“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A FÉ DE ABRAÃO RECOMPENSADA







A FÉ DE ABRAÃO RECOMPENSADA


O homem, já bastante velho, vem para a frente. Está comovido. Gostaria de falar, falar, mas, na emoção em que está, não se lembra de nenhuma daquelas palavras que ele havia preparado. Ele se curva para ajoelhar-se, apoiando-se em seu bastão, mas Jesus o impede de fazê-lo, e o abraça primeiro, dizendo: “Paz ao velho e justo filho de Deus!”, e ele, cada vez mais comovido, só sabe responder: “Louvado seja Deus! Meus olhos viram o Prometido. E, que é mais que eu devo pedir a Deus?”, e, levantando os braços, numa postura hierática, entoa o salmo 34 de Davi: “Esperei ansiosamente o Senhor, e Ele para mim voltou.” Mas não o recita todo. Só diz nos pontos que se referem ao acontecimento: “Ele ouviu o meu grito, e me tirou do abismo da miséria e da lama do pântano... Ele pôs em minha boca um cântico novo. Feliz do homem que pôs sua esperança no Senhor. Muitas coisas maravilhosas Tu fizeste, ó Senhor meu Deus, e não há quem te iguale em teus desígnios. Eu quereria enunciá-los, falar sobre eles, mas sua multiplicidade está além de todos os números. Tu não quiseste sacrifícios nem oblações, mas me abriste os ouvidos...( E se comove sempre mais) Está dito que devo fazer a tua vontade... A Lei está no meio do meu coração. Eu anunciei a tua justiça à grande assembléia. Eis que eu não conservei fechados os meus lábios, Tu o sabes, ó Senhor. Não conservei escondida dentro de mim a tua justiça, proclamei a tua verdade e a salvação que vem de Ti...
Mas Tu, ó Senhor, não afastes de mim a tua compaixão. Desgraças sem número, ( e chora em um choro solto, e vai dizendo as palavras com uma voz de quem já fosse mais velho e trêmula, por causa do pranto) vieram sobre mim...
Eu sou um mendigo e um necessitado, mas o Senhor toma cuidado de mim. Tu és a minha ajuda, o meu protetor, ó meu Deus, não tardes!” Este é o salmo, meu Senhor, e eu acrescento palavras minhas: “Dize-me: “Vem”, e eu te direi o que diz o salmo: “Eis que eu vou.”
E ele se cala, chorando, com toda aquela fé que se vê em seus olhos, ofuscados pelos anos.
As pessoas explicam: “A filha dele morreu, deixando-lhe netinhos pequenos. A mulher ficou cega e hebetada, por causa dos muitos sofrimentos, e do único filho homem ela nem tem notícia. Ele sumiu assim de um dia para outro...”
Jesus põe a mão sobre o ombro do velho, e lhe diz: “Os sofrimentos do justo têm a rapidez de uma andorinha, em comparação com a duração do prêmio eterno. Mas devolveremos à tua Sarai seus olhos de outros tempos, e a mente dos seus vinte anos, a fim de que conforte a tua velhice.”
“Ela se chama Colomba”, lembra alguém do povo.
“Para ele, ela é a sua princesa. Mas agora ouvi a parábola que Eu vos apresento...”
“Mas, antes, não libertarás das trevas os olhos e a mente de minha mulher, para que ela também possa saborear o que é a Sabedoria?”, pergunta ansioso o velho sinagogo.
“Podes tu crer que Deus tudo pode, e que de um outro mundo é que vem o seu poder?”
“Sim, ó Senhor. Eu me lembro de uma tarde de muitos anos atrás. Naquele tempo eu estava feliz, e acreditava também na alegria. Porque assim é. O homem, enquanto está feliz, pode até esquecer-se de Deus. Eu cria em Deus também naquele tempo de alegria, na qual minha mulher era jovem e sadia, e me estava criando a Elisa, jovem bonita como uma palmeira, já prometida em casamento, e a Elisa a igualava em beleza, e a superava em robustez, o que é a alegria de um homem... Eu tinha ido com o menino às fontes, perto dos vinhedos, que são de Colomba, deixando a mulher e a filha nos teares em que estava sendo tecido o enxoval de casamento... Mas talvez eu te esteja aborrecendo? O infeliz sonha com a alegria passada, recordando-se dela... mas ela aos outros não interessa.”
“Fala, fala.”
“Eu tinha ido com o menino as fontes. Se Tu vieste pela estrada do ocidente, sabes onde elas estão. As fontes estavam no limite do bendito lugar. Olhando, podia ver-se, lá adiante, o deserto, a estrada branquicenta com suas pedras romanas que, então, estavam ainda bem visíveis sobre as areis de Judá... Depois... sumia até aquele sinal! E não é nada perder-se um sinal na areia! Mas é um mal que ele tenha sumido, pois era o sinal de Deus, mandado para mostrar-te aos espíritos de Israel. A muitíssimos espíritos!
O meu filho homem disse: “Pai! Olha! Uma grande caravana com cavalos, camelos, com servos e senhores, ao redor de Engadi. Talvez estejam vindo ás fontes, antes que chegue a tarde... levantei os olhos dos sarmentos, que eu estava escolhendo, cansados depois de uma grande vindima, e vi... Os homens tinham mesmo vindo ás fontes. Eles apearam, e me viram, e me perguntaram se podiam acampar-se naquele lugar por uma noite.
“Engadi tem hospedarias, e está perto daqui”, responde-lhes eu.
“Não, nós vamos ficar acordados, a fim de estarmos prontos para fugir, porque Herodes nos está procurando. Daqui os guardas verão a estrada toda, e será fácil fugir de quem nos está procurando.”
“Qual foi a falta que cometestes?”, perguntei eu, espantado, e pronto a mostrar-lhes as cavernas de nossos montes, como a um costume sagrado para com os perseguidos. E acrescentei: “Vós sois estrangeiros e de lugares diferentes... Eu não sei como é que tereis podido cometer faltas contra Herodes...”
“Nós fomos adorar o Messias, que nasceu em Belém de Judá, e até Ele guiou-nos a estrela do Senhor. Herodes o está procurando para dar-lhe a morte. Talvez nós também encontremos a morte, nos desertos, indo por algum caminho longo e desconhecido, mas não denunciaremos o Santo, que desceu dos Céus.”
O Messias! O sonho de todo verdadeiro israelita! O meu sonho! E Ele já estava no mundo. E estava em Belém de Judá, como havia sido predito! Eu pedi, tendo sobre o coração o meu menino, notícias e mais notícias, dizendo: “Escuta, Eliseu! Procura lembrar-te, tu certamente o verás!” Eu já estava com cinqüenta anos, e não esperava mais vê-lo... nem esperava viver tanto para poder vê-lo, já homem feito... Eliseu já não o pode mais adorar...”
O velho chora novamente. Mas continua, e diz: “Os três Sábios falaram com paciente doçura, e te descreveram em tua santidade infantil, falaram da Mãe e do pai... Eu teria passado a noite com eles, mas Eliseu estava dormindo em meus braços. Saudei os três Sábios, prometendo-lhes calar-me para não dar ocasião a possíveis delações contra eles. Mas a Colomba, no quarto nupcial, eu narrei tudo, e isso foi o sol em nossas futuras desventuras. Depois ficou-se sabendo do morticídio..., e, por muitos anos sem saber se Tu te tinhas salvado. Mas agora o sei. Contudo, somente eu, porque Elisa morreu, Eliseu não está mais aqui, e Colomba não pode entender a feliz notícia... Mas a fé no poder de Deus, já viva, tornou-se perfeita, desde aquela longinqua tarde, na qual três homens de raças diferentes deram testemunho do poder de Deus, com a união que havia entre eles, pela voz dos astros e das almas, indo pelo caminho de Deus, para adorarem o seu Verbo.”
“E a tua fé será premiada. Agora escutai.
Que é a fé? É parecida com uma dura semente de palmeira, que as vezes é minúscula, formada por uma breve frase: “Deus existe”, e alimentada por uma afirmação: “Eu o vi”. Assim como foi a fé de Abraão em Mim pelas palavras dos três sábios do Oriente. Assim como foi a fé de nosso povo, desde os mais antigos patriarcas, transmitidas por uns aos outros, de Adão aos pósteros, de Adão pecador, mas que teve suas palavras acreditadas quando disse: “Deus existe, e nós aqui estamos, porque Ele nos criou. E eu o conheci.” Assim como foi aquela fé, cada vez mais perfeita, porque cada vez mais revelada, que veio mais tarde, e que é a nossa herança, que brilha nas manifestações divinas, nas aparições angélicas, nas luzes do espírito. São sementes sempre pequeninas, em comparação com o infinito. Pequeninas sementes. Mas elas, lançando raízes, abrindo a camada dura da animalidade cheia de dúvidas e com suas tendências, triunfando das ervas nocivas das paixões, sobre o mofo do aviltamento, sobre a traça dos vícios, sobre tudo, ergue-se nos corações, cresce, joga-se em direção ao sol, ao céu, e vai subindo, subindo... até ver-se livre das restrições da carne, e se une a Deus, em seu conhecimento perfeito, em sua posse completa, que está para lá da vida e da morte, na verdadeira Vida.
Quem possui a fé, possui o caminho da Vida. Quem sabe crer não erra. Vê, reconhece, serve ao Senhor, e tem a salvação eterna. Para ele o Decálogo é uma coisa vital, e cada um dos seus mandamentos é uma pedra preciosa, com a qual se vai enfeitando sua futura coroa. Para ele é salvação a promessa do Redentor. Já havia morrido o homem de fé, antes que Eu estivesse nesta Terra? Não importa. Sua fé o iguala aos que agora estão perto de Mim pelo amor e pela fé. Os justos que morreram logo se encherão de júbilo, porque a fé deles continua na esperança do prêmio. Eu me irei embora, depois de ter cumprido a vontade do meu Pai, e direi: “Vinde!” E todos os que morreram com fé, subirão comigo para o Reino do Senhor.
Imitai na fé as palmeiras das vossas terras, nascidas de pequeninas sementes, e tão fortes na vontade de crescer, e de crescer assim tão eretas, já esquecidas do solo, mas enamoradas pelo sol, pelos astros, pelo céu. Tende fé em Mim. Sabei crer naquilo que muito poucos em Israel crêem, e Eu vos prometo a posse do Reino celeste, pelo perdão da culpa original, e pela justa recompensa a todos os que praticam a minha doutrina, que é a dulcíssima perfeição do Decálogo de Deus.
Eu ficarei entre vós hoje e amanhã, que é o sábado sagrado, e partirei ao romper do dia depois do sábado. Quem estiver aflito venha a Mim! Quem tem dúvidas venha a Mim! Quem quer a Vida, venha a Mim! Venha sem temor, porque Eu sou a Misericórdia e o Amor.”
E Jesus faz um amplo gesto de bênção para despedir-se de seus ouvintes, a fim de que eles possam ir tomar sua refeição da tarde e o repouso, e já vai tomar o seu caminho, quando uma velhinha, que até agora estava escondida no canto de uma pequena rua, vem abrindo a multidão, que ainda está querendo ficar com o Mestre, e, por entre a gritaria da mesma multidão assombrada, vai ajoelhar-se aos pés de Jesus, dizendo em alta voz: “Bendito sejas Tu. E o Altíssimo que te enviou! E as vísceras que te geraram e que são mais do que vísceras de uma mulher, já que te puderam trazer.”
Um grito de homem se une ao dela: “Colomba! Oh! Tu estás vendo! Tu estás entendendo. Tu estás falando e reconhecendo com sabedoria o Senhor! Oh! Deus dos meus pais! Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó! Deus dos Profetas. Deus de João, o Profeta! Deus! Meu Deus! Filho do Pai! Rei como o Pai! Salvador, em obediência ao Pai. Deus como Pai, e meu Deus, Deus do teu servo! Que Tu sejas bendito, amado seguido e adorado para sempre!”
E o velho sinagogo cai de joelhos, ao lado da sua velhinha, e, abraçando-a com o braço esquerdo, apertando-a ao coração, inclina-se e a faz inclinar-se para beijarem os pés do Salvador, enquanto uma gritaria de alegria de todas as pessoas faz vibrar os troncos das árvores, de tão forte que ela é, e espantar os pombos, que já estavam pousados em seus ninhos, e que levantam vôo, dão uma volta por cima de Engadi, como se estivessem querendo espalhar por todos os lugares a boa nova que é estar o Salvador do lado de dentro de seus muros.

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta- Vol. 6, pg.208 a 212)

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