E
O HOMEM DEIXARÁ PAI E MÃE E SE UNIRÁ À SUA MULHER
“Oh!
Isto sim. Não é como aquela miserável da Jesabel.”
“E,
então? Por que te lamentas, e vives te queixando dela? Não achas que estás
usando duas medidas ao julgares a tua nora de modo diferente de como julgarias
a tua filha?”
“É
que. É que... ela me tomou o amor de meu filho. Antes ele era todo para mim, e
agora ele a ama mais do que a mim...” A eterna e verdadeira razão do
preconceito das sogras, que finalmente transborda do coração da velhinha, ao
mesmo tempo que lhe descem lágrimas dos olhos.
“O
teu filho te deixa faltar alguma coisa? Ele deixou de tratar-te bem, depois que
se casou?
“Não.
Isso eu não posso dizer. Mas, afinal ele agora é da mulher...”, e o pranto se
torna mais forte.
Jesus
tem um sorriso indulgente de compaixão para com a velhinha ciumenta. Mas, doce
como sempre, não a reprova. Tem compaixão do sofrimento da mãe, e procura
curá-la. Apóia sua mão sobre o ombro da velhinha, como se quisesse guiá-la,
pois as lágrimas a estão cegando, talvez para fazê-la perceber, pelo contato
com Ele, um tão grande amor, que se sinta consolada e curada, e lhe diz:
“Mãe,
e não é bom que seja assim? O teu marido fez assim contigo, e a mãe dele não o
perdeu, como tu dizes e pensas, mas só o teve menos para ela, pois o teu esposo
Levi dividia o seu amor entre ti e a mãe dele. E o pai do teu marido, por sua
vez, deixou de ser todo de sua mãe, para amar a mãe de seus filhos. E assim por
diante, de geração em geração, retrocedendo nos séculos até Eva, a primeira mãe
viu os seus filhos dividirem o amor que tinham, a princípio exclusivamente com
os genitores e depois também com as suas esposas.
Mas,
não diz o Gênesis: “Eis afinal, o osso dos meus ossos e a carne da minha
carne... O homem deixará por ela o seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher, e
os dois serão uma só carne?” Tu dirás: “Foi uma palavra de homem.” É verdade.
Mas, de que homem? Ele estava em estado de inocência e graça. Repetia,
portanto, sem sombras, a Sabedoria que o havia criado, e conhecia a verdade do
que dizia. Pela graça e pela inocência, possuía também os outros dons de Deus,
em medida plena. Com uma sensualidade submissa à razão, ele tinha uma mente não
ofuscada pelos vapores da concupiscência. Pela ciência proporcionada ao seu
estado, ele dizia palavras de verdade. Portanto ele era profeta. Porque tu
sabes que profeta quer dizer aquele que fala em nome de outro. E visto que os
profetas verdadeiros falam sempre de coisas referentes ao espírito e ao futuro,
ainda que aparentemente se refiram ao tempo presente e à carne – porque nos pecados
da carne e nos fatos do tempo presente estão as sementes das punições futuras,
ou, os fatos do futuro têm raízes em algum acontecimento antigo, por exemplo, a
vinda do Salvador aconteceu por causa da culpa de Adão, e as punições de Israel
preditas pelos profetas, têm como causa o mau procedimento de Israel – assim Aquele
que move os lábios deles para dizerem coisas do espírito, não pode ser senão o
Espírito Eterno, que tudo vê como um eterno tempo presente. E o Espírito Eterno
fala nos Santos, porque não pode morar nos pecadores.
Adão
era santo, isto é, a justiça era plena nele, e nele havia a presença de todas
as virtudes, porque Deus em sua criatura havia infundido a plenitude dos seus
dons. Agora, para chegar à justiça e à posse das virtudes, o homem precisa
trabalhar muito, porque os estímulos para o mal estão nele, enquanto que em
Adão não havia tais estímulos, pelo contrário, havia a graça, que o tornava
pouco inferior a Deus, seu Criador. Por isso, seus lábios diziam palavras de
graça. Palavras de verdade, como estas: “O homem pela mulher deixará pai e mãe,
e se unirá à sua esposa, e serão uma só carne.”
E
tão incondicional e verdadeiro é isso, que o Boníssimo, para dar um apoio às
mães e aos pais, colocou na Lei o quarto mandamento: “Honrar pai e mãe.” Esse
mandamento não termina, quando o homem se casa, mas perdura depois do
casamento. Primeiro porque instintivamente os bons já honravam seus pais, mesmo
depois que eles os deixaram para formarem uma nova família. De Moisés para cá,
é uma obrigação imposta pela Lei. E isso é para abrandar os sofrimentos dos
pais, que muitas vezes ficavam esquecidos pelos filhos, depois do casamento
destes. Mas a Lei não anulou o dito profético de Adão: “Pela mulher, o homem
deixará pai e mãe”. Era uma palavra justa e por isso persiste. Ela era o
reflexo do pensamento de Deus. E o pensamento de Deus é imutável, porque é
perfeito.
Tu,
mãe, deves pois, aceitar sem egoísmos, o amor do teu filho pela mulher dele. E
tu, serás também santa. Afinal de contas, cada sacrifício já tem uma
compensação, desde esta terra. Não te é doce beijar os netos, filhos do teu
filho? E não te será plácida a tarde, em teu último sono, tendo perto de ti o
delicado amor de uma filha, que está ocupando o lugar das outras que não estão
mais em tua casa?”
“Como
sabes que as minhas filhas, todas mais velhas do que o filho homem, estão todas
casadas e longe de casa?... Serás Tu também um profeta? Rabi, eu sei que és.
Isto é o que estão dizendo os flocos de tua veste e, mesmo que não os tivestes,
a tua palavra o está dizendo. Tu falas como grande doutor. Por acaso serás
amigo do Gamaliel? Anteontem ele esteve aqui sozinho. Mas, eu não sei, não... E
muitos rabinos estavam com ele. E muitos dos seus discípulos prediletos. Mas Tu
talvez venhas à tarde.”
“Eu
conheço o Gamaliel. Mas não vou à casa dele. Nem mesmo vou entrar em Gíscala...”
“Mas,
quem és? Certamente um Rabi. Pois falas melhor do que o Gamaliel...”
“Então,
faze o que Eu te disse. E a paz estará contigo. Adeus, mãe. Eu vou para a
frente. Tu certamente vais entrar na cidade.”
“Sim...
Mãe! Os outros rabis não são assim humildes, ao tratarem com uma pobre
mulher... Certamente Aquela que te trouxe é mais santa do que Judite, se te deu
este coração tão doce para com todas as criaturas.”
“Santa
ela é, na verdade.”
“Dize-me
o nome dela.”
“Maria.”
“E
o teu?”
“Jesus.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol 7, pgs. 298 a 300)

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