TERCEIRO
ANO DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
A PALAVRA ETERNA
Jesus
abre, então, os braços, no seu gesto habitual de quando está para falar, afim
de chamar a atenção e impor silêncio. Ele diz:
“Neste
lugar, o que vêem os olhos do homem? Vales cavados mais profundamente do que a
natureza os criou, colinas com montões de terra e aterrados feitos pelo homem,
estradas sinuosas ou que avançam pela superfície do monte, formando como que
umas tocas de animais. E tudo isso para quê? Para deter um perigo que não se
sabe de onde vinha, mas que se percebe que nos está ameaçando como uma chuva de
pedras que vem num céu tempestuoso.
Em
verdade, aqui se procedeu humanamente, com forças humanas e meios humanos, até
desumanos, a fim de se defender e preparar, os meios de ofender, esquecidos da
palavra do Profeta, o qual ensina ao seu povo , como pode defender-se das desventuras
humanas, com meios sobre-humanos, que são os mais válidos. Ele grita:
“Consolai-vos, tornai a consolar Jerusalém, porque a sua escravidão terminou, a
sua iniqüidade está expiada, tendo recebido da mão do Senhor o dobro do
merecimento por seus pecados.” E, depois da promessa, diz qual o modo a
seguir-se para traduzi-la em realidade: “Preparai
os caminhos do Senhor, endireitai na solidão os caminhos de Deus. Todo vale
será terraplenado, toda montanha será arrasada, os caminhos curvos se tornarão
retos, e os acidentados planos. Então, aparecerá a glória do Senhor, e todos os
homens, sem exceção, a verão, porque a boca do Senhor falou.” Estas
palavras foram tornadas do homem de Deus: João, o Batizador, e só por sua morte
é que elas foram canceladas em seus lábios.
Eis ali
ó homens, a verdadeira defesa contra as desventuras do homem. Não arma contra
arma, defesa contra defesa, não orgulho, não ferocidade. Mas armas
sobrenaturais, mas virtudes conquistadas na solidão, isto é, no interior do
indivíduo, sozinho consigo mesmo, que trabalha para santificar-se, elevando
montes de caridade, abaixando cumes de soberba, endireitando os caminhos curvos
da concupiscência, tirando de seu caminho os obstáculos da sensualidade. Então
aparecerá a glória do Senhor, e o homem terá a defesa de Deus contra as
insídias dos inimigos, espirituais e materiais. Que quereis que sejam umas
poucas trincheiras, uns poucos bastiões, uns poucos fortes contra o castigo de
Deus, atraído pelas iniqüidades ou até pelas tibiezas do homem? Contra estes
castigos, cujos nomes serão: os romanos, como já os tiveram nos tempos antigos,
os babilônios, os filisteus, os egípcios, mas que na realidade são uma punição
divina, e somente esta, como punição atraída pelos demasiados orgulhos, pelas
sensualidades, pelas cupidezes, as mentiras, os egoísmos, as desobediências a
Lei Santa do Decálogo. O homem, por mais
forte que seja, pode ser morto por uma mosca. A cidade, por mais fortificada
que seja, pode ser expugnada, quando para ele ou para ela não houver mais
proteção de Deus, proteção da qual fugiram por causa dos pecados do homem ou da
cidade.
Diz
ainda o Profeta: “Todo homem é como a erva, e toda sua glória é como a flor do
campo. A erva seca, e a flor cai, logo que toca nela o sopro do Senhor.”
Vós, por
minha vontade, olhai hoje com piedade para estes que até ontem havíeis olhado
como para umas máquinas, obrigadas a trabalhar para vós. Hoje, porque Eu vo-los
enviei, como irmãos entre irmãos, como pobres irmãos ao meio de vós ricos e
felizes, hoje os estais vendo como o que eles são: homens. O desprezo ou a
indiferença caíram de muitos corações, e entrou neles a piedade. Mas
considerai-os mais em seu interior, além de sua carne oprimida. Dentro desta,
dentro dele existe uma alma, há um pensamento, há sentimentos como em vós. Um
dia eles foram como vós: sãos, livres, felizes. Depois não o foram mais. Porque
somos como a erva que seca, e a vida do homem é ainda mais frágil em seu
bem-estar. Aqueles que hoje estão sãos, amanhã podem estar doentes, os que hoje
estão livres, amanhã podem ser escravos, os que hoje estão felizes, amanhã
podem ser infelizes. Entre eles certamente há culpados. Mas não julgueis a
culpa deles, nem vos regozijeis por sua expiação. Amanhã por muitas causas,
poderíeis vós também ser os culpados e obrigados a pesadas expiações. Portanto
sede misericordiosos, porque não sabeis como será o vosso amanhã, que poderia
ser cheio da necessidade de toda misericórdia divina e humana, poderia ser
muito diferente deste dia de hoje. Sede inclinados ao amor e ao perdão. Não há
homem na terra que não tenha necessidade do perdão de Deus e de qualquer dos
seus semelhantes. Procurai, pois, o perdão, para poderdes ser perdoados.
Diz
ainda o Profeta: “A erva seca, a flor cai. Mas a Palavra do Senhor permanece
para sempre.”
Aqui está a arma e a defesa: a Palavra eterna
tendo-se tornado a lei para todas as vossas ações. Levantai este baluarte
verdadeiro contra o perigo que vos ameaça, e sereis salvos. Portanto, acolhei a
Palavra, Este que vos está falando, mas não a acolhais materialmente, por a
terdes durante uma hora dentro dos muros da cidade, mas principalmente em vosso
coração, para sempre, porque Eu sou O que sabe, o que opera e rege com poder. E
sou o Pastor bom, que apascenta o rebanho que se lhe confia, e de nenhum Eu
deixo de cuidar, nem do que é pequeno, nem de quem está cansado, nem de quem
está ferido, ou golpeado pela má sorte, nem de quem está chorando por seus
erros, nem do que está rico e feliz, mas não deixa de dar atenção a tudo o que
faz a verdadeira riqueza e felicidade, que é a de servir a Deus até a morte.
O
Espírito do Senhor está sobre Mim, porque o Senhor me mandou anunciar a Boa
Nova aos mansos, curar os de coração arrependido, pregar a liberdade aos
escravos e a libertação aos prisioneiros. E não se pode dizer que Eu sou um
sedicioso, porque Eu não instigo ninguém a revolta, nem aconselho a evasão aos
escravos e prisioneiros, mas ao homem acorrentado, ao homem escravizado ensino
a verdadeira liberdade, a verdadeira libertação, a que não lhe pode ser tirada,
nem tampouco limitada, e que cresce tanto mais, quanto mais a ela o homem se
entrega: a liberdade espiritual, a libertação do pecado, a mansidão na dor, o
saber ver Deus acima daqueles homens que os acorrentam, saber crer que Deus ama
a quem o ama, e perdoa as coisas que o homem não perdoa, o saber esperar um
lugar eterno, que será o prêmio para quem sabe ser bom na desventura,
arrependido dos seus pecados e fiel ao Senhor.
Não
choreis, vós, a quem Eu especialmente estou falando. Eu vim para consolar, para
acolher os rejeitados, para pôr luz em suas trevas e paz em suas almas, para
prometer uma morada de alegria, tanto a quem se arrepende, como a quem não tem
culpa. Nem há para vós um tempo passado, que possa impedir a realidade deste
tempo presente, que está esperando no céu aqueles que agora sabem servir ao
Senhor, na sorte em que agora se encontram.
Não é difícil, ó pobres filhos, servir ao
Senhor. Ele vos deu um modo fácil de servi-lo, porque vos quer felizes no Céu.
Servir ao Senhor é amor. Amar a vontade de Deus, porque amais a Deus. A vontade de Deus se esconde até nas coisas
aparentemente mais humanas. Porque Eu falo a vós que talvez tenhais derramado o
sangue de irmãos; porque, se certamente não era vontade de Deus que vós fôsseis
violentos, agora é vontade Dele que na expiação anuleis as vossas dívidas para
com o Amor. Porque, se não era vontade de Deus que vós rebelásseis contra os
inimigos, agora é vontade Dele que vós torneis humildes, assim como num tempo
passado vos tornastes orgulhosos, para prejuízo vosso. Porque, se não era
vontade de Deus que com fraude, grande ou pequena, vós apropriásseis daquilo
que não era vosso, agora a vontade de Deus que sejais punidos por não unir-vos
a Deus, tendo o pecado em vosso coração.
E isso
não deve ser esquecido pelos felizes de agora, os que se crêem seguros, os que,
por essa estulta segurança não preparam em si o Reino de Deus, e serão, na hora
da prova, como filhos afastados da casa do Pai, sob o domínio da tempestade,
sob o açoite da dor.
Trabalhai
todos com justiça, e levantai os olhos para a Casa do Pai, para o Reino dos
Céus, que, quando tiver escancarado as portas por Aquele que veio para
abri-las, não se recusará a acolher a alguém que tenha praticado a justiça. Ó
mutilados na carne, ó estropiados, ó eunucos, e ó mutilados no espírito,
estropiados e eunucos nas faculdades do espírito, excluídos de Israel, não
tenhais medo de não encontrardes lugar no Reino dos Céus. As mutilações, os
aleijões, os defeitos da carne terminam com a carne. Os defeitos imorais, como
a prisão e a escravidão, cessarão também um dia. Os do espírito, isto é, os
frutos das culpas passadas se reparam com a Boa Vontade. E as mutilações
materiais não têm importância aos olhos de Deus, ao passo que as espirituais se
anulam, aos seus olhos, quando são cobertas por um arrependimento amoroso.
O fato
de serem alguns estranhos ao Povo Santo não é mais impedimento para servir ao
Senhor. Porque chegou o tempo no qual as fronteiras da terra cessam diante do
Único Rei, do Rei de todos os reis e povos, que reúne todos os povos em um só,
para fazer deles o seu novo Povo. Aquele povo do qual ficarão excluídos somente
os que procuram enganar o Senhor, com um mentiroso obséquio ao seu Decálogo,
que todos os homens de boa vontade podem seguir, sejam eles hebreus ou gentios,
ou idólatras. Porque, onde houver boa vontade, há também a tendência natural
para a justiça, e quem se inclina para a justiça, não acha dificuldade em
adorar o verdadeiro Deus, quando chegar a conhecê-lo, a respeitar o seu Nome, a
santificar as suas festas, a honrar os seus pais, a não matar, não roubar, e
não dar falso testemunho, a não ser adúltero e fornicador, a não ser ávido
daquilo que não é seu. E se até agora ainda não fez assim, que de agora em
diante o faça, para que se salve a sua alma e seja conquistado um seu lugar no
Céu.
Está
escrito: “Eu lhes darei um lugar na minha Casa, se cumprirem o seu Pacto
comigo, e os tornarei alegres.” E isso está dito a todos os homens de vontade
santa, sendo o Santo dos Santos Pai comum de todos os homens.
Tenho
dito. Eu não tenho dinheiro para esses. Nem ele seria útil a eles. Mas Eu digo
a vós, de Gamala, vós que tanto progredistes no caminho do Senhor, desde a
primeira vez que nos encontramos, que ergais a mais forte defesa de vossa
cidade, a do amor entre vós, e por estes e socorrê-los em meu Nome, enquanto
eles se cansam por vós. Vós fareis isso?”
“Sim, ó
Senhor”, grita a multidão.
“Então,
vamos embora. Eu não teria entrado para dentro dos vossos muros, se a dureza
dos corações tivesse respondido “não” à minha pregação. Vós que ficais sede
abençoados...Vamos...”
(de
Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado, Vol. 7, pg. 167 a 171)
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