COMPARAÇÃO
ENTRE OS PECADORES CONVERTIDOS E OS QUE NÃO PECARAM
...Depois, subindo para o alto da escadaria
de uma casa, faz o seu gesto habitual de abrir os braços, gesto de que Ele faz
uso antes de começar a falar, e para impor silêncio. E, tendo-o conseguido,
recolhe as dobras do seu manto que, com aquele gesto abriu-se sobre o peito,
conserva-o firme com a esquerda, enquanto abaixa a direita, como no gesto de
quem faz um juramento, e diz:
“Escutai, ó cidadãos de Jericó, as parábolas
do Senhor, e cada um depois as medite em seu coração, e delas tire, com que
nutrir o seu espírito. E o podes fazer, porque não é de ontem, nem do mês
passado, nem mesmo desde o outro inverno, que vós conheceis a palavra de Deus.
Antes que Eu fosse Mestre, João, meu precursor, vos havia preparado para a
minha vinda, e, depois que Eu vim, os meus discípulos araram sete e mais sete
vezes este chão, para semear nele toda a semente que Eu lhes havia dado.
Portanto, vós podeis compreender a palavra e a parábola.
A que compararei Eu aqueles que, depois de
terem sido pecadores, se convertem? Eu os compararei a uns doentes, que ficam
sãos. E a que compararei os outros, que publicamente não pecaram, ou então,
raros como pérolas negras, nunca cometeram, nem mesmo ocultamente, culpas
graves? Eu os compararei a pessoas sãs. O mundo é composto dessas duas
categorias. Tanto em seu espírito, como na carne e no sangue. Mas, se iguais
são as comparações, diferente é o modo que o mundo usa com os doentes curados,
que estavam doentes em sua carne, do modo que ele usa para com os pecadores
convertidos, isto é, com os doentes em seu espírito, e que voltam a ter saúde.
Nós vemos que, quando por exemplo, um leproso
que é o doente mais perigoso, e o mais isolado por ser perigoso, obtém a graça
da cura, depois de ter sido examinado pelo sacerdote e purificado, é readmitido
no convívio das pessoas, até os da sua cidade se congratulam com ele, porque
ficou são, porque ressuscitou para a vida, para a família, para os negócios.
Grande festa se faz na família e na cidade, quando alguém que era leproso
consegue obter graça e sarar! É uma competição o que se faz os parentes e os
concidadãos, para levar-lhe isto ou aquilo, e procuram saber se ele está só ou
sem casa, ou sem móveis, e lhe oferecem cama ou mobília, e todos dizem: “Ele é
um predileto de Deus. O dedo de Deus o curou. Prestemos-lhe, pois, uma
homenagem, honremos Aquele que o criou, e recriou.” É justo fazer assim. Mas
quando, desventuradamente, alguém tem os primeiros sinais da lepra, com que
amor angustiado os parentes e os amigos o acumulam de ternuras, enquanto ainda
é possível fazê-lo, como que para dar-lhe tudo de uma vez, o tesouro dos afetos
que lhe teriam dado durante muitos anos, para que ele o leve consigo, para o
seu sepulcro de vivo.
Mas, por que então, não se faz assim com os
outros doentes? Um homem começa a pecar, e seus familiares, e sobretudo os
concidadãos, não o estarão vendo? Por que então, não procuram com amor,
arrancá-lo do perigo do pecado? Uma mãe, um pai, uma esposa, uma irmã, ainda o
fazem, mas é mais difícil que o façam os irmãos, e não digo que o façam os
filhos do irmão do pai ou da mãe. Os concidadãos, afinal, só sabem criticar,
escarnecer, xingar, ficar escandalizados, exagerar os pecados do pecador,
mostrá-lo com o dedo, conservá-lo afastado como um leproso aqueles que são mais
justos, ou, então tornaram-se seus cúmplices, para gozarem ás costas dele
aqueles que não são justos. Mas não há, a não ser raramente nem uma boca, e
muito menos um coração que vá ao infeliz com piedade e firmeza, com paciência e
amor sobrenatural, e se empenhe em frear a queda dele no pecado. E como? Por acaso não é mais grave,
verdadeiramente grave e mortal, a doença do espírito? Não nos prima ela, e para
sempre, o Reino de Deus? A primeira das caridades para com Deus e para com o próximo
não deve ser este trabalho de curar um pecador para o bem de sua alma e para a
Glória de Deus?
E, quando um pecador se converte, para que
aquela obstinação de julgá-lo, aquele quase amargurar-se por ter ele voltado á
saúde espiritual? Será porque vedes desmentidos os vossos prognósticos certos
de condenação de um vosso concidadão? Mas vós deveríeis sentir-vos felizes com
isso, porque quem está desmentindo é o Deus misericordioso, que vos dá a medida
de sua bondade, para dar-vos coragem em vossas culpas mais ou menos graves. E,
por que ficar persistindo em querer ver que está sujo, desprezível, digno de
ficar em isolamento, aquilo que Deus e a boa vontade de um coração fazem puro,
admirável, digno de estima dos irmãos, antes de sua admiração? Bem que vos
rejubilais se um boi vosso, um asno ou camelo, ou uma ovelha da grei, ou o
pombo preferido se curam de uma doença. Bem que vos alegrais, se um estranho,
de cujo nome mal vos lembrais, porque os ouvistes falar no tempo em que ele
ficou isolado como leproso, mas tendo saído do isolamento curado. E, por que
então não vos alegrais com essas curas do espírito, com essas vitórias de Deus? O Céu se alegra, quando um pecador se
converte. O Céu: Deus, os Anjos puríssimos, aqueles que não sabem o que é
pecar. E vós, vós homens, quereis ser mais intransigentes do que Deus?
Tornai, tornai justo o vosso coração, e
reconhecei o Senhor, não somente como estando presente por entre as nuvens de
incensos e os cânticos do Templo, no lugar onde somente a Santidade do Senhor,
no Sumo Sacerdote, é que deve entrar, e deveria ser santo, como o seu nome o
indica. Mas também no prodígio desses espíritos ressuscitados, desses altares
reconsagrados, sobre os quais o amor de Deus desce com os seus fogos, para acender
o fogo do sacrifício.
... E, se de um pecador que, há tempo, vos
fez ver um espetáculo escandaloso, recebeis agora espetáculos edificantes, não
queirais zombar dele, mas imitá-lo, porque nunca ninguém foi tão perfeito, que
fosse impossível a um outro poder ensiná-lo. E o Bem é sempre uma lição que se
acolhe, mesmo quando aquele que o está praticando, em tempos passados era
objeto de reprovação. Imitai e ajudai. Porque assim fazendo dais glória ao
Senhor, e demonstrareis que entendestes o seu Verbo. Não queirais ser como
aqueles que em vossos corações vós criticais, porque as ações deles não
correspondem ás suas palavras. Mas fazei que toda vossa boa ação seja o
coroamento de toda vossa boa palavra. E, então verdadeiramente sereis olhados e
ouvidos benevolamente pelo Eterno.”
(O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 8,
pgs. 131,132,133-Maria Valtorta)
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