“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO


TERCEIRO ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS

O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Um fariseu diz: “Não façais assim. Desse modo nunca saberemos que é que Ele entende por reino, quais são as leis, que manifestações esse reino terá.”
E, que quereis? Por acaso o antigo Reino de Israel foi de repente perfeito como nos tempos de Davi e de Salomão? Não vos lembrais daquelas incertezas e horas obscuras, antes do resplendor real do rei perfeito? Para termos o primeiro rei, foi necessário antes formar o homem de Deus, que ungisse, e, para isso, tirar a esterilidade de Ana de Elcana, e inspirar-lhe a ideia de oferecer o fruto do seu seio. Medita no cântico como o Senhor... não queirais multiplicar, gabando-vos, as palavras cheias de soberba... O Senhor faz morrer e viver... Ele eleva o pobre... Ele torna seguros os passos de seus santos, e os ímpios se calarão, porque o homem não é por sua força que é forte, mas pela que lhe vem de Deus.” Oh! Lembrai-vos bem: “O Senhor julgará os confins da Terra e dará o império ao seu rei, e exaltará o poder do seu Cristo.” O Cristo das profecias, acaso não devia vir de Davi? E, então, todas as promessas, desde o nascimento de Samuel em diante, não são promessas do Reino de Cristo?
“Tu, Mestre, por acaso não és de Davi, nascido em Belém?”, pergunta diretamente a Jesus para terminar.
“Tu o disseste”, responde Jesus em poucas palavras.
“Oh! Então, dá uma satisfação às nossas mentes. Tu estás vendo que ficar calado não é boa coisa, porque faz crescerem as nuvens da dúvida nos corações.”
“Não da dúvida. Mas da soberba, O que é ainda mais grave.”
“Como? Duvidar de Ti é menos grave do que ser soberbo?”
“Sim. Porque a soberba é a luxúria da mente. É o maior dos pecados, sendo o mesmo pecado de Lúcifer. Deus tantas coisas perdoa, e sua Luz resplende cheia de amor para iluminar as ignorâncias e afugentar as dúvidas. Mas não perdoa a soberba, que zomba Dele, dizendo-se maior do que Ele.”
“Quem entre nós diz que Deus é menor do que nós? Nós não blasfemamos...”, gritam muitos.
“Vós não o dizeis com os lábios. Mas o confirmais com os vossos atos. Vós quereis dizer a Deus: “Não é possível que o Cristo seja um Galileu, um homem do povo. Não é possível que seja esse homem aí.
Que é impossível para Deus?”
A voz de Jesus parece um trovão. Se antes Ele estava um pouco reservado em sua aparência, apoiado a uma coluna, como um mendigo, agora Ele se endireita, afasta-se da pilastra, ergue majestosamente a cabeça acima do pescoço, e fita a multidão com seus olhos fulgurantes. Ele está ainda sobre o degrau, mas é como se estivesse no alto de um trono, de tão régia que está a sua aparência. As pessoas se afastam, como que amedrontadas, e ninguém responde à última pergunta.
Depois um rabi, baixinho e cheio de rugas, de uma aparência feia, como deve ser a de sua alma, pergunta, dando antes uma risadinha sem graça e com a voz meio rouca: “A luxúria se pratica entre duas pessoas. E a mente, com quem é que a pratica? A mente não é corpórea. Como é, então que ela pode pecar por luxúria? Sendo ela incorpórea, a que é que ela se une para pecar?”, e se ri, depois de ter arrastado as palavras e continuado na risadinha.
“Com quem? Com Satanás. A mente do soberbo comete fornicação com Satanás contra Deus e contra o amor.”
“E Lúcifer, com quem fornicou para tornar-se Satanás, se ainda não era Satanás?”
“Consigo mesmo. Com o seu próprio pensamento inteligente e desordenado. Que é a luxúria, ó escriba?”
“Mas... eu já te disse! E quem é que não sabe o que é a luxúria? Todos nós já a experimentamos.”
“Tu não és um rabi sábio, pois não sabes qual a essência verdadeira deste pecado universal, fruto triplo do Mal. Assim como o Pai, o Filho e o Espírito Santo são a forma Trina do Amor. A luxúria é uma desordem, ó escriba. A desordem guiada por uma inteligência livre e consciente, que sabe que seu apetite é um mal, mas assim mesmo quer saciá-lo. A luxúria é uma desordem e uma violência contra as leis naturais, contra a justiça e o amor para com Deus, para conosco mesmos e para com os nossos irmãos. Qualquer luxúria. Tanto a luxúria carnal, como a que ambiciona as riquezas e poderes da Terra, como também a daqueles que querem impedir ao Cristo de cumprir sua missão, porque eles vão atrás da excessiva ambição, que treme de medo por saber que Eu vou castigá-la.”
Um grande sussurro se espalha pelo meio da multidão. Gamaliel, que ficou sozinho sobre o seu tapete, levanta a cabeça e lança um olhar indagador sobre Jesus.
“Mas, então, quando virá o Reino de Deus? Tu não respondeste...”, volta a falar o fariseu de antes.
“Quando o Cristo estiver no trono que Israel lhe está preparando, mais alto do que qualquer outro trono, mais alto até do que este Templo.”
“Mas onde é que ele está sendo preparado, se nenhum sinal de preparação se vê? Será possível mesmo, será verdade que Roma vá deixar que Israel ressurja? As águias terão ficado cegas para não verem o que está sendo preparado?”
“O Reino de Deus não vem com pompa. Só o olho de Deus é que vê como ele se vai formando, porque o olho de Deus vê o interior dos homens. Por isso não andeis procurando onde é que está esse Reino, e onde é que ele está sendo preparado. E não creiais em quem diz: “Há uma conspiração em Batanéia, conjura-se nas cavernas do deserto de Engati, conjura-se mas praias do mar.” O Reino está em vós, dentro de vós, no vosso espírito que acolhe a Lei vinda dos Céus como Lei da verdadeira Pátria, lei que, se for praticada, forma os cidadãos do Reino. Para isso, antes de Mim veio o João, para preparar o caminho dos corações pelos quais haveria de penetrar nelas a minha Doutrina. Com a penitência foram preparados os caminhos, com o amor o Reino surgirá e cairá a escravidão do pecado, que interdiz aos homens o Reino dos Céus.”
“ Mas realmente este homem é grande. E vós dizeis que Ele é um carpinteiro?, diz em voz alta um que estava escutando atentamente. E, os outros judeus pelas vestes que usavam, e talvez subornados pelos inimigos de Jesus, olham um para o outro, surpresos, e para os seus subordinadores, perguntando: “Mas, que foi que vós nos insinuastes? Quem pode dizer que este homem desencaminha o povo?, e outros também dizem: “Nós perguntamos a nós mesmos e a vós o seguinte: se é verdade que nenhum de vós o instruiu, como é que Ele tem tão grande Sabedoria? Onde foi que Ele a aprendeu, se não estudou com nenhum mestre”, e, virando-se para Jesus, diz: “Dize-me uma coisa: Onde foi que aprendeste esta tua doutrina?”
Jesus levanta o seu rosto inspirado e diz: “Em verdade, em verdade Eu vos digo que esta doutrina não é minha, mas é daquele que me mandou ao meio de vós. Em verdade, em verdade Eu vos digo que não foi nenhum mestre que me ensinou, nem Eu a encontrei em nenhum livro, nem em nenhum rolo, nem em monumento de pedra. Em verdade, em verdade Eu vos digo que Eu me preparei para esta hora ouvindo o Vivente falar ao meu espírito. Agora chegou a hora de Eu dar ao povo de Deus a Palavra vinda dos Céus. E Eu o faço, e o farei até o meu último suspiro, e depois que Eu o tiver dado, as pedras que me ouvirem, e que não se amolecerem, conhecerão um temor de Deus mais forte do que aquele que Moisés sentiu no Sinai e no temor, transmitindo uma verdade ou amaldiçoando as palavras da minha rejeitada doutrina, se gravarão nas pedras. E aquelas palavras não serão mais destruídas. O sinal delas permanecerá. Como Luz para quem o acolher bem, pelo menos naquele momento, com amor. E como trevas completas para quem, nem mesmo naquela hora, compreender que foi a vontade de Deus que me mandou fundar o seu Reino. No princípio da Criação foi dito: “Faça-se a luz”. E a luz apareceu sobre o caos. No princípio de minha vida foi dito: “A boa vontade é a que faz a vontade de Deus, e não a combate.” Agora quem faz a vontade de Deus e não a combate, percebe que não me pode combater, porque percebe que a minha doutrina vem de Deus e não de Mim mesmo. Por acaso, estarei procurando a minha glória? Por acaso, digo que sou o Autor da Lei da graça e da era do perdão? Não. Eu não tomo a glória que não é minha, mas dou glória à Glória de Deus. Autor de tudo o que é bom. Mas minha glória é fazer o que o Pai quer que Eu faça, porque isso lhe dá glória. Quem fala em seu favor para ser louvado, procura a sua própria glória. Mas quem, podendo mesmo sem procurá-la receber glória dos homens pelo que faz ou diz, e a rejeita, dizendo: “Não é minha, nem por Mim foi criada, mas ela procede do Pai, como Eu dele procedo, está na verdade, e nele não há injustiça, dando a cada um o que lhe pertence, sem nada reter daquilo que não é seu. Eu existo, porque Ele quis.”
Jesus faz uma parada. Corre o olhar por sobre a multidão, investiga as consciências. Ele as lê. E as pesa. Depois abre a boca outra vez: “Vós estais calados. A metade de vós está admirada, e a outra metade está pensando como podereis fazer-me calar. De quem são os dez Mandamentos? De onde é que eles vêm? Quem foi que vô-los deu?”
“Moisés!”, grita a multidão.
“Não. Foi o Altíssimo. Moisés, servo de Deus, foi quem vô-los trouxe, Mas eles são de Deus. Vós, que tendes as fórmulas, mas que não tendes fé, estais dizendo em vossos corações: “A Deus nós não vemos. Nós não. Nem os hebreus aos pés do Sinai.” Oh! Não vos bastam, para crerdes que Deus estava presente, nem os fulgores que incendiavam o monte, enquanto Deus fulgurava, trovejando diante da presença de Moisés. Não vos bastam nem mesmo os fulgores e terremotos, para crerdes que Deus está acima de vós, escrevendo o Pacto eterno de salvação e de condenação. Uma epifania nova e tremenda vós havereis de ver, e logo, do lado de dentro destes muros. E os esconderijos sagrados sairão das trevas, porque será iniciado o Reino da Luz, e o Santo dos Santos será exaltado à vista do mundo, não mais velado pela tríplice cortina. E não crereis ainda. Que é, então, que será preciso para cós fazer crer? Que os fulgores da Justiça caiam sobre vossas carnes? Mas nesse tempo a Justiça estará aplacada. E descerão os fulgores do Amor... E, no entanto, nem eles escreverão em vossos corações, em todos os vossos corações a Verdade, mas suscitarão o Arrependimento, e depois o Amor...”
Os olhos de Gamaliel agora estão fitando, com um rosto atento o rosto de Jesus.
“Mas Moisés, vós sabeis que era um homem como os outros, e dele vos deixaram a descrição os cronistas do seu tempo. Pois bem. Mesmo sabendo quem ele era, de quem foi e como foi que recebeu a Lei, por acaso vós a observais? Não. Nenhum de vós a observa.”
Ouve-se uma gritaria de protesto pelo meio da multidão.
Jesus impõe silêncio: “Estais dizendo que não é verdade> E que vós a Observais? E, então, por que procurais matar-me? Não o proíbe o quinto mandamento: “Não matar?” Vós não admitis que Eu seja o Cristo? Mas não podeis negar que Eu seja homem. E, então, por que procurais matar-me?”
“Mas, Tu estás louco. És um endemoninhado! É um demônio que está falando em Ti, e que faz delirar, e dizer mentiras! Nenhum de nós pensa em matar-te! Quem é que quer matar-te?”, gritam justamente aqueles que o querem fazer.
“Quem? Vós. E estais procurando desculpas para fazê-lo. E me acusais de culpas não verdadeiras. Vós me reprovais, e não é a primeira vez, porque Eu curei um homem no sábado. E Moisés não diz que é preciso ter piedade até do asno e do boi que caíram, pois aquilo representa um bem para o teu irmão? E Eu não deveria ter piedade do corpo doente de um irmão para o qual a saúde reconquistada é um bem material e um meio espiritual para bendizer a Deus e amá-lo por sua bondade? E a circuncisão, que Moisés vos deu, por a terdes tido desde os Patriarcas, não a fazeis vós também nos sábados? Se, ao circuncidar um homem no sábado não fica violada a Lei mosaica do sábado, porque ela serve para fazer de um filho homem um filho da Lei, por quê é que vos indignais comigo, se no sábado Eu curei um homem todo, no corpo e no espírito, porque a letra, as fórmulas, as aparências são coisas mortas, cenários pintados, mas não vida verdadeira, enquanto que o espírito das palavras e aparências é que é vida real e fonte de eternidade. Mas vós não compreendeis estas coisas, porque não as quereis compreender. Vamos.”
E vira as costas para todos, indo em direção as sala, acompanhado e rodeado pelos seus Apóstolos e discípulos, que olham para Ele com dó e com indignação para com os inimigos.
E Ele, pálido, sorri para eles, dizendo: “Não fiqueis tristes. Vós sois meus amigos. E fazeis bem em o serdes. Porque o meu tempo já vai chegando ao fim. Logo vai chegar o tempo em que desejaríeis ver um destes dias do Filho do Homem. Mas não podereis vê-lo. Então, vos servirá de consolo o poderdes dizer-vos uns aos outros: “Nós o amamos e lhe fomos fiéis, enquanto esteve ente nós.” E, para se rirem de vós e fazer que pareçais uns doidos, eles vos dirão: “O Cristo voltou. Ele está aqui. Ele está ali.” Não acrediteis nessas palavras. Não vades, não vos ponhais a seguir esses falsos escarnecedores. O Filho do Homem, depois de ter ido, não voltará mais, senão em seu Dia. E, então, o seu aparecimento será semelhante ao de um relâmpago que fulgura e brilha, de um lado do céu até o outro, e tão velozmente, que vosso olhar nem pode acompanhá-lo. Vós, e não somente vós, mas nenhum homem poderia seguir-me no meu aparecimento final, a fim de recolher a todos os que existiram, que existem e que existirão. Mas, antes que isso aconteça é necessário que o Filho do Homem sofra muito. Sofra tudo. Toda a dor da Humanidade e além disso, seja rejeitado por esta geração.”
“Mas, assim sendo, meu Senhor, Tu terás que sofrer todo o mal, com que será capaz de golpear-te esta geração”, observa o pastor Matias.
“Não. Eu disse: “Toda a dor da Humanidade.” Ela existia antes desta geração, e existirá, por gerações e gerações, depois desta. E sempre pecará. E o Filho do Homem provará todo o amargor dos pecados passados, presente e futuros, até o último pecado, em seu espírito, antes de ser o Redentor. E, alem de sua glória, sofrerá também em seu espírito de Amor. Vós não podeis compreender por enquanto. Vamos agora para aquela casa. Ela é minha amiga.”
E bate a uma porta, que se abre, deixando-o entrar, sem que o porteiro mostre nenhum espanto por causa do número de pessoas que vão entrando atrás de Jesus.


(de Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7, pg. 409 a 414)

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