A
ASSUNÇÃO DE MARIA.
De repente, uma luz intensa enche o quarto, uma luz
prateada com contorno azulado, quase fosfórica, se torna cada vez mais forte,
fazendo desaparecer a aurora e a lamparina. Uma luz como aquela que inundou a
Gruta em Belém, no momento da divina Natividade. Então, nesta luz paradisíaca,
criaturas angelicais surgem, ainda mais brilhante, na luz já intensa que
inundou o quarto. Como já acontecera quando os anjos apareceram para os
pastores, uma dança de clarões de todas as matizes saem das suas asas e se
movem suavemente, emitindo murmúrios harmoniosos, tão doces como se fossem
tocados por uma harpa.
As criaturas angelicais se posicionam em volta da
pequena cama, se curvam diante dela, levantam o corpo imóvel e, batendo as asas
mais vigorosamente, acentuando o som já existente, abrem uma passagem
milagrosamente no teto, como abrira milagrosamente o Sepulcro de Jesus, e se
elevam, levando o corpo da sua Rainha, o Santíssimo Corpo, é verdade, porém,
ainda não glorificado, e, portanto, sujeito às leis da matéria, para as quais
Cristo não era sujeito, pois Ele já estava glorificado quando ressuscitou dos
mortos. O som produzido pelas asas angelicais aumenta, e agora é tão potente
quanto o som de um órgão.
João, que, embora ainda adormecido, moveu-se duas
ou três vezes sobre o seu banco, como se tivesse sido perturbado pela luz forte
e pelo som das asas angelicais, desperta completamente por causa do som
poderoso, e, também, por causa da forte corrente de ar que, descendo da
abertura do teto e atravessando a porta aberta, forma um turbilhão que agita a
colcha da cama, agora vazia, e a vestimenta de João, apagando a lamparina e
fechando a porta com uma batida forte.
O Apóstolo olha em volta, ainda meio sonolento,
para reparar o que está acontecendo. Nota que a cama está vazia e que o teto
está aberto. Entende que um acontecimento maravilhoso teve lugar. Sai para o
terraço, e, como pelo instinto espiritual, ou por uma chamada celestial,
levanta a sua cabeça, fazendo sombra com as mãos sobre os olhos, evitando o
sol, a fim de ver, sem no entanto ser impedido de olhar para o sol
nascente.
E ele vê. Vê o corpo de Maria, ainda sem vida, como
que adormecido, ascendendo cada vez mais alto, sustentado pelo grupo angelical.
Como último gesto de adeus, as bainhas da manta e do véu são agitadas,
provavelmente pelo vento causado pela rápida assunção e pelo movimento das asas
angelicais; e algumas flores, aquelas que João colocou e renovou em volta do
corpo de Maria, e que com certeza permaneceram entre as dobras do seu vestido,
chovem sobre o terraço e sobre o chão do Getsêmani, enquanto a hosana potente
do grupo angelical se move cada vez mais longe e se torna tênue.
João continua a fitar aquele corpo que se eleva em
direção ao Céu e, através, certamente, de um prodígio concedido a ele por Deus,
para confortá-lo e compensá-lo por seu amor à sua Mãe adotiva, vê distintamente
Maria, envolta agora pelos raios do sol já bem alto, aparecer da êxtase que
separou a Sua alma do Seu corpo, e ressuscitar, colocar-se em pé, à medida que
agora goza também dos dons típicos dos corpos já glorificados.
João olha e vê. O milagre concedido a ele por Deus
permite-lhe, contra todas as leis naturais, ver Maria como Ela é agora,
enquanto ascende rapidamente ao Céu, cercada, porém agora não mais auxiliada
pelos anjos que cantam hosanas. E João está extasiado pela visão da beleza que
nenhuma pena do homem, a palavra humana, ou trabalho de artista poderá ser
capaz de descrever ou reproduzir, porque é de uma beleza
indescritível.
João, ainda recostado contra a parede baixa do
terraço, continua a fitar aquela forma brilhante e esplêndida de Deus - porque
Maria pode realmente ser dita assim, formada de uma maneira única por Deus, Que
desejou-A imaculada, para que Ela pudesse formar o Verbo Encarnado - enquanto
ascende cada vez mais alto. E Deus-Amor permite-lhe um último prodígio supremo
para o Seu perfeito discípulo amoroso: ver o encontro da Mãe Santíssima com o
Seu Filho Santíssimo, Que também esplêndido e reluzente, indescritivelmente
belo, desce rapidamente do Céu, alcança a Sua Mãe, aperta-A no Seu coração e,
juntos, mais brilhantes que dois astros do céu, dirigem-Se ao Céu de onde Ele
veio.
A visão de João terminou. Ele abaixa a sua cabeça.
Sobre a sua face cansada, estão visíveis tanto a sua dor da perda de Maria
quanto a sua alegria pelo Seu glorioso destino. Porém, agora a alegria excede a
dor.
Ele exclama: “Obrigado,
Meu Deus! Obrigado! Eu previ que tudo isto ia acontecer. E queria estar
acordado, a fim de não perder nenhum momento da Sua Assunção. Porém já não
dormia há três dias! Sono, cansaço, junto com a dor, sobrevieram e
derrotaram-me justamente quando a Sua Assunção era iminente... Porém, talvez
Vós quisestes assim, ó Deus; para que eu não me afligisse naquele momento, nem
que sofresse mais... Sim, Vós certamente assim desejáveis e agora, quisestes
que eu visse aquilo que sem o Vosso milagre, não poderia ver. Permitistes vê-La
novamente, embora já tão longe, já glorificada e gloriosa, porém, como se Ela
estivesse perto de mim. E ver Jesus novamente! Oh! Visão felicíssima,
inesperada e não aguardada! Ó dom dos dons de Deus-Jesus para com seu discípulo
João! Graça Suprema! Ver Meu Mestre e Senhor novamente! Vê-Lo próximo à Sua
Mãe! Ele como o sol, Ela como a lua, astros esplendorosos, pois estavam
gloriosos e felizes por se reunirem para sempre! O que o Paraíso será agora que
Vós brilhais nele, Seus maiores astros da Jerusalém celeste? Qual o júbilo dos
coros angelicais e dos santos? É tal a alegria que a visão da Mãe com Seu Filho
me concedeu, algo que cancela toda a dor Dele, todas as dores de Ambos, e mais,
também a minha, e a paz me domina. Dos três milagres que pedi a Deus, dois se
realizaram.
Vi a vida
retornar à Maria, e sinto a paz voltar para mim. Toda a minha angústia termina
porque presenciei-Vos reunidos na glória. Obrigado por tudo isto, ó Deus. E
obrigado por terdes feito tudo isto para que eu veja, mesmo para uma criatura
santíssima, todavia ainda humana, aquilo que cabe aos santos, aquilo que
acontecerá após o último julgamento, a ressurreição do corpo, a sua
reincorporação, sua fusão com o seu espírito, que ascende ao Céu no momento da
sua morte. Eu não precisava ver para crer. Pois sempre acreditei firmemente
cada palavra do Mestre. Porém muitos duvidarão disto, após eras e milhares de
anos, e a carne, que se tornará pó, é permitido tornar-se um corpo vivo. Serei
capaz de dizer-lhes, jurando pelas coisas mais sublimes, que não apenas Cristo
ressuscitou, pelo seu próprio poder divino, assim também a Sua Mãe, três dias
após a Sua morte, se de morte isto pode ser chamado, ressuscitou, e com a Sua
carne juntando-se à Sua alma, elevou-Se para a abóbada eterna do Céu, ao lado
do Seu Filho. Serei capaz de dizer: “Creiam, ó Cristãos, nos corpos
ressuscitados, no fim do tempo, e na vida eterna de almas e corpos, uma vida
bem-aventurada de santos, e terrível para as pessoas culpadas, impiedosas e sem
arrependimento. Creiam e vivam como santos, como viveram Jesus e Maria, a fim
de adquirir o que Eles obtiveram. Vi Seus corpos ascenderem ao Céu. Posso
testemunhá-los. Vivam como justos, para que um dia possam estar no mundo
eterno, em corpo e alma, próximo ao Sol-Jesus, e Maria a Estrela de todas as
estrelas.” Novamente obrigado ó Deus! Agora deixai-me juntar o que resta Dela.
As flores caídas dos seus vestidos, os ramos da oliveira deixados na cama, e
deixai-me preservá-los. Eles servirão... Sim, eles servirão para ajudar a
confortar os meus irmãos, que tenho esperado em vão. Cedo ou tarde os
encontrarei...”
Ele recolhe as pétalas das flores que caíram do
céu, volta ao quarto, segurando-as envoltas na sua túnica. Então olha mais
cuidadosamente à abertura do teto e exclama: “Outro milagre! E outra proporção maravilhosa nos prodígios das vidas
de Jesus e Maria! Ele, Deus, ascendeu por Si, e por Sua vontade deslocou a
pedra da Sua Sepultura, e apenas com o seu próprio poder, ascendeu ao Céu. Por
Si. Maria, a Mãe Santíssima, porém, filha de um homem, por meio do auxílio
angelical, teve a sua passagem aberta para a Sua assunção para o Céu, e sempre
através de auxílio angelical, foi assunta. No Cristo o espírito voltou a animar
o Seu Corpo enquanto estava ainda na Terra, porque tinha de ser assim, para silenciar
os Seus inimigos e para confirmar todos os Seus seguidores na Sua
Fé. Em Maria o espírito voltou ao Seu Santíssimo Corpo quando estava nos
domínios do Paraíso, pois não havia outra necessidade para Ela. Poder perfeito
da Sabedoria Infinita de Deus!...”
João agora recolhe numa peça de pano, as flores e
ramos que estavam ainda na pequena cama, ele adiciona a estes, o que havia
recolhido fora, e coloca-os sobre a tampa do esquife. Então, abre-o e guarda o
pequeno travesseiro de Maria e a colcha da pequena cama nela; desce à cozinha,
junta outros utensílios usados por Ela - as agulhas, a roca para fiar, e os
Seus utensílios da cozinha - e os acrescenta às outras coisas.
Fecha o esquife e senta-se no banquinho
exclamando: “Agora tudo está consumado
para mim também! Posso ir livremente onde quer que o Espírito de Deus me leve.
Posso ir! E semear a Palavra Divina que o Mestre me deu para que
possa transmiti-la aos homens. E ensinar o Amor. Ensiná-lo para que eles possam
crer no Amor e no seu poder. Fazê-los conhecer o que o Deus-Amor tem feito para
os homens.
O Seu
Sacrifício e o Seu Sacramento e o Rito perpétuo, por meio do qual, até o fim
dos tempos, seremos capazes de estarmos unidos ao Jesus Cristo na Eucaristia e
renovar o Rito e o Sacrifício que Ele nos ordenou a levar adiante. Todos os
dons do Amor perfeito! Fazê-los amar o Amor para que possam crer Nele, como nós
verdadeira e sinceramente cremos. Semear o Amor para que a colheita seja
abundante para o Senhor .
O Amor
alcança tudo, Maria disse-me na Sua última conversa comigo, aquele que Ela
definiu justamente , no Colégio Apostólico como aquele que ama, aquele amoroso
preeminente, o antítese de Iscariodes, que era ódio, como Pedro era impetuoso,
e André brandura, os filhos de Alfeu, santidade e sabedoria combinadas à
nobreza de caráter, e assim por diante. Eu, o discípulo que ama, agora que já
não tenho nem o Mestre e nem a Mãe para amar na terra, sairei para espalhar o
amor entre as nações. O Amor será a minha arma e a minha doutrina. E por meio
dele derrotarei o demônio, o paganismo e conquistarei muitas almas. Assim
continuarei o trabalho de Jesus e Maria que eram o amor perfeito sobre a
Terra.”
( O Evangelho como me foi
revelado – Maria Valtorta, Vol 10)
Obs: Quantas e quantas
vezes fiquei emocionado lendo este texto, não de tristeza, e sim de uma alegria
interior muito intensa. Não é possível uma pessoa que se diz cristão ler um
texto tão lindo como este, verdadeiro, e cheio de sabedoria, não ficar
emocionado, tocado no seu íntimo, na sua alma. Não. Não é possível.
Não permitam que um dia
Jesus lhes digam pessoalmente: “ Eu sofri e tu não choraste, eu cantei lindas
canções e tu não cantastes, nem ligou, deixou passar.” Em outras palavras, a
Luz estava iluminando e você fez de conta que nada viu.
A paz de Jesus.
Sem comentários:
Enviar um comentário