DESPEDIDA DE JESUS EM JUTA
Diz Jesus:
“Porque assim é. A
inabitação de Deus nos homens, e dos homens em Deus, se faz com a obediência à
sua Lei, que começa com um mandamento de amor, e que é toda amor, desde o
primeiro até o último mandamento do Decálogo. Esta é a verdadeira casa que Deus
quer, e na qual Deus abita, e o prêmio do céu, recebido pela obediência à Lei,
e a verdadeira casa em que habitareis para sempre. Porque, lembrai-vos de
Isaias em seu capítulo 56. Deus não tem morada sobre a Terra, que é um
escabelo, somente em escabelo para a sua imensidade, mas tem como seu trono o
Céu, que é sempre pequeno, um nada para conter o Infinito, mas o tem no coração
dos homens.
Somente a
perfeitíssima bondade do Pai de todo amor é que pode conceder aos seus filhos
que o acolham, e é um infinito mistério, que cada vez mais se aperfeiçoa, isto
de poder estar o Deus Uno e Trino, o puríssimo Triniforme Espírito, no coração
dos homens. Oh! Quando, quando, ó Pai Santo, Tu me darás o poder de fazer
destes que ET amam não mais, não mais somente um Templo para o Espírito Santo, mas,
pela Tua perfeição de amor e de perdão, um tabernáculo, fazendo de cada coração
fiel a arca na qual esteja o verdadeiro Pão do Céu, como ele esteve no seio da
Bendita entre todas as mulheres?
Oh! Meus muito
amados discípulos de Juta, que me foi preparada por um justo, tende na mente o
Profeta e o que ele diz, pois é o Senhor quem fala, dirigindo-se aqueles que
edificam uns vazios templos de pedra, nos quais não há justiça nem amor, e não
sabem edificar em si o trono do Senhor, por meio da obediência aos seus
mandamentos. Diz o Profeta: “Que é essa
casa que vós me edificareis, e que lugar é esse do meu repouso?” E Ele quer
dizer: “Credes que me tendes convosco, porque erigis para Mim umas pobres
paredes? Credes que me dais alegria com as vossas mentirosas práticas das quais
não dais uma prova de sinceridade por meio da vossa santidade de vida?” Não.
Deus não se interessa pelas exterioridades, que escondem chagas e um vazio,
como o manto de ouro jogado sobre um leproso, ou sobre uma estátua de argila,
oca, sem a vida da alma. E diz o Senhor, confessando Ele mesmo, Ele, o dono do
mundo, a sua pobreza como Rei com muito poucos súditos, de Pai com muitos
filhos fugitivos de sua morada: “A quem dirigirei meu olhar, senão ao
pobrezinho, ao contrito de coração, que treme diante da minha palavra?” Por que
ele treme? Só por medo de Deus? Por um profundo respeito, por um verdadeiro
amor. Por humildade de súdito, de filho, que diz, que reconhece que o Senhor é
tudo, e ele nada, e treme de emoção, sentindo-se amado, perdoado, socorrido
pelo Tudo.
Oh! Não procureis
Deus entre os soberbos! Lá Ele não está.
Não o procureis
entre os duros de coração. Lá Ele não está.
Não o procureis
entre os impenitentes. Lá Ele não está.
Mas Ele está nos
simples, nos puros, nos misericordiosos, nos pobres de espírito, nos mansos,
naqueles que choram sem fazerem imprecações, nos que procuram a justiça, nos
perseguidos, nos pacatos. Nestes está Deus. E está naqueles que se arrependem e
querem perdão, procuram fazer expiação. E não fazem, todos esses, o sacrifício
de um boi, ou de uma ovelha, a oblação disto ou daquilo para serem aplaudidos,
ou pelo supersticioso terror de um castigo, pela soberba de parecerem
perfeitos. Mas fazem o sacrifício de seu coração contra o humilhado, se são
pecadores, ou do seu coração obediente, até o heroísmo, se são justos. Eis aí o
que agrada o Senhor. Eis quais são as ofertas pelas quais Ele se doa, com seus
inefáveis tesouros de amor e de delícias sobrenaturais. Aos outros Ele não se
doa. Estes já têm as suas pobres delícias nas abominações, e é inútil que Deus
os chame pelos seus caminhos, visto que eles já escolheram o seu caminho. A
esses tais, só lhes enviará o abandono, o terror, a punição, porque não
corresponderam ao Senhor, não obedeceram, mas fizeram mal diante dos olhos de
Deus, com escárnio e com especial malvadez.
Mas vós, meus
diletos de Juta, vós que tremeis de amor, ao conhecerdes a Deus, vós que, por
causa de Mim sois tratados com escárnio pelos poderosos, como se fôsseis uns
estultos, e que continuais a amar-me, apesar dos escárnios, vós que sois
rejeitados, e ainda mais, sempre mais o sereis por causa de Mim e do meu nome,
repudiados como bastardos por Israel, como bastardos de Deus, enquanto que
justamente em vós, e em quem é como vós, é que está enxertado o sarmento de
Vida Eterna, daquele que tem sua raiz no Pai, e que por isso sois parte de
Deus, e viveis da sua seiva, vós a quem quereriam persuadir de que estais em
erro, vós, a cujos olhos simples, mas iluminados pela graça, quereriam
justificar, para não parecerem sacrílegos ou malfeitores, vós a quem foi dito:
“Que o Senhor mostre a sua glória, e o seu reconhecimento pela vossa própria
alegria, só vós tereis a alegria.” Eles ficarão confusos.
Oh! Eu já estou
percebendo, depois da confusão que os esmagará, mas não os tornará melhores, Eu
já percebo as víboras, que não cessam de fazer mal, a não ser quando lhes é
esmagada a cabeça execranda, e que mordem e matam, mesmo se forem partidas em
duas, mesmo quando conseguem levantar apenas a cabeça, estando sob a esmagadora
manifestação de Deus, já os ouço gritar: “Como pode o Senhor ter dado a luz,
assim tão de repente, o seu novo povo, se nós, que fomos trazidos durante tanto
tempo em seu seio, ainda não nascemos para a Luz? Pode uma mulher dar a luz,
sem que o barulho das dores encha a casa? Antes do tempo, já alguma vez deu à
luz o Senhor? Pode a Terra em um só dia dar a luz, podem ser dadas à luz todas
juntas as pessoas de um povo?”
Eu respondo, e
lembrai-vos desta resposta, para a poderdes dar àqueles, que vos perseguirem,
escarnecendo-se de vós: “Nunca teriam podido nascer para a Luz aqueles que são
frutos mortos no seio de Deus, fruto que secou, porque se afastou do útero e
ficou inerte, como um mal escondido no seio, até parecendo um embrião ainda
incompleto. E, para expelir a semente morta do seu seio, e ter filhos, para que
não morra o seu Nome sobre a Terra. Deus se tornou fecundo em novos filhos,
assinalados com o seu Tau, e, em segredo, no silêncio, a fim de que Satanás e
os satanases que servem a Lúcifer não pudessem causar-lhe dano, começando antes
da hora, por causa do ardor do amor, Ele deu à luz o seu Homem, e dá a luz ao
mesmo tempo o seu povo, porque o Senhor tudo pode.” Oh! Ele bem que o diz pela
boca do Profeta Isaías: “E por acaso, Eu não poderei dar a luz, Eu que faço a
outros darem a luz? Eu, que concedo aos outros a fecundidade, serei Eu
estéril?” Alegrai-vos com a Jerusalém dos Céus, exultai com ela, vós todos que amais
o Senhor! Alegrai-vos com ela em verdadeira alegria, vós que aguardais, vós que
sofreis!
Oh! Voltai, voltai
para Mim, ó palavras! Palavras vindas do Verbo de Deus. Palavras ditas pelo
porta-voz de Deus, Isaías, seu Profeta. Vinde, votai à Fonte, ó palavras
eternas, para serdes espalhadas sobre este canteiro de Deus, sobre este
rebanho, sobre esta prole! Oh! Vinde! Esta é uma das horas e das assembléias
para as quais fostes proferidas, ó palavras proféticas, ó som de amor, ó vozes
da verdade!
Eis que elas vêm
vindo! Eis que Eu, em nome do Pai, do meu Ser e do Espírito, as digo a estes
amados por Deus, os escolhidos por entre o rebanho de Deus, que devia ser todo
de cordeirinhos, mas se corrompeu com carneiros e animais ainda mais imundos.
Vós sugareis, e ficareis saciados, nos úberes da Consolação divina, e
extraireis abundantes delícias da copiosíssima glória de Deus.
Eis! Diz-vos o
Senhor: “Eu derramarei sobre vós como que um rio de paz, e como uma torrente
que limpa, derramarei sobre vós muito mais do que a glória das nações.” A
glória do Céu vos inundará. Vós a sugareis, sereis levados sobre o seu seio, e
sobre os seus joelhos sereis acariciados. Assim como a mãe acaricia o menino,
assim como Eu estou acariciando este pequenino, ao qual Eu pus o meu nome,
assim Eu consolarei a vós, que me amais e me continuareis a amar, e logo virá o
dia em que sereis consolados para sempre no meu Reino. Vós o vereis, e o vosso
coração estará cheio de alegria, e os vossos ossos, como a erva, reverdecerão,
ó vós, livres de todo medo, porque sois fiéis a Mim, quando o Senhor vier no
fogo, sobre uma carruagem semelhante a um turbilhão, para guiar no fogo do amor
e da justiça, e para punir ou exaltar, separando os cordeirinhos dos lobos,
isto é, daqueles que achavam estar se santificando, mas, pelo contrário, se
tornaram idólatras.
O Senhor que agora
vai partir, virá, e felizes daqueles que Ele encontrar perseverantes até o fim.
Este é o meu adeus, e com ele vos dou a minha bênção. Ajoelhai-vos, para que Eu
vos fortaleça com ela. O Senhor vos abençoe e vos guarde. O Senhor vos mostre a
sua face, e tenha misericórdia de vós. O Senhor vos dê a sua paz. Ide! Deixai
que Eu me despeça dos bons entre os bons de Juta.”
E as pessoas vão
saindo com pesar. Mas quando um menino, por primeiro diz: “Senhor, deixa que eu
te beije a mão”, e Jesus consente, todos querem dar um beijo sobre as carnes
santas do Cordeiro. São beijos de crianças em seu rosto, beijos de velhos sobe
as mãos, beijos de mulheres em seus pés desnudos por entre a grama, e que se
prosternam com palavras de adeus e de bênção. Jesus, com paciência, os acolhe,
e tem para todos uma saudação particular.
Finalmente, todos
foram contentados... Só falta a família que o hospedou. Todos dela abraçam a
Jesus. E a Sara diz: “Não voltarás mais mesmo?”
“Não mulher. Nunca
mais. Mas não estaremos separados. Meu amor estará sempre contigo, convosco, e
o vosso comigo. Não vos esqueceis de Mim, Eu o sei. Mas Eu vos digo: mesmo nas
horas mais terríveis, que estão para vir, não deis acolhida à mentira, nem
mesmo como a uma hóspede de passagem, ou como a uma invasora imprevista...
Dá-me cá o pequenino, Sara.”
A mulher lhe entrega
Jesai, e Jesus se assenta sobre a grama, com o pequenino no colo, e fica
falando com o rosto inclinado sobre os cabelinhos do pequeno: “Lembrai-vos
sempre de que Eu sou o Cordeiro que Isaque vos ensinou a amar, até mesmo antes
que me conhecêsseis. E que um cordeiro é sempre inocente, como este menino,
mesmo quando ele é apresentado vestido com a pele de lobo, para fazê-lo passar
por um malfeitor. Lembrai-vos de que Eu sou ainda mais inocente do que este
pequenino que, feliz dele, por sua inocência e meninice, não poderá compreender
a calúnia dos homens, a respeito do seu Senhor, e por isso não ficará
perturbado por ela... mas continuará a honrar-me como agora... Tende um coração
como ele, tende-o por cordeiro, considerai-o amigo, inocente como o Salvador,
que vos ama e abençoa de uma maneira toda especial. Adeus Maria! Vem dar-me um
beijo... Adeus, Emanuel! Vem tu também... Adeus, Jesai, cordeirinho do
Cordeiro... Sede bons... Amai-me...”
“Tu estás chorando,
Senhor?!”, pergunta, espantada a menina, vendo brilhar uma lágrima por entre os
cílios de Jesus.
“Ele está
chorando?”, pergunta o marido de Sara.
“Tu estás chorando,
ó Mestre! Por quê?”, pergunta a mulher.
“Não vos
entristeçais com o meu pranto, É amor e bênção...Adeus Sara. Adeus, homem.
Vinde, como os outros, beijar o vosso amigo, que vai-se embora...”, e tendo
recebido em suas mãos o beijo dos dois esposos, coloca de novo o menino nos
braços da mãe, abençoa de novo, e depois, determinado, começa a descida pela
mesma estradinha por onde veio.
As palavras de adeus
dos que ficam e acompanham, profundas são as do homem, comovidas as da mulher,
gritadas as dos meninos, e vão até o pé da colina. Depois vem a torrente,
seguindo a qual, eles tornam a subir, rumo ao norte, e só ela é que continua a
saudar o Mestre, que vai deixando para sempre as terras de Juta.
(O Evangelho como me
foi Revelado – Vol. 6. Pg. 246 a 251- Maria Valtorta)
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