TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
JESUS FALA DE SUA IMINENTE PAIXÃO
“Escuta,
Porfíria. Tu és uma boa mulher e uma boa discípula. Eu gostei muito de ti,
desde que te fiquei conhecendo, e com muita alegria te escolhi como discípula,
e te confiei o menino. Sei que tu és prudente e virtuosa como poucas. E sei que
sabes calar-te. É esta uma virtude raríssima nas mulheres. Por todas estas
coisas é que Eu vim falar-te em segredo, e contar-te uma coisa que ninguém
sabe, nem mesmo os Apóstolos, nem Simão. Eu te conto, porque Eu preciso
dizer-te como é que deves proceder para o futuro com Marziam... e com todos...
Eu tenho certeza que tu irás contentar o teu Mestre no que te vou pedir, e que
serás prudente como sempre...”
Porfíria
que ficou vermelha como uma púrpura, ao ouvir o elogio do seu Senhor, só fica
fazendo sinal de que sim, com a cabeça, muito comovida, ela que é tão tímida e
habituada a ser sempre pressionada pela vontade de prepotentes, que lhe impõem
suas vontades, sem saberem se ela está disposta a consentir, está por demais
comovida para ser capaz de responder, com palavras, que consente.
“Porfíria...
Eu não voltarei nunca mais a estes lugares. Nunca mais, até que tudo se tenha
cumprido... Tu sabes, não é verdade, o que é que Eu devo cumprir?”
Porfíria,
a estas palavras, deixou cair os seus cabelos, que ela ainda estava segurando
recolhidos sobre a nuca com a mão esquerda, e mais do que um grito, um soluço a
sufoca, e a faz levar as duas mãos ao rosto, enquanto ela cai de joelhos,
gemendo. “Eu já sei, Senhor meu Deus...”, e chora com um pranto silencioso, que
só se nota pelas lágrimas, que vão pingando no chão, passando pelos dedos que
ela tem apertados sobre o rosto.
“Não
chores, Porfíria. Para isto é que Eu vim. Eu estou pronto... e prontos estão
àqueles que, a serviço do Mal, estão servindo ao Bem, na verdade, porque farão
chegar a hora da Redenção. Poderia cumprir-se até agora, porque tanto Eu como
eles estamos preparados... e qualquer outra coisa que aconteça ou evento que
sobrevier, não serão nada mais do que... um aperfeiçoamento para o delito
deles... e para o meu Sacrifício. Mas também estas horas, que ainda são muitas
que virão antes daquela hora, servirão... Há ainda alguma coisa para cumprir-se
e a dizer-se, a fim de que tudo o que estava para cumprir-se, segundo o meu
conhecimento, seja feito... Mas Eu não voltarei mais aqui... Olho pela última
vez para este lugar... e entro pela última vez nesta casa honesta... Não
chores... Eu não quis ir-me embora, sem dar-te o adeus e a bênção do Teu
Mestre. Eu levarei comigo Marziam. Levá-lo-ei comigo, indo para os confins da
Fenícia, e depois, quando subir para a Judéia, para a Festa dos Tabernáculos.
Não me faltarão meios para mandá-lo de volta, antes do inverno rigoroso. Pobre
rapaz! Alegrar-se-á comigo por algum tempo. E depois... Porfíria, não é bom que
Marziam esteja presente na minha hora. Por isso, tu não o deixarás partir para
a Páscoa... e”
“E o
preceito, Senhor?”
“Eu o
desobrigo do preceito. Eu sou o Mestre, Porfíria, e sou Deus, como tu sabes.
Como Deus, Eu o posso desobrigar, antecipadamente, por uma omissão assim, que
nem chega a ser omissão, porque Eu ordeno por motivo justo. A Obediência a uma
minha ordem já é uma licença de deixar de cumprir o preceito, porque a
obediência a Deus – e esta é até um sacrifício para Marziam--, é sempre
superior a qualquer outra coisa. Eu sou o Mestre. Não é bom Mestre quem não
sabe meditar sobre consequências, que um esforço superior àquele que o
discípulo agüenta a suportar, pode produzir nele. Também, ao querer impor as
virtudes, é necessário ser prudentes, e não ficar pretendendo logo o máximo que
a formação espiritual ou as forças gerais não lhe permitam fazer. Exigindo-se
uma virtude ou um domínio espiritual forte demais, e até das físicas, atingidas
já pela criatura humana, pode acontecer que surja uma dispersão das forças já
acumuladas e uma fragmentação do indivíduo nos seus três graus : o espiritual,
o moral e o físico. Marziam, pobre menino, já sofreu demais e conheceu demais a
brutalidade dos seus semelhantes, até o ponto de quase odiá-los. Ele não
poderia suportar o que vai ser a minha Paixão, um mar de amor doloroso, no qual
Eu lavarei os pecado do mundo e um mar de ódio satânico, que procurará
submergir a todos os que Eu amei, e até os mais fortes se dobrarão sob a maré
de Satanás, pelo menos por um breve tempo... Mas Eu não quero que Marziam se
dobre e beba daquela onda de desolação. Ele é um inocente... e me é muito
querido. Eu tenho piedade, muita piedade de quem já sofreu mais do que as suas
próprias forças agüentavam. Eu chamei de novo, mas outro mundo, o espírito de
João de Endor...”
“Morreu
João? Oh! Marziam havia escrito muitos rolos para ele... Vai ser uma nova
tristeza para o rapaz...”
“Eu lhe
falarei da morte de João... Eu dizia que o tirei desta vida justamente para
preservá-lo do abalo emocional daquela hora, o próprio João já havia sofrido
muito da parte dos homens. Por que despertar sentimentos que estavam
adormecidos? Deus é bom. Ele prova os seus filhos. Mas Ele não é um experimentador
descuidado... Oh! Se os homens soubessem fazer assim! Como seria menor o número
das ruínas dos corações, como também simplesmente, quanto menor seria o número
de perigosas borrascas nos corações... “
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7. Pg. 263, 264, 265)
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