“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A LUTA DOS ANJOS E A QUEDA DE LÚCIFER


Maria de Ágreda – do Livro: Mística Cidade de Deus
A ordem da Criação de todas as coisas

(Continuação da publicação anterior)

Das inteligências que me deu o Altíssimo da Escritura Sagrada, em confirmação do capítulo precedente; São do oitavo dos Provérbios.

Remeteu-me para o capítulo 8 dos Provérbios, onde me deu conhecimento deste mistério, como nesse capítulo se encerra, e primeiro foi-me declarado o texto, tal como ele soa e que é o seguinte:  “22 O Senhor possuiu-me, como primícia das Suas obras, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. 23 Desde a eternidade fui constituída, desde as origens, antes que a terra fosse criada, 24 ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida; 25 ainda as fontes das águas não tinham assentado os montes sobre as suas bases; antes de haver outeiros, eu já tinha nascido. 26 Ainda Ele não tinha criado a terra, nem os campos nem o primeiro pó da terra. 27 Quando Ele preparava os Céus, eu estava presente; 28 quando colocava uma abóbada sobre a superfície do abismo, quando firmava as nuvens, lá no alto, quando equilibrava as fontes do abismo, 29 quando fixava o seu termo ao mar, para que as águas não ultrapassem os seus limites; quando assentou os fundamentos da terra, 30 eu estava com Ele compondo todas as coisas, e eram meus prazeres diários o deleitar-me continuamente diante d'Ele, brincando sobre o globo de Sua terra, e achando as minhas delícias junto dos filhos dos homens". (Prov 8, 22-31).
Até aqui, a passagem dos Provérbios, cujo entendimento me deu o Altíssimo. E primeiro entendi que fala das ideias ou decreto que teve em Sua mente divina, antes de criar o mundo; e que, à letra, fala da pessoa do Verbo humanado e de Sua Mãe Santíssima, e misticamente, dos santos Anjos e Profetas; com efeito, antes de fazer decreto ou formar ideias para criar o resto das criaturas materiais, teve-as e se decretou a humanidade santíssima de Cristo e de Sua Mãe puríssima;  e ambos foram conjuntamente ordenados imediatamente depois de Deus e antes de todas as outras criaturas. E foi a mais admirável ordenação que já se fez ou alguma vez se fará: a primeira e a mais admirável imagem da mente de Deus, depois da eterna geração, foi a de Cristo e logo a seguir a de Sua Mãe. (Provérbios Capítulo 8 - Desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, desde as origens, antes que a terra fosse criada. Ainda não havia os abismos e eu já havia sido concebida.)
 "Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos nem o primeiro pó da terra”. Antes de formar outra terra, a segunda - que por isso repete duas vezes a terra - que foi a do paraíso terreal, aonde o primeiro homem foi levado, depois de ser criado da terra primeira do campo Damasceno; antes desta segunda terra, onde pecou o homem, foi determinado criar a humanidade do Verbo e a matéria de que se havia de formar, que era a Virgem; com efeito, Deus de antemão A haveria de prevenir, para que não tivesse parte no pecado, nem a ele estivesse sujeita.

De uma dúvida que apresentei ao Senhor sobre a doutrina destes capítulos e a resposta que obtive.

Mas quero também que os mortais reconheçam o Verbo Incarnado como Sua cabeça e causa final da criação de todo o restante da natureza humana, porque Ele foi, depois de Minha própria benignidade, o principal motivo que tive para dar existência às criaturas; e assim, deve ser reverenciado, não só porque redimiu a descendência humana, mas também por ter sido a causa da Sua criação.

Como o Altíssimo deu princípio às suas obras; e todas as coisas materiais criou para o homem, e aos Anjos e homens para que fossem povo de quem o Verbo humanado fosse cabeça.


E para que a ordem fosse também perfeitíssima, antes de criar criaturas intelectuais e racionais, formou o Céu para os Anjos e homens, e a Terra, onde primeiro os mortais iriam ser viadores. Da Terra, diz Moisés que estava vazia e o mesmo não diz do Céu, porque neste criou os Anjos, no instante em que diz Moisés: "Disse Deus; faça-se a luz e a luz foi feita"; com efeito, não fala apenas da luz material, mas também das luzes angélicas ou intelectuais.  E criou Deus, com o céu empíreo da Terra, juntamente, para formar no seu centro, o inferno; com efeito, no instante em que foi criada, por divina disposição, ficaram no meio deste globo cavernas muito profundas e amplas, capazes de constituir o inferno, Limbo e Purgatório; e no inferno, ao mesmo tempo, foi criado fogo material e as demais coisas que agora ali servem de pena aos condenados. Foram os Anjos criados no Céu empíreo e em graça, para que com ela houvesse o merecimento do prêmio da glória; com efeito, embora estivessem no lugar dela, não se lhes havia ainda mostrado a divindade face a face e com claro conhecimento, até que, com a graça, o viessem a merecer os que foram obedientes à vontade divina. E, deste modo, estes Anjos santos, como aliás os apóstatas, permaneceram muito pouco tempo no primeiro estado de viadores.
Resta saber o motivo que tiveram Lúcifer e seus confederados no seu pecado (que é justamente o que agora tentarei investigar) e pelo qual tomaram a decisão da Sua desobediência e queda. … E segundo o mau afeto que então teve, Lúcifer caiu em desordenadíssimo amor próprio e nasceu-lhe o ver-se com maiores dons e formosura de natureza e graças que os outros Anjos inferiores. Neste conhecimento, deteve-se demasiado; e o agrado que sentiu de si mesmo fê-lo retardar e esmorecer no agradecimento que devia a Deus, como causa única de tudo quanto tinha recebido. E voltando a contemplar-se a si mesmo, de novo sentiu um extraordinário agrado pela Sua formosura e graças, atribuiu-as a si próprio e amou-as como suas; e este desordenado afeto próprio, não só o fez erguer-se com aquilo que tinha recebido de bem superior virtude, mas também o levou a invejar e cobiçar outros dons e excelências alheias que não tinha. E porque não as pôde conseguir, concebeu um mortal ódio e indignação contra Deus, que do nada o tinha criado, e contra todas as Suas criaturas;  determinou a Divina Providência manifestar-lhes, imediatamente depois da Sua criação, o fim para que os tinha criado com natureza tão elevada e excelente.  Em segundo lugar, lhes manifestou Deus que iria criar uma natureza humana e criatura racionais inferiores, para que amassem, temessem e reverenciassem a Deus, como seu Autor e bem eterno, e que Ele Mesmo iria favorecer muito esta natureza; e que a segunda pessoa da própria Santíssima Trindade Se iria humanizar e fazer-Se homem, elevando a natureza humana à união hipostática e pessoa divina e que a esse suposto homem e Deus teriam de reconhecer como chefe, não apenas enquanto Deus, mas simultaneamente enquanto homem e teriam de O reverenciar e adorar; e que os próprios Anjos teriam de ser Seus inferiores em dignidade e graças e Seus servos. E deu-lhes entendimento da conveniência e equidade, justiça e razão que nisto havia, porque a aceitação dos merecimentos previstos desse Homem e Deus lhes tinha merecido a eles mesmos a graça que possuíam e a glória que iriam possuir; e que para Sua própria glória tinham sido criados, tanto eles como todas as criaturas o seriam, porque a todas iria ser superior; e todas as que fossem capazes de conhecer e gozar de Deus, iriam ser povo e membros dessa cabeça, para reconhecê-Lo e reverenciá-Lo. E logo os Santos Anjos receberam o mandato de se submeter a tudo isto. Mas Lúcifer, com soberba e inveja, resistiu e incitou os Anjos, seus sequazes, a que fizessem o mesmo, como de fato o fizeram, seguindo-o a ele e desobedecendo ao divino mandato.
Mas sucedeu nisto um outro mistério: que quando se lhes propôs a todos os Anjos que teriam de obedecer ao Verbo Humanado, se lhes deu um outro preceito: que teriam de ter juntamente por superiora uma mulher, em cujas entranhas tomaria carne humana este Unigênito do Pai; e que esta mulher iria ser Sua Rainha e Rainha de todas as criaturas e que Ela Mesma Se havia de assinalar e avantajar a todas, angélicas e humanas, nos dons de graça e glória. Os bons Anjos, por obedecerem a este preceito do Senhor, aumentaram e engrandeceram a Sua humildade e com ela o acolheram e louvaram o poder e sacramentos do Altíssimo; mas Lúcifer e seus correligionários, com este preceito e mistério, cresceram ainda mais em soberba e presunção; e com desordenado furor mais se lhe tornou apetecível a excelência de ser chefe de toda a descendência humana e ordens angélicas e que, se teria de ser mediante a união hipostática, então, fosse com ele mesmo. E quanto ao ser inferior à Mãe do Verbo Humanado e Senhora Nossa, resistiu-lhe com horrendas blasfêmias, convertendo-se em ofensiva indignação contra o Autor de tão grandes maravilhas.
Realizou neste momento o Todo-Poderoso outro mistério maravilhoso: tendo-lhes manifestado, por inteligência, a todos os Anjos, o grande sacramento da união hipostática, mostrou-lhes a Virgem Santíssima por um sinal ou espécie, a jeito das nossas visões imaginárias, segundo o nosso modo de entender. E assim lhes deu a conhecer e representou a natureza humana pura numa mulher perfeitíssima, em quem o braço poderoso do Altíssimo iria ser mais admirável do que em todas as demais criaturas, porque nEla depositava as graças e dons de Sua destra, em grau superior e eminente. Este sinal e visão da Rainha do Céu e Mãe do Verbo humanado foi notória e manifesta a todos os Anjos, bons e maus. Os bons, à Sua vista, ficaram extasiados de admiração e em cânticos de louvor e, a partir de então, começaram a defender a honra de Deus Humanado e Sua Mãe Santíssima, armados com este ardente zelo e com o escudo invencível daquele sinal. E, pelo contrário, o dragão e seus aliados conceberam um implacável furor e sanha contra Cristo e Sua Mãe Santíssima.
Com efeito, os Anjos eram estrelas e, se perseverassem, luziriam depois com os demais Anjos e justos, como o Sol, em perpétuas eternidades mas lançou-as sobre a Terra o castigo merecido, para sua desdita, até ao centro dela, que é o inferno, onde carecerão eternamente de luz e de alegria.

E foi admirável, esta batalha, porque se pelejava com os entendimentos, e vontades. É difícil reduzir a palavras aquilo que se passou em tão memorável batalha, por haver tanta distância entre os fracos raciocínios materiais e a natureza e operações de tais e tantos espíritos angélicos. Mas os maus não prevaleceram, porque a injustiça, mentira, ignorância e malícia não podem prevalecer contra a equidade, verdade, luz e bondade; nem estas virtudes podem ser vencidas pelos vícios; e por isto diz o evangelista que "não prevaleceram e não houve mais lugar no Céu para eles". Com os pecados que cometeram estes ingratos anjos, se tornaram indignos da eterna visão e companhia do Senhor e a Sua memória apagou-se-lhes na mente, em que antes de cair estavam como que gravados pelos dons de Graça que lhes tinha dado; e, como foram privados do direito que tinham aos lugares que lhes estavam marcados, se tivessem obedecido, este mesmo direito passou para os homens e para eles se destinaram, ficando tão limpos os vestígios dos anjos apóstatas, que jamais haverá no Céu lugar para eles. O Santo Príncipe Miguel expulsou Lúcifer do Céu com essa invencível palavra: "Quem como Deus?", que foi tão eficaz, que conseguiu derrubar esse poderoso gigante e todos os seus exércitos e lançá-lo, com sua horrível ignomínia, no inferior da Terra, começando, com Sua infelicidade e castigo, a ter novos nomes de dragão, serpente, diabo e Satanás, que o próprio Santo Arcanjo lhe pôs na batalha; e todos eles testemunham a sua iniquidade e malícia. E privado, por esta mesma iniquidade e malícia, da felicidade e honra que desmerecia, foi também privado dos nomes e títulos honrosos e adquiriu os que declaram a Sua ignomínia; e a intenção maldosa que propôs e ordenou a seus correligionários, que enganassem e pervertessem a todos os que no mundo vivessem, manifesta bem a sua iniqüidade.

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