TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
A CURA DOS DEZ LEPROSOS
“Jesus!
Rabi Jesus! Filho de Davi e Senhor nosso, tem piedade de nós.”
“São
leprosos! Vamos Mestre, senão o povoado virá correndo e nos deterá em suas
casas”, dizem os Apóstolos.
Mas os
leprosos levam a vantagem, de já estarem mais na frente do que eles, a certa
altura acima da estrada, a pouco menos de uns cento e cinqüenta metros do
povoado, e descem, andando com dificuldade, e procurando correr até Jesus,
repetindo sempre aquele grito.
“Vamos
entrar no povoado, Mestre. Eles lá não podem entrar”, dizem alguns dos
Apóstolos, mas outros discordam: “Já as mulheres estão aparecendo nas janelas
para olhar. Se nós entrarmos, nos livraremos dos leprosos, mas não de sermos
conhecidos e detidos.”
E, enquanto
estão na incerteza do que fazer, os leprosos vão ficando sempre mais perto de
Jesus que, sem dar atenção aos “mas”, e aos seus Apóstolos, foi continuando por
sua estrada. E os Apóstolos se resignam a acompanhá-lo, enquanto as mulheres,
com os meninos agarrados às suas saias, e um ou outro homem de idade, que ficou
no povoado, aproximam-se para ver, ficando a uma prudente distância dos
leprosos, que vão parar a alguns metros de Jesus, e continuam suplicando-lhe:
“Jesus, tem piedade de nós.”
Jesus os
observa por um instante, depois, sem aproximar-se deste grupo de sofredores,
pergunta: “Sois deste povoado.”
“Não,
Mestre. Somos de diferentes lugares. Mas aquele monte onde estamos, do outro
lado, está virado para a estrada, que vai para Jericó, e aquele lugar é bom
para nós.”
“Ide,
então, ao lugarejo que fica perto do vosso monte, e mostrai-vos aos
sacerdotes.”
E Jesus
continua a caminhar, começando a andar pela beira da estrada, a fim de não
tocar nos leprosos, que o vêem indo aproximando-se deles, sem terem mais do que
um olhar cheio de esperança em seus pobres olhos doentes. E Jesus, tendo
chegado à altura deles, levanta a mão para abençoá-los. As pessoas do povoado,
decepcionadas, voltam para suas casas. Os leprosos sobem de novo pelo monte, a
fim de se dirigirem para a gruta ou para a estrada que vai para Jericó.
“Fizeste
bem em não curá-los. Não teriam mais deixado que fôssemos para a frente os
habitantes do povoado.”
“Sim, e
seria preciso chegarmos a Efraim antes da noite.”
Jesus
vai caminhando e guardando silêncio. O povoado já vai desaparecendo de sua
vista, por causa das curvas da estrada, que é muito sinuosa, devido aos
caprichos do monte, no qual ela foi traçada.
Mas uma
voz chega até eles: “Louvor ao Deus Altíssimo e ao verdadeiro Messias. Nele está
todo o poder, sabedoria e piedade! Louvor ao Deus Altíssimo que nele nos
concedeu a paz. Louvai-o, homens todos dos povoados da Judéia e da Samaria, da
Galiléia e do Além-Jordão. Até as neves do altíssimo Hermon, até às ardentes
pedreiras da Iduméia, até às areias molhadas pelas ondas do Mar Grande, ressoem
os louvores ao Altíssimo e ao seu Cristo. Eis que está cumprida a profecia de
Balaão. A Estrela de Jacó brilha sobre o céu reintegrado da Pátria, de novo
unida pelo verdadeiro Pastor. Eis também cumpridas as promessas feitas aos
patriarcas. Eis a palavra de Elias, que nos amou. Ouvi-a, ó povos da Palestina,
e compreendei-a. Não se deve mais ficar claudicando, dos dois lados, mas
deve-se escolher, por meio da luz espiritual e, se a intenção for reta, então
se escolherá bem. Isto é o que o Senhor ensina. Segui-o! Ah! Como temos sido
castigados até agora, porque não nos esforçamos para compreender! O homem de
Deus amaldiçoou o falso altar, profetizando: “Eis que nascerá da Casa de Davi
um filho chamado Josué, o qual imolará o altar e queimará os ossos de Adão. E,
então, o altar se abrirá até as vísceras da Terra, e as cinzas da imolação se
espalharão para o norte e o sul, para o oriente e para o lado do ocaso do sol.”
Não queirais fazer como o estulto Ocosias, que mandava consultar o deus de
Acaron, enquanto o Altíssimo estava em Israel. Não queiras ser menos do que a
mula de Balaão, a qual, pela atenção prestada por ele ao espírito de luz, teria
merecido a vida, enquanto teria caído ferido o profeta, que não via. Eis a Luz
que passa pelo meio de nós. Abri os olhos, ó cegos de espírito, e vede”.
E um dos
leprosos os acompanha sempre mais de perto pela estrada mestra à qual já
chegaram, e está mostrando Jesus aos peregrinos.
Os
Apóstolos, depois de se terem enxugado, tornam a ir duas ou três vezes ao
leproso, que já está perfeitamente curado, intimando-o a calar-se. E quase que
até o ameaçam, na última vez. Mas, ele, deixando por um momento de ficar
levantando a voz, para falar a todos, responde: “E que quereis? Que eu não dê
glória a Deus pelas grandes coisas que Ele me fez? Quereis que eu não o
bendiga?”
“Bendize-o
em teu coração, e cala a boca!”, respondem-lhe eles com impaciência.
“Não, eu
não posso calar-me. Deus vai pondo as palavras em minha boca”, e recomeça a
dizer em voz alta: “Pessoas dos dois lugares da divisa, pessoas que estais
passando por acaso, parai aí para adorardes Aquele que reinará em nome do
Senhor. Eu me ria por estar dizendo tantas palavras. Mas agora eu as repito,
porque vejo que elas se cumpriram. Vede como estão em movimento todos ao povos
para virem jubilosos até o Senhor, pelos caminhos do mar e dos desertos, pelas
colinas e pelos montes. E também nós, um povo que tem vindo a caminhar pelo
meio das trevas, iremos para a grande Luz que surgiu para a vida, saindo da
região da morte. Lobos, leões e leopardos era o que nós éramos, mas nós
renascemos no Espírito do Senhor, e nos amaremos nele à sombra do Rebento de
Jessé, que se tornou um cedro, sob o qual acampam as nações reunidas por Ele
nos quatro pontos da terra. Eis que aí vem o dia no qual o ciúme de Efraim
terminará, porque não existe mais Israel e Judá, mas um Reino só: o do Cristo
do Senhor. Eis que eu canto os louvores do Senhor que me salvou e consolou. Eis
que eu digo: louvai-o, e vinde beber a salvação na fonte do Salvador. Hosana!
Hosana às grandes coisas que Ele faz! Hosana ao Altíssimo, que colocou no meio
dos homens o seu Espírito, revestido de carne, para que se tornasse o
Redentor!”
É
inexaurível. O número de pessoas aumenta, se alegra, e entulha a estrada. Quem
estava atrás corre para a frente, quem estava adiante volta para trás. Aqueles
que vieram de algum pequeno povoado, perto do qual já estão, unem-se aos que
vão passando.
“Mas,
Senhor, faze que ele se cale. Ele é samaritano. Assim está dizendo o povo. Ele
não deve falar quem és, se Tu nem a nós permites que vamos à tua frente falando
quem és”, dizem, inquietos, os Apóstolos.
“Meus
amigos, Eu vos repito as palavras de Moisés a Josué, filho de Num, que se
estava lamentando, porque Eldad e Medad estavam profetizando nos acampamentos: “Estás
ciumento por mim, em meu lugar? Oh! Se assim profetizasse todo o povo, e o
Senhor desse a todos o seu espírito!” Contudo eu pararei, e o despedirei, para
contentar-vos.”
E Jesus
para, e chama a si o leproso curado, que se aproxima, e se prostra aos pés de
Jesus, beijando o pó.
“Levanta-te.
E os outros, onde estão? Não éreis dez? Os outros nove não sentiram a
necessidade de agradecer ao Senhor. Entre os dez leprosos, dos quais só um era
samaritano, não se achou outro, sendo este estrangeiro, que julgasse ser seu
dever voltar atrás para dar glória a Deus, antes de ir reintegrar-se na vida e
na família. Ele é chamado de samaritano”. Não são mais uns bêbados os
samaritanos, porque agora eles vêem, sem se enganarem, e correm pela estrada da
Salvação sem vacilações. Portanto, a Palavra fala uma linguagem estrangeira e a
entendem os estrangeiros, mas não a entendem os que são do seu povo?”
Ele corre
seu belo olhar por sobre a multidão, que veio de todos os lugares da Palestina,
e que ali se encontram presentes. E são insuportáveis aqueles olhos em seus
lampejos... Muitos inclinam as cabeças, outros esperam as cavalgaduras, ou
põem-se a caminhar, afastando-se dali.
Jesus
inclina seu olhar sobre o samaritano, que está ajoelhado a seus pés. E seu
olhar se torna muito suave. Ele levanta a mão, que estava descida ao longo do
lado, em um gesto de bênção, e diz: “Levanta-te, e vai. A tua fé te salvou,
mais ainda do que a tua carne. Anda na Luz de Deus. Vai.”
O homem
beija outra vez o pó e, antes de levantar-se, faz-lhe um pedido: “Um nome,
Senhor. Um nome novo, porque tudo é novo em mim, e para sempre.”
“Em que
terra nos encontramos?”
“Na
terra de Efraim.”
“E Efrém
de chamarás, de agora em diante, porque duas vezes a Vida te deu vida. Vai.”
O homem
se levanta, e se vai.
As
pessoas do lugar, e um ou outro peregrino quereriam deter a Jesus. Mas Ele os
domina com seu olhar, que não é de severidade, mas é até muito suave ao olhar
para eles, mas que deve estar exalando uma força tal, que ninguém pode fazer
nem um gesto para detê-lo.
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7, pg. 390 a 394)
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