“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

terça-feira, 19 de julho de 2016

OS DOIS LUZEIROS



MARIA DE ÁGREDA – DO LIVRO : MÍSTICA CIDADE DE DEUS

(Continuação do artigo anterior)

Como, havendo se propagado a linhagem humana, cresceram os clamores dos justos para a vinda do Messias, e também cresceram os pecados, e nesta noite da lei antiga enviou Deus ao mundo dois luzeiros que anunciassem a Lei da Graça.

A antiga serpente havia infectado com seu hálito todo o orbe, e parecia gozar tranquilamente a posse dos mortais; e quando eles, desviando-se da luz, da razão natural, e da antiga lei que poderiam ter conhecido, em lugar de procurar a Divindade verdadeira fingiam muitas falsas e cada qual fabricava deus a seu gosto, sem perceber que a confusão de tantos deuses, mesmo para a perfeição, ordem e tranquilidade, era repugnante. Quando com estes erros, se tinham tornado normais a malícia, a ignorância, e o esquecimento do verdadeiro Deus e se desconhecia a mortal enfermidade e letargia que o mundo estava a sofrer, sem que os míseros doentes sequer abrissem a boca para suplicar o remédio; quando reinava a soberba, o número dos néscios era sem número e a arrogância de Lúcifer pretendia tragar as águas puras do Jordão; quando, com estas injúrias, Deus era mais ofendido e menos obrigado pelos homens, e o atributo de Sua Justiça tinha tantas razões para aniquilar toda a criação fazendo-a voltar ao nada; e naquela tão densa noite da lei antiga, determinou dar sinais certos do dia da Graça, enviando dois luzeiros claríssimos que anunciassem a claridade já próxima do Sol da Justiça, Cristo nossa saúde. Foram eles São Joaquim e Ana preparados e criados pela Divina Vontade, para que fossem feitos à medida de seu coração.
A felicíssima Santa Ana tinha a sua casa em Belém, e era donzela castíssima, humilde e formosa e, desde a infância, santa, distinta e cheia de virtudes. Recebeu também grandes e contínuas ilustrações do Altíssimo, e sempre exercitava a vida interior com altíssima contemplação sendo ao mesmo tempo muito ativa e trabalhadora, alcançando a plenitude da perfeição das vidas ativa e contemplativa. Possuía conhecimento infuso das Escrituras Divinas e profunda inteligência de seus ocultos mistérios; e nas virtudes infusas, fé, esperança e caridade foi incomparável. Preparada com estes dons, orava continuamente pela vinda do Messias e suas preces foram tão agradáveis ao Senhor para apressá-la, que se pode dizer, tinha-o ferido Seu Coração com um de seus cabelos, pois sem dúvida alguma para apressar a vinda do Verbo, tiveram os merecimentos de Santa Ana altíssimo lugar entre os santos do Antigo Testamento.
Ao mesmo tempo que Santa Ana fazia estas petições ao Senhor, ordenou Sua providência que São Joaquim lhe dirigisse igual oração. Unidas apresentaram-se estas preces no tribunal da Beatíssima Trindade, onde foram deferidas. Em seguida, por disposição Divina, ficou determinado que Joaquim e Ana tomariam estado de matrimônio e seriam pais da Mãe do mesmo Deus humanado. … O Santo Arcanjo já estava a par deste mistério quando foi enviado pelo Senhor nessa embaixada, apesar dos demais Anjos do Céu ainda não o conhecerem, pois só a São Gabriel foi feita essa revelação ou iluminação direta por Deus. Tampouco manifestou o anjo a Santa Ana, por enquanto, este grande mistério, mas pediu-lhe atenção e disse: O Altíssimo te abençoe e seja tua salvação. Sua Alteza ouviu tuas petições, e quer que perseveres nelas e supliques a vinda do Salvador.
A São Joaquim apareceu e falou o Arcanjo, não corporalmente como a Santa Ana, mas em sonhos, compreendendo o homem de Deus que o Anjo lhe dizia o seguinte: Joaquim, bendito sejas pela Divina destra do Altíssimo, persevera em teus desejos e vive com retidão e passos perfeitos. É vontade do Senhor que recebas Ana por tua esposa, pessoa abençoada pelo Todo-Poderoso. Guarda-a e estima-a como presente do Altíssimo, e dá graças a Sua Majestade por tê-la confiado a ti.
Em virtude destas divinas embaixadas, Joaquim logo pediu Ana por esposa, e o casamento realizou-se, obedecendo ambos à Divina Providência. Nenhum deles, porém, manifestou ao outro o segredo do que lhes havia sucedido, até depois de alguns anos, como direi em seu lugar. Viveram os dois santos esposos em Nazareth, procedendo e caminhando segundo as leis do Senhor; e com retidão e sinceridade agiam com grande perfeição, sem a menor falta e tomaram-se muito agradáveis e aceites pelo Altíssimo. Todos os anos dividiam suas rendas em três partes: a primeira ofereciam ao Templo de Jerusalém para o culto do Senhor; a segunda distribuíam aos pobres, e com a terceira sustentavam a sua vida e família decentemente; e Deus lhes aumentava os bens temporais, porque os distribuíam com tanta largueza e caridade. Viviam também, na mais completa paz e união sem a menor queixa ou quesilha alguma. A humilíssima Ana era em tudo submissa à vontade de Joaquim; e o varão de Deus com a imolação santa da mesma humildade, antecipava-se para conhecer a vontade da Santa Ana, confiando a ela o seu coração e não ficando decepcionado. Estes santos passaram casados vinte anos sem terem filhos, coisa que, naquela época e povo, considerava-se grande infelicidade e desgraça. Por esse motivo, sofreram muitos opróbrios e desprezos dos vizinhos e conhecidos, pois os que não tinham filhos eram reputados por excluídos de participarem na vinda do Messias esperado. … E ofereceram ao Senhor, por voto expresso, que se lhes desse filhos, consagrariam ao seu serviço no templo, o fruto que recebessem de Sua Bênção.  

Havendo perseverado um ano inteiro nessas fervorosas petições, desde que o Senhor assim lhe ordenara, aconteceu ir São Joaquim, por Divina disposição, ao templo de Jerusalém oferecer orações e sacrifícios pela vinda do Messias e pelo fruto que desejava. Chegando com outros do seu povo para oferecer os costumeiros dons e oferendas na presença do sumo sacerdote, outro inferior chamado Isacar, repreendeu asperamente o venerável ancião Joaquim, por vir fazer ofertas com os demais, sendo infecundo. Conhecendo a santa matrona ser essa a Divina vontade, como também a de seu esposo Joaquim, com humilde submissão e confiança, na presença do Senhor, orou conforme lhe era ordenado, e disse: … Quisera, Senhor, oferecer oblação agradável e aceitável a vossos olhos, porém, a maior que posso, é minha alma com as potências e sentidos que me destes e todo o meu ser. Se, olhando-me do Vosso real trono, me concederdes descendência, desde já a consagro e ofereço para vos servir no templo. 

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