LIÇÕES SOBRE
A FIGUEIRA SECA
O Evangelho como me foi revelado – Maria
Valtorta – Vol. 9 –pg. 357 a 360
1 de Abril de 1947
Estão para entrar de novo na cidade, sempre
pela mesma estrada afastada que eles tomaram na manhã anterior, como se Jesus
não quisesse ser rodeado pelo povo, quando estivesse esperando, antes de estar
no Templo do qual Ele logo vai-se aproximando, ao entrar na cidade pela porta
do Rebanho, que é perto da Probática. Mas hoje muitos dos setenta e dois já o
estão esperando do lado de lá do Cedron, antes da ponte e que, não somente o
estão vendo aparecer por entre as oliveiras verde-cinzentas, com suas vestes
purpúreas, mas vão indo ao seu encontro.
Eles se reúnem, e vão andando para a cidade.
Pedro, que vai olhando para a frente e para baixo, por causa do declive, sempre
desconfiado de estar vendo algum mal intencionado, vê, no meio do frescor das
últimas ladeiras, um montão de folhas murchas penduradas sobre as águas do
Cedron. As folhas, enroladas e quase secas, estão aqui e ali, parecendo estarem
manchadas de ferrugem, como as de uma planta que as chamas tivessem secado. De
vez em quando a brisa faz que alguma delas caia e mergulhe nas águas da
torrente.
“Mas esta é a figueira de ontem! A figueira
que Tu amaldiçoaste”, grita Pedro, mostrando com a mão a planta seca, e fala
virado para trás, dirigindo-se ao Mestre.
Todos correm para lá, menos Jesus, que vai
para a frente com seu passo de costume. Os apóstolos estão narrando aos
discípulos o que aconteceu antes com a arvore que eles estão vendo, e todos
juntos comentam o caso, e ficam olhando assombrados para Jesus.
Jesus, então, vai para perto deles, sorri, ao
observar aqueles rostos espantados e amedrontados e diz: “E, por que não?
Estais assim tão maravilhados, porque pela minha palavra, tenha ficado seca uma
figueira? Será que não me vistes ressuscitar os mortos, curar os leprosos, dar
a vista aos cegos, multiplicar os pães, acalmar as tempestades, apagar o fogo?
E ficais admirados de que uma figueira fique seca?”
“Não é pela figueira. É que ontem ela estava
vegetando, quando amaldiçoaste, e agora esta seca. Olha, está quebradiça como a argila seca. Seus ramos não têm mais medula.
Olha, lá se vão como a poeira”, e Bartolomeu esfarinha por entre os dedos uns
ramos que com facilidade ele quebrou.
“Não tem mais medula. Assim tu disseste. E
sobrevém a morte, quando não há mais medula, e, isso seja para uma planta, como
para uma nação, como sucede em uma religião, que tem, uma dura cortiça e uma
folhagem inútil, uma exterioridade feroz e hipócrita. A medula branca, interna,
cheia de linfa, corresponde à santidade, a espiritualidade. A cortiça dura e a
folhagem inútil é a humanidade privada de vida espiritual e justa. Ai daquelas
religiões que se tornam humanas, porque os seus sacerdotes e fiéis não têm mais
o espírito vital. Ai daquelas nações, cujos chefes são apenas ferocidades e um
ressoante clamor, privado de idéias frutíferas! Ai dos homens nos quais falta a
vida do espírito!”
“Mas, se Tu tivesses que dizer isso aos
grandes de Israel, ainda que o teu falar seja justo, mas não seria sábio. Não
te deixes iludir, por terem eles até agora te deixado falar. Tu mesmo o dizes,
que não o fazes para a conversão do coração, mas como uma medida que tomas.
Fica sabendo, então, também Tu, estimar o valor e as consequências das tuas
palavras. Porque existe também a sabedoria do mundo, além da sabedoria do
espírito. E é preciso saber usar dela para nossa vantagem. Porque, enfim por
enquanto, estamos no mundo, e não ainda no Reino de Deus”, diz Iscariotes sem
azedume, mas em um tom doutrinal.
“O
verdadeiro sábio é aquele que sabe ver as coisas, sem que as sombras de sua
própria sensualidade e as reflexões do cálculo as alterem. Eu direi sempre a
verdade do que vejo.”
“Mas, afinal, esta figueira está morta porque
estiveste a amaldiçoá-la, ou um... caso... um sinal... como direi?”, pergunta
Filipe.
“È tudo isso
que disseste. Mas o que Eu fiz, vós também poderíeis fazer, se chegásseis a ter
a fé perfeita. Tende-a, no Senhor Altíssimo. E, quando a tiverdes, em verdade,
Eu vos digo que, se alguém chegar a ter a confiança perfeita na força da oração
e na bondade do Senhor, poderá dizer a este monte: “Sai daqui, e joga-te ao mar”,
e, se ao dizer isso, não ficardes hesitando em vosso coração, mas crendo que
tudo o que ele ordena possa acontecer, tudo o que ele disse se verificará.”
“E ficaremos parecendo uns magos, e seremos
apedrejados, como está dito para os que praticam a magia. Seria um milagre bem
estulto, e para nosso prejuízo”, diz Iscariotes, balançando a cabeça.
“Estulto és tu, que não entendes a parábola!”,
responde o outro Judas.
Jesus não fala a Judas. Ele a todos: “Eu vos digo, e é uma velha lição a que Eu
repito nesta hora: seja qual for a coisa que pedirdes na oração, tende fé em
obtê-la, e a obtereis. Mas, se antes de orar, tiverdes alguma coisa contra
alguém, perdoai antes, e fazei as pazes, para terdes como amigo o vosso Pai,
que está no Céu, e que tanto, tanto vos perdoa e ajuda, da manhã até à tarde, e
do pôr-do-sol até a aurora.”
O EVANGELHO COMO ME FOI REVELADO – MARIA VALTORTA
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