FELIZ SEREI EU SE...
Diz Jesus:
"Feliz serei eu se for manso". Isto pode parecer estar em
contraste com os exemplos que vemos na vida de cada dia. Os que não são mansos
é que parecem triunfar nas famílias, nas cidades, nas nações. Mas, será mesmo
um verdadeiro triunfo o deles? Não. É o medo que está conservando aparentemente
inclinados os subjugados pelo déspota, mas esse medo não é mais do que um véu
colocado sobre a efervescência da revolta contra o tirano. Os que são iracundos
e prepotentes não possuem os corações nem de seus familiares, nem dos
concidadãos, nem de seus súditos. Não conquistam as inteligências e os
espíritos para as suas doutrinas aqueles que são mestres do: "Eu disse, e
está dito!" Eles criam apenas autodidatas, que vivem buscando e rebuscando
uma chave capaz de abrir as portas fechadas de uma sabedoria e de uma ciência,
que eles percebem que deve existir, e que é justamente a oposta à que lhes está
sendo imposta. Não estão levando almas para Deus aqueles sacerdotes que
não se entregam à conquista dos espíritos com uma doçura cheia de paciência,
humilde, amorosa, mas que mais parecem ser uns guerreiros armados, que se
lançam a um assalto feroz, pelo modo como avançam com impetuosidade e
intransigência contra as almas... Oh! pobres almas! Se elas fossem santas, não
teriam necessidade de vós, ó sacerdotes, para chegarem à luz. Pois já a teriam
consigo. Se fossem justos, não teriam necessidade de vós juízes para serem
contidos pelo freio da justiça, pois já a teriam em si. Se fossem sãos, não
precisariam de quem os curasse. Por isso sede mansos. Não façais que as almas
fujam, espavoridas. Mas, atraí-as com amor. Porque a mansidão é amor, assim
como a pobreza de espírito também o é. Se assim fordes, conquistareis a Terra,
e levareis para Deus este lugar, que antes era de Satanás, porque a vossa
mansidão, que, além de ser amor, é também humildade, terá vencido o ódio e a
soberba, matando nos ânimos o rei abjeto da soberba e do ódio, e então, o mundo
será vosso, isto é, de Deus, pois vós sereis justos, ao reconhecerdes a Deus
como Senhor Absoluto das criação, ao qual há de ser dado todo louvor, e
entregue tudo o que é seu.
"Feliz serei eu, se souber chorar sem
revoltar-me." A dor está sobre a terra. E a dor arranca lágrimas ao homem.
Antes não existia a dor. Mas o homem a colocou sobre a terra e, por uma
depravação de sua inteligência, esforça-se por descobrir o modo de aumentá-la
sempre, e de todos os modos. Além das doenças e das desventuras provindas de
raios, de tempestades, de avalanchas, de terremotos, eis que o homem, para
sofrer, mas principalmente para fazer sofrer, pois gostaríamos somente que os
outros sofressem, e não nós, dos meios estudados por nós para fazer sofrer eis,
então, que o homem inventa armas mortíferas sempre mais tremendas e durezas
morais cada vez mais astuciosas. Quantas lágrimas o homem faz outro homem
derramar, por instigação do seu rei oculto, que é Satanás! Pois bem. Em
verdade, Eu vos digo que essas lágrimas não são uma diminuição, mas uma
perfeição para o homem. O homem é um menino descuidado, é um despreocupado
superficial, é alguém nascido de uma inteligência tardia, enquanto o pranto não
o tornar adulto, reflexivo e inteligente. Somente os que choram, ou que já
choraram, é que sabem amar e compreender. Amar os irmãos que também choram,
compreendê-los em suas dores, ajudá-los com sua bondade, que já sabe por
experiência quanto se sofre estando sozinho no pranto. E sabem amar a Deus
porque compreenderam que fora de Deus tudo é dor, porque compreenderam que a
dor se mitiga, se for chorada sobre o coração de Deus, porque chegaram a
compreender que o choro resignado, e que não quebranto a fé, que não torna
árida a oração, que não conhece o que é revolta, muda de natureza, transformando-se
de dor em consolação. Sim. Os que choram amando o Senhor, serão consolados.
"Feliz serei eu, se tiver fome e sede
de justiça." Desde o momento em que nasce, até o momento em que
morre, o homem se inclina avidamente para o alimento. Ele abre a boca, quando
nasce, para agarrar o bico do peito, abre os lábios para engolir algum
sustento, numa aflição de agonia. Trabalha para se alimentar. Ele faz da terra
um enorme mamilo, do qual suga insaciável para aquilo que morre. Mas, que é o
homem? Um animal? Não, é um filho de Deus. Ele está aqui no exílio por poucos
ou por muitos anos. Mas sua vida não termina com a mudança da sua morada.
Existe uma vida na vida, assim como em uma noz existe o miolo. Não é a casca
que é a noz, mas é o miolo, que está dentro dela é que é a noz. Se semeardes
uma casca de noz, não nasce nada. Mas, se semeardes a casca com sua polpa,
nascerá uma grande árvore. Assim é o homem. Não é a carne que se torna imortal,
mas é a alma. E ela é nutrida para alcançar a imortalidade, à qual, por amor,
ela depois levará a carne, na feliz ressurreição. Alimento da alma é a
Sabedoria, é a Justiça. Como um liquido e um alimento, elas são absorvidas e
fortalecem a alma, e quanto mais se prova delas, mais cresce a santa avidez de
possuir a Sabedoria e de conhecer a Justiça. Contudo, há de chegar um dia no
qual a alma, insaciável nesta santa fome, ficara saciada. Chegará esse dia.
Deus se dará ao seu filho e o apertará diretamente ao seu seio, e o filho
nascido para o Paraíso se saciará da Mãe admirável, que é o próprio Deus, e já
não saberá mais o que é fome, mas repousará feliz sobre o seio divino. Nenhuma
ciência humana iguala esta ciência divina. A curiosidade da mente pode ser
satisfeita, mas a necessidade do espírito, não. Pelo contrário, na diversidade
dos sabores, o espírito até sente desgosto, vira a boca para longe do amargo
mamilo, preferindo passar fome a encher-se com um alimento, que não tenha vindo
de Deus. Não tenhais medo, ó sequiosos, ó famintos de Deus! Sejais fiéis e
sereis saciados por Aquele que vos ama.
"Feliz serei eu, se for
misericordioso". Quem é entre os homens o que pode dizer:
"Eu não preciso de misericórdia"? Ninguém. Pois bem, se até na Antiga
Lei está dito: "Olho por olho e dente por dente" por que se não há de
poder dizer na Nova assim: "Quem for misericordioso, encontrará
misericórdia"? Todos precisam de perdão. Pois bem ! Não é a fórmula e a
forma de um rito, figuras externas concedidos por causa da opaca mentalidade
humana, não são elas que obtém o perdão. Mas é o rito interno do Amor, isto é,
o rito da misericórdia. Porque, se foi imposto o sacrifício de um bode ou de um
cordeiro e a oferta de algumas moedas, isto foi feito porque na base ele todo
mal ainda se encontram duas raízes: a avidez e a soberba. A avidez é punida com
a despesa para a aquisição da oferta; e a soberba com a evidente confissão
daquele rito: "Eu celebro este sacrifício, porque pequei." Também se
fez isso para percorrer os tempos e os sinais dos tempos e, no sangue que se
espalha, está a figura do Sangue que vai ser derramado para cancelar os pecados
dos homens. Feliz, pois, daquele que sabe ser misericordioso para com os
esfaimados, para com os nus, para com os que não tem casa, para com os
miseráveis de misérias ainda maiores, que são as de possuir maus caracteres,
que fazem sofrer a quem os tem e aos que com eles convivem. Tende misericórdia.
Perdoai, compadecei-vos, socorrei, instruí, amparai. Não vos fecheis em uma
torre de cristal, dizendo: "Eu sou puro, e não desço ao meio dos
pecadores."
Não digais: "Eu sou rico e feliz e não
quero ouvir falar das misérias dos outros." Tomai cuidado, porque, mais
depressa do que a fumaça, que se dissipa no ar por algum forte vento, pode
desvanecer-se também a vossa riqueza, a vossa saúde, o vosso bem-estar
familiar. E lembrai-vos de que o cristal serve de lente, e aquilo que,
misturando-vos com a multidão, podia passar inobservado, se vos colocardes numa
torre de cristal, sozinhos, separados, recebendo luz de todos os lados, já o
não podeis conservar escondido. Misericórdia também para levar a termo um
sacrifício de expiação secreto e continuo para com ele obter misericórdia.
"Feliz de mim, se eu for puro de
coração." Deus é pureza. O Paraíso é um Reino de Pureza.
Nada de impuro pode entrar no Céu, onde está Deus. Por isso, se fordes impuros,
não podereis entrar no Reino de Deus. Mas. Oh! Que alegria! É uma alegria
antecipada, que o Pai concede aos filhos! Quem é puro já tem, desde esta terra,
um começo do Céu, porque Deus se inclina para o puro, e o homem daqui da terra
já vê o seu Deus. Ele não conhece o sabor dos amores humanos, mas experimenta,
até ao êxtase, o sabor do amor divino, podendo dizer: "Eu estou contigo, e
Tu estás em Mim, por isso eu te possuo e conheço como esposo amabilíssimo de
minha alma." E, crede-o, quem possui a Deus, tem também em si mesmo
mudanças substanciais inexplicáveis, pelas quais ele se torna santo, sábio,
forte, e sobre seus lábios florescem palavras, e seus raios assumem poderes,
que não são, não, da criatura, mas de Deus que vive nela.
Que é a vida daquele que vê a Deus? É felicidade. E
quereríeis privar-vos de tão grande dom, por causa de fétidas impurezas?
"Feliz eu serei, se tiver um espírito de
paz." A paz é uma das características de Deus. Deus não está senão na
paz. Porque a paz é amor, enquanto que a guerra é ódio. Satanás é ódio. Deus é
paz. Não pode alguém se dizer filho de Deus, e nem pode Deus dizer que é seu
filho um homem, se este tiver um espírito irascível, sempre pronto a
desencadear tempestades. E não somente isso. Também não pode dizer-se filho de
Deus quem, ainda que ele não seja propriamente um desencadeador de tempestades,
contudo, não contribui em nada, com a grande paz que tem, para acalmar as
tempestades levantadas por outros. Quem é pacífico, difunde a paz, mesmo sem
falar nada. Senhor de si, e ouso dizer até senhor de Deus, ele o leva como uma
lâmpada leva a sua luz, como um turíbulo que vai soltando os seus perfumes,
como um odre que transporta o seu líquido, e brilha a luz por entre as névoas
fumegantes dos rancores, e purifica-se o ar dos miasmas das invejas, e se
acalmam as ondas enfurecidas das contendas, por meio deste óleo suave, que é o
espírito de paz, que emana dos filhos de Deus. Fazei por onde possam os homens
chamar-vos por este nome
"Feliz de mim, se eu for perseguido por amor
da Justiça." O homem é tão endemoninhado que odeia o bem onde quer que ele se
encontrei, que odeia a quem é bom, como se, por ser bom, mesmo que esteja
calado, o esteja acusando e censurando. De falo a bondade de alguém faz com que
apareça ainda mais preta a maldade do malvado. De falo, a fé de quem
verdadeiramente crê, faz que apareça mais viva a hipocrisia do que só finge
crer. E, na verdade, não pode deixar de ser odiado pelos injustos quem, com seu
modo de viver, é uma testemunha constante da justiça. E, então, acontece que o
mau se enfurece contra os amigos da justiça. Também aqui acontece como nas
guerras. O homem progride na arte satânica de perseguir, muito mais do que
progride na arte santa de amar. Mas, só pode perseguir quem tem vida curta.
Pois o eterno, que existe no homem, escapa da armadilha, e até, pela
perseguição, adquire uma vitalidade ainda mais vigorosa. A vida foge daquelas
feridas que abrem as veias ou pelos sofrimentos que vão consumindo o
perseguido. Mas o sangue faz a púrpura do futuro rei e os sofrimentos são como
outros tantos degraus para subir aos tronos que o Pai preparou para os seus
mártires, para os quais estão preparados os tronos régios do Reino dos Céus.
"Feliz eu serei, se for ultrajado e caluniado." Fazei somente que vosso
nome possa ser escrito nos livros do Céu, nos quais não estão marcados os
nomes, conforme as mentiras humanas, ao louvar aos que menos merecem louvor.
Mas neles, com justiça e amor, estão escritas as obras dos bons, para dar-lhes
o prêmio prometido aos benditos por Deus. Antes de nosso tempo, foram
caluniados e ultrajados os Profetas. Mas, quando forem abertas as portas dos
Céus, eles entrarão na Cidade de Deus, com a imponência de reis, e, diante
deles, se inclinarão os Anjos, cantando cheios de alegria. E vós também, sim, e
vós também, ultrajados e caluniados por terdes sido de Deus, tereis o triunfo
no Céu e, quando o tempo terminar e completo estará o Paraíso, então, sim,
todas as lágrimas serão por vós bem estimadas, porque por elas é que tereis
conquistado esta glória eterna, que Eu, em nome do Pai, vos prometo.
Ide. Amanhã eu vos falarei ainda. Fiquem aqui
agora somente os doentes para que Eu os socorra em seus sofrimentos. A paz
esteja convosco, e a meditação sobre a salvação, através do amor, vos encaminhe
pela estrada, cujo fim é o Céu."
( O Evangelho come me foi Revelado – Maria Valtorta,
Vol 3 pgs, 83,84,85,86,87,88,89)
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