TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
DESTA VIDA NADA SE LEVA
A viúva
vai na frente, mostrando qual é o caminho mais curto. Ela deixa a estrada
caravaneira, para ir por uma pequena estrada, que vai subindo pelo monte, ainda
mais sombreada e fresca. Mas agora estou compreendendo o motivo do desvio,
quando, virando-se na sela, Sara diz: “Eis. Estes bosques são meus. São árvores
estimadas. Até de Jerusalém vêm comprá-las, para fazer os cofres dos ricos.
Estas são árvores antigas. Mas delas eu tenho viveiros sempre renovados. Vinde.
Vede...”, e toca o burrinho para baixo, passando pelos barrancos, e para cima,
indo pelos pontos mais altos, para depois, de novo ir pela estrada, por entre
os seus bosques, onde de fato há faixas de terreno com árvores já bem formadas.
Já boas para serem cortadas, e outras faixas onde as árvores estão ainda bem
mais novas, e outras até a poucos centímetros do chão, crescendo por entre as
ervas verdes e exalando os cheiros de todos os aromas das montanhas.
“Como
são bonitos estes lugares. E bem conservados. Tu és uma sábia”, elogia Jesus.
“Oh!...
Mas é para mim só. Com mais gosto eu cuidaria disto por um filho...”
Jesus
não responde. Continuam a andar. Já se vê Afeca, dentro de um círculo de
pomares com muitas árvores frutíferas.
“Aquele
pomar também é meu. Tenho coisas demais para mim, sozinha!... Já era demais,
quando eu ainda tinha meu esposo, e a tarde, olhávamos um para o outro, dentro
de uma casa vazia demais, grande demais, diante de dinheiro demais, na contagem
de mantimentos demais, e dizíamos um ao outro: “E para quem tudo isso?” E agora
eu o digo ainda...” E toda a tristeza de um casamento estéril se mostra nas
palavras da mulher.
“Há
pobres sempre...”, diz Jesus.
“Oh!
Sim. E a minha casa se abre para eles todos os dias. Mas depois...”
“Queres
dizer, quando estiveres morta?”
“Sim.
Senhor. Será uma dor deixar... para quem?... estas coisas que foram tão bem
cuidadas.”
Jesus
tem uma sombra de sorriso, cheio de compaixão. Mas responde com bondade: “Tu és
mais sábia para as coisas da terra do que pata as do Céu, mulher. Tu te
preocupas para que as tuas plantas cresçam bem, e não se formem clareiras em
teus bosques. Tu te afliges pensando que depois elas não sejam tão bem cuidadas,
como agora. Mas esses pensamentos são poucos sábios, pelo contrário, são até
completamente estultos. Achas tu que na
outra vida tenham valor essas pobres coisas, cujos nomes são: plantas, frutas,
dinheiro, casas? E que causará aflição ver que foram descuidadas? Corrige o
teu pensamento mulher, Lá os pensamentos não são os daqui, em nenhum dos três
reinos. No Inferno, o ódio e o castigo fazem que fiquem ferozmente cegos. No
Purgatório, a sede que têm de fazer expiação anula qualquer outro pensamento.
No Limbo a feliz espera em que estão os justos não é profanada por nenhuma
sensualidade. A terra ficou longe com as suas misérias. Mas está perto somente
quanto às suas necessidades sobrenaturais, necessidades de almas, e não de
objetos. Os falecidos que não tiveram sido condenados, só por um amor
sobrenatural é que voltam à terra os espíritos deles, e a Deus dirigem as suas
orações por aqueles que estão na terra. Não para outras coisas. E, quando, então, os justos entrarem no
Reino de Deus, que achas que falte ainda para um que contempla a Deus? Será
este miserável cárcere? Será este exílio que se chama terra? Que será? As
coisas deixadas nela? Poderia o dia ter saudade de uma lamparina, que já está
fumegando, quando ele está sendo já iluminado pelo sol?”
“Oh!
Não!”
“E,
então. Por que ficas suspirando por causa do que vais deixar?”
“Mas eu
gostaria que um herdeiro continuasse a ...”
“A gozar
de tuas riquezas terrenas para encontrar nelas um obstáculo para não ser
perfeito, enquanto que o desapego das riquezas é uma escada para possuir as
riquezas eternas? Estás vendo, ó mulher? O maior obstáculo para conseguir ter
este inocente não é bem a mãe dele, com os seus direitos sobre o filho, mas o
teu coração. Ele é um inocente, um triste inocente, mas sempre um inocente que,
pelo seu próprio sofrimento, é querido por Deus. Mas, se tu fizeres dele um
avarento, um cobiçoso, talvez um viciado, com os meios que tens, não o privaria
tu da predileção de Deus? E poderia Eu, que tomo cuidado desses inocentes, ser
um Mestre descuidado que, sem refletir, permite que um seu inocente discípulo
se extravie? Cuida primeiro de ti mesma, despoja-te dessa humanidade ainda viva
demais, livra a tua justiça dessa crosta de humanidade, que a deprime, e,
então, merecerás ser mãe. Porque não é
mãe somente quem gera, ou quem ama um filho adotivo e cuida dele, e o acompanha
nas suas necessidades de criatura animal. A mãe deste também o gerou, mas não é
mãe, porque não cuida nem da carne dele, nem do seu espírito. Mas o é, quando
cuida sobretudo daquilo que no filho não morrerá mais, isto é,do espírito, e
não somente do que nele morre, isto é, a matéria. E acredita, ó mulher, que
quem amar o espírito amará também o corpo, porque terá um amor justo, e
portanto será justo.”
“Eu
perdi o filho, e o compreendo.”
“Ninguém
disse isto. Que o teu desejo te leve à santidade, e Deus te ouvirá. Sempre
haverá órfãos no mundo.”
( de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7, pg. 174 a 176)
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