A CURA DE UM MENINO CEGO
Na
praça central de Sidon, próximo a sinagoga...
A
mulher segura pela mão o menino, ou menina de que eu falei. É um belo menino de
uns sete anos. Ele também é robusto, mas sem nenhuma vivacidade. Está muito
quieto, de cabeça inclinada, seguro pela mão da mãe, sem preocupar-se com nada
do que acontece.
A
mulher fica olhando, mas não tem coragem de aproximar-se do grupo que formou ao
redor de Jesus. Ela parece estar indecisa, numa dúvida entre o desejo de ir e o
medo de ir para a frente. Mas depois ela decide a fazer uma coisa para
consegui-lo: chamar a atenção de Jesus. Ela vê que Ele pegou em seus braços im
meninão todo rosado e sorridente, que uma mãe lhe apresentou, e que Ele,
falando a um velhinho, o aperta ao coração, fazendo um movimento como o que faz
com um berço. Ela se inclina sobre o menino , e lhe diz qualquer coisa.
O
menino levanta a cabeça. É então, que eu vejo um rostinho triste, com os olhos
fechados. Ele é cego. “Tem piedade de mim, Jesus “, diz ele. A vozinha infantil
atravessa o ar parado da praça e, com seu lamento, chega até ao grupo.
Jesus
se volta e vê. Move-se sem demora. Com uma solicitude amorosa. Nem entrega o
pequenino, que está em seus braços, à mãe. Vai, com a beleza de sua estatura,
para o rumo do pobre ceguinho que, depois de ter dado aquele grito, baixou a
cabeça, e não atende à mãe que lhe está dizendo que repita o grito. Jesus já
está a frente da mulher. E olha para ela. Eça também para Ele. Depois,
timidamente, ela abaixa o olhar. Jesus a ajuda. Ele entrega o menino que estava
em seus braços à mulher que lho havia apresentado.
“Mulher,
este é teu filho?”
“Sim,
Mestre, é o meu primogênito.”
Jesus
faz carícias à cabecinha inclinada. Jesus parece não ter visto a cegueira do
pequeno. Mas eu penso que Ele age assim de propósito, a fim de fazer que a mãe
fale qual o seu pedido.
“Então,
o Altíssimo abençoou a tua casa com uma prole numerosa, dando-te em primeiro
lugar o filho do sexo masculino, consagrado ao Senhor.”
“Eu
tenho um só filho do sexo masculino. As outras três são meninas. E não terei
outros filhos...” E soluça.
“Por
que choras mulher?”
“Porque
o meu menino é cego, Mestre.”
“E
tu quererias que ele visse? Podes crer?
“Eu
creio, Mestre. Já me disseram que Tu já abriste olhos que estavam fechados. Mas
o meu filho nasceu com os olhos secos. Olha os olhos dele, Jesus. Debaixo das
pálpebras, não há nada...”
Jesus
levanta para o seu lado aquele rostinho tão precocemente sério, e olha para
ele, levantando as pálpebras com o polegar. Há um vazio por baixo. Jesus torna
a falar, conservando levantado com uma mão o rostinho virado para Si.
“Então
para que vieste, mulher?”
“Para
que... eu sei que é mais difícil para o meu menino... mas, se é verdade que Tu
és o Esperado, Tu o podes fazer. O teu Pai foi quem fez os mundos... E, não
poderias Tu dar duas pupilas ao meu filho?”
“Crês
tu que Eu venho do Pai, do Senhor Altíssimo?”
“Eu
creio isso, e que tudo podes.”
Jesus
olha para ela, como para avaliar quanta fé há nela e que grau de pureza tem sua
fé. Depois mostra um sorriso. E, em seguida diz: “Menino vem a Mim”, e o leva
pela mão para cima de uma mureta com meio metro de altura, que foi levantada
entre a estrada e uma casa, uma espécie de parapeito, para separar a casa da
estrada que neste ponto faz uma curva.
Quando
o menino está bem firme sobre aquela elevação, Jesus fica sério,
impressionante. O grupo de pessoas se comprime ao redor dele, do menino e da
mãe, que está tremendo. Eu estou vendo Jesus de lado, de perfil. Todo
empertigado em seu manto azul muito escuro sobre a veste que é somente um pouco
mais clara, está com um semblante inspirado. Ele parece mais alto e até mais
robusto, como sempre, quando Ele libera um poder miraculoso. E esta é uma das
vezes em que Ele me parece mais majestoso. Põe as mãos sobre a cabeça do
menino, as mãos abertas, mas com os dois polegares apoiados sobre as órbitas
vazias. Levanta a cabeça e reza intensamente, mas sem mover os lábios.
Certamente está em colóquio com seu Pai. Depois diz: “Vê! Eu quero! E louva o
Senhor!”, e a mulher diz: “Seja premiada a sua fé. Eis aqui para ti o filho que
será a tua honra e a tua paz. Mostra-o ao teu marido. Ele voltará ao teu amor,
e a tua casa conhecerá novos dias felizes.”
A
mulher, que já deu um grito muito alto de alegria, ao ver, depois de estarem
levantados os polegares divinos que, das órbitas vazias dois esplêndidos olhos
de um azul escuro, como os do Mestre, a estão fitando, espantados mas felizes
por baixo da franja dos cabelos cor de amora, dá um outro grito e, mesmo
segurando o filho apertado contra o coração, se ajoelha aos pés do Senhor,
dizendo: “Até isto Tu sabes? Tu és verdadeiramente o Filho de Deus”, e beija a
veste e as sandálias dele, depois se levanta, transfigurada de alegria, e diz: “Ouvi
todos. Eu venho das longínquas terras de Sidon, Vim porque uma outra mãe me
falou do Rabi de Nazaré. Meu marido, judeu e mercador, tem naquela cidade os
seus empórios, para o comércio com Roma. Rico e fiel à Lei, não me amou mais,
desde quando eu, depois de ter-lhe dado um filho-homem infeliz, dei-lhe depois
três fêmeas, tornando-me depois estéril. Ele se afastou de casa, e eu, sem
chegar a ser repudiada, fiquei nas mesmas condições de uma repudiada, e já
sabia que ele queria desfazer-se de mim, para ter de outra mulher um herdeiro
capaz de continuar o comércio e gozar das riquezas paternas. Antes de partir,
eu fui ao meu esposo, e lhe disse: “Espera, senhor. Se eu voltar com o filho
ainda cego, repudia-me. Mas, se não for assim, não firas de morte o meu
coração, negando um pai aos teus filhos.” E ele me jurou: “Pela glória do
Senhor, mulher eu te juro que, se me trouxeres o filho são, não sei como
poderás fazer isso, pois o teu ventre não soube nem dar-lhe olhos, eu voltarei
a ti, como nos dias do primeiro amor.”
O
Mestre não podia saber nada de minha dor de esposa, e, contudo me consolou
também neste ponto. Glória a Ti, Mestre e Rei.”
A
mulher cai novamente de joelhos, e chora de alegria.
“Vai.
Dize ao Daniel, teu marido, que Aquele que criou os mundos deu duas pupilas
claras ao pequeno consagrado ao Senhor. Porque Deus é fiel ás suas promessas e
jurou que quem crê nele verá toda espécie de prodígios. Que Ele também seja
fiel ao juramento que fez, e não cometa pecado de adultério. Dize isto ao
Daniel. Vai. Sê feliz. Eu te abençôo e a este menino e contigo aos que te são
caros.”
A
multidão forma um coro de louvores e de felicitações, e Jesus entra em uma casa
vizinha para repousar.
A
visão cessa aqui. E eu lhes garanto que ela me deixou profundamente chocada.
(de
Jesus à Valtorta, Vol. 7, pgs. 319, a322)
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