TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
VIVER SEM MANCHA
E Jesus
sorrindo: “Ainda há muita água para a sede do Filho do homem. Há água colocada
pelo Pai nos poços profundos. E o Filho do homem ainda tem as mãos livres para
fazer com elas uma concha. Dia virá em que não terei mais nem estas nem aquela,
e não terei mais nem a água do amor para matar a sede do Sedento. Agora
encontro tanto amor ao redor de Mim.”, e vai para a frente, levando com as duas
mãos o cesto grande redondo e fundo, para colocá-lo sobre a grama, a alguns
metros de João, e dizendo-lhe: “Pega e come. É o banquete de Deus.”
Depois
Ele volta para o seu lugar. Oferece e abençoa o alimento, e o faz distribuir
aos presentes, que ajuntaram com Ele tudo o que tinham. Todos comem com gosto e
com uma pacífica alegria, enquanto Maria se ocupa, cheia de maternal doçura,
com Alfeu. Depois, terminada a refeição, Jesus se coloca entre o povo e o
ex-leproso, começando a falar, enquanto as mães apanham no colo os seus filhos
saciados de alimento e de brinquedos, e os ninam para fazê-los dormir, a fim de
que não fiquem perturbando.
“Ouvi,
todos vós. Em um Salmo de Davi, o Salmista faz esta pergunta: “Quem habitará no
Tabernáculo de Deus? Quem repousará no monte de Deus?” E passa a enumerar quem
serão os afortunados, e por quais motivos o serão. Diz Ele: “Aquele que vive
sem mancha e pratica a justiça. Aquele que fala de coração, com verdade, e não
usa de enganos com sua língua, que não causa dano ao próximo, que não aceita
palavras infamantes contra o seu semelhante.” E, em poucas linhas, depois de
ter dito quem entrará nos domínios de Deus, diz o que é que esses bem
aventurados fazem de bem, depois de já não terem feito o mal. Diz assim: “Aos
olhos deles, o malvado é um nada. Eles honram aos que temem a Deus. Aos que
jurando ao seu próximo, não o enganam. Não emprega o seu dinheiro em usura. Não
recebe presentes para prejudicar um inocente. “ E termina: “Quem faz estas
coisas nunca vacilará. Em verdade, em verdade Eu vos digo que o Salmista disse
a verdade, e confirmo com a minha sabedoria que quem faz estas coisas não
vacilará nunca.
A
primeira das condições para entrar no Reino dos Céus é “Viver sem mancha.”
Mas pode
o homem, uma criatura fraca, viver sem mancha? A carne, o mundo e Satanás, em
um contínuo fervedouro de paixões, de tendência e de ódio, esguicham seus
borrifos para manchar os espíritos, e, se o Céu fosse aberto somente para
aqueles que vivem sem mancha desde o uso da razão em diante, pouquíssimos
seriam os homens que chegariam à morte sem terem conhecido doenças mais ou
menos graves durante sua existência. E então? Desse modo, o Céu fica fechado
aos filhos de Deus? E estes terão que dizer: “Eu o perdi”, quando um assalto de
Satanás, ou uma tempestade da carne os fizeram cair, e se vêem manchados em
suas almas? Não haveria mais perdão para quem tiver pecado?Não haverá nada para
cancelar a mancha que deturpa o espírito? Não temais o vosso Deus com um temor
injusto. Ele é Pai, e um pai estende sempre uma mão aos filhos vacilantes,
oferece ajuda aos que querem levantar-se, conforta-os com meios suaves, para
que o aviltamento deles não degenere em desespero, mas floresça em um humildade
cheia da vontade de se tornarem diletos do Pai.
Eis. O
arrependimento do pecador, boa vontade em querer prestar reparação, são duas
coisas nascidas de um verdadeiro amor para com o Senhor, que limpam a mancha da
culpa, e o tornam digno do perdão divino. E,
quando Este que vos está falando tiver cumprido a sua missão sobre a terra, ás
absolvições do amor, do arrependimento e da boa vontade unir-se-á, poderosíssima,
a absolvição que o Cristo vos terá obtido, a preço do seu Sacrifício. Mais
cândidos em suas almas do que meninos há pouco nascidos, porque para quem crer
em Mim, brotarão de seu seio rios de água viva, que limpam até a culpa
original, que é a causa primeira de toda fraqueza do homem, podereis aspirar ao
Céu, ao Reino de Deus e aos seus Tabernáculos. Porque a graça que estou para
dar-vos, vos ajudará a praticar a justiça, a qual vai aumentando tanto mais,
quanto mais for praticada, e esse direito vos dará um espírito sem mancha para
entrar no Reino dos Céus.
Nele
entrarão os pequenos e gozarão, pela felicidade dada gratuitamente, gozarão
porque o Céu é alegria. Mas nele entrarão os adultos, os velhos, aqueles que
viveram, que lutaram e venceram, e que, à cândida coroa da Graça unirão a coroa
multicor de suas obras santas, de suas vitórias sobre Satanás, sobre o mundo e
a carne, e grande, muito grande será a sua felicidade de vencedores, grande a
um tal ponto, que o homem nem pode imaginar.
Como se
pratica a justiça? Como se conquista a vitória? Com a honestidade de palavras e
de ações, com a caridade para com o próximo. Reconhecendo que Deus é Deus, e
não colocando os ídolos das criaturas, do dinheiro, no lugar de Deus
Santíssimo.Dando a cada um o lugar que o espera, sem procurar dar mais ou dar
menos do que é devido. Aquele que, porque alguém é seu amigo ou parente
poderoso, o ama e o serve até nas coisas não boas, não é justo. Aquele, pelo
contrário, dá prejuízo ao próximo, porque sobre ele não pode esperar levar
vantagem daquela espécie, e jura contra ele, ou se deixa comprar com presentes,
para depor contra o inocente, ou para julgar com parcialidade, não segundo a
justiça, mas segundo os cálculos do que aquele injusto juízo lhe pode obter de
quem é o mais poderoso entre os contendores, não é justo, e vãs são as suas
orações, as suas ofertas, porque estão manchadas pela injustiça aos olhos de
Deus.
Vós estais vendo que isto que Eu digo é ainda
do Decálogo. Porque o bem, a justiça, a glória está no cumprimento do que o
Decálogo ensina e ordena que se faça. Não existe outra doutrina. Outrora ela
foi dada por entre os esplendores do Sinai. Agora é dada por entre os fulgores
da Misericórdia, mas a Doutrina é aquela. E não muda. Nem pode mudar. Muitos, para se desculparem, dirão em Israel,
para justificarem o porque não são santos, mesmo depois de sua passagem pela
terra do Salvador: “Eu não tive nem modo para acompanhá-lo e escutá-lo”. Mas
esta desculpa deles não tem valor algum. Porque o Salvador não veio para
estabelecer uma Lei nova, mas veio reafirmar a primeira, a única Lei. E até
mesmo veio para reafirmá-la em sua santa nudez, na sua simplicidade perfeita.
Veio reafirmar com amor e com promessas de amor certo de Deus, o que antes
havia sido mandado com rigor, por um lado, e ouvido com temor pelo outro.
...Os dez mandamentos são os dez mandamentos. O
vosso Deus os esculpiu e colocou sobre o caminho que leva ao Tesouro eterno, e
sofreu para conduzir-vos àquele caminho. Vós sofreis? Deus também. Vós tendes
que forçar-vos a vós mesmos? Deus também. Sabeis até que ponto? Sofrendo por
separar-se de Si mesmo e por forçar-se a conhecer o ser homem com todas as
misérias que a humanidade leva consigo: a de nascer, de passar frio, fome,
cansaço, ser tratado com sarcasmos, afrontas, ódio, insídias, e enfim, dando
todo o seu Sangue, para dar-vos o Tesouro. Isto sofre Deus, que desceu para
salvar-vos. Isto sofre Deus no alto do Céu, permitindo a Si mesmo o sofrer.
Em verdade Eu vos digo que nenhum homem por
mais cansativo que seja o seu caminho, para chegar ao céu, não irá nunca por um
caminho tão cansativo e doloroso como o que o Filho do homem percorre para vir
do Céu à terra, e da terra ao sacrifício feito para abrir-vos as portas do
Tesouro.
Nas Tábuas da Lei já está o meu Sangue. No
caminho que Eu vos traço está o meu Sangue. A porta do Tesouro se abre por
baixo da onda do meu Sangue. A vossa alma se torna cândida e forte, ao
banhar-se e ao alimentar-se com o meu Sangue. Mas, vós, para que ele não seja
derramado em vão, deveis andar pelo caminho imutável dos dez mandamentos.
Agora
vamos repousar. Ao Pôr do sol, Eu irei para Hipo. João irá para a purificação e
vós para vossas casas. A paz do Senhor esteja convosco.”
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7, pg. 135 a 138)
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