Terceiro
ano da vida pública de Jesus
A DOR DE MARIA EM SABER QUE A HORA DA PAIXÃO
HAVIA CHEGADO
“ Sim
meu Filho. Sim. Eu sei. Eu não me lamento de nada. Certamente eu gostaria de
estar, preferiria estar contigo, no meio da lama, exposto ao vento, ao relento,
perseguida, cansada, sem telhado e sem fogão, sem pão, como Tu tantas vezes.
Ainda em minha casa, enquanto Tu estás longe, e eu nem sei como estás na hora
em que penso em Ti. Tu comigo, e eu contigo, Tu sofrerias menos, e eu menos
sofreria. Porque Tu és meu Filho, e eu te poderia ter sempre em meus braços, e
defender-te do frio, da dureza das pedras e sobretudo da dureza dos corações,
com o meu amor, com o meu peito, com os meus braços. Tu és o meu Filho. Eu te
segurei bem sobre o coração lá na gruta, na viagem para o Egito, e na volta de
lá, sempre, quando as insídias da estação e dos homens podiam fazer-te mal. Por
quê não poderia eu fazer o mesmo agora? Por acaso, não serei eu mais a tua Mãe,
porque agora Tu és homem? Então, não pode mais uma mãe ser tudo para o filho,
porque ele não é mais pequenino? Eu penso que, se eu estiver contigo, não te
poderão fazer mal. Não. Eu sou uma tola... Tu és o Redentor... e os homens, eu
já o tenho visto, não têm piedade nem mesmo da própria mãe deles... Mas
deixa-me ir para perto de Ti. Tudo é melhor para mim, do que estar longe de
Ti.”
“Se os
homens fossem melhores, eu teria voltado para Nazaré de novo. Mas também
Nazaré... Não importa. Eles virão a mim. Por enquanto, eu estou indo a
outros... E não posso levar-te comigo. E não voltarei aqui, senão quando eles
souberem quem Eu sou. Agora Eu vou para a Judéia. Subirei até o Templo...
Depois ficarei por aquelas regiões. Percorrerei uma vez mais a Samaria.
Trabalharei onde há mais coisas a fazer. Por isso, ó Mãe, Eu te aconselho a
preparar-te para ir ao meu encontro no começo da primavera e a estabelecer-te
perto de Jerusalém. Nós nos veremos mais uma vez, e nos veremos ainda...
Assim Eu espero. Mas, na maior parte do tempo,
ficarei na Judéia. Jerusalém é a ovelha mais necessitada de cuidados, porque,
em verdade, é mais teimosa do que um carneiro velho, e mais rixenta do que um
bode que ficou selvagem. Eu irei semear lá a Palavra, como um orvalho que não
se cansa de cair sobre sua aridez.”
Jesus se põe em pé, fica parado, olha para sua
Mãe, que o está fitando com atenção, Ele abre a boca e depois sacode a cabeça
dizendo: “Há ainda uma coisa a dizer, antes da última coisa... Minha Mãe, se
José quiser falar-me, que esteja lá pela aurora de depois de amanhã, na estrada
que de Nazaré, passando pelo Tabor, vai para Jezrael. Eu lá estarei sozinho, ou
com João.”
“Eu o direi meu Filho.”
Há um silêncio, um profundo silêncio, pois os
passarinhos já pararam de brigar por entre os ramos, e até o vento se calou,
enquanto o crepúsculo vai-se aproximando. Depois, Jesus que parece ter procurado
com dificuldade as palavras a dizer por últimas, diz: “Minha Mãe, a permanência
acabou. Um beijo, minha Mãe. E a tua bênção.”
E eles se beijam e se abençoam um ao outro.
Em seguida, Jesus, inclinando-se para pegar o
véu de sua Mãe, e chamando João, como que para tornar menos pesadas suas
palavras, diz: “Quando fores para a Judéia, leva-me a minha veste mais bonita.
Aquela que me fizeste para as festas solenes. Em Jerusalém devo ser “Mestre”,
no sentido mais amplo e até mais perceptível pelos homens, visto que aqueles
espíritos, fechados e hipócritas, olham mais para as exterioridades, mais para
a veste do que para o interior, que é a doutrina. E assim, até Judas de Keriot
ficará contente... e contente ficará José, que me verá de fato vestido com uma
veste real. Oh! Será um triunfo! E a veste feita por ti contribuirá...”, e
sorri sacudindo a cabeça para abrandar um pouco a verdade evidente que aquelas
palavras encerram.
Mas Maria não se engana. Ela põe-se de pé, e se
apóia no braço de Jesus, exclamando: “Meu Filho!”, e com uma angústia que me
faz sofrer, Jesus a acolhe sobre o seu coração, e ela chora sobre o coração
dele.
“Minha Mãe, Eu quis falar-te nesta hora de paz
por isso... Eu te confio o meu segredo, e tudo o que Eu tenho de mais querido
aqui embaixo. Nenhum dos discípulos sabe que não voltaremos mais a estes
lugares, a não ser quando tudo se tiver cumprido. Mas tu... Para ti não há
segredos... Assim Eu te havia prometido. Minha Mãe. Não chores. Temos ainda
muitas horas para estarmos juntos. Por isso, Eu te digo: “Vem para a Judéia.” O
ter-te perto de Mim, compensar-me-á por aquele trabalho da mais difícil das
evangelizações, feita àqueles duros de coração, que criam obstáculos à Palavra
de Deus. Vem com as discípulas da Galiléia. Vós me ajudareis muito. João
proverá no que diz respeito ao alojamento para ti e para elas. Agora antes que
ele volte, vamos rezar juntos. Depois, tu voltarás ao povoado, e Eu também irei
de noite...”
Os dois estão rezando juntos, e estão dizendo
as últimas palavras do Pai-Nosso, quando aparece João que, a meia luz, ao
chegar mais perto, vê e fica espantado pelos sinais de choro sobre o rosto de
Maria. Mas não fala nada sobre isso. Ele saúda o Mestre, e lhe diz: “Estarei lá
pelo romper da aurora, na estrada, perto de Nazaré...”
“Vem minha Mãe. Por fora do bosque, ainda está
claro, e lá embaixo a estrada está alumiada de fato pelas lanternas, que foram
colocadas nos carros pelo caminho...”
Maria beija de novo a Jesus, chorando por baixo
do seu véu, e depois, ajudada por João, que a segura pelo cotovelo, desce para
o caminho, e logo se dirige para o vale.
Jesus fica sozinho, rezando, pensando e
chorando. E Jesus continua a chorar ao ver sua Mãe que vai descendo. Depois Ele
volta para onde estava antes, toma de novo a posição anterior, enquanto a
sombra e o silêncio se vão tornando cada vez mais completos ao redor dele.
(de Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi
Revelado, Vol. 7, pg. 353, 354, 355)
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