“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

segunda-feira, 18 de julho de 2016

O ÓDIO DE LÚCIFER PELA CRIAÇÃO DIVINA



MARIA DE ÁGREDA – DO LIVRO: MÍSTICA CIDADE DE DEUS


(Continuação do artigo posterior)

Em que se finaliza a explicação do Cap. 12 do Apocalipse.

Durante toda a primeira semana de que o Gênesis faz menção, em que Deus Se ocupou da criação do mundo e suas criaturas, Lúcifer e os demônios ocuparam-se em se unir o mais possível para inventar maldades contra o Verbo que Se devia humanizar e contra a Mulher de que Ele devia nascer. O primeiro dia, que corresponde ao Domingo, foram criados os Anjos e foram-lhes dadas leis e preceitos a que deviam obedecer; e os maus desobedeceram e trespassaram os mandatos do Senhor; e por Divina Providência e disposição sucederam todas as coisas que acima foram ditas, até ao segundo dia de manhã, correspondente a Segunda-feira, em que Lúcifer e seu exército foram expulsos e lançados no inferno.
A este espaço de tempo corresponderam esses intervalos dos Anjos: da Sua criação, das suas obras, batalha e queda ou glorificação. No momento em que Lúcifer e sua gente chegaram ao inferno, fizeram um concílio, reunindo-se todos nele, que durou até ao dia que corresponde a quinta-feira de manhã; e nestes momentos pôs Lúcifer em ação toda a sua sabedoria e diabólica malícia no sentido de combinar com os demônios e dirigir como mais ofenderiam a Deus e se vingariam do castigo que lhes tinha sido dado; e aquilo que em suma resolveram foi que a maior vingança e agravo contra Deus, como conheciam que Deus devia amar tão ternamente os homens, seria impedir os efeitos desse amor, enganando, persuadindo e, tanto quanto lhes fosse possível, forçando os mesmos homens, de forma a que perdessem a amizade e graça de Deus e Lhe fossem ingratos e rebeldes à Sua vontade.
"Nisto, dizia Lúcifer: temos de trabalhar, servindo-nos de todas as nossas forças, cuidado e ciência; submeteremos as criaturas humanas à nossa lei e vontade, para as destruir; … (seguiu-se aqui a descrição de todas as manhas que o demônio iria usar para condenar a humanidade.) … sepultá-los-ei neste fogo eterno e nos lugares de maiores tormentos aqueles que mais se ligarem a mim. Este será o meu reino e o prêmio que darei a meus servos. Não há língua humana que possa explicar a malícia e furor deste primeiro conciliábulo que Lúcifer fez no inferno contra a descendência humana, que ainda não existia, senão porque teria de existir. Ali se inventaram todos os vícios e pecados do mundo, dali saíram a mentira, as seitas e erros, e toda a iniquidade teve ali a sua origem, naquele caos e reunião abominável; e a seu príncipe servem todos quantos procedem com maldade.

Na criação de todas as coisas o Senhor teve presentes Cristo Senhor nosso e Sua Mãe Santíssima e elegeu e favoreceu o seu povo, formulando estes Mistérios.

Olhava o Altíssimo para Seu Filho Unigênito humanado e para Sua Mãe Santíssima, como modelos que tinha formado com a grandeza de Sua Sabedoria e Poder, para que Lhe servissem como que de originais, pelos quais ia copiando toda a descendência humana; e para que, assimilando-a a estas duas imagens de Sua Divindade, todos os demais saíssem também, mediante estes dois modelos, semelhantes a Deus. Criou também as coisas materiais necessárias à vida humana, mas com tal Sabedoria, que também algumas delas servissem de símbolos que representassem, de algum modo, os dois objetos que Ele principalmente contemplava: Cristo e Maria. No sexto dia da criação, formou e criou Adão como tendo uns trinta e três anos, a mesma idade que Cristo havia de ter, no momento da Sua morte; e tão parecido a Sua humanidade santíssima, que no corpo com dificuldade se diferenciavam, e na alma também o assimilou à Sua; e de Adão formou Eva, tão semelhante a Nossa Senhora, que A imitava em todas as Suas feições e pessoa. Contemplava o Senhor com sumo agrado e benevolência estes dois retratos dos originais que havia de criar a seu tempo; e por eles lhes lançou muitas bênçãos, como para entreter-Se com eles e seus descendentes, enquanto chegava o dia em que havia de formar Cristo e Maria.  Logo a invejada serpente se despertou contra eles, com quem estava á espera da Sua criação, embora Lúcifer não pudesse ver a formação de Adão e Eva como viu todas as outras coisas no instante em que foram criadas, porque o Senhor não lhe quis revelar a obra da criação do homem nem tão pouco a formação de Eva da costela; tudo isto lho ocultou Sua Majestade por algum tempo, até que estivessem os dois juntos. Mas quando o demônio viu a compostura admirável da natureza humana, acima de todas as demais criaturas, a formosura das almas e mesmo dos corpos de Adão e Eva, e conheceu o paternal amor com que o Senhor os olhava e como os fazia donos e senhores de toda a criação e lhes dava esperanças de vida eterna, foi então que mais se enfureceu e cresceu o ódio deste dragão e não há língua que possa exprimir a alteração com que se revoltou aquele animal feroz, pondo em ação a sua inveja, de forma a tirar-lhes a vida; e, tal como um leão, ele mesmo o faria, se não conhecesse que o impedia uma força muito superior; mas imaginava e projetava a forma de os derrubar da graça do Altíssimo e de os virar contra Ele.  E aqui mesmo se enganou Lúcifer; com efeito, o Senhor, misteriosamente, dado que desde o início lhe havia manifestado que o Verbo iria fazer-Se homem, no seio de Maria Santíssima, e não lhe declarando onde e quando, acabou por lhe ocultar a criação de Adão e a formação de Eva, para que logo começasse a sentir essa ignorância do mistério e tempo da Incarnação. E como sua ira e desvelo estavam particularmente preparados contra Cristo e Maria, suspeitou que Adão tinha saído de Eva e que ela seria a Mãe e ele era o Verbo humanado. E o impedia, a fim de que os não ofendesse ou prejudicasse na vida. Mas como por outro lado conheceu logo os preceitos que o próprio Deus lhes deu (estes não se lhe ocultaram, porque ouviu as conversas que Adão e Eva tinham sobre o assunto), ia lentamente saindo da dúvida e foi escutando ou espiando os encontros dos dois primeiros pais e saudando as suas inclinações naturais, começando logo, como faminto leão, a rodeá-los e tentar entrar neles, pelas inclinações que conhecia em cada um deles. Mas, até que se desenganou de todo, vacilava sempre entre o ódio a Cristo e Maria e o temor de por Eles ser vencido; e temia ainda mais a confusão de que o vencesse a Rainha do Céu, por ser pura criatura e não Deus. E não atacou primeiro o homem mas sim a mulher, porque a viu de natureza mais delicada e débil, e mesmo porque contra ela ia com mais certeza de que não seria Cristo; e porque contra ela tinha uma grande indignação, desde o sinal que tinha visto no Céu e a ameaça que o próprio Deus lhe tinha feito com essa mulher. Tudo isto o arrastou e virou primeiro contra Eva e não contra Adão. E atirou-lhe com muitos pensamentos ou fortes e desordenadas imaginações, antes de se lhe manifestar, para a ver algo perturbada e disposta ou prevenida.

Quando Lúcifer viu a queda dos dois e que a formosura interior da graça e justiça original se tinha convertido na fealdade do pecado, foi incrível o alvoroço e triunfo que mostrou aos seus demônios.

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