco de água ao vinho que é consagrado na celebração para representar a união de Cristo com a Igreja. A característica litúrgica mais marcante de seu papado foi ter instituído o uso de água benta para aspersão. O Papa Alexandre I ordenou seis padres, dois diáconos e cinco bispos, de acordo com alguns pesquisadores. Para confrontar os opositores da Igreja Católica, excomungou todos que impediam que os legados da instituição religiosa exercessem os cargos indicados pelo Sumo Pontífice. Também escreveu epístolas, ordens e decretos. Sua atuação resultou no descontentamento do Império Romano, que tinha intolerância à Igreja Católica. Acredita-se que Alexandre I tenha sido aprisionado pelo imperador Aureliano e, mesmo na cadeia, o papa teria realizado milagres capazes de converter outros romanos. Embora haja dúvidas sobre a precisão dos fatos, acredita-se que Aureliano tenha ordenado a martirização do Papa Alexandre I, o qual teria sido amarrado a um cavalo, chicoteado e finalmente morto na fogueira, levando consigo alguns de seus seguidores. Após dez anos de papado, Alexandre I faleceu no ano 115 e foi canonizado pela Igreja Católica. Muitos séculos mais tarde, em 834, seus restos mortais foram transferidos para Freising, na Baviera.

 

7º - São Xisto I - c.115 - c.125

               Nascido em Roma no ano 42, Elvidius Xystus, ou simplesmente Sisto, era filho de um romano que tinha o nome de Pastor. Viveu em um período muito próximo dos primeiros cristãos. É um período também de muitas dificuldades para esses fieis, pois havia grande perseguição do Império Romano, que professava o paganismo como religião oficial. Nessa época, a Igreja Católica ainda não estava consolidada como instituição e tampouco gozava do prestígio que a caracterizaria a partir da Idade Média. O Papa Sisto I enfrentou as primeiras divergências entre a Igreja de Roma e as Igrejas do Oriente e, curiosamente, um dos principais motivos foi a Páscoa. Esta era uma celebração já estabelecida entre os cristãos orientais e que ainda não havia sido adotada no Ocidente. Hoje, no entanto, é uma das celebrações mais marcantes e importantes da Igreja Católica Romana. Outro enfrentamento ocorreu contra os adeptos da gnose, que procuravam conciliar todas as religiões e explicar o sentido mais profundo de tudo. Combateu fortemente as doutrinas gnósticas. Mas, além da divergência, Sisto I estabeleceu importantes atos para os católicos. Foi este papa que determinou que ninguém, além dos presbíteros e ministros do culto, pode tocar no cálice e na patena durante a consagração. Determinou também que os bispos consagrados deveriam ter um documento comprobatório do papa. O Papa Sisto I parece ter sido muito influente na tradição litúrgica do catolicismo. Foi autor de duas epístolas. A primeira acerca da doutrina da Santíssima Trindade e a segunda sobre o primado do Bispo de Roma sobre as igrejas particulares. Foi o primeiro papa a enviar um missionário para evangelização da Gália. O Papa Sisto I deu importante continuidade ao trabalho de estruturação eclesiástica e fundamentou ritos que se tornaram marcantes na Igreja Católica. Pelo que consta, deu auxílio paternal aos mártires cristãos e foi igualmente martirizado. Faleceu no dia sete de fevereiro de 125, aos 83 anos de idade, e foi sepultado nas terras onde posteriormente seria erguida a Basílica de São Pedro.

 

8º - São Telésforo - c.125 – c.136

               Nascido em ano desconhecido, Telésforo era proveniente de Terranova da Sibari. Viveu em um período chamado de cristianismo primitivo, próximo da época em que Jesus Cristo pregou sua palavra. Era um momento de muita dificuldade para os cristãos porque eram perseguidos pelos imperadores romanos, que professavam o paganismo. Muitos dos líderes cristãos foram martirizados em função da opressão. Telésforo se tornou papa no ano 125 para ser sucessor de Sisto I. Apesar das dificuldades vividas pelos cristãos naquela época, seu papado foi de relativa paz porque os imperadores Adriano e Antonino não publicaram éditos de perseguição aos cristãos, algo muito comum naquele período. No entanto, a paz não foi completa porque os cristãos tiveram desentendimentos com outros grupos religiosos e comunidades que não seguiam a fé cristã. Não se conhecem muitas informações sobre o Papa Telésforo porque as fontes daquele período foram, em grande parte, perdidas em função de conflitos e desastres. O que se sabe mesmo é acerca dos dados gerais que são conhecidos sobre o momento. Por exemplo, os pagãos viviam fazendo acusações aos cristãos e tentando se apropriar de seus bens. Muitos cristãos dessa fase foram atirados aos leões para servirem de alimento. No que diz respeito especificamente ao papado de Telésforo, são creditados a ele alguns ritos tradicionais da Igreja Católica, porém sem precisão, pois alguns pesquisadores contestam esses fatos. O Papa Telésforo teria supostamente instituído as comemorações natalinas para celebrar a vinda de Jesus Cristo à Terra, ainda que esse ritual tenha se tornado oficial apenas no ano 440. Hoje sabe-se, contudo, que a data do Natal concorria com as datas comemorativas dos pagãos em dezembro, e que ela não representa a data que seria mais precisa do nascimento de Jesus Cristo. Alguns argumentam também que foi o Papa Telésforo que instituiu a celebração da missa do Galo, estabeleceu a Páscoa aos domingos e a Quaresma como o período de sete semanas precedentes. Todavia há argumentos suficientes para questionar essas atribuições. Apesar de um papado em relativa paz com os imperadores, o período de 13 anos de Telésforo como líder da Igreja Católica terminou de modo trágico, como era comum na época. Fontes da época indicam que o Papa Telésforo morreu martirizado no ano 137. Ele foi sepultado junto ao túmulo de São Pedro. Foi santificado mais tarde e é venerado na Igreja Católica Apostólica Romana e na Igreja Ortodoxa Grega.

 

9º - Santo Higino - c.137 - c.140

               Nascido em Atenas, na Grécia, no ano 90, Hyginys Desposyni era filho de um filósofo grego e, provavelmente, teve uma formação cultural e analítica mais ampla para sua época. Não são conhecidas muitas informações de sua vida, mas, como cristão, enfrentou as mesmas dificuldades da comunidade cristã de sua época, que era perseguida pelos pagãos. Seu pontificado iniciou no ano 137 e introduziu muitos costumes típicos e importantes da liturgia católica. O Papa Higino sucedeu o Papa Telésforo e se esforçou em tornar mais precisa a questão da hierarquia no interior da Igreja. Até hoje, a instituição religiosa é conhecida por sua rígida estrutura hierarquizada. E parece mesmo que o Papa Higino gostava bastante da ordem, foi ele também quem introduziu o costume da existência do padrinho e da madrinha no batismo. Outra tradição amplamente difundida e praticada entre os católicos. Além dessas marcas tradicionais do ritual e da estrutura católica, o Papa Higino enfrentou as típicas perturbações causadas pelas constantes perseguições aos seguidores da fé cristã. Para o cristianismo primitivo, essa era uma condição comum, não diferente daquela enfrentada por muitos outros papas. Mas uma preocupação de seu pontificado foi em relação ao que se considerava como heresia, que nascia e começava a tomar forma naquele momento. O Papa Higino identificou e condenou heresias e seus heresiarcas, conquistando vitória sobre eles. Combateu um movimento gnóstico que enfrentou Roma. O gnosticismo foi considerado uma heresia por misturar doutrinas e práticas religiosas com filosofia e mistérios. Os gnósticos acreditavam que havia uma fé comum para os incultos e uma ciência reservada aos doutores. O Papa Higino, excomungou seus principais líderes. Não há certeza sobre a causa de sua morte, mas era muito comum naquele momento, em função da perseguição sofrida pelos cristãos, o martírio dos papas. O certo é que seu pontificado durou quatro anos e que Higino faleceu aos 50 anos de idade, no ano 140. Ele foi enterrado próximo à tumba de São Pedro.

 

10º - São Pio I – c.140 – c.155

               Nascido em Aquileia, na Itália, no ano 100, Pius Desposyni era filho do 15º Bispo de Jerusalém, Judas. Acredita-se que ele era um dos príncipes antigos aparentados com Jesus Cristo por causa de sua filiação. No entanto, esta era uma questão que só interessava aos cristãos, pois, na época em que viveu, o cristianismo era primitivo e sofria com muitas perseguições. Pouco importando informações como essa para os imperadores pagãos. Já para os cristãos, este fato certamente influenciou na escolha de Pio para suceder o Papa Higino. Além disso, Pio jejuou e orou durante três dias voltando suas preces aos fiéis romanos e a escolha adequada de seu novo pontífice. Sua eleição ocorreu no ano 140, liderando a Igreja Católica durante os reinados de Antonino Pio e Marco Aurélio, dois imperadores romanos não convertidos ao cristianismo. O novo Papa enfrentou muitas dificuldades advindas de problemas variados. Pio I enfrentou problemas de cunho religioso com os judeus convertidos e com os hereges de seu tempo. Entre estes estavam os gnósticos, com destaque para Marcião, criador do marcionismo, uma seita religiosa cristã do início do século II que rejeitava que o Antigo Testamento estivesse ultrapassado e fazia oposição entre justiça e amor, lei e evangelho. Pio I até tentou dialogar com esses hereges que defendiam visões mais espiritualizadas dos evangelhos sagrados, mas não houve entendimento, então Marcião foi excomungado. O Papa Pio I foi o criador da tradição da celebração da Páscoa aos domingos. É identificado também como o construtor da igreja Santa Pudenziana, uma das mais antigas de Roma. Seu pontificado foi dedicado a combater as ameaças hereges especialmente propagadas pelos gnósticos. Assim, o décimo papa tentava consolidar a presença e a soberania da Igreja Católica. Mas suas ações não fizeram da religião cristã a predominante no império e, por isso, acredita-se que Pio I tenha sido martirizado. Pio I permaneceu 15 anos à frente da Igreja Católica e faleceu aos 55 anos de idade, no ano 155. Foi reconhecido mais tarde como Santo e é celebrado no dia 11 de julho.

 

11º - Santo Aniceto - 155 - 166

               Nascido na Síria no ano 110, acredita-se que Aniceto tenha sido proveniente da cidade Emesa, que hoje é identificada pelo nome Hims. Devoto em toda sua vida, fez parte do grupo de cristãos comumente chamados primitivos, ou seja, aqueles que viveram e compartilharam hábitos do tempo de Jesus Cristo. Esses cristãos, dos dois primeiros séculos, eram membros de uma Igreja pequena e fortemente reprimida pelos pagãos romanos. Enfrentaram muitas condições desfavoráveis para manter o trono de São Pedro. Com o falecimento do Papa Pio I, Aniceto tornou-se o líder, em 155, dessa comunidade religiosa que, apesar das dificuldades, crescia. O Papa Aniceto foi o primeiro Sumo Pontífice a fazer uma condenação pelo crime de heresia. Em seu papado, o montanismo foi oficialmente condenado como herético. O montanismo era um movimento cristão fundado por Montano nos anos 156-157, que foi organizado e difundido entre várias comunidades que se espalhavam pela Ásia Menor, o Norte da África e na própria Roma. O movimento era como uma volta ao profetismo para valorizar elementos esquecidos da mensagem cristã primitiva, com atenção especial para a esperança escatológica. Era dotado de vários dogmas, como a castidade durante o casamento, a proibição das segundas núpcias, o jejum durante duas semanas do ano, o consumo de alimentos secos, o não consumo de carne, a não absolvição de pecadores e o oferecimento voluntário ao martírio. Mas não apenas o montanismo foi condenado pelo Papa Aniceto, o gnosticismo também o foi. Esta era uma doutrina que pregava o racionalismo cristão, com uma supervalorização do conhecimento, o qual seria o suficiente para a salvação. Esse racionalismo incomodava muito à Igreja e seus preceitos. Assim, o gnosticismo foi fortemente perseguido e imediatamente condenado pelo papado. Por sinal, o Sumo Pontífice em questão dedicou-se muito a proibições. Além das condenações das doutrinas consideradas heréticas pelo líder da Igreja e seus cardeais, Aniceto determinou que os padres estavam proibidos de deixar o cabelo crescer para não ser motivo de vaidade. Um fato marcante do papado de Aniceto para todo o ritual católico envolveu algumas resoluções sobre a Páscoa. Durante seu pontificado, o Papa recebeu Policarpo em Roma para discutirem a controvérsia da Páscoa. O problema, que atormentava os cristãos e a unidade da Igreja na época, envolvia um conjunto de controvérsias sobre a data apropriada para a celebração cristã da Páscoa. Naquele momento, os cristãos preocupavam-se com a dúvida sobre seguir ou não as práticas do Antigo Testamento. Eles chegaram ao entendimento de terminar o jejum no dia considerado de ressurreição de Jesus. O Papa Aniceto liderou a Igreja Católica por 11 anos e faleceu em 166, aos 56 anos de idade.

 

12º - São Sotero - c.166 - c.175

               São Sotero foi elevado ao papado depois da morte de S. Aniceto. Sotero foi Papa num período em que ser cristão era muito difícil e perigoso. Nasceu na cidade de Fondi, na Campânia, Itália, e seu pai se chamava Concórdio. Durante o seu pontificado, a Igreja ampliou-se bastante. Ele mesmo ordenou inúmeros diáconos, sacerdotes e bispos; e seu pontificado foi exemplar. Disciplinou por meio das leis canônicas, a participação das mulheres na Igreja, que até então não tinham seu caminho muito bem definido. Mas, sobretudo, o papa Sotero combateu com grande valentia e coragem as heresias que pairavam sobre a Igreja dos tempos iniciais do cristianismo. No seu tempo, foi extinta a heresia de Montano, que propunha um exagerado rigor de costumes. Era uma doutrina de medo e de pessimismo, porque o fim do mundo sempre poderia acontecer a qualquer momento. Supondo isso, todos os cristãos deveriam viver numa santidade irreal, renunciando ao matrimônio e buscando o sofrimento da penitência constante, porque, segundo Montano, a Igreja não tinha faculdades para perdoar os pecados. Essa doutrina, que também era defendida por Tertuliano e, principalmente, Novaciano, foi condenada pela Igreja na época do papa Sotero. Ele defendeu a doutrina ensinada por Jesus Cristo e que a Igreja sempre continuou praticando, ou seja, que para o pecador verdadeiramente arrependido não existe pecado, por maior que seja, a que não se possa conceder o perdão. Assim, desapareceu o clima de rigor e pessimismo que tanto atormentava os cristãos, tão contrário ao da doutrina do Evangelho, que prega o amor, o perdão, a alegria e a esperança. Outra característica do papa Sotero foi sua ardente caridade para com os necessitados. Ele desejava que se vivesse como os primeiros cristãos, citados nos textos dos apóstolos, onde “tudo era comum entre eles” e onde “todos eram um só coração e uma só alma.” Papa Sotero pedia esmolas para as dioceses mais ricas, para que fossem distribuídas entre as mais pobres e esforçava-se “por tratar a todos com palavras e obras, como um pai trata os seus filhos”. Ele foi um eloquente defensor dos cristãos perseguidos e deixou isso registrado na carta que enviou especialmente para os de Corinto. Os vestígios dela foram encontrados quando Eusébio de Cesaréia entregou a ele a eufórica resposta de Dionísio, em agradecimento pelo conforto que o valoroso papa levou aos corações aflitos pela morte iminente. Provavelmente, foi este corajoso apoio que levou ao martírio o Papa Sotero, que morreu em 20 ou 22 de abril de 175, pela perseguição do imperador Marco Aurélio. Foi martirizado e sepultado no Vaticano, mais tarde seu corpo foi transferido para a igreja de San Martino ai Monti.

 

13º - Santo Eleutério - c.175 - c.189 

               Nascido em Épiro, na Grécia, no ano 130, sabe-se pouco sobre a vida de Eleutério. Ele viveu em um período que podemos chamar ainda de cristianismo primitivo, no qual os seguidores da fé cristã conviviam com muitas dificuldades porque eram perseguidos pelos pagãos dominantes da época. Naquele tempo, o culto cristão era proibido e condenado em muitos lugares, o que resultou em uma série de papas martirizados. Eleutério, cujo nome em grego significa livre, enfrentou as dificuldades da época, porém gozou de condições relativamente boas durante seu papado. O pontificado do Papa Eleutério foi inicialmente pacífico porque o imperador Cômodo não era um perseguidor dos cristãos. Isso não quer dizer que era um cristão em fé, pelo contrário, era pagão. Porém não se importava com a questão da perseguição aos cristãos. Essa condição já conferiu relativa paz a Eleutério para conduzir seu papado. Diz-se ainda que o papa teria recebido cartas do rei Lúcio de uma parte da Bretanha pedindo que o pontífice enviasse missionários para instruir seu povo na fé cristã. O pedido teria sido correspondido e os padres Damião e Fugácio teriam sido os responsáveis pelo batizado de Lúcio, de sua rainha e de grande parte de sua população. Mas esta não é uma história fundamentada em fatos históricos, não há dados que comprovem a ocorrência da situação. Porém ela ilustra o momento singular dos católicos em meio a tantas perseguições da época. Com um pouco de liberdade para agir, o Papa Eleutério foi quem resolveu a questão judaica sobre alimentos puros e impuros. Embora as duas religiões tivessem traços comuns em suas essências, catolicismo e judaísmo, aos poucos, iam se distinguindo, e Eleutério foi fundamental neste caso. Os católicos deixaram de conviver com restrições alimentares, como acontecia com os judeus, nessa época. Outra medida importante para a tradição litúrgica dos católicos aplicada pelo Papa Eleutério foi considerar o Papa como sucessor de Pedro. O estabelecimento desse costume reafirmava Pedro como o Pai da Igreja, o primeiro a divulgar a obra de Jesus Cristo, o primeiro Papa. E, por fim, ele introduziu as primeiras normas para celebração da Páscoa. O pontificado de Eleutério foi marcado também pelo combate à doutrina montanista, considerada excessiva e foi amplamente combatida pelos católicos. Permaneceu em seu pontificado por 14 anos e faleceu aos 59 anos de idade, em 189.

 

14º - São Vitor I - c.189 - c.199

               Nascido na Tunísia no ano 155, Vitor era proveniente de uma província romana e era filho de Félix, única informação precisa que se conhece sobre sua família e sua vida antes de se tornar papa. Sabe-se que Vitor cresceu sob influência do cristianismo e do Império Romano, uma combinação que ainda não era muito saudável em sua época. Ele assumiu a liderança da recente Igreja Católica no ano 189, momento em que os cristãos se aproximavam de melhores condições de vida e de culto no Império Romano. O Papa Vitor I foi mais significativo para a história da instituição religiosa no que se refere às tradições dos rituais litúrgicos. Foi ele quem flexibilizou o processo de batismo ao estabelecer que qualquer água poderia ser utilizada no caso de faltar água benta nessas celebrações. Foi o Papa Vitor I também que estabeleceu o domingo como dia sagrado para se respeitar a memória da ressurreição de Jesus Cristo, o que era feito no sábado. No mesmo sentido, Vitor I determinou que a Páscoa sempre seria celebrada no domingo, o que causou o desagrado de muitos bispos. Em resposta, o Sumo Pontífice excomungou todos os bispos que se opuseram à mudança. Por fim, ainda no que se refere à liturgia, foi ele quem estabeleceu a celebração das missas em latim, e não mais em grego. Todas as suas medidas que influenciaram diretamente na tradição dos rituais católicos foram ratificadas mais de um século depois no Concílio de Niceia, realizado na cidade que dá nome ao encontro no ano 325. O Papa Vitor I permaneceu cerca de dez anos como Bispo de Roma, e sua atuação foi muito marcante para a história da Igreja Católica. As medidas que tomou na liderança da instituição religiosa marcam profundamente o culto católico atual. À exceção do idioma no qual as missas são celebradas, muitos dos costumes cristãos que marcam a sociedade ocidental são provenientes de sua época. Ainda que tenha sido marcante no sentido litúrgico e que sua época já apresentasse melhoras para a vida cotidiana dos fiéis, o Papa Vitor I foi, provavelmente, vítima da chamada quinta perseguição, promovida pelo Imperador romano Sétimo Severo, que era pagão. Acredita-se que Vitor I tenha sido martirizado nesse contexto e sua vida tenha se encerrado aos 44 anos de idade no ano 199.

 

15º - São Zeferino - c.199 - c.217

               Nascido em Roma, na Itália, em data desconhecida, Zeferino é um Papa com origens ainda não conhecidas. Ele foi o primeiro Papa do século III, mas sabe-se pouco sobre sua vida antes do papado e sua influência e atuação no mundo cristão. Tudo que é conhecido a seu respeito basicamente inicia com sua eleição para Papa. No mais, o que se sabe é a respeito do contexto geral de sua época, no qual havia muita perseguição aos cristãos, já que a religião ainda não havia se tornado oficial do Império Romano. O papado de Zeferino começou no ano de 199 e avançou pelas duas primeiras décadas do século seguinte. Durante seu exercício, o Papa teve que enfrentar problemas teológicos que dividiam os fiéis, na ocasião, excomungou Tertuliano. Foi o primeiro autor cristão a produzir uma obra literária em latim e era um grande defensor do cristianismo e combatente das heresias. Embora tenha se tornado importante para a Igreja Católica, suas ideias não eram plenamente aceitas pelos ortodoxos da época. O Papa Zeferino estabeleceu alguns costumes na liturgia cristã, como a comunhão para maiores de 14 anos na Festa de Páscoa e o uso da patena e de cálices sagrados produzidos em vidro. No entanto, Zeferino não era muito significativo na política institucional, seu assessor, Calisto, era quem se incumbia das tarefas. Em função disto, Calisto conquistou grande poder e reconhecimento na Igreja Católica, supostamente até dominando o Papa Zeferino. Quando o Sumo Pontífice manifestou sua intenção de criar uma catacumba na Via Ápia, a tarefa e os cuidados do projeto foram atribuídos a Calisto. Não por menos, tornou-se conhecida como Catacumba de Calisto. O Papa Zeferino foi descrito como um homem simples e sem educação por São Hipólito. Seu pontificado durou 18 anos e foi encerrado por martírio. Ele faleceu no dia 20 de dezembro de 217 e foi o primeiro papa a ser enterrado na Catacumba de Calisto, que se tornaria seu sucessor.

 

16º - São Calixto I - c.217 - c.222

               Nascido em Roma no ano 165, Calisto foi escravo em sua juventude e era responsável por coletar dinheiro entre os fiéis para auxílio de órfãs e viúvas. Conta-se que, em determinada ocasião, ele perdeu a coleta e aproveitou para fugir de Roma. Sem muito sucesso, tentou pular de uma ponte para continuar fugindo, mas foi capturado e levado novamente ao seu proprietário. Mais tarde, Calisto foi alforriado graças ao pedido de vários credores que acreditavam que poderiam recuperar o dinheiro de alguma maneira. No entanto, esse não foi o fim da juventude conturbada de Calisto. O jovem chegou a brigar em uma sinagoga onde fazia negócios com judeus. Seu comportamento, agora que não era mais escravo, resultou em prisão. Explorado como escravo e preso por desordem em local sagrado para os judeus, a juventude de Calisto ainda escondia outra vertente perseguida na época em que viveu. Calisto era cristão. A crença de Calisto foi denunciada e ele foi condenado a trabalhar forçadamente nas minas de Sardenha, de onde só saiu a pedido de Jacinto, um fiel que solicitou a liberação dos cristãos. Mas, neste ponto, a saúde de Calisto já estava muito debilitada em função de todas as explorações e perseguições que sofreu ao longo de sua juventude. Calisto foi enviado para se recuperar em Antium e lá recebeu uma pensão do Papa Vitor I, iniciando sua escalada no cristianismo. Calisto tornou-se diácono e era muito respeitado pelos Papas de sua época. O Papa Zeferino o confiou importantes funções na Igreja Católica. Sua atividade fiel e responsável fez crescer sua popularidade entre os cristãos. A vida difícil levada por Calisto representava bem a martirizarão de um cristão em busca da salvação de sua alma. Quando o Papa Zeferino faleceu, Calisto foi imediatamente eleito, no ano 217, para sucedê-lo. O Papa Calisto I não exerceu um papado de tranquilidade. Assim como sua vida, o tempo em que permaneceu como Supremo Pontífice também foi repleto de confusões, perseguições e acusações. Foi perseguido, junto com todos os cristãos. Os imperadores de Roma ainda empreendiam grandes caçadas contra cristãos em favor do paganismo. Seu papado, propriamente dito, foi acusado de ser indulgente na administração das penitências, causando tamanho distúrbio que apareceu a figura de um antipapa com o nome de Hipólito. O desentendimento girava em torno de discórdias com as práticas de Calisto I, especialmente em relação à absolvição que este concedeu a adúlteros, homicidas e apóstatas. A misericórdia de Calisto I com os pecadores, mesmo os reincidentes, desagradava os cristãos mais fervorosos. Por isso, o papa teve que conviver com um antipapa ao longo de três anos. Toda a vida do Papa Calisto I foi muito difícil, quando jovem, foi escravo e esteve preso. Tornou-se papa e foi muito questionado, a ponto de confrontar um antipapa. E o final de sua vida morreu durante uma rebelião popular no dia 14 de agosto de 222, tornando-se um mártir. Foi enterrado na Via Aureliana e seus restos mortais foram transferidos no século XIX para Santa Maria in Trastevere.

 

17º - Santo Urbano I - c.222 - c.230

               Nascido em Roma no ano 175, Urbano viveu uma época em que as perseguições aos cristãos eram intensas e rotineiras. Não havia liberdade religiosa plena e seguidamente os papas eram martirizados pelo Império Romano. Com o falecimento do Papa Calisto I em 222, Urbano foi eleito para ser seu sucessor no mesmo ano. O papa de Urbano I é, geralmente, esquecido ou pouco comentado. De fato sabe-se pouco sobre sua atuação como Sumo Pontífice, mas não há dúvida que tenha vivido momento de relativa estabilidade no Império Romano. Isto porque o imperador da época era Alexandre Severo, o qual estabeleceu certa tolerância à crença monoteísta professada pelos cristãos romanos. Embora a religião do Império Romano fosse o paganismo e a perseguição e o massacre ao cristianismo fosse intenso naquela época, Alexandre Severo permitiu certa liberdade de culto e tolerou razoavelmente o convício entre as crenças. A condição de relativa paz vivida pelos cristãos durante o papado de Urbano I, algo que não era comum naqueles tempos, foi importante para que a Igreja Católica florescesse e cultivasse algumas representações. Com alguma liberdade para administrar a Igreja, o Papa Urbano I determinou que todos os vasos sagrados fossem feitos de prata e benzeu alguns artefatos deste material para a paróquia de Roma. Era o início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica. Embora o catolicismo já desse sinais de sua preocupação com a riqueza no final do século II, o papa não deixou de pensar nos desvalidos. Mesmo cultuando os objetos de valor, Urbano I determinou que as esmolas ofertadas à Igreja fossem empregadas exclusivamente em duas frentes, o culto divino e os desvalidos. Ou seja, a Igreja demonstrava já seu perfil dúbio que oscila entre riqueza e pobreza. Apesar da rotineira martirização dos Papas nessa época, tudo indica que o final da vida de Urbano I não tenha seguido esse caminho. Seu Pontificado durou oito anos e terminou com seu falecimento no ano 230, quando tinha 55 anos de idade.

 

17 . 1 - Santa Cecília

               Nascida em Roma c.180, falecimento em Roma c.230. - Cecília seria da nobre família romana dos Metelos, filha de senador romano e cristã desde a infância. Ela foi dada em casamento, contra a vontade, a um jovem chamado Valeriano. Se bem que tivesse alegado os motivos que a levavam a não aceitar este contrato, a vontade dos pais se impôs de maneira a tornar-lhe inútil qualquer resistência. Assim se marcaria o dia do casamento e tudo estava preparado para a grande cerimônia.

               Da alegria geral que estampava nos rostos de todos, só Cecília fazia exceção. A túnica dourada e alvejante peplo que vestia não deixavam adivinhar que por baixo existia o cilício, e no coração lhe reinasse a tristeza. Estando só com o noivo, disse-lhe Cecília com toda a amabilidade e não menos firmeza: “Valeriano, acho-me sob a proteção direta de um Anjo que me defende e guarda minha virgindade. Não queiras, portanto, fazer coisa alguma contra mim, o que provocaria a ira de Deus contra ti”. A estas palavras, incompreensíveis para um pagão, Cecília fez seguir a declaração de ser cristã e obrigada por um voto que tinha feito a Deus de guardar a pureza virginal. Disse-lhe mais: que a fidelidade ao voto trazia a bênção, a violação, porém, o castigo de Deus. Valeriano, ficou "vivamente impressionado" com as declarações da noiva, respeitou-lhe a virgindade, converteu-se e recebeu o batismo naquela mesma noite. Valeriano relatou ao irmão Tibúrcio o que tinha se passado e conseguiu que também ele se tornasse cristão. Turcius Almachius, prefeito de Roma, teve conhecimento da conversão dos dois irmãos. Citou-os perante o tribunal e exigiu peremptoriamente que abandonassem, sob pena de morte, a religião que tinham abraçado. Diante da recusa formal, foram condenados à morte e decapitados. Também Cecília, teve de comparecer na presença do juiz. Antes de mais nada, foi intimada a revelar onde se achavam escondidos os tesouros dos dois sentenciados. Cecília respondeu-lhe que os tinha bem guardados, sem deixar perceber ao tirano que já tinham achado o destino nas mãos dos pobres. Almachius, mais tarde, cientificado deste fato, enfureceu-se e ordenou que Cecília fosse levada ao templo e obrigada a render homenagens aos deuses. De fato foi conduzida ao lugar determinado, mas com tanta convicção falou aos soldados da beleza da religião de Cristo que estes se declararam a seu favor, e prometeram abandonar o culto dos deuses. Almachius, vendo novamente frustrado seu estratagema, deu ordem para que Cecília fosse trancada na instalação balneária do seu próprio palacete e asfixiada pelos vapores d’água. Cecília teria sido então protegida milagrosamente, e embora a temperatura tivesse sido elevada a ponto de tornar-se intolerável, ela nada sofreu. Segundo outros mitos, a Santa foi posta em um banho de água fervente do qual teria saído ilesa. Almachius recorreu então à pena capital. Três golpes vibrou o algoz sem conseguir separar a cabeça do tronco. Cecília, mortalmente ferida, caiu por terra e ficou três dias nesta posição. Aos cristãos que a vinham visitar dava bons e caridosos conselhos e ao Papa entregara todos os bens, com o pedido de distribuí-los entre os pobres. Outro pedido fora o de transformar a sua casa em igreja, o que se fez logo depois de sua morte. Foi enterrada na Catacumba de São Calisto. As diversas invasões dos godos e lombardos fizeram com que os Papas resolvessem a transladação de muitas relíquias de santos para igrejas de Roma. O corpo de Santa Cecília ficou muito tempo escondido, sem que lhe soubessem o jazigo. Uma aparição da Santa ao Papa Pascoal I (817-824) trouxe luz sobre este ponto. Achou-se o caixão de cipreste que guardava as relíquias. O corpo, foi encontrado intacto e na mesma posição em que tinha sido enterrado. O esquife foi achado em um ataúde de mármore e depositado no altar de Santa Cecília. Ao lado da Santa acharam seu repouso os corpos de Valeriano, Tibúrcio e Máximo. Em 1599, por ordem do Cardeal Sfondrati, foi aberto o túmulo de Santa Cecília e o corpo encontrado ainda na mesma posição descrita pelo papa Pascoal. O escultor Stefano Maderno que assim o viu, reproduziu em finíssimo mármore, em tamanho natural, a sua imagem. Ele teve pouco tempo, pois o corpo se desintegrou em poucos dias. A Igreja ocidental, como a oriental, têm grande veneração pela Mártir, cujo nome figura no cânon da Missa. O ofício de sua festa traz como antífona um tópico das atas do martírio de Santa Cecília, as quais afirmam que a Santa, nos festejos do casamento, ouvindo o som dos instrumentos musicais, teria elevado o coração a Deus nestas piedosas aspirações: “Senhor, guardai sem mancha meu corpo e minha alma, para que não seja confundida”. Desde o século XV, Santa Cecília é considerada padroeira da música sacra. Sua festa é celebrada no dia 22 de Novembro, dia da Música e dos Músicos.

 

18º - São Ponciano - c.230 - c.235

               Nascido em Roma no ano 175. Naquela época, os cristãos enfrentavam grandes dificuldades para se expressar e, à exceção de Pedro, os papas se revezavam na liderança da Igreja com alta frequência. Não se sabe muito a respeito da vida particular de Ponciano antes de ser papa, somente pode-se inferir sua representatividade para a comunidade cristã. Com o falecimento do papa Urbano I em 230, um conclave se formou para eleger o novo Papa. No dia 21 de julho de 230, Ponciano foi eleito para assumir o posto de liderança da Igreja. O pontificado de Ponciano começou em meio a um cisma existente no catolicismo, o qual o novo Papa superou de forma singular. Para interromper a divisão que existia em sua religião, Ponciano e outros líderes da Igreja foram exilados pelo imperador romano Maximino Trácio. Todos eles foram enviados para Sardenha. Ponciano não gostou da medida imposta e, para resolver o cisma, renunciou ao seu posto. Foi, assim, o primeiro papa da história da Igreja Católica a renunciar seu papado. O papa Ponciano enfrentou de frente o antipapa Hipólito que existia na época em que assumiu o papado. Ponciano tinha um relacionamento muito bom com o imperador Alexandre Severo, mas quando este foi destituído e morto Maximino Trácio tomou o poder. Maximino é reconhecido como o primeiro bárbaro a reger Roma. Também foi o primeiro imperador que comandou o império sem ter posto o pé na cidade de Roma. Maximino reativou uma forte perseguição aos cristãos e exilou o Papa e o antipapa. O cisma foi resolvido com a abdicação de ambos em favor de um único papa, Antero. Ponciano renunciou no dia 28 de setembro de 235. Não se sabe quanto tempo ele permaneceu exilado, mas sabe-se que Ponciano e Hipólito foram martirizados até a morte. Ponciano trabalhou forçadamente e de forma desumana nas minas de Sardenha, o que levou à sua morte por esgotamento. Seus restos mortais foram, então, levados para Roma e enterrados na catacumba do Papa Calisto I.

 

19º - Santo Antero - c.235 - 236

               Nascido na Grécia em 180, Antero era filho de Romulus e, em função de seu nome, acredita-se que ele teria sido um escravo livre. Homem dedicado à religião, foi eleito Papa no dia 21 de novembro de 235, sucedendo o Papa Ponciano. O Papa Antero foi um dos papas que menos tempo exerceu o pontificado, pois ele faleceria apenas um mês e dez dias depois de assumir o posto de Sumo Pontífice da Igreja Católica. Sua morte ainda é um mistério, não se sabe ao certo o motivo de um pontificado tão curto. A ideia mais plausível é de que o imperador romano Maximino Trácio o condenou à morte pela aprovação do Pontífice aos atos dos Mártires. O carisma do papa teria enfurecido o imperador romano que, naquela época, foi um ódio de um pagão contra o cristianismo que aflorava. Em seu pouco tempo de pontificado, conquistou várias conversões entre romanos e gregos, ambos pagãos. Incomodou mais ainda o imperador Maximino Trácio o fato de que até membros de sua guarda pessoal estavam se convertendo ao cristianismo. Além da inimizade do imperador romano, o Papa Antero teve que enfrentar a oposição de Nereu, um sacerdote de Chipre que cobiçava o posto de Sumo Pontífice. Todavia, Nereu não possuía seguidores ou adeptos em quantidade suficiente para causar um enfrentamento direto ou mesmo um cisma na Igreja Católica. Só que isso não o impediu de causar muitos transtornos ao curto pontificado de Antero. O Papa Antero faleceu no dia três de janeiro de 236, para satisfação de seus adversários. Foi enterrado na catacumba do Papa Calisto I, em Roma, mas o local só foi desterrado em 1854. Seus restos mortais foram, então, transferidos para a igreja de São Silvestre.

 

20º - São Fabiano - 236 - 250

               Nascido em Roma no ano 200, Fabiano viveu a fase inicial do cristianismo católico na Europa. Esse momento foi muito marcado pelo preconceito e, em alguns momentos, a caça deliberada do Império Romano aos seguidores da nova religião. Em meio a um conturbado período, os religiosos tentavam dar prosseguimento aos ensinamentos de Jesus Cristo. Por volta do ano 200, o Império Romano começou a demonstrar mais tolerância com o cristianismo e, inclusive, alguns de seus imperadores passariam a tender para o lado da doutrina católica. Quando Fabiano voltava para Roma após o falecimento do papa Antero, havia uma divisão na escolha do novo Supremo Pontífice. Conta-se que uma pomba branca surgiu repentinamente e pousou sobre a cabeça de Fabiano, encantando todos os cristãos romanos, que o escolheram por unanimidade para ser o novo papa. Fabiano teria cedido ao momento sublime e aceitado liderar a Igreja Católica. O Papa Fabiano exerceu seu papado com grande retidão. Seu cargo na liderança da Igreja Católica esteve inserido em um momento de relativa paz para os cristãos. Aproveitando-se disso, Fabiano implementou reformas na divisão administrativa das regiões que permaneceram vigentes por muitos séculos. Mas, ainda assim, houve confrontos e momentos difíceis. Um deles foi com o imperador romano Décio, e também um desentendimento com o Bispo Privado que exercia sua função na África, o qual foi deposto pelo Papa. Fabiano é identificado como responsável pelas primeiras expedições às Gálias. Em meio as disputas políticas do Império Romano, Fabiano teria batizado o primeiro imperador romano cristão, Felipe, o árabe, que seria assassinado por Décio, em seguida começou a perseguir e maltratar os cristãos chegando a matar o Pontífice. O Papa Fabiano é considerado mártir da Igreja Católica e chamado de São Fabiano pelos cristãos. Ele faleceu aos 50 anos de idade, após 14 anos de papado, no dia 20 de janeiro de 250.

 

21º - São Cornélio - 251 - 253

               Nascido em Roma no ano 200, Cornélio viveu um momento complicado para os cristãos. Em meados do século de seu nascimento, o Imperador Décio perseguia os cristãos do Império Romano, chegando a ordenar que cometessem sacrifícios religiosos, pois, em caso contrário, seriam sentenciados à morte. A ameaça fez com que alguns cristãos apostatassem, outros realizaram os sacrifícios e alguns se recusaram, o que os levou à morte. Nesse cenário persecutório, o Papa Fabiano se recusou a atender os ordenamentos do imperador e foi um dos cristãos martirizados. Para agravar a crise na Igreja Católica, Décio tentou impedir a eleição de um novo Papa, mas, forçado a se ausentar de Roma para combater os godos, a eleição foi realizada. Na ocasião, Cornélio, contra sua vontade, foi eleito Papa em 251. O papado de Cornélio foi muito turbulento. Já havia um cenário anterior estimulado pelo Imperador Décio desfavorável, mas, semanas depois, Novaciano se proclamou antipapa, gerando um cisma. Novaciano achava que seria eleito Papa e não concordou com a derrota. Só que Cornélio tinha o apoio de importantes religiosos da época e de diversas regiões cristãs, enquanto Novaciano era apoiado apenas por uma minoria do clero de Roma. Cornélio reagiu excomungando Novaciano. O Papa Cornélio enfrentou as perseguições contra os cristãos e o cisma da Igreja, demonstrando grande capacidade para ser um líder religioso, mesmo que não fosse seu interesse ser Papa. Possuía dons diplomáticos também para solucionar problemas políticos. Perfil que o tornou um exemplo para todos os Papas que o sucederam. A morte de Décio não aliviou a perseguição aos cristãos porque o sucessor, Treboniano Galo, também foi um opositor. O novo imperador exilou o Papa em Civitavecchia. Após uma vida toda dedicada ao cristianismo, Cornélio faleceu em reclusão em 253. É venerado como Santo pela Igreja Católica.

 

22º - São Lúcio I - 253 - 254  

               Nascido em Roma no ano 205, Lúcio tem uma história familiar desconhecida. Sabe-se apenas o nome de seu pai, que era Prophyrianus. Lúcio nasceu em um momento que o cristianismo começava a se expandir pelo Império Romano. Foi por volta do ano 200 que os cristãos passaram a superar as perseguições religiosas, iniciando uma guinada que levaria o cristianismo a ser a religião oficial do Império. A conversão do primeiro imperador romano ao cristianismo selaria de vez a amplitude do cristianismo e abriria as portas para que influenciasse profundamente toda a história ocidental. Lúcio faz parte do momento inicial do papado, ainda sem muitas riquezas. Foi o sucessor do Papa Cornélio, que faleceu em 253. Lúcio foi eleito no dia 25 de junho do mesmo ano em meio a uma perseguição que havia banido seu antecessor e o novo Papa. Todavia, Lúcio I conseguiu retornar a Roma para exercer seu papado. O papado de Lúcio I foi curto, porém conturbado. Já de início, teve de contornar a perseguição sofrida para assumir seu posto. Feito isto, precisou combater o novacionismo, um movimento do cristianismo primitivo que se recusava a readmitir cristãos que tinham celebrado os deuses pagãos durante a perseguição empreendida pelo imperador Décio. Esse embate foi intenso e, mais tarde, os novacianos seriam declarados hereges. De toda forma, Lúcio I foi firme em defesa da doutrina de Cristo segundo a Igreja Católica. O papado de Lúcio I ainda enfrentou grandes dificuldades em função da perseguição e da intolerância religiosa dos romanos. Décio foi um dos exemplos, era um imperador intolerante e caçador de cristãos. Só durante o papado de Lúcio I, cerca de 900 cristãos foram martirizados. O Supremo Pontífice teve poucas oportunidades de fazer seu trabalho, pois faleceu em cinco de março de 254, menos de um ano depois de assumir o posto. Mas também se tornou um mártir na batalha pela liberdade e legitimidade do cristianismo. O falecimento de Lúcio I apresenta um curioso detalhe, sua tumba está na catacumba de Calisto, seus restos mortais estão na igreja de Santa Cecília in Trastevere e sua cabeça está na Catedral de Santo Ansgar, em Copenhague, na Dinamarca.

 

23º - Santo Estevão I - 254 - 257

               Nascido em Roma no ano 210, Estevão era proveniente de uma família de nobres. Vivenciou uma época imediatamente posterior à conversão do Império Romano ao cristianismo, ou seja, quando Roma trocou oficialmente o paganismo pela religião de Jesus Cristo. Embora ainda houvesse alguma perseguição aos cristãos, era um momento favorável para a Igreja Católica, que se expandia pelo império e conquistava poderes políticos. Estevão era homem religioso e reconhecido membro da Igreja. Quando seu antecessor faleceu, Lúcio I, ele foi eleito no dia 12 de maio de 254 para ser o novo líder da instituição religiosa. Seu papado seria curto e conturbado, apesar do crescente poder e da crescente influência da Igreja Católica. O Papa Estevão I teve desavenças com as igrejas do continente africano e do continente asiático, com as quais travou um embate acerca da supremacia da sede romana. Foi muito rígido com os homens considerados hereges, os quais não aceitavam se reintegrar à Igreja Católica. Por conta disso, envolveu-se em discussão com Cipriano de Cartago sobre o rebatismo de hereges. Também foi intolerante na reabilitação de Bispos que eram acusados de apostasia. O Papa Estevão I enfrentou muitos problemas e os potencializou em função de sua intransigência. Quando assumiu o papado, já havia um antipapa em exercício. Era um estudioso conhecido como Novaciano que antagonizava a figura do Papa romano desde 251. Novaciano tinha o apoio de muitos nobres e religiosos, o suficiente para o manter com relativa estabilidade em confronto com os Papas romanos. Todavia Estevão I intensificou as disputas cismáticas e abalou a zona de conforto de Novaciano. Estevão I conseguiu reunir as igrejas que antes estavam desunidas, porém não foi capaz de derrubar Novaciano em vida. O Papa romano abriu caminho para acabar com o poderio e a estabilidade do antipapa vigente. No entanto, não viveu o suficiente para vê-lo derrotado. No meio desse confronto havia outro personagem, o imperador romano Valeriano. Este foi responsável pela perseguição ao Papa e ao antipapa. Estevão I foi caçado pelo imperador romano e, segundo consta, martirizado. Faleceu no dia dois de agosto de 257. O antipapa, contudo, também foi alvo de perseguição do imperador romano. Logo após a morte de Estevão I, Novaciano fugiu para tentar escapar da perseguição de Valeriano. Não se sabe ao certo se ele também foi martirizado, mas faleceu no ano 258. Só que Novaciano deixaria marcas cismáticas por muitos séculos na Igreja Católica, em função das seitas que se estabeleceram. O Papa Estevão I foi canonizado pela Igreja Católica e é chamado de São Estevão.

 

24º - São Xisto II - 257 - 258

               Papa Sisto II (em latim: Sistus) foi o vigésimo quarto Papa, de 31 de Agosto de 257 até 6 de Agosto de 258. Ele morreu como mártir, durante a perseguição do imperador Valeriano. Sisto II procurou unir a igreja cristã em torno dos sacramentos e da palavra de Deus. Perdoou os delatores, fortaleceu o espírito dos condenados pelo "crime capital de professar a fé em Jesus Cristo". Reatou as relações com os bispos africanos e da Ásia Menor, interrompidas pela controvérsia sobre o batismo dos hereges. Efetuou o translado dos restos de São Pedro e São Paulo. Teria sido Sisto o primeiro Papa a enviar um missionário para a evangelização da Gália, o bispo São Peregrino.

               Sisto II foi decapitado no dia 6 de agosto de 258, sendo um dos primeiros a cair vítima da promulgação de um édito do imperador Valeriano contra os cristãos, publicado nos primeiros dias daquele mês. O documento ordenava que bispos, padres e diáconos fossem sumariamente condenados à morte. Naquele dia, tentando escapar da vigilância dos oficiais imperiais, reuniu seus fiéis em um cemitério pouco conhecido, próximo à Via Ápia. Durante da celebração, foi repentinamente preso por um grupo de soldados. Não se sabe se ele foi decapitado imediatamente ou foi levado a um tribunal para receber sua sentença, e depois levado de volta ao cemitério para a execução.

 

25º - São Dionísio - 259 - 268

               Nascido provavelmente na Magna Grécia em ano desconhecido, a vida de Dionísio ainda é um mistério para os historiadores. A origem grega ainda não é um consenso para os pesquisadores, já que não foram encontradas provas que atestem o fato. Da mesma forma, não se sabe como foi a formação religiosa que levaria Dionísio ao posto máximo da Igreja Católica. Esta, por sua vez, sofria com as intensas perseguições promovidas pelo Império Romano durante o século III. Mesmo já com mais de 200 anos de religião estabelecida, o cenário era muito instável para os cristãos porque cada imperador se comportava de uma maneira na relação com a doutrina e seus fiéis. Até a elevação do cristianismo como religião oficial do império e ao gozo de benefícios na sociedade romana, os cristãos conviveram com muitos desafios. Foi nesse contexto opressor que levou à morte o Papa Sisto II. Para sucedê-lo, foi eleito o Papa Dionísio, em 22 de julho de 259. O Papa Dionísio só foi eleito e assumiu o posto de Sumo Pontífice um ano após a morte do Papa Sisto II, vítima da perseguição de Valeriano. O momento era péssimo para os cristãos porque o imperador promovia violentas perseguições contra os fiéis e, com o falecimento do Papa, dificultou ao máximo a eleição de um sucessor. A perseguição só diminuiu em 259, quando a Igreja conseguiu fazer seu novo líder. No ano seguinte, 260, o Imperador Valeriano seria capturado e morto pelos persas. Seu fim traria novo alento para os cristãos, pois o sucessor, Galiano, publicaria um édito de tolerância, acabando com a perseguição aos cristãos e os concedendo um status de legalidade. O Papa Dionísio assumiu em meio a transição de uma má fase para uma boa fase para os seguidores de Cristo. Cabia a ele, então, reorganizar a Igreja que, além de abalada com os ataques, estava em desordem. Para isso, o Papa enviou muito dinheiro para as igrejas da Capadócia, que haviam sido devastadas e que muitos de seus membros haviam sido feitos prisioneiros. Junto ao Imperador Galiano, o Papa Dionísio teve paz para trazer a ordem novamente para a Igreja. O édito valeria até o ano 303, logo, seria um momento raro de crescimento para os fiéis nos primeiros séculos de fé cristã. Para se ter uma noção de como era severa a perseguição aos cristãos até então, o Papa Dionísio é considerado o primeiro Papa da Igreja Católica a não ser martirizado. Após nove anos de papado, Dionísio faleceu de morte natural no dia 26 de dezembro 268 e foi sepultado na Catacumba de São Calisto.

 

26º - São Félix I -  269 - 274

               Nascido em Roma em data desconhecida, Félix viveu em meados do século III. Naquela ocasião, a perseguição aos católicos já não era tão intensa como nos dois séculos anteriores, embora o Império Romano ainda não tivesse se convertido ao cristianismo e as opressões ainda existissem. Os dados sobre sua vida são tão desconhecidos quanto à data de seu nascimento. Sabe-se extremamente pouco sobre sua vida antes do falecimento do Papa Dionísio, o qual sucedeu a partir de cinco de julho de 269. O Papa Félix I foi quem autorizou a celebração da missa sobre os túmulos dos mártires. Ele iniciou o sepultamento dos mártires sobre o altar para fugir da perseguição do imperador Adriano. Iniciou um longuíssimo hábito da Igreja Católica que, no entanto, não é praticado mais. Naquele século, a situação era mais branda para os católicos, porém as perseguições e as dificuldades se acentuavam de acordo com a postura religiosa de cada imperador, pois a religião do império era o paganismo. Talvez a mais significativa medida do Papa Félix I em relação à própria Igreja tenha sido a intervenção na questão que envolvia Paulo de Samósata. Este bispo pregava que Cristo e o Espírito Santo eram qualidades de um único Deus, assim a inspiração de Jesus vinha do alto e crescia em Espírito Santo até se tornar o Pai no momento de sua ressurreição. No entanto, o Concílio de Éfeso, em 431, já havia estabelecido que Jesus Cristo era homem e Deus em uma única pessoa, definindo a divindade e a humanidade de Cristo e as duas naturezas distintas em uma só pessoa. Em função disso, Paulo de Samósata foi deposto de seu cargo eclesiástico e condenado por suas doutrinas trinitárias e cristológicas no Sínodo de Antioquia, realizado em 268. O Papa que criou a tradição de sepultar os mártires sob o altar de celebração das missas também foi martirizado, como se acredita. Após cinco anos de Pontificado à frente da Igreja Católica, foi sepultado na catacumba de São Calisto, na Via Ápia, no dia 30 de dezembro de 274.

 

27º - Santo Eutiquiano - 275 - 283

               Nascido em Luni, na Itália, em 240, Eutiquiano viveu uma época em que os católicos começavam a conquistar um pouco de liberdade para seu culto e suas ações. De todo modo, ainda não gozavam de plena aceitação ou de reconhecimento oficial, o que significa dizer que os cristãos ainda sofriam perseguições impostas pelos pagãos da época. Não se conhece praticamente nada sobre a vida de Eutiquiano, além do fato de ter chegado ao principal posto da Igreja Católica em meio a situações tão conturbadas para a fé cristã. Ele se tornou Papa no dia quatro de janeiro de 275 para suceder o Papa Félix I. O Papa Eutiquiano ordenou ações que seriam muito marcantes para os cristãos da época, e, de certo modo, seriam confrontadoras da lógica estabelecida. Ele ordenou, por exemplo, que os mártires fossem cobertos pela dalmática, um manto que era parecido com o dos imperadores romanos. Uma afronta para a época. Alguns anos mais tarde, o Papa Silvestre I adotaria a mesma dalmática como traje dos clérigos encarregados de ler a epístola e o evangelho nas missas solenes. O que ajudou a solidificar a tradição que chega aos nossos dias. Os diáconos celebram todas suas missas vestindo suas dalmáticas específicas para cada situação. Além de iniciar uma conduta que marcaria profundamente a tradição das celebrações católicas, o Papa Eutiquiano também instituiu a benção da colheita nos campos.  Ele proibiu ainda que se entregasse a comunhão aos enfermos. Queria evitar que o Santíssimo Sacramento fosse profanado e acreditava que proibir as mulheres ou leigos portassem a comunhão a um enfermo já seria uma inibição. Morreu martirizado no dia sete de dezembro de 283 e foi o último Papa a ser sepultado na cripta dos Papas.

 

27 . 1 - Santa Helena

               Santa Helena, de família plebeia e pagã, nasceu em meados do século III, provavelmente em Drepamin, na Bitínia, no Golfo da Nicomédia (hoje, Turquia); essa cidade, mais tarde, foi chamada Helenópolis, em sua honra, pelo seu filho e futuro imperador Constantino. Segundo Santo Ambrósio, Helena exercia o cargo de estabularia, ou seja, a estalajadeira encarregada dos estábulos. A modéstia e a delicadeza de Helena levaram o jovem oficial, Constâncio Cloro, a apaixonar-se por ela, apesar do seu nível social mais elevado. No entanto, quis casar-se com ela, levando-a consigo para Dardania, nos Bálcãs.

               A jovem, que não tinha direito ao título honorífico do seu marido, foi uma esposa fiel. No ano 280, em Naisso, na Sérvia, deu à luz ao filho Constantino. Constâncio, esposo de Helena, consentiram-lhe obter, junto com Galério, o título de César (co-regente); mas era preciso ratificar a sua elevação pelo novo sistema político da Tetrarquia. Por isso, os imperadores Diocleciano e Maximiano, em 293, obrigaram-no a divorciar-se da sua esposa e de unir-se em matrimônio com a enteada do segundo, Teodora. Isso era possível porque a lei romana não reconhecia o casamento entre nobres e plebeus. Helena foi obrigada a deixar sua família e seu filho. Helena se fez pequena, afastada da família e do filho, que até então havia educado com dedicação e amor; ela nunca desanimou. Pelo contrário, permaneceu, humildemente, na sombra, enquanto Constantino foi elevado à corte de Diocleciano. Com a morte de Constâncio em 306, Constantino mandou buscar a mãe para junto de si na Corte. Não sabemos quando se fez cristã; se ela que influiu na conversão de Constantino ou se, como escreve Eusébio de Cesareia, foi ele quem à converteu. Tornou-se uma cristã fervorosa e piedosa.  Tinha-lhe muito amor e não parou de encher de honras. Entre as suas primeiras medidas, o novo imperador mandou chamar imediatamente a sua mãe, Helena Flávia Júlia, a qual foi condecorada com o título de Augusta. As honras jamais influenciaram seu coração, pelo contrário, estimularam a sua atenção inata para com o próximo, que se concretizou em dar esmolas, satisfazer as necessidades materiais dos pobres e libertar numerosas pessoas das prisões, das minas e do exílio. Luminosa e contagiosa, a ponto de muitos perceberem a influência que teve na conversão do seu filho e na promulgação do Edito de Milão, em 313, que concedeu a liberdade de culto aos cristãos após três séculos de perseguição. Dizem que Helena participava das celebrações religiosas, usando roupas modestas, para se confundir com a multidão, e convidava os famintos para o almoço, servindo-os pessoalmente. Em 326, um acontecimento perturbou a vida da família: Constantino mandou matar, primeiro seu filho Crispo, por instigação da madrasta, Fausta, sua segunda mulher, também suspeita de acometer a sua honra. Diante dessa tragédia, com 78 anos de idade, Helena manteve firme a sua fé fazendo uma peregrinação penitencial à Terra Santa. Ali, mandou construir duas Basílicas: a da Natividade, em Belém, e a da Ascensão, no Monte das Oliveiras. Essa iniciativa inspirou Constantino a construir também a Basílica da Ressurreição. No Gólgota, ao mandar destruir os edifícios pagãos, construídos pelos romanos, aconteceu uma prodigiosa descoberta da verdadeira Cruz. Após aquela insigne vitória de Constantino sobre Maxêncio, quando ele recebeu de Deus o sinal da Cruz do Senhor, Santa Helena, sua mãe, foi a Jerusalém para procurar a Cruz de Cristo. Lá cuidou ela de destruir a imagem de Vênus, em mármore, que, para apagar a memória da Paixão de Cristo Senhor, os gentios haviam colocado no lugar da Cruz e que ali permanecera durante cerca de 180 anos. O mesmo ela fez no presépio do Salvador, onde fora posto um simulacro de Adônis, e no lugar da ressurreição, onde haviam colocado um de Júpiter. Purgado, assim, o local da Cruz, foram encontradas depois de profundas escavações três cruzes, e, à parte delas, a inscrição que havia sido posta sobre a Cruz do Senhor. Como não se sabia sobre qual das três Jesus foi afixado, um milagre sanou a dúvida. Eis que Macário, bispo de Jerusalém, tendo elevado preces a Deus, levou cada uma das cruzes a três mulheres que sofriam de grave enfermidade, e, enquanto as duas primeiras de nada serviram às mulheres, a terceira Cruz, levada à terceira mulher, curou-a imediatamente. Santa Helena, tendo encontrado a Cruz da salvação, construiu ali uma igreja magnificentíssima, na qual depositou parte da Cruz em urnas de prata, entregando outra parte a seu filho Constantino, que a levou para Roma, à igreja da Santa Cruz de Jerusalém. Ela também entregou ao filho os cravos que trespassaram o Santíssimo Corpo de Jesus Cristo. Naquele tempo, Constantino sancionou uma lei para que, desde então, ninguém fosse condenado ao suplício da cruz. Santa Helena morreu em 329, aos 80 anos de idade, em um lugar não identificado. Ainda moribunda, foi assistida por seu filho, que, depois, levou seu corpo para a Via Labicana, em Roma, onde foi sepultada em um mausoléu em sua homenagem. Seu sarcófago de pórfiro, transportado ao Latrão, no século XI, hoje está conservado no Museu Vaticano.

 

 

28º - São Caio - 283 - 296

               Nascido na Dalmácia, região que hoje é pertencente à Croácia, em data desconhecida, Caio, por sinal, é um dos Papas mais desconhecidos. Sabe-se muito pouco sobre sua vida pessoal e mesmo religiosa antes de se tornar Sumo Pontífice. Há falta de dados históricos para reconstruir sua trajetória, porém sabe-se que era descendente da família imperial de Dioclesiano, que era seu tio. Com o falecimento do Papa Eutiquiano, Caio foi eleito para ser sucessor no dia 17 de dezembro de 283. Era uma época de muitas dificuldades para os cristãos, mas o Papa Caio conseguiu oferecer um período de relativa paz, construir igrejas por toda Roma e encontrou as catacumbas de cristãos que foram martirizados antes de seu papado. Habilidoso no trato com as autoridades romanas, o Papa Caio conseguiu converter o prefeito Cromâncio. O Sumo Pontífice foi conselheiro dos cristãos refugiados que se escondiam na casa do prefeito romano, todavia sugeriu que todos fugissem antes de serem presos pela perseguição que era constante. Pelo que consta, foi o mesmo que alertou São Sebastião, o qual preferiu ficar em Roma para animar e defender os cristãos, no entanto acabou morto, mas em circunstâncias impressionantes. Ao tomar conhecimento de cristãos infiltrados no exército romano, Maximiano realizou uma caça a esses cristãos, expulsando-os do exército. Só os filhos de soldados ficaram obrigados a servirem o exército. E este era o caso do Capitão Sebastião. Para os outros jovens a escolha era livre. Denunciado por um soldado, o imperador se sentiu traído e mandou que Sebastião renunciasse à sua fé em Jesus Cristo. Sebastião se negou a fazer esta renúncia. Por isso, Maximiano mandou que ele fosse morto para servir de exemplo e desestímulo a outros. Maximiano, porém, ordenou que Sebastião tivesse uma morte cruenta diante de todos. Assim, os arqueiros receberam ordens para matarem-no a flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste no estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferido, deixaram que ele sangrasse até morrer, mas as flechas não conseguiram seu intento. Irene, uma cristã devota, e um grupo de amigos, foram ao local e, surpresos, viram que Sebastião continuava vivo. Levaram-no dali e o esconderam na casa de Irene que cuidou de seus ferimentos. Depois de curado, Sebastião continuou evangelizando e se apresentou ao imperador Maximiano, que não atendeu ao seu pedido. Sebastião insistia para que ele parasse de perseguir e matar os cristãos. Desta vez o imperador mandou que o açoitassem até morrer e depois fosse jogado numa fossa, para que nenhum cristão o encontrasse. Porém, após sua morte, São Sebastião apareceu a Lucina, uma cristã, e disse que ela encontraria o corpo dele pendurado num poço, pedindo para ser enterrado nas catacumbas junto dos apóstolos.

               Voltando a falar sobre o Papa Caio, em uma de suas ações, decretou que todo bispo só poderia assumir a posição após desempenhar as funções de ostiário, leitor, exorcista, acólito, sub-diácono, diácono e padre. Reformando a administração da Igreja, dividiu os bairros de Roma entre os diáconos e conteve agitadores que desejavam se vingar da morte imposta a outros pontífices. Embora tenha conseguido ampliar a presença da Igreja Católica em Roma física e administrativamente, o Papa Caio conviveu com uma época em que as medidas contra os cristãos estavam em crescimento. A tradição diz que o Sumo Pontífice foi decapitado no dia 22 de abril de 296, data que marca o fim do seu papado. Caio foi sepultado na Catacumba de Calisto, mas seus restos mortais estão hoje na capela da família Barberini.

 

29º - São Marcelino - 296 – 304  

               Ordenou São Silvestre, que viria a assumir o pontificado em 314. Nascido em Roma em data desconhecida, Marcelino viveu no terceiro século da era cristã, época de dificuldades e perseguições para os fiéis que professavam tal fé. Naquele momento, o cristianismo ainda não era reconhecido como religião oficial do Império Romano e dava seus primeiros passos contra a repressão do paganismo. Em função disso, os cristãos sofriam constantemente com perseguições, assassinatos e martírios que não poupavam nem mesmo o Sumo Pontífice líder da mais alta hierarquia dentro da Igreja Católica. Nem sempre o relacionamento com os imperadores era satisfatório, pois variava em função da concepção de cada um deles. Essa instabilidade perduraria por mais de um século ainda até a situação dos cristãos se tornasse mais confortável. Sabe-se pouco sobre a vida de Marcelino, o mais preciso é que ele foi eleito Papa no dia 30 de junho de 296 para suceder o Papa Caio. O Papa Marcelino precisou enfrentar a conjuntura de perseguição durante seu pontificado. Enquanto liderou a Igreja Católica, teve que se defender de um grande movimento pagão que tinha o intuito de confrontar o cristianismo. O movimento foi liderado por César Galério, em 302, o qual convenceu o Imperador Diocleciano do perigo que era os cristãos para Roma. Acredita-se, inclusive, que César Galério tenha promovido algumas ações de distúrbio para culpar os cristãos. Verdade ou não, o certo é que o Imperador Romano decretou seu primeiro édito de perseguição e intolerância aos cristãos. A influência de César seria fundamental para a grande perseguição promovida por Diocleciano. De início, os soldados cristãos tiveram que abandonar o exército, as propriedades da Igreja foram confiscadas e seus livros sagrados queimados. Os cristãos se deparavam com inúmeras restrições, eram forçados a renunciar a própria fé e suas manifestações foram impedidas. A esposa e a filha de Diocleciano, que eram cristãs, foram forçadas a professar o paganismo. Em função de todo esse contexto, nada há de registro sobre as ações do Papa Marcelino durante seu pontificado. Naturalmente, ele estava preocupado com a sobrevivência da religião naquele período e também com a sua própria vida. Em 303, a perseguição apresentou maiores proporções, causando graves danos à Igreja. Em meio ao conturbado período vivido pelos cristãos e a Igreja Católica, o Papa Marcelino chegou a ser acusado de ter entregue os textos sagrados e feito ofertas aos deuses pagãos para escapar das perseguições. Supostamente, o Papa teria apostatado e logo depois se arrependido, o que causaria a ira de Diocleciano, que o condenaria à morte. Mas nada disso foi comprovado. No entanto, sabe-se que a conduta do Papa não era aprovada pelos cristãos. O Papa Marcelino foi rapidamente venerado e muito se disse sobre seu processo de martirização, mas o mais provável é que o Papa tenha falecido de causas naturais no ano 304. O dia preciso também é uma incerteza, mas provavelmente no mês de outubro. Ele permaneceu à frente da Igreja por oito anos e faleceu após dois anos de grandes perseguições de Diocleciano. Curiosamente, foi em seu pontificado que surgiu o primeiro país cristão, a Armênia. Diferentemente de seus antecessores, não foi sepultado nas Catacumbas de São Calisto, pois esta foi confiscada pelo Imperador.

 

30º - São Marcelo I - 307 - 309

               São Marcelo só foi eleito quatro anos após a morte de São Marcelino, devido às terríveis perseguições que os cristãos sofreram pelas mãos do imperador Dioclesiano. Acabou sendo exilado pelo imperador Maxêncio, e sofreu diversas humilhações e castigos. Morreu exilado, numa igreja que foi fechada e transformada num estábulo, onde trabalhava como escravo.  Nascido em Roma no ano 255, Marcelo viveu uma época ainda de insegurança para os cristãos, pois eles continuavam sendo perseguidos pelos imperadores. Um dos maiores opositores daquela época era Dioclesiano, imperador que chegou a tornar obrigatório o culto a Júpiter, pois se identificava com este deus, além de ordenar violenta perseguição aos cristãos. Enquanto isso, Marcelo dedicava-se à vida religiosa com o reconhecimento de seus companheiros em fé. A situação para os cristãos era tão tensa em Roma no período do imperador Dioclesiano que o Papa Marcelino faleceu em 304 e houve uma vacância de quatro anos até Marcelo ser eleito como sucessor. As péssimas condições de relacionamento vividas pelos cristãos dificultavam a manutenção de suas atividades cotidianas. Junto com o Papa Marcelino, vários outros fieis foram martirizados. No entanto, a repressão foi reduzindo gradativamente até que os cristãos pudessem se reunir novamente para reorganizar sua comunidade e para realizar suas celebrações. O Papa Marcelo I assumiu uma Igreja em condição desastrosa, pois ela havia perdido muitos bens e muitos fieis estavam com medo de se manifestar. O novo Papa buscou logo a reorganização através da divisão do território romano em 25 distritos chefiados por presbíteros. Seu novo modelo administrativo permitiria novamente a presença dos cristãos e de suas manifestações por todas as partes. No entanto, Marcelo I era severo e muito fiel às tradições de sua religião, ele condenava completamente os cristãos que renunciaram à religião para salvar suas vidas em algum momento de perseguição. Ainda que a situação fosse desfavorável durante seu papado, Marcelo I não aceitava readmitir os fiéis que abandonaram a religião, ele exigia severas penitências. Foi assim que o Papa começou a conquistar opositores. A situação gerou um grupo de cristãos que se opunha ao pontífice, criando situações de grande instabilidade. O papado de Marcelo I foi muito breve porque, além da pressão externa, os desequilíbrios internos da religião contribuíram para uma situação insustentável. O imperador Magêncio aproveitou para o exilar em 309 em local que ainda é desconhecido. Magêncio se beneficiou do tumulto que as penitências impostas pelo Papa causaram. No mesmo ano o Papa Marcelo I faleceu em seu exílio e, mais tarde, foi venerado como santo e seus restos mortais transferidos para San Marcello al Corso, onde se encontra atualmente, falecendo aos 54 anos de idade.

 

31º - Santo Eusébio - c.309 - c.310

               Nascido na Grécia por volta do ano 255, Eusébio viveu uma época de mudanças estruturais favoráveis à Igreja Católica. Todavia, embora o cristianismo se tornasse cada vez mais aceito pelo Império Romano, os cristãos ainda não viviam em paz com seu culto. Continuava existindo opositores e defensores do tradicional paganismo que promoviam perseguições aos praticantes da nova religião monoteísta. Eusébio sempre foi um homem religioso e carismático, sua ascensão ocorreu, de certa forma naturalmente. Com o falecimento do Papa Marcelo I, Eusébio foi facilmente eleito no dia 18 de abril de 309 para ser seu sucessor. Mas seu papado não seria nada fácil, pois a Igreja enfrentava atos de violência que perturbavam a paz. Na época, havia uma grande discussão sobre a readmissão dos considerados apóstatas, ou seja, aqueles que declaradamente abandonavam a religião. O confronto de ideias gerou uma severa dissensão na Igreja e o Papa Eusébio se posicionou a favor da exclusão definitiva dos que tinham apostatado da comunhão, permitindo a readmissão apenas aos que passassem por um ato público de penitência. Eusébio enfrentou forte oposição daqueles que exigiam a readmissão imediata ao corpo religioso, intensificando muito o conflito. O Papa Eusébio foi firme à condenação dos apóstatas e também na defesa da disciplina eclesiástica. Pelo que se tem notícia, ele foi o Papa mais amado e venerado pelos cristãos de sua época porque era homem de grande bondade e de misericórdia, embora fosse decididamente contra a reintegração daqueles que haviam apostatado. Esta posição foi fundamental para que seu papado durasse tão pouco tempo. No dia 17 de agosto do mesmo ano em que assumiu, o Papa Eusébio foi deportado para a Sicília e exilado por ordem do Imperador Magêncio, que defendia uma posição contrária sobre os apóstatas. A data marcaria o fim oficial de seu papado, pois Eusébio jamais voltaria do exílio. Ele faleceu pouco tempo depois, no dia 21 de outubro do mesmo ano, quando tinha 55 anos de idade. O corpo do Papa Eusébio foi transladado para Roma provavelmente em 311 e depositado em um cubículo nas Catacumbas de São Calisto. É venerado como Santo e Mártir pelos cristãos.

 

32º - São Melquíades - 311 - 314         

Conversão do Imperador Constantino ao catolicismo. Tempos de paz para a Igreja pelo fim das perseguições aos cristãos.

               Nascido no norte da África provavelmente no ano 270, Melquíades é também conhecido como Milcíades, Miltíades ou Melquiadas. Junto como os demais fieis do cristianismo, viveu as perseguições empreendidas pelo Império Romano, porém foi sempre dedicado à vida religiosa. Sua ascensão na vida religiosa o levou dos povos berberes ao posto máximo da Igreja Católica, como sucessor do Papa Eusébio. O Papa Melquíades assumiu o pontifício de Roma no dia dois de julho do ano 311 em função do exílio que o imperador Maxêncio impôs ao Papa Eusébio na Sicília. Mas o Pontificado de Melquíades alcançou uma grande conquista para os cristãos, pois, em 312, o imperador Constantino assumiu o poder em Roma e se aproximou respeitosamente do Papa. O novo imperador romano deu ao pontífice um palácio para ser sua residência e sede do governo cristão. O Palácio Laterano, como era chamado, ainda está de pé e é parte do patrimônio arquitetônico do Vaticano, indicado hoje como Palácio de Latrão. Foi residência Papal por 770 anos. O ato do imperador já representava um grande avanço e boas esperanças para o povo cristão. No ano seguinte, em 313, houve uma medida ainda melhor para os fiéis, o imperador garantiu a liberdade religiosa dos cristãos e devolveu as propriedades que foram tomadas. A bondade do imperador Constantino foi fruto de sua conversão ao cristianismo, o que foi sucedido pela transformação da fé cristã em religião oficial de Roma. A nova realidade mudava por completo o cotidiano dos cristãos e da Igreja Católica, que ganhava espaço e liberdade para agir em prol de sua expansão. O Papa Melquíades aproveitou essa liberdade para organizar as sedes paroquiais e recuperar os bens da Igreja. No seu pontificado deu-se início a construção da Basílica de São João e reforçou-se a unidade da Igreja de Roma. Além disso, vários costumes católicos são atribuídos a Melquíades. O legado do Papa Melquíades é importantíssimo para a Igreja Católica, foi fundamental para transformar a história do Ocidente, em função de sua aproximação com o imperador Constantino. Os benefícios da conversão do Império Romano ao cristianismo causariam uma guinada no poder político e cultural da Igreja. O fim da perseguição aos fiéis do cristianismo e ampliação patrimonial iniciariam uma forte ascensão que culminaria com o poder supremo da instituição durante a Idade Média. O Papa Melquíades, no entanto, não chegou a completar quatro anos como Sumo Pontífice. Faleceu no dia dois de janeiro de 314 e foi erroneamente indicado como mártir em alguns documentos medievais. Mas é venerado como santo pela Igreja Católica.

               IMPERADOR CONSTANTINO - Flávio Valério Aurélio Constantino (272-337), conhecido por Constantino I ou Constantino, o Grande, foi imperador do Império Romano de 306 a 337 d.C. Passou a história como primeiro imperador cristão. Era filho de um oficial grego, Constâncio Cloro, que no ano 305 foi nomeado Augusto ao mesmo tempo que Galério, e de Helena, uma mulher que chegaria a ser santa. Por morte de Constâncio Cloro, em 306, Constantino é aclamado imperador do Ocidente pelo exército local, no meio de uma difícil situação política, agravada pelas tensões com o antigo imperador, Maximiano, e com o seu filho Maxêncio. Constantino começou por derrotar Maximiano, em 310, e logo a seguir Maxêncio, na batalha de Ponte Milvio, em 28 de Outubro de 312. Segundo a tradição, Constantino teve uma visão antes dessa batalha. Olhando o Sol, ao qual prestava culto, como pagão que era, viu uma cruz e ordenou que os seus soldados pusessem nos escudos o monograma de Cristo (as duas primeiras letras do seu nome em grego, sobrepostas). Embora continuasse a praticar ritos pagãos, a partir dessa vitória passou a mostrar-se favorável aos cristãos. Com Licínio, imperador do Oriente, promulgou o chamado “Édito de Milão”, favorecendo a liberdade de culto. Mais tarde, os dois imperadores confrontaram-se e, no ano de 324, Constantino derrotou Licínio, convertendo-se no único Augusto do Império. Constantino levou a cabo numerosas reformas de tipo administrativo, militar e econômico, mas no que mais se destacou foi nas disposições político-religiosas e, em primeiro lugar, nas que tinham por objetivo a cristianização do Império. Promoveu estruturas adequadas para conservar a unidade da Igreja, como modo de preservar a unidade do Estado e legitimas a sua configuração monárquica, embora também tivesse outras motivações religiosas de tipo pessoal. Tomou certas medidas contra heresias e cismas, a par de várias disposições administrativas eclesiásticas. Lutou contra o cisma causado pelos donatistas no norte da África, para defender a unidade da Igreja, e convocou o Concílio de Niceia, para resolver a controvérsia trinitária originada por Ario. Em 330 transferiu a capital do Império de Roma para Bizâncio, à qual chamou Constantinopla, o que implicou uma ruptura com a tradição, apesar de ser sua intenção realçar o aspecto de capital cristã. Como era normal na sua época, só foi batizado pouco antes de morrer, por Eusébio de Nicomédia, bispo de tendência ariana.

 

33º - São Silvestre - 314 - 335

O imperador Constantino decreta o fim da crucificação, da perseguição aos cristãos e pessoalmente contribui para a construção de Igrejas.

O Papa manda erigir a imagem de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, em gratidão à Maria Santíssima pelo fim da perseguição contra a Igreja.

Condenação das heresias donatista e ariana pelos concílios de Arles e Nicéia.

É construída a Basílica Vaticana sobre o túmulo de São Pedro, com auxílio do imperador Constantino. (Esta deu lugar a atual Basílica de São Pedro).

O Papa Silvestre I em seu calendário confirma o domingo (e não o sábado judaico) como o primeiro dia da semana, "dies dominicus" ("Dia do Senhor") e ordena aos membros da igreja que o mantenham como um dia santo; dia em que Jesus ressuscitou; como já tinha sido falado pela Epístola de Barnabé, Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios, São Justino o Mártir em sua Apologia, etc.

Em 325, a controvérsia ariana irrompe em Alexandria, causando ampla violência e perturbações entre os cristãos.

Em 325, o Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, convocado como resposta à controvérsia ariana, estabelece o Credo Niceno, declarando a crença dos cristãos trinitários ortodoxos na Trindade.

18 de novembro de 326: o Papa Silvestre I consagra a Basílica de São Pedro, construída por Constantino, o Grande, sobre o túmulo do apóstolo Pedro.

               Nascido em Roma no ano 285, Silvestre viveu a época da recente conversão do Império Romano ao cristianismo. Homem de fé e atuante no catolicismo, foi o sucessor do Papa Melquíades que faleceu no início do ano 314. No dia 31 de janeiro do mesmo ano, Silvestre foi eleito. O Papa Silvestre I exerceu um dos mais longos pontificados da história da Igreja Católica. Ele foi Sumo Pontífice por 21 anos. Assumiu o posto com apenas 29 anos, o que lhe garantiu longevidade. Seu pontificado longo interagiu muito bem com o momento vivido pelo cristianismo primitivo, alcançando várias conquistas para a Igreja Católica que permitiram a esta uma expansão significativa. O pontificado do Papa Silvestre I ocorreu ao mesmo tempo em que Constantino I era o imperador de Roma. A relação entre os dois foi sadia, o que permitiu benefícios mútuos. Constantino I convocou um sínodo e um concílio, nos quais o Papa enviou emissários para presidir os encontros. O imperador romano apresentava um quadro de saúde bastante debilitado, e o Papa foi simpático aos seus interesses. O bom relacionamento entre o Papa Silvestre I e o imperador Constantino I estabeleceu a autoridade da Igreja Católica no mundo Antigo e Medieval e deu início aos primeiros monumentos cristãos, como o Santo Sepulcro em Jerusalém e as primitivas basílicas de São João de Latrão e São Pedro. Esse bom relacionamento entre os dois líderes muito se deu em função da conversão de Constantino I ao cristianismo. Sua conversão é atribuída a uma visão que o imperador teve durante uma batalha em Milvius. Mas, seja como for, o fato é que até o reinado deste imperador os cristãos eram perseguidos rotineiramente no Império Romano. A divergência de religião entre cristianismo e paganismo resultou em vários conflitos e massacres que contabilizaram perdas maiores para os cristãos. A conversão de Constantino I inaugurou uma nova fase na história da Igreja Católica, pois abriria caminho para que a crença se tornasse oficial do império, se firmasse, conquistasse adeptos em grande quantidade, assim como poder político. Para a Igreja, é o início de um estado de paz. Não há dúvida de que a maior conquista do papado de Silvestre tenha sido a valorosa e harmônica relação com Constantino I. Isso garantiu também que o Papa pudesse exercer seu pontificado com tranquilidade, sem perseguição, exílio ou assassinato, como muito de seus antecessores. Faleceu aos 50 anos de idade, em 31 de dezembro de 335. Silvestre I foi o primeiro Papa canonizado sem ter sofrido martírio, é celebrado como São Silvestre I.

 

33 . 1 - São Nicolau

               São Nicolau de Mira, também conhecido como São Nicolau de Bari, foi um dos primeiros cristãos, era grego, proveniente da Ásia Menor. É o Santo padroeiro da Rússia, da Grécia, da Noruega e de Beit Jala, na Palestina. É o patrono dos guardas-noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estariam sepultados seus restos.

               São Nicolau era de ascendência grega e seria proveniente de Patara (atual Turquia), no Império Romano, onde teria nascido na segunda metade do século III, e teria falecido em dezembro do ano de 350 (6 de dezembro segundo o calendário hoje usado no Ocidente, 19 de dezembro no calendário do cristianismo oriental), em Mira, também na atual Turquia. Foi um bispo cristão que ficou conhecido por sua caridade e afinidade com as crianças. Devido à sua imensa generosidade e aos milagres que lhe foram atribuídos, foi canonizado pela Igreja Católica e tornou-se um símbolo ligado diretamente ao nascimento do Menino Jesus. São Nicolau é considerado um dos santos mais conhecidos da cristandade, tendo servido de inspiração para a figura do Papai Noel, símbolo do Natal. Teria vivido alguns anos nas vizinhanças da cidade de Belém, na Terra Santa, próximo ao local do nascimento de Jesus. Sobre a cripta onde teria vivido, foi construída o que é hoje a principal igreja de Beit Jala, pequena cidade na Palestina.

               A Nicolau foram atribuídos vários milagres, sendo daí proveniente sua popularidade em toda a Europa e sua designação como protetor dos marinheiros e comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças. Sob o império de Diocleciano, Nicolau foi encarcerado por recusar-se a negar sua fé em Jesus Cristo. Após a subida ao poder de Constantino, Nicolau volta a enfrentar oposição, desta vez da própria Igreja. Diante de um debate com outros líderes eclesiásticos, Nicolau levanta-se e esbofeteia um de seus antagonistas, o herege Ário. Isso o impede de permanecer como líder da Igreja. Nicolau, porém, não se dá por vencido e permanece atuante, prestando auxílio a crianças e outros necessitados.

Aparição de Nossa Senhora a São Nicolau

               Quando São Nicolau era Bispo de Mira, na Turquia, e vivia grandes dificuldades para levar adiante sua missão de servir a Cristo, na condução de sua diocese, Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, apareceu-lhe em duas oportunidades para incentivá-lo e fortalecê-lo em sua árdua jornada. Após estas manifestações o Santo Bispo reanimou-se, inclusive tendo importante participação no Concílio de Nicéia, onde com ardor e inspirada sabedoria defendeu a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta tornou-se a sua grande missão durante o resto de sua vida: pregar e defender a Divindade de Nosso Senhor.

               Um caso famoso, sempre relatado em suas biografias, mostra como ele ajudava aos sofredores. Segue-se: Ocorre que, na cidade de Patara, havia um rico comerciante que tinha três filhas; quando estas cresceram, tornaram-se formosas, mas, bem por esta época, as transações comerciais de seu pai fracassaram, até que ele chegou à completa falência. Teve então o comerciante a criminosa ideia de usar a beleza das filhas para obter os meios de sobrevivência de que necessitava. São Nicolau soube do plano e decidiu salvar tanto o pai quanto as filhas de tal pecado e vergonha.

               À noite, camuflou-se com uma capa e foi à casa do comerciante falido. Não consta que tenha descido pela chaminé, mas fez quase isso: jogou pela janela um saco não com presentes, mas com moedas de ouro. Algumas versões dão conta de que isto se deu na véspera do Natal. Fato é que o comerciante, achando o ouro, com grande alegria preparou o enxoval da filha mais velha e assim arranjou-lhe um bom casamento. Para tanto, naquela época, era preciso que a noiva tivesse um bom dote. Algum tempo depois, São Nicolau novamente jogou outro saco com ouro para dentro da casa do comerciante, o suficiente para o enxoval e casamento da segunda filha. Quando São Nicolau, repetindo o mesmo plano, jogou o terceiro saco com ouro para a filha mais nova, o comerciante, desconfiado, já estava à sua espera. Prostrando-se diante do Santo, agradeceu-lhe, com lágrimas que lhe desciam copiosamente pelas faces, a salvação da família de um horrível pecado e da grave vergonha a que se submeteria perante toda a cidade. Após o casamento das três filhas, o comerciante conseguiu enfim recuperar seus negócios, e começou a ajudar também seus próximos, imitando o exemplo de seu benfeitor.

               Vemos claramente como o episódio descrito acima, em muitos aspectos, deu origem às lendas que conhecemos sobre o Papai Noel. A conclusão da história deste Santo, que é especialmente querido pelos ortodoxos e em particular pelos russos, é a seguinte: em certo ponto, ele acabou por vender todas as suas posses para dar o dinheiro aos mais necessitados. Ele, que desde a morte dos pais havia se aproximado de seu tio, o Bispo da cidade de Patara, foi logo ordenado sacerdote, e terminou por se tornar, ele próprio, o Bispo de Mira. Homem tão bondoso e caridoso, Nicolau foi sempre amado por todo o povo, e conta-se que realmente gostava de distribuir presentes entre as crianças. Faleceu no dia 6 de dezembro de 343, sendo o aniversário de sua morte o dia de São Nicolau. Assim, influenciados pela popularidade de São Nicolau na Europa, os imigrantes europeus trouxeram sua história e suas tradições para a América. Eis a origem do nome Santa Claus (corruptela de Saint Nikolaus/St. Niklaus) que o Papai Noel tem em inglês. Com o passar dos tempos, outras lendas e mitos sobre ele foram sendo acrescentadas à sua verdadeira história, e assim apareceu o "Papai Noel" dos dias de hoje.

 

34º - São Marcos - 336

               Nascido em Roma no ano 290, Marcos cresceu no momento de transição do paganismo para o cristianismo no Império Romano. Os cristãos ainda sofriam com alguns ataques e a religião monoteísta havia se tornado há pouco a religião oficial do Império. A instituição Igreja Católica, contudo, já mostrava forte expansão e apontava para a significativa influência que teria na vida política e cultural do Ocidente. Naquela época, os Papas permaneciam pouco tempo no cargo, em função de variadas situações. Muitos deles, inclusive, foram perseguidos e aprisionados, morrendo como mártires. Marcos foi eleito para suceder o Papa Silvestre I no dia 18 de janeiro de 336. Ele ficou pouquíssimo tempo no posto de Sumo Pontífice, falecendo no final do mesmo ano. O papado de Marcos foi muito curto, o que o impossibilitou de grandes realizações. No entanto, ainda deixou algumas heranças culturais para a Igreja Católica. Acredita-se, por exemplo, que tenha surgido em seu papado a compilação de Bispos e mártires do cristianismo. O papado de Marcos também gerou o primeiro calendário com as festas religiosas da Igreja Católica e instituiu o uso do pálio, um tecido com lã branca de cordeiro ilustrado com cruzes negras. Marcos ainda mandou construir as basílicas de São Marcos e de Santa Balbina, mas não teria tempo de velas prontas. O Papa Marcos era novo quando assumiu o papado, tinha apenas 46 anos de idade. Demonstrava vigor e ânimo para conduzir a Igreja Católica. No entanto, faleceu supostamente de causas naturais no dia sete de outubro de 336, mesmo ano em que havia assumido o posto de Sumo Pontífice. Mesmo com pouco tempo à frente da Igreja Católica, deixou marcas culturais para sempre, como o extenso calendário de festas religiosas que existe atualmente. Foi canonizado mais tarde e é também reconhecido como Papa São Marcos.

 

35º - São Júlio I - 337 - 352

Em 345, o Papa Júlio I oficialmente define a data de 25 de dezembro para a celebração da Natividade ou Natal.

               Júlio era de origem romana, filho de um certo cidadão chamado Rústico. Viveu no período em que a Igreja respirava a liberdade religiosa concedida pelo Imperador Constantino, o Magno, em 313. Essa liberdade oferecia ao cristianismo melhores condições de vida e expansão da religião. Por outro lado, surgiram as primeiras heresias: donatismo, puritanismo na moral, e o arianismo, negando a divindade de Cristo. Com a morte de Constantino, os sucessores, infelizmente, favoreceram os partidários do arianismo. O Papa Júlio I tomou a defesa e hospedou o Patriarca de Alexandria, Atanásio, o grande doutor da Igreja, batalhador da fé no Concílio de Nicéia e principal alvo do ódio dos arianos, que o tinham expulsado da sede patriarcal. O Papa Júlio I convocou dois sínodos de bispos em que, com a condenação do semi-arianismo, Atanásio foi reabilitado, recebendo cartas do Papa que se felicitava com a Igreja de Alexandria, baluarte da ortodoxia cristã. O Papa Júlio I construiu várias igrejas em Roma: a dos Santos Apóstolos, a da Santíssima Maria de Trastévere, e mais três mandou construir nos cemitérios das vias Flavínia, Aurélia e Portuense, respectivamente as igrejas de São Valentim, de São Calisto e de São Félix. Cuidou da organização eclesiástica e da catequese catecumenal, ou seja, dos adultos e mais velhos. Morreu em 352, após quinze anos de pontificado. Foi sepultado no cemitério de Calepódio, na via Aurélia, numa igreja que ele também havia mandado edificar. Sua veneração começou entre os fiéis a partir do século VII. Suas relíquias, segundo a tradição, foram transladadas para a Basílica de São Praxedes a pedido do Papa Pascoal I. O seu culto, que já fora autorizado, refloresceu em 1505, quando do seu translado para a Basílica da Santíssima Maria de Trastévere, em Roma.

 

36º – Libério - 352 - 366  

               Libério reinou de 17 de maio de 352 até 24 de setembro de 366. Seu primeiro ato como Papa foi, após se reunir em um sínodo em Roma, escrever ao Imperador Constâncio II (353-354), então em Arles, pedindo para que fosse feito um Concílio em Aquileia tratando dos assuntos relacionados a Atanásio de Alexandria, mas seu mensageiro Vicêncio de Cápua foi pressionado pelo imperador em um Conciliábulo (Conciliabulum) feito em Arles para subscrever, contra à sua vontade, a uma condenação do ortodoxo Patriarca de Alexandria. Após isto, o comando imperial de Milão impôs seus cânones sobre todos os Bispos ocidentais, como consequência, Libério foi perseguido e exilado para Bereia e substituído pelo antipapa Félix II. Após um exílio de mais de dois anos, o imperador Constâncio II chamou-o a Roma, sendo a Sé de Roma oficialmente ocupada pelo antipapa Félix. O imperador propôs que Libério governasse a Igreja juntamente com Félix, mas antes da chegada de Libério, Félix foi expulso pelo povo romano. Após a morte do imperador Constâncio II em 361, Libério anulou os decretos e reiterou sua posição e os Bispos que aprovaram o concílio retiraram a sua adesão. Em 366, Libério deu um acolhimento favorável a uma delegação do Episcopado Oriental, e admitiu em sua comunhão mais moderada os convertidos Arianos. Morreu em 24 de setembro de 366.

O Concílio de Laodiceia ou Sínodo de Laodiceia, foi um sínodo regional de aproximadamente 30 clérigos da Anatólia (atual Turquia) entre 363 e 364 d.C. Logo depois da guerra romano-persa na época do imperador romano Teodósio I. As principais decisões e preocupações do concílio envolveram efetivamente o comportamento dos membros da igreja. O concílio registrou seus cânones por meio de regras escritas, cujos principais manuscritos sobreviveram até a atualidade ou foram citados por outros sínodos e concílios.

 

36 . 1 - Aparição de Nossa Senhora das Neves – Itália

               No ano de 363 vivia em Roma um ilustre descendente de nobre família romana, o qual, não possuindo herdeiros, resolveu, em combinação com a esposa, consagrar sua imensa fortuna à glória de Deus e em honra a Santíssima virgem Maria. Na noite de 4 para 5 de agosto estava pensando seriamente no assunto, quando a Rainha do Céu apareceu-lhe em sonhos e disse-lhe: - "Edificar-me-eis uma basílica na colina de Roma que amanhã aparecerá coberta de neve". Ora, nos dias 4 e 5 de agosto, é a época de maior calor na Itália. Mas no dia seguinte, devido a um estupendo milagre, o monte Esquilino estava coberto de neve. A população da cidade acudiu ao lugar do prodígio e até mesmo o Papa Libério que recebeu a mesma revelação também em sonho, acompanhado de todo o clero, para lá se dirigiu. Logo depois de iniciada a construção, a Basílica foi denominada de Nossa Senhora das Neves, devido ao fenômeno climático. Este templo, no entanto, é conhecido universalmente pelo nome de Santa Maria Maior (Basilica di Santa Maria Maggiore) por ser a mais importante entre todas as Igrejas de Roma dedicadas à Virgem Santíssima.

 

37º - São Dâmaso I - 366 - 384

Em 381, Primeiro Concílio Ecumênico de Constantinopla. Condenação das heresias de Macedônio e Apolináris.

Em 382, o Concílio de Roma, sob o Papa Dâmaso I, define o cânon da Bíblia, listando os livros aceitos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Nenhum outro deve ser considerado escritura.

               Nascido em Portugal no ano 305, não há certeza se ele é proveniente de Guimarães ou de Idanha-a-Velha. Sabe-se, contudo, que ele viveu um período de transição quanto à perseguição sofrida pelos cristãos no Império Romano. Até o século III as perseguições eram intensas, variando de acordo com a postura religiosa de cada imperador. Em alguns momentos havia relativa paz. Mas, em outros, a perseguição era extrema, causando a morte de muitos cristãos e mesmo de Papas, que eram martirizados. A situação instável avançou pelo século IV, mas a ascensão de Constantino ao poder no Império Romano mudaria a história não apenas de seu império, mas também de todo o Ocidente. Constantino converteu-se ao catolicismo e o tornou religião oficial de Roma. A partir daí, a perspectiva mudaria para os cristãos, já que as perseguições cessariam, pelo menos como eram antes. As condições propícias de melhor estabilidade para o culto levariam os cristãos ao domínio ideológico e político que marcaria toda a Idade Média. No entanto, as disputas políticas pelo poder no interior da própria Igreja Católica e com outros monarcas seria sempre constante. Quando o Papa Libério faleceu, por exemplo, havia uma intensa disputa no seio da Igreja Católica que retardou a eleição do sucessor Dâmaso. O Papa Dâmaso I foi eleito para ser o sucessor do Papa Libério, no entanto, só ocupou o cargo efetivamente após uma grave disputa com Ursino, que se declarava também Papa. Isso aconteceu no início do mês de outubro do ano 366. O Papa tinha 61 anos de idade naquela época. Antes do efetivo reconhecimento como Sumo Pontífice, Dâmaso enfrentou dois anos de batalhas sangrentas. Os dois postulantes ao posto montaram exércitos e combateram avidamente em busca do poder que almejavam. Em meio a vários conflitos e elevado número de mortes, Dâmaso foi acusado de assassinato e teve que se defender perante um tribunal imperial. Ursino também recebeu acusações e foi julgado. Porém, como Dâmaso tinha o apoio do Imperador Valentiniano I, ele foi inocentado enquanto seu adversário foi condenado ao desterro. Passada a tormenta, o Papa Dâmaso I se dedicou à administração da Igreja Católica e à condução de seu pontificado. Como recebeu grande apoio do império para assegurar sua eleição, tratou logo de promover uma aproximação entre o poder temporal e o poder espiritual, os quais entraram em consonância. O pontífice criou, assim, condições propícias para um bom relacionamento com os monarcas e para ter relativa estabilidade para se dedicar às causas religiosas. Agindo muito bem estrategicamente, Dâmaso I teve forças para combater qualquer ameaça de cisma na Igreja. Deixou um importante legado para a história da instituição religiosa como escritor de epigramas e de cartas sinodais, além de ter encomendado uma revisão da Bíblia latina, conhecida como Vulgata Latina, que é uma das mais importantes traduções do livro sagrado para os cristãos. Adotou o hábito de usar o Anel do Pescador, um costume dos Papas que dura até hoje, mas, naquela época, tratava-se de um único anel que era passado de um Papa para o seu sucessor. Apesar do caminho sangrento que percorreu para efetivar seu pontificado, Dâmaso I é reconhecido como um dos mais importantes Papas do século IV. Ele permaneceu à frente da Igreja Católica durante 18 anos e faleceu aos 79 anos de idade, no dia 11 de dezembro de 384.

 

CREDO NICENO CONSTANTINOPOLITANO

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, Nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E, por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus: e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras; E subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos; E a vida do mundo que há de vir. Amém.

               Este Credo é uma obra prima, uma inspiração Divina que deve ser eternizada, sem mudanças ou alterações. O nome "niceno-constantinopolitano" referencia o primeiro Concílio de Niceia 325 d.C., do qual resultou o Credo Niceno, e o primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.), onde a declaração de fé foi finalmente estabelecida a partir dos resultados dos dois concílios. Os concílios se reuniam a fim de esclarecer questões teológicas que geravam controvérsias, de modo que as linhas acrescidas significam os pontos de unanimidade na Igreja Una de Cristo.

 

37 . 1 - São Jerônimo

               Também conhecido como Jerônimo de Estridão (Estridão, c. 347 – Belém, 30 de setembro de 420), foi um sacerdote cristão ilírio, destacado como teólogo, historiador e confessor, e considerado Santo e Doutor da Igreja pela Igreja Católica. Filho de Eusébio, da cidade de Estridão, na fronteira entre a Dalmácia e a Panônia, é mais conhecido por sua tradução da Bíblia para o latim (conhecida como Vulgata) e por seus comentários sobre o Evangelho dos Hebreus, mas sua lista de obras é extensa. Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu na cidade de Estridão, na província romana da Dalmácia, por volta de 347, mas só foi batizado entre 360 e 366, quando viajou para Roma com seu amigo Bonoso, seu companheiro quando foi viver como eremita numa ilha no Adriático – para continuar seus estudos sobre retórica e filosofia. Lá, Jerônimo estudou gramática latina e um pouco de grego com o gramático Élio Donato, embora não tenha adquirido a proficiência na língua grega que, anos depois, alegaria ter obtido como estudante. Jerônimo, tendo nascido em uma região do Império com forte presença romana desde 165 a.C., quando da derrota do último rei da Ilíria, Gêncio, e já completamente latinizada no século IV d.C., teria falado latim como língua materna. Em Antioquia, onde ficou por mais tempo, dois de seus companheiros morreram e ele próprio ficou seriamente doente mais de uma vez. Durante uma destas enfermidades (perto do inverno de 373-374), Jerônimo teve uma visão que levou-a a abandonar seus estudos seculares para dedicar-se completamente a Deus. Ele parece ter trocado uma grande quantidade de tempo que dispendia no estudo dos clássicos para estudar a Bíblia, dirigido por Apolinário de Laodiceia, que na época ensinava em Antioquia e ainda não dava sinais de sua futura condenação por heresia. Tomando por um súbito desejo de viver em penitência asceta, Jerônimo passou um tempo no deserto de Cálcis, para o sudoeste de Antioquia, uma região conhecida como "Tebaida Síria", onde moravam numerosos eremitas. Lá também dedicou-se a aprender pela primeira vez o hebraico, sob a tutela de um judeu convertido e é possível que ele tenha mantido correspondência com os judeu-cristãos de Antioquia. Por volta desta época, Jerônimo contratou uma cópia de um "Evangelho Hebreu", do qual fragmentos foram preservados em suas notas e que é hoje conhecido como "Evangelho dos Hebreus", considerado o verdadeiro Evangelho de Mateus pelos nazarenos. Depois disso, ele próprio traduziu partes da obra para o grego. De volta em Antioquia em 378 ou 379, foi ordenado pelo Bispo Paulino de Antioquia. Logo depois, viajou para Constantinopla para continuar seus estudos sobre as Escrituras com Gregório Nazianzeno. Ele passou por volta de uns dois anos por lá e partiu novamente para Roma, onde passou os três anos seguintes (382-385) na corte do Papa Dâmaso I e a liderança cristã da cidade. O motivo da viagem foi um convite para que participasse do concílio de 382 realizado para acabar com o cisma na Igreja de Antioquia, que na época tinha mais de um patriarca alegando ser o verdadeiro. Acompanhando um deles, Paulino, pretendia apoiá-lo nos trabalhos, acabou se destacando junto ao Papa e passou a exercer um importante papel durante seus concílios. Jerônimo então recebeu diversos encargos em Roma e realizou ali uma revisão da Bíblia Latina (Vetus Latina) baseando-se em manuscritos gregos do Novo Testamento. Ele também atualizou o saltério contendo o "Livro dos Salmos" que era na época utilizado em Roma baseando-se na Septuaginta grega. Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas e bem-educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias patrícias romanas, como as viúvas Leia, Marcela e Paula, com suas filhas Blesila e Eustóquia. Como resultado da crescente inclinação destas mulheres pela vida monástica, da indulgente lascividade que imperava em Roma e mais a crítica feroz de Jerônimo ao clero secular, que não poupava ninguém, logo irrompeu um conflito contra o clero romano e seus aliados. Uma rica viúva, Paula deu condições para que Jerônimo pudesse viver sem preocupações financeiras e se dedicasse aos estudos. Ela seguiu-o depois para Belém e morreu com ele na Terra Santa. Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para Antioquia com seu irmão Pauliniano e diversos amigos; logo depois vieram Paula e Eustóquia, decididas a terminar suas vidas na Terra Santa. No inverno do mesmo ano, Jerônimo viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O grupo, acompanhado do bispo Paulino de Antioquia, peregrinou por Jerusalém, Belém e os lugares santos da Galileia antes de seguir para o Egito, onde viviam os heróis da vida asceta, os monges do deserto. Na Escola Catequética de Alexandria, Jerônimo ouviu Dídimo, o Cego, ensinar sobre o Profeta Oseias e contar o que se lembrava de Santo Antão, que morrera trinta anos antes. Depois, passou algum tempo na Nítria admirando a disciplinada vida comunitária dos numerosos habitantes da "cidade do Senhor", percebendo que, mesmo ali, "serpentes escondidas", ou seja, a influência do polêmico teólogo alexandrino Orígenes. No final do verão de 388, voltou para a Terra Santa e passou o resto de sua vida numa cela eremítica perto de Belém rodeado por uns poucos amigos, homens e mulheres (incluindo Santa Paula e Eustóquia), a quem ele atendia como sacerdote e professor.

               Com recursos financeiros suficientes providenciados pela rica Paula, que investia também em aumentar sua biblioteca, Jerônimo passou a levar uma vida de incessante produção literária. A estes últimos trinta e quatro anos de sua carreira pertencem suas mais importantes obras; sua versão do Antigo Testamento traduzida do original hebraico, o melhor de seus comentários sobre as Escrituras, seu catálogo de autores cristãos (De Viris Illustribus) e o seu diálogo contra os pelagianos, de perfeição reconhecida até pelos seus adversários. Em 416, como consequência de suas obras contra o pelagianismo, partidários inflamados da crença invadiram os edifícios monásticos perto de onde vivia, atearam-lhes fogo, atacaram os moradores e mataram um diácono, forçando Jerônimo a se refugiar numa fortaleza nas imediações. Jerônimo morreu perto de Belém em 30 de setembro de 420. Diz-se que seus restos, originalmente enterrados em Belém, foram trasladados para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, embora outros locais no ocidente também reivindiquem a posse de alguma relíquia relacionada ao Santo.

               Suas avaliações direcionadas principalmente contra os defensores de doutrinas contrárias às ortodoxas, até mesmo a tradução de um tratado de Dídimo, o Cego, sobre o Espírito Santo para o latim (iniciada em Roma em 384 e completada em Belém) revela uma tendência apologética contra os arianos e os pneumatomachoi. O mesmo vale para sua versão para "De principiis", de Orígenes (ca. 399), cujo objetivo era sobrepujar a tradução incorreta de Rufino. Durante suas passagens por Constantinopla e Antioquia, por exemplo, Jerônimo estava mais preocupado com a controvérsia ariana e, especialmente, com o cisma em Antioquia protagonizado por Melécio de Antioquia e Lúcifer Calaritano. Duas cartas ao Papa Dâmaso trazem reclamações a ambos os partidos em disputa, os melecianos e os paulinianos, que tentavam atraí-lo para a controvérsia sobre a relação entre Deus Pai e Deus Filho na Trindade e, mais especificamente, à aplicação de termos como ousia (substância) e hipóstase a esta relação. Na mesma época ou pouco depois (373), ele compôs sua "Liber Contra Luciferianos", na qual ele utiliza o diálogo de forma bastante inteligente para combater os princípios da facção dos calaritanos, principalmente sua rejeição ao batismo realizado por heréticos. Em Roma (por volta de 383), Jerônimo escreveu uma apaixonada resposta aos ensinamentos de Helvídio defendendo a doutrina da virgindade perpétua de Maria e da superioridade da castidade sobre o matrimônio. Um adversário de natureza similar foi Joviniano, com quem debateu em 392 ("Adversus Jovinianum" e a defesa desta obra endereçada ao seu amigo Pamáquio - Ep. 48). Em 406, uma vez mais Jerônimo defendeu as práticas piedosas cristãs e sua própria ética asceta contra o presbítero gaulês Vigilâncio, que era contrário à veneração dos mártires e das relíquias, ao voto de pobreza e ao celibato clerical. Em paralelo, participou ainda da controvérsia com João II de Jerusalém e Rufino sobre a ortodoxia do origenismo. A este período pertencem algumas de suas mais apaixonadas e completas obras: a "Contra Joannem Hierosolymitanum" (398 ou 399); duas obras intimamente relacionadas, "Apologiae contra Rufinum" (402) e sua "última palavra", escrita poucos meses depois, "Liber tertius seu ultima responsio adversus scripta Rufini". A última obra de Jerônimo foi sua "Dialogus contra Pelagianos" (415), contra a heresia do pelagianismo. Jerônimo é o segundo autor mais prolífico do cristianismo antigo, (depois de Santo Agostinho). Na Igreja Católica, ele é reconhecido como Santo padroeiro dos tradutores, bibliotecários e enciclopedistas.

 

38º - São Sirício - 385 - 398

Em 391, os decretos teodosianos proíbem a maioria dos rituais pagãos ainda praticados em Roma.

No Concílio de Hipona em 393, na África do Norte, foi um dos primeiros a fazer uma lista formal dos livros que seriam reconhecidos como canônicos.

No Concílio de Catargo em 397, reiterou e confirmou a lista de livros canônicos.

               Nascido em Roma no ano 334, viveu aquele que seria o último século do que se pode chamar de dificuldade do cristianismo no Império Romano. Houve momentos de graves crises e momentos de relativa paz, mas a situação só apresentou melhores substanciais quando a religião foi declarada oficial do império. A partir de então, os cristãos tiveram que se preocupar especialmente com os problemas internos da Igreja Católica, que não eram poucos, e com as relações políticas. Sirício era um homem comum em Roma, casado e com filhos, mas fiel ao cristianismo e próximo da Igreja Católica. Não se conhece exatamente o número de filhos que tinha, mas conta-se que ele deixou sua esposa e seus filhos para se tornar Pontífice. Com o falecimento do Papa Dâmaso I, Sirício foi escolhido por unanimidade no dia 17 de dezembro de 384 para ser seu sucessor. Havia naquele período uma tentativa de autopromoção de Ursino, que se apresentava como antipapa, mas seu prestígio era pequeno e sua iniciativa foi frustrada pela escolha do novo Papa. O Papa Sirício assumiu a liderança da Igreja Católica quando tinha 50 anos de idade. Durante 15 anos dedicou-se ativamente à administração da Igreja, sendo o primeiro Papa a escrever decretos. Era um homem calmo e sereno, tinha humildade suficiente para dialogar e evitar o confronto. Sua reputação causou natural agrado a muitas pessoas e, desta forma, conseguiu converter muitos fiéis ao cristianismo. Mas Sirício não abria mão de administrar a Igreja de acordo com os preceitos religiosos que acreditava, atuando de maneira a reforçar a doutrina e os dogmas, deixando legados para a história da instituição religiosa. Mesmo tendo sido casado e com filhos, Sirício reforçava fortemente o celibato para sacerdotes e diáconos e proibiu o casamento de membros do clero, deixando, certamente, um reforço na tradição da Igreja que dura até hoje. Outro ponto de destaque de sua administração foi o combate a heresias, condenou várias das doutrinas que pregavam caminhos diferentes para o paraíso através do cristianismo ou que reconheciam Jesus Cristo com essências diferenciadas daquelas determinadas pela Igreja Católica. Ainda que tentasse resolver tudo através do diálogo, e conseguisse em vários casos, não deixava de condenar aquilo que ia contra os preceitos da Igreja. Foi através do assunto heresia que o Papa Sirício se envolveu com a política dos reis no século IV. O Sumo Pontífice se manifestou contrariamente à condenação do Bispo Prisciliano, da Espanha, por heresia, o que o levaria à pena de morte. Criou-se um momento de tensão com o Imperador Magno Máximo, já que o Papa declarou-se publicamente contra o veredito e defendeu o povo contra a tirania imperial. Após seus 15 anos de Pontificado, faleceu no dia 26 de novembro de 399, aos 65 anos de idade.

Hipona (hoje Annaba) foi uma antiga cidade situada onde hoje se encontra o território da Argélia. No outono de 393, os Bispos do Norte da África foram convocados à sede do episcopado, sob a liderança do Bispo local, Valério, do Primaz de Cartago, Aurélio, e do então presbítero Agostinho, que assumiria o Bispado três anos depois.

O Papa Sirício, embora diligente na administração da Igreja, não participou deste sínodo regional. No entanto, as deliberações finais foram expressamente submetidas a ele, nestes termos: “Ad confirmationem huius canonis, Ecclesia trans mare consultatur” (Sobre a confirmação deste cânon, se consultará a Igreja do outro lado do mar, ou seja, Roma). Sob seu pontificado e ainda sobre a confirmação da lista dos livros inspirados, foram realizados outros dois sínodos regionais, um em 394 e outro em 397. O Papa Sirício, por sua vez, deu particular atenção à observância do cânon pelo clero.

 

38 . 1 - Santo Agostinho de Hipona

               Aurélio Agostinho de Hipona, Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430), conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Foi Bispo de Hipona, uma cidade na província romana da África. Escrevendo na era patrística, é amplamente considerado como o mais importante dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas são De Civitate Dei (A Cidade de Deus) e "Confissões", ambas ainda muito estudadas atualmente. De acordo com Jerônimo, seu contemporâneo, Agostinho "restabeleceu a antiga fé". Em seus primeiros anos, Agostinho foi muito influenciado pelo maniqueísmo e, logo depois, pelo neoplatonismo de Plotino. Depois de se converter ao cristianismo e aceitar o batismo em 387, desenvolveu uma abordagem original à filosofia e teologia, acomodando uma variedade de métodos e perspectivas de uma maneira até então desconhecida.

               Acreditando que a graça de Cristo era indispensável para a liberdade humana, ajudou a formular a doutrina do pecado original e deu contribuições semanais ao desenvolvimento da doutrina da guerra justa. Quando o Império Romano do Ocidente começou a ruir, Agostinho desenvolveu o conceito de "Igreja Católica" como uma "Cidade de Deus" espiritual (na obra homônima) distinta da cidade terrena e material de mesmo nome. "A Cidade de Deus" estava também intimamente ligada ao segmento da Igreja que aderiu ao conceito da Trindade como postulado pelo Concílio de Niceia e pelo Concílio de Constantinopla. Na Igreja Católica e na Comunhão Anglicana, Agostinho é venerado como um Santo, um proeminente Doutor da Igreja e o Patrono dos agostinianos. Sua festa é celebrada no dia de sua morte, 28 de agosto. Muitos protestantes, especialmente os calvinistas, consideram Agostinho como um dos "pais teológicos" da Reforma Protestante por causa de suas doutrinas sobre a salvação e graça divina. Na Igreja Ortodoxa, algumas de suas doutrinas não são aceitas, como a da cláusula Filioque, do pecado original e do monergismo. Ainda assim, apesar destas controvérsias, é considerado também um Santo, sendo comemorado como "Beato Agostinho" no dia 15 de junho. Outro sim, numerosos autores ortodoxos advogaram a favor de suas obras e de sua personalidade, como Genádio II de Constantinopla e Seraphim Rose. No verão de 386, depois de ouvir a história da vida de Santo Antão do Deserto por Placiano e seus amigos, Agostinho se converteu. Como ele próprio contou depois, a conversão foi incitada por uma voz infantil que ele ouviu pedindo-lhe para "tomar e ler", o que ele entendeu ser um comando divino para abrir a Bíblia, abri-la e ler a primeira coisa que encontrasse. Agostinho abriu na Epístola aos Romanos num trecho conhecido como "transformação dos crentes", os capítulos 12 ao 15, no qual Paulo delineia como o Evangelho transforma os crentes e seu comportamento. Ambrósio batizou Agostinho e seu filho Adeodato na Vigília da Páscoa de 387 em Mediolano. Um ano depois, em 388, Agostinho completou sua apologia "Sobre a Santidade da Igreja Católica". No mesmo ano, a família decidiu voltar para a África, mas Mônica morreu em Óstia, perto de Roma, quando se preparava para embarcar. Quando chegaram, passaram a viver aristocraticamente com os rendimentos auferidos pelas extensivas propriedades da família na região. Logo depois, Adeotato também faleceu e Agostinho, entristecido, vendeu todo seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres, mantendo apenas a casa da família, que ele converteu numa fundação monástica para si e alguns amigos. Em 391, foi ordenado sacerdote em Hipona e rapidamente tornou-se um pregador muito famoso - há mais de 350 sermões de Agostinho que se acredita serem autênticos - e um ardoroso adversário do maniqueísmo, sua religião da juventude. Em 395, foi nomeado Bispo coadjutor de Hipona e, logo depois, assumiu o trono episcopal, motivo pelo qual é conhecido como "Agostinho de Hipona", uma posição que manteve até sua morte em 430. Suas "Confissões" foram escritas entre 397 e 398, ao passo que "A Cidade de Deus" foi escrita para consolar os cristãos logo depois do traumático saque de Roma pelos visigodos em 410. Neste período, Agostinho trabalhou incansavelmente para converter o povo de Hipona. Apesar de ter deixado o mosteiro, continuou a levar uma vida asceta na residência episcopal. Para seus companheiros, deixou uma regula que fez com que, muito depois, fosse considerado como o "padroeiro do clero regular". Grande parte do que sabemos sobre os anos finais de Agostinho foi relatada por seu amigo Possídio, o Bispo de Calama (moderna Guelma, na Argélia), em sua obra Sancti Augustini Vita. Possídio admirava Agostinho como uma pessoa intelectualmente poderosa e de retórica arrebatadora que aproveitava todas as oportunidades para defender o cristianismo contra seus detratores. Ele preservou também os traços pessoais de Agostinho em detalhes, revelando um indivíduo que comia pouco, trabalhava muito, desprezava fofocas, evitava as tentações da carne e era muito prudente na administração financeira de sua sé. Na primavera de 430, os vândalos, uma tribo germânica convertida ao arianismo, invadiram a África romana e cercaram Hipona. Agostinho, porém, já estava irremediavelmente doente. De acordo com Possídio, um dos poucos milagres atribuídos a ele, a cura de um doente, deu-se durante o cerco. Ainda segundo ele, Agostinho passou seus últimos dias em oração e penitência, com salmos pendurados nas paredes de seu quarto para que pudesse lê-los. Antes de morrer, ordenou que a biblioteca da igreja de Hipona e todos os seus livros fossem cuidadosamente preservados, e faleceu finalmente em 28 de agosto de 430. Logo em seguida, os vândalos desistiram do cerco, mas retornaram não muito depois e incendiaram a cidade, destruindo tudo menos a catedral e a biblioteca de Agostinho. Agostinho foi canonizado por aclamação popular e foi depois reconhecido como Doutor da Igreja em 1298 pelo Papa Bonifácio VIII.

 

39º - Santo Anastácio I - 399 - 401

Em 400, a tradução da Bíblia em latim da Vulgata de Jerônimo é publicada, declarada autêntica pelo Concílio de Trento. Este permaneceu o texto padrão no mundo católico até o Renascimento.

               Anastácio, nasceu em Roma. Combateu com energia a heresia donatista nas províncias no Norte da África. Na base dessa heresia, estava o rigorismo defendido pelo Bispo Donato (donde o nome “donatismo”), Bispo da Numídia, no Norte da África. Dentre tantas ações, Papa Anastácio é mais conhecido pela controvérsia contra o origenismo, isto é, ele foi totalmente contrário à posição defendida por alguns partidários de Orígenes – um grande escritor eclesiástico – segundo a qual, as almas seriam eternas e os demônios poderiam também se converter e alcançar a salvação, tornando o inferno algo obsoleto. Praticamente o que se sabe sobre o Papa Santo Anastácio vem do conteúdo das cartas de São Jerônimo. São Jerônimo chegou a tecer grandes elogios à Anastácio. Num de seus discursos, Jerônimo afirma que se o Papa morreu cedo, foi por respeito da Providência, pois assim o Papa foi poupado de assistir ao trágico espetáculo da queda de Roma, por obra do bárbaro Alarico. A história guarda também a memória da amizade que Papa Anastácio nutria por São Paulino, Bispo de Nola: entre os dois houve uma intensa troca de cartas. Eleito em 27 de novembro de 399, conciliou os cismas entre Roma e a Igreja de Antioquia. Combateu tenazmente os seguidores de costumes imorais, que estavam convencidos de que também na matéria se escondia a divindade. Deixou como principal legado para a liturgia católica a obrigação dos sacerdotes permanecerem de pé durante a leitura do Evangelho. Morreu em 19 de dezembro, em Roma e foi sucedido por Santo Inocêncio I. Segundo o Martirológio Romano, pouco depois de sua morte Roma foi tomada e saqueada pelos Godos, um povo germânico originário das regiões meridionais da Escandinávia, que se distinguiam por usarem escudos redondos e espadas curtas e obedecerem fielmente a seus reis.

 

40º - Santo Inocêncio I – 401 - 417

               O Papa Inocêncio I liderou a Igreja Católica no início do século V e, em seu pontificado, apoiou, o mais tarde designado São Jerônimo à terminar a revisão da tradução latina da Bíblia, que ficou pronta em 404. Este foi um evento importante de seu pontificado porque foi no começo daquele século que a Bíblia foi elaborada como livro sagrado para os cristãos. Em função de sua defesa das prerrogativas da Sé Apostólica, o Papa Inocêncio I tentou unificar a Igreja do Ocidente em torno da práxis romana, estabelecendo, então, a observância dos ritos romanos, o catálogo dos livros canônicos e as regras monásticas. Assim, reforçava a supremacia da Igreja de Roma sobre as questões de doutrina e fé. Naturalmente, combateu as heresias de sua época, com destaque para a condenação de Pelágio da Britânia, um monge que foi acusado por seus adversários de negar o pecado original, de negar que a graça de Deus é essencial para a salvação e de defender que o homem é capaz de decidir o seu futuro. Por outro lado, foi defensor de São João Crisóstomo, considerado um dos Doutores da Igreja Católica. O Papa Inocêncio I também enfrentou problemas políticos durante seu pontificado, como a invasão de Roma pelos visigodos. Sob a liderança de Alarico I, o povo considerado bárbaro invadiu e saqueou a cidade de Roma. No entanto, a Igreja conseguiu se defender. Por fim, no relacionamento benéfico com o império, Inocêncio I conseguiu convencer o Imperador Flávio Honório a proibir as lutas de gladiadores. Estes foram apenas dois eventos trágicos de seu reinado, tendo em vista que as lutas de gladiadores eram muito populares na época. Faleceu aos 67 anos de idade no dia 12 de março de 417, após 16 anos de pontificado.

               João Crisóstomo (Antioquia, c. 347 – Comana Pôntica, 14 de setembro de 407) foi um Arcebispo de Constantinopla e um dos mais importantes patronos do cristianismo primitivo. É conhecido por suas poderosas homilias, por sua habilidade em oratória, por sua denúncia dos abusos cometidos por líderes políticos e eclesiásticos de sua época, por sua "Divina Liturgia" e por suas práticas ascetas. Chrysostomos, em português Crisóstomo, significa "da boca de ouro" em língua grega, que lhe foi dado por conta de sua lendária eloquência. O título apareceu pela primeira vez na "Constituição" do Papa Vigílio em 553, sendo João Crisóstomo considerado o maior pregador cristão da história.

 

41º - São Zósimo – 417 - 418

               Nascido em Masuraca, na Grécia, no ano 370, Zósimo era filho de Abrão e acredita-se que sua família era de origem judaica. Viveu uma época de acomodação para a Igreja Católica, pois a religião já havia sido declarada a oficial no Império Romano e, então, conquistava mais poder e influência na sociedade. Ainda assim, opositores e perseguidores continuavam existindo e, eventualmente, causando grandes perturbações. Zósimo seria o sucessor do longo pontificado do Papa Inocêncio I. O Papa Zósimo assumiu a liderança da Igreja Católica no dia 18 de março de 417, quando tinha 47 anos de idade. Seu pontificado foi breve, porém muito atormentado. Durante pouco mais de um ano como Papa, Zósimo estabeleceu regras rígidas para o catolicismo romano. Proibiu que filhos ilegítimos fossem ordenados e reivindicou o poder da Igreja contra interferências alheias. O curto pontificado de Zósimo teve muito trabalho enfrentando o pelagianismo, um comportamento considerado herético na época por disseminar a ideia de que as pessoas podiam se salvar sem as graças de Deus. Com o intuito de unir a Igreja, o Papa Zósimo criou vicariatos no Ocidente, mas não obteve muito sucesso em função da incompetência dos Bispos indicados. O Sumo Pontífice publicou uma epístola decretando a superioridade da Sede Apostólica e condenando os que apelavam ao poder civil. Por fim, declarou que somente os Bispos e o próprio Papa tinham autoridade para deliberações sobre assuntos eclesiásticos. O Papa Zósimo faleceu em Roma no dia 26 de dezembro de 418, aos 48 anos de idade. Foi um breve pontificado que durou pouco mais de um ano, embora muito turbulento. Porém Zósimo deixou uma situação instável com sua morte. Havia uma parte do clero que estava insatisfeita e que decidiu eleger um antipapa de nome Eulálio para se opor ao Papa legítimo. A existência de dois líderes criou dois grupos de oposição que entraram em conflito. Bonifácio I chegou a ser expulso de Roma, mas o comportamento do antipapa acabou desagradando o Imperador Romano Honório, que interferiu diretamente na resolução do cisma dando ordem e condição para que o Papa Bonifácio I assumisse seu posto legítimo. Todavia, a situação abriu precedente para um longo período de ingerência civil na escolha do Papa.

 

42º - São Bonifácio I - 418 – 422

               Nascido em Roma no ano 375, Bonifácio era filho de um presbítero chamado Jocundo. Sua vida foi sempre atrelada à religião, o que resultou em sua ordenação pelo Papa Damásio I. Bonifácio esteve sempre muito próximo ao alto poder da Igreja Católica, desde sua ordenação. Mais tarde, ele serviu ao Papa Inocêncio I em Constantinopla, esboçando um caminho para o sumo pontificado através de importantes ligações políticas no interior da Igreja. Quando o Papa Zósimo faleceu, no ano 418, Bonifácio tinha 43 e foi eleito para ser o sucessor no dia 28 de dezembro do mesmo ano. Não havia, contudo, um consenso em torno de Bonifácio para que fosse o líder da religião. Em desagrado com sua eleição, um grupo de opositores preferiu negar sua autoridade e escolher um antipapa chamado Eulálio. O Papa Bonifácio I iniciou seu papado com sérios problemas administrativos no seio da Igreja Católica. Teve de se impor e combater a figura do antipapa existente, superando os opositores de sua eleição. Defendeu a unidade eclesial e a primazia da Sé Romana. Para sua sorte, o antipapa Eulálio viveu pouco tempo como antagonista. Todavia, os dois papas coexistentes foram aconselhados a deixar Roma até que um concelho tomasse a decisão acerca da divisão. O concelho ratificou a eleição de Bonifácio e deu a Eulálio um bispado em Campânia, encerrando a questão em 419. Poucos anos depois, em 423, Eulálio faleceu. O papado de Bonifácio I foi profundamente marcado pela interferência do poder civil nas decisões da instituição religiosa, pois foi o prefeito de Roma que decidiu a disputa pelo sumo Pontificado. Esta situação impactou o restante do exercício de seu cargo e o Papa teve dificuldades para lidar com vários arcebispos e para administrar a Igreja Católica no continente africano. Ainda assim, Bonifácio I conseguiu contornar a situação e atuar de tal forma que lhe garantisse o respeito e a representatividade como autoridade máxima da Igreja. Em sua alçada, renovou a legislação religiosa feita pelo Papa Sotero, mas manteve a proibição de escravos se tornaram clérigos. O Papa Bonifácio I teve um papado curto que durou apenas quatro anos. Faleceu no dia quatro de setembro de 422.

 

43º - São Celestino I - 422 – 432

Convocou o Concílio de Éfeso que instituiu a segunda parte da Ave-Maria, ou seja "Santa Maria Mãe de Deus".

Em 431, o Concílio Ecumênico de Éfeso declara que Jesus existia como Homem e Deus simultaneamente, esclarecendo seu status na Santíssima Trindade. O significado do Credo Niceno também é declarado um texto sagrado e permanente da igreja.

               Nascido em Campânia no ano 380, Celestino era filho de Priscus e viveu sua infância em Roma. Há muito pouca informação sobre sua vida antes de se tornar Papa. Porém uma das coisas mais marcantes sobre sua vida antes de se tornar um importante religioso é que teria vivido durante um tempo em Milão na Arquidiocese de Mediolanum com aquele que viria a ser conhecido como Santo Ambrósio, um dos padres latinos e doutores da igreja. Após sua estadia em Milão, Celestino envolveu-se profundamente com o mundo religioso do catolicismo. Com o falecimento do Papa Bonifácio I, ele foi eleito para o pontificado seguinte no dia dez de setembro de 422. Como Papa, assumiu o nome de Celestino I. Os anos iniciais em que esteve no posto máximo da Igreja Católica são pouco conhecidos. Além disso, algumas das atitudes mais importantes aconteceram realmente no final de seu papado. Celestino I permaneceu por praticamente dez anos à frente da Igreja Católica. Na ocasião do Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, ele não compareceu. Todavia enviou delegados para condenar os nestorianos, os seguidores de uma doutrina cristológica proposta pelo Patriarca de Constantinopla, Nestório, enfatizando a desunião entre as naturezas humana e divina de Jesus. Como cristão ortodoxo, Celestino I condenou também os pelagianos, seguidores de uma teologia cristã que sustentava que todo homem é responsável por sua completa salvação, ou seja, não necessitando da graça divina para isso. Celestino enviou representantes para a Irlanda com a função ampliar a obra missionária na região. Em Roma, Celestino I confrontou-se fortemente com os novacianos, os seguidores de um movimento do cristianismo primitivo que se recusavam a readmitir os cristãos que tinham negado sua fé e realizado rituais com sacrifícios aos deuses pagãos durante a perseguição aos cristãos empreendida pelo imperador Décio no ano 250. Celestino aprisionou o Bispo dos novacianos e proibiu seus cultos. Celestino I foi um Papa ortodoxo que combateu qualquer ideia questionadora à fé como estabelecida pela Igreja Católica Romana. Entrou em choque com grupos diversos e os derrotou ou os oprimiu. Aos 52 anos de idade, faleceu no dia 27 de julho de 432 e foi enterrado no cemitério de Santa Priscila. Mais tarde, seus restos mortais foram transferidos para a Basílica de Santa Prassede, onde se encontram até hoje. Foi o primeiro Papa a citar o bastão pastoral e é considerado Santo pela Igreja Católica.

               Santo Ambrósio, Aurélio Ambrósio (c. 340 – Mediolano, 4 de abril de 397), foi um Arcebispo de Mediolano (moderna Milão) que se tornou um dos mais influentes membros do clero no século IV. Foi prefeito consular da Ligúria e Emília, cuja capital era Mediolano, antes de tornar-se Bispo da cidade por aclamação popular em 374. Ambrósio era um fervoroso adversário do arianismo. Tradicionalmente atribui-se a Ambrósio a promoção do canto antifonal, um estilo no qual um lado do coro responde de forma alternada ao canto do outro, e também a composição do Veni redemptor gentium, um hino natalino. Ambrósio é um dos quatro doutores da Igreja originais e é notável por sua influência sobre o pensamento de Santo Agostinho.

 

44º - São Xisto III - 432 – 440

               Pouco se sabe sobre as origens de São Xisto III, antes de ele se tornar Papa. Sabe-se que uma das grandes marcas de seu pontificado foi a amizade com Santo Agostinho e a luta contra algumas heresias que ameaçavam o futuro da Igreja. Nisso, ele teve papel determinante. A princípio, antes de ser Papa, São Xisto assumiu uma posição de neutralidade a respeito da “doutrina” dos pelagianos e de uma controvérsia sobre isso que apareceu no sul da França. Porém, foi sabiamente advertido pelo Papa Zózimo e, com a ajuda de Santo agostinho, reconheceu seu erro. Agostinho, com efeito, combatia com toda a força a heresia pelagiana. Os dois mantinham constante contato através de cartas. A doutrina pelagiana, criada por um indivíduo de sobrenome Pelágio, negava a realidade do pecado original, bem como a fragilidade e a corrupção inerente à natureza humana. A doutrina defendia também a ideia de que o homem, por sua própria força, tinha a capacidade para não pecar, “não precisando”, assim, da graça de Deus. Logo que assumiu, começou a agir com muita firmeza e austeridade com todos aqueles que se desviavam da verdadeira Doutrina Católica. Santo Agostinho o ajudou no discernimento e na maneira de agir com relação às heresias. Assim, São Xisto III conseguiu acabar definitivamente com a doutrina pelagiana dentro da Igreja. São Xisto III também soube conduzir com prudência e sabedoria ações conciliadoras em relação ao nestorianismo, outra ideologia criada por Nestório. Esta, continha desvios acerca do verdadeiro papel da Virgem Maria na história da Salvação. O Papa Xisto III acabou com a controvérsia que estava acontecendo entre os padres João de Antioquia e outro chamado Cirilo, que era patriarca da cidade de Constantinopla. O Papa Xisto III demonstrou ainda forte autoridade papal numa disputa com um Patriarca chamado Proclo. O imperador romano do Oriente queria que a região da lliría passasse para o governo de Constantinopla. Para tanto, contava com o auxílio de Procolo. Xisto III escreveu muito e trabalhou para que a região fosse mantida sob o governo romano do Ocidente. E conseguiu. No Concílio de Éfeso, ocorrido em 431, a Virgem Maria foi proclamada Mãe de Deus. Por isso, o Papa Xisto III, depois de eleito, ampliou e enriqueceu uma Basílica que era dedicada à Santa Mãe das Neves. Esta, ficava no alto do monte Esquilino. Mais tarde ela passou a ser chamada de Basílica de Santa Maria Maior. O notável é que esta igreja é a primeira igreja do Ocidente dedicada a Nossa Senhora. Assim, os fiéis católicos receberam um maravilhoso monumento dedicado ao culto da Virgem Maria. Havia na Palestina algumas tábuas guardadas e veneradas como tendo pertencido à manjedoura que acolheu o salvador quando ele nasceu em Belém. O Papa Xisto III pediu que essas relíquias fossem trasladadas para a mesma Igreja em Roma. Assim, ele deu origem à tradição do presépio que, mais tarde, São Francisco aprimorou. Xisto III também Introduziu na cultura ocidental a Missa do Galo, que passou a ser celebrada na noite do Natal. Esta missa já era celebrada na cidade de Jerusalém, na Terra Santa, desde os primórdios da Igreja. Durante todo o pontificado, o Papa Xisto III realizou uma enorme atividade na área da construção. Construiu inúmeras igrejas e reformou outras tantas. Dentre elas se destaca a esplendorosa Basílica de São Lourenço, situada em Lucina, na Itália. Faleceu no dia 19 de agosto do ano 440. Antes de morrer, indicou aquele que, segundo o seu coração, deveria ser seu sucessor: Leão Magno. Este, de fato, o sucedeu e se tornou um dos Papas mais importantes para a Igreja dos primeiros séculos. A Igreja instituiu sua festa no dia 28 de março.

 

45º - São Leão I - 440 – 461

8 de outubro de 451: Conselho Ecumênico de Calcedônia é aberto. 1º de novembro de 451: O Concílio de Calcedônia, o quarto Concílio Ecumênico, é encerrado. É emitido o Credo Calcedônia, que reafirma Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem e o dogma da Virgem Maria como a Mãe de Deus. O conselho excomunga Eutiques, levando ao cisma com a Ortodoxia Oriental.

               Leão I, dito o Grande ou São Leão Magno, foi Papa entre 29 de setembro de 440 e sua morte em 10 de novembro de 461. Um aristocrata de origem italiana, Leão foi o primeiro a receber o título de "o Grande". Ele é, provavelmente, mais famoso por ter ido ao encontro de Átila, o Huno, em 452 para persuadi-lo a desistir de sua invasão da Itália. Ele é também considerado um Doutor da Igreja, lembrado teologicamente por seu "Tomo de Leão", um documento que foi fundamental durante os debates do Concílio de Calcedônia. Este concílio ecumênico, o quarto, tratou principalmente de questões cristológicas e elucidou a definição considerada ortodoxa de que Cristo é uma união hipostática de duas naturezas: humana e divina, unidas em uma única pessoa, "sem confusão e nem divisão" (diofisismo). A ele se seguiu um grande cisma entre os diofisistas e as igrejas monofisistas e miafisistas. De acordo com o "Liber Pontificalis", Leão era nativo da Toscana. Em 431, já como diácono, ocupou uma posição suficientemente importante na visão do Patriarca Cirilo de Alexandria a ponto deste escrever para ele para pedir a intervenção de Roma nas reivindicações do também Patriarca Juvenal de Jerusalém sobre a Palestina - a menos que esta carta tenha sido endereçada ao Papa Celestino I e não a Leão. Mais ou menos na mesma época, João Cassiano dedicou-lhe um tratado contra Nestório escrito a seu pedido. Mas nada mostra mais a confiança que lhe era dedicada do que ele ter sido escolhido pelo imperador para mediar a disputa entre Aécio e o cônsul Cecina Décio Aginácio Albino, as duas maiores autoridades romanas na Gália. Neste ínterim, o Papa Sisto III morreu (11 de agosto de 440) e Leão foi unanimemente eleito pelo povo para sucedê-lo. Em 29 de setembro, ele iniciou um pontificado que seria marcante para a centralização do governo da Igreja Romana.

               Leão foi muito importante para a centralização da autoridade espiritual na Igreja e na reafirmação da autoridade Papal. O bispo de Roma já era visto na época como o principal patriarca da igreja ocidental, mas muito da autoridade Papal estava, na época, delegada aos Bispos de cada diocese. Não sem enfrentar séria oposição, Leão conseguiu reafirmar sua autoridade na Gália, por exemplo. Quando Pátroclo de Arles, havia recebido do Papa Zósimo o reconhecimento como um primaz subordinado sobre toda a Igreja da Gália, um direito que foi fortemente reafirmado por seu sucessor, Hilário de Arles. Um apelo de Celidônio de Besançon deu a Leão a oportunidade de reafirmar sua autoridade sobre Hilário, que teimosamente se defendeu em Roma contra a autoridade judicial de Leão. Sentindo que a primazia de sua sé estava ameaçada, Leão apelou aos poderes seculares em busca de ajuda e conseguiu que o imperador Valentiniano III emitisse o famoso decreto de 6 de junho de 445 que reconheceu a primazia do Bispo de Roma baseando-se nos méritos de São Pedro, na dignidade da cidade e na legislação do Primeiro Concílio de Niceia. O decreto também serviu de base para a extradição, pelas mãos dos governadores provinciais, de qualquer Bispo que se recusasse a atender os chamados de Roma. Depois do decreto, Hilário se submeteu ao Papa e, durante o governo de seu sucessor, Ravênio, Leão dividiu a Arquidiocese entre Arles e Vienne (450). Para defender sua posição, além de recorrer a passagens bíblicas, Leão também descreve sua própria relação pessoal com Pedro em termos que derivam do direito romano. Ele se considera ao mesmo tempo um herdeiro (ainda que indigno) e um deputado (vicarius) de Pedro, recebedor de sua autoridade apostólica e, sendo, assim, está obrigado a seguir seu exemplo. Por um lado, Pedro se posta à sua frente como uma obrigação de como Leão deveria exercer seu cargo; por outro, Leão, como o Bispo de Roma, representa o Apóstolo, cuja autoridade ele detém. Cristo, porém, sempre aparece como fonte de toda autoridade e de toda a graça e Leão responde a ele sobre como exerce seus deveres. Pedro é, portanto, um exemplo para a relação de Leão com Cristo. Assim, o cargo de Bispo de Roma, com sua importância universal, estaria enraizado na relação especial entre Cristo e São Pedro, uma relação que, não se pode repetir; portanto, Leão depende da mediação de Pedro, de seu auxílio e exemplo para conseguir realizar adequadamente seu papel e exercer sua autoridade como Bispo de Roma, tanto na cidade quanto além dela. Em 445, Leão entrou em conflito com Dióscoro de Alexandria, sucessor de São Cirilo como Patriarca de Alexandria, insistindo que a prática eclesiástica de sua sé deveria seguir à de Roma argumentando que São Marcos, o discípulo de São Pedro e fundador da Igreja de Alexandria, não poderia ter seguido nenhuma outra tradição que não à do primeiro entre os Apóstolos. Na África, o fato da província da Mauritânia Cesariense ter se mantido parte do império e da fé nicena durante a invasão dos vândalos—o que a deixou predisposta a receber ajuda externa por causa de seu isolamento—deu a Leão uma oportunidade de afirmar sua autoridade na região, o que ele fez decisivamente, mesmo enfrentando questionamentos. Sobre a Itália, numa carta aos Bispos da Campânia, Piceno e Túscia (443), exigiu de todos a observância de todos os seus preceitos e de seus predecessores; ele também admoestou bruscamente os Bispos da Sicília (447) por terem se desviado dos costumes romanos sobre o batismo, exigindo que eles enviassem delegados a um sínodo em Roma para que aprendessem a forma apropriada. Sobre a Grécia, em decorrência da antiga divisão entre as porções ocidental e oriental do Império Romano, a Ilíria estava eclesiasticamente sujeita à Roma. O Papa Inocêncio I havia estabelecido o Arcebispo de Tessalônica como seu vigário para conter a crescente influência do Patriarca de Constantinopla na região. Numa carta de c. 446 a um dos Bispos da cidade, Anastácio, Leão admoestou-o pela forma como ele tratou um dos Arcebispos sujeitos a ele; depois de dar várias instruções sobre as funções encarregadas a ele e depois de sublinhar que certos poderes estavam reservados para o Papa, Leão escreveu: "O cuidado sobre a Igreja Universal deve convergir para o trono único de Pedro e nada, em lugar nenhum, deve se separar de sua cabeça".

               No Segundo Concílio de Éfeso, em 449, os representantes de Leão entregaram seu famoso "Tomo" ("carta" em latim), uma afirmação da fé da Igreja romana, endereçado ao arcebispo Flaviano de Constantinopla que repete, de forma muito aderente às teorias de Agostinho, as fórmulas da cristologia ocidental. O concílio não apenas não leu a carta e ignorou os protestos dos legados de Leão, como depôs Flaviano e Eusébio de Dorileia, que apelaram para Roma. Parcialmente por conta disto, este concílio jamais foi reconhecido como ecumênico e terminou depois sendo repudiado no Concílio de Calcedônia. Depois disso, Leão exigiu do imperador que um concílio ecumênico fosse realizado na Itália e, enquanto isso não acontecia, num sínodo em Roma em outubro do mesmo, repudiou todas as decisões do já infame "Latrocínio de Éfeso". Sem fazer um exame crítico de seus decretos dogmáticos, ele exigiu em suas cartas ao imperador e outras personalidades a deposição de Eutiques, acusando-o de ser maniqueísta e docético. Com a morte de Teodósio II em 450 e da mudança brusca que se seguiu no cenário político oriental, Anatólio de Constantinopla, o Patriarca seguinte, seguiu as recomendações de Leão e seu "Tomo" foi lido e reconhecido em toda parte. Depois disso, Leão não queria mais realizar um concílio, especialmente por que ele dificilmente se realizaria na Itália. Ao invés disso, ele foi convocado para uma reunião em Niceia, que foi depois mudada para Calcedônia.

               Uma ocasião perfeita para ampliar a autoridade de Roma no oriente se mostrou quando a controvérsia cristológica sobre as ideias de Eutiques se reacendeu. No início do conflito, apelou a Leão e se refugiou nele em sua condenação ao Arcebispo de Constantinopla Flaviano. Mas, ao receber um relato mais completo do próprio Flaviano, Leão passou a apoiá-lo decisivamente. O Tomo foi apresentado novamente em Calcedônia como uma solução proposta para a controvérsia cristológica que ainda grassava tanto no oriente quanto no ocidente. Desta vez ele foi lido. Os atos do concílio relatam que "Depois da leitura da citada epístola, os mais reverenciados Bispos gritaram: 'Esta é a fé dos padres, esta é a fé dos Apóstolos. Assim cremos todos, assim creem os ortodoxos. Anátema àquele não acredita. Pedro falou conosco através de Leão. Assim ensinaram os Apóstolos. Piedosamente e verdadeiramente Leão ensinou, assim ensinou Cirilo. Eterna seja a memória de Cirilo. Leão e Cirilo ensinaram o mesmo, anátema àquele que não acredita nisso. Esta é a verdadeira fé. Aqueles entre nós que são ortodoxos acreditam nisso. Esta é a fé dos padres. Porque estas coisas não foram lidas em Éfeso? Estas são as coisas que Dióscoro escondeu". Leão defendia a verdadeira divindade e a verdadeira humanidade da pessoa única e não dividida de Cristo (a chamada união hipostática) contra heresias que defendiam variações desta fórmula. Ele abordou o tema em muitos de seus sermões e, através dos anos, desenvolveu ainda mais seus conceitos originais. Uma ideia central para Leão, à volta da qual ele aprofunda e explica sua teologia, é a presença de Cristo na Igreja, mais especificamente na doutrina e na pregação da fé (Escrituras, tradição e suas interpretações), na liturgia (sacramentos e celebrações), na vida de cada fiel e da Igreja organizada, especialmente quando reunida em concílio. Apesar da aceitação do "Tomo", Leão recusou-se firmemente a confirmar as decisões disciplinares do concílio, que pareciam permitir que Constantinopla adquirisse, na prática, uma autoridade similar à de Roma, principalmente ao considerar a importância civil de uma cidade como fator determinante para sua posição eclesiástica; mas ele apoiou fortemente seus decretos dogmáticos, especialmente quando, depois da ascensão do imperador bizantino Leão I, o Trácio (457), uma possível acomodação com Eutiques parecia possível. Leão conseguiu ainda fazer com que um Patriarca imperial, Timóteo III de Alexandria, fosse eleito como Patriarca de Alexandria no lugar do copta Timóteo II Eluro depois do assassinato do ortodoxo grego Protério de Alexandria.

               Apesar de ter sido derrotado na Batalha dos Campos Cataláunicos, em 451, Átila invadiu a Itália romana no ano seguinte, saqueando importantes cidades (como Aquileia) enquanto marchava para Roma. Ele então exigiu que a irmã do imperador romano do ocidente, Valentiniano III, fosse enviada até ele com um rico dote. Para responder à ameaça, Valentiniano enviou três emissários para negociar com o invasor: Genádio Avieno, um dos cônsules de 450, Mêmio Emílio Trigécio, um ex prefeito urbano, e Leão. A maior parte dos historiadores celebra as ações de Leão, dando-lhe todo o crédito pelo sucesso da embaixada. De acordo com Próspero da Aquitânia, Átila teria ficado tão impressionado com Leão que recuou. Jordanes afirma que Átila temia o mesmo destino do rei visigótico Alarico I, que morreu logo depois de saquear Roma em 410. Paulo, o Diácono, no final do século VIII, relata que um homem enorme, vestido em trajes sacerdotais e armado com uma espada visível apenas para Átila, ameaçou ele e seu exército com a morte durante a conversa com Leão, o que compeliu o huno a atender o pedido do Papa. Infelizmente, a intercessão de Leão não conseguiu evitar que Roma fosse saqueada pelos vândalos em 455, mas as mortes e a devastação da cidade foram diminuídas por sua influência. Leão morreu em 10 de novembro de 461.

               A importância do Pontificado de Leão está em sua afirmação da jurisdição universal do Bispo de Roma, expressada em suas epístolas e em suas outras 96 orações sobreviventes. Esta tese é conhecida geralmente como a doutrina da primazia petrina: de acordo com Leão, diversos padres da Igreja e algumas interpretações das Escrituras, a Igreja foi construída a partir de Pedro, de acordo com a chamada "Confissão de Pedro" (Mateus 16:16–19). Leão foi proclamado Doutor da Igreja por Bento XIV em 1754 (Doctor Ecclesiae). As cartas e sermões de Leão refletem os muitos aspectos de sua carreira e personalidade e são fontes históricas de valor inestimável. Sua prosa rítmica, chamada de cursus leonicus, influenciou a linguagem eclesiástica por séculos. A Igreja Católica Apostólica Romana define 10 de novembro como a data da festa de São Leão e ela já aparece no Martyrologium Hieronymianum e no "Calendário" de São Vilibrordo do século VIII como dia de sua morte e admissão no céu. Sua festa já foi celebrada em Roma no dia 28 de junho, o aniversário do traslado de suas relíquias para a Basílica de São Pedro, mas, no século XII, a festa do rito galicano, celebrada em 11 de abril, entrou para o Calendário Geral Romano, que manteve a data até ser abolido em 1969. Algumas denominações vetero-católicas continuam a observar estas datas. As igrejas católicas orientais e também as igrejas ortodoxas celebram São Leão em 18 de fevereiro. Leão foi originalmente sepultado num monumento próprio. Porém, alguns anos depois de sua morte, suas relíquias foram colocadas num túmulo que continha também as relíquias dos quatro primeiros papas chamados "Leão". No século XVIII, as relíquias de Leão Magno foram separadas das dos demais e ganharam uma capela separada.

 

46º - Santo Hilário - 461 – 468

               Nascido na Sardenha, Itália, em 415, Hilário inclinou-se à vida religiosa. Não se conhece muito sobre sua vida antes de sua carreira eclesiástica, mas como membro da Igreja foi um religioso de destaque. Hilário foi o sucessor do Papa Leão I, que faleceu em 461. No dia 19 de novembro do mesmo ano, o conclave decidiu por Hilário para ser o novo Supremo Pontífice. Ainda antes de se tornar Papa, Hilário era muito próximo de Leão I e seu homem de confiança, chegou, inclusive, a representar o próprio Papa no Concílio de Éfeso demonstrando oposição ao monofisismo e lutando pelos direitos da Igreja. O Papa Hilário deu continuidade às suas posições políticas e de seu antecessor durante seu papado. Confirmou três concílios e defendeu a supremacia da Igreja Católica em um momento que Bispos da Espanha e da Gália semeavam tendências autônomas. Como parte desse embate, criou um vicariato na Espanha que o ajudou a demonstrar a supremacia da Igreja e também formar mais religiosos. Neste sentido, foram criados vários conventos em Roma. O Papa Hilário acreditava na supremacia e no poder cultural da Igreja Católica. Acreditava que era preciso formar religiosos e formar com qualidade. Ele estabeleceu que a formação do sacerdote deveria ser dotada de profunda cultura e não permitiu mais que Pontífices e Bispos escolhessem seus sucessores. Hilário foi fundamental para a formação do aparato cultural da Igreja Católica, interferiu na organização litúrgica e contribuiu com o patrimônio da Basílica de Latrão. Foi responsável pela formulação da dupla natureza de Jesus Cristo quando escreveu que este nasceu de Deus e se fez homem ao assumir um corpo. Severo e religioso convicto do poder cultural do catolicismo, Hilário exerceu seu papado durante quase sete anos. Faleceu no dia 29 de fevereiro de 468 em Roma e foi enterrado na igreja São Lourenço fora dos Muros.

 

47º - São Simplício - 468 - 483

               Nascido em Tivoli, na Itália, no ano 430, Simplício era um amante das artes, homem muito dedicado à vida religiosa e influente nos bastidores da Igreja. Com o falecimento do Papa Hilário em 468, foi eleito para o posto de Sumo Pontífice no dia três de abril do mesmo ano, quando tinha 38 anos de idade. O pontificado de Simplício enfrentou muito mais problemas internos na Igreja do que externos. Em sua época, o cristianismo já havia se tornado a religião oficial do Império Romano e desfrutava de notória influência na política. Desde o imperador Constantino I, a Igreja Católica gozava de paz, as perseguições aos cristãos haviam cessado e os monumentos do catolicismo proliferavam, assim como seu poder. Toda essa situação transferiu para o interior da Igreja alguns embates. Núcleos eclesiásticos passaram a disputar o poder no interior da instituição religiosa, causando conflitos e rompimentos. O Papa Simplício teve que conviver com um grande cisma da Igreja Católica que resultaria na fundação das igrejas da Armênia, da Síria e do Egito. O cristianismo fragmentava-se em diferentes instituições. O papado de Simplício apresentou um relacionamento muito tenso também com a igreja de Constantinopla. O Papa tentou interver em algumas situações e nomeações da igreja no Oriente, o que só ampliou o descontentamento e a instabilidade na relação entre as partes. Crise foi sem dúvida o teor do papado de Simplício. Além do cisma, da fundação de novas igrejas e da divergência com a igreja do Oriente, o oitavo ano de atuação do Papa vivenciou a queda do Império Romano do Ocidente, um desastre para um dos maiores impérios da história. Apesar de todos esses problemas que são administrativos, mas em diferentes esferas, o Papa Simplício não deixou de praticar atos de caridade e generosidade. As complicações que se abateram sobre a Igreja Católica e o Império Romano gerou uma legião de miseráveis até em Constantinopla. Um grande número de pessoas pobres e desamparadas que necessitavam de auxílio para sobreviver. O Papa Simplício encarregou-se de organizar e distribuir esmolas aos peregrinos e às novas igrejas, atendendo com caridade os desvalidos. Foi atuante no serviço social e também na atividade pastoral da Igreja Católica. Veio a faleceu aos 53 anos de idade no dia dez de março de 483, após um papado de quase 13 anos. Foi enterrado na Basílica de São Pedro.

 

FIM DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE -  ANO 476

 

48º - São Félix III - 483 - 492

               Nascido na Itália no ano 440, a vida religiosa de Félix antes de se tornar Papa não é muito conhecida. Sabe-se apenas que era proveniente de uma família nobre de nome Anicia composta por senadores de Roma, ou seja, imagina-se que tivesse respaldo de grande influência nas questões políticas e religiosas. No entanto, deve ter conseguido expandir suas influências sabiamente, pois foi indicado para o posto de Papa por Odoacro, rei dos hérulos com atuação fundamental na queda do Império Romano do Ocidente. Com o falecimento do Papa Simplício, em 483, foi eleito o Papa Félix III no dia 13 de março do mesmo ano. Seu papado dedicou-se a estabelecer a paz no Oriente e combater heresias do cristianismo na época. A luta pela purificação da doutrina envolveu um combate com Eutiques, um monge de Constantinopla que fundamentava o monofisismo. Seus seguidores acreditavam que Jesus Cristo era dotado de apenas uma natureza, a divina. A ideia se contrapunha ao que pregava a Igreja do Ocidente, de que Jesus Cristo era dotado de uma natureza divina e de uma humana, e por isso era considerada herética. Esta tensão realmente incomodava os cristãos romanos da época, que viviam em sérias disputas pela imposição de sua doutrina. O debate criou sérios problemas com o Patriarcado de Constantinopla. As querelas doutrinárias com o Oriente começaram antes ainda do papado de Félix III. Um ano antes de sua eleição, o imperador do Oriente, Zenão, promulgou um documento que parecia defender ou favorecer o monofisismo. No entanto, a Igreja Católica romana havia condenado tal doutrina no Concílio de Calcedônia realizado em 451. Quando assumiu o posto de Sumo Pontífice, Félix III enviou embaixadores a Constantinopla para discutir com o patriarca os motivos e os fins do documento. Para insatisfação do Papa, o Patriarca Acácio se recusou a abrir mão do que havia ratificado no documento e supostamente ainda tentou corromper os embaixadores. A reação foi enfática, Acácio foi excomungado, criando, assim, sérias desavenças entre Roma e Constantinopla. A confusão que se criou em torno de disputas doutrinárias gerou um cisma e um ambiente de tensão com a Igreja oriental. O imperador Zenão convenceu o rei dos Ostrogodos, Teodorico, a lutar contra Odoacro, amigo de Félix e quem o havia indicado para Papa. O embate resultou na vitória de Teodorico, que ficou com o título de rei da Itália. Nesse contexto, contudo, nem Zenão nem o Papa chegaram a vivenciar seu desfecho, ambos faleceram em 491. O papado de oito anos de Félix III chegou ao fim no dia primeiro de março de 491. O Papa está atrelado a algumas curiosidades. Por exemplo, Félix III teve filhos e um deles seria pai do conhecido São Gregório Magno. Outra curiosidade é que Félix III é o único Papa enterrado na Basílica de São Paulo Extramuros.

 

49º - São Gelásio I - 492 - 496

               Nascido na África no ano 410, Gelásio era filho de um humilde ferreiro que sempre viveu na pobreza e amou os pobres. Foi um homem singular em sua época. Na ocasião, a Igreja Católica já havia conquistado grande espaço e influência no Império Romano. A religião já havia se tornado a oficial entre os romanos e a Bíblia já havia sido definida quanto ao seu conteúdo. Gelásio traçou um caminho religioso por uma longa vida. Com o falecimento do Papa Félix III, Gelásio foi eleito no dia primeiro de março de 492 para ser seu sucessor, já aos 82 anos de idade. O Papa Gelásio I foi singular, inicialmente, pela idade que tinha quando assumiu o papado. E em segundo lugar porque era de origem africana. Até hoje, são raros os Papas não europeus. Como líder da Igreja Católica foi combatente de doutrinas que considerava heréticas. Era contrário ao pelagianismo, ao maniqueísmo e ao arianismo. A primeira delas era uma doutrina teológica cristã atribuída a Pelágio da Bretanha que sustentava que todo homem era responsável pela sua própria salvação, não necessitando da graça divina. Ideia que feria diretamente os interesses da Igreja Católica. O maniqueísmo era uma filosofia sincrética e dualista fundada por Maniqueu que dividia o mundo entre bom e mau. O bom era o espírito e o mau era a matéria. A ideologia conquistou muitos seguidores e, por isso, foi considerada herética pela Igreja Católica. Por fim, o arianismo era uma visão cristológica sustentada pelos seguidores de Arius que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, ou seja, negava que os dois possuíssem a mesma essência. O Papa Gelásio I foi o primeiro a efetuar a distinção entre poder temporal dos imperadores e poder espiritual dos Papas, colocando os Bispos em posição superior. Assim, um Papa não poderia ser julgado por ninguém. A partir dele surgiu uma norma eclesiástica que durou até a Idade Moderna chamada de Infalibilidade Papal. Também desenvolveu um grande trabalho de renovação litúrgica. Organizou e presidiu o sínodo de 494, no qual saiu aprovada a grande renovação litúrgica da Igreja. Assim, ele instituiu o Sacramentário Gelasiano, para uniformizar as funções e ritos das várias igrejas. Trata-se do decreto que, levando o seu nome, contém cerca de cinquenta prefácios litúrgicos, uma coletânea de orações para recitar durante a missa. Atualmente, esse e os outros decretos que assinou fazem parte do acervo do Museu Britânico. O Papa Gelásio I também ratificou os livros canônicos e apócrifos aprovados pela Igreja Católica. O papado de Gelásio I durou pouco mais de quatro anos, e faleceu no dia 21 de novembro de 496, aos 86 anos de idade.

 

50º - Anastácio II - 496 - 498

               Nascido em Roma no ano 445, Anastácio estava inserido em uma nova e atraente realidade para a Igreja Católica. Naquele mesmo século, a religião havia finalmente alcançado a plenitude em Roma, pois fora declarada religião oficial do Império Romano. Após muitos anos de perseguição de seus seguidores, os cristãos não conviviam mais com o risco constante de martírio ou execuções causadas por imperadores pagãos. Desde Constantino, o cristianismo assumiu um novo status e seus fiéis passaram a se locomover com mais tranquilidade dentro do império. No interior da Igreja Católica, no entanto, havia enorme desordem que persistiria por muitos séculos. Clérigos e nobres brigavam constantemente pelo poder, Papas eram acusados de heresias e golpes eram tramados por todos os lados. Anastácio, que dedicara toda sua vida à religiosidade, não escaparia dessa realidade. Aos 51 anos de idade ele foi eleito para o cargo máximo da Igreja Católica, sucedendo o Papa Gelásio I. Anastácio II logo recebeu acusações e entrou no jogo de tramas pelo poder que pairava sobre a instituição religiosa. Quando o Papa acolheu o diácono Fotino de Tessalônica em Roma ambos foram acusados de heresia. Os dois foram acusados de defender que o Espírito Santo não precedia o Pai e de que o Pai era maior que o Filho. Essa situação causou enorme tormenta ao seu papado, uma acusação que teve de superar rapidamente, ainda que paliativamente, para que não perdesse seu posto. Mas o que ocorreu de fato foi que o Papa Anastácio II demonstrou sua afeição por escândalos, pois outra atitude sua, logo em seguida, causaria rumores de descontentamento. O Papa tentou acabar com a excomunhão de Acácio, Bispo de Constantinopla, ao mesmo tempo em que negociava com Anastácio I, Imperador do Oriente, para restaurar a unidade da Igreja. A situação era, na verdade, muito confusa. Anastácio I era favorável ao monofisismo, uma doutrina cristã considerada herética pela Igreja Católica, e o Papa não deixava também de discordar das teorias de Acácio que o levaram à excomunhão. Ou seja, o Papa não demonstrava coerência e tampouco firmeza para conduzir seu pontificado e os caminhos da Igreja Católica. E isso não foi tudo, ainda interferiu na conversão de Clóvis I, Rei dos Francos, e de seu povo, demonstrando, mais uma vez, incapacidade para as responsabilidades que possuía. Por todos esses aspectos, o Papa Anastácio II não era querido pelo povo e nem mesmo respeitado por seus pares. Durante seu curto papado de quase dois anos, se intrometeu em questões com as quais não sabia lidar. Suas ações erradas e mesmo inocentes demonstraram toda sua fraqueza como líder para solucionar as questões da Igreja Católica, como o cisma com o Oriente. Quando faleceu aos 53 anos de idade, no dia 16 de novembro de 498, sua morte foi considerada uma punição divina.

 

51º - São Símaco - 498 - 514

               Papa São Símaco, Sardenha, data de nascimento desconhecida - Roma, 19 de julho de 514. Foi Papa de 22 de novembro de 498 até a data de sua morte. Símaco é venerado como um Santo na Igreja Católica. Ele era nativo de Sardenha e seu pai era chamado Fortunato. Símaco foi batizado em Roma e logo se tornou parte do clero de Roma, sendo ordenado diácono. Imediatamente após a morte do Papa Anastácio II, Símaco foi eleito seu sucessor pela maioria do clero romano em 22 de Novembro de 498. A eleição foi aprovada por uma parte do senado romano e ele foi consagrado Papa.

               Posteriormente uma minoria do clero e do senado, apoiados pelo imperador bizantino Anastácio I Dicoro, reuniram-se na Basílica de Santa Maria Maior e elegeu Lourenço como antipapa. Ambas as partes concordaram que os dois candidatos deviam comparecer à Ravena para que o rei Teodorico, o governante da Itália, decidisse qual de ambos era legítimo, e respeitassem sua decisão. Teodorico se pronunciou a favor de Símaco, baseando-se no fato de que ele foi eleito primeiro e pela maioria do clero, Lourenço se submeteu à decisão. Em um sínodo realizado em Roma, à 1 de Março de 499, Símaco foi universalmente reconhecido, e transferiu Lourenço para a Diocese de Nocera na Campânia. No entanto, o partido do imperador bizantino Anastásio, em 501, apelou para Teodorico contra o Papa, acusando-o de heresia em questões relacionadas à celebração da Páscoa. Teodorico convocou o Papa Símaco em Rimini, lá Símaco refutou o conteúdo da acusação e, se recusou a reconhecer o rei como seu juiz em questões de ortodoxia, retornando para casa. Seus adversários o acusaram de simonia e solicitaram novamente que o rei convocasse um sínodo para investigar as denúncias, nomeando um visitante para ir à Roma. Símaco concordou com a convocação de um sínodo, mas ele e seus adeptos protestaram contra o envio de um visitante. Teodorico no entanto, enviou como visitante o Bispo Pedro de Uso, para Roma e, contrariamente às ordens do rei, tomou partido dos adeptos de Lourenço, de modo que Teodorico posteriormente o demitiu. Em 502, o sínodo reuniu-se na Basílica de Júlio (Santa Maria in Trastevere). O Papa declarou que o sínodo foi convocado com o seu consentimento e que ele estava pronto para responder as acusações, antes disso, o visitante foi removido e o Papa foi restabelecido como o administrador da Igreja. A maioria dos Bispos concordaram com essa decisão e enviaram uma embaixada ao rei exigindo a execução destas condições. Teodorico no entanto, se recusou, e exigiu, em primeiro lugar, uma investigação das acusações contra o Papa. A segunda sessão do sínodo realizou-se em 1 de Setembro de 502, no Basílica Sessoriana (Santa Cruz em Jerusalém). Quando Símaco se dirigiu ao local para se defender ele foi atacado por seus adversários e maltratado, escapando com grande dificuldade, voltou a Basílica de São Pedro; diversos padres que estavam com ele foram mortos ou gravemente feridos. Os godos enviados por Teodorico prometeram-lhe uma escolta de confiança, mas o Papa agora, se recusou a comparecer perante a sínodo, embora tenha sido convidado três vezes. Consequentemente, os Bispos declararam na terceira sessão, realizada em meados de setembro, que eles não poderiam julgar o Papa, porque não havia precedentes que mostrassem que um Papa havia sido submetido ao julgamento de outros Bispos. Eles convidaram o clero de Lourenço para se apresentar ao Papa, e solicitaram ao rei permitir que os Bispos retornassem às suas dioceses. Porém os partidistas de Lourenço exigiram a convocação de uma quarta sessão para por fim a questão definitivamente, que se reuniu em 23 de Outubro de 502; nesta sessão, foi reconhecido que só Deus pode julgar o Papa, que Símaco tinha o direito ao pleno exercício de seu episcopado; e quem não o obedecesse devia ser punido. A decisão foi assinada por setenta e cinco Bispos. Muitos bispos voltaram para suas dioceses, porém alguns, se reuniram com outros padres na Basílica de São Pedro para uma quinta sessão sob a presidência de Símaco em 6 de Novembro de 502 sobre as propriedades da Igreja. Símaco também estabeleceu que ficaria proibido procurar votos para o futuro pontífice e que na falta de regulamentar a sucessão, seria eleito quem tivesse os votos de todo o clero, ou da maioria. Estas medidas foram fundamentais para deixar a disputa sucessória apenas para o clero e acabar com tumultos. Teodorico, não satisfeito com a decisão do sínodo, embora a maioria do episcopado italiano apoiava o legítimo Papa, ordenou que Lourenço fosse novamente para Roma. Ele residia no Palácio de Latrão, sob controle de seus adeptos, enquanto Símaco residia próximo a Basílica de São Pedro. O cisma continuou durante quatro anos, durante os quais ambas as partes, disputaram ferozmente em Roma. Posteriormente Teodorico ficou contra o partido de Lourenço, devido a seu apoio a Constantinopla. Ele ordenou que os senadores reconhecessem Símaco como Papa. Lourenço foi obrigado a sair de Roma, e retirou-se para uma fazenda pertencente ao senador Festo, seu protetor. Apenas uma pequena parte do clero ainda apoiava Lourenço e se recusou a reconhecer Símaco como Papa, posteriormente esta facção reconciliou-se com o Papa Hormisda, sucessor de Símaco.

               Símaco zelosamente defendeu os partidários da ortodoxia durante os distúrbios do cisma acaciano. Ele defendeu, porém sem sucesso, a reconciliação entre católicos e monofisistas em uma carta ao Imperador Anastácio I. Posteriormente, muitos Bispos orientais perseguidos se dirigiram ao Papa com uma confissão de fé. Em uma carta datada de 8 de Outubro de 512, dirigida ao Bispos da Ilíria, o Papa alertou o clero de que sua província que não devia entrar em comunhão com hereges. Logo após o início de seu pontificado, Símaco se interpôs na disputa entre os Arcebispos de Arles e Vienne quanto aos limites das suas respectivas jurisdições. Ele anulou o decreto emitido pelo Papa Anastácio II em favor do Arcebispo de Vienne e em 6 de Novembro de 513 confirmou os direitos do Arcebispo metropolitano Cesário de Arles, como haviam sido definidos pelo Papa Leão I. Além disso, ele concedeu a Cesário o privilégio de usar o pálio. Numa carta de 11 de Junho de 514, nomeou Cesário para representar os interesses da Igreja tanto na Gália quanto na Hispânia e para convocar sínodos. Na cidade de Roma, Símaco construiu a Basílica de Santa Inês na Via Aurélia, adornou a Basílica de São Pedro, e reconstruiu a Basílica dos Santos. Reformou as catacumbas de Jordani na Via Salária. Ele também construiu asilos para os pobres perto das três igrejas de São Pedro, São Paulo, e outros fora das muralhas da cidade. O Papa contribuiu com grandes somas para o apoio dos Bispos na África que foram perseguidos pelos vândalos seguidores do arianismo. Libertou todos os escravos de Roma, também ajudou os moradores das províncias da Itália que sofreram com a invasão dos bárbaros. Após sua morte, ele foi enterrado na Basílica de São Pedro.

 

51 . 1 - São Bento

               São Bento de Núrsia, nascido Benedito da Nórcia (Nórcia, Reino Ostrogótico, c. 480 – Abadia de Monte Cassino, 21 de março de 547) foi um monge, ao qual é atribuída a organização das atividades da vida monástica. A Ordem de São Bento ou Ordem dos Beneditinos, uma das maiores ordens monásticas do mundo, recebe esse nome em homenagem a ele, bem como por seguir a regra proposta por ele. Embora não possa ser declarado fundador da Ordem dos Beneditinos, ele participou da fundação de mosteiros que adotaram essa denominação. Foi o criador da Regra de São Bento, um dos mais importantes e utilizados regulamentos de vida monástica, inspiração de muitas outras comunidades religiosas. Era irmão gêmeo de Santa Escolástica. O Papa Paulo VI designou-o Patrono da Europa em 1964, sendo também Patrono da Alemanha. É venerado não apenas por católicos, como também por ortodoxos e anglicanos. Fundou a Abadia de Monte Cassino, na Itália, destruída durante a Segunda Guerra Mundial e posteriormente restaurada. O calendário católico-romano comemora-o a 11 de julho, data em que se trasladaram suas relíquias para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire. A fonte de todos os acontecimentos da vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório Magno, redigidos por volta de 593, que se baseou em fatos narrados por monges que conheceram pessoalmente São Bento. Segundo o Papa Gregório I, São Bento foi filho de uma família nobre romana da região de Nórcia (próximo à cidade italiana de Espoleto), onde realizou seus primeiros estudos. Mais tarde, foi enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, mas, tendo-se decepcionado com a decadência moral da cidade, abandona logo a capital e retira-se para Enfide (atual Affile), em 500. Ajudado por um abade da região chamado romano, instalou-se em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como eremita. Depois de três anos nesse lugar, dedicando-se à oração e ao sacrifício, foi descoberto por alguns pastores, que divulgaram a fama de santidade. A partir de então, foi visitado constantemente por pessoas que buscavam conselhos e direção espiritual. Foi então eleito abade de um mosteiro em Vicovaro, no centro da península itálica. Por causa do regime de vida exigente, os monges tentaram envenená-lo, mas, no momento em que dava a bênção sobre o alimento, saiu da taça que continha o vinho envenenado uma serpente e o cálice se fez em pedaços. Com isso, São Bento resolve deixar a comunidade retornando à vida solitária. Em 503, recebeu grande quantidade de discípulos e fundou doze pequenos mosteiros. Em 529, por causa da inveja do Sacerdote Florêncio, tem de se mudar para Monte Cassino, onde fundou o mosteiro que viria a ser o fundamento da expansão da Ordem Beneditina. É nesse episódio que Florêncio lhe enviou de presente um pão envenenado, mas Bento deu o pão a um corvo que todos os dias vinha comer de suas mãos e ordenou à ave que o levasse para longe, onde não pudesse ser encontrado. Durante a saída de Bento para Monte Cassino, Florêncio, sentindo-se vitorioso, saiu ao terraço de sua casa para ver a partida do monge. Entretanto, o terraço ruiu e Florêncio morreu. Um dos discípulos de Bento, Mauro, foi pedir ao mestre que retornasse, pois o inimigo havia morrido, mas Bento chorou pela morte de seu inimigo e também pela alegria de seu discípulo, a quem impôs uma penitência por regozijar-se pela morte do Sacerdote. Em 534, começou a escrever a Regula Monasteriorum (Regra dos Mosteiros). Morre em 21 de março de 547, tendo antes anunciado a alguns monges que iria morrer e seis dias antes mandado abrir sua sepultura. Sua irmã gêmea Escolástica havia falecido em 10 de fevereiro do mesmo ano. As representações de São Bento geralmente mostram, junto com o Santo, o livro da Regra, um cálice quebrado e um corvo com um pão na boca, em memória ao pão envenenado que recebeu do Sacerdote invejoso. As relíquias de São Bento estão conservadas na cripta da Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire (Fleury), próximo a Orleães e Germigny-des-Prés, no centro da França. De acordo com a tradição, Bento de Núrsia foi santificado por ter vencido duas ciladas armadas pelo Diabo, nas quais lhe é oferecido um cálice de vinho envenenado e um pedaço de pão, também envenenado. Além disso, em muitas vezes fora tentado efetivamente pelo Diabo, além de ser ofendido e insultado de tal maneira que os irmãos de hábito que estavam ao seu redor podiam escutar as ofensas que ele recebia. O Santo Varão, como também é chamado, vencia o tentador utilizando-se do sinal da cruz e da oração contida na Cruz Medalha que fora esculpida nas paredes de um mosteiro.

               A Regra de São Bento: A Regula Monasteriorum, também denominada Regula Monachorum, é composta por um prólogo e 73 capítulos. É possível que ela não seja inteiramente composta por Bento, mas criada por ele valendo-se de uma regra mais antiga, Regula Magistri, composta por autor desconhecido, na mesma região da Itália, trinta anos antes da composição da Regra de São Bento. Dom Basilius Steidle propôs as seguintes divisões temáticas para Regra de São Bentoː Estrutura fundamental do mosteiro, A arte espiritual, Oração comum, Organização interna do mosteiro, O mosteiro e suas relações com o mundo, A renovação da comunidade monástica, Porta do Mosteiro e Clausura, Acréscimos e complementos. Bento de Aniane retomou a regra no século IX, antes das invasões normandas. Ele a estudou e codificou, dando origem a sua expansão por toda Europa carolíngia, ainda que tenha sido adaptada diversas vezes, conforme diversos costumes. Posteriormente, através da Ordem de Cluny e da centralização de todos os mosteiros que utilizavam a regra, ela foi adquirindo grande importância na vida religiosa europeia durante a Idade Média. No século XI, surgiu a reforma da Ordem de Cister, que buscava recuperar um regime beneditino mais de acordo com a regra primitiva. Outras reformas (como a camaldulense, a olivetana ou a silvestriana), buscaram também dar ênfase a diferentes aspectos da Regra de São Bento. Apesar dos diferentes momentos históricos, nos quais a disciplina, as perseguições ou as agitações políticas causaram uma certa decadência da prática da Regra de São Bento, e mesmo da população monástica, os mosteiros beneditinos conseguiram manter, durante todos os tempos, um grande número de religiosos e religiosas. Atualmente, perto de 700 mosteiros masculinos e 900 mosteiros e casas religiosas femininas, espalhados pelos cinco continentes, seguem a Regra de São Bento. Inclusive algumas comunidades de confissões luterana, anglicana e metodista.

A Cruz-Medalha de São Bento

               A origem da Cruz-Medalha de São Bento é incerta, sabe-se que ela foi redescoberta em 1647, em Nattremberg, na Baviera, por ocasião da condenação de algumas bruxas, que afirmaram não conseguir praticar qualquer tipo de feitiçaria ou encanto contra lugares em que houvesse a imagem da Cruz, em especial, a abadia de São Miguel em Metten. Intrigados com o fato, as autoridades foram averiguar o que existia no mosteiro. Ao entrarem em uma das dependências, observaram entalhadas nas paredes imagens da cruz tal como estão representadas nas medalhas utilizadas hoje. Na biblioteca dessa mesma abadia, encontraram um manuscrito do ano de 1415, o qual continha, além de textos, ilustrações, sendo uma delas a de São Bento, com uma cruz e uma flâmula, com os versos da medalha: Crux sacra sit mihi lux, non draco sit mihi dux. Vade retro satana, nunquam suade mihi vana. Sunt mala quae libas, ipse venena bibas. Por esse motivo, estima-se que a origem da imagem da medalha situa-se no século XV.

               A medalha, com algumas variações, possui na frente a imagem de São Bento, vestindo o traje monástico - chamado cógula - trazendo na mão direita uma cruz e na mão esquerda uma flâmula ou livro aberto, que representa a Regra. No verso, há uma imagem da cruz. Ambas as faces trazem inscrições em latim, seja apenas letras ou em palavras, a saber:

Na frente da medalha: Eius in obitu nostro praesentia muniamur' = "Sejamos protegidos pela sua presença na hora da nossa morte".

No verso: C S P B: Crux Sancti Patris Benedicti - Cruz do Santo Pai Bento.

C S S M L: Crux Sacra Sit Mihi Lux - Que a Cruz sagrada seja a minha luz.

N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux - Não seja o Dragão o meu guia.

V R S: Vade retro, satana! - Retira-te, Satanás!

N S M V: Nunquam Suade Mihi Vana - Nunca me aconselhes coisas vãs,

S M Q L: Sunt Mala Quae Libas - É mau o que me ofereces:

I V B: Ipse Venena Bibas - Bebe tu mesmo os teus venenos.

               Essa oração, acrescida da jaculatória "Rogai por nós bem aventurado São Bento, para que sejamos dignos das promessas de Cristo", se tornou uma fórmula de oração a São Bento. Em 1742, o Papa Bento XIV aprovou a medalha, concedendo indulgências a quem a usar e estabelecendo a oração do verso da medalha como uma forma de exorcismo, que se tornou conhecida como Vade retro Satana. Atualmente existe uma forma comum da medalha, conhecida como Medalha do Jubileu, cunhada em 1880 por ocasião do XIV Centenário do nascimento de São Bento, pelos monges de Beuron para a Abadia de Monte Cassino. Essa medalha acrescenta a palavra pax - paz - no alto da cruz e aos pés de São Bento os dizeres Ex S.M. Casino MDCCCLXXX - Do Santo Monte Casino - 1880.

 

52º - São Hormisdas - 514 - 523

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Frosinone, Itália, eleito em 20 de setembro de 514, como sucessor de São Símaco de quem fora diácono, cujo pontificado ocorreu a reconciliação entre a Igreja do Oriente e a do Ocidente, sem dúvida, seu grande feito. Eleito Papa cuidou de enfrentar a grave situação em que estava envolvida a Igreja de sua época, o cisma laurenciano, herdado de seu antecessor e provocado pelo antipapa Lourenço (498-515). Após a retratação dos seguidores de Lourenço, reintegrou-os em sua função e cuidou, em seguida, da conciliação do cisma mais grave, o acaciano, criado por Acácio, patriarca de Constantinopla, que separava a Igreja do Oriente de Roma, cujos seguidores aceitavam os concílios de Nicéia e de Constantinopla, mas se negavam ao de Calcedônia. As negociações entre o Papa e o Imperador do Oriente, Anastácio, fracassaram; e um acordo só foi possível com o imperador sucessor, Justino, e o Patriarca João, que aceitou e subscreveu a Fórmula de fé de Hormisdas ou Formula Hormisdae (519). Reorganizou a Igreja da Espanha após a invasão dos visigodos e estabeleceu que os cargos de Bispo não podiam ser comprados com privilégios ou donativos. Morreu em 6 de agosto de 523, em Roma. Casado, antes de ser ordenado presbítero, seu filho Silvério seria eleito Papa. Foi no seu Pontificado que São Bento fundou a Ordem dos Beneditinos e construiu a célebre abadia de Monte Casino, destruída por um bombardeio em 1944.

 

53º - São João I - 523 - 526

               João nasceu em Túsculo, uma província da Itália. Foi eleito sucessor do Papa Hormisda, em 523, e costuma ser identificado como João Diácono, autor da epístola "Ad senartun", importante para a história da liturgia batismal. É reconhecido também pela autoria de "A fé católica", transmitida pelos antigos, entre as obras do filósofo e mártir São Severino Boécio, cujo trabalho exerceu grande influência sobre São Tomás de Aquino. Vejamos qual foi a situação herdada pelo Papa João I. O Papa Hormisda e o Imperador Justino tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla, que se iniciara em 484, com o então imperador Zenon, por meio do que parecia impossível: um acordo entre católicos e arianos. Com esse esquema obtivera bons resultados políticos, pois os godos eram arianos. Porém, no final de 524, o Imperador Justino publicou um decreto ordenando o fechamento das igrejas arianas de Constantinopla e a exclusão dos arianos de toda a função civil e militar. Roma era, então, governada pelo imperador Teodorico, o Grande, o rei dos bárbaros arianos que tinham invadido a Itália. Ele obrigou o Papa João I a viajar a Constantinopla para solicitar ao imperador Justino a revogação daquele decreto. Apesar de o imperador Justino ter-se ajoelhado perante o primeiro sumo pontífice a pisar em Constantinopla, ele não conseguiu demovê-lo da perseguição aos arianos. A solicitação foi atendida apenas em parte, pois o Imperador concordou em devolver as igrejas confiscadas aos arianos, mas manteve o impedimento de os arianos convertidos ao catolicismo poderem retornar ao arianismo. Com o fracasso de sua missão, o Papa João I despertou a ira do imperador Teodorico. Assim, quando colocou os pés em Roma, foi detido e aprisionado em Ravena, onde morreu em 18 de maio de 526. Foi então declarado mártir da Igreja.

ANNO DOMINI – NO ANO DO SENHOR

               Dionysius Exiguus ou Dionísio Exíguo, o Menor, o Pequeno ou ainda o Humilde, Monge, matemático, astrônomo e historiador grego nascido na Cítia Menor, hoje a região de Dobruja, Romênia, que propôs em 525 o denominado Calendário Cristão para pôr fim à desordem dos diversos sistemas de contagem cronológica então empregados. Pelos seus altos conhecimentos em matemática e em astronomia, foi convidado pela Santa Sé católica e passou a viver em Roma a partir dos seus 30 anos, tornando-se um dos sábios da Cúria Vaticana. Traduziu do grego para o latim 401 cânones eclesiásticos, incluindo os apostólicos e os decretos do Concílio de Nicéia, do Primeiro Concílio de Constantinopla e dos Concílios de Calcedônia e de Sardes. Também traduziu para latim uma coleção de decretos Apostólicos papais referentes aos pontificados de origem grega, de Sirício a Anastácio II, de extrema importância para a estruturação doutrinária das igrejas ocidentais. Foi convidado pelo Papa João para compilar a tabela para as futuras datas da Páscoa. Naquele tempo a data era calculada com base no Calendário juliano e a contagem era feita a partir do início do reino do Imperador romano Diocleciano um feroz perseguidor dos cristãos. Por causa disso o monge procurou não continuar reverenciando a memória do terrível perseguidor e, assim, propôs uma contagem dos anos a partir do nascimento de Jesus Cristo, e apresentou o seu Liber de Paschate em 525, introduzindo a contagem: Antes de Cristo e Depois de Cristo. Criou, então, um notável conjunto de tabelas para calcular a data da Páscoa e introduziu o conceito de Anno Domini e a contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo. Assim o Calendário cristão tomava como base o calendário juliano e tendo o nascimento de Jesus Cristo como ano 1 do século I e os períodos e acontecimentos anteriores a isso passaram a ser datados com a sigla a. C. e d. C.

 

54º - São Félix IV - 526 - 530

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Sâmnio, Benevento, no sul da Itália, nomeado arbitrariamente pelo rei godo Teodorico como sucessor de São João I, que no entanto, demonstrou tal lealdade à Igreja que o rei ostrogodo o repudiou. Também chamado de Félix IV na lista de Papas que inclui ilegítimos, foi designado para o trono pontifício por Teodorico, mas teve sua consagração ratificada por Bispos. Teodorico havia prometido aos hereges arianos todas as igrejas católicas de Ravena, porém o rei godo faleceu repentinamente e Amalasunta, a rainha regente, reinou mantendo boas relações com Roma. Enquanto desfrutava de prestígio na corte dos godos, conseguiu transformar dois templos pagãos adjacentes na igreja de S. Cosme e S. Damião. Durante seu pontificado se difundiu na Itália o monacato, ou seja, a vida conventual como monge ou monja, e conseguiu que os cristãos tivessem liberdade de culto. Também foi durante seu pontificado que São Bento de Núrsia construiu a famosa abadia em Monte Cassino em 528. Da Ordem Beneditina viriam mais de 20 Papas. Condenou o semipelagianismo em uma carta a São Cesáreo de Arlés, que o Concílio de Orange (529) converteu em cânones. O pelagianismo ou doutrina de Pelágio (séc. V), heresiarca inglês, negava o pecado original e a corrupção da natureza humana e, consequentemente, a necessidade do batismo. A beira da morte, São Félix pediu ao clero que elegesse o Arquediácono Bonifácio para sucedê-lo, tornando-se na tradição pontifícia o primeiro a designar o próprio sucessor. O Papa veio a falecer no dia 12 de setembro de 530.

 

55º - Bonifácio II - 530 – 532

               Eleito em 17 de setembro de 530; morreu em outubro de 532. Ao chamá-lo de filho de Sigisbaldo, o Liber Pontificalis faz a primeira menção da ancestralidade germânica do Papa. Bonifácio serviu a Igreja Romana desde a juventude. Durante o reinado do Papa Felix IV, ele foi Arquidiácono e personagem de considerável influência junto às autoridades eclesiásticas e civis. Sua elevação ao papado é notável, pois oferece um exemplo inquestionável da nomeação de um Papa por seu predecessor, mesmo sem a formalidade de uma eleição. Félix IV, tendo apreensão pela morte e temendo uma disputa pelo papado entre facções romanas e góticas, reuniu em torno dele vários de seus clérigos e vários senadores romanos e patrícios que por acaso estavam por perto. Na presença deles, ele solenemente conferiu ao seu antigo Arquidiácono o pálio da soberania papal, proclamando-o seu sucessor e ameaçando com excomunhão aqueles que se recusavam a reconhecer e obedecer a Bonifácio como Papa validamente escolhido. Na morte de Felix, Bonifácio assumiu a sucessão, mas quase todos os sacerdotes romanos, sessenta de talvez cerca de setenta, recusaram-se a aceitá-lo e elegeram Dioscoro. Eles temiam a influência indevida nos assuntos papais no rei ostrogodo Atalarico, cujo avô, Teodorico I, ajudara a eleger o Papa Felix IV, uma circunstância que tornava mais odiosa a nomeação de Bonifácio. Ambos os Papas foram consagrados em 22 de setembro de 530, Bonifácio na Basílica de Júlio e Dióscoro em Latrão. A Igreja Romana estava assim envolvida no sétimo cisma antipapal. Felizmente durou apenas vinte e dois dias, pois Dioscoro morreu em 14 de outubro, deixando Bonifácio de posse. Ele logo convocou um sínodo romano e apresentou um decreto anatematizando seu último rival, ao qual ele garantiu as assinaturas dos Sacerdotes que haviam sido partidários de Dióscoro (dezembro de 530). Cada um deles lamentou sua participação na eleição irregular e prometeu obediência futura. Bonifácio reconciliou muitos por sua administração suave e conciliatória; mas algum ressentimento permaneceu, pois ele parece não ter tido oferecido uma eleição formal por aqueles que, apesar de sua submissão, impugnaram validamente sua nomeação; e cinco anos depois um Papa da escolha deles solenemente queimou o anátema contra Dióscoro. Em um segundo sínodo, realizado em São Pedro (531), Bonifácio apresentou uma constituição atribuindo a si o direito de nomear seu sucessor. O clero romano assinou e prometeu obediência. Bonifácio propôs como sua escolha o diácono Virgílio e foi ratificado por sacerdotes e povo. Esta promulgação provocou um ressentimento amargo e até mesmo uma inimizade imperial, pois no terceiro sínodo em 631, foi revogada. Bonifácio queimou a constituição perante o clero e o senado e anulou a nomeação de Virgílio. O reinado de Bonifácio foi marcado por seu interesse ativo em diversos assuntos da Igreja Ocidental e Oriental. No início de seu pontificado, ele confirmou as atas do Segundo Concílio de Orange, um dos mais importantes do século VI, que efetivamente acabou com as controvérsias semipelagianas. O seu presidente, Cesário, Arcebispo de Arles, amigo íntimo de Bonifácio, enviara, antes da sucessão deste último, um Sacerdote Armênio a Roma para pedir a Bonifácio que assegurasse a confirmação do concílio pelo Papa. Sendo ele mesmo Papa quando o mensageiro chegou, Bonifácio enviou uma carta de confirmação a Cesario (25 de janeiro de 531), na qual ele condenava certas doutrinas semipelagianas. Ele recebeu um apelo dos Bispos africanos, que estavam trabalhando na reorganização de sua igreja após a devastação dos vândalos, pedindo-lhe para confirmar em direitos primais ao Arcebispo de Cartago, que este último poderia ser mais capaz de lucrar com a ajuda da Sé Romana. No Oriente, ele afirmou os direitos do Papa à jurisdição em Ilírico. Em 531, Epifânio, Patriarca de Constantinopla, declarou irregular a eleição de Estêvão para o Arcebispado de Larissa, na Tessália. Apesar das severas pressões tomadas em Constantinopla para frustrar seu propósito, Estêvão apelou a Roma, alegando que Epifânio não era competente para decidir o caso, mantendo seu ponto em termos que revelam uma clara concepção da Primazia Romana. Bonifácio convocou um quarto sínodo romano de 7 a 9 de dezembro de 531, no qual foram apresentados cerca de vinte e cinco documentos em apoio à reivindicação de Roma de jurisdição na Ilíria. O resultado do sínodo não é conhecido. Bonifácio foi estimado por sua caridade, particularmente em relação aos sofredores pobres de Roma durante um ano de fome. Ele foi enterrado com São Pedro, em 17 de outubro de 532, onde um fragmento de seu epitáfio ainda pode ser visto.

 

56º - João II - 533 - 535  

               No dia 2 de janeiro de 533, foi eleito ao pontificado “um candidato de consenso”, Mercúrio, um velho sacerdote da Basílica de São Clemente em Latrão; visto que se chamava Mercúrio, ou seja, o nome de uma divindade pagã, mudou seu nome para João, assumindo o nome do seu predecessor, Papa João I. Foi, de fato, o primeiro Papa a mudar o nome, que se tornou costume a partir de Gregório V (996-999). Papa João II tinha bons relacionamentos tanto com o ostrogodo rei da Itália, Atalarico (526-534), quanto com o imperador do Oriente Justiniano (527-565). E é exatamente à relação entre o Papa João II e o imperador Justiniano que está ligado o episódio mais significativo deste pontificado. Um decreto de Justiniano reconhecia a doutrina dos primeiros quatro concílios universais: o primeiro Concílio de Niceia (325), o primeiro Concílio de Constantinopla (381), o Concílio de Éfeso (431) e o Concílio da Calcedônia (451). Mas, o decreto incluía uma fórmula dogmática suscetível a interpretações, que, por exemplo, o Papa Hormisda havia recusado: “Um da Trindade sofreu na carne”. Para Justiniano o reconhecimento pontifício da fórmula interessava particularmente para conquistar para si, para a Igreja, mas sobretudo para a unidade do Império, os seguidores de uma doutrina muito difundida no Oriente, o monofisismo. Tal doutrina se opunha ao Concílio da Calcedônia, afirmando que Cristo tinha apenas uma natureza, enquanto que para o concílio havia duas naturezas em Cristo. Os monges orientais Acêmetes – do grego akoìmetos, insones – de Constantinopla, grandes apoiadores da ortodoxia calcedonesa recorreram ao Papa contra a fórmula dogmática. João II tentou convencê-los a abandonarem a própria posição, mas, diante de sua recusa, os excomungou. O Papa escreveu ao imperador declarando ortodoxo o seu decreto. E Justiniano ficou muito feliz, inserindo no próprio Codex tanto a sua carta como a resposta do Papa. João II morreu no dia 8 de maio de 535.

 

57º - Santo Agapito I - 535 - 536

               O Bispo eleito para suceder o Pontífice João II, na cidade de Roma, foi Agapito I, que se consagrou no dia 13 de maio de 535. O seu pontificado durou apenas onze meses e dezoito dias. Nesse tão curto período do seu governo, o Papa Agapito I elevou as finanças da Igreja; tomou decisões doutrinais importantes para a correta compreensão dos fundamentos do cristianismo e lutou com energia pela defesa da fé e dos bons costumes. Ele mandou queimar as bulas de Bonifácio II, condenatórias das doutrinas de Dióscoro, e negou aos hereges re-convertidos que conservassem seus cargos e benefícios, como pretendia o imperador Justiniano. Enfim, foi um Papa zeloso e defensor da tradição católica. Também proibiu que os Bispos das Gálias, atuais França e Espanha, vendessem os bens de suas igrejas, até mesmo em caso de extrema necessidade. Excomungou Antimo, o Patriarca de Constantinopla, que havia alcançado o Patriarcado graças às intrigas da imperatriz Teodora, e nomeou em seu lugar Mena, um Bispo católico, homem de fé e saber. Como revelou o próprio Papa Agapito I, numa carta a Pedro, Bispo de Jerusalém; era a primeira vez, desde os tempos apostólicos, que uma Igreja Oriental recebia como Patriarca um Bispo consagrado pelo Papa. Fundou, em Roma, uma academia de Belas Letras e várias escolas para adultos e crianças pobres, e distinguiu-se por sua inesgotável caridade. Por fim, o Papa Agapito I viajou para Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, na qualidade de embaixador do rei, na esperança, logo tornada desilusão, de fazer cessar a desastrosa guerra greco-gótica da Itália, estourada em 535. Porém quase foi condenado ao exílio pelo imperador Justiniano, decidindo voltar para Roma. Ocorreu, entretanto, que o Papa Agapito I foi acometido por uma grave enfermidade, morrendo logo em seguida, no dia 22 de abril de 536. Seu funeral foi tal como nunca se vira em Constantinopla, tanto para um Bispo quanto para um imperador. O corpo de Santo Agapito I, Papa e confessor, foi transladado para o Vaticano e enterrado no dia 17 de setembro do mesmo ano, no pátio da catedral de São Pedro, em Roma. A santidade do Papa Agapito I sempre foi muito lembrada pelos escritos de São Gregório Magno. Ele que é reverenciado pela Igreja no dia 28 de abril, como consta do Martirológio Romano.

 

58º - São Silvério - 536 - 537

               Silvério nasceu em Frosinone, na Campânia, Itália. Era filho do Papa Hormisdas, que fora casado antes de entrar para o ministério da Igreja. Entretanto, ao contrário do que se encontra em alguns escritos, ele não foi sucessor do seu próprio pai. Antes de Silvério assumir, e depois do seu pai, outros ocuparam o trono de Pedro. Em períodos variados, não ultrapassando dois anos cada um; foram os Papas: João I, Félix III, Bonifácio II, o antipapa Dióscoro da Alexandria, João II e Agapito I. Embora fosse apenas subdiácono quando assumiu o trono de Pedro, ele foi um dos mais valentes defensores do cristianismo, pois enfrentou a imperatriz Teodora.

               O conflito com a imperatriz começou quando ela enviou uma carta a ele ordenando que aceitasse, em Roma, Bispos heréticos, entre eles Antimo. Respondendo com veemência que não obedeceria de forma alguma, foi preso. Tiraram-lhe as vestes Papais, e, vestido como um simples monge, foi deportado para Patara, na Ásia. Enquanto isso, assumia o governo da Igreja o antipapa Virgílio, que foi colocado em seu lugar porque aceitou a imposição da imperatriz de receber em Roma os tais Bispos heréticos recusados por Silvério. Esse, por sua vez, pouco depois foi enviado a Lícia. Mas, como era um religioso muito popular, foi recebido com honras inesperadas pelos monarcas romanos da região. Revoltado com a deposição de Silvério, o Bispo de Lícia resolveu falar diretamente com o imperador Justiniano. Foi nesse encontro que proferiu as palavras que ficariam gravadas na história e seriam repetidas pelos séculos seguintes: "Existem muitos reis neste mundo, mas apenas um Papa em todo o universo". Tocado pelas palavras do religioso, o imperador determinou a volta do Papa Silvério a Roma. Mas Teodora continuou com suas armações e, pouco tempo depois, ele era enviado à ilha de Palmaria, Ponza, onde sofreu um exílio mais rigoroso que o primeiro. Novamente, recebeu ordem de Justiniano para voltar a Roma. Contudo o Papa preferiu terminar no cisma que surgira, abdicando no dia 11 de novembro de 537. Consumido pelas chagas e pela fome, morreu pouco depois, no dia 2 de dezembro do mesmo ano. Seu corpo, ao contrário dos outros Papas que morreram no exílio, não retornou para Roma, permaneceu naquela ilha, onde sua sepultura se tornou local de muitas graças e meta de peregrinação. O Santo Papa Silvério é venerado no dias de sua morte.

 

59º – Vigílio - 537 - 555

               Membro duma ilustre família romana, sendo o seu pai, o oficial João, referido no Livro dos Pontífices como cônsul, tendo recebido o título do imperador. Reparato, irmão de Vigílio, era senador. Vigílio entrou ao serviço da Igreja de Roma em 531 como diácono, ano em que a Igreja concordou com um decreto, habilitar o Papa a escolher o seu sucessor. Vigílio foi escolhido por Bonifácio II como seu sucessor. Mas a oposição a este procedimento obrigou Bonifácio, no ano seguinte a retirar a sua designação e queimar o decreto. O segundo sucessor de Bonifácio, o Papa Agapito I (535–536), nomeou Vigílio como representante papal em Constantinopla. Nesta cidade a imperatriz Teodora tentou conquistá-lo como seu aliado para se vingar da deposição, por Agapito I, do Patriarca constantinopolitano que defendia o monofisismo. Vigílio parece ter concordado com os planos da imperatriz, que prometera fazer dele Papa e uma grande soma de dinheiro. Após a morte de Agapito, a 22 de Abril de 536, Vigílio regressou a Roma com cartas da corte imperial e com o dinheiro. Entretanto em Roma, Silvério tinha sido eleito Papa, pela influência do rei ostrogótico Teodato. Pouco depois, o general bizantino Belisário entra em Roma e Vigílio, ao voltar, entrega-lhe as cartas que trouxera de Constantinopla. Belisário acaba por depor Silvério, e exilado, tenta voltar a Roma, mas é novamente exilado e acaba por morrer na ilha de Ponza, após o que Vigílio foi reconhecido como Papa por todo o clero romano. Mas com Vigílio os planos de Teodora saíram frustrados, pois ele manteve a posição do papado contra o monofisismo. De acordo com o Livro dos Pontífices, a 20 de Novembro, enquanto o Papa celebrava missa em honra de Santa Cecília na igreja que leva o nome desta santa em Trastevere, antes da missa acabar, Vigílio foi intimado por oficiais imperiais a viajar imediatamente para Constantinopla. O Papa foi levado para um barco ancorado no Tibre, enquanto a população o amaldiçoava e atirava pedras contra o barco. Roma estava outra vez cercada pelos ostrogodos chefiados por Tótila e a população vivia na maior das misérias. Vigílio tentou enviar navios carregados de trigo a Roma, mas foram capturados pelo inimigo. O Papa teria deixado Roma provavelmente a 22 de novembro de 545. Permaneceu longo tempo na Sicília e só chega a Constantinopla em Janeiro de 547. O seu pontificado foi agitado pela luta dos Três Capítulos. O imperador Justiniano (r. 527–565) chamou-o a Constantinopla, pressionando-o a ordenar os Três Capítulos (mais tarde suspensos pela reação no ocidente). Justiniano convocou um sínodo em 553 contra a vontade do Papa. Perante o seu protesto, Vigílio é exilado. Depois de oito anos na capital imperial, o Papa conseguiu um entendimento com o imperador e começou a viagem de regresso a Roma na primavera de 555. Morreu em Siracusa, na Sicília, sendo o seu corpo levado para Roma e enterrado na Basílica de S. Silvestre sobre a Catacumba de Priscila, na Via Salária. O Império Bizantino, que na verdade era uma divisão do Império Romano do Oriente, toma posse da Itália com sua força governamental autoritária, prejudicando grandemente o bom andamento do cristianismo do Ocidente.

 

60º – Pelágio - 556 - 561

               Foi eleito em 16 de Abril de 556 e morreu em 4 de Março de 561. Nascido em Roma, cerca do ano 500, era filho do governador de um distrito de Roma. A primeira referência que temos de Pelágio é de 536, quando se encontrava em Constantinopla - provavelmente para o sínodo contra Severo de Antioquia e seus aliados - na companhia do Papa Agapito I, que o nomeou Núncio apostólico da Igreja de Roma naquela cidade. E tudo leva a crer que conseguiu ter uma grande influência sobre o imperador. Em 543, depois de ter conseguido a condenação do Origenismo, regressa a Roma. Em novembro de 545, quando o Papa Vigílio foi obrigado pelo imperador ir a Constantinopla, deixou Pelágio em Roma como seu representante. Eram tempos difíceis na Itália e particularmente para a cidade de Roma, cercada por Tótila, rei dos ostrogodos. Pelágio distribuiu a sua fortuna privada em benefício das vítimas da fome e esforçou-se para conseguir uma trégua junto do rei. Embora tenha falhado, conseguiu que Tótila poupasse a vida dos romanos quando tomou a cidade em dezembro de 546. Tótila se admirou com Pelágio que o enviou a Constantinopla com o fim de conseguir a paz com Justiniano, mas o imperador mandou-o de volta, dizendo que era Belisário quem detinha o comando em Itália e, portanto, quem decidia sobre questões de guerra e paz. Em 551, Pelágio está em Constantinopla para apoiar o Papa Vigílio, infamemente tratado pelo imperador por causa da Controvérsia dos Três Capítulos. Mas acaba por se afastar do Papa, uma atitude que os seus opositores viram como uma tentativa de voltar a cair nas boas graças do imperador, pouco antes de abandonar Constantinopla, com Vigilio, em 555. Alguns opositores de Pelágio consideram-no responsável pela morte de Vigílio, mas só a 16 de Abril de 556, quase um ano depois, Pelágio é eleito seu sucessor. Isto porque parece ter tido dificuldades em encontrar Bispos que o consagrassem. Oposto ao origenismo, foi designado Papa por imposição do imperador Justiniano I (nessa época, a Itália era uma província do Império Bizantino) após aceitar a condenação dos Três Capítulos, que havia defendido nos tempos do Papa Vigílio. Por este motivo teve que superar uma forte oposição do clero romano, que duvidava da sua ortodoxia. Mandou construir a Basílica dos Doze Santos Apóstolos em Roma, distribuiu seus bens entre os pobres, quando Roma foi assolada pela fome, mostrando-se muito caridoso. Morreu em 4 de Março de 561 e foi sepultado na Basílica de S. Pedro.

 

61º - João III - 561 - 574

               Não se sabe a data de seu nascimento, mas ele morreu em 13 de julho de 574 em Roma, Itália, e sepultado na Basílica de São Pedro. Era romano de nascimento, e tornara-se Papa em julho de 561. Foi durante o seu pontificado que os Lombardos invadiram a Itália por repetidas vezes. Mudou o seu nome Catelino para João. Papa italiano, pertencia a uma importante família romana e era filho do procurador Anastásio, com nome de batismo Catelinus. Foi Papa de 17 de julho de 561 a 13 de julho de 574. Fez com que a igreja de Nápoles se submetesse ao poder de Roma, assim como o restabelecimento das relações com as igrejas de África, que se tinham afastado depois da excomunhão do Papa Vigílio. Organizou o monaquismo, existente no Ocidente desde o século IV, tendo São Bento de Núrsia compilado as normas de vivência destas comunidades numa regra. Para a organização destas comunidades tinham-se traduzido também os Ditos dos Anciãos e a Exposição do Heptateuco. A aproximação dos lombardos fez com que o Papa rogasse ao rei Narsés que estabelecesse a sua residência em Roma, para melhor proteger a cidade. Contudo, o povo de Roma não aceitou de bom grado a medida e o Papa teve de se mudar da Basílica de São João de Latrão para a basílica dos Santos Tiburtino e Valeriano, com o intuito de acalmar a fúria popular e melhor se defender em caso de perigo. Embora seu pontificado tenha durado cerca de 13 anos, todos os registros do seu pontificado foram destruídos pelos longobardos, que invadiram Roma. Fugiu dos violentos invasores para as catacumbas de Praetextatus onde ele permaneceu durante muitos meses e salvou a Itália da barbárie, chamando junto a ele todos os italianos, a fim de que se defendessem contra a crueldade dos invasores, período em que por causa das invasões longobardas, a Sé Apostólica ficou sem Papa durante 11 meses, com Roma sitiada e a fome e a desolação assolando-a.

 

62º - Bento I - 575 - 579 

               Papa Bento I, foi Papa da Igreja Católica de 2 de junho de 575 a 30 de julho de 579. Eleito Papa após quase um ano de vacância devido à ocupação de Roma pelos Lombardos. Bento I tentou restabelecer a ordem na Itália e na França, conturbadas pelas invasões bárbaras e ensanguentadas por discórdias internas. Em seu tempo a guerra trouxe a praga da fome, houve tão grande miséria, que muitas fortalezas se renderam aos implacáveis bárbaros, só para haverem um pouco de alimento. Deus teve pena de tanta calamidade e o Imperador Justino II fez mandar do Egito muitos navios carregados de trigo. No campo religiosos confirmou o V Concílio Constantinoplano de 533, como consta de uma carta de Gregório, por ele nomeado Arcediago e que foi mais tarde o Papa Gregório Magno. Nessas aflições morreu o venerado pontífice, que foi sepultado na sacristia da Basílica de São Pedro. Sua fé superou os temores e foi um pilar de inspiração aos fiéis cristãos no meio de provações.

 

63º - Pelágio II - 579 - 590

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Roma, eleito Pontífice em 26 de novembro de 579, como sucessor de Benedito I, e que reinou nos anos imediatamente posteriores à invasão Longobarda. De origem gótica, diante da insegurança que a Santa Sé sentia frente aos novos dominadores da península, buscou apoio tanto no Reino Franco (580) como à Constantinopla (584), por meio do diácono Gregório. E tinha razão: em seu pontificado, os lombardos destruíram a abadia de Monte Cassino e, em Roma, foram construídos os alicerces de San Lorenzo fuori le Mura. Sem a ajuda bizantina, juntou-se aos francos e mandou trazer do norte da Itália os hereges de volta a Roma. Além do desagradável assédio lombardo, também não conseguiu resultados concretos, para pôr fim ao cisma de Aquiléia que se iniciara durante o pontificado de Pelágio I a mais de 25 anos. Com a ajuda de Gregório, lançou o celibato entre o clero e ordenou que cada dia os Sacerdotes rezassem o Ofício Divino. Transformou sua casa num hospital e adornou a Basílica de São Pedro com o próprio dinheiro. Vítima de uma epidemia, morreu em Roma, sepultado na Basílica de São Pedro.

 

64º - São Gregório I - 590 - 604  

               Nascido em Roma no ano 540, Gregório era proveniente de uma família tradicional aristocrática da cidade. Seu pai chamava-se Gordiaus e sua mãe chamava-se Santa Sílvia. Quando jovem, Gregório chegou a investir na carreira política e ocupou, inclusive, o cargo de prefeito de Roma. Após seu cargo político-administrativo, Gregório foi influenciado pelos escritos e a personalidade de São Bento. Resolveu então, assumir a vida religiosa e ingressou em um mosteiro por volta de 575. Como homem religioso, foi tão dedicado que converteu sua casa no mosteiro de Santo André, além de fundar outros seis nas terras que sua família possuía na Sicília. Antes de tornar-se Papa, Gregório foi apocrisiário em Constantinopla, um cargo religioso que equivale atualmente ao de embaixador ou núncio apostólico. Outros religiosos que desenvolveram a mesma função em Constantinopla também chegariam ao Supremo Pontificado, como foi o caso dos Papas Sabiniano, Bonifácio III e Martinho I. Com a morte do Papa Pelágio II, o Conclave se reuniu e elegeu Gregório para ser o novo líder da Igreja, no dia 3 de setembro de 590. O Papa Gregório I foi o responsável por enviar os primeiros missionários com a missão de converter os anglo-saxões ao cristianismo. Um grupo de quarenta monges beneditinos se dirigiu às Ilhas Britânicas em uma missão que recebeu o nome de Missão Gregoriana. Seu nome também ficou popularmente reconhecido por difundir um tipo de música que se identificou muito com a Igreja, o canto gregoriano. Gregório I foi muito ativo como Supremo Pontífice e produziu uma extensa obra escrita, contando com sermões e comentários sobre a Bíblia. Um de seus atos mais famosos foi a compilação dos sete pecados capitais, fazendo sua adaptação para o Ocidente. Politicamente, Gregório enfrentou um problema com o Patriarca de Constantinopla que se declarava acima de todos os Bispos do mundo. O Papa respondeu se intitulando Servo dos Servos de Deus, o qual é utilizado pelos Papas até hoje. Sua determinação em defender a Igreja rendeu-lhe um tratamento de respeito: Magno. É considerado também Doutor da Igreja e Santo. Faleceu no dia 12 de março de 604, aos 64 anos de idade.

 

65º – Sabiniano - 604 - 606

               Nascido no ano 530, Sabiniano natural de Blera. Foi um dedicado religioso durante toda sua vida. Sua dedicação foi naturalmente reconhecida por seus superiores na escala hierárquica da Igreja. De tal maneira, que o Papa Gregório I o nomeou para diversos cargos importantes. Apesar de sua dedicação à vida religiosa e de se destacar nas tarefas da Igreja, Sabiniano não obteve o mesmo sucesso em Constantinopla. O próprio Papa Gregório I o escolheu para desempenhar a função de Núncio Apostólico na cidade, só que, nesta situação, ele não foi suficientemente astuto para lidar com os bizantinos e, assim, não correspondeu às expectativas do Papa, que depositara confiança nele para intermediar questões no Oriente. Ainda com o insucesso em Constantinopla, Sabiniano voltou para Roma, após quatro anos entre os bizantinos, com respaldo para ocupar o mais importante cargo da Igreja Católica. O Papa Gregório I faleceu e, seis meses depois, ocorreu a eleição de seu sucessor. No dia 13 de setembro de 604, um conclave escolheu Sabiniano, que ainda teve que esperar alguns meses pela confirmação Imperial e a posse. Toda essa demora para eleger e empossar o novo Papa já demonstrava o nível de dificuldade que seu papado teria de enfrentar. De fato, as dificuldades foram muitas. A começar pela ameaça dos Lombardos e pela fome. Os Lombardos, um dos chamados povos bárbaros, eram uma ameaça constante de invasão de Roma e ao cristianismo. Mas, passado o período mais intenso dessa ameaça, a Igreja dedicou-se a outras questões. A Igreja passou a vender os cereais de seu celeiro por preços muito mais altos do que os comumente praticados e também deixou de distribuí-los gratuitamente, como fazia Gregório I. Essa situação rendeu ao Papa Sabiniano a fama de avarento. Sabiniano também tentou desacreditar Gregório I, motivado por ciúmes que tinha pelo prestígio de seu antecessor que o acusou de fracassar em Constantinopla. Sua atitude só aumentou a antipatia do povo pelo Papa Sabiniano. Seu papado não tinha recursos financeiros suficientes, não podia distribuir comida como seu antecessor e pouco podia fazer para combater a grande fome que atingiu a cidade romana em 605. Alguns dizem que foi um Papa tomado pelo ódio e que fracassou rapidamente. O Papa Sabiniano é o responsável por tornar obrigatório o uso dos sinos nas igrejas para convocar os fiéis para as missas e para celebrações importantes. Ele também decretou que as igrejas deveriam manter as luzes sempre acesas. Sabiniano, contudo, teve um papado muito curto, faleceu no dia 22 de fevereiro de 606.

 

66º - Bonifácio III - 607

               Nascido em Roma no ano 540, Bonifácio era filho de João Cataadioce, um romano com ascendência grega. Ele se dedicou à vida religiosa desde cedo e foi ordenado diácono, função que manteve durante muitos anos. Sua atuação religiosa, contudo, só se tornou realmente significativa quando foi enviado pelo Papa Gregório I a Constantinopla para servir como legado, em 603. Sua atuação parece ter impressionado não só o Papa, mas também o Imperador Focas, que reconheceu sua prudência para solução de questões diversas. Três anos mais tarde, seu nome já havia repercutido pelos seus feitos e Bonifácio foi indicado como sucessor do Papa Sabiniano. Mesmo ainda em Constantinopla, ele foi eleito no dia 19 de fevereiro de 607. O Papa Bonifácio III enfrentou grandes dificuldades para voltar a Roma. O regresso demorou tanto que criou-se um debate sobre as razões da demora e a viabilidade para exercer seu cargo em Constantinopla. Alguns pesquisadores argumentam que o Papa Bonifácio III se recusou a assumir o cargo até que ficasse comprovado que sua eleição havia sido justa e livre. Seu interesse por eleições livres de interferências externas era latente, como comprovaram suas principais ações como Papa. Após assumir o cargo, o Papa Bonifácio III convocou um concílio em Roma no qual proibiu que fosse discutida a sucessão de um Papa que ainda estivesse vivo, sob pena de excomunhão. Ele também determinou que as medidas para eleger o sucessor só poderiam ser tomadas três dias depois do enterro do Papa falecido. Ambas as iniciativas causaram grande impacto na eleição papal. Mas, além disso, suas relações próximas com o Imperador Focas foram fundamentais para que se restaurasse a ideia de que o Apóstolo Pedro deveria ser a cabeça de todas as Igrejas. Esta medida simbólica garantia ao Bispo de Roma o título de Bispo Universal, superando outros religiosos que reclamavam essa identificação. Devido às importantes medidas do Papa Bonifácio III, alguns pesquisadores argumentavam que ele teria sido o efetivo fundador da Igreja Católica. Mas hoje entende-se que suas ações apenas reforçavam as medidas anteriores de Justiniano, o qual deu reconhecimento legal à primazia do pontificado romano. Liderou a Igreja por menos de um ano, pois faleceu no dia 12 de novembro de 507. Suas ações, contudo, deixaram um grande legado para a instituição religiosa e certamente contribuíram para que a Igreja Católica ocupasse o lugar do fragmentado Império Romano como principal detentora do poder político na Idade Média.

 

67º - São Bonifácio IV - 608 - 615

               Papa Bonifácio IV, O.S.B (Valeria, 550 — Roma, 8 de maio de 615) foi um monge beneditino eleito em 25 de Agosto de 608. No pontificado do Papa Gregório I, Bonifácio era diácono da Igreja de Roma e ocupava o cargo de dispensator, isto é, era o encarregado da administração do patrimônio. O pontificado de Bonifácio foi marcado por muito sofrimento em Roma, devido à fome, pestilência e inundações. Converteu o Panteão de templo pagão em igreja dedicada à Virgem Maria e a Todos os Santos e Mártires, salvando-o da destruição. Instituiu a festa de Todos os Santos em 1 de Novembro. Morreu em 8 de Maio de 615. O Pontífice morreu em retiro monástico (tinha convertido a sua casa num mosteiro) e foi sepultado no pórtico de S. Pedro. Posteriormente os seus restos mortais foram movidos por três vezes, no século XI ou XII, no século XIII e finalmente de volta à Basílica de S. Pedro, em 21 de outubro de 1603. Bonifácio IV é venerado como Santo em 8 de maio.

Nesta mesma época surgiu a religião de Lúcifer. O Islamismo é uma corrente política e ideológica usando como base as revelações de Lúcifer quando apareceu à Maomé ditando o Alcorão. Lúcifer se apresentou diante de Maomé no ano de 610, em Meca no Monte Hira, como um anjo de luz, dizendo -  mentindo obviamente -, que se chamava Gabriel. Os versos satânicos deste livro nega a Trindade Divina, nega a Divindade de Jesus Cristo, e inúmeras passagens Bíblica, além de aprovar a poligamia. Se auto intitula dona da verdade absoluta. Esta seita constituiu um verdadeiro exército de muçulmanos, que perseguiam e matavam cristãos, caso estes não se convertessem ao Islã. Foi esta fúria ideológica em Jerusalém e na Palestina, o motivo pelo qual Deus teve que intervir, transladando com seus Anjos Celestiais, a Casa de Maria Santíssima e de Jesus que estava em Nazaré, para Loreto, Itália, para não ser destruída pelos furiosos islâmicos.

 

68º - Adeodato I - 615 - 618

               Adeodato I (Roma, 570 — 8 de novembro de 618), também chamado Deodato I, foi Papa de 19 de outubro de 615 até sua morte, em 618. Ele foi o primeiro Sacerdote a ser eleito Papa desde João II, em 533. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro. Ele nasceu em Roma e era filho de um subdiácono. Serviu como padre por 40 anos antes de sua eleição e foi o primeiro padre a ser eleito Papa desde João II em 533. Adeodato representou a segunda onda de antigregorianos ao papado, a primeiro sendo o de Sabinian. Ele também reverteu a prática de seu antecessor Bonifácio IV de encher as fileiras administrativas Papais com monges, remontando com o clero às posições originais com cerca de 14 sacerdotes, as primeiras ordenações em Roma desde o Papa Gregório. Segundo a tradição, ele foi o primeiro Papa a utilizar selos de chumbo em documentos Papais, que por sua vez vieram a ser chamado de "bulas Papais". Uma bula datada de seu reinado ainda está preservada, nele observa-se o detalhe do Bom Pastor que no meio de suas ovelhas, com as letras Alfa e Omega abaixo, enquanto o verso contém a inscrição: Deusdedit papae. Em agosto de 618, um terremoto atingiu Roma, e mais tarde um surto de lepra, Adeodato liderou esforços para cuidar de pobres e doentes. Ele morreu em 8 de novembro de 618. Houve uma vaga de um ano, um mês e 16 dias antes de seu sucessor Papal ser consagrado. Sua festa ocorre em 8 de novembro. Ele também é um Santo da Igreja Ortodoxa como um dos "Papas ortodoxos de Roma" pré-cisma.

 

69º - Bonifácio V - 619 - c.625

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Nápoles, mas não se conhece a data de seu nascimento, sucessor de Adeodato I, cujo governo caracterizou-se por contínuas lutas pela coroa da Itália. De origem napolitana, foi eleito em circunstâncias extremamente críticas e só assumiu o trono pontifício muitos meses depois da morte do antecessor, porque Roma estava preocupada em defender-se do exarca Eleutério, título do delegado dos imperadores de Bizâncio na Itália ou na África. Interessou-se particularmente pela Igreja anglo-saxônica, segundo testemunham alguns escritos seus, como uma carta à Justo, Bispo de Rochester e Canterbury, e outra à Etelberga, rainha de Kent. Promulgou algumas normas litúrgicas e canônicas e instituiu a imunidade do asilo, para as pessoas perseguidas que buscassem refúgio na Igreja. Também durante seu pontificado, no oriente o infeliz Maomé iniciou seus sermões, e assim, na era cristã, foi a primeira vez que apareceu uma outra grande religião, a muçulmana, que se espalharia pelo mundo inteiro. Pelo Liber pontificalis e pelas inscrições na sua tumba, era um homem de muitos adjetivos magnânimos como plácido, humilde, doce, misericordioso, sábio, casto, sincero e justo. Morreu em 25 de outubro, em Roma.

 

70º - Honório I - 625 - 638

               Papa Honório I nasceu em Capua. Eleito em 27 de outubro de 625, tinha sido discípulo de S. Gregório Magno. Durante o seu pontificado impulsou a evangelização da Inglaterra, procurando a integração dos monotelitas na Igreja — heresia que negava uma vontade humana em Cristo, mantendo somente a divina — a qual ele não combateu, inclusive aprovando a Ecthesis de Sérgio I de Constantinopla. Isso fê-lo ser condenado por heresia pelo Papa Leão II em 682. De fato Honório se mostrou incapaz de estar no mais alto comando da Igreja, ao invés de defender a fé tradicional, aceitou de bom grado a heresia. Instituiu a Festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14 de Setembro. Sanou as questões da Igreja no Oriente e o cisma de Aquileia. Preocupou-se com a restauração das igrejas e mandou reparar o antigo aqueduto de Trajano, que levava água à cidade de Roma. Morreu em 12 de outubro de 638.

 

71º – Severino - 640  

               Foi o sucessor do Papa Honório I, e o condenador da doutrina monotelista. Severino nasceu em Roma, mas a data de seu nascimento não é conhecida. Seu pai se chamava Avienus, e é especulado que este poderia ter sido um dos senadores romanos. Ele foi eleito Papa em 28 de maio de 638, mas só foi consagrado em 28 de maio de 640. Foi eleito como de costume no terceiro dia após a morte de seu predecessor: Honório, e logo foram enviados representantes para Constantinopla a fim de obter a confirmação da sua eleição. Mas o imperador bizantino, Heráclio, em vez de conceder a confirmação, ordenou a Severino que assinasse a Ectese, uma profissão de fé monotelita escrita pelo próprio imperador junto do Patriarca de Constantinopla. O Papa eleito recusou terminantemente a fazê-lo. Por isso, o imperador ordenou o saque de Roma e das riquezas das igrejas, especialmente da Igreja de São João e do Palácio de Latrão, saqueado pelo Exarca Isaac. Mas Severino se manteve firme. Enquanto isso, seus enviados em Constantinopla, embora se recusassem a assinar qualquer documento herético e depreciassem a violência em questões de fé, comportaram-se com grande tato e finalmente garantiram a confirmação imperial. Após uma vacância de mais de um ano e sete meses, a Sé de Pedro foi novamente preenchida, e seu novo ocupante passou imediatamente a declarar que, como em Cristo havia duas naturezas, também havia nele duas vontades e duas operações naturais. É justamente esta coragem de Severino que faltou no Papa Honório. Durante seu breve reinado, ele construiu a abside da antiga Igreja de São Pedro, na qual foi sepultado. Morreu em 2 de agosto de 640.

 

72º - João IV - 640 - 642

               O Papa João IV, morreu em 12 de outubro de 642. Foi Bispo de Roma de 24 de Dezembro de 640 até sua morte. Sua eleição ocorreu após uma vacância de quatro meses. O Papa João era natural de Iadera, Dalmácia. Ele era filho do escolástico (advogado) Venantius. Na época de sua eleição, ele era Arquidiácono da Igreja Romana, um papel importante no governo da Sé. João era considerado um homem muito culto. Como a consagração de João em 24 de dezembro de 640 ocorreu logo após sua eleição, supõe-se que as eleições foram confirmadas pelo exarca de Ravena, e não diretamente pelo imperador em Constantinopla. Embora ainda apenas Papa eleito, João, com os outros Bispos da Igreja Católica, escreveu ao clero da Irlanda e da Escócia para contar-lhes os erros que estavam cometendo em relação ao tempo de guardar a Páscoa, e exortá-los a continuar sua guarda contra a heresia pelagiana. Quase ao mesmo tempo, ele condenou o monotelismo como heresia. O imperador Heráclio imediatamente renegou o documento monotelita conhecido como "Ectese". Ao filho de Heráclio, Constantino III, João dirigiu seu pedido de desculpas ao Papa Honório I, em que ele desaprovou a tentativa de conectar o nome de Honório com o monotelismo. Honório, declarou ele, ao falar de uma vontade em Jesus, pretendia apenas afirmar que não havia duas vontades contrárias Nele. Problemas em sua terra natal causados ​​por invasões de eslavos chamaram a atenção de João para lá. Para aliviar a aflição dos habitantes, João enviou o abade Martinho à Dalmácia e à Ístria com grandes somas de dinheiro para a redenção dos cativos. Como as igrejas em ruínas não puderam ser reconstruídas, as relíquias de alguns dos santos dálmatas mais importantes foram levadas para Roma. João então ergueu um oratório em sua homenagem. Foi adornado pelo Papa com mosaicos representando o próprio João segurando em suas mãos um modelo de sua oratória. João se esforçou assim para converter os eslavos da Dalmácia e da Ístria ao cristianismo. Imperador Constantino Porfirogênio afirmou que o duque Porga da Croácia, que tinha sido convidado para a Dalmácia por Heráclio, enviou ao Imperador Heráclio professores cristãos. Supõe-se que o Imperador a quem esta mensagem foi enviada foi o próprio imperador Heráclio, e que ele a enviou ao Papa João IV. João foi sepultado na Basílica de São Pedro.

 

73º - Teodoro I - 642 - 649

               Nascido em Jerusalém no ano 610, Teodoro era de origem grega e filho de um Bispo com o mesmo nome. Viveu uma época em que a Igreja Católica já havia consolidado seu poder no Império Romano e sua influência na cultura e na política do Ocidente.  A lacuna que o império deixava seria justamente ocupada pela Igreja Católica, a qual ampliaria significativamente sua influência e seu poder, o que caracterizaria uma nova etapa da história da humanidade que se convencionou chamar de Idade Média. Teodoro sucedeu o Papa João IV e foi eleito no dia 24 de novembro de 642. Foi ele quem agregou ao nome de Pontífice o título de Soberano, passando a reconhecer os Papas como Supremos Pontífices ou Sumo Pontífices, como dizemos atualmente. O Papa Teodoro I estava preocupado com a estrutura e a representação de poder da Igreja Católica. A designação criada por Teodoro I foi fundamental em teor simbólico para denotar o grande poder que o cristianismo havia conquistado. Além disso, Teodoro I aproveitou também para reorganizar a jurisdição interna do clero católico. O Papa Teodoro I enfrentou com fervor os chamados monotelistas, seguidores de uma doutrina que afirmava haver apenas uma natureza em Jesus Cristo. Os defensores desta ideia incomodaram os católicos durante muitos séculos e ainda existem, embora seja uma discussão que não tenha mais tanta repercussão. Na ocasião, perseguiu os monotelistas e também condenou os Patriarcas de Constantinopla. Ainda teve desavenças com o imperador romano. O Papa Teodoro I preocupado com a expansão da Igreja Católica, se cercou de homens cultos e distintos. Levou o cristianismo à Grécia, atingindo e convertendo os gregos que negavam a natureza divina de Jesus Cristo. Sua postura militante pelo cristianismo que, por vezes, era dotada de atos que incomodavam, fizeram levantar suspeitas de envenenamento, por isso a causa de sua morte não é muito bem explicada, considera-se que muitos opositores tenham tentado matá-lo. Inclusive o imperador romano da época. O Papa Teodoro I faleceu no dia 14 de maio de 649, após quase sete anos de papado. Seus restos mortais estão na Basílica de São Pedro.

 

74º - São Martinho I - 649 - 655

               Nascido em Todi, na Itália, em 590, Martinho viveu no império que havia se convertido e oficializado como cristão há relativamente pouco tempo. Destacado membro da Igreja Católica, foi eleito no dia cinco de julho de 649 para suceder o Papa Teodoro I. O Papa Martinho I possui destaque na história do cristianismo por introduzir algumas práticas religiosas que são celebradas até hoje. Ele foi o primeiro a celebrar a festa em homenagem à Virgem Imaculada, que passou a ser celebrada no dia 25 de março. Mas Martinho I também enfrentou grandes dificuldades, caracterizando uma gestão de muita complexidade. Assim que eleito, o Papa Martinho I convocou o Concílio de Latrão para debater e definir a doutrina oficial da Igreja Católica e a natureza de Cristo. Este era um problema que se arrastava desde os primórdios do cristianismo. Existiam, e ainda existem, diversas correntes de interpretação sobre a natureza de Jesus Cristo, considerando sua parte humana e sua parte divina. Na ocasião do Concílio de Latrão, o Papa Martinho I condenou os monotelistas. Embora tenha teoricamente solucionado uma questão de interpretação sobre a natureza de Jesus Cristo, este seria o menor dos problemas que enfrentaria durante seu pontificado. A maior parte do tempo que permaneceu como Sumo Pontífice Martinho I teve que encarar a prisão e o exílio. O Papa condenou os escritos de Heráclito e Constantino II, que eram imperadores bizantinos, e foi respondido com o aprisionamento e transporte para Constantinopla. No centro do Império Bizantino, o Papa Martinho I foi condenado à morte, mas sua sentença foi negociada. Martinho I foi forçado a renunciar para ter sua pena de morte suspensa. De toda forma, o Papa não escapou da prisão e dos maus tratos que se seguiriam até sua morte. Foi exilado na ilha de Naxos e declarado como herege, falecendo em Quersoneso no dia 12 de novembro de 665. Um ano antes de Martinho I falecer, já havia sido eleito o novo Papa, Eugênio I. Porém este não deixou de reconhecer e reverenciar Martinho, pois sua renúncia foi imposta em uma situação extrema, e a Igreja Católica não poderia ficar sem um líder. A maior parte das relíquias de Martinho I foram transferidas para Roma e se encontram na Basílica de San Martino ai Monti.

 

75º - Santo Eugênio I - 654 – 657

               Substituiu o Papa São Martinho I, quando este estava no exílio, na Criméia. Nascido no ano 615 em Roma, Eugênio era descendente de família siciliana e sempre se dedicou à vida religiosa. Foi núncio em Constantinopla e conhecia bem as características da vida bizantina. Eugênio era reconhecido e valorizado por seu valor moral e intelectual. Era um homem íntegro na fé. Quando o Papa Martinho I foi exilado em Constantinopla não houve dúvida, Eugênio seria seu sucessor. Porém a situação forçou um fato curioso. O cerco e o exílio sofridos pelo Papa Martinho I deixaram a Igreja Católica e a comunidade cristã carentes de uma liderança efetiva. Cientes da difícil situação vivida pelo Papa, Eugênio foi eleito, um ano antes da morte de Martinho I. O imperador Constante II, mais tarde, seria derrotado pelos muçulmanos. Eugênio I assumiu o papado restabelecendo a imagem de um Papa presente em meio a um momento conturbado e de perseguições. Ainda que o cristianismo já tivesse se estabelecido como religião oficial do Império Romano, disputas políticas e territoriais acabavam envolvendo a Igreja Católica. Eugênio I comunicou toda a Europa sobre o sofrido fim de Martinho I e buscou novos rumos de estabilidade para os religiosos. O maior problema que enfrentou durante seu papado foi em relação aos monotelistas. Com eles discutiu um problema teológico muito presente na época que debatia sobre a natureza de Cristo. Alguns monges também suspeitaram de seu papado, acreditando que teria sido eleito em função de tramas com Constantinopla. Mas este foi um problema menor, pois Eugênio tinha respaldo amparado em sua vida religiosa e era dedicado ao cristianismo romano. O Papa Eugênio I administrou as crises de seu papado com autoridade e manteve a unidade da fé. O Papa excomungou os monotelistas e condenou a corte bizantina pelo ocorrido com Martinho I. Foi um opositor de Constante II, do qual se livrou em 655 graças ao ataque dos muçulmanos. Popularmente, Eugênio I era reconhecido como um Papa benévolo e afável com todos. Preocupou-se muito com os pobres e deixou a eles todos os seus bens. Eugênio I faleceu no dia dois de junho de 657. Seus restos mortais estão na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

 

76º - São Vitaliano - 657 - 672

               Não se conhece muito sobre a vida de Vitaliano. A data de seu nascimento, por exemplo, ainda é um mistério para os pesquisadores. Sabe-se apenas que ele era natural de Segni, na Itália. Vitaliano sempre foi um homem da Igreja e fiel defensor do catolicismo romano. Martinho I foi sucedido por um breve pontificado de Eugênio I, também acompanhado por Vitaliano. Após três anos do papado de Eugênio I, Vitaliano foi eleito no dia 30 de julho de 657 para ser seu sucessor. O Papa Vitaliano tentou melhorar o relacionamento com Constantinopla, causa de tantas perturbações nos dois papados anteriores. Sua estratégia, contudo, é não fazer afronta a seus líderes, tentando manter um relacionamento pacífico. Vitaliano foi bem correspondido pelo Patriarca de Constantinopla. O Papa tentou não ser um personagem de batalhas, mas mantenedor da fé e do cristianismo na Europa. Preocupava-se mais com a epidemia de peste que estava dizimando o clero no continente, causando outro tipo de crise. Ao invés de conflitos, prefere receber o imperador Constante II em Roma com honras quase religiosas. A postura conciliadora do Papa Vitaliano reflete na expansão da autoridade pontifícia sobre o território europeu. O Papa convocou, então, o VI Concílio Ecumênico para restabelecer a paz religiosa. No entanto, Vitaliano morreria antes de sua conclusão. Mas deixaria como legado a adoção da liturgia romana no território britânico, além de espalhar núncios por outras regiões do continente. Ele foi o primeiro Papa a autorizar o uso do órgão nas cerimônias religiosas e também destacou-se pela conversão dos lombardos ao cristianismo. O papado de Vitaliano durou 14 anos, e faleceu no dia 27 de janeiro de 672.

 

77º - Adeodato II - 672 - 676

               Nascido em Roma no ano 621, Adeodato era filho de Gioviniano e viveu no mosteiro de Santo Erasmo. Dedicou toda sua vida à Igreja, a maior parte dela como monge beneditino. Com o falecimento do Papa Vitaliano no ano 672, Adeodato foi eleito no dia 11 de abril do mesmo ano para ser seu sucessor, adotando o nome de Adeodato II. Foi ativo no melhoramento da disciplina monástica, organizando métodos e ações. Foi o primeiro Sumo Pontífice a datar seus atos. Seu papado também combateu o monotelismo, visto que naquela época, haviam diversas correntes de pensamento sobre a natureza de Jesus Cristo, o que causava debates fervorosos. Foram necessários alguns concílios para resolver a questão e definir o que era oficialmente aceito pela Igreja Católica. Além de problemas no cristianismo, o papado de Adeodato II também esteve em choque com o islamismo. Seu pontificado iniciou com a invasão de muçulmanos, o que teve de combater para conseguir liderar a Igreja em liberdade. Sabe-se muito pouco a respeito da vida do Papa Adeodato II, basicamente, há duas cartas que são atribuídas a ele. Uma escrita a Adriano, abade do monastério de São Pedro, e outra aos Bispos da Gália para informar os privilégios concedidos ao monastério de San Marino di Tours. Ainda assim, há dúvidas sobre a autenticidade das duas cartas. É certo, contudo, que Adeodato II foi uma pessoa generosa com todos, preocupado com peregrinos e com o próprio clero. Era muito caridoso com os pobres. Mesmo como Papa, vivia como monge, dedicando-se à oração e ao estudo das escrituras. Antes de falecer, e com a ajuda de missionários, conseguiu converter grande parte dos moronitas, povo de origem armeno-síriaca, ao cristianismo. Foi também responsável pela restauração da Basílica de São Pedro e reconstruiu e ampliou o monastério onde viveu, em Santo Erasmo. O Papa Adeodato II faleceu no dia 17 de junho de 676.

 

78º - Dono I - 676 - 678

               Nascido em Roma em data desconhecida, Dono era filho do romano Maurizio. Seu interesse pela vida religiosa ficou evidente desde muito cedo. Não há muita informação sobre sua vida antes do papado, mas sabe-se que Dono optou e ingressou cedo na vida eclesiástica, conquistando espaço e reconhecimento para se tornar o líder de toda a instituição religiosa. Dono sucedeu o Papa Adeodato II que faleceu no ano 676. No dia dois de novembro do mesmo ano, o conclave votou e decidiu pela eleição de Dono como novo Supremo Pontífice da Igreja Católica. Seu papado seria muito breve e em meio a grandes problemas. Assim que assumiu o posto, Dono teve de enfrentar o cisma de Ravena, que já vinha causando complicações. Foi bem sucedido, conseguindo encerrá-lo. O Papa Dono teve pouco tempo para comandar a Igreja Católica, mas exerceu um pontificado dinâmico. Incentivou o desenvolvimento de escolas através de Bispos em locais diversos, como Trevira, Galiléia e Cambrigde, que se tornariam referências culturais no futuro. Preocupou-se também com o patrimônio católico e romano, melhorando a arquitetura da cidade e restaurando as Basílicas de São Pedro e São Paulo Extramuros. O Papa Dono aproximou-se do Oriente e estabeleceu uma relação de amizade com o imperador Constantino IV, de Constantinopla, superando questões de cisma e permitindo o desenvolvimento de relações pacíficas com vizinhos. Dono permaneceu pouco tempo como Papa, pouco mais de um ano. Confiava muito em seu tesoureiro de nome Agatão, embora este não tivesse estudos suficientes e necessários, Dono o considerou digno de receber ordens Sacerdotais e o Consagrou, criando-o Cardeal e preparando-o para ser seu substituto. Dono sabia que não teria muito tempo de vida, faleceu no dia 11 de abril de 678 e foi enterrado na Basílica de São Pedro. Seu tesoureiro, que já era um ancião, tornou-se efetivamente seu sucessor, Papa Agatão, ou Agato.

 

79º - Santo Agato - 678 - 681

               Nascido no ano 620 na Sicília, Itália, Agatão viveu a parte inicial de sua formação religiosa em um mosteiro de Palermo. Foi uma homem sempre dedicado ao cristianismo, rendendo sua vida à devoção. Conquistou crescimento dentro da estrutura da Igreja Católica e tornou-se tesoureiro da Igreja, cargo que desempenhou bem por muitos anos mesmo sem ter os estudos necessários. Com o falecimento do Papa Dono, um conclave elegeu Agatão como novo Papa no dia 27 de junho de 678. Como Papa, conquistou o apoio político do imperador Pogonato e convocou um concílio ecumênico em Constantinopla para resolver problemas sobre a organização da Igreja. A aliança feita com o imperador Pogonato foi importante para acabar com o monotelismo. O acordo ainda o permitiu contestar os abusos imperiais. Agatão apresentou grande capacidade de administração na Igreja Católica e conquistou grandes avanços. Foi responsável por dialogar com os Bispos da região da Inglaterra e tornar a Irlanda um centro de cultura. Ele é autor do famoso juramento Papal, o texto que é repetido por todos os Papas assim que são eleitos. Uma tradição que mantém-se intacta. Na época, acreditava-se que Agatão teria realizado uma série de milagres, o que lhe rendeu os títulos de Taumaturgo e fazedor de Milagres. Devido a sua afeição pelos mosteiros, cuidou com muito afinco da disciplina nesses recintos religiosos. Seu papado chegou ao fim com um novo surto de peste. Não há informações precisas sobre isso, mas é possível que Agatão tenha sido uma das vítimas da peste, pois faleceu no dia dez de janeiro de 681, momento em que a epidemia estava em alta. Se tornou um dos Santos da Igreja Católica.

 

80º - São Leão II - 682 - 683

               Nascido na Sicília, Itália, no ano 611, Leão era um homem de múltiplos conhecimentos. Fontes e relatos históricos dizem que ele era atlético, eloquente, instruído nas escrituras sagradas, bom conhecedor das línguas grega e latina, perito em cantos e salmos, mestre de ciências, elegante nas palavras e no estilo, atencioso com os pobres e dedicado a socorros espirituais e temporais. Ele viveu em um momento em que o Império Romano enfrentava crises que o levariam a ruína. Os romanos não eram capazes mais de administrar todo o território que haviam conquistado, deter as invasões dos povos ditos bárbaros e progredia a escassez de escravos. Por sua vez, a Igreja Católica já havia se constituído como instituição religiosa de diversos poderes, a ponto de ocupar a lacuna deixada pelo Império Romano. Com o falecimento do Papa Agatão, Leão foi eleito para ser seu sucessor no dia 17 de agosto de 682. O Papa Leão II permaneceria muito pouco tempo a frente da Igreja Católica, mas, ainda assim, sua atuação seria marcante o suficiente para ser considerado Santo anos mais tarde. Uma das decisões mais importantes de seu papado foi a condenação do Papa Honório I, acusado de heresia em função de sua postura duvidosa sobre o monotelismo. Por outro lado, Leão II foi benevolente e acolheu fraternalmente muitos hereges arrependidos. Sobre as tradições católicas, o Papa Leão II ordenou a restauração da Igreja de Santa Bibiana e explorou com especial atenção o culto aos mártires São Sebastião e São Jorge. Faleceu no dia três de julho de 683, encerrando um curto período de aproximadamente dez meses de papado.

 

81º - São Bento II - 684 – 685

               Nascido em 635, Bento era proveniente de Roma e viveu uma época de ruína do Império Romano, que se desintegrava em vários reinos independentes. Nesse contexto, a Igreja Católica procurava manter sua autoridade e conquistar total independência nas relações políticas. Ainda era comum a interferência dos imperadores na eleição de novos Papas e nas decisões da instituição religiosa. Isso acontecia de tal maneira que, após o falecimento do Papa Leão II, passaram-se 11 meses até que Bento fosse consagrado como novo Papa, em 26 de junho de 684, já que aguardava a confirmação do imperador. O Papa Bento II era dotado de muito conhecimento das cerimônias religiosas da Igreja Católica, pois se dedicou a elas desde a infância. Em seu exercício pontifício lutou contra a prepotência imperial para livrar a Igreja das suas imposições. O Papa não teve muito tempo para grandes conquistas, mas, sem dúvida, ter superado o poder imperial para as decisões da Igreja, fazendo com que o imperador não precisasse mais confirmar o Papa eleito, foi o grande legado de seu papado para a instituição religiosa. O Papa Bento II ainda distribuiu cargos e recompensas para diversas ordens do clero e, inclusive, deixou 30 libras de ouro para serem divididas entre mosteiros, o clero e os leigos encarregados dos serviços da Igreja Católica. Seu papado foi curtíssimo, mas politicamente muito importante para a Igreja Católica. Faleceu no dia oito de maio de 685, menos de um ano após ter assumido o papado e aos 50 anos de idade. Foi, mais tarde, considerado Santo.

 

82º - João V - 685 - 686 

               Nascido na Antioquia, na Síria, no ano 635, João era um homem generoso e filho de sírios. Há poucas informações a respeito de sua vida antes do pontificado, mas sabe-se que ele sempre foi voltado para a educação religiosa cristã. Era um homem sábio e moderado que buscou a satisfação de sua vida através da religião, a qual se dedicou por completo. Começou a exercer suas funções religiosas como diácono e se tornou representante apostólico no Sexto Concílio Ecumênico, em 682, voltando para Roma com os documentos oficiais da ocasião. Com o falecimento do Papa Bento II, foi eleito para a sucessão no dia 23 de julho de 685. O Papa João V tomou uma decisão que foi repleta de implicações para a época. Ele se consagrou Papa sem esperar a autorização do imperador do Oriente. Assim, ele emancipou o papado de sua tutela e, mesmo desta forma, manteve sua simpatia. De tal maneira que o imperador reduziu os impostos cobrados sobre os patrimônios papais na Sicília e na Calabria e ainda reduziu outros fardos fiscais da Igreja Católica. Mas foi um ato político importante para emancipação da Igreja que ajudaria a construir o contexto de poderio e autonomia dos católicos durante toda a Idade Média na Europa. Outro importante evento do pontificado de João V foi a reunião de um concílio para organizar as dioceses de Sardenha e Córsega. O Papa conseguiu fazer com que essas igrejas ficassem sob sua autoridade diretamente e, então, somente a Santa Sé poderia nomear os Bispos das ilhas. Mas as implicações de seu papado cessaram aí, porque João V permaneceu pouco mais de um ano como líder da Igreja Católica. Só que essas duas medidas políticas foram muito significativas para o poderio católico e a administração de seu reino. Diz-se que o Papa João V era muito generoso e que teria chegado a distribuir cerca de dois mil soldos aos pobres. Mas suas ajudas acabaram no dia dois de agosto de 686 ao ser vitimado por uma longa enfermidade aos 51 anos de idade. Iniciando uma longa série de Papas provenientes do Oriente.

 

83º – Cónon - 686 – 687

               Nascido na Trácia, na Turquia, em 630, Cónon era filho de um soldado que recebeu sua educação na Sicília e depois se tornou presbítero em Roma. Dedicou sua vida à religião cristã e foi reconhecido por isso para ocupar o mais importante posto da Igreja Católica. Com o falecimento do Papa João V, Cónon foi eleito em 21 de outubro de 686 para ser seu sucessor. O Papa Cónon era um homem muito caridoso e bondoso. Em seu pontificado, ajudou a muitos mosteiros. No entanto, ele viveu em um período de muita turbulência da Igreja Católica, na qual sucediam-se muitos Papas porque eles exerciam o papado durante pouco tempo ou porque havia antipapas em constantes confrontos. Assim, muitos foram assassinados naquela época em função das disputas pelo poder. O papado de Cónon não foi diferente, ele enfrentou muitas dificuldades por causa da anarquia reinante na Igreja Católica. A situação era dramática a ponto de Cónon ter sofrido vários atentados. O somatório de um período de muita instabilidade com o fato do Papa Cónon ser proveniente da Turquia não agradava aos protagonistas dos confrontos da época. Cónon ficou muito pouco tempo exercendo seu pontificado, o qual, por ser muito instável, não apresentou avanços ou fatos importantes para a História da Igreja Católica. Acredita-se que o Papa Cónon tenha sido envenenado por uma das facções que tentavam alcançar o poder em Roma. Logo em seguida à morte do Papa, dois antipapas apareceram reclamando o poder, Pascoal e Teodoro, causando grande reboliço. A crise só foi resolvida com a eleição do Papa Sérgio I. Faleceu no dia 21 de setembro de 687, aos 57 anos de idade e com pouco menos de um ano de exercício de seu pontificado. Seu corpo foi sepultado na Basílica de São Pedro.

 

84º - São Sérgio I - 687 - 701

               Nascido em Palermo, numa data desconhecida, Sérgio foi eleito Papa em 15 de dezembro de 687. Logo em seguida, chegou da Bretanha o rei pagão Ceadwalla, soberano de Wessex, o qual desejava tornar-se cristão, recebendo o batismo diretamente das mãos do Papa Sérgio I, adotando o nome Pedro. Sérgio I foi um Papa muito popular, por ter sido um homem de fé, de oração. Antes de tornar-se Sacerdote, já era famoso na Schola Cantorum. Depois de ordenado, tornou-se um personagem eminente do clero. Quando morreu o Papa Cónon, em 687, foi indicado para sucedê-lo. Naquela época, os imperadores romanos do Ocidente e do Oriente reclamavam para si a autoridade de Pontífice, não aceitando estar abaixo do Papa, mesmo em questões de fé. Os Papas que iam contra essa exigência eram forçados a aceitá-la, ou morriam. Um exemplo foi o Papa Martinho I, que foi morto pelo imperador do Oriente, Constante II. Agora, Justiniano II, imperador do Oriente, desejava impor a Roma e a todos os cristãos as normas disciplinares adotadas em um concílio composto somente de Bispos orientais, efetuado em Constantinopla. Assim, ele mandou o respectivo decreto para aprovação do Papa Sérgio I. Entre outras coisas, o decreto terminava com o celibato sacerdotal. Sérgio negou-se, terminantemente, a aprovar tal decreto. Justiniano, então, enviou um alto dignitário, Zacarias, para prendê-lo e deportá-lo a Constantinopla, a exemplo de Martinho I. Porém Zacarias foi recebido pelas milícias formadas pelo povo que tentava ajudar Sérgio. Eram milhares de pessoas revoltadas pelos desmandos do imperador que circundavam o palácio Lateranense, residência do Papa. Zacarias procurou fugir, porém foi pego pelas milícias. Sérgio foi em seu socorro, libertou-o e perdoou. Mandou que retornasse ao seu imperador, ileso. Justiniano nada podia fazer para combater a popularidade deste Papa. A vontade de Roma permaneceu, bem como o celibato em toda a Igreja Católica. Apesar desses acontecimentos, o pontificado de Sérgio I foi marcado pela paz religiosa, numa época de muitas divergências teológicas a respeito da pessoa e da natureza de Cristo. Em seus quatorze anos de pontificado, trabalhou para o enriquecimento da liturgia. Deve-se a ele o canto do "Agnus Dei" durante a missa. Morreu aos 8 de setembro de 701 e foi sepultado na antiga Basílica de São Pedro.

 

85º - João VI - 701 - 705

               Papa da Igreja Católica Romana, nascido em data desconhecida, em Éfeso, Grécia, eleito em 30 de outubro de 701, sucessor de São Sérgio I. Governou a Igreja durante quatro anos de momentos difíceis para a cristandade, especialmente quando a Igreja estava cercada pelos turcos sarracenos (muçulmanos) no Oriente e na Espanha. Com os cristãos derrotados no Oriente e na Espanha pelos turcos sarracenos, defendeu os direitos da Igreja. Apesar de sua origem grega, com a ajuda do povo romano, enfrentou o imperador bizantino Tibério III, que tentou prendê-lo, e combateu os lombardos que assolavam a planície romana, salvando Roma da devastação. Eles marchavam contra Roma, conquistando várias cidades, tomando suas riquezas e escravizando seus moradores. Quando acamparam nas vizinhanças de Roma, o Papa, aflito com os sofrimentos das pessoas, enviou vários padres com dinheiro para uma negociação, no acampamento do Duque Lombardo Gisulf. Sua missão conseguiu pleno êxito e não só convenceram o duque a não atacar como resgataram todos os cativos e o persuadiram a devolver seus próprios territórios, mas mediante pagamento de uma alta soma em dinheiro e ainda lhes cedendo parte do exarcado de Ravena, cederam. Também interferiu nos assuntos e pacificou a Igreja na Inglaterra e conseguiu do rei Ethelred a nomeação de Wilfrid de York para Arcebispo de Canterbury. Faleceu em 11 de janeiro de 705, em Roma, foi enterrado na Basílica de São Pedro.

 

86º - João VII - 705 - 707

               Papa da Igreja Católica Romana, nascido em Rossano, na Calábria, eleito em 1 de março de 705, sucessor de João VI, que, devoto da Virgem Maria, ergueu várias igrejas para homenageá-la e mandou restaurar muitas outras. O ano do nascimento dele é desconhecido bem como pormenores de sua vida pré-papal, como muitos outros Papas que atuaram durante o período de influência bizantina em Roma. Sabe-se que descendia de grego, filho de uma família distinta e que o nome de seus pais eram os gregos Blatta e Platão. Antes da elevação dele, era o reitor do patrimônio Papal da Via Ápia (687). Fez oposição ao imperador Justiniano II, cujo governo promoveu medidas que incentivavam a desunião entre os povos latinos e os italianos do Império do Oriente, mas aprovou, por pressão do Imperador, os decretos do sínodo de Trullo. Manteve boas relações com os lombardos, restabeleceu a disciplina eclesiástica na Inglaterra. Construiu várias igrejas e um palácio episcopal perto da igreja de Santa Maria Antiqua. Também ergueu uma capela à Nossa Senhora, em São Pedro, e quando este oratório foi destruído, alguns dos seus mosaicos foram preservados, e podem ser vistos na Igreja romana de Santa Maria, em Cosmedin e em outros lugares. Ele recebeu através do rei lombardo Aripert II a devolução dos patrimônios Papais no Cottian Alpes que os lombardos tinham confiscado. Faleceu no Palácio que tinha construído perto do Palatino, em 18 de outubro, foi enterrado no oratório que ele tinha erguido em São Pedro.

 

87º – Sisínio - 708

               Papa da Igreja cristã Romana, nascido na Síria, eleito em 15 de janeiro de 708, como sucessor de João VII, que por estar velho e doente de gota, seu precário e fugaz pontificado durou apenas vinte dias e a única coisa que fez foi arrecadar fundos para a restauração das muralhas desmoronadas de Roma. Seu pai também se chamava João e, apesar de extremamente limitado fisicamente, com seu caráter forte aceitou o sacrifício com altivez como mais uma missão em sua vida. A corte de Constantinopla perdia progressivamente seu poderio e o imperador bizantino não conseguia mais impor sua autoridade no Ocidente, os búlgaros levavam vantagem no Oriente, os Sarracenos se impunham na África, na Itália os Longobardos progrediam. A Itália acostumou-se a esquecer o imperador e a população agrupava-se sempre mais em torno do Pontífice Romano, como o centro natural e político da Itália. Pela brevidade de seu pontificado não conseguiu fazer obras importantes e preocupou-se com o embelezamento da cidade eterna e a restauração das muralhas de Roma, a fim de proteger a cidade dos assédios dos longobardos e sarracenos. Antes de morrer ainda criou e consagrou o Bispado da Córsega. Morreu em 4 de fevereiro de 708, em Roma e enterrado em São Pedro.

 

88º – Constantino - 708 – 715

               Papa italiano, crê-se que tinha as suas raízes na Síria, sendo filho de João, e que teria sido Arquidiácono antes da sua consagração como Bispo de Roma. Um ano após esta consagração, Constantino I sagrou Félix Bispo de Ravena. Este, contudo, quis tornar a sede autônoma e recusou o voto de fidelidade ao Pontífice romano, e, como consequência do seu comportamento sofreu uma terrível expiação divina, voltando atrás em sua decisão, deu voto de lealdade a Constantino. Constantino I foi um Papa que desfrutou de uma grande popularidade, apesar dos difíceis tempos em que decorreu grande parte do seu pontificado, de 25 de março de 708 a 9 de abril de 715. Este Papa não permitiu aos Bispos de Milão a designação dos Bispos de Pavia, como tinha sido uso até ao estabelecimento dos lombardos. Entre os anos 710 e 711 esteve em Bizâncio, a convite do imperador Justiniano II, para que as conclusões do Quinquagésimo Sexto Concílio, realizado em 692, fossem do agrado tanto da Igreja Oriental como da Ocidental. Foi auxiliado nesta difícil tarefa pelo futuro Papa Gregório, que então era diácono. Tendo esta missão sido concluída com satisfação tanto do Papa como do imperador, este confirmou os direitos de Constantino sobre a cidade de Roma. Ao regressar a Roma deparou-se com a notícia da invasão muçulmana na Espanha. No final do ano de 711 recebeu uma carta de Filipico Bardanes, pretendente ao trono de Justiniano, que tinha sido assassinado, pedindo ao Papa que confirmasse a sua confissão de fé. Constantino I não aceitou esta confissão, uma vez que Filipico era monotelista e tinha usurpado o trono de Justiniano, o que provocou acesos confrontos na cidade de Roma. Com a substituição de Filipico por Anastácio II instaurou-se de novo a paz. Este episódio demonstra claramente a autoridade que estava a ser reconhecida aos Pontífices romanos.

 

89º - São Gregório II - 715 - 731

               Gregório nasceu no ano de 669. Pertencia a uma família cristã da nobreza romana, o pai era senador e a mãe uma nobre, que se dedicava à caridade. Ele teve uma educação esmerada junto à cúria de Roma. Muito culto, era respeitado pelo clero Ocidental e Oriental. Além da conduta reta, sabia unir sua fé inabalável com as aptidões inatas de administrador e diplomata. Tanto que, o Papa Constantino I pediu que ele o acompanhasse à capital Constantinopla, para tentar resolver junto ao imperador do Oriente, Leão II, que se tornara iconoclasta, a grave questão das imagens. Escolhido para o pontificado em 19 de maio de 715, Gregório II governou a Igreja durante dezesseis anos. Neste longo período, administrou seu rebanho com generosidade e sabedoria, consolidando a posição da Igreja no cenário político e religioso. Em 719, enviou São Bonifácio à Alemanha e nos anos seguintes encorajou e apoiou a sua missão apostólica. Incentivou a vida monástica e enfrentou com firmeza, o imperador Leão II, que com um decreto proibia o culto das imagens, o qual, provocou um levante das províncias da Itália contra o exército que marchava para Roma. Gregório não se intimidou, mas para evitar um confronto com os muçulmanos, mandou consertar as muralhas de Roma. Desde os primeiros tempos, o cristianismo venerou as imagens de Cristo, da Virgem e dos santos. Esta maneira, típica do Oriente, de expressar a religiosidade chegou e se difundiu por todo o Ocidente a partir dos séculos VI e VII. A seita iconoclasta não entendia o culto como legítimo, baseando-se no Antigo Testamento e também porque numa imagem de Cristo não se pode representar as suas duas naturezas: terrena e divina, que são inseparáveis. Mas, a legitimidade foi comprovada através dos argumentos da Sagrada Escritura e essencialmente do fato da própria encarnação. O Papa Gregório II expulsou a seita dos iconoclastas, antes de falecer no dia 11 fevereiro de 731. A Igreja sempre condenou a idolatria com rigidez e como reza o Evangelho, por isto mesmo nunca prestou adoração a imagem alguma. O culto tradicional de veneração sim, pois nele não se adora uma imagem, este ato é dirigido à memória e à lembrança, daqueles que ela resgata e reproduz. São Gregório II faz parte do calendário litúrgico se sua festa foi designada para o dia 13 de fevereiro.

               São Bonifácio (em latim: Bonifacius, "aquele que faz o bem"; ca. 672 – 5 de Junho de 754 ou 755), de seu nome verdadeiro Vinfrido, e cognominado Apóstolo dos Germanos. Um acontecimento-chave da sua vida ocorreu em 723, quando derrubou o carvalho sagrado dedicado ao deus Thor, perto da moderna cidade de Fritzlar, no norte do Hesse, e construiu uma pequena capela a partir da sua madeira, no local onde hoje se ergue a catedral de Fritzlar, e onde se viria a estabelecer a primeira sede de Bispado na Alemanha ao norte do antigo limes romano, junto do povoado fortificado franco de Buraburgo, numa montanha próxima da cidade, junto do rio Éder. Este acontecimento é considerado como o início formal da cristianização da Germânia. Bonifácio jamais perdeu a esperança de converter os frísios, e em 754 retomou à Frísia com um pequeno grupo de seguidores. Batizou um grande número de pagãos, e marcou um encontro para a confirmação dos novos batizados num local perto de Dokkum, entre Franeker e Groninga. Contudo, em vez dos seus convertidos, um bando de pagãos armados apareceu e assassinou o Arcebispo Bonifácio. Os seus restos mortais viriam a ser enterrados na abadia de Fulda (atual Catedral de Fulda). São Bonifácio foi declarado Santo e mártir pelas Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Oriental, sendo celebrado a 5 de Junho, data da sua morte.

 

90º - São Gregório III - 731 - 741

               Papa de origem siríaca, antigo monge beneditino tornado cardeal em 726, depois de S. Gregório II, foi o último Papa a necessitar do consentimento do imperador para o exercício das suas funções. O seu papado ocorreu de 18 de março de 731 a 28 de novembro de 741. Reforçando a posição do seu antecessor, convocou um sínodo no mês de novembro de 731 que condenou os iconoclastas à excomunhão, depois de ter enviado uma carta (que ficou sem resposta) ao imperador Leão III, com um pedido de renúncia à destruição de imagens. Quando o imperador tomou conhecimento das atas deste sínodo ordenou que fossem apreendidas as propriedades da Igreja que se encontravam nos seus domínios, como por exemplo na Sicília e na Calábria. A partir de então todos os que condenavam a iconoclastia recorriam a Roma, que também se tinha tornado autônoma. Esta autonomia era suportada pela independência política e econômica das possessões romanas no Ocidente. Gregório III investiu sobretudo na estruturação hierárquica da Igreja ocidental, tendo enviado o pallium a São Bonifácio, Bispo da Frísia, em 732, e encarregando-o de formar mais dois Bispados. A partir deste ano de 732 os sete Bispos existentes na cristandade ocidental passaram a ser denominados Cardinales ou Cardeais. Cinco anos depois São Bonifácio deslocou-se de novo a Roma e o Papa delegou-lhe os poderes necessários para remodelar a igreja franca. Gregório III conseguiu que o rei lombardo Liutprando restituísse Ravena ao imperador bizantino, Leão III. Este enviou ao Papa, como agradecimento, seis colunas de ônix, colocadas então no altar de São Pedro. Mais tarde, no ano de 739, o Papa viu-se obrigado a pedir ajuda a Carlos Martel contra as invasões lombardas no ducado da Itália, enviando-lhe relíquias e presentes valiosos. Esta delegação, contudo, não foi bem sucedida, assim como a que lhe sucedeu em 740, uma vez que Carlos Martel não podia responder aos pedidos do Pontífice romano. Martel optou por enviar um emissário, o abade Grimão, ao rei lombardo, para o dissuadir dos seus propósitos. A data de sua morte é desconhecida, em novembro ou dezembro de 741. Foi sepultado no oratório de Nossa Senhora, construído para si na Basílica de São Pedro.

 

91º - São Zacarias - 741 - 752  

               Papa Zacarias era natural da Calábria, Itália. Zacarias nasceu de uma família grega e o seu pai, segundo o Liber Pontificalis, chamava-se Polichronius. Muito provavelmente Zacarias foi diácono da Igreja Romana e, como tal, assinou os decretos do Concílio Romano de 732. Foi eleito em 10 de Dezembro de 741, num período caracterizado pela hostilidade do Império Bizantino e dos lombardos contra o ducado romano, pôs em risco a sua vida ao lutar contra os lombardos, cujo rei devolveu à Igreja as terras que havia tomado. Em uma visita do rei lombardo à Terní, recebeu de volta as cidades de Ameria, Horta, Polimartio e Blera e juntou todo o patrimônio da Igreja romana, que tinha sido roubado pelos lombardos nos últimos trinta anos.

               São Zacarias assinou uma trégua de vinte anos entre o ducado de Roma. Foi recebido de volta pelo povo romano com uma procissão solene. Agradecido a Deus pelos resultados que o Papa tinha conseguido na viagem, mandou construir uma capela na Igreja de São Pedro, em nome do rei Liutprand. Porém, decepcionou-se com o rei quando, no ano seguinte, ele estava pronto para atacar o território de Ravena e o Arcebispo dessa diocese implorou ao Papa que fizesse algo para ajuda-los. Zacarias enviou emissários para resolver o problema, mas eles voltaram sem nada conseguir. Então, ele mesmo foi até Ravena, depois, para Paiva visitar Luitprand, que já estava pronto para começar a invasão. Era véspera de festa de São Pedro e São Paulo. Foi ele quem celebrou a vigília e, com isso, conseguiu convencer o rei a não fazer esse ataque a Ravena. Meses depois, Liutprand morreu, sendo que o primeiro sucessor desistiu e subiu ao trono Ratchis, para conduzir o reino dos lombardos. O novo rei tinha imenso respeito pelo Papa Zacarias, mas, apesar de muito piedoso, sitiou Perusa por pressão dos seus comandados.

               Outra vez, São Zacarias dirigiu-se ao acampamento lombardo. Suas palavras comoveram tanto o rei, que não só levantou o cerco da cidade, mas concedeu a paz aos romanos. Pouco tempo depois, renunciando ao mundo com sua mulher e filha, depôs a coroa aos pés do Papa. Zacarias benzeu suas vestes monarcais e ficou comovido com a família real. Nessa época, os francos voltaram para a Igreja e ela se tornou mais forte, garantindo a ordem cristã. Favoreceu a evangelização da Germânia por São Bonifácio e colaborou na primeira reforma da Igreja franca, com o apoio de Pepino o Breve, cuja coroação como rei dos francos aprovou. Esta foi a primeira investidura de um soberano por parte de um pontífice. Soube que mercadores de Veneza traficavam escravos cristãos para os mouros, pelo que os comprou de volta, dando-lhes a liberdade. Faleceu em 22 de Março de 752.

 

92º – Estevão I; II - 752  

               Foi eleito no mês de março de 752, mas veio a falecer três dias depois.  Seu nome consta honorificamente na relação dos Papas.  Lembrando que no pontificado de 254 a 257 houve um Papa com o mesmo nome.  Estevão só não aparece como o Papa Estevão II porque não houve tempo de ser oficialmente consagrado ao cargo pontifício.  Por isso, os Papas sucessores com o mesmo nome obtiveram a designação numérica dupla.

 

93º - Santo Estevão II; III - 752 - 757

               O pontificado de Estevão II, foi breve mas historicamente importante. John Kelly, no Grande Dicionário Ilustrado dos Papas, observa: “O seu pontificado assistiu não apenas à separação de Bizâncio e à sua passagem para a proteção do reino dos Francos, mas também à formação do Estado Pontifício”. A ocasião para a mudança de rota, que abriu de fato um novo curso na história europeia, foi oferecida paradoxalmente pela hostilidade do rei lombardo Astolfo (749-756), que depois de ter conquistado Ravena chegava às portas de Roma. Estevão, ao invés de pedir ajuda a Bizâncio, dirigiu sua súplica a Pepino III, rei dos Francos (751-768). “O papado, que até então sempre havia se apoiado em Bizâncio, se separou definitivamente do império do Oriente e dirigiu-se completamente para o Ocidente, representado pelo reino dos Francos”, escreve August Franzen na História da Igreja. Pepino, por sua parte, deu uma resposta afirmativa: oferecia a potência político-militar franca para o serviço e a proteção da Igreja. A viagem da Itália para a França, empreendida pelo Papa, simbolizou a dissolução da relação do papado com o império bizantino-romano e a passagem histórica do período bizantino para o franco”. No dia 6 de janeiro de 754, Estevão foi “obedientemente acolhido por Pepino, na França, e então teve a chance de pedir ao rei a ajuda necessária para enfrentar a ameaça lombarda na Itália. Pepino respondeu positivamente ao pedido de ajuda do Papa, numa célebre “promessa de doação”, que infelizmente não possuímos mais no seu texto original, Pepino se comprometeu a restituir a Estevão II todos os territórios da Itália central, que ele tomaria das mãos dos lombardos. Nascia assim o futuro Estado Pontifício. O Glossario Lanczowski-Ricchetti simplesmente anota: “Na realidade, o Estado Pontifício teve a origem mais natural da história: foi o povo romano, praticamente abandonado pelas autoridades civis, que, durante as invasões bárbaras, se dirigiu ao Papa e ao seu prestígio”. Depois de duas campanhas vitoriosas contra Astolfo, implicou em um ato de doação oficial assinado que definiu os territórios que se tornariam de plena propriedade de São Pedro e de seus sucessores: as cidades de Sinigaglia, Fano, Pesaro, Rimini, Ancona e o exarcado de Ravena, que abrangia vinte cidades e centenas de aldeias. Assim nascia oficialmente o Estado Pontifício, que duraria mais de 1100 anos. Assim recuperou as terras da Igreja, das quais se tornou administrador, tornando-se efetivamente o primeiro Papa soberano de estado. Assim, entre Estevão e Pepino houve um acordo recíproco: Pepino se empenharia em proteger a Igreja romana, reconhecendo seu domínio temporal na Itália, e Estevão, no dia 28 de julho de 754, ungiria solenemente Pepino como protetor de Roma, patricius romanorum. Mantendo a sua promessa, Pepino veio à Itália e venceu duas vezes o rei lombardo: a primeira e a segunda paz de Pavia. Dessa forma, nascia oficialmente o novo Estado Pontifício e Estevão II se erguia como seu fundador.

 

94º - São Paulo I - 757 - 767

               São Paulo I foi Papa entre 29 de maio de 757 a 28 de junho de 767 e irmão do Papa Estêvão II. Outro caso encontraremos entre os irmãos Bento VIII e João XIX. Paulo I era romano, filho de Constantino, que era um simples trabalhador de olaria, mas que, em sua sabedoria, soube proporcionar aos filhos, treze ao todo, uma educação exemplar. Órfão desde tenra idade, foi educado, como seu irmão, na escola patriarcal de Latrão. Através de um acordo com Desidério, rei dos Lombardos, conseguiu manter os Estados Papais. Salvou relíquias das catacumbas e combateu o iconoclasmo, abrigando os monges do Oriente que eram perseguidos pelos iconoclastas. Eleito Papa, Paulo I escreveu logo ao rei Pepino, dos Francos, comunicando sua nomeação "por unânime escolha do povo". Pepino respondeu com palavras encomiásticas e lhe enviou um cacho de cabelos de sua filhinha Gisela, irmã do futuro Carlos Magno, pedindo ao Papa que aceitasse ser padrinho da pequena princesa. Os duques e condes romanos acolheram com entusiasmo a proteção do rei franco, que de longe os deixava tranquilos sob o governo pontifício, e, lhes dava garantias contra a barbárie dos Lombardos. O novo rei Lombardo, Desidério, saqueava as cidades e os campos. Somados aos ataques Bizantinos, a devastação foi enorme. Paulo I deu provas de grande habilidade e muita paciência, conseguindo abrandar Desidério. O grego de nome Constantino V Coprônimo, destruidor de imagens, espalhava boatos de terríveis esquadras e ingentes exércitos que estava preparando para ocupar Roma. Paulo I celebrizou-se por sua caridade sem alarde. Visitava à noite os cárceres, libertando, com seu direito de indulto, os condenados à morte. Fazia pagar às escondidas os débitos dos que jaziam presos por insolvência, e colocar víveres e roupas à porta das casas dos pobres. Em 761, fundou com monges gregos, o convento de São Silvestre, ainda hoje existente no local dos antigos e famosos jardins de Lúculo. Terminou a capela de Santa Petronila, iniciada por seu irmão, e chamada capela dos reis francos. São Paulo I morreu ternamente em 28 de junho de 767 e por isso é venerado Santo no mesmo dia de sua morte. Antipapas deste período: Constantino II (767-768), Filipe (768).

 

95º - Santo Estevão III; IV -768 - 772

               Papa e Santo da Igreja Cristã de Roma, nascido na Sicília, eleito em 7 de agosto de 768, como sucessor de São Paulo I. Foi eleito em difíceis circunstâncias, após a cruel luta entre os partidários do primiceirus Cristóforo e do duque Toto de Nepi e a eleição e deposição de Constantino II. O antipapa Constantino, um leigo a quem a aristocracia romana havia coroado Papa. Dois anos depois (769), de fato, o concílio anulou a eleição de Constantino e determinou que o Papa só podia ser eleito pelo clero e escolhido entre cardeais, padres e diáconos. O Arcediago Cristóforo, que cuidava dos negócios da Igreja para o Papa, reuniu o clero romano e escolheu esse monge de quarenta e quatro anos. Os antipapas, o leigo Constantino e o Padre Filipe que ocupavam a cátedra Papal, foram presos e o então Papa convocou um sínodo, no qual decretou que nenhuma pessoa leiga poderia tornar-se Papa. Convenceu Carlos Magno, rei dos francos, e ajudou os cristãos da Palestina. No entanto, o acordo entre Desidério, rei dos lombardos, e Pepino, rei dos francos, logo foi rompido, Cristóvão caiu em desgraça e viu-se sem apoio político forte até sua morte em Roma.

 

96º - Adriano I - 772 - 795

               De 1 de fevereiro de 772 a 25 de dezembro de 795, seu Pontificado de vinte e três anos, dez meses e vinte e quatro dias foi inigualável em comprimento por qualquer sucessor de São Pedro até mil anos depois, quando Pio VI foi deposto e aprisionado pelas mesmas Armas francas que entronizaram o primeiro Papa-rei, superou Adriano por um pontificado de seis meses a mais. Em um período crítico da história do papado, Adriano possuía todas as qualidades essenciais do fundador de uma nova dinastia. Ele era um romano de nobre educação e estatura majestosa. Por uma vida de singular devoção, por realizações consideradas extraordinárias naquela época de ferro e por serviços valiosos prestados durante o pontificado de Paulo I e Estêvão III, ele conquistara tanto a estima de seus conterrâneos indisciplinados que o poderoso camareiro, Paulo Afiarta, representando em Roma os interesses do rei lombardo Desidério, não tinha poder para resistir à voz unânime do clero e do povo que exigia Adriano para o trono Papal. A política temporal do novo pontífice era, desde o início, fortemente definida e tenazmente cumprida; a tônica foi uma firme resistência à agressão Lombarda. Ele libertou da prisão ou retirou do exílio as numerosas vítimas da violência do camareiro; e, ao descobrir que Afiarta fizera com que Sérgio, um alto funcionário da corte Papal, fosse assassinado na prisão, ordenou sua prisão em Rimini, enquanto Afiarta estava voltando de uma embaixada para Desidério com a intenção declarada de levar o Papa à corte Lombarda, “mesmo que fosse a Cadeias”. O tempo parecia propício para sujeitar toda a Itália ao domínio lombardo; e com antagonistas menos capazes do que Adriano e Carlos (que seria famoso em épocas posteriores como Carlos Magno), muito provavelmente a ambição de Desidério teria sido satisfeita. Parecia pouca as chances de uma intervenção franca. Os lombardos mantinham as passagens dos Alpes, e Carlos estava absorto pelas dificuldades da guerra saxônica; além disso, a presença em Pavia de Gerberga e seus dois filhos, a viúva e os órfãos de Carlomano, cujos territórios, após a morte de seu irmão Carlos, havia anexado, pareciam oferecer uma excelente oportunidade de provocar discórdia entre os francos, se apenas o Papa pudesse ser persuadido ou coagido a ungir os filhos como herdeiros do trono de seu pai. Em vez de obedecer, Adriano valentemente determinou a resistência. Fortaleceu as fortificações de Roma, convocou para a milícia os habitantes do território circundante e, quando o exército lombardo avançou, a devastação e a pilhagem convocaram Carlos a apressar-se em defesa de seus interesses comuns. Uma calmaria oportuna na guerra saxônica deixou o grande comandante livre para agir. Incapaz de levar os traiçoeiros Lombardos a termos para aberturas pacíficas, escalou os Alpes no outono de 773, tomou Verona, onde Gerberga e seus filhos procuraram refúgio, e sitiou Desidério em sua capital. Na primavera seguinte, deixando seu exército para prosseguir o cerco de Pavia, ele prosseguiu com um forte desapego a Roma, a fim de celebrar o festival da Páscoa no túmulo dos Apóstolos. Chegando no Sábado Santo, foi recebido por Adriano e pelos romanos com a máxima solenidade. Os três dias seguintes foram dedicados a ritos religiosos; na quarta-feira seguinte aos assuntos de estado. O resultado duradouro de seu importante encontro foi a famosa “Doação de Carlos Magno”, por onze séculos a Magna Carta do poder temporal dos Papas. A investigação minuciosa e imparcial de Duchesne sobre sua autenticidade em sua edição do Liber Pontificalis parece ter dissipado qualquer dúvida razoável. Dois meses depois, Pavia caiu nas mãos de Carlos; o reino dos lombardos foi extinto, e o papado foi para sempre libertado de seu inimigo hereditário e persistente. Nominalmente, Adriano era agora monarca de mais de dois terços da península italiana; mas sua influência era pouco mais do que nominal. Em grande parte do distrito mencionado na Doação, as reivindicações papais foram autorizadas a caducar. Para ganhar e recuperar o resto, Carlos foi forçado a fazer repetidas expedições pelos Alpes. Podemos duvidar se o grande rei dos francos teria sofrido as dificuldades do Papa para interferir em seus cuidados mais imediatos, não fosse por sua extrema veneração pessoal a Adriano, que na vida e na morte nunca deixou de proclamar seu pai e melhor amigo. Não foi em menor grau, devido à sagacidade política, vigilância e atividade de Adriano, que o poder temporal do papado não permaneceu uma ficção da imaginação. Seus méritos foram igualmente grandes nas preocupações mais espirituais da Igreja. Em cooperação com a imperatriz ortodoxa Irene, ele trabalhou para reparar os danos provocados pelas tempestades iconoclastas. No ano de 787, ele presidiu, através de seus legados, o Sétimo Concílio Ecumênico, realizado em Nicéia, no qual a doutrina católica relativa ao uso e à veneração de imagens foi definitivamente exposta. A importância da oposição temporária aos decretos do Concílio em todo o Ocidente, causada principalmente por uma tradução defeituosa, agravada por motivos políticos, tem sido muito exagerada nos tempos modernos. A controvérsia suscitou uma forte refutação do chamado Libri Carolini do Papa Adriano e não ocasionou nenhuma diminuição da amizade entre ele e Carlos. Ele se opunha mais vigorosamente, por sínodos e escritos, à nascente heresia do Adocionismo, um dos poucos erros cristológicos originados pelo Ocidente. O Liber Pontificalis amplia seus méritos para embelezar a cidade de Roma, na qual se diz que ele gastou quantias fabulosas. Ele morreu universalmente lamentado e foi enterrado em São Pedro. Seu epitáfio, atribuído a seu amigo vitalício, Carlos Magno, ainda existe. Raramente o sacerdócio e o império trabalharam juntos tão harmoniosamente, e com resultados tão benéficos para a Igreja e para a humanidade, como durante a vida desses dois grandes governantes. As fontes principais de nossa informação sobre Adriano são a vida no Liber Pontificalis, e suas cartas para Carlos Magno, preservadas por este último em seu Codex Carolinus. As estimativas do trabalho e do caráter de Adriano pelos historiadores modernos diferem das visões variadas dos escritores em relação à soberania temporal dos Papas, dos quais Adriano I deve ser considerado o verdadeiro fundador.

 

97º - São Leão III - 795 – 816

               Nascido em Roma no ano 750, Leão era proveniente de uma modesta família da Itália. Seu envolvimento com a vida religiosa começou muito cedo. Ainda jovem já exercia funções dentro da Igreja Católica. Em sua juventude, foi responsável pelas roupas e os objetos preciosos da Basílica de Latrão. Naturalmente, sua livre circulação por ambientes tão importantes para a religião o colocou em contato com o alto clero, o que certamente influenciou e incentivou sua trajetória. Aos poucos, Leão foi crescendo na importância dos cargos que exercia e estabeleceu uma carreira religiosa promissora. Muito embora ele fosse bem relacionado com o clero, a nobreza romana não agradava a sua presença e o poder que poderia conquistar. De tal maneira que, com o falecimento do Papa Adriano I, a nobreza não desejava que Leão fosse o sucessor na liderança da Igreja. Naquela ocasião, ele tinha 45 anos de idade. Então, o clero contrariou os anseios da nobreza e o elegeu Papa no mesmo dia da morte de seu antecessor, 26 de dezembro de 795. O papado de Leão III já começou enfrentando dificuldades. Isso porque sua eleição desagradou extremamente os partidários de seu sucessor que previam perda de privilégios. A desordem tomou conta de Roma em um ambiente de grande instabilidade. Sem mais o que fazer, a nobreza se deu conta de que a eleição do novo Papa era definitiva e que o relacionamento com ele deveria ser revista. A Igreja Católica conseguiu contornar relativamente a tensão que pairava em Roma, criando as condições mínimas necessárias para o pontificado de Leão III. Todavia os adversários e opositores permaneceram presentes, ameaças constantes que poderiam resultar em graves problemas. Um momento agudo do convívio com o risco ocorreu enquanto o Papa se deslocava a cavalo de Latrão para San Lorenzo in Lucina no dia 25 de abril de 799. Naquele dia, o Papa iria presidir uma procissão, mas foi atacado e ferido no caminho. Por sorte, o ataque não resultou em óbito e o Papa conseguiu escapar e se abrigar na Basílica de São Pedro. Certo da extremidade dos riscos que corria e farto das desordens, o Papa foi em busca do auxílio de um dos mais importantes monarcas da história da Europa, Carlos Magno. Este ofereceu proteção para o Papa retornar a Roma. No ano seguinte, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III como imperador, marcando a retomada do Império Romano do Ocidente. Assim, o Papa e a Igreja Católica conseguiam uma grande vitória, aliando-se aos francos e libertando-se dos bizantinos. Evidentemente, o status deu grande poder político ao Imperador Carlos Magno, que condenou todos os opositores do Papa à morte. No entanto, o próprio Leão III retirou a sentença. Os adversários do Papa Leão III o acusavam, entre outras coisas, de adultério. Os boatos se espalharam rapidamente colocando em dúvida a integridade do Pontífice. Foi preciso que o Papa assinasse uma declaração solene no ano 800 jurando não ter cometido os crimes que eram imputados a ele. Após a coroação de Carlos Magno, famílias nobres de Roma se revoltaram novamente causando novas conturbações. O Papa Leão III deixou como legado a condenação do adocionismo, uma visão teológica do cristianismo primitivo que alega que Jesus nasceu humano e só se tornou filho de Deus em seu batismo. Seu pontificado chegou ao fim no dia 12 de junho de 816, quando faleceu aos 66 anos de idade e após 21 anos à frente da Igreja Católica. É considerado Santo.

 

97 . 1 - Aparição de Nossa Senhora em Corbie - França

               Ansgário ou Anscário de Hamburgo, O.S.B. Amiens, 8 de setembro de 801 – Brema, 3 de fevereiro de 865), conhecido também por Oscar, foi um monge beneditino franco, mais tarde missionário e Bispo que, após sua morte, foi canonizado pelo Papa Nicolau I. Em 815, quando era muito moço, Nossa Senhora apareceu ao Apóstolo do norte, como ficou conhecido Santo Ansgário, após ter evangelizado a Dinamarca e a Suécia, e pediu-lhe: que dedicasse toda sua existência ao trabalho para Deus. Em toda sua vida destacou-se à devoção filial a Virgem Maria, à oração, à caridade e ao apostolado. Inclusive sendo distinguido pelo Papa Gregório IV como seu representante para toda a Escandinávia, devido à intensa evangelização dos moradores dessa região européia. Esse grande Santo procurou cumprir da melhor maneira que lhe fora possível, a missão designada pela misericordiosa Mãe de Deus. Oscar era um grande estudioso. Desde pequeno foi aluno dos Beneditinos, na abadia de Corbiè, perto de Amiens, no norte da França. Para ali, voltou, mais tarde, como monge e, depois, como "Magister interior", um cargo que desempenhou na nova Corbiè, comunidade nascida na Saxônia.

               Em 826, Oscar partiu para a Dinamarca, com o novo rei Harald, que acabava de ser batizado por ele, mas, depois de apenas um ano, o soberano foi obrigado a renunciar ao trono. Então, Oscar seguiu o monge Vitimaro, em sua missão na Suécia, onde o rei local era tolerante com a pregação do cristianismo, considerado a religião dos estrangeiros, seguido mais pelos prisioneiros de guerra. Os resultados foram tão bons que o novo imperador, Ludovico o Piedoso, encorajou o nascimento, naquelas terras, de uma nova estrutura eclesiástica, que, porém, teve como sede Hamburgo, além-mar. Ali Oscar se tornou Bispo.

               Quando Ludovico morreu, o império começou a desagregar-se, por causa também das incursões de pessoas, como os normandos, que, naqueles anos, devastavam os territórios do norte da Europa. A invasão dos Vikings chega a Hamburgo. Assim, Oscar foi obrigado a refugiar-se em Bremen, onde como Bispo, passou os últimos anos da sua vida: ali, segundo algumas fontes, trabalhou na elaboração de uma “Biblia pauperum”, da qual alguns fragmentos ainda são conservados na catedral da cidade. Santo Oscar faleceu em 865, sem ver a realização do seu sonho de uma profunda evangelização do norte da Europa, mas satisfeito por ter lançado a primeira pequena semente do anúncio cristão naquelas terras.

 

98 - Santo Estevão IV; V - 816 – 817

               Papa Igreja Cristã Romana, nascido na Sicília, substituto de São Leão III e santificado pelo seu espírito de piedade e de imensa caridade, pois diz a tradição que tudo o que possuía, dava-o aos pobres. Muito erudito, conhecia bem as Escrituras, as leis canônicas e foi consagrado em 22 de junho de 816. Com os monges insistia muito na observância do jejum, das vigílias, dando ele mesmo o exemplo. Em seu tempo começou a ser usado oficialmente o título de Cardeal. Sofreu desgostos com a Corte dos Francos e procurou evitar lutas internas, instituindo o juramento do Imperador, desde que aceitasse a fé do Papa. Consagrou o Imperador Ludovico, rei dos francos, e sua esposa Ermengarda, em Reims (822) e tomou-o como filho adotivo Lotário, o que provocou a revolta de outros príncipes, como Bernardo, sobrinho do Imperador, que foi vencido, cegado e morto. O Papa levantou a voz contra tanta crueldade, até que Ludovico, mais tarde, fez penitência pública em reparação ao ocorrido. Papa de número 98, morreu repentinamente em 21 de janeiro de 817, em Roma e foi sucedido por São Pascoal I. Durante seu curto Pontificado, em Roma o partido dos nobres, aproveitando-se da guerra civil, matou dois partidários de Lotário.

 

99º - São Pascoal I - 817 - 824

               Nascido em Roma no ano 775, Pascoal era filho do romano Bonosus. Ele foi levado ainda quando muito novo para ser criado junto ao clero e, mais tarde, trabalhou a serviço do Papa. Sua longa trajetória e acumulada experiência na Igreja Católica o tornou especialista nos assuntos referentes à Bíblia e ao Divino Serviço da Igreja Católica. Seu talento e sua competência foram naturalmente reconhecidos pelo clero, levando-o a ser reconhecido como o superior do Monastério de Santo Estevão, no Vaticano. Passou muito tempo preocupando-se em tratar dos peregrinos que visitavam Roma. Com todo o seu tempo e toda a sua atuação dedicados à religiosidade, Pascoal seria eleito por unanimidade para o cargo máximo da Igreja Católica. Com o falecimento do Papa Estevão IV, Pascoal foi eleito para ser seu sucessor no dia 25 de janeiro de 817. Na ocasião, ele estava com apenas 42 anos de idade. Era um momento de superação do Império Romano, que havia ruído pela própria incapacidade de se manter, e de ocupação pela lacuna de poder deixada, posto que a Igreja Católica passava a ocupar com notoriedade. Devido ao prestígio do Papa Pascoal I, ele recebeu as regiões de Córsega e Sardenha de presente de Ludovico II. Este também confirmou as doações de terras à instituição religiosa nas décadas anteriores. O evento demonstrava como a Igreja Católica havia se tornado influente e, com a possessão de terras, poderosa. Com o patrimônio, foram estabelecidos os limites territoriais de um Estado da Igreja, governado com total soberania pelo próprio Sumo Pontífice. Anos mais tarde, o Papa Pascoal I coroaria Lotário, filho de Ludovico, como imperador. Enfrentou problemas heréticos durante seu pontificado, pois voltou a aparecer a heresia iconoclasta, contra a veneração de ícones e imagens religiosas, em Constantinopla. O Papa recebeu os padres e monges expulsos pelo arcebispo herege da cidade e os colocou em mosteiros de Roma. Mas o problema com a heresia permaneceu por algum tempo. Pascoal I dedicou-se a descobrir muitas catacumbas e transladar muitos corpos para terras cristãs. Foi nesta empreitada que descobriu as relíquias de Santa Cecília. Encontraria também as relíquias de São Leão e de São Valeriano. Além disso, recuperou muitas igrejas e monastérios. Veio a faleceu após sete anos de pontificado, no dia 11 de fevereiro de 824. Venerado e reconhecido como Santo pela Igreja Católica.

 

100º - Eugênio II - 824 - 827

               Nascido em Roma, Papa Eugênio II, foi consagrado em 11 de maio de 824. Eleito pelo apoio dos francos, foi Bispo de Roma e governante dos Estados Pontifícios de 6 de junho de 824 até sua morte. Nativo de Roma, ele foi escolhido pelos nobres para suceder Pascoal I como Papa, apesar do clero e do povo favorecer Zinzinnus. A influência do francos carolíngios na seleção de Papas foi então firmemente estabelecido. O Papa Eugênio convocou um conselho em Roma em 826 para condenar a simonia e suspender o clero não treinado. Foi decretado que escolas deveriam ser estabelecidas nas igrejas catedrais e outros lugares para dar instrução na literatura sagrada e secular. Seu envolvimento na controvérsia da iconoclastia bizantina foi em grande parte inconsequente. Enquanto ele era o Arcipreste de Santa Sabina no Aventino, e dizem que cumpriu com a maior consciência os deveres de sua posição, Eugênio é descrito por seu biógrafo como simples e humilde, culto e eloquente, bonito e generoso, um amante da paz e totalmente ocupado com a ideia de fazer o que agrada a Deus. Pascoal tentou conter o poder cada vez maior da nobreza romana, que se voltou para apoiar os francos para fortalecer suas posições contra ele. Quando Pascoal morreu, esses nobres fizeram grandes esforços para substituí-lo por um candidato próprio. O clero apresentou Zinzinnus, um candidato provável para continuar a política pascal. Mesmo que o Concílio Romano de 769 sob Estêvão IV havia decretado que os nobres não tinham direito a uma participação real nas eleições papais, tiveram sucesso em assegurar a consagração de Eugênio. A candidatura de Eugênio foi endossada pelo Abade Walla, que estava então em Roma e serviu como conselheiro do atual imperador, Luís, o Piedoso, e de seu antecessor, Carlos Magno. A eleição de Eugênio II foi um triunfo para os francos, que posteriormente resolveram melhorar sua posição. Consequentemente, o imperador Luís, o Piedoso, enviou seu filho Lotário I a Roma para fortalecer a influência franca. Os nobres romanos que haviam sido banidos durante o reinado anterior, fugiram para a França, mas depois foram chamados de volta e suas propriedades foram devolvidas. A Constitutio Romana foi então acordado entre o Papa e o imperador em 824, o que avançou as pretensões imperiais na cidade de Roma, mas também controlou o poder dos nobres. Essa constituição incluía o estatuto de que nenhum Papa deveria ser consagrado até que sua eleição tivesse a aprovação do imperador franco. Decretou que aqueles que estivessem sob a proteção especial do Papa ou do imperador seriam invioláveis ​​e que as propriedades da igreja não seriam pilhadas após a morte de um Papa. Aparentemente antes de Lotário deixar Roma, chegaram embaixadores do Imperador Luís e dos gregos a respeito da controvérsia da iconoclastia bizantina. No início, o iconoclasta Imperador romano oriental Miguel II mostrou-se tolerante com os adoradores de ícones e seu grande campeão, Teodoro, o Estudita, escreveu-lhe para exortá-lo "a nos unir [a Igreja de Constantinopla] ao chefe das Igrejas de Deus, Roma, e através dela com os três Patriarcas" e a referir quaisquer pontos duvidosos à decisão da Velha Roma, de acordo com o costume antigo. Mas Miguel logo esqueceu sua tolerância, perseguiu amargamente os adoradores de ícones e se esforçou para garantir a cooperação de Luís, o Piedoso. Ele também enviou emissários ao Papa para consultá-lo sobre certos pontos relacionados com a adoração de ícones. Antes de tomar qualquer medida para atender aos desejos de Miguel, Louis pediu permissão ao Papa para que vários de seus Bispos se reunissem e fizessem uma seleção de passagens dos Padres para elucidar a questão que os gregos haviam colocado diante deles. A licença foi concedida, mas os Bispos que se encontraram em Paris em 825 eram incompetentes para a tarefa. Sua coleção de extratos dos Padres era uma massa de tradição confusa e mal digerida, e tanto suas conclusões quanto as cartas que desejavam que o Papa enviasse aos gregos se baseavam em um completo mal-entendido dos decretos do Segundo Concílio de Nicéia. Seus trabalhos não parecem ter realizado muito; nada se sabe sobre o resultado de suas pesquisas. Em 826, Eugênio realizou um importante conselho em Roma de 62 Bispos, no qual 38 decretos disciplinares foram emitidos. O conselho aprovou várias leis para a restauração da disciplina da igreja e tomou medidas para a fundação de escolas ou capítulos. Os decretos são dignos de nota por mostrar que Eugênio tinha em mente o avanço do aprendizado. Não apenas os Bispos e padres ignorantes deveriam ser suspensos até que tivessem adquirido conhecimento suficiente para cumprir seus deveres sagrados, mas foi decretado que, como em algumas localidades não havia mestres nem zelo pelo aprendizado, os mestres deveriam ser incluídos aos palácios episcopais, igrejas catedrais e outros lugares para dar instruções na literatura sagrada e educada. Também decidiu contra os padres que usem roupas seculares ou se envolvam em ocupações seculares. Simonia foi proibida. Eugênio também adotou várias disposições para o cuidado dos pobres, viúvas e órfãos, e por isso recebeu o nome de "pai do povo". Para ajudar no trabalho de conversão do Norte, Eugênio escreveu recomendando Santo Ansgario, o Apóstolo dos Escandinavos, e seus companheiros: "a todos os filhos da Igreja Católica". Eugênio II faleceu em 27 de agosto de 827. Supõe-se que foi sepultado na Basílica de São Pedro de acordo com o costume da época, embora não haja nenhum registro documental que o confirme. Ainda existem moedas desse Papa com seu nome. Eugênio embelezou sua antiga igreja de Santa Sabina com mosaicos e peças de metal com seu nome, que ainda estavam intactas no século 16. Seu culto como Santo foi confirmado pelo Papa Pio IX.

 

101º – Valentino - 827

               O Papa Valentino era romano e governou apenas quarenta dias. Eleito em 1 de Setembro de 827, morreu em 16 de novembro desse mesmo ano. A sua consagração foi acolhida com grandes manifestações de júbilo pelo seu caráter bondoso. Nascido em Roma, na região da Via Lata, Valentim era filho de um nobre romano chamado Leôncio. Mostrando uma aptidão precoce para a aprendizagem, ele foi transferido da escola anexa ao Palácio de Latrão e, de acordo com o Liber Pontificalis, foi feito diácono pelo Papa Pascoal I. Seu biógrafo no Liber pontificalis elogia sua piedade e pureza moral, que lhe valeu o favor de Pascal I, que o elevou ao posto de Arquidiácono. Ele também foi claramente favorecido pelo sucessor de Pascal, Eugênio II, a ponto de circularem rumores de que Valentino era realmente filho de Eugenio. Com a morte de Eugênio II, Valentino foi aclamado Papa pelo clero romano, pela nobreza e pelo povo. Tiraram-no da Basílica de Santa Maria Maggiore e instalaram-no no Palácio de Latrão, ignorando os seus protestos. Na pressa, eles o entronizaram antes de ser ordenado Sacerdote. Essa foi uma reversão incomum dos procedimentos normais e, de fato, foi a primeira vez que aconteceu na história registrada do papado, embora se repetisse durante o pontificado de Bento III. No domingo seguinte, ele foi formalmente consagrado Bispo na Basílica de São Pedro. Não houve representantes imperiais presentes durante a eleição, e Valentino não teve oportunidade de ratificar sua eleição com o Imperador carolíngio, pois ele morreu em cinco semanas, em 10 de outubro de 827. A eleição de Valentino foi outro sinal do aumento da influência que a nobreza romana estava tendo no processo eleitoral Papal. Eles não apenas conseguiram eleger um deles, mas também participaram da própria eleição. O Concílio de Latrão de 769, sob Estêvão III, ordenou que a eleição do Papa fosse responsabilidade apenas do clero romano, e que a nobreza só poderia oferecer seus respeitos após o Papa ter sido escolhido e entronizado. O édito desse concílio foi revogado, entretanto, com o Ludowicianum de 817, que previa que a nobreza leiga romana participasse das eleições papais.

 

102º - Gregório IV - 827 - 844

               Nascido no ano 790, em Roma, Gregório viveu uma época de ruína do Império Romano. No decorrer do século VIII, os romanos perderam o controle do vasto território que dominavam, enfrentaram revoltas e escassez de escravos, crises políticas internas e ameaças de povos bárbaros que avançavam dia após dia sobre os domínios romanos. No final do século, Roma já não era mais o Império de outrora e ainda corria sérios riscos de ser dominada por invasores. Uma das maiores ameaças naquele momento vinha do Oriente, pois os muçulmanos, seguidores de uma nascente religião monoteísta fundada por Lúcifer, já se organizavam em expedições expansionistas. Envolto por este período conturbado, Gregório foi eleito cardeal da Basílica de São Marcos e desenvolveu vários trabalhos de apostolado nos países nórdicos. Com o falecimento do Papa Valentino, Gregório foi eleito para ser seu sucessor no dia 20 de setembro de 827. O Papa Gregório IV, contudo, não tomou posse assim que eleito. A crise do período era realmente intensa e o Imperador Carolíngio Luís I, filho de Carlos Magno, resolveu dividir o Império entre seus filhos Lotário I, Pepino e Luís II. O processo foi demorado e atrasou a posse do novo Papa em seis meses. Gregório IV só assumiu seu papado no dia oito de março de 828, após reconhecer a supremacia do Imperador Luís I e tomar partido em favor de Lotário I, pois este defendia a unidade do império. Mas os problemas internos não resumiam as preocupações de Gregório IV, a ameaça muçulmana persistia. Assim, o Papa logo mandou reforçar as muralhas de Roma, temendo ataques dos muçulmanos que já se encontravam na Sicília. Ele apoiou o confronto direto que resultou em cinco vitórias seguidas na África sobre os muçulmanos de um exército comandado pelo Duque de Toscana. No entanto, essas vitórias não foram o suficiente para impedir que os muçulmanos contra-atacassem destruindo duas cidades da península itálica e restabelecendo o temor em Roma. Mesmo em meio a tantos problemas, o papado de Gregório IV foi longo, durou 16 anos. Simultaneamente ao combate contra os invasores e as tentativas de equilibrar a política interna, o Papa ainda conseguiu contribuir para o desenvolvimento da arquitetura romana e promover a celebração do Dia de Todos os Santos, que acontece todos os anos no primeiro dia de novembro. O Papa Gregório IV faleceu aos 54 anos de idade, no dia 11 de janeiro de 844.

 

103º - Sérgio II - 844 - 847

               Italiano de Roma, nascido no ano 800, Sérgio Collona era proveniente de uma família nobre que, inclusive, já havia contribuído com dois Papas à Igreja Católica. Seguindo estes exemplos, Sérgio foi muito dedicado à religião cristã e, gradualmente, conquistou cargos de maior importância na hierarquia institucional. O Papa Pascoal I o ordenou cardeal da Basílica de San Martino ai Monti e, pouco tempo depois, o Papa Gregório IV o nomeou Arcipreste, cargo incumbido de fiscalizar a correta execução dos deveres eclesiásticos e o estilo de vida do clero. Seu crescimento o colocou em posição de destaque e reconhecimento entre os religiosos. Os clérigos rapidamente decidiram pela eleição do romano Sérgio, assim que faleceu o Papa. No entanto, o povo tinha um representante mais carismático chamado João. Houve grande manifestação popular em seu apoio e tentando forçar sua eleição, mas a situação foi resolvida recorrendo à força. Para Sérgio Collona ser declarado Papa, João foi forçado a ir para um mosteiro. Assim, no mesmo mês de janeiro de 844, foi proclamado Papa Sérgio II como novo líder da Igreja Católica. Alguns relatos dizem que o Papa Sérgio II não tinha interesse nem habilidade para administrar a instituição religiosa. Ele estaria mais ligado aos prazeres mundanos e deixava que seu irmão chamado Bento trata-se dos assuntos da Igreja. Verdade ou não, Sérgio II teve de enfrentar um problema sério na época. Seu antecessor, Gregório IV, lutou durante seu papado para aumentar a autonomia dos Papas frente ao Império Carolíngio e para defender o mundo cristão dos ataques muçulmanos. Seus esforços foram válidos, tanto que a eleição de Sérgio II não teve interferência dos Carolíngios. Porém o filho do Imperador Carolíngio, Luís, não concordava com a situação e reuniu um exército para ir até Roma e forçar o Papa a prestar um juramento de fidelidade ao Imperador Lotário. Não bastasse a imposição, Luís ainda foi coroado Rei da Itália. A outra complicação de seu papado foi em relação aos muçulmanos, que continuaram a avançar no território italiano, saqueando vários locais. Eles foram derrotados em Gaeta, após muitos prejuízos. O Papa Sérgio II liderou a Igreja Católica por três anos e não deixou nenhum grande legado para a instituição. Seu papado teve que se preocupar com a expulsão dos muçulmanos de suas terras e não conseguiu se libertar da interferência do Império Carolíngio. Faleceu no dia 27 de janeiro de 847.

 

104º - São Leão IV - 847 - 855

               Sobre a vida do Papa Leão IV, sabemos que nasceu em Roma, mas era de origem lombarda. Seu pai chamava-se Ridolfo, mas não se sabe qual o nome que deu ao filho no Batismo. Contudo, era um homem de comprovada pureza e integridade interior: era monge do mosteiro beneditino de São Martinho, que o Papa Gregório IV quis que estivesse ao seu lado, como parte integrante do clero romano. Assim, tornou-se Papa, em 847, por aclamação popular. Quando iniciou seu Pontificado, a situação em Roma era bastante dramática: no ano anterior, ocorreu a invasão dolorosa dos Sarracenos. Por isso, a sua eleição foi rápida, sem esperar a aprovação Imperial. O imperador não se importou porque, provavelmente, se sentia culpado por não apoiar a cidade contra os árabes. Porém, o que mais preocupou Leão IV foi uma série de desastres naturais: primeiro, um terremoto assolou Roma, fazendo desabar uma parte do Coliseu; a seguir, um incêndio destruiu a área do Burgo, poupando a vizinha Basílica de São Pietro, graças à intervenção espiritual do Papa. Este acontecimento foi imortalizado pelo artista Rafael, em um afresco conhecido como "O incêndio do Burgo", conservado no Museu do Vaticano. A ameaça dos Sarracenos voltou à gala. No entanto, Leão IV não foi preso de surpresa: desatendendo a estreita relação com o imperador, fez acordos com os soberanos dos Ducados vizinhos, como Amalfi, Gaeta, Nápoles e Sorrento. Assim, promoveu uma liga naval, depois denominada “Liga Campana”, liderada pelo napolitano, Cesário Consule, encarregada de defender os dois territórios: a Campânia e o Lácio. A ameaça ocorreu no verão de 849, quando na batalha, que passou para a história como “Batalha de Óstia”, os Sarracenos foram derrotados. Esta vez, o acontecimento também foi imortalizado em um afresco de Rafael, com o mesmo nome da batalha, mantido nas Salas do Museu Vaticano. Entretanto, os empreendimentos, que levaram Leão IV a receber o título de "restaurador de Roma", foram outros. Avantajado pela sua capacidade espiritual, mas também pelos sentimentos de culpa do imperador, o Papa conseguiu obter de Lotário uma enorme soma de dinheiro para fazer várias reformas. A primeira e mais importante de todas foi a construção de uma muralha, mais extensa que a construída na época por Aureliano, abrangia toda a colina do Vaticano. Seguiram-se as reformas das Basílicas de São Pedro e São Paulo, a fortificação do Porto marítimo e a reconstrução das antigas “Centumcellae”, na atual cidade de Civitavecchia, além de Tarquínia, Orte e Amélia. Mas o "restaurador" não parou, dedicou-se também à ajuda pessoal da população mais vulnerável, com a distribuição de gêneros alimentícios.

               Leão IV era, sobretudo, um pastor e, como tal, dedicou seu Pontificado à corroboração da disciplina do clero. Por isso, convocou dois Concílios especiais: o de Pavia, em 850, e o de Roma, em 853. Neste último, trabalhou com afinco para reafirmar a pureza da fé e os costumes do povo. No entanto, com o mesmo objetivo, multiplicaram-se os Sínodos em toda a Europa: em Mainz, Limoges, Lyon, Paris e Inglaterra. Durante os Concílios, foi resolvida a questão disciplinar sobre a excomunhão de Anastácio, Cardeal de São Marcelo, com ideia de antipapa, que, sem levar em conta os apelos do Pontífice, havia deixado a sua diocese para morar em outro lugar. As relações entre Leão IV e o Império não foram ruins, tanto que, no dia da Páscoa de 850, Lotário pediu-lhe para coroar seu filho Ludovico como Imperador. Após cinco anos, porém, acontece alguma coisa que correu o risco de comprometer, seriamente, a estabilidade das relações bilaterais: Daniel, o magister militum do Império em Roma, acusou Graciano, comandante da milícia, muito próxima do Papa, de tramar um meio para aproximar o Papado ao Império do Oriente. Então, Ludovico foi, pessoalmente, a Roma, para um confronto direto, do qual resultaram infundadas as acusações contra Leão IV. Desde então, foram muitos os soberanos dos reinos cristãos europeus a pedir para serem coroados pelo Pontífice, com o objetivo de obter, assim, o reconhecimento da sua soberania por graça divina.

 

105º - Bento III - 855 - 858

               Nascido no ano 810 em Roma, Bento era um homem religioso, porém pacato. Possuía, contudo, uma boa reputação entre os católicos. Foi por este motivo que acabou se tornando Papa. Embora não desejasse ocupar tal cargo, o povo o escolheu para ser o Papa sucessor de Leão IV. Bento levava seus dias como de costume e estava orando em sua igreja no dia 29 de setembro de 855; o povo apareceu e o buscou em procissão para assumir o posto de Supremo Pontífice da Igreja Católica. Embora relutante, Bento cedeu ao desejo popular e se tornou o Papa Bento III. Na época da nomeação de Bento III, a Igreja Católica havia superado recentemente um cisma que voltava a ameaçar, pois o Antipapa Anastácio III, que havia sido afastado por Leão IV, possuía o apoio do conde de Vubbio. A situação era realmente preocupante, de tal forma que Bento III foi aprisionado, maltratado e despojado de suas insígnias. Anastácio III já era uma persona non grata entre os romanos desde o papado de Leão IV, sua reputação só piorou quando aprisionou o Papa escolhido pelo povo. Anastácio se sustentava no poderia bélico do Conde de Vubbio, mas este não foi capaz de conter a insatisfação do povo romano, que derrotou o Conde e seu antipapa. A ação do povo foi intensa, demonstrando a capacidade de organização popular em torno de questões religiosas no decorrer do século IX. Bento III era sereno e humilde. Retomou seu posto e exerceu seu cargo com inteligência e vitalidade. Cronistas destacam a doçura com que tratava a todos. Sua personalidade o fazia ser bem visto até mesmo pelos gregos. Além de ficar preso por algum tempo, seu papado também foi curto. Retomar a liderança da Igreja Católica foi sua maior marca, concedida pelo povo. Mesmo tendo se tornado Papa sem sua vontade, tinha energia para com os assuntos religiosos. Assim exerceu durante três anos, amplamente amparado pelo povo. Faleceu no dia 17 de abril de 858, já com fama de ser uma Santidade.

 

106º - São Nicolau I - 858 - 867

               Nascido em Roma no ano 815, Nicolas Collona iniciou sua vida religiosa ainda muito cedo. Conquistou seu espaço entre os católicos e, com o falecimento do Papa Bento III, foi eleito para o posto de Supremo Pontífice no dia 24 de abril de 858, quando tinha 43 anos de idade, assumindo o nome de Nicolau I. O Papa Nicolau I consagrou-se na história da Igreja Católica por consolidar o poder e a autoridade Papal. Desde o momento em que o Império Romano reconheceu o catolicismo como religião oficial, o poderio da Igreja ampliou-se enormemente passando a interferir em todos os assuntos da vida humana. A Igreja Católica tornou-se personagem fundamental para a compreensão da história humana, já que suas determinações interferiam em todas as esferas da vida. Nicolau I reivindicou o poder supremo de ensinar e governar para os Papas. Seu papado representou uma extrema expansão de poder, pois subordinou todos ao poder do Papa e da Igreja Católica. A Igreja Católica, formada por homens, teve que agir politicamente para sobreviver mantendo obviamente seu propósito maior que sempre foi difundir a doutrina de Jesus Cristo. Naturalmente, Nicolau I encontrou diversos opositores insatisfeitos com a expansão do poder do catolicismo. O primeiro a despontar como opositor do poderio de Nicolau I foi o Arcebispo de Ravena, que tentou se tornar independente de Roma. Após o embate ideológico, o Arcebispo acabou submetendo-se às determinações de Nicolau. Outro choque de interesses ocorreu com o rei Lotário II, do Sacro Império Romano, que pretendia anular seu casamento para casar-se com sua amante Waldrada. Um sínodo se reuniu para justificar a decisão em Metz, porém o Papa Nicolau I revogou e condenou a decisão do sínodo por ferir a doutrina da indissolubilidade do matrimônio. Mesmo pressionado, Nicolau I não mudou sua decisão. Foi um Papa significativo nos primórdios da Idade Média. Ortodoxo, combateu qualquer atitude que pudesse atentar contra a doutrina tradicional da Igreja Católica. Sua postura firme conquistou mais espaço ainda para o catolicismo, vencendo uma disputa de interesses que deu à Igreja um poderio que se expandiria pela Idade Média. Considerado por seus contemporâneos como profeta, faleceu no dia 13 de novembro de 867, aos 52 anos de idade, e foi sucedido por Adriano II. O Papa Nicolau I recebeu o nome de Magno e foi consagrado Santo pela Igreja Católica, sendo chamado de São Nicolau Magno.

 

107º - Adriano II - 867 – 872

               Nascido em Roma, na Itália, no ano 792, Adriano Collona era proveniente de uma família tradicional na formação de Supremos Pontífices. Os Papas Estevão III e Sérgio II foram seus parentes. Entretanto Adriano Collona levava uma vida diferenciada, não tinha as questões religiosas em primeiro lugar e não almeja ser Papa. Adriano possuía uma vida comum, era casado com uma mulher chamada Estefânia, com a qual teve uma filha. Só mais tarde assumiu a vida religiosa. Como homem da Igreja, Adriano Collona também permaneceu sem grandes pretensões. Por duas vezes ele recusou a nomeação como Supremo Pontífice. É bem provável que a tradicional influência familiar o tenha beneficiado em tantas ocasiões, pois, além de negar o cargo por duas vezes, ainda foi eleito Papa no dia 14 de dezembro de 867. A despeito de sua família, parece que Adriano Collona, ou Papa Adriano II, não era mesmo muito afeito ao mundo religioso. Ele só aceitou o cargo de Supremo Pontífice aos 75 anos de idade e não abandonou sua família. Assim que ocupou o cargo, sua esposa e sua filha passaram a viver no Palácio Laterano. Seria justamente como Papa que viveria a maior tragédia de sua vida. A Igreja Católica passava por um cisma naquela ocasião, havia um antipapa denominado Atanásio III que fora, inclusive, nomeado pelo próprio Papa Adriano II para ser o bibliotecário da Igreja de Roma no Palácio Laterano, um importante cargo para a época. O irmão de Atanásio III, Eleutério, assassinou, em 868, a esposa e a filha do Papa Adriano II, deixando-o muito abalado. O papado de Adriano II foi bastante maleável. Relativizou questões rígidas e foi muito acessível. Era conhecido por ser caridoso e amável. Com sua personalidade amena e suas boas intenções, tentou resolver discórdias entre os católicos, o que o levou a convocar o VIII Concílio Ecumênico em Constantinopla. Sua natureza pacífica foi fundamental para a expansão da Igreja Católica, Adriano II foi responsável por coroar o primeiro soberano inglês abençoado por Roma, o rei Alfredo, o Grande. Outra grande marca de seu papado e de sua modernização da Igreja Católica foi a permissão concedida a Cirilo e Metódio para celebrarem a liturgia católica em língua eslava entre os eslavos, no Leste Europeu. Adriano II permaneceu cinco anos como Supremo Pontífice da Igreja Católica. Seu papado destaca-se por ações de vanguarda. Faleceu no dia 14 de dezembro de 872.

 

107 . 1 - Santos Cirilo e Metódio

               Os dois irmãos Miguel e Constantino nasceram em Tessalônica, filhos de um empregado do imperador. Vieram se chamar Metódio e Cirilo, respectivamente, quando tornaram-se religiosos. São Cirilo, o antigo Constantino, era o mais novo. Nasceu em 827 e completou os estudos em Constantinopla, sob a orientação do Bispo Fócio de Constantinopla. Foi ordenado Sacerdote e iniciou a carreira de mestre. São Metódio, o antigo Miguel, resolveu, no começo, seguir a carreira política, até quando foi nomeado governador de uma província. Desistiu da atividade governamental para se tornar monge com o nome de Metódio.

Santos Cirilo e Metódio e a tradução da Bíblia: São Cirilo criou um novo alfabeto eslavo e traduziu a Bíblia, o missal e os rituais. Além da evangelização, eles têm um valor cultural incontestável. Esses grandes benefícios que os dois irmãos fizeram aos eslavos são retribuídos com enorme popularidade. Durante a vida, eles tiveram de sofrer muito por causa das inovações.

               Acusados de cisma e de heresia, tiveram de vir a Roma, onde o Papa Adriano II os acolheu muito bem, concedendo-lhes o privilégio de celebrar em língua eslava diante dele mesmo e de uma grande comunidade cristã. Era uma aprovação solene do método dos santos.

               Missionários na Europa Central: Desenvolveram suas atividades missionárias na Europa central e são justamente chamados de apóstolos dos eslavos. Seu merecimento no apostolado é também a adaptação aos povos evangelizados. Cirilo morreu em Roma, a 14 de fevereiro de 869, e foi sepultado na igreja de São Clemente, perto do Coliseu. Metódio foi nomeado Arcebispo de Panônia, com sede em Sirmio, voltou para os seus eslavos. Lutou com várias dificuldades até a morte. Voltaram a atacá-lo por causa do uso da língua eslava nos ritos religiosos. Por fim, usavam o eslavo, o grego e o latim. Morreu em seis de abril de 885.

               Legado:  Santos Cirilo e Metódio pregaram a fé cristã e criaram um alfabeto próprio para traduzir da língua grega para a língua eslava os livros sagrados, ampliando os horizontes da Igreja no Oriente.

 

108º - João VIII - 872 - 882  

               Nascido em Roma no ano 820, João era filho do romano Gundus. Desde muito cedo revelou sua inclinação para a carreira eclesiástica, dedicando-se aos estudos religiosos e a uma carreira determinada no interior da Igreja Católica. Esta, por sinal, estava em expansão naquele momento, pois, com a queda o Império Romano, a instituição religiosa havia ocupado o espaço deixado no poder e na condução da Europa. Era o início do período chamado Idade Média, dominado pela influência ideológica e o poder propriamente dito da Igreja. No entanto, a disputa pelo poder em seu interior e o relacionamento com reis gerava um constante estado de conflito e desconfiança. Com o falecimento do Papa Adriano II, João foi eleito no dia 14 de dezembro de 872, para ser o seu sucessor. Na ocasião, o recém-nomeado Papa João VIII tinha 52 anos de idade. O Papa João VIII enfrentou muitos conflitos durante seu pontificado, que, por sinal, marcaram o teor de sua administração. O pontífice teve que lidar com os sarracenos, modo como eram chamados os muçulmanos, que tentavam invadir a Itália. Após uma série de combates, os cristãos saíram vencedores. Em meio a essas disputas, o Papa teve que fazer várias estratégias políticas para conter o avanço dos inimigos e, ao mesmo tempo, conter os ânimos dos próprios cristãos que sempre buscavam superar seus pares em poder no continente. Assim, o Papa João VIII coroou o rei dos francos ocidentais, Carlos, o Calvo, e também o rei dos francos orientais, Carlos III, o Gordo. Essas ações faziam parte de um jogo de negócios que garantiria o apoio dos francos para combater os invasores sarracenos. Mas Carlos III não cumpriu com sua parte do acordo e deixou o Papa sem auxílio para os combates. O resultado, então, foi o esperado, vitória dos árabes que forçou os cristãos a pagar grandes tributos. Mas não só de guerra foi marcado o pontificado de João VIII. Também se dedicou aos assuntos religiosos, foi rígido com a disciplina eclesiástica e com o reconhecimento do poder da Sé Romana. Insistiu também na piedade. Seus esforços obtiveram progresso na cristianização dos eslavos. O Papa João VIII também tentou resolver uma complicada situação envolvendo o Patriarca de Constantinopla, que havia sido excomungado; o Papa tentou reintegrar Fócio à obediência romana. Apesar de toda a insistência, o Pontífice não obteve êxito nessa questão. Liderou a Igreja Católica por exatos 10 anos e dois dias. Envolto por guerras, confrontos políticos e conspirações, o Pontífice foi mais uma vítima da grave instabilidade vivida pela instituição religiosa em função da ganância pelo poder durante a Idade Média. João VIII foi envenenado e faleceu no dia 16 de dezembro de 882.

 

109º - Marino I - 882 - 884

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Gallese, Viterbo, eleito em 16 de dezembro de 882, como sucessor de João VIII. Em seus dois anos de mandato sofreu muito com a segunda destruição do Monte Cassino. Subdiácono de Leão IV (847-855) e depois legado de São Nicolau I, o Grande (858-867), em Constantinopla, participou ativamente do Concílio de Constantinopla que condenou Fócio ou Photius em 869, Patriarca de Constantinopla que provocou um cisma com a Igreja de Roma. Era Bispo de Cere e tesoureiro da Santa Sé quando foi eleito ao trono pontifício, após a morte de seu titular. Em clara oposição ao seu predecessor, anulou muitas condenações determinadas por ele. Por exemplo, chamou novamente à Sé episcopal o Bispo de Porto, o futuro e inditoso Papa Formoso. Manteve relações de amizade com o rei anglo-saxão Alfredo, o Grande, e com o Imperador Carlos III, o Gordo. Exerceu fortes pressões sobre o Imperador do Oriente, Basílio, contra os cismáticos de Fócio. Acredita-se que o Papa morreu envenenado em 15 de maio de 884, em Roma, depois de envolver-se nas brigas entre facções políticas italianas.

 

110º - Santo Adriano III - 884 - 885

               Papa Adriano III foi Papa e um Santo da Igreja Católica. Sucedeu ao Papa Marino I. Nasceu em Roma e foi eleito em 17 de Maio de 884. Confirmou tudo o que tinham feito os seus antecessores contra o Imperador Fazio. Ele morreu perto de Modena no verão do ano seguinte, a caminho da dieta de Worms, convocada por Carlos Magno, Carlos, o Gordo, que convidara Adriano III, pois a presença do Papa haveria de sancionar a autoridade Imperial do herdeiro do Sacro Império Romano. Um particular interessante da personalidade deste Santo é sua atitude conciliadora com o Patriarca de Constantinopla, ao qual comunicou a própria eleição. Durante o breve pontificado de Santo Adriano III, Roma foi devastada pela fome e o Papa fez tudo ao seu alcance para aliviar o sofrimento do povo. Flodoardo, o cronista da diocese de Reims, o elogia como pai de seus irmãos no episcopado. Foi enterrado no mosteiro de Nonantola, onde a sua memória é recordada desde então, pelos locais. A sua morte ocorreu em Setembro de 885.

 

111º - Estevão V; VI - 885 - 891  

               Foi eleito em Setembro de 885 e morreu em 14 de Setembro de 891. Sucedeu ao Papa Adriano III. O seu pai, Adriano, pertencia à aristocracia romana e a sua educação foi entregue ao seu parente, o Bispo Zacarias, bibliotecário da Santa Sé. Estêvão foi ordenado cardeal-presbítero de Santi Quattro Coronati, em Roma, pelo Papa Marinho I, e a sua fama de santidade tornava-o um candidato natural ao papado. Estêvão teve que enfrentar tempos complicados, com fome generalizada provocada por uma seca e pragas de gafanhotos; como o tesouro Papal estava vazio, teve que recorrer à riqueza do seu pai para socorrer os pobres, redimir cativos e reparar igrejas. Para promover a ordem, Estêvão adotou a Guido III de Espoleto, como "seu filho" e coroou-o imperador em 891. Segundo o New Catholic Encyclopedia, dentro de poucos meses, uma reação violenta terminou o pontificado do Papa Estevão; foi despojado da insígnia pontificada, foi encarcerado e estrangulado.

 

112 º – Formoso - 891 - 896

               O Papa Formoso foi eleito em 6 de outubro de 891. Morreu em 4 de abril de 896. Nasceu em Óstia, Itália. Pouco depois de sua eleição, Formoso foi convidado a intervir no Patriarcado de Constantinopla, onde Fócio I havia sido expulso e Estêvão I, filho do Imperador Basílio I, havia assumido o cargo. Formoso se recusou a reintegrar aqueles que haviam sido ordenados por Fócio, já que seu antecessor, Estêvão V, havia anulado todas as ordenações de Fócio. No entanto, os Bispos orientais decidiram reconhecer as ordenações de Fócio. Formoso também mergulhou imediatamente na disputa entre Odo de Paris e Carlos, o Simples, pelo trono francês. Ao lado de Carlos, Formoso exortou Odo a ceder o trono a Carlos, sem sucesso.

               Formoso estava profundamente desconfiado de Guy III de Spoleto, o Imperador reinante, e começou a procurar apoio contra ele. Para reforçar sua posição, Guy forçou Formoso a coroar seu filho Lambert como co-imperador em abril de 892. No ano seguinte, no entanto, Formoso convenceu Arnulfo da Caríntia a avançar para Roma e libertar a Itália do controle de Guy. Em 894, o exército de Arnulfo ocupou todo o país ao norte do rio Pó. Guy morreu em dezembro, deixando seu filho Lambert aos cuidados de sua mãe, Agiltrude, uma oponente dos carolíngios. No outono de 895, Arnulfo empreendeu sua segunda campanha italiana, progredindo para Roma em fevereiro e tomando a cidade de Agiltrude pela força em 21 de fevereiro. No dia seguinte, Formoso coroou Arnulfo como imperador na Basílica de São Pedro. O novo imperador moveu-se contra Espoleto, mas foi atingido pela paralisia no caminho e foi incapaz de continuar a campanha. Durante seu papado, Formoso também teve que lidar com os sarracenos, que estavam atacando Lazio.

               Seu reinado como Papa foi conturbado, marcado por intervenções em disputas de poder sobre o Patriarcado de Constantinopla, o Reino da Frância Ocidental e o Sacro Império Romano-Germânico. Por ter ficado do lado de Arnulfo da Caríntia contra Lamberto de Espoleto, os restos mortais de Formoso foram exumados e julgados no Sínodo dos Cadáveres. Vários de seus sucessores imediatos estavam preocupados principalmente com o controverso legado de seu pontificado. Cronistas franceses atribuem a este Papa o parentesco com o futuro Papa Romano, dizendo tratarem-se de primos irmãos. A ele se deve a conversão dos búlgaros. Desordens políticas na França, Alemanha e Itália prejudicaram a Igreja durante o seu pontificado. Nove meses após a sua morte, o cadáver de Formoso foi exumado da cripta Papal para ser julgado perante o Sínodo do Cadáver, presidido por Bonifácio VI (Era o Papa 113º, que estava no poder). O Papa falecido foi acusado de excessiva ambição pelo cargo Papal, e todos os seus atos foram declarados nulos. O cadáver foi despido das vestes pontifícias, e os dedos da mão direita foram amputados. Foi então enterrado em cemitério para estrangeiros, como forma de desonra. Depois, foi novamente exumado, tendo seu corpo esquartejado e jogado no Rio Tibre. Seu corpo fôra recuperado mais tarde, e, por fim, enterrado na Basílica de São Pedro, com vestes Papais, junto a outros Pontífices.

 

113º - Bonifácio VI - 896

               Papa da Igreja Cristã Romana, nascido em Roma, eleito em abril de 896, para suceder Formoso, mas que por pressões políticas abriu um processo post morten contra o seu antecessor falecido. Consta em algumas listas que havia sido despojado duas vezes do hábito por imoralidades, antes de subir ao trono Papal, apoiado pelos opositores do Papa Formoso em um período em que a sede pontifícia estava em poder dos grandes feudatários da Itália. Como seu sucessor, convocou em um gesto absurdamente incompreensível, um tribunal para julgar o Papa morto Formoso, seguramente por causa de graves e injustas acusações político-religiosas, inclusive de conspiração contra Roma. Porém o Papa Bonifácio VI ocupou o lugar por somente quinze dias, morreu em 10 de novembro vítima de gota, em Roma, e foi sucedido por Estevão VII. Este novo Papa, comprometido com os políticos inimigos do antigo Papa e em um delírio injustificado e irracional, prosseguiu o julgamento e nove meses após a sua morte, mandou exumar o cadáver da cripta Papal (896) para ser julgado perante um concílio, presidido pelo Papa Estêvão VII, acusado de excessiva ambição pelo cargo papal, e teve todos os seus atos declarados nulos.

 

114º - Estevão VI; VII - 896 - 897

               Nascido em Roma, em 850, Estevão era filho de João e viveu um momento politicamente conturbado da Igreja Católica. Após dedicar uma vida à religião, foi eleito no dia 22 de maio de 896 para ser o sucessor do Papa Bonifácio VI. Estevão VI recebeu grande apoio dos duques de Espoleto para chegar ao poder e foi pressionado a reconhecer Lamberto de Espoleto como único imperador, contrariando decisão que o falecido Papa Formoso havia tomado. O Papa Estevão VI não só foi muito pressionado pela família Espoleto como era também um homem muito desequilibrado. Ele tinha seus próprios desentendimentos com o antigo Papa Formoso e queria, a todo custo, se vingar dele por se sentir injustiçado. Em seu papado ocorreu um dos mais bizarros eventos da história da Igreja Católica, que ganhou o nome de Sínodo do Cadáver. Estevão VI o convocou com o apoio da família de Lamberto e ordenou que o cadáver de nove meses do Papa Formoso fosse exumado, vestido com vestes Papais e apoiado em um trono para ser julgado por seus crimes. Um diácono foi encarregado de responder em nome do falecido. O cadáver foi acusado do crime de haver aceitado ser Papa. Estevão VI foi à loucura e fez várias acusações por achar que seu título era indevido. Quando o Papa Formoso foi questionado, naturalmente não respondeu às acusações. Por isso, foi julgado culpado, criminoso e despido das insígnias pontifícias. Como punição, seus dedos da mão direita foram cortados e seu corpo foi enterrado em um cemitério para estrangeiros. Só que, logo em seguida, Roma foi atingida por um terremoto que destruiu a basílica Papal, numa clara intervenção divina. Então o corpo de Formoso foi novamente desenterrado e atirado ao Rio Tibre. Seu corpo foi resgatado por pessoas que o admiravam e sepultado com mais respeito na igreja de Santa Inês. Mais tarde, o Papa Teodoro II o sepultou entre Papas e sua memória foi defendida pelo Papa João IX. O papado de Estevão VI é um dos mais macabros de todos os tempos. Sua insanidade na perseguição de um cadáver foi o que pautou sua liderança na Igreja. O Papa Formoso foi um tormento para Estevão VI. Após o terremoto em Roma, os admiradores do Papa condenado consideraram que o evento foi uma punição divina pelo que estava acontecendo. Seus antigos apoiadores, a família Espoleto, também se viraram contra o Papa, agora que já haviam conseguido o queriam, o reconhecimento do Imperador Lamberto. Assim, Estevão VI foi aprisionado e estrangulado até a morte. Seu papado chegou ao fim em agosto de 897, aos 47 anos de idade. O Papa Estevão VI cumpriu um interesse político civil que se conciliou com sua obsessão insana contra o Papa Formoso.

 

115º – Romano - 897

               O Papa Romano dirigiu os destinos da Igreja Católica durante o ano de 897. Pouco se sabe quanto à sua biografia. Não se conhecem datas certas sobre o seu nascimento, morte nem consagração como Papa. Sucedeu ao Papa Estêvão VI que havia terminado os seus dias deposto e estrangulado na prisão. A sucessão não era, pois, coisa das mais agradáveis, e o assunto era tabu. Nasceu em Gallese, perto de Civita Castellana (Itália), filho de Constantino. Foi Cardeal de São Pedro ad Víncula. Governou a Igreja Católica apenas quatro meses, ao fim dos quais morreria, sob muita pressão de autoridades provinciais que a todo instante se impunham como "preferidos do Pontífice" no que diz respeito a assuntos de Estado. Apontamentos de catálogos antigos fazem-nos crer que Romano condenou abertamente a conduta de seu antecessor, o Papa Estêvão VI, no macabro julgamento do Papa Formoso; provavelmente por ser de Gallese, ou por ter vivido nesta comunidade por algum tempo, contemporâneo e conterrâneo portanto do Papa Marinho, que fora grande amigo de Formoso. Seu primeiro ato como Pontífice foi, de fato, reabilitar a memória do Papa Formoso, dando-lhe um enterro cristão, uma vez que seu anterior sepulcro fora violado. Muitas dúvidas marcaram seu breve Pontificado. Foi deposto e encarcerado num mosteiro? Ou, atribulado pelos turbulentos romanos, renunciou ao sólio? Teria sido assassinado e seu corpo escondido pelos seus inimigos? Fez ascender Vitalis ao Arcebispado e concedeu-lhe privilégios episcopais. O poeta Frodoardo, seu contemporâneo, referiu-se a ele como um homem virtuoso. Até hoje se discute um privilégio pelo qual teria agregado as Ilhas Maiorca e Minorca à diocese de Gerona, na Espanha. Tal documento é considerado por vários historiadores como apócrifo, nascido da confusão de "Pontífice romano" com "Papa Romano". Uma anotação marginal encontrada em dois códigos antigos afirma que Romano se tornou monge. Tal afirmação é discutida quanto ao que pode subentender. O termo poderia significar, por exemplo, que tinha sido destituído pelos mesmos partidários germânicos que podem ter influenciado a sua eleição. Alega-se também que pode ter sido envenenado em novembro do mesmo ano, de modo a não atender aos apelos do povo de Roma para que voltasse a ocupar o trono pontifício. Mistérios que só poderão ser revelados por Deus no último dia.

 

116º - Teodoro II - 897

               O Papa Teodoro II, foi Bispo de Roma e governante dos Estados Papais por vinte dias em dezembro de 897. Seu curto reinado ocorreu durante um período de conflitos partidários na Igreja Católica, que estava enredada de violência e desordem na Itália. Seu principal ato como Papa foi anular o recente Sínodo do Cadáver, restabelecendo os atos e ordenações do Papa Formoso, que haviam sido anulados pelo Papa Estevão VI. Ele também recuperou o corpo de Formoso do rio Tibre e enterrou-o com honra. Morreu no cargo no final de dezembro de 897. Pouco se sabe sobre os antecedentes de Teodoro; ele é descrito como nascido romano e filho de Fócio. Seu irmão Teodósio (ou Teósio) também foi Bispo.Teodoro foi ordenado Sacerdote pelo Papa Estêvão V. As datas exatas do reinado de Teodoro II são desconhecidas, mas as fontes modernas geralmente concordam que ele foi Papa por vinte dias durante dezembro de 897. Como Romano, Teodoro era um defensor de Formoso. Alguns historiadores acreditam que Romano foi deposto porque ele não agiu para restaurar a honra de Formoso com bastante rapidez, embora outros sugeriam que ele foi removido pelos apoiadores de Estevão VI. Em ambos os casos, Teodoro imediatamente se lançou na tarefa de desfazer o Sínodo do Cadáver. Ele chamou seu próprio sínodo, que anulou as decisões estabelecidas por Estevão VI. Ao fazer isso, ele restaurou os atos e ordenações de Formoso, incluindo a restauração de um grande número de clérigos e Bispos em seus cargos. Teodoro também ordenou que o corpo de Formoso fosse recuperado do ancoradouro conhecido como Porto, onde havia sido enterrado secretamente e restaurado no túmulo original na Basílica de São Pedro. Como Romano, antes dele, Teodoro concedeu um privilégio à Sé de Grado.  Tinha uma moeda cunhada, com o nome de Lamberto no anverso, e "Scs. Petrus" e "Thedr", no reverso) Flodoardo projetou Teodoro sob uma visão positiva, descrevendo-o como "amado pelo clero, um amigo da paz, temperado, casto, afável e um grande amante dos pobres". Ele morreu no cargo, apesar da causa de sua morte ser desconhecida. Teodoro foi enterrado na Basílica de São Pedro, mas seu túmulo foi destruído durante a demolição da antiga Basílica no século XVII. Após a morte de Teodoro, João IX e Sérgio III alegaram ter sido eleitos Papas; este foi excomungado e expulso da cidade, embora mais tarde tenha se tornado Papa em 904. João IX realizou sínodos que reafirmavam o de Teodoro II, e proibiu ainda mais o julgamento de pessoas após sua morte. Por sua vez, Sérgio III mais tarde anulou os sínodos de Teodoro II e João IX e restabeleceu a validade do Sínodo de Cadáver.

 

117º - João IX - 898 - 900

               Papa da Igreja Católica Romana, nascido em Tívoli, eleito com o apoio do imperador germânico Lamberto de Spoleto, em janeiro de 898, como sucessor de Teodoro II (897), o último Papa monge beneditino. Eleito Papa em um período conflituoso, reconheceu a validade da eleição do Papa Formoso e convocou vários sínodos para restaurar a paz na Igreja. No polêmico, político e irracional episódio do Papa Formoso, o povo de Roma revoltou-se com o tratamento dado ao seu cadáver e conseguiu que o Papa Estêvão VII fosse deposto e encarcerado e depois morto estrangulado na prisão. Foi sucedido por Romano e depois por Teodoro II, que anulou o resultado do Synodus Horrenda, como ficou conhecido o episódio, e tornou oficiais novamente todos os atos Papais de Formoso. O Papa de Tivoli procurou colocar uma pedra sobre este episódio bizarro e, além de queimar todos os documentos do Synodus Horrenda, proibiu que voltassem a colocar pessoas mortas em julgamento. Durante seu pontificado, acabou com as pilhagens que ocorriam nos palácios dos Bispos e do Papa, especialmente após a morte destes e restabeleceu a supremacia da Igreja sobre todos os territórios e sobre Roma. Para evitar novas lutas, repôs a intervenção imperial sobre a consagração dos Pontífices. Agiu para afirmar a autoridade direta da Santa Sé sobre os países eslavos. Faleceu em janeiro, em Roma.

 

118º - Bento IV - 900 - 903

               Bento IV, natural de Roma, mas cuja data de nascimento é ignorada, foi escolhido em 1 de fevereiro de 900, como sucessor de João IX. Apesar de bem intencionado, lutou infrutiferamente contra a corrupção e degradação dos costumes do seu tempo, pontificando em meio a uma corrupção generalizada, ódios, intrigas e injustiças. Filho de um homem chamado Mamalus, teve condições financeiras de receber uma boa educação e se dedicar a carreira eclesiástica. Foi eleito Papa diante de uma conjuntura totalmente desfavorável. Soube conservar a integridade da Santa Sé e buscou o caminho da justiça. Durante seu pontificado teve que enfrentar situações que requeriam capacidades que ele não possuía. Os húngaros invadiram o norte da Itália e os sarracenos, depois de cruzarem toda a Europa, invadiram o sul da península. Sem socorro militar o Papa e Roma ficaram praticamente indefesos. Em meio a corrupção generalizada, conservou a integridade da Santa Sé e consagrou Ludovico de Borgonha imperador de Roma. Morreu em julho, na cidade de Roma.

 

119º - Leão V - 903

               Papa Leão V, foi consagrado em agosto de 903, sucessor de Bento IV. Era da "campanha romana", isto é das planícies adjacentes a Roma. Julga-se, que tenha nascido em Priapo, perto de Ardea. Filho de um humilde pastor. Alguns cronistas de documentos mais antigos alegam entre outras considerações, que teve esmerada educação devido à intervenção materna e de sua família. Segundo um catálogo antigo era ele "padre forasteiro": não pertencia, pois, a nenhuma das igrejas cardinalícias da cidade eterna. Não há informações em documentos da Igreja Católica que deem informações mais precisas sobre a que ordem pertencia ou que forneçam dados mais seguros sobre a sua origem concreta. O fato, todavia, de não pertencer a nenhuma das principais igrejas de Roma, leva a crer que seria homem de valor, elevado no conceito moral, e que teria sido escolhido para conciliar divergências. As facções em Roma estavam em ebulição. Leão V governou a Igreja menos de dois meses. Um dos partidos, não satisfeito com a escolha de Leão, insurgiu-se, tumultuou pelas ruas da cidade, e, nessa desordem, o Pontífice foi preso, arrastado a uma prisão e morto misteriosamente. Estas são notícias dadas por alguns contemporâneos e repetidas, dois séculos mais tarde, por Sigeberto de Gembloux. O cronista Flodoardo, grande biógrafo europeu, costuma atribuir, junto de outros cronistas e historiadores ingleses e franceses de seu tempo, que certos eventos de insurreição popular e insatisfação política com Leão V foram fruto das tensões promovidas pelo capelão de nome Cristóvão. Curiosamente esse mesmo capelão sucederia ao Papa Leão, visto que desde longa data Cristóvão ambicionava o trono pontifício. Esse homem, movido por grande ambição, alimentou o interesse dos insurretos em depor o Pontífice com promessas difíceis de cumprir, e que macularam a sua reputação por toda a posteridade. Os tempos eram particularmente difíceis, tão bárbaros que subsiste como provável o fim trágico deste Papa, terminando seus dias como o de muitos príncipes: assassinado. Em seu breve e agitado pontificado não foi, pois, anotado qualquer fato de relevo ou importância em Roma.

 

120º - Sérgio III - 904 - 911

               Papa da Igreja cristã Romana, nascido em Roma, eleito como sucessor de Leão V, radical adversário do Papa Formoso e suspeito da morte do Papa Teodoro II e que governou durante um período de grande degeneração moral. Aristocrata da família dos condes de Túsculo, uma antiga cidade da hoje Região do Lázio, ao sul de Roma, próxima do vulcão de Alban, que seria destruída pelos romanos (1191), foi eleito pelo partido aristocrata, enquanto o popular elegia João IX (898-900). Consagrado em 903, foi expulso de Roma pelas tropas de Lamberto de Spoleto e obrigado a refugiar-se junto a Adalberto, marquês da Toscana. Voltou à Roma em 904, com o apoio de Alberico I, senhor de Camerino e Spoleto, e se livrou de Leão V, que sucedera João IX. Depois de subir de fato ao trono pontifício, deu continuidade à política antiformosiana que caracterizaria toda a sua ação, anulou todas as disposições emanadas pelos predecessores e, para ter o apoio de um poderoso, apoiou o rei da Itália, Berengário I, na conquista do título Imperial. De sua presumível relação com Marócia, patrícia e senatriz romana, corrupta e cortesã da alta classe, da nobre família de Teofilato, teria nascido o futuro papa João XI (931-935). Mandou reconstruir a Basílica de São João de Latrão, destruída por um incêndio e reivindicou e defendeu os direitos da Igreja contra os senhores feudais.

 

121º - Anastácio III - 911 - 913

               Papa da Igreja cristã Romana, nascido em Roma, que eleito Papa como sucessor de Sérgio III, em seus dois anos de pontificado, não pôde fazer muito por causa das lutas internas. Determinou a divisão eclesiástica da Alemanha, apesar das fortes pressões de Berengário I, rei da Itália. Apesar de considerado por seus contemporâneos como homem culto e generoso, foi assassinado em Roma, asfixiado por Sagarius, amante de Marócia, patrícia romana, conhecida universalmente por sua libertinagem e seus crimes, manchada por uma longa série de adultérios e uniões incestuosas, recebeu dos príncipes italianos, como preço de sua devassidão, a propriedade do Castelo de Santângelo e o governo da cidade de Roma com o título de Senatrix e Patricia romana. O assassinato foi tramado por ela e pelo próprio clero, que temia a simpatia do Papa às causas estrangeira.

 

122º – Lando - 913 - 914

               Papa da Igreja cristã Romana, nascido em Fornovo, na Sabina, eleito em junho de 913, como sucessor de Anastácio III, foi Papa consagrado por cerca de 6 meses, de agosto (913) a fevereiro (914) em meio a um mar de intrigas de uma das várias facções romanas. Sabe-se muito pouco a respeito de seu pontificado e o que se apresenta é impreciso, apenas podendo se concluir que era um homem meritório por ser nato da Sabina e ter chegado ao papado. Papa em um tempo em que o poder em Roma estava nas mãos dos marqueses de Túsculo ou Tusculum, uma antiga cidade da hoje Região do Lázio, ao sul de Roma, próxima do vulcão de Alban, que seria destruída pelos romanos em 1191, que também mandavam e desmandavam na Santa Sé, e dividido entre as má afamadas Marócia, patrícia romana, e de sua irmã Teodora, parece ter sido um protegido desta última, mãe de Teofilato, futuro Papa. Subiu ao trono de São Pedro por intriga de uma das várias facções e morreu misteriosamente em Roma, depois de ter conseguido estabelecer a paz no meio de tantas lutas internas.

 

123º - João X - 914 - 928

               Papa da Igreja Católica Romana, nascido em Tossignano di Imola, Bolonha, foi eleito em março de 914, sucessor de Lando, em uma eleição marcadamente influenciada por Teodora, irmã e rival da senhora senatriz Marócia, então casada com Alberico I, conde de Túsculo, um casal de devassos que dominava Roma. Eleito, só conseguiu assumir o trono de São Pedro após uma série de tramoias que ele mesmo desaprovou, fomentadas pelas intrigas romanas criadas pelas influentes famílias. No trono de São Pedro foi um Papa enérgico e independente, lutou contra os maometanos, que há cerca de três décadas assolavam o sul da Itália, destruindo os grandes mosteiros de Subiaco e de Farfa, assaltando e aprisionando peregrinos, levando-os para Roma, para vendê-los como escravos. Coroou Berengário Imperador em Roma (915), armou uma poderosa liga entre os duques e, auxiliado pela esquadra bizantina, derrotou os maometanos perto de Garillano, e expulsou-os para sempre. Apesar das incessantes revoluções que ocorreram em seu pontificado, fez muito pela conversão dos Bárbaros, da reconstrução de mosteiros e da pureza da fé. Por não querer participar de tramas desonestas, viu seu irmão Pedro, comandante pontifício, ser trucidado pelas tropas do borgonhês Guido de Túscia, duque de Toscana e segundo marido da dissoluta e violenta Marócia, após atacarem Roma. O pontífice foi deposto, aprisionado e assassinado no cárcere, por capangas de Marócia. Faleceu em 26 de maio, em Roma, e foi sucedido por Leão VI, sobrinho de Marócia e colocado por ela no trono Papal, um simples leigo, que foi expulso como intruso pelo povo romano poucos meses depois.

 

124º - Leão VI - 928

               Papa Igreja cristã Romana, nascido em Roma, eleito em 28 de maio de 928, por vontade da poderosa senadora Marócia, por vontade do pai dela, Teofilato para substituir João X, que durante os sete meses de pontificado procurou apaziguar as lutas entre as famílias nobres romanas, fazendo todo o possível para levar a paz a Roma. Foi Primeiro-Ministro do Papa João VIII e depois Cardeal. A poderosa senadora Marozia, matriarca da família de Crescentii romana, depôs e prendeu o Papa João X e organizou sua eleição canonicamente para o trono de São Pedro. O seu pontificado esteve dominado pela poderosa senatriz romana e seu maior ato político foi regulamentar a jurisdição da hierarquia na Dalmácia. Fez todo o possível para pacificar Roma e lutou contra os sarracenos e os ferozes húngaros. Apesar de um pontificado violento, levou uma vida razoavelmente modesta e reclusa e fez ressurgir as artes, o comércio e a indústria. Não governou mais que sete meses e foi morto a mando de Marócia, em dezembro de 928, em Roma, e foi sucedido por Estêvão VIII, que governou por dois anos, mas também morreu repentinamente. Os maridos dessa corrompida, perigosa e violenta mulher não tinham vida muito longa e como os Papas, eles se sucediam uns aos outros com rapidez incrível, justificando todas as suspeitas. Não confundir com Leão VI, o Sábio, co-Imperador (870-886) e Imperador bizantino (886-912) nascido em Constantinopla.

 

125º - Estevão VII; VIII - 929 - 931 

               Papa Igreja cristã Romana, nascido em Roma, escolhido em 3 de janeiro de 929, como sucessor de Leão VI, graças às intrigas dos condes de Túscolo, enquanto em Roma governava Marócia, marquesa de Túscia. Marócia tinha colocado no trono Papal um de seus sobrinhos, e embora eleito canonicamente, Leão VI que era um simples leigo, foi expulso como intruso pelo povo romano sete meses depois e morreu subitamente, possivelmente envenenado pela própria Marócia. Essa poderosa mulher era uma política romana, corrupta, e mãe dos Papas Sérgio III e João XI. O novo Papa, substituto de Leão VI, governou por dois anos e favoreceu os mosteiros de S. Vicente, em Volturno, e aos dois conventos na Gália. Seu pontificado também coincidiu com o crescimento desproporcional da fortuna de Marócia, agora esposa de Hugo, rei da Itália. Sua morte repentina, em Roma em 931, também deixou suspeitas de envenenamento promovido pela libertina política. Foi sucedido por João XI, um filho da senatriz com o marquês Alberico de Túsculum, e com aproximadamente 20 anos de idade e que também se revelaria extremamente irresponsável no cargo.

 

126º - João XI - 931 - 935  

               Era filho do primeiro casamento de Marózia com Alberico I de Espoleto. Através de intrigas da mãe, que governava Roma, foi eleito Papa em Março de 931, ficando completamente sob a influência da Senatrix e Patricia romana. Para fortalecer o seu poder, Marózia casou com o cunhado Hugo, rei da Provença e Itália, levando a um governo tirânico em Roma. Uma forte oposição apareceu entre os nobres, liderados por Alberico II, filho mais novo de Marózia. Esta foi presa e o marido fugiu. Alberico tornou-se o novo governante de Roma, dando ao Papa apenas o poder de exercer os seus deveres espirituais. Todas as outras jurisdições inerentes ao cargo pontifício foram exercidas por Alberico. João XI refugiou-se nos monges de Cluny e, em agradecimento concedeu à Congregação vários privilégios, tornando-a mais tarde um poderoso agente da reforma da Igreja.

 

127º - Leão VII - 936 - 939

               Papa Leão VII (Roma, 895 - Roma, 13 de julho de 939), romano e provavelmente Monge Beneditino, era abade de São Sixto quando foi eleito Papa a 3 de Janeiro de 936, por influência de Alberico II, príncipe e senador de Roma. Hugo, ostentando o título de rei de Itália (Lombardia) disputava o poder com Alberico, pelo que cercou Roma. Leão sabendo que o abade de Cluny, Odon, tinha certa influência sobre os dois, aconselhou-o a dirimir a disputa. Para tanto bastou o casamento entre Alberico e Alda, filha de Hugo, o que levou a um interregno entre os beligerantes. As bulas Papais consistiram na sua maior parte em garantir privilégios a vários mosteiros, especialmente aos da Ordem de Cluny. Escreveu aos Bispos da França e da Alemanha dando diretrizes para empreender uma reforma monástica. Não permitiu ao Arcebispo Frederico de Mainz (Alemanha) batizar judeus à força, mas autorizou a expulsão das cidades, daqueles que recusavam abraçar o cristianismo. Tentou estabelecer o celibato sacerdotal e lutou contra o fenômeno dos bruxos e adivinhos. Mandou reedificar o antigo Cenóbio, perto da Igreja de São Paulo, fora das muralhas de Roma. A sua morte ocorreu em 13 de Julho de 939, após um ataque cardíaco. Morreu em julho 939, e enterrado na Basílica de São Pedro.

 

128º - Estevão VIII; IX - 939 - 942

               Papa Estêvão VIII, Romano, eleito em 14 de Julho de 939. Tratou de inculcar os princípios cristãos do Evangelho aos poderosos do Oriente e do Ocidente. Apoiou a dinastia carolíngia em declínio e pela ameaça de excomunhão, forçou os nobres francos a jurarem fidelidade a Luis IV d'Outre-Mer. Sofreu a tirania de Alberico II de Espoleto, príncipe de Roma, que o manteve confinado no Palácio de Latrão. Faleceu em Outubro de 942.

 

129º - Marino II - 942 - 946

               Marinho II, ou Marino II, foi elevado ao papado graças à intervenção de Alberico II de Spoleto, tendo focado a sua atividade em aspectos administrativos do Papado. Marino nasceu em Roma e, antes de se tornar Papa, foi vinculado à Igreja de São Cyriacus nas Termas de Diocleciano. Diz-se que ele encontrou Ulrico de Augsburgo em sua visita a Roma em 909, e previu a eventual nomeação de Ulrico como Bispo de Augsburgo. Marino foi elevado ao papado em 30 de outubro de 942. Esse período é conhecido como Saeculum obscurum devido ao poder de Alberico e seus parentes sobre os Papas. Marino concentrou-se nos aspectos administrativos do papado e procurou reformar o clero secular e regular. Ele estendeu a nomeação do Arcebispo Frederico de Mainz como vigário Papal e missus dominicus por toda a Alemanha e França. Marino mais tarde interveio quando o Bispo de Cápua apreendeu sem autorização uma igreja que havia sido dada ao local a Monges beneditinos. Na verdade, ao longo de seu pontificado, Marino favoreceu vários mosteiros, emitindo uma série de bulas em seu favor. Marino ocupou o Palácio construído pelo Papa João VII no topo do Monte Palatino nas ruínas da Domus Gaiana. Morreu em maio de 946.

 

130º - Agapito II - 946 - 955

               Homem prudente e enérgico, que governou com sabedoria por dez anos. Com este Papa, Roma retomou a iniciativa de tratar firmemente com países e soberanos. Em 950 morria em Turim o jovem rei Lotário, filho de Hugo de Provença, dizem os cronistas florentinos, que de febres, dizem os seus contemporâneos mais próximos, que de veneno por obra de Berengário II, marquês de Ivréa. O certo é que Berengário apoderou-se depressa da coroa lombarda e pretendeu que seu filho Adalberto se casasse com Adelaida, rainha viúva de Lotário. Uniria assim, num reino único, o sul da França e o norte da Itália, e ocupada Roma, proclamar-se-ia Imperador. Opôs-se, porém, a jovem viúva Adelaida. Foi então aprisionada numa torre do "Lago de Guarda", de onde fugiu com a ajuda do Bispo de Reggio e foi abrigar-se no forte Castelo do Conde Azzo de Canossa. De lá foi invocado auxílio do jovem rei germânico Oto I, o qual, com forte exército, desceu à Itália, libertou e desposou Adelaide e foi aclamado rei da Lombardia em 951. Não ousou, entretanto, ir receber a coroa imperial em Roma, onde o Papa recusou recebê-lo e onde Alberico, lembrando antigo orgulho romano, rejeitava um Imperador "bárbaro". Alberico morreu em 954. Impôs ordem e deu paz ao povo; respeitou a autoridade do Papa, fazendo, porém, cunhar moedas com sua efígie junto à do Pontífice. Cometeu afinal um ato imperdoável: sentindo que ia morrer mandou que o transportassem à Basílica de São Pedro e lá obteve de todos o juramento de que elegeriam Papa seu filho Otaviano, após sua morte. Assim, depois de uma vida gloriosa, traiu-se o filho de Marózia. Agapito II morreu em agosto de 956. O cronista florentino Guy de Passapant teria-lhe dito instantes antes do momento fatal: devia ter vivido muito mais, para o bem de Roma e da Igreja.

 

131º - João XII - 955 - 963

               João XII (Roma, c. 937 – Roma, 14 de maio de 964), nascido Otaviano. Era inexperiente como governante, entretanto era audacioso. Ele foi responsável por reivindicar os direitos temporais da Igreja e por criar os Bispos-Condes, além de reconstruir o Sacro Império. Mas, apesar de toda a sua audácia, não demorou para que sua fama negativa repercutisse. Rapidamente foi considerado preguiçoso e infantil e recebeu as mais severas críticas de Sacerdotes e de outras autoridades religiosas. Sua fama estava muito longe de ser agradável ou respeitada. Alguns o descreviam como libertino, criminoso e sanguinário. Há relatos de líderes católicos que alegam que João XII invocava demônios e que gostava de jogos de azar e cometia atrocidades com frieza, como assassinar e mutilar pessoas e incendiar casas. João XII teria transformado o Palácio Papal em um bordel e tido relações com viúvas, com sua própria sobrinha e com a namorada de seu pai. A vida de Otaviano era completamente desregrada e promíscua. O Papa João XII, contudo, foi quem coroou o imperador Oto I, na Alemanha, e criou uma aliança que deixaria um legado para a Igreja Católica e sua influência na sociedade. Nenhum Papa poderia ser coroado sem a presença do imperador ou de seus enviados. Ironicamente, o mesmo Imperador que o coroou foi quem liderou o movimento de deposição do Papa. João XII foi considerado inadequado para ser Papa por levar uma vida muito imoral e deposto pelo imperador Oto I depois de nove anos como Papa. O imperador germânico o substituiu por Leão VIII. No entanto, seu sucessor foi assassinado rapidamente. Otaviano de Túsculo manteve sua vida libertina após ser afastado do cargo e, como consequência, faleceu vítima de um derrame quando, supostamente, estava na cama com uma mulher casada. É famoso por ser um dos piores Papas da história da Igreja Católica.

 

132º - Leão VIII - 963 – 964

               Nascido em Roma, eleito como um antipapa por Otão I, depois de várias disputas com o predecessor João XII e com seu sucessor Bento V. Era leigo ao ser escolhido num concílio em Roma em 6 de dezembro de 963. Seu papado se deu numa época em que o novo imperador alemão estava ansioso para se apoderar da Itália e do papado. Em Roma, o Papa João XII, aceitou uma aliança com Oto I em que no futuro nenhum Papa seria consagrado sem a presença dos enviados do imperador. Porém quando Otão saiu da cidade, João uniu-se aos nacionalistas feudais, para expulsar os alemães da Itália. O imperador, revoltado, retornou a Roma e depôs João XII, sob a acusação de vários crimes e colocou Leão VIII como seu sucessor no trono de São Pedro em 6 de Dezembro de 963, governando como um antipapa, pois João XII, apesar do mau caráter, ainda estava vivo. Mas também ele não caiu nas graças dos romanos por ter servido de instrumento aos interesses do imperador germânico. Leão acabou deposto no início do ano seguinte, durante um sínodo em 964, permitindo que João reassumisse o trono e ele agora mostrou-se reconhecido ao Imperador. Por exemplo, por decreto promulgado em concílio, concedeu-lhe e a seus sucessores, o direito de nomear o Papa, Bispos e Arcebispos, punindo com a excomunhão quem se opusesse a esse decreto. Em outra medida, proibiu aos leigos de entrarem no presbitério durante as funções solenes. Com a súbita morte de João, Leão VIII poderoso antipapa governou a Igreja ainda mais um ano, totalizando dois anos de pontificado, até ser deposto por forças franco-suíças leais ao legítimo Papa que os italianos haviam eleito, Bento V, em 964, homem virtuoso e de reconhecida capacidade para o cargo. O imperador voltou a Roma, invadiu a cidade, mandou Bento V para o exílio e recolocou Leão VIII no trono em Julho de 964, mas ele morreu no ano seguinte. O imperador reconheceu a autoridade pontifícia de Bento V, sob pressão dos francos e romanos, porém o restante do pontificado deste não duraria mais que poucos dias.

 

133º - Bento V - 964 - 965  

               Natural de Roma, foi escolhido em 22 de Maio de 964, durante a desordem do pontificado de João XII. Foi exilado em Hamburgo, por Otão I, que forçou-o a renunciar em favor de Leão VIII, em 23 de Junho de 964. Com a morte do Papa Leão VIII, o imperador Otão I, sob pressão dos francos e romanos, reconheceu-lhe a investidura. Morreu em Hamburgo, antes de regressar a Roma com fama de santidade, a 4 de Julho de 965. Otão III mandou transladar seus restos mortais para a Cidade Eterna, onde jazem na Cripta Vaticana.

 

134º - João XIII - 965 - 972

               O Papa João XIII exerceu o papado de 1 de outubro de 965 a 6 de setembro de 972, por exatos 6 anos, 11 meses e 5 dias. Nasceu em Roma. Foi imposto pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico e, por isso, não era bem aceito pelos romanos. A data do seu nascimento é desconhecida. Depois da morte do Papa João XII, em 964, Grammaticus Benedictus foi eleito seu sucessor com o nome de Bento V. Mas o imperador Otão I trouxe de volta a Roma o antipapa Leão VIII, nomeado por ele em 963, depois de ter banido a Bento para Hamburgo. Leão morreu em março de 965, pelo que os romanos pediram a Otão que enviasse de volta Bento. Mas Otão recusou e Bento morreu pouco depois, em julho de 965. Na presença dos enviados imperiais, João, Bispo de Narni, foi eleito Papa e consagrado a 1 de Outubro de 965 como João XIII. Pertencia à família de Teodora, que pelo seu casamento com o senador e conde de Túsculo, Teofilato I, teve, além de Marózia, outra filha conhecida por Teodora, a Jovem, que se casou com o cônsul João. Este João entrou posteriormente na carreira eclesiástica e tornou-se Bispo. Da união com Teodora teve duas filhas e três filhos, entre eles João que, ainda jovem, se tornou Sacerdote e mais tarde Bispo de Narni. Foi neste descendente da nobreza romana que caiu a escolha dos eleitores. Mas alguns nobres eram hostis ao novo Papa, por ser o candidato Imperial e, quando o Papa tentou reprimi-los, eles contra-atacaram e, em dezembro de 965 conseguiram capturá-lo e aprisioná-lo, primeiro no Castelo de Santo Ângelo e depois numa fortaleza na Campânia. João, no entanto, conseguiu escapar e encontrou proteção no príncipe Pandulfo I de Cápua, príncipe de Benevento. Em Roma mantinha-se a oposição ao novo Papa, mas quando, em 966, o imperador Otão realizou uma expedição a Itália, os romanos, aterrorizados, permitiram que João XIII regressa-se à cidade em 14 de novembro. O Papa não perdeu tempo em castigar os conspiradores, alguns dos quais foram enforcados e os outros expulsos. João XIII aliou-se intimamente com o Imperador. Em Abril de 967, viajou com Otão até Ravena, onde num sínodo, confirmou a elevação de Magdeburgo à dignidade metropolitana, resolveu várias disputas sobre os privilégios concedidos a igrejas e conventos e, restaurou Ravena como parte do território dos Estados Pontifícios. As relações entre João e o Imperador continuaram cordiais e no dia de Natal de 967, João coroou Otão II, de treze anos, como imperador em conjunto com o seu pai. João também participou nas negociações para o casamento de Otão II com a princesa bizantina Teofânia Escleraina. O casamento teve lugar em Roma e foi abençoado pelo próprio Papa a 14 de abril de 972. O Papa João XIII trabalhou intensamente nos assuntos da Igreja. No início do seu pontificado elevou Cápua ao estatuto de metropolitana, em sinal de gratidão pela ajuda prestada pelo príncipe Pandulfo. Em 969 Benevento recebeu a mesma dignidade. Confirmou decretos de sínodos realizados na Inglaterra e França. Concedeu muitos privilégios a igrejas e conventos, principalmente da Ordem de Cluny e decidiu várias questões de direito eclesiástico de vários países que a ele apelaram.

 

135º - Bento VI - 973 - 974

               Papa Bento VI, nascido Ricobaldi de Ferrara (Data de nascimento desconhecida - morto em junho de 974). Foi Papa de 19 de Janeiro de 973 até a data de sua morte. Romano, teve sua eleição confirmada pelo Imperador em 19 de janeiro de 973. Pouco se sabe do seu Pontificado, exceto que confirmou os privilégios de várias igrejas e mosteiros. O mais importante foi mesmo o seu fim trágico. Seu breve pontificado veio no contexto político da fundação do Sacro Império Romano, durante a transição entre os reinados de imperadores alemães Oto I e Oto II e da luta pelo poder de famílias aristocráticas, como o Crescentii e Tusculani na região de Roma. E por isso a necessidade de esperar pela ratificação do Imperador Otão atrasou sua consagração até 19 de Janeiro de 973. Bento VI nasceu em Roma, foi Cardeal-diácono de São Teodoro, filho de Hildebrand. Ele foi eleito e instalado como Papa sob a proteção de Oto I, cujo domínio nos assuntos romanos e eclesiais foi resistido pela aristocracia local. Registro de seu pontificado como Papa é escassa, embora ele é conhecido por ter privilégios confirmados assumidas por alguns mosteiros e igrejas. Após a morte de Oto I, um movimento antialemão conquistou Roma, depois de um duro assédio do Castelo Sant'Angelo contra o Papado, Bento foi preso no Castelo, na época um reduto da Crescentii. Crescentius I, irmão do Papa João XIII e o Cardeal-diácono Franco Ferrucci, que iria posteriormente tornar-se Bonifácio VII, um antipapa, prenderam o Papa Bento VI. Foi quando Oto II enviou um representante imperial, Conde Sicco, para garantir a sua libertação, no entanto Bento, depois de dois meses aprisionado foi assassinado estrangulado. Converteu ao cristianismo o povo húngaro, e veio a falecer em junho de 974.

 

136º - Bento VII - 974 - 983

               Bento VII (Roma 930 - 10 de julho de 983), Conde de Túsculo e Bispo de Sutri, foi eleito em outubro de 974. Sucedeu Bento VI que tinha sido assassinado numa revolta provocada por Crescentius I, um nobre romano, e que logo guindou ao trono Francone, que se intitulou "Bonifácio VII" – alguns especulam que ele esteve envolvido com o assassinato, pois era financiado pelo Conde Crescentius e adversário de Otão II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Benedito VII foi escolhido por Otão II, tornando-se Papa quando o Conde Sicco, um representante de Otão vetou a eleição de Bonifácio, em 974, e numa operação militar expulsou-o de Roma. O antipapa fugiu com alguns partidários para Constantinopla levando parte do tesouro Papal. Na capital imperial, Bonifácio conseguiu o apoio de Basílio II Bulgaróctono, o Imperador bizantino, que derrubou dois Patriarcas por apoiarem Bento na disputa (Basílio I e Antônio III Estudita). Quatro anos mais tarde Bonifácio retornou usurpando o trono de Bento VII, que foi aprisionado no Castelo de Santo Ângelo e precisou novamente da ajuda de Otão para reassumir o trono Papal. Otão outorgou-lhe privilégios para a Mogúncia e Tréveris, nomeou um Bispo para Praga e fechou o Episcopado de Mersebourg. Combateu os abusos e a ignorância que reinavam na Itália e no mundo cristão e também firmemente a simonia, ou seja, o tráfico de objetos sagrados: sacramentos, dignidades, benefícios eclesiásticos. Em 981 redigiu uma encíclica. Colaborou nas reformas da Igreja em conjunto com as ordens monásticas, fundou um monastério no Monte Aventino. O restante de seu Pontificado até a sua morte em 983 foi pacífico. Enviou ajuda à Cartago, quando houve fome naquela cidade. Morreu em 10 de julho de 983, em Roma, e foi sucedido por João XIV, que era Bispo de Pávia também apontado por Otão II.

 

137º - João XIV - 983 - 984

               O Papa João XIV, nascido Pedro Canepanova foi o Pontífice romano nos anos agitados de seu tempo. Nasceu em Pavia e, antes da elevação à dignidade Papal, era Chanceler do Império de Oto II, bem como Bispo de Pavia. As influências do Imperador foram decisivas na eleição de João XIV. Mudou o seu nome para João XIV já que o seu nome original, Pedro, deveria, na sua opinião, ser reservado apenas para o fundador do Papado - tradicionalmente, São Pedro. Oto morreu pouco depois da sua eleição, a 7 de Dezembro de 983, com 28 anos de idade, vítima de peste bubônica, deixando como herdeiro Oto III, apenas com três anos de idade. Foi o próprio João XIV que lhe deu a extrema unção, em presença dos Cardeais e Bispos. A morte de Oto trouxe consigo um período de confusão política e lutas por todo o império, com duques germânicos a pretender usurpar o trono. Os nobres de Roma aproveitaram o clima de insurreição e revoltaram-se contra o Pontífice, sob o pretexto de que este não era romano. Bonifácio VII, antipapa aproveitou o contexto e, voltando do exílio em Constantinopla, prendeu o seu rival no Castelo de Santo Ângelo. João XIV viria, depois, a morrer envenenado na prisão em 20 de agosto.

 

138º - João XV - 985 - 996

               João XV, nascido Giovanni di Gallina Alba (Roma, c. 950 — Roma, 1 de abril de 996), foi Papa da Igreja Católica de agosto de 985 até sua morte. Nos últimos dias, obscuros e tristes, do antipapa Bonifácio, fora indicado para Pontífice um monge João, filho de Roberto. Não foi reconhecido, nem consagrado. Após quatro meses acordaram os partidos e o Clero na escolha do Sacerdote João Leão. Daí a dúvida dos autores (João XV e XVI), cuja maioria, porém, chama a este de João XV, não contando o primeiro. Foi consagrado em setembro de 985. Era erudito e piedoso. Procurou defender os direitos da Igreja. Seu epitáfio em São Pedro chama-lhe: "invencível ao temor e ao lucro, egrégio doutor". O imperador Oto III era muito jovem e estava longe. Então Crescêncio Nomentano, senador em Roma, tornou-se ditador. João XV solicitou auxílio à imperatriz regente Teofania, que veio a Roma em 989 e governou em Ravena com o estranho título de "Imperador". Ela celebrou o Natal em Roma; uma grande benfeitora dos pobres e dirigida espiritual de São Adalberto, mas morreu na Alemanha em 991. A regência passou a santa Adelaide, avó de Oto III. Rebelou-se Crescêncio, que obrigou o Papa a fugir de Roma em 995; mas quando soube que Oto marchava contra a cidade com gigantesco exército, o povo, sempre volúvel, chamou o Pontífice de volta e preparou grandiosas festas ao soberano. João morreu em abril de 996. Fora fraco no governo civil da cidade, mas forte, vigoroso no trato da Igreja. Conseguiu promover a paz entre Etelredo, rei da Inglaterra, e Ricardo, duque da Normandia (991). Num sínodo, realizado em Roma, canonizou São Ulrico, Bispo de Augusta, primeiro exemplo de canonização feita por um Papa. Por meio de missões aproximou os povos da Polônia ao Cristianismo. Defendeu com energia os Bispos franceses contra o rei Hugo Capeto.

 

139º - Gregório V - 996 - 999

               Gregório V, nascido Bruno da Caríntia. Governou a Igreja com energia, cercado de inúmeros inimigos. A confusão provocada em Roma por Crescêncio II e seus partidários impediu ao clero a eleição de um novo Papa em 996. Foi então enviada uma comissão ao Imperador Otão III, pedindo-lhe como "defensor da Igreja", uma intervenção. Otão III indicou Bruno, filho do Duque da Caríntia, que, após eleito, tomou o nome de Gregório V. Os dois eram primos. Embora muito jovem, Bruno era culto, severo e resoluto. Acompanhou-o luzida comitiva de Arcebispos e Príncipes e os romanos confirmaram com júbilo a escolha. Um dos objetivos de Gregório era a universalidade da Sé Apostólica de Roma. Em 21 de maio de 996, em Roma, coroou o imperador Otão. Os dois jovens, Otão com 16 e Gregório V com 25 anos, idealizaram um programa para a Igreja e para o Império em um sínodo que se seguiu à coroação. Foram anistiados os chefes de passadas rebeliões, ato de bondade pago com grande gratidão. Crescêncio tramou contra o Papa, que insistia em moralizar a cidade. A nobreza dissoluta aprovou a revolta contra o rigoroso Papa alemão. Crescêncio II obrigou Gregório a fugir, alçou o antipapa Filagato de Piacenza com o nome de João XVI e entregou Roma ao imperador grego. Otão III voltou com grande pompa e enorme exército em 998, depondo Filagato e humilhando Crescêncio publicamente antes de executá-lo. São Nilo de Rossano repreendeu Otão e Gregório pelas torturas e execuções e quis fazer do antipapa um monge, mas os próprios soldados do rebelde mutilaram-no na fuga desastrada que empreendeu. Gregório V defendeu o Arcebispo Arnolfo contra o mal casado rei Roberto II de França. Os mais ilustres homens de ciência do tempo gozaram da amizade sincera de Gregório V, do qual se recorda que, em Roma, pregava sempre em três línguas. Gregório morreu em 16 de fevereiro de 999 com apenas 27 anos, suspeita-se que de envenenamento pelos partidários de Crescêncio.

 

140º - Silvestre II - 999 - 1003

               Silvestre II, O.S.B. (ca. 950 — 12 de maio de 1003), nome de batismo Gerbert d'Aurillac, foi Papa de 2 de Abril de 999 até sua morte, sucedeu Gregório V. Como monge beneditino, Gerbert, nasceu em Auvérnia, França, de origens obscuras, mas certamente humildes, foi educado e encaminhado aos estudos teológicos no mosteiro de Saint-Géraud de Aurillac, no Auvérnia; acompanhando o Duque da Espanha, Borel, estabeleceu-se na Península Ibérica, onde pôde aprofundar, também graças aos contatos com a ciência árabe, a própria cultura no campo filosófico e matemático. Foi um dos primeiros divulgadores dos numerais indo-arábicos na Europa cristã. Lecionou por alguns anos em Roma, depois em Reims (972), onde por uma década desenvolveu a parte mais produtiva e interessante de sua obra didática e cultural. Atendendo a um pedido do Imperador Oto II, dirigiu por um breve período a abadia de São Columbano em Bobbio e depois voltou a Reims em 983, onde, como conselheiro do Arcebispo Adalberon, deteve o controle da política francesa, favorecendo a ascensão ao trono de Hugo Capeto. À morte de Adalberon em 989, seguiu-se um período agitado para Gerbert que, indicado para a sucessão deste, viu-se preterido por Arnulfo por desejo do próprio rei Hugo. Com a deposição de Arnulfo, Gerbert foi nomeado para substituí-lo em 991, mas foi deposto em 995, uma vez que sua nomeação havia sido considerada ilegal. Refugiou-se então na Alemanha, protegido pelo Imperador Oto III, que, vinte anos antes, havia sido seu discípulo em Roma. Oto levou-o consigo, como conselheiro à Itália, onde fez com que fosse nomeado primeiramente Arcebispo de Ravena (998), e depois, com a morte de Gregório V, favoreceu sua eleição ao papado em 999. Como Papa Silvestre II, Gerbert considerou que chegara finalmente o momento de dar livre vazão aos projetos reformadores aos quais a sua cultura e a sua formação clunicense naturalmente o impeliam, mas o estreito vínculo com o Imperador induziu-o a expressar tal reforma na aliança império universal-cristandade, que encontrava sua fórmula na Renovatio imperii, ou seja, na convivência pacífica e na colaboração entre Império e Papado. Os ideais do Papa francês e do imperador alemão, contudo, não eram compartilhados pela população romana; ambos foram expulsos da cidade em fevereiro de 1001. O Papa pôde voltar a Roma alguns meses depois, mas, nos dois últimos anos de vida e de reinado, toda sua vontade reformadora desaparecera; suas últimas esperanças foram destruídas com a morte de Oto em 1002. Segundo o historiador Thomas E. Woods Júnior “o primeiro relógio de que se tem notícia foi construído pelo futuro Papa Silvestre II para a cidade germânica de Magdeburgo, por volta do ano 996. Posteriormente, outros monges foram aperfeiçoando essa técnica”.

 

141º - João XVII - 1003

               Giovanni Sicco, feito Papa, adotou o nome de Papa João XVII, foi eleito em 16 de Maio de 1003 e morreu em 6 de Novembro de 1003. Não havia em Roma nenhuma autoridade que fizesse frente aos nobres. Assim, a facção de Crescêncio II ganhou novamente vantagem. João Crescêncio, filho do patrício derrotado e morto por Otão III, aproveitou para tomar o poder. Os três Papas que se seguiram, devem-lhe a sua eleição. João XVII, antes de tomar ordens, tinha sido casado e era pai de três filhos, que também eram eclesiásticos. Do seu Pontificado de poucos meses nada se sabe.

 

142º - João XVIII - 1003 - 1009

               O Papa João XVIII, foi Bispo de Roma e governante nominal dos Estados Pontifícios de 25 de dezembro de 1003, até sua abdicação em julho de 1009. Ele exerceu pouco poder temporal, governando durante a luta entre João Crescêncio e o Imperador Henrique II pelo controle de Roma. Nascido Giovanni Fasano di Roma, foi eleito sucessor do Papa João XVII, cujo pontificado durou poucos meses. João nasceu na família Fasano em Roma. Seu pai era um Sacerdote. João deve sua eleição à influência e poder do clã Crescêncio. Durante todo o seu Pontificado, ele foi supostamente subordinado ao chefe dos Crescêncios, que controlava Roma, o Patricius (um líder militar aristocrático) João Crescêncio III. Este período foi interrompido por contínuos conflitos entre o Imperador Otoniano Henrique II e o Arduíno de Ivrea, que reivindicou o Reino da Itália em 1002 após a morte do Imperador Otto III. Roma foi assolada por surtos de peste e os sarracenos operavam livremente a partir do emirado da Sicília devastando as costas do Tirreno. Como Papa, João XVIII ocupou seu tempo principalmente com detalhes da administração eclesiástica. Ele autorizou uma nova Diocese de Bamberg para servir de base para a atividade missionária entre os eslavos, uma preocupação de Henrique II. Ele também julgou o exagero dos Bispos de Sens e de Orléans em relação aos privilégios do abade de Fleury. João teve sucesso em criar, pelo menos temporariamente, uma reaproximação entre as igrejas oriental e ocidental. Seu nome podia ser encontrado em dípticos orientais e ele era orado em missas em Constantinopla. João XVII abdicou em julho de 1009 e, de acordo com um catálogo de Papas, retirou-se para um mosteiro, onde morreu pouco depois, em junho ou julho de 1009.

 

143º - Sérgio IV - 1009 - 1012

               Papa Sérgio IV (nascido Pietro Buccaporci: Roma, 970 — Roma, 12 de Maio de 1012). Foi Bispo de Roma e governante nominal dos Estados Papais de 31 de Julho de 1009 até sua morte. Seu poder temporal foi eclipsado pelo patrício João Crescêncio. Nasceu em Roma no bairro "Pina", em data desconhecida, filho de Pedro, o Sapateiro e de Estéfânia. Ele se chamava Pietro Martino Buccaporci, que não era seu nome de nascimento, nem o nome de sua família, mas aparentemente um apelido dado a ele por causa de seus hábitos pessoais. Em 1004, ele se tornou Bispo de Albano. Foi eleito Papa após a abdicação de João XVIII em 1009, e adotou o nome de Sérgio IV. O poder de Sérgio IV era pouco influente e muitas vezes ofuscado pelo patrício, João Crescêncio, governante da cidade de Roma na época. Com a ajuda de Crescêncio, Sérgio resistiu às tentativas do Imperador Otão III de estabelecer o controle sobre Roma. Sérgio IV agiu para aliviar a fome na cidade e isentou vários mosteiros do governo episcopal. Uma bula Papal pedindo que os muçulmanos sejam expulsos da Terra Santa depois que a Igreja do Santo Sepulcro foi destruída em 1009 pelo califa fatímida al-Hakim bi-Amr Allah foi atribuída a Sérgio IV. Sérgio morreu em 12 de maio de 1012 e foi sepultado na Basílica de São João de Latrão. Embora não fosse canonizado, Sérgio às vezes é venerado como Santo pelos beneditinos dos quais era membro. Suspeitou-se que ele foi assassinado, pois morreu uma semana depois de Crescêncio, considerado por muitos como seu patrono.

 

144º - Bento VIII - 1012 - 1024

               Papa Bento VIII (Túsculo, 980 – Roma, 9 de abril de 1024) reinou de 18 de maio de 1012 até sua morte. Era descendente de Alberico I, Conde de Túsculo que teve importante participação na eleição do Papa João X. Frente às dificuldades para eleger-se, pediu ajuda a Henrique II, que se fez coroar em Roma. Conseguiu afastar de Roma o inoportuno Crescêncio. Derrotou os muçulmanos que estavam atacando o litoral da Itália. Tornou obrigatório o celibato dos padres. Tentou controlar, através de leis, a simonia e o dolo. Um notável sucesso de Bento foi exatamente ter restabelecido boas relações com a casa real alemã: ele se dava conta do quão importante era a cooperação entre o Papado e a Coroa germânica. Assim, em fevereiro de 1014, Henrique II foi coroado Imperador em São Pedro; antes da coroação, ele jurou ser fiel protetor da Igreja. No Sínodo que se seguiu à coroação, Bento acolheu o pedido de Henrique de que o símbolo de fé fosse cantado durante a missa segundo o uso nórdico. O Papa e o Imperador, depois, em Ravena, dirigiram um sínodo reformador que estabeleceu as idades mínimas para poder receber as ordens sacras, e criou leis contra a simonia. Em seguida, sempre de comum acordo, o Papa e o Imperador promulgaram cânones que proibiam o matrimônio e o concubinato a todos os clérigos, designando aos filhos de tais uniões o papel de servos da gleba.

 

145º - João XIX - 1024 - 1032

               Papa da Igreja Católica Romana nascido em Túscolo, eleito em maio de 1024 como sucessor do seu irmão Benedito VIII, o primeiro Papa a receber donativos para a Igreja pela concessão de indulgências. Filho mais jovem do violento Gregório de Tuscolo, Conti di Tusculum e tirano de Roma, substituto do patrício romano Crescêncio na liderança de Roma e inimigo radicalmente avesso a toda influência estrangeira. Ele logo se tornou todo poderoso com a morte de Oto III, que tinha apenas 22 anos. Com predomínio dos tusculanos na eleição Pontifícia, foi a segunda indicação consecutiva da série de Papas da corte de Túsculo. Embora fosse um leigo e muito jovem, foi eleito sem nunca ter sido ordenado, mas recebeu todas as ordens e foi consagrado para poder ser então indicado para eleição. Recebeu ajuda dos monges de Cluny, para reformar as disciplinas eclesiásticas e monásticas em toda a Europa. Na política coroou em Roma, o Imperador germânico Conrado II e não atendeu às exigências da corte de Bizâncio. Protegeu Guido d’Arezzo, o inventor das sete notas musicais, cujos nomes foram tirados das primeiras sílabas de um canto a São João Batista. Acabou falecendo na cidade das sete colinas, Roma.

               Guido d'Arezzo (992 - 1050) foi um monge italiano e regente do coro da Catedral de Arezzo (Toscana), província de seu nascimento. Foi o criador das notas musicais com os nomes que conhecemos hoje: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si (antes, ut, re, mi, fa, sol, la e san), e é por ele que os países de origem ibérica têm uma fala das notas musicais diferente dos povos Anglo-Saxônicos. O sistema de Guido d'Arezzo sofreu algumas pequenas transformações no decorrer do tempo: a nota Ut passou a ser chamada de Do, para facilitar o canto com a terminação da sílaba em vogal, derivando-se provavelmente da proposta lançada por Giovanni Doni, nome de um musicólogo italiano, que escolheu a primeira sílaba do seu sobrenome (afirmando ser, na verdade, a primeira sílaba do nome Dominus) para essa nova denominação. E foi criada, posteriormente, a nota Si (por esse nome ser as iniciais do nome de São João, no hino a São João Batista em latim: Sancte Ioannes), novamente facilitando o canto com a terminação de uma vogal

 

146º - Bento IX - 1032 – 1044

               Nascido em Túsculo, na Itália, entre os anos 1012 e 1020, o que ainda não foi precisamente determinado pelos pesquisadores, Theophylactus III era filho de Albérico III, o Conde de Túsculo, e membro de uma família com importante linhagem religiosa e representatividade para os católicos. Era sobrinho dos Papas Bento VIII e João XIX. O poder político que sua família possuía no mundo cristão e fora dele era grande o suficiente para fazer de Theophylactus um caso singular na história da Igreja Católica. Por influência de Albérico III, Theophylactus tornou-se Papa muitíssimo jovem, quando tinha entre 18 e 20 anos de idade. No entanto, tudo indica que seu Papado precoce não era reflexo de uma vida de devoção ou de destaque religioso. Muito pelo contrário, Theophylactus não tinha qualquer qualificação para o cargo. Sua fama como Papa é tão negativa que até a Enciclopédia Católica, publicada pelo Vaticano, o chama de desgraça na Cadeira de Pedro. Theophylactus sucedeu o Papa João XIX, herdando, na verdade, o posto de Sumo Pontífice de seu tio graças ao poder e à riqueza da família. Adotando o nome Bento IX, o Papa rapidamente construiu uma imagem cruel e imoral. O jovem Papa era responsável por estupros, assassinatos, orgias, bestialidades e outras atitudes incoerentes com sua posição. Ele chegou ao cargo máximo da Igreja Católica em outubro de 1032 e, após ter sua fama disseminada, foi forçado a sair de Roma em 1036. Porém retornou pouco tempo depois com a ajuda do imperador Conrado II. A oposição o forçou a abandonar a cidade novamente em 1044 e ainda escolheu um novo Papa, Silvestre III. Bento IX foi sucedido por Silvestre III ao ser afastado do posto em janeiro de 1045. Mas rapidamente reuniu forças para retornar como Papa em abril daquele ano. Seu segundo papado duraria pouco tempo. Tudo indica que por foi por consequência de álcool que o Papa Bento IX abdicou de seu papado em troca de matrimônio. O que o levou a vender seu papado a seu padrinho, o Sacerdote João Gratian, que seria nomeado Papa Gregório VI, seu segundo sucessor. Mas rapidamente Bento IX se arrependeu e retornou a Roma para ocupar seu lugar. Silvestre III, que ainda se nomeava Papa, e Bento IX foram declarados depostos pelo rei germânico Henrique III. Um novo Papa, Clemente II, foi, então, coroado como sucessor. Só que este faleceu em outubro de 1047, abrindo espaço para que Bento IX se apoderasse do Palácio de Latrão. Assim começava seu terceiro papado. Mais uma vez, ele ficaria pouco tempo à frente da Igreja Católica, porque enfrentava forte oposição. Tropas germânicas o expulsaram em julho de 1048, deixando vaga a cadeira Papal. Para o seu lugar foi eleito o Papa Dâmaso II, que foi oficialmente reconhecido por todos. Bento IX foi nomeado para atender aos interesses das classes campestres de Roma. Todavia, nada sabia sobre as funções e obrigações de um Papa. Além de ser um dos Papas mais jovens da história, seu papado tem outros destaques atípicos. Foi o único homem a ser Papa mais de uma vez: três vezes, o único a vender seu papado e o primeiro a renunciar ao cargo. Bento IX foi excomungado em 1049 e, depois disso, pouco se sabe sobre sua vida. Acredita-se que ele tenha desistido de tentar retomar a cadeira papal e que tenha sido até perdoado pelo Papa Leão IX. Theophylactus viveu, pelo menos, até a década de 1080, quando faleceu provavelmente em 1085 e foi sepultado na abadia de Grottaferrata. É um dos Papas mais detestados pelos católicos.

 

147º - Silvestre III - 1045

               Papa Silvestre III, nascido João dos Crescêncios (em italiano: Giovanni dei Crescenzi; Roma, 1000 — 1062) foi Papa de 20 de janeiro de 1045 a 10 de fevereiro de 1045, após a expulsão do libertino Papa Bento IX em Setembro de 1044. Antes de subir ao Trono de São Pedro, ele era Bispo de Sabina, cargo a que voltou após acusações de suborno na sua eleição e excomunhão pelo rival Bento IX.

 

148º - Bento IX - 1045

               Eleito Papa pela segunda vez.

 

149º - Gregório VI - 1045 - 1046

               Papa Gregório VI, nascido Giovanni Gratian Pierleoni, foi Papa de 1 de maio de 1045 a 20 de dezembro de 1046. Desde o primeiro momento trabalhou na reforma dos costumes e no restabelecimento da ordem. Em 1045 Bento IX ocupou a cadeira de S. Pedro, mas ansioso por abandonar o cargo que lhe tinha sido imposto pela família e poder casar, pediu a opinião do seu padrinho, João Graciano, Arcipreste de S. João "ad portam Latinam", um homem com grande reputação, de como poderia renunciar ao papado. Quando João o convenceu de que poderia abandonar o pontificado, Bento propôs-se entregá-lo ao padrinho em troca de uma grande soma de dinheiro. Desejoso de ver a Santa Sé livre de um Pontífice tão indigno, João Graciano pagou e foi reconhecido como Papa com o nome de Gregório VI, mas isto não trouxe paz à Igreja. Quando Bento IX deixou a cidade, depois de vender o papado, já havia um outro aspirante à cadeira de S. Pedro, João, Bispo de Sabina, que foi elevado ao papado por uma facção da nobreza e tomou o nome de Silvestre III. Para agravar as coisas, Bento IX voltou a Roma e forçou João a voltar para a sua Sé de Sabina, mas este nunca desistiu das suas pretensões e o seu partido continuava a controlar parte de Roma. Aparentemente Bento não tinha conseguido a noiva que pretendia e não perdeu tempo em reconquistar o Trono Pontifício e em controlar parte da cidade. Colocado perante um panorama de cofres vazios e um clero que tinha perdido o sentido de justiça, Gregório viu-se com uma tarefa quase impossível. No entanto, com a ajuda de Hildebrando, que viria a ser o Papa Gregório VII, ele tentou organizar a vida civil e religiosa. Mas as facções antagonistas eram demasiado poderosas e a confusão aumentou. Convencidos que nada se resolveria sem uma intervenção exterior, um grupo de clérigos apelou ao imperador Henrique III que viesse em socorro da situação. Henrique não hesitou e chegou a Itália no Outono de 1046. Seguro da sua inocência, Gregório dirigiu-se ao seu encontro. Foi recebido pelo Imperador com todas as honras e, atendendo ao pedido Imperial, convocou um concílio a realizar-se em Sutri. Dos dois outros Papas apenas Silvestre se apresentou no Sínodo, inaugurado a 20 de dezembro de 1046. Tanto a sua reivindicação ao papado, como a de Bento IX foram rejeitadas. Silvestre foi condenado a passar o resto dos seus dias num mosteiro. Mas o caso de Gregório era diferente. Os Bispos reunidos no Sínodo consideravam que o modo com que ele obtivera o pontificado era, claramente, um caso de simonia e intimaram-no a renunciar. Sem mais possibilidades de escolha, foi isso que Gregório fez. Em seu lugar foi eleito o Bispo de Bainberg com o nome de Clemente II. Gregório, acompanhado por Hildebrando, seguiu com o Imperador para a Alemanha, onde morreu pouco depois, em Maio de 1047. Instituiu o primeiro exército Pontifício para libertar e defender os territórios da Igreja Católica. Obrigado a abdicar, retirou-se como monge em Cluny, tendo a assistência de Hildebrando de Sovana, o futuro Papa Gregório VII.

 

150º - Clemente II - 1046 – 1047

               Nascido na Saxônia, Alemanha, no ano 1000, Suidgero de Morsleben nasceu em um momento de grande temor da sociedade medieval europeia. Acreditava-se amplamente que o fim do mundo ocorreria naquele ano. É um momento dotado de muitas crenças e lendas envolvendo o fim do mundo, que, obviamente, não se consumou. Superadas as incertezas do ano mil, a Igreja aproveitou-se do temor reinante para aumentar seu poderio e influência sócio-cultural. Suidgero cresceu nesse contexto como homem dedicado à fé. Foi gradativamente crescendo na hierarquia católica e desenvolveu importante papel como Bispo de Bamberg, na Alemanha. Havia uma situação atípica envolvendo os líderes da Igreja, forçados a renunciar por grupos opositores acusando-os de simonia e métodos ilegais para chegar ao posto Papal. Os Papas não tinham como se defender, em função da força da oposição, e abdicavam. Para o lugar do Papa anterior foi escolhido Suidgero de Morsleben, com o nome de Papa Clemente II. A simonia não era um problema restrito ao Papa Gregório VI naquela época, pelo contrário, era um problema generalizado e que se tornou público com a abdicação do Papa. Algo deveria ser feito e Clemente II se propôs a fazê-lo no ano seguinte, em 1047, o Papa reuniu um concílio em Sutri para combater o hábito inadequado. No entanto, não se estipulava grandes punições aos pecadores, o que não colocou fim ao problema disseminado no meio cristão. O Papa Clemente II encontrou um ambiente muito tomado por intensas disputas políticas. Seu antecessor fora deposto por pressão da oposição e havia o grave risco de um cisma na época, pois outros religiosos reclamavam o título de Papa. O novo Papa preocupava-se com o poder que os Bispos-Condes haviam adquirido, o que causava muitos conflitos e gerava tensão por novos a todo momento. O próprio Suidgero de Morsleben recebeu muita resistência para nomeação como Sumo Pontífice, que só foi concretizada pela vontade do rei da Alemanha e pela superação do principal opositor, o Bispo Ariberto de Milão. Em meio a tanta hostilidade, Suidgero foi aceito pelo clero e pelo povo, pois reunia os desejos de pacificação das disputas políticas extremadas. Como Papa, Clemente II deixou como legado para o ritual católico a deliberação de que toda eleição Papal deveria ter origem em uma designação imperial. Retribuindo o apoio do rei alemão, coroou Henrique III como patrício dos romanos, dando a ele peso decisivo na eleição Papal. Clemente II fez algumas viagens à Alemanha e, em uma delas, faleceu. O Papa Clemente II permaneceu menos de um ano como líder da Igreja Católica. Faleceu no dia nove de outubro de 1047, aos 47 anos de idade, de morte dita natural. Seu corpo foi sepultado em Bamberg, onde era Bispo.

 

151º - Bento IX - 1047 – 1048

               Consagrado Papa pela terceira vez, assume o Pontificado.

 

152º - Dâmaso II – 1048

               Nascido na Baviera, Alemanha, no ano 1000, Poppo von Brixen foi destacado líder religioso de sua terra natal, onde exercia a função de Bispo. Sabe-se muito pouco sobre sua história de vida e sobre sua formação eclesiástica, mas acredita-se que tenha sido proveniente de família nobre europeia. Na época em que viveu, os Imperadores eram muito influentes na escolha dos Papas. Foi o que aconteceu quando o Papa Bento IX renunciou. Para ocupar o posto religioso vago causado pela renúncia do Papa Bento IX, o Imperador germânico Henrique III rapidamente indicou Poppo von Brixen para ser o sucessor. Tudo leva a crer que o Bispo tinha bom relacionamento e afinidade com a nobreza germânica, já que se tratava de uma escolha muito significativa. Poppo von Brixen se tornou oficialmente Papa no dia 17 de julho de 1048. O Papa anterior havia renunciado ao cargo com o intuito de reparar seus defeitos, passando a realizar penitência voluntária em um mosteiro alemão no qual ficaria até sua morte. O Papa Dâmaso II é mais um personagem de um tempo repleto de curiosidades. Ele foi o segundo pontífice germânico nomeado pelo imperador Henrique III e o terceiro Papa germânico. Seu papado, contudo, foi um dos mais curtos da história, durou apenas 23 dias. Assim como seu antecessor, o Papa Dâmaso também renunciou ao cargo com o intuito de se purificar, no dia nove de agosto de 1048. Ele retirou-se para a Palestina para viver em penitência, mas acabou sendo vitimado pela malária. O Papa sequer teve tempo para qualquer ato marcante para a Igreja Católica ou para deixar qualquer legado. Não se sabe ao certo o motivo da renúncia dos dois Papas, mas sabe-se que a pressão e a interferência do imperador Henrique III era grande. O que se pode constatar pela própria nomeação de Poppo von Brixen e também de seu sucessor. Com a renúncia de Dâmaso II, Henrique III escolheu seu primo, Bruno de Egisheim e Dagsburgo, que era homem de muita confiança também do Imperador, para se tornar o Papa Leão IX. O papado de Dâmaso encerrou um período turbulento para a Igreja Católica que é chamado por muitos de idade das trevas da instituição, em função dos breves papados, das disputas políticas e da grande interferência dos imperadores na escolha dos líderes religiosos. Esta fase seria seguida por uma época de grande dominação social, econômica e cultural da Igreja Católica, detentora do poder e influente no destino da humanidade durante a Idade Média.

 

153º - São Leão IX - 1049 - 1054

               Papa Leão IX, nascido Bruno de Eguisheim-Dagsbourg (Eguisheim, Alsácia, 21 de junho de 1002– 19 de abril de 1054, Roma), foi Papa de 12 de fevereiro de 1049 até a data de sua morte. Foi principalmente um Papa viajante, trabalhando pela paz na Europa. É Santo da Igreja Católica, nasceu em Eguisheim, na Alsácia, com o nome de Bruno de Eguisheim-Dagsbourg. No entanto, certas pessoas afirmam que ele nasceu em Dabo, outras em Walscheid, ambas na Moselle. Depois de estudar em Toul, tornou-se Cônego de Saint-Étienne em 1017 e Bispo desta cidade em 1026. Torna-se Papa em 1049, e neste mesmo ano proíbe o casamento de Guilherme o Bastardo e de Matilde de Flandres. Apesar disso, o casamento acaba por ser realizado. Leão IX foi um reformador, tendo-se inscrito na reforma dita “Gregoriana”. Convoca durante seu Pontificado 12 Concílios. Suas principais lutas foram contra: a taxa eclesiástica (a simonia); o casamento bem como o concubinato dos padres (o nicolaísmo); os Bispos não deveriam ser príncipes do Império, mas simples teólogos; o retorno dos valores do cristianismo primitivo. De junho de 1053 a março de 1054 ele foi mantido prisioneiro em Benevento, numa prisão honorável; ele não sobreviveu muito tempo após seu retorno a Roma, onde morreu em 19 de abril de 1054. O dia de São Leão é festejado em 19 de abril, dia do aniversário da sua morte. Seu corpo repousa na Basílica de São Pedro. Antes de sua morte, Leão IX enviou um legado Papal, o Cardeal Humberto de Silva Cândida, a Constantinopla, para negociar com o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário (1043-1059), em resposta a suas ações sobre a Igreja no sul da Itália. Humberto rapidamente parou as negociações, e excomungou e depôs o Patriarca em nome do Papa. Este ato, embora juridicamente inválido devido à morte do Papa da época, foi respondido pelo próprio Patriarca Miguel com a excomunhão contra o Humberto e seus associados e é popularmente considerado a separação oficial entre as Igrejas orientais e ocidentais, no que é chamado de Grande Cisma do Oriente.

CISMA DO ORIENTE

               A ruptura entre bizantinos e ocidentais, que tomou sua forma definitiva no século XI, não é senão o último episódio de uma longa história ou da história das diferenças de duas mentalidades: a grega e a latina. Sobre a união na fé e no amor de Cristo, que estreitavam orientais e ocidentais, prevaleceu, infelizmente, a desunião humana natural.

1. Há uma diversidade fundamental, que se manifestava de maneiras diversas:

               a) O gênio. Os gregos eram intelectuais, cultores da filosofia, das letras e das artes. A elaboração das grandes verdades da fé a respeito da SS. Trindade e de Jesus Cristo deu-se no Oriente (até o Concílio de Constantinopla III, 680/1). Por isto tendiam a desprezar os romanos e, mais ainda, os bárbaros invasores, como rudes e incultos. – Os latinos eram mais amigos da prática, da disciplina, do Direito; por isto tinham os gregos na conta de frívolos, inconstantes e tagarelas (cf. At 17,21); dizia-se no Ocidente: “Graeca fides, nulla fides”, isto é, “palavra de grego, palavra nula”. Essa diversa índole suscitou, a partir do século V, um antagonismo crescente entre orientais e ocidentais.

               b) A língua. Os primeiros documentos da Roma cristã eram redigidos em grego. Depois do século IV, porém, esta língua desaparece do Ocidente, dando lugar ao latim (= dialeto do Lácio ou da região de Roma). O latim era desprezado e desconhecido no Oriente, especialmente após o Imperador Justiniano. É de notar, por exemplo, que o arquidiácono latino Gregório (depois Papa), certamente homem de valor intelectual passou cinco anos na corte de Constantinopla como legado papal, sem aprender o grego; julgava que isto não valia a pena (fim do século VI). – Ora a ignorância mútua de línguas muito contribuiu para que as comunicações entre Oriente e Ocidente se tornassem mais raras e sujeitas a mal-entendidos; era preciso recorrer a intérpretes, que nem sempre eram fiéis (tenham-se em vista as atas do Concílio Niceno II referentes às imagens).

               c) Liturgia e disciplina. Havia tradições diferentes no Oriente e no Ocidente, no tocante, por exemplo, ao calendário de Páscoa, aos dias de jejum (os latinos jejuavam no sábado; os gregos, não), à matéria da Eucaristia (pão sem fermento ou ázimo no Ocidente; pão fermentado no Oriente), ao celibato do clero, ao uso da barba (muito caro aos orientais) Essas tradições, por não afetarem as verdades da fé, eram perfeitamente aceitáveis; haveriam, porém de tornar-se motivo de debates em tempos de controvérsia.

2. Ao lado da diversidade fundamental, levemos em consideração a mentalidade que se foi formando em Bizâncio ou o “bizantinismo”.

               Em 330 Constantino transferiu a capital de Roma para Bizâncio, que ele quis chamar “a nova Roma”. Esta fora até então uma localidade insignificante, que muito sofrera por parte dos Imperadores Romanos. Do ponto de vista eclesiástico, Bizâncio também carecia de significado; a sua comunidade cristã não fora fundada por algum dos Apóstolos (como as de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma…); o primeiro bispo que se conhece, Metrófanes, é do início do século IV (315-325) e Sufragâneo do metropolita de Heracléia. Compreende-se então que, o prestígio que Bizâncio não possuía por suas tradições, os bizantinos o quisessem obter por suas reivindicações. De modo geral, ia-se tornando difícil aos bizantinos reconhecer a autoridade religiosa de Roma, já que todo o esplendor da corte imperial se havia transferido para Constantinopla. Acresce que os Imperadores bizantinos, herdeiros do conceito pagão de Pontifex Maximus (Pontífice Máximo no plano religioso), se ingeriam demasiadamente em questões eclesiásticas, procurando manter a Igreja oriental sob o seu controle. Os monarcas, nas controvérsias teológicas, muitas vezes favoreciam as doutrinas heréticas, contrapondo-se assim a Roma e ao seu bispo, que difundiam a reta fé. Os Patriarcas de Constantinopla, por sua vez, muito dependentes do Imperador, procuravam a preeminência sobre as demais sedes episcopais do Oriente e queriam rivalizar com o Patriarca de Roma, sucessor de Pedro, aderindo à heresia e provocando cismas: dos 58 bispos de Constantinopla desde Metrófanes até Fócio (858), um dos vanguardeiros da ruptura, 21 foram partidários da heresia; do Concílio de Nicéia I (325) até a ascensão de Fócio (858), a sede de Bizâncio passou mais de 200 anos em ruptura com Roma. Registraram-se mesmo atos de violência cometidos por imperadores contra alguns Papas: Justino I mandou buscar à força o Papa Vigílio em Roma e quis obrigá-lo a subscrever normas religiosas baixadas pelo monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga contra o Papa Martinho I, que em Roma (649) se opusera à heresia monotelita, favorecida pelo Imperador; Justiniano II mandou prender em Roma o Papa Sérgio I, que não queria reconhecer inovações promulgadas pelo Concílio Trulano II (692); Leão III, iconoclasta, em 731 subtraiu a Roma a jurisdição sobre a Ilíria e sobre parte do “Patrimônio de S. Pedro” (Itália meridional).

               3. O distanciamento entre orientais e ocidentais ainda foi acentuado pela criação do “Sacro Império Romano da Nação dos Francos”, cujo primeiro Imperador Carlos Magno recebeu a coroa, em 800, das mãos do Papa Leão III. – O descaso ou a hostilidade dos bizantinos associados à opressão dos lombardos no Norte da Itália, dera motivo a que os Papas se voltassem aos poucos, com olhar simpático, para o povo recém-convertido dos francos, pedindo-lhes o auxílio necessário para instaurar nova ordem de coisas no Ocidente. A entrega da coroa imperial a Carlos Magno visava a prestigiar os francos nessa sua missão. Como se compreende, em Bizâncio tal ato foi mal acolhido, os orientais julgavam que só podia haver um Império cristão, como só pode haver um Deus; o Imperador reinava em nome de Cristo e era como que o representante visível da unidade da Igreja; daí grande surpresa e escândalo quando souberam que o bispo de Roma sagrara em 800 um “bárbaro” para governar um segundo Império cristão! Apesar de tudo, deve-se dizer que até o século IX o primado de Roma ainda era satisfatoriamente reconhecido pelos orientais. A tensão de ânimos se manifestou em termos novos e funestos sob a chefia dos Patriarcas Fócio (? 897) e Miguel Cerulário (?1059). Em 858 foi ilegitimamente deposto por adversários políticos o Patriarca Inácio de Constantinopla. Em seu lugar, subiu à cátedra episcopal um comandante da guarda imperial, Fócio, que o Imperador favorecia. O novo prelado recebeu em cinco dias todas as ordens sacras e foi empossado, sem que a Sé estivesse vaga (pois Inácio não renunciara). Não conseguindo impor-se ao bispo de Roma, que em 863 o declarou destituído das funções pastorais, Fócio, ainda apoiado pelo Imperador, abriu violenta campanha contra os cristãos ocidentais. A situação se tornou mais tensa pelo fato de que O Papa Nicolau I enviou missionários latinos à Bulgária, cujo rei Bóris, recém-batizado, hesitava entre a obediência a Roma e a obediência a Constantinopla. A entrada dos latinos em território tão próximo das fronteiras gregas irritou os bizantinos; a cólera chegou ao auge quando estes souberam que legados de Roma estavam a caminho de Constantinopla, onde deveriam informar o Imperador de que a Bulgária se tornara decididamente latina. Presos antes de penetrarem em território imperial, os legados do Papa foram expulsos (866); Fócio enviou uma carta aos bispos do Oriente condenando a conduta dos “ocidentais bárbaros”: além da evangelização da Bulgária, censurava-os por praticarem o jejum no sábado, celebrarem a Eucaristia com pão ázimo e, principalmente, por terem acrescentado o Filioque ao Símbolo da Fé. Como sabemos, o credo niceno-constantinopolitano professava: “Creio no Espírito Santo, que procede do Pai… Todavia a partir de fins do século VI, a Igreja na Espanha propagou a fórmula: …que procede do Pai e do Filho (Filioque)”. Na França este acréscimo foi sendo aceito; Carlos Magno patrocinou-o. Os monges francos o cantavam no Monte das Oliveiras em Jerusalém, ainda que por isto fossem duramente atacados pelos gregos e acusados de heresia (808). 0 Papa Leão III (795-816), em atenção aos gregos, desaprovou o uso dos latinos e aconselhou os francos a deixar de o fazer; mas não foi atendido. – Ora Fócio levantou com veemência contra os ocidentais a acusação de terem alterado o Credo. Por conseguinte, um Concílio reunido em Constantinopla em 867 depôs Nicolau I, que morreu naquele mesmo ano, dez dias depois que o Patriarca Fócio fora destituído por uma revolução palaciana. Inácio foi recolocado na sé patriarcal. Em 869/70 celebrou-se o oitavo Concílio Ecumênico em Constantinopla, sob a direção de três legados papais; foi excomungado Fócio e a comunhão com Roma foi restabelecida. Mas de novo em 879 Fócio assumiu a sé de Constantinopla; reuniu um sínodo nesta cidade em 879/80, que rejeitou o de 869/70 e hostilizou os latinos (os gregos consideram este o oitavo Concílio Ecumênico). Fócio morreu num mosteiro em 897 ou 898. Os Patriarcas seguintes restauraram e confirmaram a união com Roma, a qual, porém, estava gravemente abalada após tantas discórdias. O século X foi marcado pela criação do Sacro Império Romano da Nação Germânica com a dinastia dos Otos (962) – o que muito irritou os bizantinos, que viam nesse fato a renovação do gesto de 800 (coroação de Carlos Magno Imperador). As relações com Roma eram frias; bastaria um pequeno incidente para reavivar as acusações feitas no passado. Isto, de fato, aconteceu em 1014: o Papa Bento VIII introduziu o Filioque no canto da Igreja Romana a pedido do Imperador Henrique II. O Patriarca bizantino Sérgio II reagiu propagando os escritos de Fócio sobre o assunto. Em 1043 tornou-se Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário, homem ambicioso, que deu livre curso à paixão antiromana; em 1053 mandou fechar as igrejas dos latinos em Constantinopla e confiscou os mosteiros destes; acusava-os principalmente de usar pão ázimo na Eucaristia; um dos funcionários imperiais parece ter calcado aos pés as hóstias dos “azimitas” como não consagradas. Estes fatos causaram grande agitação no Ocidente; o Cardeal Humberto da Silva Candida, erudito e talentoso, escreveu um “Diálogo”, em que refutava as objeções dos gregos e os acusava de Macedonismo (por não aceitarem o Filioque). Todavia o Imperador bizantino Constantino IX desejava boas relações com o Papa Leão IX para que este o ajudasse a combater os normandos, que devastavam as possessões bizantinas na Itália Meridional; em resposta a uma carta do Imperador, Leão IX enviou uma legação a Constantinopla em 1054, composta pelo Cardeal Humberto da Silva Candida e por dois outros prelados. O Imperador mandou queimar um libelo acusatório anti-romano para favorecer o diálogo. Mas Miguel Cerulário se mostrou intransigente; chegou a proibir os Ocidentais de celebrar Missa em Constantinopla. A vista disto, os legados romanos reagiram com o recurso extremo: aos 16/07/1054, em presença do clero e do povo depositaram sobre o altar-mor da basílica de Santa Sofia em Constantinopla uma Bula de excomunhão contra Cerulário e seus seguidores; despediram-se do Imperador e tomaram o caminho de volta para Roma. – Os legados papais julgavam que, diante deste gesto, o Patriarca retrocederia. Em vão, porém. Miguel Cerulário excitou tumulto em Constantinopla contra o Imperador acusado de cumplicidade com os romanos; Constantino IX reagiu violentamente. Num Sínodo o Patriarca pronunciou o anátema sobre o Papa e seus legados e promulgou um manifesto que convidava os demais bispos do Oriente a se associarem. Na verdade, o proceder de Cerulário foi em breve imitado pelos outros bispos orientais e pelos povos evangelizados por Bizâncio (servos, búlgaros, romenos, russos), acarretando a grande divisão que até hoje perdura apesar das tentativas de reatamento que se deram nos séculos XIII e XV. Quanto a Cerulário, levou sua paixão ao ponto de reivindicar para si as, insígnias imperiais; por isto em 1057 foi exilado pelo Imperador Isaac I e morreu no desterro em 1059. Em nossos dias verifica-se que a cisão não se fundamenta apenas em motivos teológicos, mas também em razões de rivalidade cultural e política acobertadas por pretextos religiosos. A profissão do Filioque decorre de um estudo mais preciso do dogma trinitário, plenamente consentâneo com as verdades da fé; não é necessário que os orientais o introduzam no seu canto litúrgico. A excomunhão mútua de Roma a Constantinopla foi cancelada após o Concílio do Vaticano II e o caminho está aberto para bom entendimento entre orientais a latinos. Aqueles têm o título de ortodoxos, porque ficaram fiéis à reta doutrina durante as controvérsias cristológicas dos séculos V-VII. A Santa Igreja, representada pelo sucessor de Pedro em Roma e pelos fiéis que estão em comunhão com ele, continua a ser, mesmo após a separação de Bizâncio, a depositaria junto à qual os homens encontram incontaminados os meios necessários à sua santificação.

 

154º - Vitor II - 1055 – 1057

               Vítor II (Gebhard de Hischberg) foi Papa entre 13 de Abril de 1055 e 28 de Julho de 1057. Era Bispo de Eichstädt. Após a morte de Leão IX, o Cardeal-Subdiácono Hildebrando (futuro Papa Gregório VII), encabeçou uma delegação junto do Imperador Henrique III, para que este nomeasse rapidamente um sucessor. Gebhard era o candidato do Imperador, mas rejeitou um primeiro convite e só aceitou o Pontificado quando o Imperador lhe garantiu a restituição de todos os bens que haviam sido tomados da Santa Sé. Foi consagrado a 13 de abril de 1055 com o nome de Vitor II. Foi um digno sucessor do Papa Leão IX na luta conta a simonia e o concubinato clerical. Mas como tinha o apoio firme do imperador, conseguiu sucesso onde Leão tinha falhado. A 3 de junho de 1055, realizou-se em Florença, com a presença do Imperador e de 120 Bispos, um sínodo onde os decretos contra a simonia e a incontinência foram confirmados e vários Bispos suspeitos foram depostos. Antes do Imperador regressar à Alemanha, transferiu para o Papa os ducados de Espoleto e Camerino. No início de 1056 Vitor II enviou Hildebrando de volta a França para retomar o seu trabalho contra a simonia e o concubinato, que tinha iniciado com Leão IX. Acompanhou Henrique III a Botfeld, onde o imperador faleceu a 5 de outubro de 1056. Antes de morrer o Imperador tinha-se confiado o seu sucessor, de seis anos, Henrique IV, e entregue ao Papa a regência do reino. A 28 de outubro, depois do funeral do Imperador, Vitor II garantiu a sucessão imperial a Henrique IV, entronizando-o solenemente em Aachen. Deixando a regência da Alemanha nas mãos de Agnes, mãe de Henrique IV, Vitor voltou a Roma em fevereiro de 1057. Acaba por morrer em Arezzo a 28 de Julho. Os seus restos mortais seguiram para a Catedral de Eichstätt, mas pelo caminho foram roubados por cidadãos de Ravena e enterrados na igreja de Santa Rotonda, onde se encontra sepultado Teodorico, o Grande. No ano em que morreu convocou o sínodo de Latrão, que foi depois transferido para a Toscânia. Morreu em Arezzo, vítima de malária. Foi o último Papa alemão até a eleição de Bento XVI em 2005.

 

155º - Estevão IX; X - 1057 - 1058

               Papa Estêvão IX (Frederico de Lorena) foi um monge beneditino, eleito Pontífice no dia 2 de Agosto de 1057 e faleceu no dia 29 de Março de 1058. O futuro Papa Estêvão IX era filho do duque Godofredo III da Baixa Lorena. Tornou-se bibliotecário da Santa Sé ao ser nomeado pelo seu primo, o Papa Leão IX, cerca de 1051. Acompanhou Leão IX nas suas viagens apostólicas pela Europa e fez parte da embaixada enviada em 1054 a Constantinopla, que deflagrou a separação das Igrejas oriental e ocidental. No seu regresso, foi obrigado a tornar-se monge em Monte Cassino para escapar do Imperador Henrique III (o seu irmão rebelara-se contra o Imperador). O Papa Vitor II fez dele abade e Cardeal-presbítero. Como Papa continuou a reforma iniciada por Leão IX. Promoveu a Cardeais dois ativos membros dessa reforma, Pedro Damião e o monge Humberto, que participara com ele na viagem a Constantinopla. Quanto a Hildebrando (futuro Papa Gregório VII), enviou-o primeiro a Milão, para moralizar o clero local e depois à Alemanha, para induzir a regente: Imperatriz-mãe Agnes, a aceitar a sua eleição, da qual não tinha participado. Tinha combinado com Hildebrando a ida deste a França, começado negociações com a Igreja grega e tentava deter a invasão dos normandos, quando adoeceu gravemente. Antes de morrer, pediu aos Cardeais que não elegessem o seu sucessor antes do retorno de Hildebrando. Foi sepultado na igreja de Santa Reparata em Florença.

 

156º - Nicolau II - 1059 - 1061

               Papa Nicolau II nascido Geraldo de Borgonha (França, 1010 — Roma, 27 de Julho de 1061) foi Papa de 24 de janeiro de 1059 até à data da sua morte. Proibiu a concessão de cargos eclesiásticos através de simonia. Em 1046 era Bispo de Florença. Logo que a notícia da morte do Papa Estêvão IX, em Florença, chegou a Roma (4 de abril de 1058), imediatamente o partido Tusculano nomeou um sucessor na pessoa de João Minicius, Bispo de Velletri, com o nome de antipapa Bento X. A sua eleição, além de contrária aos desejos de Estêvão IX, que pretendia que a escolha do seu sucessor devia esperar pelo retorno de Hildebrando (futuro Papa Gregório VII), estava marcada pela violência e pela corrupção. Vários Cardeais protestaram e foram obrigados a fugir de Roma. Hildebrando, que voltava da sua missão, ao saber destes acontecimentos, interrompeu a sua viagem em Florência e, depois de acordar com o Duque Godofredo de Lorena-Toscânia a elevação do Bispo Gerard (Nicolau II) ao papado, conseguiu apoio em parte da população romana para o seu candidato. Uma embaixada enviada à corte da imperatriz Inês da Aquitânia, conseguiu também o apoio desta. A convite de Hildebrando, os Cardeais reuniram-se em Siena em dezembro de 1058 e elegeram Gerard como Papa Nicolau II. A caminho de Roma, o Papa realizou um sínodo em Sutri, onde pronunciou a deposição de Bento X. Este acabou expulso de Roma, em janeiro de 1059 e a consagração de Nicolau II teve lugar a 24 de janeiro desse mesmo ano. Era um homem culto, duro e com conselheiros capazes, mas tinha sobre ele a ameaça de Bento X e dos seus apoiantes. Nicolau deu poderes a Hildebrando para estabelecer negociações com os normandos, que ocupavam o sul de Itália. O enviado Papal reconheceu Ricardo de Aversa como Príncipe de Cápua e, em troca, recebeu tropas normandas que permitiram ao papado fazer frente às hostilidades de Bento na Campânia. Esta investida não foi decisiva para derrotar a oposição, mas permitiu a Nicolau realizar, no início de 1059, uma visita pastoral a Espoleto, Farfa e Osimo. Durante esta viagem ele elevou o abade Demétrio de Monte Cassino à categoria de Cardeal e designou-o ao legado Papal na Campânia, Benevento, Apúlia e Calábria. Logo no início do seu pontificado Nicolau II tinha enviado Pedro Damião e o Bispo Anselmo de Lucca como seus legados a Milão, onde o clero, deu origem a uma reforma conhecida como Pataria. Um sínodo presidido por estes mensageiros do Papa, apesar de uma revolta que colocou as suas vidas em perigo, conseguiu do Arcebispo Guido e do clero de Milão um solene repúdio da simonia e concubinato. Uma das necessidades mais prementes na época era a reforma das eleições Papais. Tinham que ser libertadas da influência nefasta das facções romanas e do controle secular do Imperador. Para esse fim, Nicolau II realizou, na Páscoa de 1059, um sínodo em Latrão, com a participação de cento e treze Bispos. Resumidamente: com a morte de um Papa, os Cardeais-Bispos devem escolher entre si um candidato e, depois de terem concordado com um nome, eles e os outros Cardeais devem proceder à eleição. O restante do clero e leigos têm o direito de aclamar a sua escolha. (Bula pontifícia In nomine Domini). Nos finais de Junho de 1059, Nicolau partiu para Monte Cassino e dai para Melfi, capital da Apúlia normanda, onde realizou um sínodo e concluiu a aliança com o Duque Roberto de Altavila, que foi investido com a soberania de Apúlia, Calábria e Sicília, caso a reconquistasse dos sarracenos; ele comprometeu-se, em contrapartida, em pagar um tributo anual, ser vassalo do Papa e proteger a Santa Sé. Um acordo semelhante foi feito com o Príncipe Ricardo de Cápua. Nicolau regressou a Roma com um exército normando, reconquistou algumas terras e forçou Bento X a capitular em Galeria, no Outono de 1059. Faleceu a 27 de Julho de 1061 e foi sepultado na igreja de Santa Reparata, em Florença.

 

156 . 1 - Aparição de Nossa Senhora de Walsingham à Richeldis de Faverches - Inglaterra

               O Santuário Nacional de Nossa Senhora, para os ingleses, é o Santuário de Walsingham, o ponto central da veneração de Maria Santíssima na ilha; a sua história está intimamente ligada à história da Igreja Católica na Inglaterra. O que deu origem ao título e à veneração de Nossa Senhora de Walsingham, numa visão que teve Richeldis de Faverches. A esta senhora apareceu a Mãe de Deus conduzindo-a em espírito à sua casinha de Nazaré, perto da qual lhe recomendou que tomasse medidas exatas de sua casa, para que pudesse ser edificada em Walsingham uma casa semelhante; mas só depois que a aparição se repetiu três vezes, começou Richeldis alegremente a dar cumprimento ao desejo de Nossa Senhora. O filho de Richeldis, Geoffrey de Faverches, deixou como seu substituto, antes de sua peregrinação à Terra Santa, o Capelão Edvoy, dando-lhe a incumbência de erigir um convento em suas terras, e confiar a "Santa Casa" à proteção de uma Ordem religiosa. A essa Ordem seria também conferido o padroado da igreja de Todos os Santos. Estas incumbências foram ratificadas por Richard de Clare, duque de Gloucester, sucessor de Geoffrey. Quando Richeldis tratou de começar a construção da "Santa Casa", viu certa manhã, com espanto, olhando para um prado, dois pedaços planos do terreno misteriosamente não atingidos pelo orvalho, e esses dois planos correspondiam exatamente às dimensões dos alicerces da casa de Nazaré, que Richeldis havia medido na sua visão; porém, quando ela fazia começar a  construção num daqueles lugares assinalados, o qual ficava na proximidade de duas fontes, sobrevieram singulares acontecimentos, que estorvavam ou retardavam os trabalhos iniciados. Tudo falhava, e ninguém acreditava que a capela fosse algum dia acabada. Mas Richeldis voltou-se aflita para a Mãe de Deus, pedindo-lhe auxílio e proteção para a sua obra, e eis que, na madrugada de uma noite de oração fervorosa e confiante, seu pedido é satisfeito de modo maravilhoso: Richeldis encontra o Santuário (a "Santa Casa") muito bem construído a 200 pés de distância do lugar que tinham começado a construí-lo. A este grande milagre uniram-se muitas curas maravilhosas e o livramento dos mais variados perigos e necessidades. A fama de Walsingham como lugar de graças extraordinárias espalhou-se rapidamente, e começaram a afluir peregrinos de toda a parte. Ao longo das estradas por onde passavam as peregrinações foram erigidas de espaço a espaço capelas e outros lugares de oração. Duas capelas ainda existem: uma fica em King´s Lynn e é denominada Capela de Nossa Senhora da Colina Vermelha; a outra, situada em Houghton-in-the-Dale, é dedicada a Santa Catarina de Alexandria e conhecida por "Capelinha dos chinelos", porque aí tiravam os peregrinos os sapatos, continuando o trajeto descalços. Já muito antes da extinção deste lugar de culto católico por ordem do Cromwell, no ano de 1538, já muito antes tinha começado o calvário de Walsingham, depois de ter o culto católico florescido durante três séculos naquele lugar bendito.  Mais ou menos trezentos anos depois da destruição da imagem milagrosa de Walsingham, começou o movimento de Oxford, que visava o florescimento da fé católica na Ilha, e, com esse movimento, foi pouco a pouco renascendo a veneração da SS. Virgem Maria; com este fim uniram-se os veneradores de Nossa Senhora em 1848; em 1880 nasceu a Confraria das Filhas de Maria, em 1904 a Liga de Nossa Senhora, e nos anos seguintes muitas outras organizações semelhantes. Em 1921 resolveram mandar fazer uma cópia da antiga imagem, e, como a antiga capela estava ainda como a tinham deixado depois da pilhagem, colocaram a imagem na igreja paroquial. E assim começou a aumentar a devoção a Nossa Senhora, começando também dentro em pouco as romarias a serem organizadas regularmente. Poucos anos depois foi necessário aumentar a igreja, e por isso resolveram reconstruir a "Santa Casa" segundo o modelo e o tamanho da primitiva, encerrando-a, porém, numa construção maior. A obra teve início em 1931, e em 1937 foi consagrada à igreja, que foi anexada ao antigo edifício.

 

157º - Alexandre II - 1061 - 1073

               Nascido em Milão, na Itália, em 1015, Anselmo de Baggio dedicou-se sempre à vida religiosa demonstrando habilidade para administrar as questões da Igreja. Sua competência foi reconhecida após o falecimento do Papa Nicolau II, na ocasião em que foi preciso escolher seu sucessor. Anselmo foi eleito no dia primeiro de outubro de 1061 e assumiu o nome de Alexandre II. O Papa Alexandre II era mais habilidoso que seu antecessor para lidar com as questões políticas de seu tempo. Ele apoiou a libertação das terras cristãs do domínio muçulmano. Já era um estímulo que os nobres recebiam para, no final do mesmo século, se unirem na Primeira Cruzada. Naquela ocasião, os islâmicos já haviam se expandido e ocupado territórios sagrados para os cristãos. O Papa teve influência também na Batalha de Hastings, um conflito entre tropas inglesas e normandas. Alexandre II declarou seu apoio ao duque Guilherme da Normandia contra Haroldo II da Inglaterra. No entanto, o inglês foi o vencedor do conflito. Alexandre II enfrentou um grave problema de poder quando os alemães elegeram o Bispo de Parma, Cadalo, como antipapa Honório II. O desentendimento aconteceu ainda no início do papado de Alexandre II, que não havia sido reconhecido pelos alemães. Criou-se uma tensão na qual Papa e antipapa se excomungaram e se enfrentaram em conflitos. As tropas de Honório II venceram as de Alexandre II, levando à instalação do antipapa em Roma. O Duque de Lorena interveio na situação e fez com que os dois Papas se retirassem para suas dioceses até ser dado o veredito final. Então, em 1064, o Concílio de Mântua reconheceu Alexandre II como legítimo e único Papa, o que permitiu sua estabilização no poder. Alexandre II foi um Papa reformador e apoiou o movimento contra a decadência e a corrupção eclesiástica chamado de pataria. Lutando contra a simonia, Alexandre II atacou os Bispos germânicos obrigando o Bispo de Constança a renunciar. O Papa foi obrigado a excomungar cinco de seus conselheiros também por simonia. Em geral, seu papado de 12 anos foi eficiente e mais dedicado a questões políticas do que religiosas. Faleceu no dia 12 de abril de 1073, aos 58 anos de idade.

 

158º - São Gregório VII - 1073 - 1085 

               O Papa São Gregório VII, nascido Hildebrando, (Sovana, Itália, c. 1020/1025 – Salerno, 25 de maio de 1085) foi Papa da Igreja Católica de 22 de abril de 1073 até a sua morte, tendo sido um dos mais influentes e decisivos Pontífices a se sentar no trono Papal ao longo da história. Nascido na Toscana italiana no seio de uma família de baixa condição social. Segundo o Liber Pontificalis, Gregório figurava entre os “nascidos toscanos, junto à cidadela de Rovacum, de um pai chamado Bonizo”, informação corroborada pelo biógrafo Papal. Gregório cresceu no ambiente da Igreja romana ao ser confiado a seu tio, abade do mosteiro de Santa Maria em Aventino, onde fez os votos monásticos beneditino. Em 1045 Hildebrando foi nomeado secretário do Papa Gregório VI, cargo que ocuparia até 1046 quando acompanhou esse Papa no seu desterro em Colónia depois de ser deposto num concílio, celebrado em Sutri, e acusado de simonia na sua eleição. Em 1046 morre Gregório VI, e Hildebrando ingressou como monge no mosteiro de Cluny onde adquiriu as ideias reformistas que regeram o resto da sua vida e que o fariam encabeçar a chamada Reforma Gregoriana. Até 1049 não regressou a Roma, mas é então chamado pelo Papa Leão IX para atuar como legado pontifício, o que lhe permitiu conhecer os centros de poder da Europa. Atuando como legado estava em 1056 na corte alemã, para informar da eleição como Papa de Vítor II quando este faleceu e se escolheu como seu sucessor o antipapa Bento X. Hildebrando opôs-se a esta eleição e conseguiu que se elegesse Papa Nicolau II. Em 1059 é nomeado por Nicolau II, Arquidiácono e administrador efetivo dos bens da Igreja, cargo que o levou a alcançar tal poder que se chegou a dizer que dava de comer a Nicolau "como a um asno no estábulo".

               A sua eleição é considerada fora do padrão habitual. Não era Sacerdote quando foi eleito Papa, por aclamação popular, em 22 de Abril de 1073. Sendo uma transgressão da legalidade estabelecida em 1059 pelo concílio de Melfi que decretou que na eleição Papal só podia intervir o Colégio Cardinalício, nunca o povo romano. Não obstante, obteve a consagração episcopal em 30 de junho de 1073. Muito combativo em favor dos direitos da Igreja, enfrentou o imperador Henrique IV do Sacro Império Romano, em defesa da superioridade do Poder Espiritual sobre o Poder Temporal. Ao longo do século XX, os historiadores vincularam seu nome a um vasto programa de reforma da cristandade, movimento que ficaria conhecido como reforma gregoriana. Foi monge na Abadia de Cluny, considerada a alma da Idade Média. A pedido da Condessa Matilde, perdoou Henrique IV que, entretanto, voltou a rebelar-se contra a Santa Sé. Devido ao seu carácter combativo granjeou inimigos que o exilaram. Ao morrer, fora de Roma, disse a frase que se tornaria famosa: "Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio".

               Política interna e reformas: Teve sua vida e obra conduzidas pela convicção da Igreja como obra divina e encarregada de abraçar toda a humanidade, para a qual a vontade de Deus é a lei única, e que, na faculdade de instituição divina, a Igreja coloca-se sobre todas as estruturas humanas, em particular sobre o estado secular. A superioridade da Igreja era para Gregório VII um fato indiscutível. Em 1075, Gregório VII publica o Dictatus Papae, que são 27 proposições onde expressa as suas ideias sobre o papel do Pontífice na sua relação com os poderes temporais, especialmente com os imperadores do Sacro Império. Estas ideias poderão resumir-se em três pontos principais: O Papa é senhor absoluto da Igreja, estando acima dos fiéis, dos clérigos e dos Bispos, e acima das Igrejas locais, regionais e nacionais, e acima dos concílios; O Papa é senhor único e supremo do mundo, todos lhe devem submissão em questões religiosas, incluindo os Príncipes, Reis e Imperadores. Gregório centralizava em Roma todas as querelas importantes para intermediação, coincidindo naturalmente numa diminuição do poder dos Bispos locais, o que motivou algumas lutas contra as esferas mais altas do clero. Recentemente, esta caracterização do governo gregoriano com marco da centralização política e administrativa da Igreja medieval foi colocada em xeque. Esta batalha pelos fundamentos da supremacia Papal tem o seu apogeu na obrigatoriedade do celibato do clero e no ataque à simonia. Gregório VII não introduziu o celibato mas conduziu a batalha por tal com maior energia do que os seus antecessores. Em 1074 publicou uma encíclica dispensando da obediência aos Bispos que permitiam o casamento dos Sacerdotes. No ano seguinte, sob fortes protestos e resistência, encoraja medidas contra estes, privando-os dos rendimentos. O seu pontificado decorreu até 25 de maio de 1085, dia em que morreu em Salerno, abandonado pelos romanos e pela maior parte dos seus apoiantes.

 

159º - Vitor III - 1086 - 1087 

               Papa Igreja cristã Romana, nascido em Monte Cassino, Benevento, eleito em 24 de maio de 1086 como sucessor e por desejo de São Gregório VII. Descendente de uma família de Duques lombarda, Lombardos de Benevento, desde cedo mostrou-se inclinado a seguir a careira eclesiástica, apesar dos protestos dos parentes. Após a morte do pai em uma batalha contra os normandos em 1047, ele teve de fugir de um casamento arranjado e, na eventualidade de uma segunda tentativa de forçá-lo a se casar, conseguiu permissão para entrar para o monastério de Santa Sofia, em Benevento, onde recebeu o nome de Desiderius, tornando-se monge beneditino. Depois serviu no monastério da ilha de Tremite, no Adriático e fez retiros espirituais em Majella, Abruzzi (1053). Foi nomeado por Leão IX para trabalhar em Benevento e negociar a paz com os Normandos, após a batalha fatal de Civitate. Depois serviu a Vítor II, em Florença e mudou-se para o monastério de Monte Cassino (1055) e foi nomeado Cardeal (1059). Ao assumir o Trono de São Pedro, diante dos problemas com Henrique IV e seu antipapa Clemente III, e notando que não possuía condições físicas e pessoais para exercer o cargo, retirou-se para o mosteiro de Monte Cassino, quatro dias após a eleição. Proclamado pela segunda vez, foi conduzido a Roma à força e, consagrado, excomungou o antipapa Clemente III. Exerceu o mandato de Papa de aproximadamente 1 ano e 4 meses e morreu em 16 de setembro de 1087, em Monte Cassino.

 

160º - Urbano II – 1088 - 1099  

               Papa da Igreja cristã Romana nascido em Ckâtillon-Sur-Mane, na província de Champagne, França, escolhido como sucessor de Victor III, cuja atividade eclesiástica foi caracterizada pela promoção de importantes reformas na Igreja Católica Romana, pelo planejamento e criação da Primeira Cruzada durante o sínodo de Clermont-Ferrand em 1095. De uma família nobre estudou em Reims, onde se tornou clérigo e posteriormente entrou para a Ordem Beneditina e tornou-se prior no grande mosteiro de Cluny. Requisitado à Roma pelo Papa Gregório VII, foi nomeado Cardeal Bispo de Óstia e foi delegado para a Alemanha (1084), período em que envolveu-se na intensa disputa político-religiosa entre o Papa e o Imperador Henrique IV, que chegou a eleger um antipapa, Clemente III de Ravenna. Com a morte de São Gregório VII, e do seu substituto Vítor III, foi escolhido em Terracina, Sumo Pontífice em 1088 com o nome de Urbano II. Manteve o isolamento do antipapa e seus seguidores e também do imperador Henrique IV e apoiou Conrado, o filho rebelde do Imperador, que juntamente com Matilde da Toscana e Guelfo V da casa da Baviera. Com suas tropas derrotou o antipapa e fez sua entrada triunfal na Basílica de São Pedro, o que lhe deu muito prestígio junto aos Príncipes e reis ibéricos e reconciliou-se com o rei da França, Felipe I (1095). Convocou os Bispos para um concílio (1095), invalidou as ordenações realizadas por eclesiásticos simoníacos e iniciou um trabalho para reunir as duas Igrejas, a ortodoxa e a católica, estabelecendo contatos com o Patriarcado e a corte do Imperador bizantino, Alexus I. Convocou um sínodo em Clermont (1095) e com o apoio dos nobres definiu a criação de um exército, composto de cavaleiros e homens a pé que deveria dirigir-se à Jerusalém, para salvá-la e auxiliar as igrejas da Ásia contra os muçulmanos, a Primeira Cruzada. Promulgando que as pessoas que participassem desta cruzada receberiam a indulgência plenária, tendo todos os seus pecados e suas consequências excluídas, designou Ademar, Bispo de Le Puy (1096), para organizar uma cruzada para libertação da cidade onde Cristo havia pregado e sofrido seu martírio. Os exércitos da nobreza e o povo comum procedente da França, do sul da Itália e das regiões da Lorena, Borgonha e Flandres participaram dessa Cruzada. Os cruzados se agrupariam em Constantinopla e, partindo de lá, realizariam uma campanha contra os muçulmanos da Síria e Palestina, sendo Jerusalém seu objetivo principal. Os cristãos tomaram Jerusalém em 1099 e elegeram um de seus chefes, Godofredo de Bouillon, duque da Baixa Lorena, como governante da cidade. No entanto o Papa faleceu em Roma, poucos dias após a tomada de Jerusalém em 26 de julho de 1099, sem receber a notícia da vitória dos cruzados. A maioria dos cruzados regressou à Europa, permanecendo uma pequena tropa de reserva da força original para organizar e estabelecer o governo e o controle latino sobre os territórios conquistados. Dos quatro estados que surgiram, o maior e mais poderoso foi o reino latino de Jerusalém. As conquistas da primeira Cruzada se deveram em grande parte ao isolamento e à fraqueza relativa dos muçulmanos. Contudo, a geração posterior a essa Cruzada contemplou o início da reunificação muçulmana no Oriente sob a liderança de Imad al-Din Zangi. Sob seu comando, as tropas muçulmanas empreenderam uma reação militar e obtiveram sua primeira grande vitória contra os latinos quando tomaram a cidade de Edessa (1144). Depois disso, os muçulmanos foram avançando e dominando sistematicamente os estados cruzados na região. A resposta da Igreja de Roma aos avanços muçulmanos foi proclamar a segunda Cruzada (1145) quando era Papa o Beato Eugênio III. Morreu em Roma, e foi sucedido por Pascoal II. Foi sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, perto da tumba de Adriano, e é venerado pela Igreja Católica, como beato.

 

160 . 1 - Santo Anselmo de Cantuária

               Anselmo de Cantuária, conhecido também como Anselmo de Aosta por conta de sua cidade natal e Anselmo de Bec por causa da localização de seu mosteiro, foi um monge beneditino, filósofo e prelado da Igreja que foi Arcebispo de Cantuária entre 1093 e 1109. Chamado de fundador do escolasticismo, Anselmo exerceu enorme influência sobre a teologia ocidental e é famoso principalmente por ter criado o argumento ontológico para a existência de Deus e a visão da satisfação sobre a teoria da expiação. Entrou para a Ordem de São Bento na Abadia de Bec aos vinte e sete anos e tornou-se abade em 1079. Tornou-se Arcebispo de Cantuária durante o reinado de Guilherme II da Inglaterra. Foi exilado por duas vezes, entre 1097 e 1100 e novamente entre 1105 e 1107 por Henrique I por causa da controvérsia das investiduras, o mais importante conflito entre a Igreja Católica e os estados medievais durante a Idade Média. Anselmo foi proclamado Doutor da Igreja numa bula Papal de Clemente XI em 1720. Ele é venerado como Santo e comemorado em 21 de abril. Anselmo nasceu em Aosta, parte do Reino de Arles, por volta de 1033. Sua família tinha fortes relações com a poderosa Casa de Saboia e era muito rica. Seu pai, Gundulfo, era lombardo de nascimento. Sua mãe, Ermemberga, que foi descrita como prudente e virtuosa, veio duma antiga família burgúndia. Aos quinze anos, Anselmo desejava entrar para um mosteiro, mas não conseguiu o consentimento do pai e acabou sendo recusado pelo abade. O desapontamento aparentemente provocou-lhe uma doença psicossomática. Depois de se recuperar, Anselmo desistiu de estudar e passou a viver despreocupadamente; neste período, sua mãe morreu. Aos vinte e três, Anselmo saiu de casa, cruzou os Alpes e viajou por toda a Borgonha e a França. Atraído pela fama de seu conterrâneo Lanfranco (que era o Prior da beneditina Abadia de Bec), chegou à Normandia em 1059. No ano seguinte, depois de algum tempo em Avranches, Anselmo finalmente entrou para a abadia como noviço aos vinte e sete. Ao fazê-lo, submeteu-se à "Regra de São Bento", um evento que reformularia todo o seu pensamento na década seguinte. Em 1063, Lanfranco foi nomeado abade de Caen e Anselmo foi eleito Prior em Bec, um cargo que manteve por quinze anos antes de tornar-se abade depois da morte de Herluin, o fundador da abadia, em 1078. Foi consagrado abade em 22 de fevereiro de 1079 pelo Bispo de Évreux, o que foi acelerado por que, na época, a Arquidiocese de Ruão (a quem se subordinava Bec) estava vaga. Se Anselmo tivesse que ser consagrado pelo Arcebispo de Ruão, teria sido pressionado a jurar obediência, o que comprometeria a independência de Bec. Sob o comando de Anselmo, Bec tornou-se o principal centro de ensino na Europa, atraindo estudantes de toda a França, Itália e outras regiões. Foi durante esta época que escreveu suas primeiras obras filosóficas, o "Monológio" (1076) e o "Proslógio" (1077–8). A elas se seguiram "Os Diálogos sobre a Verdade", "Livre Arbítrio" e "A Queda do Diabo". Neste período, Anselmo também lutou para manter a independência da abadia tanto dos poderes seculares quanto do Arcebispo. Posteriormente, Anselmo teve que lutar ainda contra Roberto de Beaumont, Conde (earl) de Leicester. Anselmo ocasionalmente visitava a Inglaterra para supervisionar as propriedades da abadia lá e também para visitar Lanfranco que, a partir de 1070, havia sido nomeado Arcebispo de Cantuária, de quem era considerado o sucessor natural. Com a morte dele em 1089, porém, Guilherme II da Inglaterra tomou as propriedades e as rendas da sé e não nomeou um novo Arcebispo. Em 1092, a convite de Hugo de Avranches, 1º Conde (earl) de Chester, Anselmo cruzou o Canal da Mancha. Na Inglaterra, permaneceu envolvido em assuntos da abadia por quase quatro meses e então foi proibido de voltar a Bec pelo rei. Guilherme ficou seriamente doente de forma súbita em Alveston no ano seguinte e, movido por um desejo de compensar por seus atos pecaminosos que acreditava serem a causa de sua doença, permitiu que Anselmo fosse nomeado para a sé de Cantuária em 6 de março de 1093. Nos meses seguintes, Anselmo tentou recusar o posto alegando estar velho e doente. Em 24 de agosto, apresentou a Guilherme as condições nas quais estaria pronto a aceitar o posto. Elas eram parte de uma agenda de reformas gregorianas: Guilherme deveria devolver as terras da sé que havia tomado; deveria aceitar a preeminência dos conselhos espirituais de Anselmo e deveria reconhecer Urbano II como Papa (e não Clemente III, o antipapa). As recusas de Anselmo ajudaram a melhorar sua posição na barganha enquanto os termos eram discutidos com o rei, que estava profundamente relutante em aceitar as condições impostas por ele. Guilherme cederia apenas à primeira. Alguns dias depois, Guilherme tentou voltar atrás até mesmo nisso e suspendeu a investidura de Anselmo, mas, pressionado pela população, foi obrigado a seguir adiante com a nomeação. No fim, Anselmo e Guilherme concordaram que a devolução das terras de Cantuária seria a única condição aceita. Finalmente os Bispos ingleses colocaram-lhe nas mãos o báculo e o levaram para igreja para ser investido. Anselmo em seguida prestou homenagem a Guilherme e, em 25 de setembro de 1093, recebeu de volta as terras de sua nova sé. Ele foi entronado no mesmo dia depois de receber a dispensa de suas obrigações na Normandia. Por fim, foi consagrado Arcebispo de Cantuária em 4 de dezembro. Tem se discutido sobre se a relutância de Anselmo em assumir a sé teria sido ou não sincera. Estudiosos como Southern defendem que sua preferência teria sido permanecer em Bec. Porém, a relutância em aceitar postos importantes era um costume medieval. Vaughn afirma que Anselmo não poderia ter expressado um desejo pela posição sem correr o risco de ser visto como um carreirista ambicioso. Ela afirma ainda que Anselmo percebeu a situação política e os objetivos de Guilherme e agiu no exato momento que lhe daria a melhor condição de negociar pelos interesses de sua futura sé e do movimento reformista. Por outro lado, a vida de eremita era uma das opções que Anselmo considerou antes de aceitar o conselho do Arcebispo de Ruão e entrar para o mosteiro. William Kent acreditava que não havia razão para suspeitar da sinceridade de sua resistência. Naturalmente atraído pela vida contemplativa, Anselmo não tinha atração alguma por este tipo de cargo mesmo em períodos de paz e, assim, teria ainda menos em tempos conturbados. Anselmo sabia bem o que o esperava na função. Anselmo continuou a combater por suas reformas e pelos interesses de Cantuária. Sua visão sobre a Igreja era de uma Igreja universal, com sua própria autoridade interna, capaz de conter a visão de Guilherme de controle real sobre o estado e sobre a Igreja. Por isso, tem sido descrito ora como um monge contemplativo ora como um homem politicamente engajado, determinado a defender os privilégios da sé episcopal de Cantuária. Um dos primeiros conflitos com Guilherme irrompeu já no seu primeiro mês. O rei preparava-se para combater seu irmão mais velho, Roberto II Curthose, duque da Normandia, e precisava de dinheiro. Anselmo estava entre os nobres de quem se esperava ajuda e ele ofereceu £500, mas Guilherme recusou exigindo mais. Posteriormente, um grupo de Bispos convenceu Guilherme a aceitar a quantia original e foram até Anselmo, que afirmou ter doado o dinheiro aos pobres. Neste episódio, Anselmo foi cuidadoso e conseguiu evitar tanto acusações de simonia quanto mostrar-se um líder generoso.

               As leis da igreja determinavam que os Bispos metropolitanos não poderia ser consagrados sem que antes recebessem o pálio das mãos do Papa. Anselmo, portanto, insistiu em ir à Roma para receber o seu, mas Guilherme não autorizou. O antipapa Clemente III estava lutando contra Urbano II, que havia sido reconhecido pela França e pela Normandia. Não parece que Guilherme fosse partidário de Clemente, mas claramente desejava fortalecer seus próprios interesses colocando-se na posição de decidir entre os dois rivais. Assim, quando Anselmo pediu permissão para ir ver o Papa, o rei afirmou que ninguém na Inglaterra deveria reconhecer nenhum dos dois Papas antes que ele, o rei, se decidisse. Em 25 de fevereiro de 1095, os Bispos e nobres da Inglaterra realizaram um concílio no castelo de Rockingham para discutir o tema no qual os Bispos se alinharam ao rei, com Guilherme de Saint-Calais, o Bispo de Durham, chegando ao ponto de recomendar ao rei que depusesse Anselmo. Os nobres, por outro lado, escolheram a posição de Anselmo e a conferência terminou num impasse. Logo depois, Guilherme enviou mensageiros em segredo para Roma. Eles convenceram Urbano a enviar um legado (Gualtério de Albano) até o rei levando consigo o Pálio Arcebispal e os dois imediatamente deram início às negociações secretas. Guilherme concordou em reconhecer Urbano como Papa e assegurou para si o direito de autorizar que membros do clero recebessem cartas Papais e as obedecessem; Gualtério, negociando em nome de Urbano, concedeu que Urbano não enviaria legados à Inglaterra sem que eles fossem antes convidados pelo rei. O maior desejo de Guilherme era que Anselmo fosse deposto e outro recebesse o pálio, ao que Gualtério respondeu que "...há boas razões para que se espere um bom resultado de acordo com os desejos do rei". Guilherme então reconheceu publicamente Urbano, mas Gualtério se recusou a depor Anselmo. Enfurecido, Guilherme tentou extorquir dinheiro de Anselmo em troca do pálio, também sem sucesso. Depois, tentou entregar-lhe o pálio pessoalmente, o que também não lhe foi permitido. Finalmente, o rei cedeu e Anselmo recebeu o pálio no altar de Cantuária em 10 de junho de 1095. No decorrer dos dois anos seguintes, não se conhece nenhuma disputa aberta entre Anselmo e Guilherme. Porém, o rei bloqueou todos os esforços do Arcebispo em suas reformas. A tensão finalmente explodiu em 1097, depois que Guilherme esmagou uma revolta galesa. Ele acusou Anselmo de ter lhe fornecido um número insuficiente de cavaleiros para a campanha e tentou multá-lo. Anselmo decidiu seguir para Roma para se aconselhar com o Papa, pois Guilherme se recusava a cumprir sua promessa de ajudar na reforma da igreja, mas o rei não lhe permitiu. As negociações terminaram com Guilherme declarando que se Anselmo partisse, tomaria de volta a sé de Cantuária e jamais o receberia de volta como Arcebispo. Por outro lado, se Anselmo resolvesse ficar, seria multado e teria que jurar que jamais apelaria novamente a Roma: "Anselmo recebeu a opções de se exilar ou de se submeter completamente".

Primeiro exílio

               Exilado, Anselmo partiu para Roma em outubro de 1097. Guilherme imediatamente se apoderou das receitas da sé e as manteve até morrer, embora Anselmo tenha permanecido titular da sé. Ele escolheu o exílio para defender sua visão da Igreja universal, sublinhando os pecados de Guilherme em relação a ela. Embora ele tenha de fato prestado homenagem a Guilherme, Anselmo a desqualificou frente ao seu dever para com Deus e o Papa. Ele foi recebido com grandes honras por Urbano durante o cerco de Cápua, durante o qual foi muito elogiado pelas tropas sarracenas de Rogério I da Sicília (r. 1071–1101). Num grande concílio provincial realizado em Bari em 1098, que contou com a presença de 183 Bispos, Anselmo recebeu a incumbência de defender a cláusula Filioque e o uso do pão ázimo durante a Eucaristia contra representantes da Igreja Ortodoxa. Em 1099, Urbano renovou a proibição da investidura secular do clero e do clero prestar homenagem a poderes seculares. No mesmo ano Anselmo se mudou para Lyon. A vitória de Anselmo marcou o sucesso da Igreja Católica contra os monarcas ingleses na Questão das Investiduras. Guilherme foi morto em 2 de agosto de 1100. Seu sucessor, Henrique I, convidou Anselmo de volta, escrevendo que se comprometia a ouvir os conselhos do Arcebispo. Henrique cortejava Anselmo por que precisava de seu apoio para se consolidar no trono, uma vez que o Arcebispo poderia a qualquer momento declarar seu apoio ao irmão mais velho de Henrique. Quando Anselmo retornou, Henrique exigiu que ele lhe prestasse homenagem em relação às propriedades de Cantuária e recebesse dele sua investidura em seu posto de Arcebispo. Como o papado havia recentemente proibido o clero de fazer as duas coisas, a relação de Anselmo com Henrique já começou em conflito. O rei se recusou a desistir do privilégio desfrutado por seus predecessores e propôs que o tema fosse levado ao Papa. Duas embaixadas foram enviadas ao Papa Pascoal II sobre a legitimidade da investidura de Henrique; ambas receberam a confirmação da ordem Papal anterior. Neste ínterim, Anselmo ajudou Henrique, que estava ameaçado pela invasão de seu irmão, Roberto Curthose, e Anselmo publicamente apoiou-o, convencendo os barões ainda indecisos e ameaçando Curthose com a excomunhão. Na festa de São Miguel de 1102, Anselmo realizou um concílio em Londres no qual ele proibiu o casamento e o concubinato aos membros das ordens sagradas (além de condenar a simonia e reformando os regulamentos de sobriedade e vestuário do clero). Ele estava entre os primeiros a opinar publicamente contra o tráfico de escravos em 1102, num concílio na igreja de São Pedro em Westminster, e conseguiu aprovar uma resolução contra a prática de vender homens como gado. Por outro lado, Henrique concedeu a Anselmo autoridade sobre toda a Igreja na Inglaterra e concordou em obedecer o Papa. Porém, como Pascoal havia reafirmado as regras sobre a investidura e as homenagens seculares, Henrique se voltou novamente contra Anselmo. Em 1103, o próprio Arcebispo e um enviado real, Guilherme Warelwast, partiram novamente para Roma. Furioso, Pascoal excomungou os Bispos investidos por Henrique.

Segundo exílio

               Anselmo se refugiou em Lyon depois disso e aguardou os próximos passos de Pascoal. Em 26 de março de 1105, o Papa excomungou o principal conselheiro de Henrique, Roberto de Meulan, por ter convencido Henrique a continuar com as investiduras seculares, os prelados investidos por Henrique e outros conselheiros, ameaçando o próprio rei com o mesmo destino. Em abril, Anselmo ameaçou excomungá-lo pessoalmente, provavelmente para forçar a mão de Henrique nas negociações. Como resposta, o rei arranjou um encontro com Anselmo e eles conseguiram chegar numa solução de compromisso em Laigle em 22 de julho de 1105. Parte do acordo era que as excomunhões de Roberto e de seus associados fossem revogadas (dado que eles agora aconselharam o rei a obedecer o Papa); Anselmo fê-lo por sua própria autoridade, um ato que depois teve que explicar a Pascoal. Outras condições do acordo foram que Henrique deveria abandonar a investidura secular se Anselmo obtivesse de Pascoal permissão para que clérigos prestassem homenagem aos seus nobres; que as receitas da sé de Cantuária fossem devolvidas a Anselmo; e que os Sacerdotes fossem proibidos de casar. Anselmo então insistiu em ter o acordo de Laigle sancionado por Pascoal antes de aceitar voltar para a Inglaterra. Por carta, Anselmo também pediu ao Papa que aceitasse o compromisso de prestar homenagem ao rei, pois seria um pequeno preço a pagar por uma vitória maior, o fim do conflito sobre as investiduras seculares. Em 23 de março de 1106, Pascoal escreveu a Anselmo aceitando a solução, embora ambos vissem o acordo como um compromisso temporário e pretendiam continuar pressionando pelas reformas gregorianas, incluindo o fim das homenagens.

               Mesmo depois disso, Anselmo continuou se recusando a voltar para a Inglaterra. Henrique viajou para Bec e encontrou-se com ele em 15 de agosto de 1106. Lá, o rei fez mais algumas concessões, restaurando a Anselmo todas as igrejas que havia tomado. Ele prometeu ainda que nada mais seria tomado das igrejas, que prelados que haviam pago seu controverso imposto (que havia começado como um imposto sobre clérigos casados) seriam isentados de impostos por três anos e, finalmente, que tudo o que havia sido levado de Cantuária durante o exílio de Anselmo seria devolvido. Anselmo finalmente aceitou voltar depois de reforçar ainda mais a posição da igreja frente à do rei. Já em 1107, a longa disputa sobre as investiduras estava finalmente resolvida. A Concordata de Londres anunciou os compromissos de Anselmo e Henrique em Bec. Os dois anos finais da vida de Anselmo foram tranquilos e dedicados às suas funções em Cantuária. Como Arcebispo, viveu à altura de seus ideais monásticos, que incluíam zelo, prudência e instrução adequada ao seu rebanho, além de oração e contemplação. Anselmo morreu na Quarta-Feira Santa, 21 de abril de 1109, em Cantuária, e foi enterrado na Catedral de Cantuária.

Visão do Inferno

               Jazem nas trevas exteriores. Pois, lembrai-vos, o fogo do inferno não emite nenhuma luz. Assim como, ao comando de Deus, o fogo da fornalha babilônica perdeu o seu calor mas não perdeu a sua luz, assim, ao comando de Deus, o fogo no inferno, conquanto retenha a intensidade do seu calor, arde eternamente nas trevas.

               É uma tempestade que nunca mais acaba de trevas, de negras chamas e de negra fumaça de enxofre a arder, por entre as quais os corpos estão amontoados uns sobre os outros sem uma nesga de ar. De todas as pragas com que a terra dos faraós foi flagelada, uma praga só, a da treva, foi chamada de horrível. Qual o nome, então, que devemos dar às trevas do inferno, que hão de durar não por três dias apenas, mas por toda a eternidade?

               O horror desta estreita e negra prisão é aumentado por seu tremendo cheiro ativo. Toda a imundície do mundo, todos os monturos e escórias do mundo, nos é dito, correrão para lá como para um vasto e fumegante esgoto quando a terrível conflagração do último dia houver purgado o mundo. O enxofre, também, que arde lá em tão prodigiosa quantidade, enche todo o inferno com o seu intolerável fedor; e os corpos dos danados, eles próprios, exalam um cheiro tão pestilento que, como diz São Boa-ventura, só um deles bastaria para infeccionar todo o mundo.

               O próprio ar deste mundo, esse elemento puro, torna-se fétido e irrespirável quando fica fechado longo tempo. Considerai, então, qual deva ser o fétido do ar do inferno. Imaginai um cadáver fétido e pútrido que tenha jazido a decompor-se e a apodrecer na sepultura, uma matéria gosmenta de corrupção líquida. Imaginai tal cadáver preso das chamas, devorado pelo fogo do enxofre a arder e a emitir densos e horrendos fumos de nauseante decomposição repugnante. E a seguir imaginai esse fedor malsão multiplicado um milhão e mais outro milhão de milhões sobre milhões de carcaças fétidas comprimidas juntas na treva fumarenta, uma enorme fogueira de podridão humana. Imaginai tudo isso e tereis uma certa idéia do horror do cheiro do inferno.

               Mas tal fedentina não é, horrível pensamento é este, o maior tormento físico ao qual os danados estão sujeitos. O tormento do fogo é o maior tormento ao qual o demo tem sempre sujeitado suas criaturas. Colocai o vosso dedo por um momento na chama duma vela e sentireis a dor do fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha de vida e para ajudá-lo nas artes úteis, ao passo que o fogo do inferno é duma outra qualidade e foi criado por Deus para torturar e punir o pecador sem arrependimento.

               O nosso fogo terrestre, outrossim, se consome mais ou menos rapidamente, conforme o objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade humana ter-se sempre entregado a inventar preparações químicas para garantir ou frustrar a sua ação. Mas o sulfuroso breu que arde no inferno é uma substância que foi especialmente designada para arder para sempre e ininterruptamente com indizível fúria. Além disso, o nosso fogo terrestre destrói ao mesmo tempo que arde, de maneira que quanto mais intenso ele for mais curta será a sua duração; já o fogo do inferno tem esta propriedade de preservar aquilo que ele queima e, embora se enfureça com incrível ferocidade, ele se enfurece para sempre.

               O nosso fogo terrestre, ainda, não importa que intensidade ou tamanho possa ter, é sempre duma extensão limitada; mas o lago de fogo do inferno é ilimitado, não tem praias nem fundo. E está documentado que o próprio demônio, ao lhe ser feita a pergunta por um soldado, foi obrigado a confessar que se uma montanha inteira fosse jogada dentro do oceano ardente do inferno seria queimada num instante como um pedaço de cera. E esse terrível fogo não aflige os danados somente por fora, pois cada alma perdida se transforma num inferno dentro de si mesma, o fogo sem limites se enraivecendo mesmo em sua essência. Oh! Quão terrível é a sorte desses desgraçados seres! O sangue ferve e referve nas veias; os cérebros ficam fervendo nos crânios; o coração no peito flamejando e ardendo; os intestinos, uma massa vermelha e quente de polpa a arder; os olhos, coisa tão tenra, flamejando como bolas fundidas.

               Ainda assim, quanto vos falei da força, da qualidade e da ilimitação desse fogo é como se fosse nada quando comparado com a sua intensidade, uma intensidade que é justamente tida como sendo o instrumento escolhido pelo desígnio divino para punição da alma assim como do corpo igualmente. Trata-se dum fogo que procede diretamente da ira de Deus, trabalhando não por sua própria atividade, mas como um instrumento da vingança divina. Assim como as águas do batismo limpam tanto a alma como o corpo, assim o fogo da punição tortura o espírito junto com a carne.

               Todos os sentidos da carne são torturados; e todas as faculdades da alma outro tanto: os olhos com impenetráveis trevas; o nariz com fétidos nauseantes; os ouvidos com berros, uivos e execrações; o paladar com matéria sórdida, corrupção leprosa, sujeiras sufocantes inomináveis; o tato com aguilhões e chuços em brasa e cruéis línguas de chamas. E através dos vários tormentos dos sentidos a alma imortal é torturada eternamente, na sua essência mesma, no meio de léguas e léguas de ardentes fogos acesos nos abismos pela majestade ofendida de Deus Onipotente e soprados numa perene e sempre crescente fúria pelo sopro da raiva da Divindade.

               Considerai, finalmente, que o tormento dessa prisão infernal é acrescido pela companhia dos condenados mesmos. A má companhia, sobre a terra, é tão nociva que as plantas, como que por instinto, apartam-se da companhia seja do que for que lhes seja mortal ou funesto. No inferno, todas as leis estão trocadas lá não há nenhum pensamento de família, de pátria, de laços, de relações. O danado goela e grita um com o outro, sua tortura e raiva se intensificando pela presença dos seres torturados e se enfurecendo como ele.

               Todo o senso de humanidade é esquecido. Os lamentos dos pecadores a sofrerem enchem os mais recuados cantos do vasto abismo. As bocas dos danados estão cheias de blasfêmias contra Deus e de ódio por seus companheiros de suplício e de maldições, contra as almas que foram seus companheiros no pecado. Era costume, nos antigos tempos, punir o parricida, o homem que havia erguido sua mão assassina contra o pai, arremessando nas profundezas do mar num saco dentro do qual também eram colocados um galo, um burro e uma serpente.

               A intenção desses legisladores, que inventaram tal lei, a qual parece cruel nos nossos tempos, era punir o criminoso pela companhia de animais malignos e abomináveis. Mas que é a fúria dessas bestas estúpidas comparada com a fúria da execração que rompe dos lábios tostados e das gargantas inflamadas dos danados no inferno, quando eles contemplam em seus companheiros em miséria aqueles mesmos que os ajudaram e incitaram no pecado, aqueles cujas palavras semearam as primeiras sementes do mal em pensamento e em ação em seus espíritos, aqueles cujas sugestões insensatas os conduziram ao pecado, aqueles cujos olhos os tentaram e os desviaram do caminho da virtude? Voltam-se contra tais cúmplices e os xingam e amaldiçoam. Não terão, todavia, socorro nem ajuda; agora é tarde demais para o arrependimento.

               Por último de tudo, considerai o tremendo tormento daquelas almas condenadas, as que tentaram e as que foram tentadas, agora juntas, e ainda por cima, na companhia dos demônios. Esses demônios afligirão os danados de duas maneiras: com a sua presença e com as suas admoestações. Não podemos ter uma ideia de quão terríveis são esses demônios. Santa Catarina de Siena uma vez viu um demônio e escreveu que preferia caminhar até o fim de sua vida por um caminho de carvões em brasa a ter que olhar de novo um único instante para tão horroroso monstro.

               Tais demônios, que outrora foram formosos anjos, tornaram-se tão repelentes e feios quanto antes tinham de lindos. Escarnecem e riem das almas perdidas que arrastaram para a ruína. É com eles que são feitas, no inferno, as vozes da consciência. Por que pecaste? Por que deste ouvido às tentações dos amigos? Por que abandonaste tuas práticas piedosas e tuas boas ações? Por que não evitaste as ocasiões de pecado? Por que não deixaste aquele mau companheiro? Por que não desististe daquele mau hábito, aquele hábito impuro? Por que não ouviste os conselhos do teu confessor? Por que, mesmo depois de haveres tombado a primeira, ou a segunda, ou a terceira, ou a quarta ou a centésima vez, não te arrependeste dos teus maus passos e não voltaste para Deus, que esperava apenas pelo teu arrependimento para te absolver dos teus pecados? Agora o tempo para o arrependimento se foi. Tempo existe, tempo existiu, mas tempo não existirá mais!

               Tempo houve para pecar às escondidas, para se satisfazer na preguiça e no orgulho, para ambicionar o ilícito, para ceder às instigações da tua baixa natureza, para viver como as bestas do campo, ou antes, pior do que as bestas do campo, porque elas, ao menos, não são senão brutos e não possuem uma razão que as guie; tempo houve, mas tempo não haverá mais. Deus te falou por intermédio de tantas vozes, mas não quiseste ouvir. Não quiseste esmagar esse orgulho e esse ódio do teu coração, não quiseste devolver aquelas ações mal adquiridas, não quiseste obedecer aos preceitos da tua Santa Igreja nem cumprir teus deveres religiosos, não quiseste abandonar aqueles péssimos companheiros, não quiseste evitar aquelas perigosas tentações. Tal é a linguagem desses demoníacos atormentadores, palavras de sarcasmo e de reprovação, de ódio e de aversão. De aversão, sim! Pois mesmo eles, os demônios propriamente, quando pecaram, pecaram por meio dum pecado que era compatível com tão angélicas naturezas: foi uma rebelião do intelecto; e eles, estes mesmos, têm que se afastar, revoltados e com nojo de terem de contemplar aqueles pecados indizíveis com os quais o homem degradado ultraja e profana o templo do Espírito Santo, e se ultraja e avilta a si mesmo.

 

161º - Pascoal II - 1099 - 1118

               Papa da Igreja cristã Romana, nascido em Bieda, Ravena, eleito em 14 de agosto de 1099 como sucessor de Urbano II. Com um Pontificado de dezoito anos foi uma das fases mais violentas da luta pelas investiduras. Monge cisterciense, foi nomeado Cardeal em 1080 por Gregório VII. Consagrado no trono, sua ação contra o rei da Alemanha, Henrique V, e contra os antipapas nomeados por este, foi quase sem tréguas, embora não tenha conseguido obter resultados decisivos. Henrique V era filho do imperador Henrique IV a quem destituiu e tornou-se o Imperador, e acirrou a disputa com o Papa para se afirmarem como poder maior no mundo ocidental. O Papa convenceu dois antipapas a submissão e os enviou a um mosteiro para se penitenciarem, enquanto que o terceiro desapareceu por falta de seguidores. Conseguiu que o Imperador Henrique V fosse a Roma (1110) para ser coroado pelo Papa, após abdicar do direito de investidura. Com o rei da França, Luís, o Gordo, e com o rei da Inglaterra, Henrique I, mesmo depois de algumas divergências, ele conseguiu por fim regulamentar a espinhosa questão das investiduras. Realizou, embora sem êxito, negociações com o Imperador do Oriente, Aleixo Comneno, para uma reaproximação das Igrejas grega e romana. Construiu a igreja de Santa Maria do Povo, em Roma, e instituiu a ordem dos Cavaleiros Templários. Lutou contra as investiduras e animou as cruzadas, enquanto prelados e nobres dificultaram seu trabalho de reforma. O Papa de número 161, morreu em meio a protestos de Cardeais e padres que perdiam suas propriedades, exilado pelo Imperador, em 21 de janeiro de 1118, em Roma.

               Os Templários, ou Ordem do Templo, foi uma ordem religiosa e militar medieval. Fundada em 1118 por Hugo Payens e Godofredo de Saint-Omer, foi reconhecida pela Igreja Católica em 1128, no Concílio de Troyes. O objetivo da Ordem era proteger os peregrinos cristãos que partiam da Europa rumo a Jerusalém no contexto das Cruzadas. Mais tarde, ela passou a participar de batalhas e construiu uma rede de ajuda financeira aos reis europeus, senhores feudais e peregrinos.

 

162º - Gelásio II - 1118 - 1119

               Papa da Igreja cristã Romana nascido em Gaeta, monge da Ordem de São Bento, de Monte Cassino, foi eleito secretamente pelos Cardeais, num mosteiro beneditino em Roma, em 16 de março de 1118 como sucessor de Pascoal II, e teve um Pontificado breve e atormentado. Eleito foi agredido pelo rebelde Frangipane, na Basílica de São João de Latrão, pisoteado, acorrentado e arrastado até o Castelo mais próximo, onde foi encarcerado. Libertado por alguns marinheiros genoveses, refugiou-se em Gaeta e, vestido de peregrino, conseguiu regressar à Roma, onde foi carregado ao Palácio de Latrão e elevado ao Trono Pontifício, mesmo não sendo ordenado Sacerdote e Bispo. Em Roma, teve que enfrentar o tirânico e opressor imperador Henrique IV, filho indigno do sábio e moderado Henrique III. O imperador ainda possuía o direito exorbitante de escolher o Romano Pontífice e contrariado invadiu Roma, destronou o Papa legítimo, e declarou nula a sua eleição e empossou em seu posto um religioso de sua confiança, Burdino, Arcebispo da Braga, como um antipapa, com o nome de Gregório VIII. Henrique IV pretendia o direito exclusivo de nomear abades, Bispos e Papas, mas os antipapas que indicou para Roma, foram considerados como anticristos pela cristandade e só obedecia aos legítimos sucessores de Gregório VII (1073-1085), o que levou o Imperador germânico a perder sua influência com o tempo. Depois destes eventos o Papa convocou um sínodo e excomungou a ambos (1118), mas depois de muitas atribulações, teve que refugiar-se no Mosteiro de Cluny, onde permaneceu até seu falecimento, em 29 de janeiro de 1119. A Igreja Católica o festeja como Santo no dia 29 de janeiro.

 

163º - Calixto II - 1119 - 1124

               Papa da Igreja cristã Romana nascido na Borgonha, eleito para sucessão de Gelásio II, restituiu poder e prestígio à Igreja romana. Filho do Conde de Borgonha, nomeado Arcebispo de Viena, no Delfinado, durante a querela das investiduras voltou-se contra o imperador Henrique V e presidiu o Concílio de Vienne no ano de 1112, que excomungou o Imperador. Foi eleito Papa em 1119 embora não pertencesse ao colégio cardinalício. Eliminado o antipapa Gregório VIII, indicado em 1120, por Henrique V, o Papa retomou as negociações para chegar a um acordo com o Imperador. A Concordata de Worms (1122) sancionou o acordo que pôs fim à longa luta entre Império e Papado. Esse acordo consistiu de um compromisso firmado pelo Papa e o Imperador Henrique V, mediante o qual se regulamentou a questão da querela das investiduras de acordo com as doutrinas já formuladas pelo canonista Ivo de Chartres. Este separava nitidamente os dois tipos de investidura: a eclesiástica, que concedia a função espiritual ao Bispo eleito pelo clero local, com a consignação do anel e do pastoral por parte do Papa ou de um enviado deste; e a laica, feita com a espada e o cetro, em que o Imperador conferia ao Bispo os poderes de Condes, ou seja, um governo de caráter temporal com os respectivos benefícios. Convocou o I Concílio Lateranense, reconhecido como o IX ecumênico (1123), para ratificar a concordata de Worms de 1122, que pôs fim à querela das investiduras. Com a presença de cerca de 300 Bispos, a aprovação da concordata foi acompanhada pela promulgação de 25 cânones, que reiteravam deliberações canônicas anteriores ou se inspiravam na reforma gregoriana, especialmente cânones contra a simonia e a clerogamia. Também durante o concílio, em 27 de março, Conrado, Bispo de Constança, foi canonizado pelo Papa. Veio a falecer em Roma.

 

164º - Honório II - 1124 - 1130

               Papa da Igreja cristã Romana nascido em Fagnano, Ímola, eleito em 21 de dezembro de 1124 como sucessor de Calisto II, cujo Pontificado foi marcado pela consolidação da autoridade do Papa perante as Igrejas da Inglaterra, na qual os Bispos tiveram de se curvar à vontade da cúria romana, e da França, onde os conflitos entre a Coroa e o Episcopado resolveram-se com a intervenção Papal em favor do Episcopado. Descendente de uma família pobre, como eclesiástico ocupou as mais elevadas funções da hierarquia durante os Pontificados de Pascoal II e de Calisto II. Cardeal, Bispo de Óstia, signatário da concordata de Worms entre a Igreja e o Império e membro influente do nono concílio de Latrão (1123). Eleito Papa com o apoio da família Frangipane, após a morte em 1125 do Imperador Henrique V, apoiou Lotário de Suplimburgo contra Conrado de Hohenstaufen, para herdeiro do Império, obtendo a submissão de Conrado (1126) sob ameaça de excomunhão. Restabeleceu relações com quase todas as cortes europeias, para lutar contra os maometanos, porém teve muitas dificuldades para se impor no sul da Itália e em Roma, principalmente no Ducado da Puglia, onde Guilherme deixou (1127) a coroa para Rogério II, futuro rei da Sicília, contra a vontade do Pontífice. Também em Roma, os últimos meses de seu Pontificado foram extremamente conturbados pelo acirramento das lutas entre os Frangipane, seus aliados, e os Pierleoni. Acuado o Papa refugiou-se no convento de S. Gregorio al Celio, onde morreu em 13 de fevereiro de 1130. Foi durante seu pontificado que surgiram na Itália as seitas dos Guelfos, partidários do Papa, e a dos Gibelinos, partidários do Imperador.

 

165º - Inocênio II - 1130 – 1143  

               O Papa Inocêncio II, nascido Gregorio de Papareschi, foi Papa de 14 de fevereiro de 1130 até 24 de setembro de 1143. Sofreu uma forte oposição do   Anacleto II e um grande apoio de São Bernardo de Claraval. Instituiu o celibato, combateu a usura, a simonia, os falsos pontífices, e também os falsos sacramentos e as falsas penitências. Inocêncio II, no II Concílio de Latrão, em 1139, determinou: "Cânon 18 - Condenamos, ademais, aquela detestável e ignominiosa rapacidade insaciável dos prestamistas - (usurários, emprestadores) - repudiada pelas leis humanas e divinas, por meio das Escrituras no Antigo e no Novo Testamento, e separamos de todo consolo da Igreja, mandando que nenhum Arcebispo, nenhum Bispo, ou Abade de qualquer ordem, quem quer que seja na ordem ou no clero, se atreva a receber aos usurários, senão com suma cautela, antes bem, em toda a sua vida sejam estes considerados como infames, e se não se arrependem, sejam privados de sepultura eclesiástica" (Inocêncio II, II Concílio de Latrão, cânon 18, Denzinger, 365).

Inocêncio II e as profecias de São Malaquias

               O homem que se tornou são Malaquias nasceu no ano de 1094, em Armagh, na Irlanda. Seu nome de batismo era Maelmhaedhoc O'Morgan; que depois foi latinizado para Malaquias. Estava ainda em plena adolescência quando se tornou o Ábade de Armagh. Todos os que o conheciam ficavam surpreendidos pela sua devoção a Deus e pela sua forte presença. Ele era alto, grande, magro e luminoso; mas, o mais importante - ele era sábio além de seus anos. Isso estava claro. Em 1119 ele foi ordenado padre. Mas só em sua primeira viagem a Roma, aos 45 anos em 1139, que suas visões começaram. No princípio, ele ficou muito atormentado pelas imagens que via. Sua maior preocupação foi a visão da destruição da Santa Igreja. Ele rezou e se fortaleceu, sem nunca ter questionado o testamento de Deus. Lhe foi dito que não revelasse o conteúdo de suas visões abertamente. Ao invés, ele escreveu lemas curtos ou sátiras que descreviam cada Papa, até o último deles, de forma que eles serviriam como um esboço do tempo até o fim desta Era. Antes do outono de 1140, todas as suas profecias haviam sido transcritas para o papel. Malaquias confiou as visões encadernadas ao então Papa Inocêncio II. No princípio ele não levou Malaquias a sério. Foi então que o próprio Papa Inocêncio II recebeu uma visão e uma advertência dura de Deus. Dali em diante, o Papa levou fé em tudo aquilo Malaquias lhe falou. Inocêncio II trancafiou os lemas na Igreja onde lá permaneceram, não lidos, por quase 400 anos. Malaquias passou o resto de sua vida servindo a Deus, curando e alimentando os famintos. Ele recebeu visões até o fim de sua vida - predizendo, com 19 dias de antecedência, a própria morte com exatidão de data e hora. Morreu nos braços de São Bernardo, em Claraval, França. Agora que estamos no final dos tempos, sabemos que São Malaquias também acertou quanto ao último Papa legítimo da Igreja, o Papa Bento XVI, e o “Pedro o Romano”, se refere a devolução da Chave da Santa Sé para Pedro Apóstolo. O antipapa Francisco é aquele que irá trazer a Abominação para a Desolação no Lugar Santo: na Cadeira de Pedro.

               Em 29 de março de 1139, na bula "Omne datum optimum", Inocêncio estabeleceu privilégios para a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, conhecida mais popularmente como Ordem dos Cavaleiros Templários. O principal desses privilégios foi a isenção da jurisdição Episcopal, assim a Ordem tinha os seus próprios padres, os seus capelães, garantindo a assistência religiosa e o culto litúrgico, e que não dependiam dos Bispos da região em que estivessem. Em 1142, o senado romano sublevou-se contra o Pontífice. Em ato instigado por Arnaldo de Brescia, o senado toma o poder civil dos Papas, tendo como objetivo elevar a municipalidade ao status de comuna ou república, a exemplo de outras cidades do norte de Itália, desencadeando distúrbios que se estenderam por quarenta e quatro anos.

 

166º - Celestino II - 1143 - 1144  

               Papa Celestino II, nascido Guido Guelfucci, Guido Ghefucci ou Guido di Castello; 8 de março de 1144.  Foi eleito em 26 de setembro e de 1143, consagrado a 3 de outubro do mesmo ano, e morreu em 8 de março de 1144. Guido di Castello, um possível filho do nobre Niccolo di Castello, nasceu em Città di Castello, na região da Umbria, província de Perugia. Guido havia estudado com Pedro Abelardo, e se tornou um mestre distinto nas escolas. Eventualmente Guido começou sua carreira em Roma como um subdiácono e um apostolo escritor para o Papa Calixto II. Ele foi criado Cardeal-diácono de Santa Maria em Via Lata pelo Papa Honório II em 1127; como tal, ele assinou as bulas Papais emitidas entre 03 de abril de 1130 e 21 de Dezembro 1133. Era conhecido pelo apelido carinhoso de "trabalhador de Deus" e sempre que empreendia uma viagem pastoral pela província romana, os populares diziam "lá vai a águia sobrevoar seu planalto em volta de seu ninho". Parece até ter tido ótimas relações com São Bernardo de Claraval e suas ideias, pois é sabido com ajuda dele resolveu diversos desacordos internos da Igreja, mas isso não invalidou de ter sido severamente repreendido por ele, pelo abade cirterciense, de ter sido durante algum tempo discípulo e provável seguidor do teólogo Abelardo. Editou uma coleção de ordenações que mais tarde seriam úteis para classificar os Pontífices que foram seus antecessores e os seus póstumos. Pode-se dizer que se não fosse Pontífice, Celestino II deveria ter sido um excelente catalogador de biblioteca das Universidades que estavam tão na moda na época.

 

167º - Lúcio II - 1144 - 1145

               Nascido na Bolonha, Itália, no ano 1095, Gherardo de Caccianemici foi um homem dedicado à vida religiosa desde cedo. Certo de sua aptidão, tornou-se padre em sua cidade natal, de onde iniciaria uma escalada hierárquica na Igreja Católica que o levaria a posições de destaque. Os méritos de seu empenho foram reconhecidos, levando Gherardo a ser nomeado como Cardeal da Basílica de Santa Cruz de Jerusalém. Entre os membros mais importantes do alto clero, ele desenvolveria funções de destaque diretamente a serviço dos Papas. Durante os Pontificados de Honório II e de Inocêncio II, Gherardo desempenhou os cargos de tesoureiro da Igreja e de representante Papal na Alemanha. A relevância de suas funções, por si só, já demonstram o grau de influência que possuía. Não é difícil de compreender que após a morte do Papa Celestino II, Gherardo tenha sido eleito, em 12 de março de 1144, para ser o seu sucessor. O Papa Lúcio II assumiu o comando da Igreja Católica em meio a um movimento revolucionário que abalava Roma. Naquela ocasião, havia uma república estabelecida que tentava privar o Papa dos poderes temporais que havia conquistado ao longo dos séculos. Era um péssimo momento para a Igreja Católica, que, acostumada com o crescente poderio, se via em meio a contestações que procuravam limitar sua influência e atuação na sociedade. Lúcio II foi obrigado a articular da maneira que fosse possível para tentar reverter ou, ao menos, relativizar a situação. No mesmo ano em que tomou posse, o Papa se encontrou com Rogério II da Sicília para deixar claro seus deveres com a Santa Sé. No entanto, Rogério estava do lado do movimento revolucionário republicano e tentou também impor sanções ao Sumo Pontífice. Só que este não estava disposto a aceitá-las, como seria de se esperar, e manteve firme a posição de independência da Igreja. Rogério então revidou enviando seu general Roberto de Selby para forçar o Papa a aceitar suas condições. O cenário era completamente desfavorável à Igreja Católica. Os nobres de várias regiões de Roma estavam unidos em prol da diminuição dos poderes da Igreja e sua submissão aos interesses temporais. O Senado Romano já havia esvaziado o Papa de poderes durante o pontificado de Inocêncio II e, mesmo após ser dissolvido por Lúcio II, estava de volta. Por sinal, a ação do Papa serviu para incendiar mais ainda a situação. Em um momento no qual todos se viravam contra a Igreja, uma ação como essa de dissolver o Senado estimulou mais ainda a oposição insatisfeita com o poderio do clero. Ameaçado e em desespero, o Papa Lúcio II pediu o auxílio do Imperador Conrado III contra o Senado, o que também foi um fracasso, pois o Imperador se recusou. Havia ainda outro adversário político que causava desequilíbrios às tentativas do Papa. Giordano Pierleoni era irmão do Antipapa Anacleto II, cujo cisma se encerrou no papado de Inocêncio II. Giordano era influente e conseguia estimular a oposição ao Papa. Quando Lúcio II finalmente conseguiu reunir um pequeno exército para enfrentá-lo, foi derrotado novamente. Mas desta vez a derrota custaria muito caro, já que, durante os combates, o Papa Lúcio II seria ferido seriamente por uma pedrada que deixariam ferimentos graves, resultando em seu falecimento alguns dias depois. O Papa Lúcio II teve um Pontificado muito turbulento e um fim humilhante para um líder da Igreja. Incapaz de controlar a situação, ele permaneceu menos de um ano como líder cristão e faleceu no dia 15 de fevereiro de 1145, aos 50 anos de idade.

 

168º - Eugênio III - 1145 - 1153

               O Beato Eugênio III OCist, foi Papa de 15 de fevereiro de 1145 até 8 de julho de 1153. Nascido em Montemagno, próximo de Pisa, Itália, no seio de uma rica família cristã, pertencente à nobreza italiana, com o nome de Pier Bernardo Pignatelli, o futuro Papa Eugênio III foi ordenado Sacerdote na cidade de Pisa. Segundo os registos da época, era inteligente, mas reservado e muito ponderado. Em 1135, ingressou na Ordem Cisterciense. Foi designado pelo seu superior para abrir outro mosteiro da Ordem na cidade de Farfa, diocese de Viterbo, onde foi nomeado abade pelo Papa Inocêncio II. Em 1145, Bernardo Pignatelli foi eleito Papa e adotou o nome de Eugênio III. O Papa teve que enfrentar a difícil situação política na Itália, provocada por Arnaldo de Bréscia – o grande opositor do poder temporal dos Papas - que exigia a eleição de um Papa que favorecesse as suas ambições políticas, fazendo pressão junto do Colégio Cardinalício. O abade Bernardo não era Cardeal e foi eleito pelo Colégio Cardinalício, justamente para contrarrestar as exigências políticas de Arnaldo. Contudo, horas após a sua eleição, partiu de Roma para ser coroado no seu mosteiro de Farfa, em Viterbo, onde os seus Cardeais também foram residir. Mas a população romana desejava a volta do Pontífice, que pouco depois, retornou a Roma. Em 1146, Arnaldo de Bréscia exigiu do Papa a entrega da cidade de Tívoli. Não concordando, Eugênio III mudou-se para Siena e, mais tarde, foi estabelecer-se, durante três anos, na França. Tendo tomado conhecimento da queda da cidade de Edessa, a capital do Condado de Edessa, nas mãos dos turcos, em Dezembro de 1145, Eugênio III escreveu uma carta a Rei Luís VII de França, convidando-o a fazer parte de uma cruzada. Em uma grande dieta ocorrida na cidade de Espira, na Alemanha, em 1146, o Imperador Conrado III, e muitos dos seus nobres, foram convencidos pela eloquência do Papa Eugênio III a dedicar-se a uma cruzada. Defendeu a Igreja contra os invasores turcos e iniciou a construção do Palácio Pontifício. Morreu no dia 8 de julho de 1153, depois de governar a Igreja durante oito anos e cinco meses, num período histórico muito complicado e violento. O Papa Eugênio III foi beatificado em 1872 pelo Papa Pio IX.

 

168.1 – Santa Hildegarda de Bingen

               Hildegarda de Bingen (Bermersheim vor der Höhe, verão de 1098 — Mosteiro de Rupertsberg, 17 de setembro de 1179), apelidada Sibila do Reno, foi uma monja beneditina, mística, escritora (misticismo, teologia, ciência natural, poesia, dramaturgia, hagiografia, linguística, cartas), pregadora, compositora e médica informal alemã. Foi mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha. É uma Santa e doutora da Igreja Católica.

               Personalidade muito citada mas de fato pouco conhecida pelo grande público moderno, rompendo as barreiras dos preconceitos contra as mulheres que existiam em seu tempo, se tornou respeitada como uma autoridade em assuntos teológicos, louvada por seus contemporâneos em altos termos. Hoje é considerada uma das figuras mais singulares e importantes do século XII europeu, e suas conquistas têm poucos paralelos mesmo entre os homens mais ilustres e eruditos de sua geração. Seus vários e extensos escritos mostram que ela possuía uma concepção mística e integrada do universo, ainda que essa concepção não excluísse o realismo e encontrasse no mundo muitos problemas. A solução para eles, de acordo com suas ideias, devia advir de uma união cooperativa e harmoniosa entre corpo e espírito, entre natureza, vontade humana e graça divina. Mas não tentou inaugurar uma nova corrente de pensamento religioso; sempre permaneceu fiel à ortodoxia do Catolicismo, e combateu as heresias e a corrupção do clero. Quis acima de tudo desvelar para seus semelhantes os mistérios da religião, do cosmos, do homem e da natureza. Para ela o universo era a resposta para as dúvidas da humanidade, e a humanidade era a resposta para o enigma do universo. Mas, como escreveu, se a humanidade não fizesse a pergunta, o Espírito Santo não poderia respondê-la. Foi a primeira de uma longa série de mulheres influentes tanto na religião como na política, e um representante típico da aristocracia cultural beneditina. Orgulhosa de pertencer a uma elite social e espiritual, mostrou-se no entanto humilde e submissa a Deus.

               Além de mística, teóloga e pregadora, foi poetisa e compositora talentosa, deixando obra de vulto e original. Também fez muitas observações da natureza, com uma objetividade científica até então desconhecida, especialmente sobre as plantas medicinais, compilando-as em tratados onde abordou ainda vários temas ligados à medicina e ofereceu métodos de tratamento para várias doenças. Seus primeiros biógrafos a mencionaram como Santa e lhe atribuíram alguns milagres, em vida e logo após a sua morte. Abriu-se um processo de canonização, mas sua causa parou na beatificação. Entretanto, em 1584 o Papa Gregório XIII autorizou a inclusão do seu nome no Martirológio Romano como Santa. Seu dia é festejado em muitas dioceses alemãs. O Papa Bento XVI reafirmou oficialmente sua santidade e a proclamou Doutora da Igreja através de carta apostólica de 7 de outubro de 2012. Depois de um longo período de obscuridade, sua vida e obra vêm recebendo atenção crescente desde a segunda metade do século XX; seus escritos começaram a ser traduzidos para várias línguas, muitos livros e ensaios já lhe foram dedicados, e foram feitas diversas gravações com sua música.

               Hildegarda de Bingen nasceu em uma família da pequena nobreza de Bermersheim, que estava a serviço dos condes de Sponheim, e que produziu diversas personalidades religiosas e culturais, entre elas dois de seus irmãos, Hugo, mestre do coro da Catedral de Mogúncia e mentor do Bispo de Liège, e Roricus, que se tornou cônego da abadia beneditina de Tholey. O nome da família não foi transmitido com segurança à posteridade, mas é possível que fosse Von Stein, a partir de algumas indicações nos documentos primitivos. Hildegarda foi a décima filha de Hildebert e Mechtild, e por esse motivo teria sido oferecida como dízimo à Igreja, mas é possível que o fato de ela desde tenra infância experimentar visões, combinado à sua saúde precária, teriam sido os motivos principais para destiná-la à vida religiosa. Segundo a Vita Sanctae Hildegardis, a mais importante biografia antiga sobre ela, aos três anos de idade ela teve sua primeira experiência espiritual, quando viu uma luz de brilho deslumbrante que fez sua alma tremer, e nos anos seguintes essas visões se repetiram com frequência. Hildegarda relatou algumas delas para as pessoas de sua família, mas, intimidada com a reação de surpresa e desconfiança que causavam, logo cessou de mencioná-las.

               Com oito anos foi confiada aos cuidados de Jutta, filha do conde de Sponheim, e que era a mestra de um pequeno grupo de monjas enclausuradas de um eremitério anexo ao Mosteiro de Disibodenberg, que as supervisionava. Jutta introduziu Hildegarda no modo de vida dos Beneditinos e deu-lhe as primeiras letras através da leitura das Escrituras. Possivelmente também lhe ministrou elementos de música. Em sua época os mosteiros beneditinos eram uma das melhores opções para os membros da aristocracia germânica que desejavam se dedicar à religião; estavam entre os mais importantes centros de cultura da Europa medieval, e podiam prover uma educação esmerada para os filhos da nobreza. Mas parece que, no seu caso, a julgarmos por suas repetidas declarações anos mais tarde, essa educação inicial foi apenas rudimentar. Suas experiências visionárias continuavam, mas ela mesma ainda não sabia definir sua origem. Dizia que via e ouvia as coisas "em sua alma", chegava a ter sensações táteis e olfativas, e ao mesmo tempo continuava alerta para com o que se passava no mundo físico, e em plena posse de suas faculdades mentais e corpóreas, mas também disse que elas a exauriam, a ponto de deixá-la constantemente doente.

               Em 1114 fez seus votos definitivos e ingressou na Ordem, mas a reconstituição de sua vida nesse eremitério é muito difícil; não há relatos descritivos, salvo breves alusões. A partir de crônicas deixadas sobre outras comunidades semelhantes de seu tempo, é provável que seu eremitério tenha seguido em linhas gerais, mas com maior pobreza, a rotina dos monges beneditinos que o supervisionava, passando a maior parte do dia em orações ou trabalhos manuais. O contato com o mundo profano era rigorosamente vedado, e ao que tudo indica não podiam sequer sair para exercitar-se. Em todos os assuntos devem ter dependido dos monges vizinhos, mas não há como saber em que medida Hildegarda se beneficiou da rica vida cultural de que desfrutavam os integrantes masculinos da Ordem. Entretanto, mesmo em todos os outros momentos isoladas do mundo, parece garantido que as missas eram assistidas pelas monjas na igreja dos monges, pois não possuíam uma própria, e pelo menos no que diz respeito à vivência musical e ao aprendizado do latim, da retórica sacra e da doutrina católica, essa frequência deve ter sido de grande importância para a futura carreira de Hildegarda. Logo a fama de virtude de sua mestra, que veio a ser santificada, e a dela própria, começaram a atrair outras monjas, o pequeno eremitério, que inicialmente possuía apenas uma porta e uma janela, foi gradualmente ampliado e se tornou quase um mosteiro autônomo, e o rigor de sua clausura parece ter sido suavizado. É possível que tenha se envolvido então com o cuidado de doentes e gestantes e incrementado suas práticas musicais. Segundo o que disse anos depois, sua saúde melhorou, ela se sentia mais confiante e sua habilidade clarividente se desenvolveu, passando a ser capaz de prever o futuro.

               Até a ocasião da morte de Jutta, em 1136, quando foi eleita mestra das monjas de Disibodenberg, as fontes primitivas não dão dados relevantes; ela mesma afirmou em um de seus escritos que sua juventude fora de pouco interesse salvo pelas visões que tinha. Mas em 1141 teve uma visão que abriu-lhe o entendimento para o significado profundo do texto das Escrituras. Numa de suas notas autobiográficas, disse:

               "E sucedeu no 1141º ano da encarnação de Jesus Cristo, Filho de Deus, quando eu tinha quarenta e dois anos e sete meses, que os céus se abriram e uma luz ofuscante de excepcional fulgor fluiu para dentro de meu cérebro. E então ela incendiou todo o meu coração e peito como uma chama, não queimando, mas aquecendo… e subitamente entendi o significado das exposições dos livros, ou seja, dos Salmos, dos Evangelhos e dos outros livros católicos do Velho e Novo Testamentos".

               Ao mesmo tempo uma voz lhe ordenou: "Oh mulher frágil, cinza de cinza e corrupção de corrupção, proclama e escreve o que vês e ouves". Para que não restassem dúvidas, a ordem lhe foi repetida por três vezes. Mas não pôde colocar em prática de imediato o mandado divino. Imaginava-se indigna e isso a atormentava, e temendo o que os outros iriam dizer dela se aparecesse como profeta, entrou em uma crise interior, e adoeceu. Por incentivo do monge Volmar, que provavelmente deu-lhe uma educação complementar mais sólida e ajudou-a na correção do seu latim ainda precário, transcreveu alguma coisa em segredo, os primeiros esboços de seu Liber scivias Domini, mas somente em 1147, ainda hesitante, procurou Bernardo de Claraval, já famoso, em busca de orientação. Escreveu-lhe uma carta onde expunha suas dúvidas e receios, e pedia uma confirmação para seu dom, mas a resposta do celebrado religioso foi circunspecta e evasiva. Não quis assumir a responsabilidade por seus atos, mas encorajou-a a confiar no seu próprio julgamento e através dele atender ao chamado que recebera. Mas logo passou a apoiá-la mais efetivamente, persuadindo o Papa Eugênio III a ler alguns de seus escritos iniciais diante do sínodo reunido em Trier em 1147-1148. O Papa enviou uma comissão de clérigos para verificar a autenticidade do que tinha em mãos como sendo dela, e, confirmada a autoria, o Papa enviou-lhe uma carta louvando seu amor a Deus e sua reputação honrada, aprovando suas visões, o que lhe deu o impulso decisivo para assumir publicamente seu dom profético como uma missão evangelizadora e passasse a lançar ao papel resolutamente e em detalhe o que lhe era revelado. Escrevia em latim, o que de imediato excluía um público popular, e o próprio conteúdo de seus escritos também os direcionava para a elite. Torna-se surpreendente a sua produção quando se lembra que em seu tempo as mulheres em geral tinham pouquíssimo espaço na vida cultural, civil e religiosa, havia muitos preconceitos contra elas a respeito de sua moralidade e de suas capacidades físicas e intelectuais, e não tinham nenhuma autoridade. Ao mesmo tempo, ela própria se sentia pouco qualificada, alegando ter recebido uma educação pobre e que, comparada com a refinada cultura nas artes liberais que muitos monges recebiam, fazia dela, aos olhos de seus contemporâneos, uma semi-analfabeta. Mas imediatamente depois da aprovação papal, tornou-se uma celebridade em toda a Europa.

               Em 1148, obedecendo uma ordem recebida em uma visão, deixou Disibodenberg junto com outras monjas a fim de revitalizar o antigo Mosteiro de Rupertsberg, então arruinado. Era localizado numa região erma, e lá continuou seu trabalho religioso e assistencial, bem como seus escritos. A mudança encontrou resistência no clero e nos monges de Disibodenberg, e inclusive entre suas monjas, mas finalmente, em torno de 1150, o prédio estava restaurado, e o grupo, instalado. Sua primeira obra, o Liber scivias Domini (Livro do conhecimento dos caminhos do Senhor), foi concluída ali em 1151, contendo uma coleção de relatos sobre suas visões até então. Esse período inicial em Rupertsberg foi marcado por várias dificuldades, lutando por verbas para o sustento da comunidade e pela regularização de seu estatuto jurídico, e enfrentando a deserção de várias monjas, perdendo inclusive a sua assistente e discípula favorita, Richardis von Stade, que foi indicada superiora de outro mosteiro. Por outro lado, foi favorecida pelas boas relações de sua família com a nobreza local e com o alto clero. Ela mesma já era famosa e se correspondia com várias personalidades importantes, e ganhou a amizade e a proteção de Frederico II, até que as diferenças dele com o Papa fizeram essa amizade esfriar. Também desta fase datam suas primeiras composições musicais e poéticas conhecidas, bem como suas primeiras observações científicas da natureza e textos médicos. A partir de 1158 iniciou sua próxima obra importante, o Liber vitae meritorum (Livro dos méritos da vida), onde examinou os vícios e as virtudes da vida humana, mas esteve doente ao longo de quase todo o período em que o escreveu.

               A partir de 1160, sempre por força de comandos divinos que lhe impunham doenças até que ela anuísse ao chamado, o que fazia nem sempre de boa vontade ou imediatamente, por temor da rejeição das pessoas, empreendeu diversas viagens pela Alemanha e França a fim de pregar, um privilégio nunca outorgado a mulheres, indo primeiro a Mogúncia, Würzburg, Ebrach e Bamberg. Depois viajou para a Lorena, passando por Trier e Metz. No ano seguinte visitou Colônia e outras cidades, indo até o Ruhr. Em 1163 terminou o Liber vitae e imediatamente iniciou sua obra teológica mais notável, o Liber divinorum operum (Livro das obras divinas), um comentário sobre o prólogo do Evangelho de São João e sobre o livro do Gênesis, aprofundando os temas já tratados no Scivias. A escrita dessa obra sofreu várias interrupções, e só foi terminada em 1174, pouco antes de sua morte. Em 1165 suas tarefas duplicaram com a fundação de um novo mosteiro em Eibingen, para acomodar o crescente número de monjas sob seus cuidados. Visitava-o duas vezes por semana, e nesse período seus biógrafos dizem que fez suas primeiras curas milagrosas e exorcismos.

               Em torno de 1170, já idosa, uma visão ordenou que ela fizesse uma última viagem, agora para Maulbronn, Hirsau, Zwiefalten e outras cidades. De início relutou, como costumava fazer, mas então foi atacada por uma hoste de espíritos malignos que se compraziam em humilhá-la e infligir-lhe intensas dores físicas. Quando finalmente aceitou a incumbência, foi recompensada com a visão de um homem de aparência extraordinariamente formosa e de bondade amantíssima:

               "Ao vê-lo senti todo meu ser infuso de um perfume balsâmico. Então exultei com alegria imensa, e desejei permanecer na sua contemplação para sempre. E ele ordenou que os que me afligiam partissem e me deixassem em paz, dizendo: 'Vão, não quero que a atormentem mais!', e eles, partindo, gritaram: 'Ah, sempre que viemos aqui saímos confundidos!' Imediatamente, às palavras do homem, a doença que me afligia, como água empurrada pelo vento, se foi, e eu recuperei as forças".

               Suas pregações eram audaciosas e veementes, denunciando os vícios do clero e combatendo as heresias, em particular a dos cátaros, que naquela altura estavam penetrando rapidamente na Germânia, fazendo muitos seguidores. Esses périplos exigiam muito de sua saúde, e seus anos finais foram perturbados por uma série de moléstias. Algumas lhe causavam grandes sofrimentos, mas seus dotes intelectuais e espirituais pareciam crescer à medida que o corpo fraquejava. Permaneceu sempre em atividade, escrevendo, debatendo com outros religiosos e atendendo à crescente multidão de pessoas que vinham em busca de seu conselho e dos remédios que preparava. Nesse período escreveu as biografias de São Rupert e São Disibod, um comentário sobre a Regra Beneditina, e outras peças menores. Além de seus problemas de saúde e os administrativos, perdeu em 1173 seu colaborador de longa data, o monge Volmar, e custou a encontrar um substituto. Teve de apelar para o Papa Alexandre III, e após longas negociações foi-lhe enviado o monge Gottfried em fins de 1174 ou no início de 1175, que começou a servir de seu assistente e iniciou a compor uma biografia sobre Hildegarda, mas faleceu em 1176 sem terminá-la. Foi então substituído pelo monge Guibert de Gembloux, que também se dedicou a escrever sobre sua vida, e igualmente não terminou o trabalho, abordando apenas seus anos iniciais, o que foi uma lástima dado o vulto do fragmento que sobreviveu.

               No último ano de sua vida enfrentou uma outra crise, agora a do interdito que o clero de Mogúncia impôs sobre o seu mosteiro, impedindo a celebração da missa e a prática dos cânticos sacros. O motivo foi o de ela ter permitido o enterro de um nobre alegadamente excomungado no cemitério de seu mosteiro, mas segundo ela este nobre havia sido absolvido in extremis e recebido a eucaristia. A despeito de ter feito apelos às autoridades, explicando o ocorrido, o conflito só piorou e foi necessário o concurso do arcebispo de Mogúncia, que decidiu levantar o interdito em 1179. Mas todo o caso a desgastou profundamente, e depois de conseguir uma solução favorável para si, perdeu as forças e desejou ser liberta do corpo para encontrar a Cristo. Previu a iminência de sua morte e faleceu pacificamente em 17 de setembro do mesmo ano.

               No Livro das Obras Divinas, Santa Hildegarda de Bingen, a “Sibila do Reno”, interpreta a propósito do versículo 6,8 do Livro do Apocalipse:

               Ap 6:8 - “E vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro tinha por nome Morte; e o inferno o seguia. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela espada, pela fome, pela peste e com as feras da terra.”

               “Isto se interpreta assim: o cavalo descrito deste modo é o tempo em que todas as coisas conformes com a lei e cheias da justiça de Deus serão consideradas nada, como as coisas sem cor, e então os homens dirão: “Não sabemos o que fazemos e os que nos deram estas ordens, não sabiam o que diziam”. E assim, sem medo nem temor pelo julgamento de Deus, desprezarão todos os bens, persuadidos pelo diabo a fazer estas coisas.

               Mas Deus em sua cólera julgará estas obras e se vingará destruindo-as completamente, porque dará morte àqueles que não se arrependam e os condenará ao inferno. Nesse tempo, haverá por todas as partes da terra combates com a espada, os frutos da terra desaparecerão, e os homens morrerão de morte súbita ou pelas mordidas das feras.

               A antiga serpente se regozija com todos estes castigos com os quais o homem se vê castigado na alma e no corpo. Ela que perdeu a glória celeste, não quer que o homem a alcance. Na verdade, quando percebeu que o homem ouviu seu conselho, começou a planejar fazer guerra a Deus, dizendo: ‘Através do homem, levarei a cabo todos os meus propósitos.

               Pois, em seu ódio, inspirou todos os homens a se odiarem com o mesmo mau sentimento, para que se matassem uns aos outros. E disse: ‘Farei com que os homens morram, perdê-los-ei mais do que a mim mesma, que já estou perdida, porque eu estou viva, mas eles não estarão. E enviou seu sopro para que a sucessão dos filhos dos homens se extinguisse, e então os homens se tomaram de paixão por outros homens, perpetrando atos vergonhosos.

               E a serpente, sentindo gozo nisso, gritou: ‘Esta é a suprema ofensa contra quem deu o corpo ao homem, que a forma deste desapareça, por ter evitado a relação natural com as mulheres. É, pois, o diabo quem os persuade a se tornarem infiéis e sedutores, para se odiarem e se matarem, convertendo-se em bandidos e ladrões, porque o pecado da homossexualidade leva às mais vergonhosas violências e a todos os vícios.

               E quando todos estes pecados tiverem se manifestado ao mesmo tempo no povo, então a vigência da Lei de Deus será quebrada e a Igreja será perseguida como uma viúva. E os príncipes, os aristocratas e os ricos serão despojados de suas posses pelas pessoas de menor condição, e serão expulsos de cidade em cidade, sua nobreza será aniquilada e os ricos se verão reduzidos à pobreza.

               Todas estas coisas acontecerão quando a antiga serpente instilar no povo a vontade de mudar de roupas e costumes. Os homens obedecerão a ela, acrescentando aqui um detalhe, tirando outro em outro lugar, ansiosos de novidades e mudanças constantes. O antigo inimigo e todos os outros espíritos malignos, que perderam sua beleza, mas não o sopro da racionalidade, por medo de seu Criador não mostram a nenhuma criatura mortal a forma de sua perdição tal como ela é. Mas com suas sugestões infundem insídias entre todos os homens, a cada um de um modo diferente, porque em todas as criaturas acham algo de sua malícia.

               Entretanto, Deus iniciou uma grande batalha contra a sua impiedade através da razão do homem que resiste aos raciocínios diabólicos e os confunde. Esta luta durará até o fim dos tempos, quando serão confundidos em tudo e por tudo, e o homem que os tiver vencido obterá como recompensa a vida eterna.”

Santa Hildegarda assim relatou sua visão do anticristo:

               "... O filho da perdição... fará morrer quem se recusar a crer nele. Ele subjugará o universo inteiro por meios diabólicos... dará a impressão de mover-se no ar, fazer descer fogo do céu, produzir relâmpagos, trovões e granizos, nivelar montanhas, secar rios, fazer desaparecer o verde das florestas e devolvê-lo a seguir. Parecerá também, à sua vontade, de tornar os homens doentes ou sãos, de exorcizar demônios, às vezes até de ressuscitar mortos, de dar vida aos cadáveres momentaneamente... Tudo quanto vive na Terra perecerá, pois o mundo sentirá debilitar as suas forças..."

 

169º - Anastácio IV - 1153 - 1154

               Papa da Igreja cristã Romana nascido no bairro romano de Suburra, que eleito Papa, apesar da avançada idade, como sucessor de Eugênio III, em um período extremamente agitado no seio da Igreja cristã, em que o povo da Cidade Eterna, liderado por Arnaldo de Brescia, não aceitava o poder do Papa sobre a cidade. Com espírito de bondade, conseguiu a pacificação nos domínios da Igreja. Filho de um popular de nome Benedetto, pouco se sabe sobre seu nascimento e sua formação, mas começou a aparecer no cenário da Igreja de Roma quando em 1130 participou ativamente da eleição Papal e se opôs ferrenhamente contra Pietro Perloni, o antipapa Anacleto II. Tinha sido nomeado Cardeal e Bispo de Sabina (1126), durante o cisma provocado pela eleição de Inocêncio II (1130), apoiado pela facção dos Frangipanes, em oposição a Anacleto II, antipapa sustentado pelos Pierleonis, apoiou o primeiro e foi nomeado Vigário para a Itália (1130-1131), o responsável pela gestão dos interesses do Pontífice em Roma, quando Inocêncio foi para Siena e, depois, para França, temeroso da hostilidade do povo da cidade. Eleito Papa, em seu breve Pontificado mostrou-se benevolente para com o povo romano, então em agitação. Confirmou São Guilherme de Yorque, na diocese de York, apesar da oposição da poderosa Ordem de Cister, e cedeu à vontade Imperial na nomeação do Bispo de Magdeburgo, em uma atitude conciliadora em relação a Frederico Barba-Ruiva, a quem prometeu coroar em troca da proteção. Investiu na restauração do Panteão de Roma. Governou apenas um ano e meio, vindo a morrer em 3 de dezembro, em Roma.

 

170º - Adriano IV - 1154 - 1159

               Papa Adriano IV, C.R.S.A, de nome Nicolau de Breakspear ou Nicholas Breakspear; inglês, nascido perto de Saint Albans, ca. 1100 — 1 de setembro de 1159, foi Papa da Igreja Católica de 4 de dezembro de 1154 até a data da sua morte. Adriano IV foi o único inglês a ocupar a cadeira Papal. Acredita-se que Nicolau nasceu na Fazenda Breakspear na paróquia de Abbots Langley em Hertfordshire e recebeu sua educação na Abbey School, St Albans (St Albans School). O seu pai, Roberto, era Sacerdote na diocese de Bath, e se tornou monge em St. Albans. Nicolau viu recusada a sua aceitação no mesmo mosteiro, tendo-lhe sido dito que teria de amadurecer e estudar para descobrir então a sua vocação. Entendeu não ter de esperar e foi para Paris e tornou-se Cônego Agostiniano em São Rufo, perto da cidade de Arles. Foi eleito seu prior e em 1137 foi escolhido por unanimidade para ser abade. Foi um abade zelosamente reformista, o que motivou queixas contra ele, enviadas a Roma. Foi ali chamado para se explicar, ficou bem visto pelo Papa Eugênio III, que o tornou Cardeal-Bispo de Albano. De 1152 a 1154, Nicolau esteve na Escandinávia como delegado Papal, dirigindo os interesses do novo Arcebispo de Trontêmio, e realizando as diligências que permitiram o reconhecimento da Velha Upsália (mais tarde transferido para Upsália) como sede do Metropolita sueco em 1164. Como compensação pela cedência territorial, o Arcebispo dinamarquês de Lund foi designado delegado e Vigário perpétuo e atribuído o título de Primaz da Dinamarca e Suécia. No seu regresso, Nicolau foi recebido com grande honra pelo Papa Anastácio IV, e após a morte deste foi eleito Papa em 4 de Dezembro de 1154. De imediato Adriano diligenciou a reposição da autoridade Papal na cidade de Roma, dominada pelos partidários de Arnaldo de Bréscia e de sua doutrina, que preconizava a mais pura pobreza clerical. Dadas as graves consequências da agitação entre as duas facções, o Papa decidiu excomungar a cidade de Roma, o que induziu o senado a render-se e desterrar o referido Arnaldo de Bréscia. Este foi finalmente entregue por Frederico I da Germânia, o Barbarossa, quando da sua coroação como Imperador, em 1155, e finalmente morto em Roma. Adriano IV mandou o Rei Henrique II da Inglaterra invadir a Irlanda. Adriano IV governou até à sua morte, em 1 de setembro de 1159. Defendeu com todos os meios a primazia do Papado sobre o Império, desafiando o Imperador Frederico Barba Ruiva. Foi este Papa que deu autorização aos templários para se instalarem no lugar de Cera que veio a dar origem ao Castelo de Ceras e mais tarde ao Castelo de Tomar.

 

171º - Alexandre III - 1159 - 1181

               Alexandre III, nascido Rolando Bandinelli (Siena, ca. 1105 - Civita Castellana, 30 de agosto de 1181), foi Papa de 20 de setembro 1159 a 30 de agosto de 1181. Da família Cerretani Bandinelli Paparoni, nasceu em Siena, ensinou direito canônico na universidade de Bolonha, onde escreveu Summa Magistri Rolandi, comentários sobre Decretum Gratiani. Em outubro de 1150 foi ordenado Deão de S. Cosme e Damião; depois Cardeal em S. Marcos. Por esta altura escreveu as suas Sentenças com base na Introdução a Teologia de Pedro Abelardo. Alexandre III foi o primeiro de muitos advogados que se tornaram Papas. Infelizmente, sua eleição provocou um cisma de vinte anos entre os que lhe eram leais e aqueles leais aos três antipapas apoiados pelo imperador alemão, Frederico Barbarossa (ou "Barba Ruiva"). Ele é também o Papa que impôs uma penitência ao rei inglês, Henrique II, pelo assassinato de Tomás Becket em 1172, e convocou, em 1179, o Terceiro Concílio de Latrão, que decretou a necessidade da maioria de dois terços de Cardeais para a eleição Papal. Serviu como Chanceler e núncio apostólico sob o antecessor, Adriano IV, e era Cardeal-Sacerdote quando o elegeram Papa. Um pequeno número de Cardeais pró-imperiais (talvez sete) votou no Cardeal Ottaviano de Monticelli, mas a maioria (é provável que 22) apoiou o Cardeal Bandinelli. Como havia um acordo de que a eleição seria unânime, iniciou-se uma briga violenta. Armados, os partidários do Cardeal Ottaviano irromperam na reunião e arrancaram o manto Papal vermelho dos ombros de Orlando; e o novo Papa teve de procurar refúgio na fortaleza do Vaticano, ao lado da Basílica de São Pedro. Os partidários de Ottaviano conduziram-no em triunfo à Basílica de Latrão. Alexandre III foi consagrado Bispo de Roma três semanas mais tarde, em 20 de setembro, em Ninfa, a sudeste de Velletri, pelo Bispo de Ostia. Ottaviano foi consagrado como Vítor IV na abadia imperial de Farfa, a nordeste de Roma, em 4 de outubro. Em consequência disso, em fevereiro de 1160, o Imperador reuniu, em Pavia, um sínodo de cerca de de cinquenta Bispos alemães e italianos, que aprovou Vítor IV e excomungou Alexandre III. O Papa já havia excomungado Vítor IV e, em 24 de março, condenou o Imperador Frederico. Em outubro, os Bispos e os priores das ordens monásticas da maioria dos países ocidentais reuniram-se em Toulouse na presença do rei Henrique II da Inglaterra e do rei Luís VII da França (que já haviam se manifestado em favor de Alexandre, no Concílio de Beauvais, em julho), ouviram argumentos a favor dos dois pretendentes ao trono Papal, declararam seu apoio a Alexandre III e condenaram Vítor IV. Devido à oposição imperial na Itália, o Papa mudou-se para a França em abril de 1162, acabando por se instalar em Sens (juntamente com sua Cúria), de 1163 a 1165. A convite do povo, voltou a Roma em novembro de 1165, mas não pôde impedir a recoroação de Frederico e a coroação de sua mulher Beatriz I da Borgonha como Imperatriz, em 1167, pelo antipapa Pascoal III (eleito, depois da morte do antipapa Vítor IV em 1164, em cerimônia realizada por dois Cardeais cismáticos, dois Bispos alemães e o prefeito de Roma). Um terceiro antipapa, Calisto III, foi eleito em 1168 e serviu até 1178, quando se submeteu a Alexandre III. Posteriormente, Alexandre III, mudou-se para Benevento. Enquanto permaneceu ali, a posição política do Papa melhorou gradativamente. Quando a liga lombarda das cidades do norte da Itália derrotou Frederico, em Legnano, em 1176, com o apoio do Papa (o que fez com que a liga desse à nova cidade o nome Alexandria, em homenagem a ele), o Imperador dispôs-se a negociar. Em Veneza, ele e o Papa concordaram que seria suspensa a excomunhão de Frederico e este, em troca, reconheceria Alexandre como Papa. Alexandre não só impôs sansões ao rei Henrique II da Inglaterra pelo assassinato de Tomás Becket, mas também confirmou o rei de Portugal em seu trono e pronunciou um interdito contra o rei da Escócia e seu reino por interferências nas nomeações eclesiásticas. De 05 a 19 de março de 1179, Alexandre III presidiu o Terceiro Concílio de Latrão, que encerrou o cisma, de forma definitiva. O concílio também decretou a necessidade da maioria de dois terços de Cardeais para a eleição de um Papa; encorajou universidades e escolas catedrais; e permitiu o castigo dos hereges (em especial dos Cathari, ou albigenses, no sul da França). Logo depois do concílio, entretanto, a comuna popular forçou o Papa a sair de Roma e, em setembro de 1179, um quarto antipapa, Inocêncio III, foi empossado e logo derrotado. Alexandre passou os dois últimos anos em diversas partes dos Estados pontifícios e morreu em 30 de agosto de 1181, em Cività Castellana, cerca de 48 km ao norte de Roma. Seu corpo foi levado de volta a Roma para o sepultamento na Basílica de Latrão, mas os cidadãos o profanaram antes. Antipapas desta época: Vítor IV (1159-1164), Pascoal III (1164-1168), Calisto III (1168-1178), Inocêncio III (1179-1180).

 

172º - Lucio III - 1181 - 1185

               Nascido em Roma, na Itália, no ano 1100, Ubaldo Allucingoli dedicou toda a sua vida à Igreja Católica e comungou do poder e da credibilidade que a instituição religiosa possuía durante a Idade Média. Com o fim do Império Romano, a Igreja Católica ocupou a lacuna de poder deixada pelos romanos e passou a ser a grande influência do mundo ocidental, estabelecendo uma dominação cultural que caracteriza a humanidade até os dias atuais. Ou seja, ser Papa era ter muitos poderes e muitas vidas nas mãos. Com o falecimento do Papa Alexandre III, Ubaldo Allucingoli foi eleito no dia primeiro de setembro de 1181 para ser seu sucessor. Na ocasião, Ubaldo já estava com 81 anos de idade, mas ainda teria fôlego para lidar com seu tumultuado Papado, adotando o nome de Lúcio III. Havia, naquele momento, constantes tumultos em Roma e muitas acusações e manifestações supostamente heréticas. Foi Lúcio III quem criou a Inquisição Episcopal, no ano 1184, para reprimir os ditos hereges. Entretanto, os tumultos em Roma forçaram o Papa a se transferir para Verona, local de onde não voltaria mais. O Papado de Lúcio III passou por um problema diplomático com Frederico Barba-Roxa, famoso Imperador da Alemanha. A situação foi amenizada quando o Papa realizou o matrimônio de Henrique, filho de Frederico, com Constancia da Sicília. A medida unificaria o Reino da Alemanha com o Reino da Sicília. Assim, atendia a interesses e pacificava um pouco o ambiente. Mas, sem dúvida, o maior desafio de seu Papado foi combater as supostas heresias que aumentavam rapidamente. Uma das situações mais emblemáticas do Papado de Lúcio III envolveu Pedro Ubaldo, um ex-banqueiro de Lyon que vivia em oração e pobreza. Ele e seus seguidores acreditavam que a salvação dependia de uma vida em pobreza, o que os levava a doar todos os seus bens. No entanto, esta postura era condenada como herética pela Igreja Católica, que intensificou o combate aos hereges. O Papa Lúcio III promulgou uma constituição para lutar contra heresias que iria abrir caminho para o futuro tribunal da Santa Inquisição. Após quatro anos de Papado, Lúcio III faleceu no dia 25 de novembro de 1185.

 

173º - Urbano III - 1185 - 1187

               O Papa Urbano III, nascido Umberto Crivelli; Cuggiono, 1120 – Ferrara, 20 de outubro de 1187, foi eleito em 25 de Novembro de 1185. Foi elevado Papa com a promessa de pacificar a cidade de Roma. Crivelli nasceu em Cuggiono como filho de Guala Crivelli e tinha quatro irmãos: Pietro, Domenico, Pastore e Guala. Estudou em Bolonha. Em 1173, Crivelli foi feito Cardeal pelo Papa Alexandre III. Seu título original é desconhecido, mas ele optou por ser o Cardeal-Sacerdote de San Lorenzo in Lucina em 1182. Lúcio o nomeou Arcebispo de Milão em 1185. Lúcio III morreu em 25 de novembro de 1185, e neste mesmo dia o Cardeal Crivelli foi eleito. A pressa foi provavelmente devido ao medo da interferência imperial. Urbano III assumiu vigorosamente as brigas de seu antecessor com o Sacro Imperador Romano Frederico I Barbarossa, incluindo a disputa permanente sobre a disposição dos territórios da condessa Matilda da Toscana. Isso foi amargurado pela inimizade pessoal, pois no saque de Milão em 1162 o Imperador fez com que vários parentes do Papa fossem proscritos ou mutilados. Mesmo após sua elevação ao Papado, Urbano III continuou a ocupar o Arcebispado de Milão, e nesta capacidade recusou-se a coroar como rei da Itália o filho de Frederico I, Henrique, que havia se casado com Constança, herdeira do reino da Sicília. Por esse casamento/vínculo, o Papado perdeu aquele apoio normando no qual por tanto tempo contava em suas disputas com o Imperador. Urbano se esforçou para trazer a paz entre a Inglaterra e a França e, em 23 de junho de 1187, seus legados por ameaças de excomunhão impediram uma batalha campal entre os exércitos dos reis rivais perto de Châteauroux e trouxeram uma trégua de dois anos. Enquanto Henrique no sul cooperava com o Senado rebelde de Roma, seu pai Frederico bloqueou as passagens dos Alpes e cortou todas as comunicações entre o Papa, então morando em Verona, e seus adeptos alemães. Urbano III resolveu então excomungar Frederico I, mas os veroneses protestaram contra tal procedimento dentro de seus muros. Ele, portanto, retirou-se para Ferrara, mas morreu antes que pudesse dar efeito às suas intenções. Ele foi sucedido por Gregório VIII. De acordo com os cronistas Ernoul e Benedict de Peterborough, Urbano III morreu de choque e tristeza depois que Joscius, Arcebispo de Tiro trouxe-lhe a notícia da derrota cristã na Batalha de Hatim. Também é comumente afirmado que a morte de Urbano foi causada pela notícia da queda de Jerusalém, mas Guilherme de Newburgh nos assegura que o relatório do desastre de Hattin só chegou à Santa Sé depois da eleição de Gregório VIII, por isso é pouco provável que Urbano III tenha ouvido falar da rendição da Cidade Santa, que ocorreu em 2 de outubro.

 

174º - Gregório VIII - 1187

               Gregório VIII (Benevento, 1108 — Pisa, 17 de dezembro de 1187), Papa da Igreja Católica Romana, eleito em Ferrara a 21 de outubro de 1187. Nascido Alberto di Morra, em Benevento, cerca de 1110, teve um dos mais curtos pontificados da história, governando a Igreja por apenas 56 dias. Faleceu a 17 de dezembro de 1187, na cidade de Pisa, onde se encontrava à participar nos preparativos para a organização da Terceira Cruzada em reação ao desastre de Hatim e à conquista de Jerusalém pelas tropas de Saladino ocorrida a 2 de outubro daquele ano. Era monge beneditino.

 

175º - Clemente III - 1187 - 1191

               Clemente III (Roma, ca. 1130 — Roma, 1191) foi Papa da Igreja Católica Romana, eleito a 19 de dezembro de 1187. Clemente III era Paolo Scolari, Cardeal-Bispo de Palestrina, nascido em Roma cerca de 1130. Organizou a Terceira Cruzada, congregando a maior parte dos príncipes cristãos em torno do projeto de reconquista da Terra Santa. Governou a Igreja até o seu falecimento a 20 de março de 1191. Clemente III foi eleito Papa para suceder Gregório VIII, falecido dois dias antes e apenas dois meses após a eleição, numa sequência de Pontificados curtos que levaram a que entre 1181 e 1198 tivessem passado pelo Trono de Pedro cinco Papas. A escolha de Paolo Scolari para Pontífice, apenas dois dias após a morte em Pisa do seu antecessor, foi bem acolhida pelo povo de Roma. Conhecido pelo seu carácter conciliador e sendo o primeiro nascido em Roma a ocupar o Papado desde a rebelião de Arnoldo de Brescia, a sua eleição foi encarada como uma oportunidade de reconciliação e de pacificação que permitisse o retorno pacífico do Papado à cidade. Após uma breve negociação, foi assinado um tratado formal conciliando a soberania Papal com as liberdades municipais entretanto conquistadas, e em Fevereiro de 1188 o Papa entrou na cidade de Roma com o aplauso do povo, instalando-se sem oposição no Palácio Laterano. Ficou assim sanado mais um episódio da recorrente contestação ao poder temporal do Papa na cidade de Roma. Dando continuação à política dos seus imediatos antecessores, Clemente III empenhou-se na realização da Terceira Cruzada, contra o Islão na Terra Santa, organizando uma impressionante expedição congregando Príncipes, nobres e soldados de toda a cristandade. Através de uma intensa atividade diplomática, conseguiu impor uma trégua generalizada nas lutas entre os estados cristãos, criando as condições para a organização da almejada cruzada, concentrando os esforços bélicos da cristandade em torno do objectivo da reconquista do Santo Sepulcro em Jerusalém. Um feito notável da diplomacia de Clemente III, a Terceira Cruzada conseguiu congregar Filipe Augusto de França, Frederico Barba Ruiva do Sacro Império Romano-Germânico e Ricardo Coração de Leão de Inglaterra. O envolvimento de tão importantes personalidades levou a que fosse denominada a Cruzada dos Reis. Clemente III faleceu pouco antes da conquista de Acre, não assistindo aos sucessivos desastres na Palestina, a derrota da cruzada e ao desmoronar do sonho cristão da reconquista de Jerusalém. A morte de Guilherme II da Sicília sem sucessão clara veio desencadear novo conflito entre o Papado e a casa de Hohenstaufen quando Henrique VI, filho e sucessor de Barba Ruiva, reclamou o trono em nome de sua mulher Constança de Altavila. O Papa, cuja soberania ficava ameaçada com a incorporação do reino das duas Sicílias ao Sacro Império Romano Germânico, opôs-se tenazmente, no que foi apoiado pela nobreza e povo, ciosos da sua independência e temerosos da submissão à um imperador visto como estrangeiro. Com o apoio e investidura Papal, Tancredo de Lecce, filho ilegítimo do falecido rei, foi aclamado. Tal levou à invasão pelas tropas imperiais de Henrique VI. No auge desta disputa, Clemente III faleceu, sendo sucedido por Celestino III. Apesar das lutas que marcaram o seu termo, o Pontificado de Clemente III, apesar de curto, foi caracterizado por uma forte ação diplomática, que se refletiu na organização da Terceira Cruzada, e pelo fortalecimento da influência Papal sobre a cidade de Roma e sobre a igreja europeia. Devem-se a Clemente III a separação da Igreja da Escócia da sé metropolitana de York e as canonizações de Otão de Bamberga e de Estêvão de Thiers.

 

176º - Celestino III - 1191 - 1198

               Papa da Igreja cristã Romana nascido em Roma, eleito Papa em 1191, para suceder Clemente III, e que durante todo o seu Pontificado estabeleceu relações muito tensas com o Imperador germânico Henrique VI, que ele mesmo coroara. Discípulo e defensor de Abelardo no Concílio de Sens (1140), posteriormente foi eleito Cardeal e juntou-se, como legado, à corte do Imperador Frederico I Barba-Ruiva. Quando Henrique VI conquistou a Normandia e alguns territórios pertencentes à Igreja, o Papa foi pressionado pelo clero romano, mas se recusou a excomungá-lo. Essa atitude valeu-lhe a hostilidade de seus colaboradores, pois, ao contrário, teve um comportamento muito severo diante da anulação do divórcio que os Bispos haviam concedido a Filipe Augusto da França, por causa de suas convicções em relação ao casamento. Envolto em problemas internos decorrentes de suas próprias decisões, sentiu-se desconfortável no Trono de São Pedro, mas os Cardeais desaprovaram a sua tentativa de abdicar para, dessa forma, indicar um seu sucessor. Aprovou a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, cujo fim era defender os peregrinos da Terra Santa e defendeu a indissolubilidade do matrimônio. Morreu em 8 de janeiro, em Roma.

               A Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalém, conhecida apenas como Ordem Teutônica, foi uma ordem militar cruzada vinculada à Igreja Católica por votos religiosos pelo Papa Clemente III. Foi formada no ano de 1190, em São João de Acre, no Reino de Jerusalém, para auxiliar os germânicos feridos nas Cruzadas. Os seus membros usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra e tinham por norte o lema: Ajudar, defender, curar. Tiveram a sua sede em Acre, uma fortaleza construída nos tempos do Reino de Jerusalém (1099-1291), durante as Cruzadas, cujos vestígios se conservam no norte de Israel. A Ordem Teutônica, ao lado da Ordem dos Templários e da Ordem dos Hospitalários, foi uma das mais poderosas e influentes da Europa. A maioria dos seus membros pertencia à nobreza, inclusive a família real prussiana. Os soberanos e a nobreza dos estados antecessores à atual Alemanha, inclusive a família soberana do Império Alemão (1871-1918) e do Reino da Prússia (1525-1947), os Hohenzollern, eram membros da ordem.

 

177º - Inocêncio III - 1198 - 1216

               O Papa Inocêncio III, nascido Lottario dei Conti di Segni, isto é, Lotário dos Condes de Segni ou Lotário Conti (Anagni, 1160/1161 — Perúgia, 16 de julho de 1216), foi Papa da Igreja Católica de 22 de fevereiro de 1198 até a data da sua morte. Lotário nasceu na família nobre dos Condes de Segni, feudo localizado nos Estados Papais, e estudou nas mais importantes universidades de sua época: teologia na Universidade de Paris e direito na Universidade de Bolonha. Aos vinte e um anos tornou-se um Clérigo importante em Roma, e escreveu dois livros notáveis: De Miseria Condicionis Humane (“Sobre a miséria da condição humana”) e De missarum mysteriis (“Sobre o mistério da missa”). Sendo considerado jovem, forte, erudito, inteligente e hábil foi eleito Papa em 1198, com apenas trinta e sete ou trinta e oito anos de idade. O século XIII foi uma fase privilegiada da história da Igreja, marcada por cinco personagens de grande vulto: o Papa Inocêncio III (1198-1216), o rei São Luís da França (1226-70), o teólogo doutor São Tomás de Aquino (1225-1274), e dois frades: São Francisco de Assis (1181-1226) e São Domingos de Gusmão 1170-1234). O pontificado de Inocêncio III, foi o mais bem sucedido da Idade Média. Lotário de Segnei era filho de família nobre da Itália, nascido em 1161 e dotado de muito talento. Estudou em Roma e Bolonha Teologia, Filosofia e Direito. Seu tio Clemente III nomeou-o Cardeal-diácono em 1189. Afastou-se, porém, dos negócios públicos da Igreja para se dedicar à reflexão; donde resultaram diversas obras, principalmente de ascética; sobressai o seu tratado “Sobre o Sagrado Mistério do Altar”. Aos 37 anos de idade foi unanimemente eleito Papa. No dia dos funerais de seu antecessor Celestino III, foi arrancado do seu recolhimento pelos seus admiradores. Era o membro mais jovem do colégio Cardinalício. A eleição unânime e tão rápida era testemunho da confiança que nele depositavam o Clero e os fiéis. Sendo apenas diácono, e ordenado presbítero aos 21/02 e sagrado Bispo de Roma (Papa) aos 22/02. Embora a sua idade juvenil surpreendesse a muitos, Inocêncio revelou o entusiasmo, a energia e a capacidade de trabalho da juventude assim como a prudência, a sabedoria, a ciência teológica e jurídica de experimentado homem da Igreja. As circunstâncias em que assumia o governo da Igreja, eram difíceis; a disciplina interior e a ortodoxia eram abaladas pelos cátaros ou albigenses dualistas; os Imperadores germânicos ameaçavam a liberdade da Igreja e o Patrimônio de São Pedro, pois desejavam cercar Roma pelo Norte e pelo Sul (tinham um ponto de apoio na Sicília); a Terra Santa era ocupada pelos muçulmanos. Inocêncio soube lutar com justiça e dignidade, levando ao auge a obra concebida por Gregório VII em prol da liberdade da Igreja. Estava convencido de que a principal condição para a liberdade da Igreja era emancipá-la do poder imperial. Ora o Imperador Henrique VI morreu em 1198, ano da eleição do Papa; redigia um testamento que fazia grandes concessões ao Papa, a fim de obter para seu filhinho Frederico II Rogério, nascido em 1194, a coroa Imperial e o título de rei da Sicília. Logo após a morte do Imperador, Constança, a Imperatriz viúva, renunciou a muitos direitos sobre a Igreja, que Henrique e seus antecessores tinham reivindicado para si; a Imperatriz e seu filhinho se reconheciam vassalos do Papa. Ao morrer, em novembro de 1198, Constança pediu a Inocêncio que assumisse a tutela e a regência sobre seu filho Frederico até a maioridade deste; Inocêncio então seria o administrador do reino da Sicília (que pertencia aos Imperadores germânicos); por dez anos, o Papa administrou as funções assim confiadas para o bem do Príncipe, com sabedoria e desprendimento; o próprio Frederico, declarado de maioridade por Inocêncio aos 14 anos em 1208, proclamou ser o Papa seu protetor e benfeitor, embora mais tarde este monarca se revelasse pouco fiel ao Papa e às suas diretrizes. Já estes fatos asseguravam a Inocêncio uma posição temporal nunca vista anteriormente.

               Na Alemanha, por exemplo, o partido dos Staufen – com seu pretendente Filipe da Suábia – e o partido dos Guelfos – com seu candidato Oto de Braunschweig disputavam entre si o Trono Real. Solicitado para fazer a arbitragem, o Papa preferiu deixar que os interessados se entendessem entre si. Após três anos, porém, resolveu intervir dando razão a Oto, que se tornou o rei dos germanos; infelizmente, porém, este monarca não cumpriu seus propósitos de respeito à Igreja; pelo que foi excomungado em 1210. Os Príncipes alemães, então, abandonaram Oto e aclamaram Frederico II como rei; Inocêncio deixou partir para a Alemanha o seu antigo pupilo, que também não manteve promessas feitas ao Pontífice a respeito dos direitos da Igreja. Na Inglaterra, de 1199 a 1216 reinou João sem Terra, senhor ambicioso. Em 1207 recusou-se a reconhecer o novo Bispo de Cantuária, Estêvão Langton, eleito por recomendação do Papa. Já que as admoestações ficavam sem resultado, Inocêncio lançou um interdito sobre a Inglaterra (1208); o rei revidou com violência contra igrejas e clérigos; por isto foi excomungado (1209) e deposto do Trono em 1212; João, por prudência, resolveu submeter-se ao Papa; em 1213 prometeu reparar os males cometidos e reconhecer Estêvão Langton. Mais: colocou a Inglaterra e a Irlanda sob a proteção do Papa, na qualidade de feudos. Em consequência, foi absolvido da excomunhão em 1213, ao passo que o interdito só foi levantado em 1214 por causa de dificuldades na restituição dos bens usurpados. Por essa ocasião, Eclesiásticos e leigos da Inglaterra se reuniram para proclamar uma série de reivindicações, que restringiam o poder do rei na administração dos feudos e garantiam maior liberdade aos cidadãos. Tal é a famosa Magna Charta Libertatum, que constava de 63 artigos e se tornou um dos primeiros modelos de Constituições democráticas. Com a França Inocêncio teve que usar de energia, não por motivos políticos, mas para defender a moral cristã. O rei Filipe Augusto (1180-1223) tinha esposado a Princesa Ingeburga, que, depois do casamento, ele repudiou em favor da Condessa Inês de Merano (alemã) já que o rei não se rendia às admoestações Pontifícias; Inocêncio lançou o interdito sobre o reino da França (1200). Em consequência, Filipe em 1203 reassumiu Ingeburga como esposa e rainha, mas só depois que Inês morreu (em 1201) e após muito relutar contra o cumprimento de sua promessa. Com os reis Pedro II da Aragônia (Espanha) e Afonso IX de Leão (Espanha) o Papa também teve divergências por motivos matrimoniais: Pedro II queria separar-se de sua legítima esposa, Maria de Montpellier, e Afonso IX queria casar-se com uma sobrinha sua. Por fim, Pedro II acabou reconhecendo-se vassalo do Papa, como João sem Terra. Ao rei Sancho I de Portugal (1185-1211) Inocêncio infligiu a excomunhão por ter violado a liberdade da Igreja. Ainda mais: com os soberanos da Boêmia, da Bulgária, da Sérbia, da Hungria, da Albânia, da Polônia, da Suécia, da Dinamarca, o Pontífice teve relacionamento mais ou menos intenso, que visava a garantir a liberdade da Igreja, a boa disciplina do Clero e dos fiéis naqueles países; combateu os abusos tanto dos grandes como dos pequenos com igual destemor. Até o Oriente foi objeto dos cuidados de Inocêncio. A quarta cruzada foi essencialmente obra deste Papa; erigiu, com sede em Constantinopla, um Império e um Patriarcado latinos no Oriente em 1204.

               Digno fecho do Pontificado de Inocêncio III foi o Concílio do Latrão IV, reunido em três sessões aos 11, 20 e 30 de novembro de 1215. Foi o maior e mais imponente Concílio da idade Média, frequentado por mais de 1200 prelados (412 Bispos, 800 Abades e Priores grande número de representantes de Bispos e de capítulos catedrais) e por quase todos os Príncipes cristãos (Frederico II, Henrique imperador latino de Constantinopla, os reis da França, da Inglaterra, de Jerusalém, de Aragão, da Hungria). Tinha em vista tríplice finalidade: condenar as heresias (especialmente a cátara), sanar e favorecer a disciplina eclesiástica e promover nova expedição contra os turcos. Inocêncio abriu o Concílio em famosa oração, na qual parafraseava as palavras de Lc 22,15: dizia quanto desejara celebrar essa Páscoa antes de morrer, a fim de realizar um tríplice trânsito (= Páscoa): corporal ou local, do Ocidente para o Oriente (a fim de libertar Jerusalém); espiritual, do estado dos vícios ao das virtudes, ou seja, a reforma da disciplina da Igreja; eterno, da vida temporal para a vida eterna e bem-aventurada. Este Concílio baixou decretos importantes na vida da Igreja: comungar ao menos na Páscoa da Ressurreição (os medievais eram certamente muito devotos, mas, por motivo de respeito ao “tremendo mistério” da Eucaristia, pouco se aproximavam da Comunhão); confessar-se ao menos uma vez por ano; legislação precisa sobre o hábito clerical e a pobreza dos monges, sobre o rito do casamento, tido como algo muito santo. Foi o Concílio do Latrão IV que, pela primeira vez, usou o termo “transubstanciação” na linguagem oficial da Igreja, para designar teologicamente algo que desde o século I estava na crença dos cristãos: a conversão do pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor (cf. Jo 6,51-58; lcor 11,23-29; Mt 26,26-29 par.) Pouco depois do Concílio, Inocêncio III, de viagem para a Lombardia, foi colhido por febre maligna, que o vitimou em 16 de julho de 1216.

               O Pontificado de Inocêncio III representa o apogeu do Papado na Idade Média; muitas das suas manifestações não seriam entendidas em nossos dias, nem podem ser reproduzidas, mas hão de ser consideradas no contexto da respectiva época, que tendia a realizar o ideal da Cidade de Deus mediante a estreita colaboração do Papado e do Império sob a hegemonia daquele. Pela primeira vez na história, o Papa, na pessoa de Inocêncio III se denominou “Vigário de Deus” na terra. Até então os Pontífices Romanos se haviam designado “vigários de Pedro”; este último título não se encontra na coleção de Bulas de Inocêncio III. O clero espontaneamente recorria a Inocêncio para resolver problemas administrativos ou pastorais. Assim dava-se uma centralização progressiva do governo da Igreja, que na época podia acarretar inconvenientes, pois havia dificuldades de comunicação e a Cúria Romana estava ainda em fase de organização e, portanto, de trabalho lento. Perante os soberanos deste mundo, o Papa era o “representante de Cristo, ou seja, do Rei dos reis e Senhor dos senhores” (cf. Ap 19,16); mais de vinte vezes ocorre esta fórmula nos documentos do Pontífice. Daí se seguia que o poder do Império devia estar subordinado ao Sacerdócio, ao menos no foro ético ou na medida em que o comportamento do Imperador estava sujeito às normas da moralidade. A Igreja seria o “luzeiro maior”, que ilumina o dia, ao passo que o Estado seria o “luzeiro menor”, que ilumina a noite (cf. Gn 1,16). Por isto Inocêncio chegava a dizer que é o Papa quem confere e tira as coroas dos soberanos. Estas ideias não deixaram de suscitar protestos mesmo na sua época; assim os partidários de Filipe da Suábia (os Staufen) reclamavam contra a intervenção pontifícia na eleição do rei da Alemanha, afirmando a separação nítida do Sacerdócio e do Império. Inocêncio podia ignorar esses protestos, pois o século XIII acariciava, apesar de tudo, o ideal da teocracia (ou do regime de Deus). Em breve, o ambiente estaria mudado, pois, quando Bonifácio VIII (1294-1303) quis repetir as dizeres e as atitudes de Inocêncio III perante Filipe IV o Belo da França, foi desrespeitado e perseguido pelo monarca. Embora exercesse função de grande autoridade, Inocêncio III cultivou as virtudes, entre as quais a simplicidade e a pobreza pessoal: cortou gastos inúteis, dispensou a maioria dos porteiros e servidores que o cercavam, a fim de que três vezes por semana qualquer pessoa o pudesse abordar; substituiu vasos e talheres de metal por outros de vidro e madeira; refreou a avareza e a ambição dos cortesões, que procuravam gorjetas no exercício de suas funções. Foi também o amigo dos frades mendicantes, especialmente de S. Francisco de Assis, que “esposara a Dama Pobreza” e cuja Regra Inocêncio III aprovou oralmente. O vulto deste Pontífice merece a reverência dos pósteros, embora tenha sido fortemente criticado por haver sido aparentemente a antítese do “Poverello de Assis”.

 

177 . 1 - São Domingos de Gusmão

               São Domingos de Gusmão (Caleruega, Reino de Castela, 24 de Junho de 1170 — Bolonha, 6 de Agosto de 1221) foi um frade e Santo católico fundador da Ordem dos Pregadores, cujos membros são conhecidos como Frades Dominicanos. Filho de Joana de Aza e Félix de Gusmão, Domingos nasceu na zona de fronteira do Reino de Castela. Seus pais pertenciam à pequena nobreza guerreira, encarregada de assegurar as praças militares da fronteira com o sul dominado ainda pelos muçulmanos. Domingos, que teve desde cedo inclinação para a vida religiosa, vai em 1189 estudar em Palência, tornando-se membro do cabido da sua diocese natal, Osma, em 1196, após a conclusão dos estudos. Em 1203, o rei de Castela solicita ao Bispo de Osma que negocie e traga uma Princesa da Dinamarca para se tornar esposa do seu filho. Domingos, então, partiu como companheiro de viagem de seu Bispo, Diogo. Durante a viagem, Domingos ficou para sempre impressionado com o desconhecimento da doutrina cristã dos povos da Europa do norte, tornando-se-lhe evidente a necessidade de evangelizar aqueles povos, em especial os Cumanos. Em 1205, Domingos e Diogo, para conclusão do objetivo inicial, realizaram nova missão ao norte da Europa, tendo também efetuado uma peregrinação a Roma e a Cister. No sul da França, junto a Montpellier, encontraram legados do Papa que pregavam contra as heresias dos Albigenses, ou Cátaros. Esse grupo afirmava que dois princípios dividiam o Universo: o princípio bom, espiritual, e o princípio mau, material. O homem era a junção dos dois princípios, um anjo aprisionado num corpo. O dever do homem seria aproximar-se da verdade tendo como fator mediante a razão. De 1119, quando a heresia foi condenada no Concílio de Toulouse, até 1179, Roma contentou-se em enviar pregadores para a região, sem obter muito sucesso. Somente em 1209, após campanha militar de 20 anos, iniciada pela Igreja Católica, foram os cátaros quase que totalmente eliminados. Diogo e Domingos, perante a evidência das dificuldades sentidas na missão dos legados Papais, convencem-nos a adotar uma estratégia de simplicidade ao estilo apostólico e mendicante, pois que os legados, até aí, deslocavam-se com grande pompa, criados e riquezas. Os legados deixam-se convencer, despachando para casa tudo o que fosse supérfluo, na condição de que Diogo e Domingos os acompanhassem e os dirigissem na missão, que esses fizeram. O Papa Inocêncio III, descobrindo virtudes nessa nova forma de pregação, aprova-a e manda Diogo e Domingos para a “Santa pregação”. Diogo, sendo Bispo, por razão das suas responsabilidades e não podendo ficar muito mais tempo naquela região, regressou à sua diocese, falecendo pouco tempo depois. Domingos continuou na região, muitas vezes sozinho.

               Em 1206, um grupo de mulheres convertidas do catarismo por Domingos pede-lhe apoio e ele encontra uma casa para elas morarem em Prouille, dá-lhes uma regra de vida simples, de oração e reclusão, no que veio a ser a primeira comunidade religiosa dominicana de monjas de clausura. Domingos encarava essa comunidade como “ponto de apoio à Santa pregação”, pois que aquelas religiosas, por intermédio da oração, seriam o apoio dos pregadores. Em 1208, encontra-se completamente sozinho na missão de pregar pelas localidades do sul de França. Em 1210, está na região de Toulouse, palco de violentos combates entre senhores feudais e heréticos cátaros. Em 1214, está em Carcassonne onde assiste a duras batalhas entre as duas partes e onde começa a juntar-se um pequeno grupo de companheiros que com ele adotam a vida de pregadores itinerantes. No mesmo ano, torna-se Pároco de Fanjeaux, localidade junto a Prouille e à sua comunidade feminina. Em 1215, em Toulouse, adota uma regra de vida para a sua comunidade de pregadores, obtendo a aprovação do Bispo local. No entanto, seu objetivo era criar uma ordem religiosa que não ficasse restrita a um local, a uma diocese, mas sim que tivesse um mandato geral, por forma a poder atuar em todos os territórios onde fosse necessária a evangelização. Dirige-se nesse mesmo ano a Roma, onde decorria o Concílio de Latrão, por forma a obter o reconhecimento da sua Ordem. No entanto, o concílio, perante tantos e diferentes novos movimentos que surgiram um pouco por todo lado, e por forma a evitar a anarquia, decide proibir que sejam aceites novas ordens religiosas. Aconselhado pelo Papa, e de regresso a Toulouse, Domingos e os seus companheiros estudam as várias Regras de vida religiosa já existentes e optam pela Regra de Santo Agostinho. Entretanto, o Papa Inocêncio III morre e Honório III torna-se Papa, sendo um admirador e amigo de Domingos e dos seus pregadores. Em 1216, Domingos volta a Roma com a sua Regra e a seu pedido, o Papa pede à Universidade de Paris o envio para Toulouse de alguns professores destinados ao ensino e à pregação. Entretanto, o Papa confirma a regra da Ordem dos Pregadores como religiosos “totalmente dedicados ao anúncio da Palavra de Deus”. Logo após o reconhecimento da Ordem, Domingos envia os seus primeiros discípulos, dois a dois, a fundar novas comunidades em Paris, Bolonha, Roma e a Espanha. Domingos acreditava que apenas o estudo profundo da Bíblia poderia dar os meios necessários para uma pregação eficaz. Assim, envia os seus irmãos para as principais cidades universitárias do seu tempo, por forma a não só adquirem os conhecimentos necessários, como para agirem e recrutarem novos membros entre as camadas estudantis e intelectuais do seu tempo.

 

177 . 2 - Aparição de Nossa Senhora em Prouile – França - Nossa Senhora do Rosário

               Nossa Senhora do Rosário ou do Santíssimo Rosário é um título atribuído a Nossa Senhora devido a sua aparição à São Domingos de Gusmão em 1214 na Igreja do Mosteiro de Prouille, no qual a Mãe de Jesus entrega o rosário ao frei dominicano. O Frei Domingos de Gusmão passava por momentos difíceis e em uma de suas orações e momentos de penitência em reparação aos pecados dos homens, na cidade de Toulouse na França, quase sem forças após ter ficados três dias e três noites sem comer, para aplacar a cólera divina, a Virgem Maria lhe parece. Com uma voz materna e delicada diz: Sabes tu, meu querido Domingos, de que arma se serviu a Santíssima Trindade para reformar o mundo? E Domingos lhe responde: Vós o sabeis melhor que eu, porque depois de vosso Filho, Jesus Cristo, fostes o principal instrumento de nossa Salvação. E Nossa Senhora lhe responde: Sabei que a peça principal da bateria foi a saudação angélica, que é o fundamento do Novo Testamento; e, portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, reza o meu saltério. Após a aparição mariana, São Domingos de Gusmão entrou na Catedral de Toulouse para reunir e falar com os fiéis, de repente os sinos começaram a tocar sem nenhuma intervenção humana. Quando São Domingos começou a pregar houve uma forte ventania, tremor de terra, o sol velou-se e o céu foi cortado por raios. Uma imagem de Nossa Senhora levantou três vezes os braços pedindo justiça à Deus para aqueles que não recorressem a Ele ou não se arrependessem de seus pecados. São Domingos imediatamente começou a rezar o Santo Rosário, e por fim, cessou a tormenta. Após o ocorrido, São Domingos pôde continuar o seu sermão tranquilamente e o fez com tal zelo e ardor nas palavras que os habitantes da cidade abraçaram a devoção ao Rosário da Virgem da Maria. Em pouco tempo, observou-se que a população da cidade se converteu à fé, deixando as práticas de pecado de lado. São Domingos, após a aparição e ter recebido das mãos de Nossa Senhora o Santo Rosário, tornou-se ele próprio o grande propagador dessa devoção por volta do século XIII. A Igreja lhe conferiu o título de “Apóstolo do Santo Rosário”. Isso serviu para combater os hereges que desafiavam a Igreja Católica e que cresciam em toda a França. Em 1218 Domingos está em Roma, a visitar as novas casas, dirigindo-se depois para a Península Ibérica onde um dos seus primeiros companheiros, o português Soeiro Gomes tinha fundado algumas casas. No principio de 1219, Domingos vai a Paris e posteriormente volta a Itália. Em 1220 reúne em Bolonha o primeiro Capítulo da Ordem, fazendo-se algumas alteração às respectivas constituições canônicas, estando presentes dezenas de frades vindos de muitos pontos distantes da Europa. É adotado o modelo de governo democrático, pelo qual todos os superiores de casas são eleitos por todos os membros da comunidade. Em 1221 funda em Roma o convento de monjas de São Sisto e realiza o segundo Capítulo da Ordem no qual esta passou a estar organizada em províncias. O modelo democrático estende-se a toda a Ordem, mediante o qual para cada Capítulo Geral participam por direito os Priores Provinciais e delegados eleitos por todas as comunidades, sendo que o Mestre-geral da Ordem dos Pregadores é também eleito. São enviados irmãos pregadores para Inglaterra, Escandinávia, Polônia, Hungria e Alemanha. Completamente desgastado pelo esforço, morre em 6 de Agosto em Bolonha. É canonizado em 1234.

 

177 . 3 - São Francisco de Assis

               São Francisco de Assis nasceu em Assis, Itália, em 1182. Era filho de Pedro Bernardone, um rico comerciante, e Pia, de família nobre da Provença.  Na juventude, Francisco era muito rico e esbanjava dinheiro com ostentações. Porém, os negócios de seu pai não lhe despertaram interesse, muito menos os estudos. O que ele queria mesmo era se divertir. Porém, São Boaventura, seu contemporâneo, escreveu sobre ele: “Mas, com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das paixões que dominavam os jovens de sua companhia”. Na juventude de Francisco, por volta de seus vinte anos, uma guerra começou entre as cidades italianas chamadas Perugia e Assis. Ele queria combater em Espoleto, entre Assis e Roma, mas caiu enfermo. Durante a doença, Francisco ouviu uma voz sobrenatural: “Francisco, o que é mais importante, servir ao Senhor ou servir ao servo?” Servir ao Senhor, é claro. Respondeu o jovem. “Então, por que te alistas nas fileiras do servo?” Senhor, o que quereis que eu faça? “Volta a Assis e ali te será dito, diz a Voz”.

               Pouco a pouco, com muita oração, Francisco sentiu em seu coração a necessidade de vender seus bens e “comprar a pérola preciosa” sobre a qual ele lera no Evangelho. Certa vez, ao encontrar um leproso, apesar da repulsa natural, venceu sua vontade e beijou o doente. Foi um gesto movido pelo Espírito Santo. A partir desse momento, ele passou a fazer visitas e a servir aos doentes que sem encontravam nos hospitais. Aos pobres, presenteava com suas próprias roupas e também com o dinheiro que tivesse no momento.

               Num dia simples, mas muito especial, num momento em que Francisco rezava sozinho na Igreja de São Damião, em Assis, ele sentiu que o crucifixo falava com ele, repetindo por três vezes a frase que ficou famosa: “Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas”. O Santo vendeu tudo o que tinha e levou o dinheiro ao padre da Igreja de São Damião, e pediu permissão para viver com ele. Francisco tinha vinte e cinco anos. Pedro Bernardone, ao saber o que seu filho tinha feito, foi buscá-lo indignado, levou-o para casa, bateu nele e acorrentou-o pelos pés. A mãe, porém, o libertou na ausência do marido, e o jovem retornou a São Damião. Seu pai foi de novo buscá-lo, mandou que ele voltasse para casa ou que renunciasse à sua herança. Francisco então renunciou a toda a herança e disse: “As roupas que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolvê-las”. Em seguida se desnudou e entregou suas roupas a seu pai, dizendo-lhe: “Até agora tu tem sido meu pai na terra, mas agora poderei dizer: ‘Pai nosso, que estais nos céus”. Para reparar a Igreja de São Damião, Francisco pedia esmola em Assis. Terminado esse trabalho, começou reformar a Igreja de São Pedro. Depois, ele retirou-se para morar numa capela com o nome de Porciúncula. Ela fazia parte da abadia de Monte Subasio, cuidada pelos beneditinos. Ali o céu lhe mostrou o que realmente esperava dele. O trecho do Evangelho da Missa daquele dia dizia: “Ide a pregar, dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que haveis recebido gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem sandálias…” A estas palavras, Francisco tirou suas sandálias, seu cinturão e ficou somente com a túnica.

Milagres de São Francisco de Assis

               Deus lhe concedeu o dom da Profecia e o dos milagres. Quando Francisco pedia esmolas com o fim de restaurar a Igreja de São Damião, ele dizia: “Um dia haverá ali um convento de religiosas, em cujo nome se glorificará o Senhor e a Igreja.” A Profecia se confirmou cinco anos depois com Santa Clara e suas religiosas(Clarissas). Ao curar, com um beijo, o câncer que havia desfigurado o rosto de um homem, São Boaventura comentou com São Francisco de Assis: “Não se há que admirar mais o beijo do que o milagre?”

Fundação da Ordem dos Frades Menores (O.F.M.)

               Francisco começou a anunciar a verdade, no ardor do Espírito de Cristo. Convidou outros a se associarem a ele na busca da perfeita santidade, insistindo para que levassem uma vida de penitência. Alguns começaram a praticar a penitência e em seguida se associaram a ele, partilhando a mesma vida. O humilde São Francisco de Assis decidiu que eles se chamariam Frades Menores. Surgiram assim os primeiros 12 discípulos que, segundo registram alguns documentos, “foram homens de tão grande santidade que, desde os Apóstolos até hoje, não viu o mundo homens tão maravilhosos e Santos”. O próprio Francisco disse em testamento: “Aqueles que vinham abraçar esta vida, distribuíam aos pobres tudo o que tinham. Contentavam-se só com uma túnica, uma corda e um par de calções, e não queriam mais nada”. Os novos apóstolos reuniram-se em torno da pequena igreja da Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, que passou a ser o berço da Ordem.

A nova ordem religiosa de São Francisco de Assis

               Em 1210, quando o grupo contava com doze membros, São Francisco de Assis redigiu uma regra pequena e informal. Esta regra era, na sua maioria, os conselhos de Jesus para que possamos alcançar a perfeição. Com ela foram a Roma apresentá-la ao Sumo Pontífice. Lá, porém, relutavam em aprovar a nova comunidade. Eles achavam que o ideal de Francisco era muito rígido a respeito da pobreza. Por fim, porém, um Cardeal afirmou: “Não podemos proibir que vivam como Cristo mandou no Evangelho”. Receberam a aprovação e voltaram a Assis, vivendo na pobreza, em oração, em Santa alegria e grande fraternidade, junto a Igreja da Porciúncula. Mais tarde, Inocêncio III mandou chamar São Francisco de Assis e aprovou a regra verbalmente. Logo em seguida o Papa impôs a eles o corte dos cabelos, e lhes enviou em missão de pregarem a penitência. São Francisco de Assis manifestava seu amor a Deus por uma alegria imensa, que se expressava muitas vezes em cânticos ardorosos. A quem lhe perguntava qual a razão de tal alegria, respondia que “ela deriva da pureza do coração e da constância na oração”. A Santidade de São Francisco de Assis lhe angariou muitos discípulos e atraiu também uma jovem, filha do Conde de Sasso Rosso, Clara, de 17 anos. Desde o momento em que o ouviu pregar, compreendeu que a vida que ele indicava era a que Deus queria para ela. Francisco tornou-se seu guia e pai espiritual. Nascia assim a Ordem Segunda dos Franciscanos, a das Clarissas. Depois, Inês, irmã de Clara, a seguia no claustro; mais tarde uma terceira, Beatriz se juntou a elas.

Sabedoria divina

               Certa vez, São Francisco de Assis, sentindo-se fortemente tentado pela impureza, deitou-se sem roupas sobre a neve. Outra vez, num momento de tentação ainda mais violenta, ele rolou sobre espinhos para não pecar e vencer suas inclinações carnais. Sua humildade não consistia simplesmente no desprezo sentimental de si mesmo, mas na convicção de que “ante os olhos de Deus o homem vale pelo que é e não mais”. Considerando-se indigno do Sacerdócio, São Francisco de Assis apenas chegou a receber o diaconato. Detestava de todo coração o exibicionismo. Uma vez contaram-lhe que um dos irmãos amava tanto o silêncio que até quando ia se confessar fazia-o por sinais. São Francisco respondeu desgostoso: “Isso não procede do Espírito de Deus, mas sim do demônio; é uma tentação e não um ato de virtude”. Francisco tinha o dom da Sabedoria. Certa vez, um frade lhe pediu permissão para estudar. Francisco respondeu que, se o frade repetisse com amor e devoção a oração “Glória ao Pai”, se tornaria sábio aos olhos de Deus. Ele mesmo, Francisco, era um grande exemplo da Sabedoria dessa maneira adquirida. A proximidade de Francisco com a natureza sempre foi a faceta mais conhecida deste Santo. Seu amor universalista abrangia toda a Criação, e simbolizava um retorno a um estado de inocência, como Adão e Eva no Jardim do Éden.

Os estigmas de São Francisco de Assis

               Dois anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de alguns de seus frades mais íntimos, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de uma graça insigne. Na figura de um serafim de seis asas apareceu-lhe Nosso Senhor crucificado que, depois de entreter-se com ele em doce colóquio, partiu deixando-lhe impressos no corpo os sagrados estigmas da Paixão. Assim, esse discípulo de Cristo, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este traço de similitude com o Divino Salvador.

Devoção a São Francisco de Assis

               No verão de 1225, Francisco esteve tão enfermo, que o Cardeal Ugolino e o irmão Elias o levaram ao médico do Papa, em Rieti. São Francisco de Assis perguntou a verdade e lhe dissessem que lhe restava apenas umas semanas de vida. “Bem vinda, irmã Morte!”, exclamou o Santo. Em seguida pediu para ser levado à Porciúncula. Morreu no dia três de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor. Ele queria ser sepultado no cemitério dos criminosos, mas seus irmãos o levaram em solene procissão à Igreja de São Jorge, em Assis. Ali esteve depositado até dois anos depois da canonização. Em 1230, foi secretamente trasladado à grande Basílica construída pelo irmão Elias. Ele foi canonizado apenas dois anos depois da morte, em 1228, pelo Papa Gregório IX. Sua festa é celebrada em 04 de outubro.

Oração São Francisco de Assis

               Esta oração não foi composta por São Francisco, mas muitas destas frases estão em seus escritos, onde o Espírito Santo, com o tempo, as separou e ordenou desta forma através dos Franciscanos. O autor é portanto o Espírito Santo Paráclito.

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; Compreender, que ser compreendido; Amar, que ser amado.

Pois, é dando que se recebe, É perdoando que se é perdoado, E é morrendo que se vive para a vida eterna.

O encontro com o Sultão maometano

               Escrito por São Boaventura: No sexto ano depois de sua conversão, ardendo de desejo de martírio, resolveu ir à Síria pregar a fé cristã e a penitência aos sarracenos e a outros infiéis. Mas o navio que o conduzia foi arrastado pelos ventos contrários para as costas da Eslavônia. Aí ficou algum tempo sem encontrar navio com destino ao Oriente. Entendeu que lhe era recusado o que desejava. E como alguns marinheiros se preparavam para ir à Ancona, pediu para embarcar por amor de Deus. Mas como não tivessem com que pagar, os marinheiros nem quiseram ouvi-lo e o homem de Deus, entregando-se inteiramente nas mãos de Deus, introduziu-se sub-repticiamente no navio com seu companheiro. Entretanto, um homem certamente enviado por Deus para socorrer o pobre Francisco chegou trazendo víveres, chamou um os marujos, homem temente a Deus, e lhe disse: “Guarda com todo cuidado estas provisões para os pobres Irmãos que estão escondidos no navio; tem a bondade de lhes entregar de minha parte quando tiverem necessidade”. Os ventos sopravam com tal violência que os dias passaram sem que fosse possível abicar em parte alguma; os marujos estavam no fim das provisões; sobravam apenas as esmolas graciosamente oferecidas pelo céu ao pobre Francisco. Eram muito modestas, mas o poder de Deus as multiplicou de tal forma e em tanta quantidade que, apesar do atraso ocasionado pela tempestade que continuava a castigar duramente, elas satisfizeram totalmente às necessidades de todos até Ancona. E os marujos, vendo afastado o perigo de morte de que os livrara o servo de Deus, deram graças ao Altíssimo onipotente, que sempre se mostra admirável e amável nos seus amigos e servos. E com muito acerto, pois haviam enfrentado de perto os tremendos perigos do mar e visto as admiráveis obras de Deus nas águas profundas.

               Afastou-se do mar e começou a peregrinar pela terra espalhando a semente da salvação e colhendo uma messe abundante de bons frutos. Mas o fruto que mais o atraía era o martírio, o mérito de morrer por Cristo; desejava a morte por Cristo mais do que os méritos de uma vida virtuosa, e dirigiu-se a Marrocos para anunciar o Evangelho de Cristo ao Miramolim e seu povo e tentar assim conquistar a suspirada palma do martírio. O desejo que o levava a tais gestos era tão poderoso que, apesar de sua saúde precária, ia sempre à frente de seu companheiro de caminhada, e na pressa de realizar seu plano, parecia voar, inebriado do Espírito Santo. Havia já chegado à Espanha, mas Deus, que o queria para outras missões, dispusera de modo diferente os acontecimentos: uma doença bastante grave o prostrou, impedindo-o de realizar seu desejo. Não obstante a certeza do lucro que a morte representava para ele, o homem de Deus compreendeu ser necessário viver ainda pela família que gerara. Por isso voltou para cuidar das ovelhas entregues à sua guarda. Mas o ardor de sua caridade o impelia ao martírio. Pela terceira vez tentou ele partir aos países infiéis para difundir com o derramamento de seu sangue a fé na Trindade. Aos treze anos de sua conversão, foi às regiões da Síria, enfrentando corajosamente muitos perigos a fim de comparecer diante do Sultão da Babilônia, pessoalmente. Uma guerra implacável castigava cristãos e sarracenos. Os dois exércitos encontravam-se acampados muito próximos, separados apenas por uma estreita faixa de terra, que ninguém podia atravessar sem perigo de morte. O Sultão havia publicado um édito cruel: todos que lhe trouxessem a cabeça de um cristão receberiam uma grande quantia de ouro. Mas o intrépido soldado de Cristo, Francisco, julgando chegada a ocasião de realizar seus anseios, resolveu apresentar-se diante do Sultão, sem temer a morte, mas antes desejoso de enfrentá-la. Confortado pelo Senhor, depois de fervorosa oração, repetia com o profeta: Ainda que eu ande por um vale tenebroso, não temerei males, porque tu estás comigo. Tomou, pois, consigo um companheiro chamado Iluminado, homem de inteligência e coragem. E havendo começado a caminhar, saíram-lhe ao encontro duas mansas ovelhinhas, à vista das quais, cheio de alegria, disse a seu companheiro: “Confiemos no Senhor, Irmão, porque em nós se realizam hoje as palavras do Evangelho: Eis que eu vos mando como ovelha no meio de lobos.” E tendo-se adiantado, encontraram as sentinelas sarracenas que, quais lobos vorazes contra ovelhas, capturaram os servos de Deus e, ameaçando-os de morte, maltrataram-nos com crueldade e desprezo, os cobriram de injúrias e violências e os algemaram. Por fim, depois, de havê-los infligido e atormentado de mil maneiras, a divina Providência fez com que os levassem à presença do Sultão, realizando-se desse modo as fervorosas aspirações de Francisco. Colocados em sua presença, perguntou-lhes aquele bárbaro príncipe quem os havia enviado, a que vinham e como tinham conseguido chegar a seu acampamento. Ao que respondeu o servo de Deus com intrepidez que sua missão não procedia de nenhum homem, mas de Deus altíssimo que o enviava para ensinar a ele e a todo o seu povo os caminhos da salvação e para pregar-lhes as verdades de vida contidas no Evangelho. Com tanta constância e clareza em sua mente, com tanta virtude na expressão e com tão inflamado zelo pregou ao Sultão a existência de um só Deus em três pessoas e a de um Jesus Cristo, Salvador de todos os homens, que claramente se viu realizar-se em Francisco a palavras do Evangelho: Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria, à qual não poderão resistir, nem contradizer todos os vossos inimigos. Admirado o Sultão ao ver o espírito e o fervor do seráfico Pai, não apenas o ouvia com grande satisfação, mas até insistiu com repetidas súplicas que permanecesse algum tempo com ele. Mas o servo de Deus, iluminado pela força do alto, logo lhe respondeu dizendo: “Se me prometeres que tu e os teus vos convertereis a Cristo, permanecerei de muito bom grado entre vós. Mas se duvidas em abandonar a lei impura de Maomé pela fé santíssima de Cristo, ordena imediatamente que se faça uma grande fogueira e teus sacerdotes e eu nos lançaremos ao fogo, a ver se deste modo compreenda a necessidade de abraçar a fé Sagrada que te anuncio.” A esta proposta, replicou sem demora o Sultão: “Não creio que haja entre meus sacerdotes um só que, para defender sua doutrina, se atreva a lançar-se ao fogo nem esteja disposto a sofrer o menor tormento.” E sobrava-lhe razão para dizer isso, pois vira que um de seus falsos sacerdotes, ancião e protervo sequaz de sua lei, desaparecera, mal ouviu as primeiras palavras do Santo. Este acrescentou, dirigindo-se ao Sultão: “Se em teu nome e em nome de teu povo me prometeres abraças a religião de Cristo, com a condição que eu saia ileso da fogueira, estou disposto a entrar eu sozinho nela. Se o fogo me consumir entre suas chamas, atribua-se isso a meus pecados; mas se como espero, a virtude divina me conservar ileso, reconhecereis a Cristo, virtude e sabedoria de Deus e único Salvador de todos os homens.” A essa proposta respondeu o Sultão que não podia aceitar esse contrato aleatório, pois temia uma sublevação popular. Mas ofereceu-lhe numerosos e ricos presentes que o homem de Deus desprezou como lama. Não era das riquezas do mundo que ele estava ávido, mas da salvação das almas. O Sultão ficou ainda mais admirado ao verificar um desprezo tão grande pelos bens deste mundo. Não obstante sua recusa ou talvez seu receio de passar à fé cristã, rogou ao servo de Deus que levasse todos aqueles presentes e os distribuísse aos cristãos pobres e às igrejas. Mas o Santo que tinha horror de carregar dinheiro e não via na alma do Sultão raízes profundas da fé verdadeira, recusou-se terminantemente a aceitar sua oferta.

               Vendo frustradas suas ânsias de martírio e conhecendo que nada adiantava seu empenho na conversão daquele povo, resolveu Francisco, por inspiração divina, voltar aos países cristãos. E assim, por disposição da bondade divina e pelos méritos e virtudes do Santo, sucedeu que o amigo de Cristo procurou com todas as suas energias morrer por ele, mas não conseguiu. Desse modo não perderia o mérito do desejado martírio e ainda gozaria de vida para ser mais adiante assinalado com um selo e um símbolo desse martírio. Aconteceu assim para que aquele fogo primeiro ardesse em seu coração e mais tarde se manifestasse em sua carne.

Profecia sobre o final dos tempos:

               Pouco antes de sua morte, convocou seus amigos e alertou-os sobre os problemas que haviam de vir, dizendo: “Ajam com bravura, meus irmãos; ganhem coragem e confiem no Senhor. Em breve se aproxima o tempo no qual haverão grandes provas e aflições; perplexidades e discórdias, tanto espirituais como temporais, virão em abundância; a caridade de muitos esfriará, enquanto a malícia dos ímpios aumentará. Os diabos terão um poder fora do usual; a imaculada pureza de nossa Ordem, e de outras, será tão obscurecida, que haverá bem poucos Cristãos que obedecerão ao verdadeiro Soberano Pontífice e à Igreja Romana com corações leais e caridade perfeita. Nos tempos dessa tribulação, um homem não canonicamente eleito será elevado ao Pontificado, que, com sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte. Então escândalos se multiplicarão, a nossa Ordem será dividida, e muitas outras serão totalmente destruídas, porque consentirão o erro em vez de o combater. Haverá uma tal diversidade de opiniões e cismas entre as pessoas, os religiosos e o clero, que, se aqueles dias não fossem abreviados, segundo as palavras do Evangelho, até os eleitos seriam levados ao erro, se não fossem guiados, no meio de tão grande confusão, pela imensa misericórdia de Deus. Então a nossa Regra e nosso modo de vida serão violentamente combatidos por alguns, e provas terríveis cairão sobre nós. Os que permanecerem fiéis receberão a coroa da vida; mas ai dos que, confiando somente em sua Ordem, caírem em mornidão, pois não serão capazes de suportar as tentações permitidas como teste para os eleitos. Os que perseverarem em seu fervor e mantiverem sua virtude com amor e zelo pela verdade sofrerão injúrias e perseguições como sendo rebeldes e cismáticos. Pois os seus perseguidores, instigados por espíritos malignos, dirão que prestam um grande serviço a Deus, eliminando aqueles homens pestilentos da face da Terra. Mas o Senhor será o refúgio dos aflitos, e salvará todos que nEle confiarem. E a fim de serem como o seu Mestre, estes, os eleitos, agirão com confiança e com sua morte obterão para si próprios a vida eterna. Escolhendo obedecer a Deus e não aos homens, eles não temerão nada e preferirão perecer, do que aprovar a falsidade e a perfídia. Alguns pregadores manterão silêncio sobre a verdade, e outros a calcarão aos pés e a negarão. A santidade de vida será desprezada até pelos que exteriormente a professam, pois naqueles dias Nosso Senhor Jesus Cristo lhes mandará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor.”

 

177 . 4 - Santa Clara de Assis

               Santa Clara de Assis, (Chiara D'Offreducci), nasceu no ano de 1194, em Assis, Itália. De família rica, seu pai, Favarone Scifi, era Conde. Sua mãe se chamava Hortolana Fiuni. Clara era neta e filha de fidalgos (pessoas da classe nobre). Sua família vivia em um palácio na cidade, tinha muitas propriedades e até um Castelo. Clara tinha dois irmãos e duas irmãs. Suas irmãs Catarina e Beatriz, mais tarde, iriam entrar para o convento junto com sua mãe, após esta ficar viúva. Quando Clara tinha por volta de doze anos, sua família vai morar em Corozano e depois vão para Perugia, refugiando-se de uma revolução. Clara desde jovem já tinha a fama de muito religiosa e recolhida. Aos 18 anos ela fugiu com uma amiga, Felipa de Guelfuccio, para encontrar São Francisco de Assis, na Porciúncula, (capelinha de Santa Maria dos Anjos, onde nasceu a ordem dos Franciscanos e a ordem de Santa Clara). Lá ela era esperada para fazer os primeiros votos e entrar no convento dos franciscanos.

Santa Clara de Assis, uma discípula de São Francisco de Assis

               O próprio São Francisco cortou os cabelos de Clara, sinal do voto de pobreza e exigência para que ela pudesse ser uma religiosa. Depois da cerimônia ela foi levada para o Mosteiro das Beneditinas. Santa Clara de Assis vendeu tudo, inclusive seu dote para o casamento e distribui aos pobres. Era uma exigência de São Francisco para poder entrar para a vida religiosa. A família de Santa Clara de Assis tentou buscá-la, mas ela se recusou a voltar, mostrando para o seu tio Monaldo os cabelos cortados. Ele, então, desistiu de levá-la. Nisso, sua irmã Catarina, também foge para o convento aos 15 anos de idade. A família envia novamente o Tio Monaldo para busca-la à força. Monaldo amarra a moça e prepara-se para arrastá-la de volta para casa. Clara não suporta ver o sofrimento da irmã e pede ao Pai Celeste que intervenha. Então a menina amarrada ficou tão pesada que ninguém conseguia movê-la. Monaldo, então, desistiu. Catarina entrou para o convento e recebeu o nome de Inês. Depois de ter passado pelo convento de Santo Ângelo de Panço, São Francisco leva Clara e suas seguidoras para o Santuário de São Damião, onde foram morar em definitivo.

               Milagre de Santa Clara de Assis: Por causa da invasão muçulmana, a região de Assis passou necessidades. Tanto que, certa vez, as irmãs, que já eram mais de 50, não tinham o que comer. Então a irmã cozinheira chega desesperada e diz a Santa Clara de Assis que havia somente um pão na cozinha. Santa Clara diz a ela: confie em Deus e divida o pão em 50 pedaços. A irmã cozinheira, mesmo sem entender, obedece. Então, de repente, dezenas de pães aparecem na cozinha e as irmãs conseguem se sustentar por vários dias.

               Pela intercessão de Santa Clara muitos milagres se realizaram quando ela ainda era viva e também depois de seu falecimento. Um dos mais expressivos foi quando os sarracenos (muçulmanos) invadiram Assis e tentaram entrar no convento das Clarissas. Santa Clara pegou o ostensório com o Santíssimo Sacramento e disse aos invasores que Cristo era mais forte que todos eles. Então, inexplicavelmente, todos, tomados de grande medo, fugiram sem saquear o convento. Por isso, Santa Clara é representada com suas vestes marrons segurando o ostensório.

               Um ano antes de Santa Clara de Assis falecer, em 11 de agosto de 1253, ela queria muito ir a uma missa na Igreja de São Francisco (já falecido). Não tendo condições de ir por estar doente, ela entrou em oração e conseguiu assistir toda a celebração de sua cama em seu quarto no convento. Segundo seus relatos, a Missa aparecia para ela como que projetada na parede de seu humilde quarto.  Santa Clara conseguiu ver e ouvir toda a celebração sem sair de sua cama. O fato foi confirmado quando Santa clara de Assis contou fatos acontecidos na missa, detalhando palavras do sermão do celebrante. Mais tarde, várias pessoas que estiveram na missa confirmaram o que Santa Clara narrou, de fato aconteceram. Assim, pelo fato de Santa clara ter assistido a uma celebração à distância, em 14 de fevereiro de 1958, o Papa Pio XII proclamou oficialmente Santa Clara de Assis como a padroeira da televisão.

O legado de Santa Clara de Assis: Santa Clara de Assis é a fundadora das Clarissas, (antes chamadas de senhoras pobres), com conventos espalhados por vários lugares da Europa e uma espiritualidade voltada para a pobreza, a oração e a ajuda aos mais necessitados. Ela escreveu a Regra para as mulheres religiosas, (forma de vida), a regra de viver o mistério de Jesus Cristo de acordo com as propostas de São Francisco de Assis. Regra depois aprovada pela Papa. Ela foi o lado feminino dos franciscanos e as irmãs Clarissas permanecem até hoje. Santa Clara de Assis morreu em Assis no dia 11 de agosto de 1253, aos 60 anos de idade. Um dia antes de sua morte ela recebeu a visita do Papa Inocêncio lV, que lhe entregou a Regra escrita por ela aprovada e aplicada a todas as monjas. Na hora de sua morte ela disse: Vá segura, minha alma, porque você tem uma boa escolha para o caminho. Vá, porque Aquele que a criou também a Santificou. E, guardando-a sempre como uma mãe guarda o filho, amou-a com eterno amor. E Bendito sejais Vós, Senhor que me criastes. O Papa mandou enterrá-la na Igreja de São Jorge, onde São Francisco estava enterrado. Em 1260 depois de construída a Basílica de Santa Clara, ao lado da Igreja de São Jorge seu corpo foi transladado com todas as honras para lá. Sua canonização foi oficializada pelo Papa Alexandre lV, no ano de 1255, dois anos após sua morte. Santa Clara de Assis é representada com uma roupa marrom e touca branca, com uma custódia com o Santíssimo Sacramento.

 

178º - Honório III - 1216 - 1227

               Papa da Igreja cristã Romana nascido em Roma, eleito em 24 de julho de 1216 como sucessor de Inocêncio III, em cujo Pontificado cuidou especialmente do aspecto disciplinar e jurídico da eleição do Papa e dos Bispos, fixando as regras e a cerimônia, e aprovou definitivamente as regras dos Franciscanos, dos Dominicanos e confirmou a ordem dos Carmelitas. De origem nobre, exerceu funções de caráter administrativo na cúria Pontifícia e tornou-se Cardeal diácono de Santa Luzia na época do Pontificado de Celestino III. Eleito Papa já com idade avançada, mostrou-se com um temperamento muitas vezes oposto ao de seu predecessor. Homem sereno e bastante religioso, mas de pouca energia e autoridade e desprovido de grandes capacidades políticas. Definiu o Liber Censorium, sobre os direitos dos Pontífices e organizou o cerimonial para a eleição Papal. Politicamente não impediu as ambições monárquicas de Frederico da Suábia em troca da promessa de aplicar em seus domínios as severas Constituições eclesiásticas contra os hereges e o compromisso de apoiar a quinta cruzada, uma nova expedição militar à Terra Santa. Organizou, então, a quinta cruzada, com André II da Hungria, que não alcançou os objetivos. A primeira ofensiva da quinta Cruzada (1217-1221) tinha como objetivo capturar o porto egípcio de Damieta, o que foi conseguido em 1219. Porém a estratégia posterior que era assegurar o controle da península do Sinai não obteve sucesso, principalmente porque os reforços prometidos por Frederico II, então poderoso rei da Sicília e neto de Frederico Barba-Roxa, não chegaram, razão pela qual ele foi excomungado pelo Papa Gregório IX. Posteriormente, Frederico II organizou uma Cruzada por sua própria conta, marchou até a Terra Santa e, sem o apoio do Papado, conseguiu que os egípcios devolvessem Jerusalém aos cruzados. Em termos políticos teve mais sucesso no restante da Europa ocidental, onde apoiou o rei da Inglaterra João Sem-Terra e obteve o apoio dos soberanos da França e de Aragão contra os albigenses. Durante seu Pontificado favoreceu bastante as ordens mendicantes e seus frades pregadores, permitindo-lhes o acesso às universidades francesas, e aprovou a regra dos frades menores (1223), aos quais designou como protetor o Cardeal Ugolino de Óstia. Aprovou em 1226 as regras dos carmelitas, formulada em 1208-1209, por Alberto de Vercelli, Patriarca latino de Jerusalém, e ainda hoje professadas pela Ordem. O Papa morreu em Roma.

 

179º - Gregório IX - 1227 - 1241

               Gregório IX (Anagni, 1145 – Roma, 22 de agosto de 1241), nascido Ugolino di Anagni. Filho do conde de Segni e sobrinho do Papa Inocêncio III, estudou direito em Paris e Bolonha. Feito Cardeal em 1198, tornou-se Cardeal-Bispo de Óstia em 1206. Foi um importante incentivador dos dominicanos e dos franciscanos, tendo sido amigo pessoal do próprio São Francisco de Assis. Organizou a Inquisição Pontifícia com o objectivo de reprimir as heresias, com a promulgação da bula Licet ad capiendos em 20 de abril de 1233, dirigida aos dominicanos, que passaram a liderar o trabalho de investigação, julgamento, condenação ou absolvição dos hereges. Canonizou S. Francisco de Assis dois anos após sua morte, também S. Domingos de Gusmão e Santo António de Lisboa. Internamente encarregou Raimundo de Penaforte da elaboração de uma coletânea geral de leis em 1230, que vigorou como peça principal do direito canônico até 1918. Está sepultado na Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano. Papa fundador da Santa Inquisição, através de sua bula papal Escommunicamus, editada após o sínodo de Toulouse (1229), a qual decretava que todos os hereges e instigadores deveriam ser entregues aos nobres e magistrados para o devido castigo. Formado nas universidades de Paris e Bologna, após a ascensão de Inocêncio III ao trono papal, de quem era sobrinho, foi sucessivamente nomeado capelão Papal, Arcebispo de São Pedro, Cardeal diácono em Santo Eustáquio (1198) e Bispo Cardeal de Óstia e Velletri (1206). Com o Cardeal Brancaleone foi enviado a Germânia para mediar a disputa entre Philip de Suábia e Otto de Brunswick, que disputavam o trono germânico após a morte de Henry VI. Por ordem do Papa os delegados livraram Philip da pena imposta pelo Papa Celestino III por ele ter invadido os Estados Pontifícios. Embora os delegados fossem incapazes para convencer Brunswick a deixar as reivindicações dele ao trono, eles tiveram sucesso efetuando uma trégua entre os dois pretendentes e voltou a Roma (1208). Após o assassinado de Philip, voltou à Alemanha (1209) para convencer os Príncipes a reconhecerem Otto de Brunswick como rei. Depois da morte do Papa Inocêncio III (1216), organizou a eleição do Papa Honório III juntamente com o Cardeal Guido de Preneste. Hábil diplomata foi nomeado por Honório III para, além de participar da organização das cruzadas, ser o mediador principal nos conflitos regionais entre a Lombardia e Tuscia (1217), Pisa e Gênova (1217), Milão e Cremona (1218) e entre a Bolonha e Pistóia (1219). A pedido especial de São Francisco, Honório III o designou o protetor da ordem em 1220. Depois da morte de Honório III (1227), o Cardeal Conrad de Urach foi eleito a princípio, mas declinou da tiara e, então, os Cardeais o elegeram por unanimidade no dia 19 março (1227), e ele relutantemente aceitou a honraria, até mesmo por se considerar avançado na idade, e adotou o nome de Gregorio IX. Os constantes conflitos com as táticas desonestas do Imperador Frederico II, especialmente com relação ao papel deste nas Cruzadas, o levaram a publicar a excomunhão do imperador (1228). A primeira ofensiva da quinta Cruzada (1217-1221), organizada por Honório III, Papa em Roma (1216-1227), tinha como objetivo capturar o porto egípcio de Damieta, o que foi conseguido dois anos depois (1219). A estratégia posterior requeria assegurar o controle da península do Sinai. Porém esses objetivos não foram alcançados, pois os reforços prometidos por Frederico II não chegaram, razão pela qual ele foi excomungado pelo Papa. Para provar para o mundo Cristão que o Papa tinha sido precipitado em lhe impor tão grave punição, o Imperador resolveu ir para a Terra Santa (1228), previamente pedindo a bênção Papal para o seu empreendimento. Porém, o Papa não só negou-lhe a bênção, como justificou que um Imperador excomungado não tinha direito para empreender uma guerra Santa, como também liberou os cruzados do juramento de submissão. Frederico II organizou uma Cruzada por sua própria conta, marchou até a Terra Santa e, sem o apoio do Papado, conseguiu que os egípcios devolvessem Jerusalém aos cruzados. Ao mesmo tempo, o Papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra Frederico, e seguiu atacando as possessões italianas do Imperador. Ameaçado por uma turba de Ghibelline, o Papa fugiu primeiro a Viterbo e depois para Perugia. Sem saída, o Imperador reconheceu a justiça de sua excomunhão e começou a dar passos para uma reconciliação com o Papa. Depois de muitas refregas o Papa voltou à Roma de seu refúgio em Perúgia (1228-1930), e estabeleceu um tratado com o Imperador, por meio do qual aquela parte dos Estados Pontifícios que estavam ocupadas através de tropas imperiais seriam restabelecidas às posses Papais e a paz foi estabelecida entre o Papa e o Imperador. Durante um tempo o imperador ajudou o Papa contra algumas revoltas secundárias nos Estados Pontifícios, como foi estipulado dentro das condições de paz. Porém, logo ele começou a perturbar a paz novamente impedindo a liberdade da Igreja na Sicília e prejudicando a liberdade das cidades da Lombardia, um bastião forte e necessário para o segurança dos Estados Pontificais. Com a declaração (1237) do Imperador da intenção de unir ao império não só a Lombardia e a Tuscania, mas também o Patrimônio de São Pedro e praticamente toda a Itália, fez o Papa novamente excomungar o imperador (1239), reiniciando o período de desentendimentos entre ambos, que continuou até a morte repentina do Pontífice, em Roma, com a idade de quase cem anos, quando o exército do Imperador tomou posição e acampou próximo à cidade. Apesar desta contínua beligerância com Frederico II, o titular de São Pedro não descuidou das atividades cristãs da Igreja, em especial o apoio às ordens religiosas e missionários. Entre suas muitas ações para entidades religiosas protegeu a Ordem dos Dominicanos, aprovou os privilégios do Camaldolese (1227), deu estatutos novos aos Carmelitas (1229), aprovou a Ordem de Nossa Senhora de Clemência para a redenção de cativos, entre outras, e ajudou financeiramente as ações de ordens religiosas de conversão na Ásia e África e leste europeu e nas campanhas do Oriente Médio. No seu Papado canonizações e o calendário de Santos foi enriquecido com alguns dos mais populares nomes do catolicismo como São Francisco de Assis, Santo Antônio de Pádua, Santa Isabel de Turíngia etc.

Inquisição foi na verdade Providência Divina

Quantos e quantos historiadores e falsos teólogos, criticam a Igreja Católica pelas perseguições das Cruzadas e da Inquisição contra os hereges daquela época, dizendo que foi um crime contra a humanidade, uma injustiça. Mas se esquecem que Deus tudo sabe, e não poderia deixar seitas altamente perniciosas para a alma prevalecer. Acreditam que Deus foi duro demais? Mas, quem é, por mais poderoso que seja, capaz de limitar os desígnios de Deus sobre a humanidade? Quem pode ousar enfrentar Deus, dizendo-lhe: “Isto não pode”, e com que autoridade? A vontade de Deus está acima de todas as outras vontades, e devemos amar esta Santa Vontade. A Bíblia nos conta em suas escrituras que diversas vezes Deus agiu em prol de seu povo, não permitindo que fosse vencido ou extinto. Desde o mais numeroso reino, ou uma simples vila ou cidade, mesmo que seja um simples homem, a providência divina agiu contra estas potências ideológicas idolátricas, para preservar a fé verdadeira. Deus puniu os Filisteus, Amorreus, Heteus, Perizeus, Cananeus, Heveus, Jebuseus, Egípcios, Amonitas, Edonitas, Amalequitas, extinguiu quase toda a humanidade no dilúvio, salvando apenas a família de Noé. Todos estes povos investiram contra os princípios morais estabelecidos pelo Criador, e receberam um justo castigo.

               A Igreja Católica é a geradora de filhos legítimos do Senhor. Todos aqueles que acreditarem na doutrina contida nesta Igreja, obterá a salvação de sua alma no último dia. Os inimigos desta Igreja foram e são muitos. O que dizer dos Judeus que negam a divindade de Jesus, do Império Romano que perseguiu e matou cristãos por séculos, do Islamismo que trabalha para expulsar e matar quem à esta seita não se converter, dos filósofos e falsos doutores racionalistas induzindo as pessoas a apostasia, dos institutos satânicos que promovem o aborto, dos Protestantes e suas milhares de seitas e divisões se dizendo cada uma delas “os verdadeiros cristãos”, infundindo confusão espiritual, pelejando contra à Católica, difamando Nossa Senhora. Do Comunismo espalhando ideias anticristãs a nível mundial, da Maçonaria, uma seita ocultista que adentrou nos Governos e na Igreja de Cristo afim de destruí-la por dentro.

               Acreditam mesmo que não foi necessário a intervenção divina na humanidade durante os séculos e séculos?  Acham que nossa fé conseguiria sobreviver a esta enxurrada de ataques? É claro que não. Foi necessário a expiação e a eliminação de pessoas incorrigíveis, que prejudicaram grandemente a expansão do cristianismo. Muitos dizem que Deus é vingador quando age assim, mas na verdade é amor! Sim, é amor! O Amor que usa a perfeita Justiça para se chegar a verdade e a paz. Por acaso não foi Deus quem tudo criou e nos criou? Não é Ele o dono de toda vida existente? Ele pode, se assim desejar, de um momento para outro, apagar de seu pensamento todo o gênero humano e imediatamente deixaríamos de existir. Tem todo o direito de assim proceder, se assim desejar. Os excessos cometidos por alguns durante a Santa Inquisição, não vieram de Deus, mas da maldade humana instigada por satanás. Os direitos humanos servem como bandeira apenas para este mundo, não se encaixam nos preceitos divinos do decálogo, porque um é material e o outro sobrenatural. Humanismo não é cristianismo! A Justiça divina agiu e continuará agindo, enquanto houver homens sobre a terra.

 

180º - Celestino IV - 1241

               Papa da Igreja Cristã Romana nascido em Milão, e eleito sucessor de Gregório IX, foi Papa por apenas 17 dias; depois dos acontecimentos ocorridos em sua eleição originou-se a palavra conclave. De uma família de tradição eclesiástica, era cisterciense, ou seja, membro da Ordem Cisterciense, organizada por São Bernardo (1090-1153), e filho de uma irmã de Urbano III. Foi eleito em 25 de outubro de 1241, em uma eleição realizada num período de muitos problemas de relacionamento entre os Cardeais, o que dificultou um acordo. Somente dez membros participavam do colégio eleitoral presente, pois a maioria dos Cardeais continuava prisioneira do Imperador alemão Frederico II. O Senado Romano trancou-os a chave no antigo Monasterio del Septizionio. Deste episódio deriva a palavra conclave, do latim cum clave, ou seja, com chave. Portanto ele foi o primeiro Papa da história a ser escolhido através do conclave. No meio do conclave, as condições precárias do lugar onde estavam levou um dos Cardeais a morte, então às pressas elegeram o Cardeal milanês para ocupar o trono de Pedro. O Papa devido a sua idade avançada, morreu em Roma após um curtíssimo pontificado de pouca mais de duas semanas e foi substituído por Inocêncio IV, 21 meses depois, devido as condições completamente adversas da normalidade.

 

181º - Inocêncio IV - 1243 – 1254

               Papa Inocêncio IV (1195 – 7 de dezembro 1254), nascido Sinibaldo Fieschi, foi eleito em 25 de Junho de 1243, depois de dois anos de Sede vacante. Natural de Gênova, escolhido em 28 de junho de 1243 como sucessor de Celestino IV, teve que lutar duramente contra o Imperador Frederico II e, por este motivo teve que abandonar temporariamente Roma. Filho do Conde de Lavagna, foi encaminhado para a carreira eclesiástica, tornando-se Bispo de Albenga e ocupando altos cargos na administração Pontifícia. Foi nomeado cardeal (1227) e eleito Papa, com fama de canonista; seu primeiro ato político teve o objetivo de esclarecer as relações da Santa Sé com o Imperador Frederico II. O monarca ofereceu a restituição das terras eclesiásticas, que ocupara anteriormente, em troca de uma investidura feudal dessas terras por parte do Papa, porém como o Pontífice desejava obter a separação entre o Reino da Sicília e o da Alemanha preferiu abandonar as negociações de paz. Em conflito aberto com o Imperador e diante das novas ofensivas das forças imperiais, fugiu disfarçado de Roma em 1244, e refugiou-se primeiro em Gênova, depois na França, onde presidiu o XIII Concílio Ecumênico, convocado em Lião (1245) para depor o Imperador, e proclamou uma cruzada, a sétima, com Luís IX, rei da França, contra Frederico II, declarado-o perjuro e sacrílego e excomungando-o pela terceira vez, mas o movimento fracassou. Costurou um grande movimento antiimperial e uma rede de alianças familiares, especialmente na Alemanha, junto com um grupo de eclesiásticos fiéis a Roma (1246-1247), conseguindo sublevar algumas cidades contra a Imperador e fortalecendo a Liga Lombarda. Três anos depois da morte de Frederico (1250) voltou a Roma (1253), mas teve que empreender uma luta armada contra Manfredo que, após a morte do irmão Conrado IV (1254), tencionava apoderar-se do reino siciliano. Inocêncio morreu subitamente em Nápoles, durante esse conflito, e foi sucedido por Alexandre IV (1254-1261). Antes de ser um homem da Igreja, foi um político que atuou assiduamente para impor a supremacia do Papado na Itália e em toda a Europa, utilizando-se de todos os meios possíveis, temporais e espirituais. A 15 de Maio de 1252, promulgou a bula Ad extirpanda autorizando a tortura contra os hereges. Durante seu Pontificado, houve a Sétima Cruzada, terminando com derrota para os cristãos.

 

181 . 1 - Santa Matilde de Hackeborn

Nossa Senhora ensina à Matilde a Oração da Ave Maria

               Santa Matilde de Hackeborn (Helfta, 1240/1241 - 19 de novembro de 1298), foi uma monja cisterciense, mística, nobre e Santa católica, também conhecida por Matilde de Helfta. Sua festa é celebrada em 19 de novembro. Matilde nasceu no Castelo de Helft, Saxônia, membro da nobre e poderosa família Hackeborn que era possuidora de terras na Turíngia. Nasceu tão frágil pelo que se chegou a acreditar estar morta, mas quando o padre foi batizá-la, este profetizou que ela chegaria a ser Santa e que Deus obraria grandes coisas através dela.

               Em 1248, com sete anos de idade, visitou com sua mãe a sua irmã Gertrudes de Hackeborn (não confundir com Gertrudes de Helfta, também chamada Gertrudes, a Grande), monja no mosteiro de Rodardsdorf. Atraída pelo ambiente monástico, permaneceu no mosteiro, se ingressando como educanda. Três anos depois, em 1251, Gertrudes se torna abadessa com a idade de dezenove anos regendo a comunidade até 1291. Em 1258, devido a escassez de água, as monjas se mudaram para Helfta. Este novo monastério chegaria a prosperar tanto economicamente como culturalmente e espiritualmente. Gertrudes formou a sua irmã com vistas ao cargo que lhe ia confiar: maestra da escola para meninas, e formadora das noviças e das jovens professoras. Em 1261, exercendo o cargo de maestra, recebe a seus cuidados a uma menina chamada Gertrudes, de então cinco anos de idade, que mais chegaria a ser conhecida como Santa Gertrudes, a Grande. Por seus dotes naturais para o canto, Matilde seria também chamada maestra de coral. A tradição acabou chamando-a “Ruiseñor de Cristo”. Matilde desempenhou seu trabalho silenciosamente até os cinquenta anos. Desde jovem tinha experiências místicas, porém nunca escreveu nada. Em 1291 morre sua irmã Gertrudes de Hackeborn. Por este acontecimento começou a adoecer constantemente e a passar períodos de cama. A nova abadessa, Sofía de Querfurt, vendo a progressiva decadência física de Matilde, mandou que as monjas recorressem a todos os dados e notas que ela tinha tomado durante o seu magistério, para ser base de sua história. A encarregada especial para este trabalho foi Gertrudes de Helfta. Isso foi feito às escondidas da doente, mas depois, quando informada, confirmou o conteúdo do livro. O resultado foi O Livro de graça especial (El Libro de la Gracia Especial).

O Livro de Graça Especial

               O livro é constituído por sete partes. As primeiras se recolhe as experiências místicas de Matilde em torno das festas litúrgicas. A terceira e quarta reúnem os ensinamentos referentes a salvação do homem e as suas virtudes. A quinta parte está dedicada às almas dos defuntos. A sexta é uma breve biografia de Gertrudes de Hackeborn, irmã de Matilde. A sétima parte descreve os últimos dias de Matilde e sua morte.

               Doutrinalmente, o livro se centra na vida espiritual monástica: Liturgia das Horas, Lectio Divina, Eucaristia. No centro de tudo está o Coração de Jesus, símbolo do amor divino, encontrando-se neste livro uma das referências mais antigas desta devoção. Ocupa um papel importante o tema mariológico. Apoia três dogmas marianos: A Imaculada Concepção de Maria, sua Maternidade Divina, e a Concepção Virginal de Jesus. Além disso inaugurou a devoção mariana de rezar diariamente três Avemarias pedindo a especial proteção de Maria.

               Uma promessa e um pedido de Maria: "Eu te assistirei na hora da tua morte, mas quero que, por tua parte, me rezes diariamente três Ave-Marias. A primeira Ave-Maria, pedindo que, assim como Deus Pai me elevou a um trono de glória sem igual, fazendo de mim a mais poderosa no céu e na terra, assim também eu te assista na terra para fortificar-te e afastar de ti toda potestade inimiga.

A segunda Ave-Maria, pedindo que, assim como o Filho de Deus me concedeu a sabedoria em tal extremo que tenho mais conhecimento da Santíssima Trindade que todos os santos, assim eu te assista na passagem da morte para encher a tua alma das luzes da fé e da verdadeira sabedoria, para que não a obscureçam as trevas do erro e da ignorância.

A terceira Ave-Maria, pedindo que, assim como o Espírito Santo me concedeu as doçuras do seu amor e me fez tão amável que depois de Deus sou a mais doce e misericordiosa, assim eu te assista na morte, enchendo a tua alma de tal suavidade de amor divino que toda pena e amargura da morte seja transformada para ti em delícias”.

               Em 19 de novembro de 1299 morreu Matilde com a idade de 59 anos. A fama e importância que se atribui a sua discípula, a Santa Gertrudes de Helfta (que acabou chamando-se por ela, a Grande) consequentemente fez sombra a Matilde, que passou à segundo plano a partir do século XVI.

 

181 . 2 - Aparição de Nossa Senhora em Cambraidge – Inglaterra - Nossa Senhora do Carmo

               Na Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João Batista. Chamava-se Simeão. Mas, diante de sua vida solitária na convexidade de uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock. Simão nasceu no ano de 1165 no Castelo de Harford, no condado de Kent, Inglaterra, em atenção às preces de seus piedosos pais, que uniam a mais alta nobreza à virtude. Alguns escritores julgam mesmo que tinham parentesco com a família real. Sua mãe consagrou-o à Santíssima Virgem desde antes de nascer. Em reconhecimento a Ela pelo feliz parto, e para pedir sua especial proteção para o filhinho, a jovem mãe, antes de o amamentar, oferecia-o à Virgem, rezando de joelhos uma Ave-Maria. Bela atitude de uma senhora altamente nobre! O menino aprendeu a ler com pouquíssima idade. A exemplo de seus pais, começou a rezar o Pequeno Ofício da Santíssima Virgem, e logo também o Saltério. Esse verdadeiro pequeno gênio, aos sete anos de idade iniciou o estudo das Belas Artes no Colégio de Oxford, com tanto sucesso que surpreendeu os professores. Foi também nessa época admitido à Mesa Eucarística, e consagrou sua virgindade à Santíssima Virgem. Perseguido pela inveja do irmão mais velho, e atendendo a uma voz interior que lhe inspirava o desejo de abandonar o mundo, deixou o lar paterno aos 12 anos, encontrando refúgio numa floresta onde viveu inteiramente isolado durante 20 anos, em oração e penitência. Nossa Senhora revelou-lhe então seu desejo de que ele se juntasse a certos monges que viriam do Monte Carmelo, na Palestina, à Inglaterra, “sobretudo porque aqueles religiosos estavam consagrados de um modo especial à Mãe de Deus”. Simão saiu de sua solidão e, obedecendo também a uma ordem do Céu, estudou teologia, recebendo as sagradas ordens. Dedicou-se à pregação, até que finalmente chegaram dois frades carmelitas no ano de 1213. Ele pôde então receber o hábito da Ordem, em Aylesford. Em 1215, tendo chegado aos ouvidos de São Brocardo, Geral latino do Carmo, a fama das virtudes de Simão, quis tê-lo como coadjutor na direção da Ordem; em 1226, nomeou-o Vigário-Geral de todas as províncias Europeias. São Simão teve que enfrentar uma verdadeira tormenta contra os carmelitas na Europa, suscitada pelo demônio através de homens ditos zelosos pelas leis da Igreja, os quais queriam a todo custo suprimir a Ordem sob vários pretextos. Mas o Sumo Pontífice, mediante uma bula, declarou legítima e conforme aos decretos de Latrão a existência legal da Ordem dos Carmelitas, e a autorizou a continuar suas fundações na Europa. São Simão participou do Capítulo Geral da Ordem na Terra Santa, em 1237. Em um novo Capítulo, em 1245, foi eleito 6° Prior-Geral dos Carmelitas. Após a algum tempo de calmaria, as perseguições reiniciaram com mais intensidade. Na falta de auxílio humano, São Simão recorria à Virgem Santíssima com toda a tristeza de seu coração, pedindo-Lhe que fosse solícita à sua Ordem, tão provada, e que desse um sinal de sua aliança com ela. Na manhã do dia 16 de julho de 1251, suplicava com maior empenho à Mãe do Carmelo sua proteção, recitando a bela oração por ele composta: "Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!". Terminada esta prece, levanta os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz. Rodeada de anjos, em grande cortejo, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário dizendo a São Simão Stock, com inexprimível ternura maternal: “‘Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário de tua Ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno’’. Essa graça especialíssima foi imediatamente difundida nos lugares onde os carmelitas estavam estabelecidos, e autenticada por muitos milagres que, ocorrendo por toda parte, fizeram calar os adversários dos Irmãos da Santíssima Virgem do Monte Carmelo. São Simão Stock atingiu extrema idade e altíssima Santidade, operando inúmeros milagres, tendo também obtido o dom das línguas; foi chamado a Pátria Celeste por Deus em 16 de maio de 1265.

 

182º - Alexandre IV - 1254 – 1261

              Alexandre IV foi Papa de 12 de dezembro de 1254 até a data da sua morte em 25 de maio de 1261. Chamava-se Reginaldo (ou Reinaldo, Rinaldo) Conti. Foi elevado a Cardeal pelo seu tio, o Papa Gregório IX, em 1227. Prosseguiu a guerra contra os descendentes do Imperador Frederico II. Opôs-se à sucessão no trono Imperial alemão de Conradino. Viveu quase sempre fora de Roma, por causa do conflito entre guibelinos e guelfos. Ocupou-se do governo da Igreja, procurando a união com as igrejas gregas. Promoveu a influência dos franciscanos, intervindo na universidade de Paris em favor desta ordem mendicante, e também dos dominicanos. Após submeter a uma comissão de Cardeais, concluiu que a obra de Guillaume Saintamour era reprovável em todos os seus aspectos. Após a bula Ad Extirpanda, de Inocêncio IV, autorizando a tortura, mas não pelas mãos dos próprios clérigos, o Papa Alexandre IV na bula Ut Negotium de 1256, permitiu que os inquisidores se absolvessem mutuamente se tivessem incorrido em quaisquer "irregularidades canônicas no seu importante trabalho". Bispo de Óstia, nomeado Cardeal (1227) pelo tio, o Papa Gregório IX, após eleito renovou em 1255, a investidura do Reino de Nápoles para Edmundo, filho de Henrique III, da Inglaterra. Entrou em conflito com Manfredo da Suábia, filho do Imperador Frederico II, e o excomungou quando este autocoroou-se rei da Sicília e das Puglie, em Palermo (1258). Também decretou a excomunhão (1260) aos senenses e aos gibelinos florentinos por estes se aliarem a Manfredo, para derrotar Florença, em Montaperti. Deu novo impulso à repressão da heresia prescrevendo o procedimento sumário para a heresia e condenou os flagelantes (1257). Empenhou-se pela união das Igrejas, canonizou Santa Clara e confirmou a realidade dos estigmas de São Francisco. Os conflitos insuperáveis com a administração romana liderada pelo capitão do povo Brancaleone degli Andalò, foi obrigado a deixar a cidade e fugir para Viterbo. Morreu em 25 de maio, em Viterbo e foi sucedido por Urbano IV. Os agostinianos eremitas de Santo Agostinho, a Ordo eremitarum Sancti Augustini, originada da congregações de eremitas da Itália central e setentrional nos séculos XII e XIII, foram reunidas em uma ordem religiosa mendicante por este Papa em 1256. A Ordem difundiu-se por toda a Europa e desenvolveu uma importante escola teológica ocupando cátedras nas principais universidades de Paris, Oxford, Praga, Viena, Pádua, Pisa, Wittenberg. São Nicolau de Tolentino e Martinho Lutero foram agostinianos eremitas.

 

183º - Urbano IV - 1261 - 1264

               Papa Urbano IV, nascido Jacques Pantaléon, foi o chefe da Igreja Católica e governante dos Estados Papais de 29 de agosto de 1261 até sua morte. Foi eleito Papa sem ser Cardeal; ele foi o primeiro a ser eleito de tal forma, e isso ocorreria apenas para mais 3 Papas depois (Gregório X, Urbano V e Urbano VI). Pantaléon era filho de um sapateiro de Troyes, França. Ele estudou teologia e direito consuetudinário em Paris e foi nomeado Cônego de Laon e mais tarde Arquidiácono de Liège. No Primeiro Concílio de Lyon (1245), atraiu a atenção do Papa Inocêncio IV, que o enviou duas vezes em missões à Alemanha. Numa dessas missões, ele negociou o Tratado de Christburg entre os prussianos pagãos e os Cavaleiros Teutônicos. Tornou-se Bispo de Verdun em 1253. Em 1255. O Papa Alexandre IV fez dele Patriarca Latino de Jerusalém. Pantaléon voltou de Jerusalém, que estava em apuros, e voltou para Viterbo em busca de ajuda para os cristãos oprimidos no Oriente quando Alexandre IV morreu. Após uma vacância de três meses, os oito Cardeais do Sagrado Colégio o escolheram para suceder Alexandre IV nas eleições Papais em 29 de agosto de 1261. Ele escolheu como nome de reinado Urbano IV. Um mês antes da eleição de Urbano, o Império Latino de Constantinopla, fundado durante a malfadada Quarta Cruzada contra os bizantinos, caiu nas mãos dos bizantinos liderados pelo imperador Miguel VIII Paleólogo. Urbano IV tentou, sem sucesso, iniciar uma cruzada para restaurar o Império Latino. Urbano iniciou a construção da Basílica de St. Urbain, Troye, em 1262. Ele instituiu a festa de Corpus Christi em 11 de agosto de 1264, com a publicação da bula Papal Transiturus. Urbano pediu a Tomás de Aquino, o teólogo dominicano, que escrevesse os textos para a missa e o ofício da festa. Isso incluía hinos famosos como Pange lingua, Tantum ergo e Panis angelicus. Urbano envolveu-se nos assuntos da Dinamarca. Jakob Erlandsen, Arcebispo de Lund, queria tornar a Igreja dinamarquesa independente do poder real - o que o colocou em confronto direto com a Rainha viúva Margarida Sambiria, atuando como regente de seu filho, o rei Érico V da Dinamarca. A Rainha prendeu o Arcebispo, que respondeu emitindo uma interdição. Ambos os lados procuraram o apoio do Papa. O Papa concordou com vários pedidos da Rainha. Ele emitiu uma dispensa para alterar os termos da sucessão dinamarquesa para permitir que as mulheres herdassem o trono dinamarquês. No entanto, as principais razões do conflito permaneceram sem solução com a morte de Urbano, com o caso continuando na corte Papal em Roma. O exilado Arcebispo Erlandsen veio pessoalmente à Itália em busca de uma solução. No entanto, os complicados assuntos da Dinamarca eram uma preocupação menor para o Papa. Sua atenção estava voltada para os assuntos italianos. Durante o pontificado anterior, o longo confronto entre o Papa e o falecido imperador alemão de Hohenstaufen, Frederico II, alimentou confrontos entre cidades dominadas por gibelinos pró-Imperiais e aquelas dominadas por facções guelfas pró-Papais. O herdeiro de Frederico II, Manfred, ficou absorvido nesses confrontos. O capitão militar de Urbano era o condottiere Azzo d' Este, que liderava uma liga de cidades, incluindo Mântua e Ferrara. Os Hohenstaufen na Sicília tinham reivindicações sobre as cidades da Lombardia. Para contrariar a influência de Manfredo, Urbano apoiou Carlos I, Conde de Anjou na tomada do Reino da Sicília, porque era receptivo ao controle Papal. Carlos era Conde da Provença devido ao casamento e era muito poderoso. Urbano negociou com Manfredo durante dois anos para buscar seu apoio para reconquistar Constantinopla em troca do reconhecimento Papal de seu Reino. Ao mesmo tempo, o Papa prometeu navios e homens a Carlos através de um dízimo da cruzada. Em troca, Carlos prometeu não reivindicar terras imperiais no norte da Itália, nem nos Estados Papais. Carlos também prometeu restaurar o censo anual ou o tributo feudal devido ao Papa como suserano, sendo acordadas cerca de 10.000 onças de ouro, enquanto o Papa trabalharia para bloquear a eleição de Conradinp para Rei dos Alemães. Urbano IV morreu em Perugia em 2 de outubro de 1264, antes da chegada de Carlos à Itália. Seu sucessor, o Papa Clemente IV, deu continuidade aos seus acordos.

 

184º - Clemente IV - 1265 - 1268 

               Clemente IV, nascido Guy Foulques, foi Papa de fevereiro de 1265 a 29 de novembro de 1268. Soldado e advogado, nesta última qualidade foi secretário de Luís IX na França, a cuja influência deve provavelmente a sua eleição. Está sepultado em Viterbo. Era militar e secretário do Rei Luís IX. Eleito, excomungou Corradino da Suécia, mas isto não impediu a ocupação de Roma e Nápoles. Manfredo (1232-1266), filho do Imperador Frederico II e neto de Henrique VI e sua esposa Constância, assumiu o reino da Apulia e da Sicília após a morte do seu pai em 1250. Foi afastado do poder por seu meio-irmão Conrado IV, mas na morte deste, retomou o poder e foi coroado em Palermo (1258). Manfredo tinha grande popularidade entre seus súditos mas a Igreja, não o reconhecia seu direito ao trono. Considerado um guibelino e um herege, foi excomungado pelo Papa que indicou para ocupar o seu lugar Carlos de Anjou. Carlos invadiu a Itália (1265) com o exército do Papa e depôs e matou Manfredo na batalha de Benevento (1266). O Papa mandou o Bispo de Cosenza desenterrar o corpo de Manfredo e transferi-lo para fora das terras da Igreja. Ordenou em 1264, que fossem queimados todos os manuscritos talmúdicos que fossem encontrados e nomeou uma comissão que haveria de encarregar-se de expurgar do Talmud as passagens que considerassem ofensivas à Igreja. Papa de número 184, morreu em 29 de novembro de 1268, morreu em Viterbo e sepultado na Igreja de São Francisco de Viterbo.

 

185º - Gregório X - 1271 - 1276  

               Gregório X, nascido Tedaldo Visconti, OCist (Placência, 1210 — Arezzo, 10 de Janeiro de 1276). O conclave que o elegeu foi o mais longo da história da Igreja, durando quase três anos. Teobald Visconti foi monge da Ordem Cisterniense. Italiano de nascimento, gastou a maioria de sua carreira Eclesiástica nos Países Baixos. Era um homem severo e de grande dignidade. Foi amigo de São Tomás de Aquino e conselheiro dos Reis da Inglaterra e da França. Sucedeu ao Papa Clemente IV após três anos de Sé Vacante, devido às divisões entre os Cardeais. Os Cardeais franceses e italianos igualmente rachados quiseram um Papa de seu país devido à situação política com Carlos de Anjou. O "beco sem saída" foi quebrado finalmente quando os cidadãos de Viterbo, onde os Cardeais estavam reunidos, removeram o telhado do edifício onde os Cardeais estavam reunidos e lá entraram, somente permitindo-lhes comer pão e água. Três dias mais tarde, o Papa Gregório X foi eleito. (Desde então, os Cardeais escolheram sempre o Papa sob o fechamento e a chave). Gregório X foi considerado uma escolha forte porque embora fosse italiano, tinha passado parte da sua vida no norte dos Alpes e assim não estava envolvido em controvérsias políticas italianas recentes. Sua eleição veio como uma surpresa completa a ele, pois quando eleito estava envolvido na Nona Cruzada a São João de Acre com Eduardo I de Inglaterra na Palestina. Ajudou os irmãos Nicollo e Mateo Polo, tio e pai de Marco Polo, quando eles voltavam da China - governada por Kublai Khan - à sua pátria, a cidade de Veneza. Promulgou a Bula De Regno Portugaliae em 1276, que excomungava o Reino de Portugal, e o rei português D. Afonso III, o Bolonhês, devido a desentendimentos entre o reino e a Igreja. À chegada à Roma o seu primeiro ato foi reunir um concílio que teve lugar em Lyon em 1274 que debateu a condição da Terra Santa, os abusos na Igreja Católica, e o Grande Cisma que separou a Igreja Católica da Ortodoxia Oriental. Foi no regresso de uma das sessões do concílio que faleceu, em Arezzo. A Gregório X se deve a bula Ubi periculum, subsequentemente incorporada no Código de Direito Canônico, que continua a regular os conclaves para a eleição Papal. O Papa Gregório X foi beatificado em 1713.

 

186º - Inocêncio V - 1276

               O Papa Inocêncio V (c. 1225 - 22 de junho de 1276), nascido Pierre de Tarentaise, foi Papa de 21 de janeiro a 22 de junho de 1276. Membro da Ordem dos Pregadores, ele adquiriu uma reputação de pregador eficaz. Ele ocupou uma das duas "Cadeiras Dominicanas" da Universidade de Paris e foi fundamental para ajudar a elaborar o "programa de estudos" da Ordem. Em 1269, Pedro(Pierre) de Tarentaise foi provincial da província francesa dos dominicanos. Ele foi um colaborador próximo do Papa Gregório X, que o nomeou Bispo de Ostia e o elevou a Cardeal em 1273. Com a morte de Gregório, em 1276, Pedro foi eleito Papa, tomando o nome de Inocêncio V. Ele morreu cerca de cinco meses depois, mas durante seu breve mandato facilitou a paz entre Gênova e o rei Carlos I da Sicília. Pedro de Tarentaise foi beatificado em 1898 pelo Papa Leão XIII. Ele nasceu por volta de 1225, perto de Moûtiers, na região de Tarentaise do Condado de Saboia. Uma hipótese popular alternativa, no entanto, sugere que ele nasceu em La Salle, no vale de Aosta, na Itália. Ambos os lugares faziam parte do Reino de Arles no Sacro Império Romano-Germânico, mas agora o primeiro é no sudeste da França e o segundo no noroeste da Itália. No início da vida, por volta de 1240, ele ingressou na Ordem Dominicana em seu convento em Lyon. No verão de 1255, ele foi transferido para o studium generale do convento de S. Jacques em Paris. Essa mudança foi essencial para alguém que provavelmente estudaria na Universidade de Paris. Ele obteve o grau de Mestre em Teologia, e rapidamente adquiriu grande fama como pregador. Entre 1259 e 1264, ele ocupou a "Cadeira dos franceses", uma das duas cadeiras (cátedras) atribuídas aos dominicanos. Em 1259, Pedro participou, talvez por causa de seu status como um mestre em Paris, talvez como uma eleito Definidor (delegado) para a Província da França, no Capítulo Geral da Ordem Dominicana em Valenciennes, sob a liderança do Mestre Geral, Humberto de Romans. Pedro participou junto com Alberto Magno, Tomás de Aquino, Bonushomo Britto, e Florentius. Este Capítulo Geral estabeleceu um ratio studiorum, ou programa de estudos, o que era para ser implementada para toda a Ordem Dominicana, que apresentava o estudo da filosofia como um preparativo para aqueles que não eram suficientemente treinados para estudar teologia. Essa inovação iniciou a tradição da filosofia escolástica dominicana, que deveria ser posta em prática em todos os conventos dominicanos, se possível, por exemplo, em 1265, no studium provinciale da Ordem, no convento de Santa Sabina, em Roma. Esperava-se que cada convento tivesse alguém eleito para supervisionar os estudos preparatórios e um mestre eleito para estudos teológicos. No ano seguinte, ele recebeu o título de pregador geral.

               Em 1264, um novo Mestre-geral da Ordem dos Pregadores foi eleito, João de Vercelli. Foi uma oportunidade para se envolver em algumas políticas acadêmicas, já que Humberto de Romans, o patrono de Pedro, estava morto. Cento e oito das declarações de Pedro em seu Comentário sobre as frases de Peter Lombard foram denunciadas como heréticas. Mas, embora Pedro tenha se retirado de seu cargo de professor, João de Vercelli nomeou Tomás de Aquino para escrever uma defesa das 108 proposições. A reputação de Pedro era tal que ele foi imediatamente eleito provincial da província francesa por um período de três anos (1264-1267). Ele foi libertado do cargo no Capítulo Geral, realizado em Bolonha em maio de 1267. No final de seu mandato, e após a divulgação da réplica de Tomás de Aquino aos seus críticos, Peter retornou à sua cátedra na Universidade de Paris (1267). Em 1269, ele foi reeleito para o cargo de provincial da província francesa e ocupou o cargo até ser nomeado Arcebispo de Lyon. Em 6 de junho de 1272, o próprio Papa Gregório X nomeou Pedro de Tarantaise como Arcebispo de Lyon, cargo que ocupou até ser nomeado Bispo de Óstia. Dizem, no entanto, que Pedro nunca foi consagrado. No entanto, prestou juramento de lealdade no início de dezembro de 1272 ao rei Filipe III da França. O próprio Papa Gregório chegou a Lyon em meados de novembro de 1273, com a intenção de levar o máximo de prelados possível ao seu planejado concílio ecumênico. Ele se encontrou imediatamente com o rei Filipe III da França. Suas conversas eram obviamente harmoniosas, já que Filipe cedeu à Igreja o Condado Venaissino, que ele herdou de seu tio Alphonse, conde de Toulouse. O Segundo Concílio de Lyon foi aberto em 1 de maio de 1274. A primeira sessão foi realizada na segunda-feira, 7 de maio. Os principais itens da agenda foram a Cruzada e a reunião das Igrejas Orientais e Ocidentais.

               Pedro de Tarantaise foi elevado a Cardeal em 3 de junho de 1273, em um Consistório realizado em Orvieto pelo Papa Gregório X, e nomeado Bispo do subúrbio Sé de Óstia. Ele participou do Segundo Concílio de Lyon. Durante o Concílio, ele cantou a Missa Funeral e proferiu o sermão no funeral do Cardeal Boaventura, Bispo de Albano, morto em 15 de julho de 1274, e foi enterrado no mesmo dia na Igreja dos Franciscanos de Lyon. O Papa Gregório, os Padres do Concílio e a Cúria Romana participaram. Após a conclusão do Concílio, o Papa Gregório passou o outono e o inverno em Lyon. Ele e sua suíte partiram de Lyon em maio de 1275; deixou Vienne pouco depois de 30 de setembro de 1275 e chegou a Lausana em 6 de outubro. Lá ele se encontrou com o Imperador eleito Rudolph, rei dos romanos, e em 20 de outubro recebeu seu juramento de lealdade. Havia sete Cardeais com o Papa na época, e seus nomes são mencionados no registro do juramento: Petrus Ostiensis, Ancherus Pantaleone de S. Prassede, Guglelmus de Bray de S. Marco, Ottobono Fieschi de S. Adriano, Giacomo Savelli de S. Maria em Cosmedin, Gottifridus de Alatri de S. Giorgio em Velabro e Mattheus Rosso Orsini de S. Maria em Porticu. A festa chegou a Milão na terça-feira, 12 de novembro de 1275, e Florença, no dia 18 de dezembro. O partido Papal chegou a Arezzo a tempo do Natal, mas o Papa estava fraco e doente. A estadia em Arezzo foi prolongada até a morte de Gregório X, em 10 de janeiro de 1276. Apenas três Cardeais estavam em seu leito de morte: Pedro de Tarantaise, Pedro Juliani de Tusculum e Bertrand de Saint-Martin de Sabina, todos os Cardeais-Bispos. Segundo a Constituição Ubi periculum, aprovada pelo Concílio de Lyon, o Conclave para eleger seu sucessor deve começar dez dias após a morte do Papa. Após os dez dias exigidos, os Cardeais se reuniram na Vigília de Santa Inês (20 de janeiro) para ouvir a habitual Missa do Espírito Santo. Na manhã seguinte, 21 de janeiro, o Cardeal Petrus foi a escolha unânime dos eleitores, na primeira votação (escrutínio). Pedro de Tarantaise foi o primeiro dominicano a se tornar Papa. Ele escolheu o nome Pontifício de "Inocêncio". Sua decisão seria coroada em Roma, que não via Papa desde a partida de Gregório X na terceira semana de junho de 1272. Em 7 de fevereiro, a Cúria Papal havia chegado a Viterbo. O rei Carlos de Nápoles foi até Viterbo para encontrar o novo Papa e acompanhá-lo até Roma. Em 22 de fevereiro de 1276, festa da Cadeira de São Pedro, ele foi coroado na Basílica do Vaticano pelo Cardeal Giovanni Gaetano Orsini. Em 2 de março de 1276, o Papa Inocêncio concedeu ao rei Carlos I da Sicília o privilégio de manter a Senatoria de Roma, o governo da cidade e a Reitoria de Tuscia. Em uma carta de 4 de março, o Papa testemunha que o rei Carlos havia jurado lealdade pelo Reino de Nápoles e da Sicília. Em 9 de março, ele escreveu a Rudolf, rei dos romanos, implorando que ele não viesse à Itália e, se ele já havia começado sua jornada, interrompê-la, até que um acordo entre ele e o Papado pudesse ser finalizado. Isso significava que a coroação de Rudolf, que fora aprovada por Gregório X, não ocorreria imediatamente. No dia 17, ele escreveu novamente ao rei dos romanos, aconselhando-o a encontrar-se com os núncios Papais, e que, em suas negociações, ele não deveria, de maneira alguma, introduzir o tópico do Exarcado de Ravena, Pentápolis e Romandiola. Parecia extorsão. O favoritismo dos inocentes franceses em relação ao rei Carlos, irmão de Luís IX e tio de Filipe III, e sua dureza em relação a Rudolf começaram a mudar novamente o equilíbrio de poder na Itália e apontaram na direção da guerra. Papa Gregório no dia 26, ordenou aos Bispos de Parma e Comacchio que providenciassem a instalação de Boniface de Lavania (Lavagna) como Arcebispo de Ravena, como o Papa Gregório X havia decidido. Inocêncio foi capaz de organizar um tratado de paz entre Gênova e o rei Carlos I, assinado em 18 de junho de 1276. Em 18 de maio de 1276, o Papa Inocêncio V notificou o rei Filipe III de França que havia indicado seu amigo pe. Guy de Sully, OP, provincial dominicano de Paris (cargo que o próprio Inocêncio ocupou até 1272, quando foi nomeado Arcebispo de Lyon), junto à Sé de Bourges. Uma característica notável de seu breve pontificado foi a forma prática assumida por seu desejo de se reunir com a Igreja Oriental. Ele escreveu a Miguel VIII Paleólogo, informando-o da morte de Gregório X e desculpando-se pelo fato de que os representantes do imperador, George, o Arquidiácono de Constantinopla, e Theodore, o dispensador da Cúria Imperial, ainda não haviam sido libertados para retornar a Constantinopla. Ele estava enviando legados a Miguel VIII Paleólogo, o Imperador bizantino, em conexão com as recentes decisões do Segundo Concílio de Lyon, na esperança de intermediar uma paz entre Constantinopla e o rei Carlos I da Sicília. O rei Carlos, no entanto, estava interessado na conquista, não na concordância. Inocente estava interessado em enviar pessoas para negociar a reunião. Ele nomeou pe. Bartolommeo, O. Min., de Bolonha, um sábio das Sagradas Escrituras, para viajar para o Oriente, mas ele ordenou que ele viesse primeiro a Roma, para que um conjunto adequado pudesse ser escolhido para ele. A morte interveio. O Papa Inocêncio V morreu em Roma em 22 de junho de 1276, após um reinado de cinco meses e um (ou dois) dias. Ele foi enterrado na Arquibasílica de São João de Latrão, em uma magnífica tumba construída pelo rei Carlos. Infelizmente, a tumba foi destruída pelos dois incêndios do século XIV na Basílica, em 1307 e 1361. Inocêncio V não havia criado novos Cardeais e, portanto, o elenco de personagens no Conclave de julho de 1276 era o mesmo de janeiro. O rei Carlos, no entanto, esteve em Roma o tempo todo e ocupou o cargo de senador de Roma, como governador do Conclave. Seus desejos não podiam ser ignorados. Papa Inocêncio V foi o autor de várias obras de filosofia, teologia e direito canônico, incluindo comentários sobre as epístolas paulinas, e nas Sentenças de Peter Lombard. Ele às vezes é chamado de médico famoso. O Papa Leão XIII beatificou Pedro de Tarantaise (Inocêncio V) em 9 de março de 1898.

 

187º - Adriano V - 1276

               Papa da Igreja Cristã Romana nascido em Gênova, que tentou abolir o severo regulamento de Gregório X para o conclave. Foi nomeado Cardeal pelo tio Inocêncio IV, posteriormente tornou-se legado de Clemente IV na Inglaterra (1265-1267). Com a morte de Inocêncio V (1276), Carlos de Anjou, que, como senador da cidade, era responsável pela vigilância, pôs os Cardeais a pão e água para apressar as decisões de um conclave que já durava oito dias. Foi eleito em 11 de julho e logo pôs ordem nas regras eclesiásticas e procurou modificar e abolir as normas do conclave implantadas por seu antecessor Gregório X, mas não teve tempo e elas voltaram a vigorar para a indicação de seu sucessor. O Papa de número 187, morreu em 18 de agosto, em Viterbo, pouco depois de um mês de um curtíssimo pontificado, inclusive antes de ser consagrado, e foi sucedido por João XXI, que também quis abolir essas leis, e igualmente foi surpreendido pela morte. Basicamente a norma principal era que para a eleição eram necessários dois terços dos votos. Ninguém podia votar em si mesmo. Cada Cardeal colocava o seu nome num lado da cédula, e o nome do eleito do outro lado.

 

188º - João XXI - 1276 - 1277

               João XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, (Lisboa, 1215 – Viterbo, 20 de maio de 1277) foi Papa desde 20 de setembro de 1276 até a data da sua morte, tendo sido também um famoso médico, filósofo, teólogo, professor e matemático português do século XIII. Adoptou sucessivamente os nomes de Pedro Julião como nome de batismo, Pedro Hispano como acadêmico e João XXI como Pontífice. João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecumênico de Lyon. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os Cardeais presentes no conclave que o elegera. Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos. Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Germânia e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso. Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa Divina Comédia, coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de "aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados escritos pelo erudito Pontífice português. O rei Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de Dom Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista físico e naturalista'. Mais dado ao estudo que às tarefas Pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de Viterbo, onde morre a 20 de maio de 1277, vitimado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento, estando o Palácio Apostólico em obras. É sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade. No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados para um modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares então seu presidente, o mausoléu é colocado a título definitivo, do lado do Evangelho na Catedral de Viterbo, a 28 de março de 2000.

 

189º - Nicolau III - 1277 - 1280

               Nicolau III nascido Giovanni Gaetano Orsini, O.S.B. (1216 — 22 de Agosto de 1280) foi Papa entre 25 de novembro de 1277 até a data da sua morte.  Nobre romano, que serviu sob as ordens de oito Papas, foi feito Cardeal-diácono pelo Papa Inocêncio IV (1243-54), protetor dos Franciscanos pelo Papa Alexandre IV (1254-61) e inquisidor-geral pelo Papa Urbano IV (1261-64). Após a morte do seu antecessor, o Vaticano ficou cerca de seis meses sem Papa. Foi eleito em 25 de novembro de 1277. O seu breve pontificado foi marcado por vários acontecimentos importantes. Político nato, fortaleceu consideravelmente a posição Papal na Itália. Concluiu uma concordata com Rodolfo I de Habsburgo (1273-91) em maio de 1278, na qual as regiões da Romanha e de Ravena foram garantidas ao Papa. Nicolau III compôs a bula Exiit em 14 de Agosto de 1279 para resolver o conflito interno da Ordem Franciscana, entre os partidários da observância estrita e liberal. Com enormes custos, reparou o Palácio de Latrão e o Vaticano, e construiu uma bela casa de campo em Soriano, na Itália, nos arredores de Viterbo. Nicolau III, apesar de ser descrito como um homem culto e com uma forte personalidade, terá sido vítima de censuras devido aos seus esforços para fundar principados para os seus sobrinhos e outras personalidades. Ele mesmo parente do Papa Celestino III, ainda teve um parente Papa, Bento XIII, descendente de um dos seus irmãos. Morreu de Apoplexia, em 22 de agosto de 1280.

 

190º - Martinho IV - 1281 - 1285

               Papa Martinho IV nascido Simon de Brion (ca. 1220 — 28 de Março de 1285), foi Papa de 22 de Fevereiro de 1281 até o dia da sua morte. Simon de Brion nasceu na França, em Château Montpensier, província de Touraine, cerca do ano de 1210. Foi padre em Rouen durante algum tempo, e depois serviu como Cânone e tesoureiro na igreja de S. Martinho em Tours. Em 1260, o rei Luís IX de França nomeou-o chanceler da França. Em Dezembro de 1262, foi feito padre-Cardeal (com o titulus da igreja de Santa Cecília) pelo Papa Urbano IV. Voltou a França como legado papal de Urbano IV e depois do seu sucessor, Papa Clemente IV, nas negociações para o apoio Papal de Carlos de Anjou, com quem estabeleceu uma forte ligação política, à Coroa da Sicília. Posteriormente, o Papa Gregório X enviou-o novamente à França como legado para conter os abusos da Igreja Católica no país; lá, presidiu a vários sínodos sobre reformas, sendo o mais importante destes o de Bourges em Setembro de 1276. Seis meses depois da morte do Papa Nicolau III em 1280, Carlos de Anjou interveio no conclave Papal de Viterbo, aprisionando dois Cardeais italianos influentes, com o argumento de que estes estavam a interferir na eleição. Sem esta oposição, Simon de Brie foi eleito com unanimidade, tomando o nome Martinho IV. Viterbo foi colocada sob interdito (penalidade Eclesiástica que suspende todas as celebrações e retira os sacramentos da igreja de um território ou país) pelo aprisionamento dos Cardeais. Roma não desejava aceitar um odiado francês como Papa, por isso Martinho IV foi coroado em Orvieto, em 23 de Março de 1281. Apesar de ser apenas o segundo Papa a escolher o nome de Martinho, no século XIII os tribunais Papais confundiram os nomes dos dois papas Marinho como Martinho. Assim, é conhecido como Martinho IV, e os Papas Marinho I (882-884) e Marinho II (942-946) com o nome de Martinho. Dependente de Carlos de Anjou em quase tudo, o novo Papa nomeou-o rapidamente para o cargo de Senador Romano. Sob a insistência deste, Martinho IV excomungou o Imperador de Bizâncio, Miguel VIII Paleólogo (1261-82), que obstava aos planos de Carlos para restaurar o Império Latino do Oriente, estabelecido depois da Quarta Cruzada. Quebrou assim a tênue união alcançada entre as igrejas grega e latina no Segundo Concílio de Lyon em 1274, e não foram possíveis mais negociações. Em 1282, Carlos foi deposto no violento massacre conhecido como as Vésperas Sicilianas. Os Sicilianos elegeram Pedro III de Aragão (1276-85) como rei e pretenderam, em vão, a confirmação Papal, apesar de estarem dispostos a reconfirmar a Sicília como estado vassalo do Papado; Martinho IV usou todos os recursos espirituais e materiais ao seu dispor contra o Aragonês, tentando preservar a Sicília para a Casa de Anjou. Excomungou Pedro III, declarou o seu reino de Aragão inválido e ordenou uma cruzada contra o mesmo, mas foi tudo em vão. Com a morte do seu protetor Carlos de Anjou, Martinho teve que abandonar Roma e foi para Perúgia, onde faleceu, a 28 de Março de 1285. Entre os sete Cardeais criados por Martinho IV estava Benedetto Gaetano, que posteriormente ascendeu ao Trono Papal como o famoso Papa Bonifácio VIII (1294-1303).

 

191º - Honório IV - 1285 - 1287

               Papa Honório IV, nascido Giacomo Savelli; (Roma, 1210 — Roma, 3 de abril de 1287), foi Papa de 2 de abril de 1285 até a data da sua morte. Pertencia a uma rica e influente família romana de onde já tinham saído quatro Papas: Bento II, Gregório II, Papa Eugênio II e Honório III. Embora dotado de boa capacidade política, teve poucos meses para mostrar a força da Igreja em seu Pontificado e não conseguiu elevar o prestígio da instituição Papal. Romano, da nobre família dos Savelli e sobrinho de Honório III, eleito Papa, sua primeira preocupação foi a de pôr ordem no estado Pontifício. Procurou estabelecer a ordem em Roma e, no Sul da Itália, apoiou a Casa de Anjou contra os aragoneses pela posse da Sicília. Procurou limitar os abusos do governo francês e garantir maiores liberdades individuais aos súditos. Promoveu uma nova expedição dos Anjou em águas sicilianas (1287), para pôr fim à revolta da Sicília, que começara com o tumulto das Vésperas (1282), porém teve um fim desastroso. Também procurou eliminar os conflitos que desde o Pontificado de Martinho IV, haviam separado o Papado de várias cidades e senhores. Em termos culturais, introduziu o estudo dos idiomas orientais na Universidade de Paris, à qual inicialmente ordenou que iniciasse os estudos do árabe, a fim de explicar a fé errônea dos muçulmanos em sua própria língua. Tentou se aproximar da Igreja grega e projetou um acordo com os muçulmanos. Reconheceu a ordem dos Carmelitas, foi amigo e Patrono dos franciscanos, dominicanos e aprovou a ordem dos agostinianos.

 

192º - Nicolau IV - 1288 - 1292

               O Papa Nicolau IV (30 de setembro de 1227 — 4 de abril de 1292), nasceu Girolamo Masci, Papa desde 22 de fevereiro de 1288 até sua morte. Ele foi o primeiro franciscano a ser eleito Papa. Após a morte do Papa Honório IV em 3 de abril de 1287, o Conclave foi realizado em Roma, no Palácio Papal ao lado de Santa Sabina, no Monte Aventino, onde o Papa Honório havia morrido. Isso estava de acordo com a Constituição Ubi periculum assim os sobreviventes elegeram por unanimidade Girolamo Masci, para o Papado no primeiro escrutínio. Dizem que os Cardeais ficaram impressionados com sua firmeza em permanecer no Palácio Papal, mas não há documentação real sobre seus motivos. Como ele admitiu em seu manifesto eleitoral, o Cardeal Masci estava extremamente relutante em aceitar, e, de fato, ele persistiu em sua recusa por uma semana inteira. Finalmente, em 22 de fevereiro, ele cedeu e concordou. Ele se tornou o primeiro Papa franciscano e escolheu o nome Nicolau IV em memória de Papa Nicolau III, que o tornara Cardeal. Dadas as consideráveis perdas para os números do Colégio Sagrado em 1286 e 1287, não surpreende que Nicolau IV tenha rapidamente preenchido as vagas. O que é surpreendente é que ele nem sequer alcançou o número de Cardeais que estavam vivos sob Honório IV, muito menos o excedeu. Em 16 de maio de 1288, nomeou seis novos Cardeais: Bernardus Calliensis, bispo de Osimo (morto em 1291), Hugues Aiscelin (Seguin) de Billon, OP, da diocese de Clermont, na Auvergne; Mateus de Aquasparta, na Toscana, Ministro Geral dos Franciscanos desde 1287; Pietro Peregrosso de Milão, vice-chanceler da Santa Igreja Romana; Napoleone Orsini; e Pietro Colonna. Nicolau IV emitiu uma importante constituição em 18 de julho de 1289, que concedeu aos Cardeais metade de toda a receita proveniente da Santa Sé e uma parte na gestão financeira, abrindo caminho para a independência do Colégio de Cardeais que, no século seguinte, seria prejudicial ao Papado. Quanto à questão da sucessão siciliana, como soberano feudal do reino, Nicolau anulou o tratado, concluído em 1288 por meio da mediação de Eduardo I de Inglaterra, que confirmou Jaime II de Aragão na posse da ilha da Sicília. Este tratado não atendeu adequadamente aos interesses Papais. Em maio de 1289, ele coroou o rei Carlos II de Nápoles e Sicília depois que este reconheceu expressamente a soberania Papal, e em fevereiro de 1291 concluiu um tratado com os reis Afonso III de Aragão e Filipe IV de França, olhando para a expulsão de Tiago da Sicília. Em 1288, Nicolau se encontrou com o cristão nestoriano Rabban Bar Sauma da China. Em agosto de 1290, ele concedeu à universidade o status de Studium Generale que o rei Dinis I de Portugal acaba de fundar alguns meses antes, na cidade de Lisboa. A perda do Acre em 1291 levou Nicolau IV a renovar o entusiasmo por uma cruzada. Ele enviou missionários, entre eles o franciscano João de Montecorvino, para trabalhar entre búlgaros, etíopes, mongóis, tártaros e chineses. Nicolau IV morreu em Roma, em 4 de abril de 1292, no Palácio que ele havia construído ao lado da Basílica da Libéria (S. Maria Maggiore), onde foi enterrado. Seu epitáfio diz: "Aqui está Nicolas IV, filho de São Francisco".

 

193º - São Celestino V - 1294

               Papa São Celestino proveniente da ordem beneditina, Papa de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294. Nascido Pietro del Murrone, na região de Abruzzi, na Itália, décimo primeiro filho de pais camponeses, era simples eremita sob a regra de S. Bento, na ocasião em que o elegeram Papa, aos 85 anos de idade, na Perugia, depois de uma vacância de 27 meses. Após a morte de Nicolau IV em 4 de abril de 1292, os doze Cardeais-eleitores, divididos, por lealdade de família, entre os Orsini e os Collona, não conseguiram reunir os dois terços de votos necessários para a eleição. Duas vezes diversos deles saíram de Roma para fugir ao calor abrasador, enquanto os Cardeais da poderosa família Collona ficaram para trás e tentaram realizar uma eleição sozinhos. Em outubro de 1293, o conclave tornou a se reunir em Perugia e aumentou a pressão sobre os Cardeais para que elegessem alguém, com pressão de Carlos II, rei da Sicília e de Nápoles, e de distúrbios em Roma e na região de Orvieto. Em 5 de julho de 1294, o decano do Colégio de Cardeais citou uma profecia do renomado eremita Pietro del Murrone segundo a qual os Cardeais sofreriam o castigo divino, se não escolhessem logo um Papa. O Cardeal-decano também anunciou que votaria em Pietro. Gradativamente, a margem de Pietro alcançou dois terços e depois a unanimidade. Ele foi saudado como o "Papa angélico", com base em um sonho do século XIII, de um Papa que anunciaria a era do Espírito Santo.

          Carlos II e seu filho escoltaram-no, montado em um burrico, até L'Aquila (cidade nos domínios de Carlos), onde Pietro foi consagrado Bispo de Roma em sua igreja de Santa Maria di Collemaggio, em 29 de agosto. Adotou o nome Celestino V. Carlos providenciou para que o novo Papa fosse residir em Nápoles, no Castel Nuovo, não em Roma, como a Cúria exigia. De Nápoles, Celestino fazia tudo que Carlos lhe ordenava: colocou homens da confiança dele em cargos importantes na Cúria e nos Estados Pontifícios, nomeou doze Cardeais que Carlos propôs, inclusive sete franceses, e nomeou o filho de Carlos, Luís de Toulouse, Arcebispo de Lyon. Também reintroduziu as regras de conclave instituídas por Gregório X, que faziam do Rei o guardião da eleição Papal seguinte. Inculto (não falava latim) e, em geral, desnorteado, (às vezes nomeava duas pessoas para o mesmo beneficio), mostrou-se administrador inepto. Perto do Advento, propôs que três Cardeais assumissem a responsabilidade pelo governo da Igreja enquanto ele jejuava e rezava. Quando o plano foi rejeitado, Celestino consultou o Cardeal Benedetto Caetani (que lhe sucederia como Bonifácio VIII), famoso advogado canônico, sobre a possibilidade de renunciar. Caetani incentivou-o a fazê-lo e preparou todos os papéis e procedimentos necessários. Em 13 de dezembro, em consistório pleno, Celestino V leu a fórmula de abdicação que Caetani lhe preparara. Despojou-se da insígnia Papal e, em um último apelo, exortou os Cardeais a proceder imediatamente à eleição do seu sucessor. A renúncia provocou uma guerra de tratados pró e contra sua validade. Quando o próprio Caetani foi eleito, providenciou para que Pietro não voltasse a seu eremitério no monte Murrone, como desejava. O novo Papa temia que Pietro fizesse um ponto de reunião para um cisma. Pôs o ex-Papa sob vigilância (da qual ele fugiu durante alguns meses) e acabou prendendo-o na torre de Caste Fumone, a leste de Ferentino, onde parece que Pietro não foi maltratado. Morreu de infecção causada por um abcesso, em 19 de maio de 1296. Em princípio, seu corpo foi sepultado em Ferentino, mas em 1317 foi transferido para Santa Maria di Collemaggio, em L'Aquila, onde foi coroado Papa. Posteriormente, em 5 de maio de 1313, sob pressão do rei Filipe IV da França, inimigo ferrenho de Bonifácio VIII, o Papa Clemente V canonizou Pietro, como confessor (isto é, alguém que sofreu pela fé, com exceção da morte), em vez de mártir, como Filipe queria. Foi canonizado em Avinhão pelo Papa Clemente V em 3 de Maio de 1313, sendo conhecido como São Pedro Celestino.

 

194º - Bonifácio VIII - 1294 - 1303

               Papa Bonifácio VIII (c. 1235 – 11 de outubro de 1303) foi Papa de 1294 até à data da sua morte. Nasceu com o nome Benedetto Gaetani. Atualmente, Bonifácio VIII é provavelmente lembrado por seus conflitos com Dante Alighieri, que o retratou no inferno em sua Divina Comédia, e a publicação da bula Unam Sanctam na disputa contra o rei Filipe IV da França. Benedetto nasceu em 1235 em Anagni, a cerca de 50 km a sudeste de Roma, filho mais novo de uma pequena mas importante família nobre da Lombardia, os Caetani (ou Gaetani) que já antes tinha dado um Papa (Gelásio II). Depois, na sua adolescência, tornou-se Cônego da Catedral de Anagni. Em 1252, quando seu tio Pedro Gaetani se tornou Bispo de Todi, na Umbria, começou em Todi os seus estudos jurídicos. Benedetto nunca esqueceu suas experiências lá, tanto que, mais tarde, descreveu a cidade como "a morada de sua juventude," a cidade que o "alimentou ainda em tenra idade", e como um lugar onde ele "realizou duradouras memórias". Ainda aí, em 1260, Benedetto adquiriu o Sacerdócio, bem como o pequeno Castelo nas proximidades em Sismano. Mais tarde na vida ele repetidamente expressou sua gratidão a Anagni, Todi, e sua família. Em 1264, Benedetto se tornou parte da Cúria Romana, onde atuou como secretário do Cardeal Simão de Brie em uma missão na França. Da mesma forma, ele acompanhou o Cardeal Ottobono Fieschi à Inglaterra (1265–1268), a fim de fazer um acordo entre um grupo de Barões rebeldes contra Henrique III, rei da Inglaterra. Após oito anos, período do qual nada se sabe sobre o que ocorreu em sua vida, Benedetto retornou da Inglaterra, e foi enviado à França para fiscalizar a cobrança de dízimos em 1276 e depois se tornou um notário Papal no final de 1270. Durante este tempo, Benedetto acumulou cargos, sendo promovido, em primeiro lugar a Cardeal-diácono em 1281 e, em seguida, dez anos mais tarde Cardeal-presbítero. Como Cardeal, ele sempre serviu como legado Papal em negociações diplomáticas com a França, Nápoles, Sicília e Aragão. Bonifácio VIII no jubileu de 1300 concedendo uma indulgência extraordinária. Foi eleito Papa em 24 de dezembro de 1294, após a abdicação do Papa Celestino V em 13 de dezembro, dez dias depois os Cardeais iniciaram um conclave no Castel Nuovo em Nápoles e em 24 de dezembro de 1294, por uma maioria de votos Benedetto Gaetani é eleito Papa, escolhendo o nome de Bonifácio VIII. A cerimônia de sua consagração e coroação foi realizada em Roma, em 23 de janeiro de 1295. Em 1300 Bonifácio VIII institui o primeiro jubileu cristão por meio da bula Antiquorum fide relatio, que concedeu uma indulgência extraordinária e plenária aos fiéis que fizessem uma peregrinação a Roma, ao túmulo de São Pedro. Devido ao jubileu, Bonifácio restaurou as igrejas de Roma, particularmente as Basílicas de São Pedro, a Basílica de São João de Latrão, e a Basílica de Santa Maria Maior. A partir de então os jubileus e a anunciação de uma indulgência extraordinária foram comemorados com uma periodicidade de 50 anos. Bonifácio VIII defendeu algumas das mais fortes afirmações da supremacia espiritual dos Papas sobre o temporal dos Reis e dos Senhores Feudais, vinculando-se em grande parte aos ideais da Reforma gregoriana que tinha sido delineada 250 anos antes, demonstrando-a na sua política externa. O conflito entre Bonifácio VIII e os reis europeus ocorreu em um momento de expansão dos Estados-nação e o desejo de consolidação do poder pelos monarcas. A intervenção de Bonifácio nos assuntos temporais levou a muitas disputas com o Imperador Alberto I da Germânia (1291–1298), com a poderosa família dos Colonna, com Filipe IV de França (1285–1314) e estranhamente com Dante Alighieri (que escreveu De Monarchia para argumentar contra ele). Na França, durante seu reinado, Filipe IV centralizou em si todo o poder, que era possível a um Rei, e cercando-se dos melhores advogados civis, descredenciou o Clero de toda a participação na administração da lei. Fez mais, pois decretou impostos ao mesmo clero, a fim de financiar as suas guerras contra outros países. Nessa altura o Papa Bonifácio tomou uma posição dura contra ele porque, entre outras coisas, viu a tributação como um abuso aos tradicionais direitos da Igreja e publicou a bula Clericis laicos, em 24 de Fevereiro de 1296, na qual a proíbe sem prévio acordo com a Santa Sé. Foi aí que as hostilidades entre ambos começaram. Filipe retaliou contra a bula, negando a exportação de dinheiro da França para Roma, que tratava-se dos fundos necessários para o funcionamento da Igreja. Bonifácio então encerra a questão com a bula Etsi de statu, de 31 de Julho de 1297, permitindo que a tributação seja feita somente "durante uma emergência". Depois de complicações que envolvem a captura, por Filipe, do Bispo Bernardo Saisset, defensor do Papa, o conflito reacendeu-se. Em dezembro de 1301, Bonifácio enviou a Filipe a bula Ausculta fili ("Ouça, Meu Filho"), defendendo a supremacia Papal. Muitos historiadores sugerem que, em 1301, nessa altura, Bonifácio acrescenta uma segunda coroa para si, na tiara Papal, para simbolizar a superioridade da autoridade espiritual em relação à autoridade civil. A rivalidade entre os dois atingiu o seu auge