“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

TERCEIRO SERMÃO DA MONTANHA





TERCEIRO SERMÃO DA MONTANHA


“Por tudo o que vos disse ontem, não deveis ficar pensando que Eu tenha vindo abolir a Lei. Não. Somente, visto que Eu sou Homem, e compreendo as fraquezas do homem, o que Eu quis foi encorajar-vos a segui-la, dirigindo os vossos olhares espirituais, não para o abismo escuro, mas para o abismo luminoso. Porque, se o medo do castigo pode fazer alguém deter-se, três em dez vezes, a certeza de um prêmio o faz arremessar-se para a frente sete em dez vezes. Por onde se vê que a confiança faz mais do que o medo. E Eu quero que tenhais uma confiança plena, firme, para que possais fazer não sete em dez partes de bem, mas dez em dez, para conquistardes este prêmio santíssimo que é o Céu.
Eu não mudo nem um i da Lei.
E quem foi que a deu, por entre raios no Sinai? O Altíssimo.
Quem é o Altíssimo? O Deus Uno e Trino.
E de onde foi que Ele a tirou? Do seu pensamento.
E, como foi que a deu? Com sua palavra.
Por que foi que a deu? Pelo seu Amor.
Vede, pois que a Trindade estava presente. E o Verbo, obediente como sempre ao Pensamento e ao Amor, falou pelo Pensamento e pelo Amor.
Poderia Eu desmentir-me a Mim mesmo? Não poderia. Mas Eu posso, já que tudo posso, completar a Lei, torná-la divinamente completa, não como fizeram ficar os homens que, durante os séculos, não a tornaram completa, mas indecifrável, impossível de ser cumprida, sobretudo leis e preceitos, preceitos e leis, tudo tirado do pensamento deles, conforme as vantagens deles, e jogando todo esse entulho para apedrejar e sufocar, para soterrar e esterilizar a Lei Santíssima, que foi dada por Deus. Poderá uma planta sobreviver, se estiver sempre mergulhada em avalanchas, em escombros e inundações? Não. A planta morre. A Lei está morta em muitos corações, sufocada debaixo das avalanchas de exageradas superestruturas. Eu vim para tirá-las todas e, tendo desenterrado a Lei, tendo ressuscitado a Lei, eis que agora Eu faço dela não mais lei, mas Rainha.
As rainhas promulgam as leis. As leis são obras das rainhas, mas não são mais do que as rainhas. Eu, ao contrário, faço da Lei a rainha: Eu a completo, a corôo, colocando no seu ápice a grinalda dos conselhos evangélicos. Primeiro era a ordem. Agora é mais que a ordem. Antes era o necessário. Agora é mais do que o necessário. Agora ela é a perfeição. Quem a desposa, assim como Eu vo-la dou, no mesmo instante se torna rei, porque alcançou o que há de perfeito, porque não se tornou só obediente, mas heróico, isto é, santo, sendo a santidade a soma das virtudes levadas até o ápice, o ponto mais alto que possa ser atingido por uma criatura, heroicamente amadas e servidas com um completo desapego de tudo o que é apetite ou reflexão humana, seja lá o que for. Eu poderia dizer que o santo é aquele para o qual o amor e o desejo servem de obstáculo para qualquer outra vista, que não seja Deus. Não distraído por outras vistas inferiores, ele tem as pupilas do coração firmes no Esplendor Santíssimo que é Deus, e no qual ele vê, pois que tudo é em Deus, a agitação dos irmãos que, suplicantes, lhe estendem as mãos. E, sem afastar o olhar de Deus, o santo se inclina para atender aos irmãos que lhe suplicam. Contra a carne, contra as riquezas, contra as comodidades, ele ergue o seu ideal: servir. Fica pobre o santo? Fica diminuído? Não. Ele chegou a possuir a sabedoria e a riqueza verdadeiras. Por isso, possui tudo. E não sente cansaço, porque, se é verdade que ele é um produtor contínuo, também é verdade que ele é nutrido continuamente. Porque, se é verdade que ele compreende a dor do mundo, também é verdade que ele se alimenta com a alegria do Céu. De Deus ele se nutre, em Deus ele se alegra. Ele é a criatura que compreendeu o sentido da vida.
Como estais vendo, Eu não mudo, nem mutilo a Lei, como também não a corrompo com as superposições de fermentantes teorias humanas. Mas Eu a completo. Ela é o que é, e assim será até o último dia, sem que dela se mude uma só palavra, ou se tire um só preceito. Ela está coroada pela perfeição. Para ter-se a salvação, basta aceitá-la como foi dada. Para ter uma imediata união com Deus, é preciso vivê-la, como Eu a aconselho. Mas, visto que os heróis são uma exceção, Eu falarei para as almas comuns, para a massa de almas, para que não se diga que, por querer a perfeição, Eu faço que fique desconhecido o necessário. Mas, de tudo o que Eu digo, guardai bem isto: quem se permite violar um só entre os menores destes mandamentos será considerado o menor no Reino dos Céus. E aquele que levar outros a violá-los será considerado o menor pelo que ele fez e por causa daqueles que ele tiver levado à violação. Ao passo que aquele que, com sua vida e suas obras, ainda mais do que com as palavras, tiver persuadido outros a obedecerem, este será grande no Reino dos Céus, e sua grandeza irá aumentando por cada um daqueles que ele tiver levado a obedecer e assim santificar-se.
Eu sei que o que estou para dizer-vos será desagradável para muitos. Mas Eu não posso mentir, ainda que a verdade que Eu estou para dizer me crie inimigos.
Em verdade, Eu vos digo que, se a vossa justiça não se criar de novo, e não se separar completamente da pobre e injustamente chamada justiça, que vos foi ensinada pelos escribas e fariseus; que pensam que são justos quando aumentam as fórmulas, mas sem procurar uma mudança substancial em seu espírito, não entrareis no Reino.
Guardai-vos dos falsos profetas e dos ensinadores do erro. Eles vem a vós com veste de cordeiro, mas são uns lobos ferozes. Vêm vestidos de santidade, mas são uns zombadores de Deus, pois dizem que amam a verdade, mas se nutrem com a mentira. Observai-os bem, antes de acompanhá-los.
O homem tem uma língua, e com ela pode falar, tem olhos, e com eles olha, tem mãos, e com elas faz sinais. Mas ele tem uma outra coisa, que dá testemunhos mais verdadeiros de quem ele é: são os seus atos. O que é que quereis vós que seja um par de mãos juntas em oração, se com elas depois o homem se entrega ao roubo e a fornicação? O que é que valem dois olhos que, querendo passar por inspirados, viram-se para todos os lados, se, quando passou da hora daquela comédia, eles sabem fixar-se, bem cobiçosos, sobre uma mulher, ou sobre o inimigo, no primeiro caso para a luxúria, e no outro para o homicídio? O que quereis que seja uma língua, que sabe assobiar uma mentirosa canção de louvores, e seduzir com suas palavrinhas melosas, enquanto por detrás de vós ela vos calunia, e é ainda capaz de jurar falso, contanto que vos possa fazer passar por uma pessoa desprezível? Que é a língua, que faz longas orações hipócritas, e depois sai dali rapidamente, para ir arrasar a boa fama do próximo, ou seduzir a boa fé dele? Dá náusea. Dão náusea aqueles olhos e aquelas mãos mentirosas. Mas os atos do homem, seus verdadeiros atos, isto é, o seu modo de comportar-se em família, no comércio, no trato com o próximo e com os seus criados, esses podem dar dele este testemunho: “Este é um servo de Deus”. Porque as ações santas são o fruto de uma verdadeira religião.
Uma árvore boa não dá frutos maus, e uma árvore má não dá frutos bons. Estas moitas de espinho, por acaso poderão dar-vos uvas saborosas? E aqueles cardos, ainda mais espinhosos, poderão dar-vos um dia figos maduros e tenros? Não, porque em verdade, poucas e ásperas frutinhas colhereis das primeiras, e um fruto que não se pode comer é o que virá daquelas flores, pois mesmo estando elas agora em flor, já estão cercadas de espinhos. O homem que não é justo, poderá ele talvez incutir respeito com sua aparência, mas só com ela. Também aquele pé de cardo parece feito de penas, parece um floco de finos fios de prata, que o orvalho recobriu, fazendo que pareçam estar cheios de diamantes. Mas, se, distraidamente, tocardes nele, vereis que não se trata de nenhum floco, mas de um monte de espinhos, que ferem o homem, fazem mal ás ovelhas e, por isso, os pastores os arrancam de seus pastos, e os jogam no fogo que eles acendem de noite, a fim de que nem as sementes escapem. É uma medida justa e previdente. Eu não vos digo: “Matai os falsos profetas e os fiéis hipócritas.” Antes vos digo: “Deixai isso para Deus.” Eu vos digo: “Estai atentos, afastai-vos deles para não vos envenenardes com os seus sucos.”
Como Deus há de ser amado, Eu vo-lo disse ontem. Eu insisto em dizer como é que há de ser amado o próximo.
Noutros tempos se dizia: “Amarás o teu amigo e odiarás o teu inimigo.” Não. Não é assim. Isto era bom naqueles tempos em que o homem não tinha o conforto do sorriso de Deus. Mas agora chegaram os tempos novos, nos quais Deus ama tanto o homem, que lhe manda o seu Verbo para redimi-lo. Agora o Verbo está falando, E é a Graça que já se está difundindo. Depois, o Verbo consumará o sacrifício de paz e de redenção, e a Graça não só se difundirá, mas será dada a todos os espíritos que crêem no Cristo. Por isso é preciso elevar à perfeição o amor ao próximo, a tal ponto que já não se faça diferença entre o amigo e o inimigo.
Estais sendo caluniados? Amai e perdoai. Recebestes agressões ou pancadas? Amai e oferecei a outra face a quem vos esbofeteia, e pensai que é melhor que a ira se desafogue em vós, que a sabeis suportar, do que em algum outro, que iria vingar-se da afronta. Fostes roubados? Não fiqueis pensando: “Este meu próximo é um cobiçoso”, mas pensai com caridade: “Este meu pobre irmão é um necessitado”, e dói-lhe até a túnica, se já vos tirou a capa. Assim fareis que fique impossível para ele cometer um duplo furto, pois não terá mais necessidade de espoliar outro da túnica. Vós dizeis: “Mas poderia ser um vício, e não uma necessidade.” Está bem, mas daí assim mesmo. Deus vos recompensará por isso, e o que for injusto será castigado. Mas muitas vezes, e isso relembra tudo o que Eu disse ontem sobre a mansidão, vendo-se tratado assim, o vício cai do coração do pecador, e ele se redime, chegando até a reparar o seu furto com a entrega do que roubou.
Sede generosos com aqueles que, mais honestos, em vez de roubar-vos, vos pedem o que precisam. Se os ricos fossem realmente pobres de espírito, como vos ensinei ontem, não haveria essas lamentáveis desigualdades sociais, causas de tantas desventuras humanas e sobre-humanas. Pensai sempre: “Mas se eu estivesse na necessidade, como é que eu receberia a recusa de uma ajuda?” E agi de acordo com a resposta do vosso eu. Fazei aos outros o que gostaríeis que vos fosse feito, e não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fosse feito.
Antiga é aquela palavra: “Olho por olho, dente por dente”, palavra que não está nos dez mandamentos, mas que foi colocada depois, porque o homem privado da Graça é uma fera tal, que só pode compreender a vingança. Mas aquela palavra antiga está anulada por esta palavra nova: “Ama quem te odeia, reza por quem te persegue, perdoa a quem te calunia, fala bem de quem fala mal de ti, faze o bem a quem te prejudica, sê paciente com o briguento, condescendente com quem te aborrece, ajuda de boa vontade a quem recorre a ti, e não uses de usura com ele, não vivas criticando nem julgando os outros.” Vós não sabeis em que condições são praticadas suas ações pelos homens. Em toda espécie de socorro sede generosos, sede misericordiosos. Quanto mais derdes mais vos será dado, e uma medida bem cheia e calcada será despejada por Deus no seio de quem for generoso. Deus, não só vos dará conforme tiverdes dado, mas mais, muito mais. Procurai amar e fazer-vos amar. As brigas acabam custando muito mais do que entrar em entendimento amigável. E viver em amizade é como um mel, que deixa por muito tempo o seu gosto na língua.
Amai! Amai! Amai amigos e inimigos, para serdes semelhantes ao vosso Pai, que faz chover sobre os bons e sobre os maus, e faz descer a luz do sol sobre justos e injustos, reservando-se o direito de dar sol e orvalhadas eternas, e fogo e saraivadas infernais, no dia em que os bons vão ser separados como espigas escolhidas, por entre os feixes da colheita. Não basta amar aos que vos amam, e dos quais esperais uma retribuição. Isso não tem merecimento, é uma alegria, a até os homens honestos por natureza o sabem fazer. Os próprios publicanos e pagãos o fazem. Mas vós amais como Deus ama, amais por respeito a Deus, que é o Criador também dos que são vossos inimigos, ou para vós pouco amáveis. Eu quero em vós a perfeição do amor, e por isso Eu vos digo: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai, que está nos Céus.”
Tão grande é o preceito do amor para com o próximo e do aperfeiçoamento do amor para com o próximo, que Eu não vos digo mais como se dizia: “Não matar”, porque aquele que mata será condenado pelos homens. Mas Eu vos digo: “Não vos ireis”, porque um juízo mais alto que o dos homens, está acima de vós, e leva em conta também as ações imateriais. Quem tiver insultado o irmão, será condenado pelo Sinédrio. Mas quem o tiver tratado de doido, e portanto o tiver prejudicado, será condenado por Deus. É inútil fazer ofertas ao altar, se antes não se fez no interior do coração o sacrifício dos próprios rancores, por causa de Deus, e não se cumpriu o rito santíssimo de saber perdoar. Por isso, quando estiveres para fazer uma oferta a Deus, se tu te lembrares de que tens uma falta contra teu irmão, ou de que ainda estás guardando rancor por uma falta dele, deixa a tua oferta aí, diante do altar, faze primeiro a imolação do teu amor próprio, reconcilia-te com teu irmão, e depois vem para diante do altar, e agora, mas só agora é que o teu sacrifício será santo. Um bom acordo é sempre o melhor que se pode fazer. O juízo dos homens é sempre incerto, e quem, com teimosia, se aventura a crer nele, poderia perder a causa, devendo pagar ao adversário até a última moeda, ou ir apodrecer na cadeia.
Em tudo levantai o olhar para Deus. Perguntai a vós mesmos: “Terei eu o direito de fazer o que Deus não faz comigo?” Porque Deus não é tão inexorável e obstinado como vós sois. Ai de vós, se Ele o fosse! Ninguém se salvaria. Que esta reflexão vos leve a ter sentimentos de mansidão, de humildade, de piedade. E, então, não vos faltará da parte de Deus, nesta vida e na outra, a recompensa.


(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta- Pag. 89 a 95- vol 3)

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