“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O DOCE MENINO MIGUEL E SUAS PERGUNTAS


O DOCE MENINO MIGUEL E SUAS PERGUNTAS

O pequenino de pouco antes, muito bonito na pequena camisa curta a que foi reduzida a sua veste, nesta hora tórrida, põe a cabecinha morena para fora da porta da cozinha, dá uma olhadela, anda para a frente tomando cuidado com os seus pezinhos tenros, que estão sofrendo por causa do chão, que está quente, devido ao sol. A pequena camisa, desabotoada, está para cair, se escapar do seu ombro gorducho. Ele chega até os discípulos, e procura passar por cima deles, para ir ver Jesus de novo. Mas suas perninhas são muito curtas para que ele possa passar por cima dos corpos musculosos dos adultos, e ele tropeça, e cai ao lado de Matias, que acorda, e vê o rostinho envergonhado, quase para chorar, do pequenino. Ele sorri, e diz ao entender qual era a manobra do menino: “Vem cá, que eu te colocarei entre mim e Jesus. Mas fica calado e quieto. Deixa-o dormir, que Ele está cansado.”
E o pequeno, feliz, assenta-se em adoração ao belo rosto de Jesus. Olha para ele, estuda-o, fica com muita vontade de fazer-lhe uma carícia, de tocar em seus cabelos dourados. Mas Matias o está vigiando, sorrindo, e não lho permite. Então o pequenino lhe pergunta em voz baixa: “Ele dorme sempre assim?”
“Sempre assim”, responde Matias.
“Ele está cansado? Por que?”
“Porque caminha muito e fala muito.”
“Para que Ele fala e caminha?”
“Para ensinar os meninos a serem bons, a amar o Senhor, a fim de irem com Ele para o Céu.”
“Lá em cima? Como é que se faz? É longe...”
“A alma, tu sabes o que é a alma?”
“Não.”
“É a coisa mais bonita que há em nós, e...”
“Mais bonita do que os olhos? A mamãe me diz que tenho por olhos duas estrelas. E as estrelas são bonitas, sabes?”
O discípulo sorri e responde: “É mais bonita do que as estrelinhas dos teus olhos, pois a alma boa é mais bonita do que o sol.”
“Oh! E onde é que ela está? Onde é que a tenho?”
“Aqui. No coraçãozinho. Ela vê, ouve tudo, e nunca morre. E, quando alguém nunca faz o mal, e morre como justo, a alma voa lá para cima com o Senhor.”
“Com Ele?”, e o pequeno mostra Jesus.
“Sim, com Ele.”
“Mas Ele também tem uma alma?”
“Sim, Ele tem uma alma e a divindade. Porque é Deus este homem que estás olhando.”
“Como sabes disso? Quem foi que te disse?”
“Os anjos.”
O menino, que estava sentado bem ao lado de Matias, não pôde receber tranquilamente essa notícia, mas dá um salto e põe-se em pé, dizendo: “Tu já viste os anjos?”, e olha para Matias, abrindo seus grandes olhos. E foi tão espantosa a notícia para ele, que, por um instante, até se esquece de Jesus, e, por isso, não vê que Ele já está com os olhos abertos, despertado que foi pelo leve grito do menino, e depois com um sorriso, os fecha de novo, e vira a cabeça para o outro lado.
“Silêncio! Está vendo... Eu te mando embora.”
“Vou ficar bom, mas como é que são os anjos? Quando foi que os viste?” A vozinha transformou-se num sussurro.
E Matias, com paciência, fala da noite do Natal ao pequeno, que tornou a ir sentar-se em seu peito, extasiado. E, com paciência, vai-lhe respondendo todos os porquês. “Por que foi que nasceu num estábulo? Ele não tinha casa? Não tem uma mãe? Era tão pobre, a ponto de não ter uma casa? Não tem uma mãe? Onde está a Mãe dele? Por que é que ela o deixa só. Quando Ela sabe que já o quiseram matar? Ela não lhe quer bem?”
É uma chuva de perguntas, e outra de respostas. E a última é que Matias responde: “Ela lhe quer muito bem, a Mãe Santa do seu Divino Filho. Mas faz o sacrifício de sua dor, ao deixá-lo, para que os homens se salvem. Para consolar-se, Ela pensa que ainda haja homens bons, capazes de amá-lo...”, e essa ideia desperta esta resposta: “É que há meninos bons, que o amam, não sabes? Onde é que Ela está? Dize-o a mim, que eu irei onde ela está, e lhe direi: “Não chores. Ao seu filho eu dou amor.” Que achas? Ela ficará contente?”
“Muito contente, menino”, diz Matias, beijando-o.
“E Ele também ficará contente?”
“Muito, muito. E eu lho direi, quando Ele despertar.”
“Oh! Sim... Mas, quando é que Ele vai despertar?” O menino está ansioso...
Jesus não resiste mais. Ele se vira, com os olhos bem abertos e com seu sorriso luminoso, e diz: “Já o disseste a Mim, porque Eu ouvi tudo. Vem cá, menino.”
O menino não espera ser chamado duas vezes, mas vai correndo para o lado de Jesus, acariciando-o, beijando-o, tocando seu dedinho na fronte dele, nas sobrancelhas, nos cílios dourados, espelhando-se nos olhos azuis dele, esfregando-se sobre sua barba macia e sobre seus cabelos sedosos, e dizendo a cada uma dessas descobertas: “Como és bonito! Bonito! Bonito!”
Jesus sorri e Matias sorri... E depois, a medida que os outros vão acordando, visto que o pequeno não é mais o centro de todas as atenções, os discípulos e os apóstolos, ao verem aquele exame cuidadoso, feito por aquele homenzinho seminu, gorducho, que observa Jesus de alto a baixo, da cabeça aos pés e termina dizendo: “ Vira-te!”, e explica depois: “é para ver as asas”, e pergunta decepcionado: “Porque não as tens?”
“Eu não sou um anjo, menino.”
“Mas és Deus! Como fazes para seres Deus, se não és cheio de asas? Como farias quando quiseres ir para o Céu?”
“Eu sou Deus, Mas é que Deus não tem necessidade de asas, Eu faço o que quero, e tudo posso.”
“Então, faze que meus olhos fiquem como os teus. Eles são bonitos.”
“Não. Os que já tens, fui Eu quem tos deu, e assim me agradam. Dize, isto sim, que torne a tua alma de justo, para que ames sempre mais.”
“Ela também foi feita por Ti. E então ela te agradará como eu a tenho”, diz, em sua lógica infantil o menino.
“Sim, agora ela me agrada muito, porque é inocente. Mas ao passo que os teus olhos serão sempre dessa cor de azeitona madura, a tua alma, de branca pode tornar-se preta, se te tornares mau.”
“Mau, não. Eu te quero bem, e quero fazer como os anjos mandaram fazer, quando Tu nasceste: “Paz a Deus no Céu, e glória aos homens de boa vontade”, diz o pequenino, trocando as palavras, o que provoca uma fragorosa risada nos adultos, coisa que o humilha, e faz que ele se cale.”
Mas, Jesus mesmo corrigindo-o, o consola: “Deus é sempre Paz menino. É a Paz. Mas os anjos lhe davam glória pelo acontecimento do Nascimento do Salvador, e davam aos homens a primeira regra para obter-se a paz que do meu nascimento haveria de provir: ter boa vontade. Esta que tu queres.”
“Sim. Então dá-me essa paz. Coloca-a em mim, no lugar em que aquele homem diz que eu tenho minha alma”, e com os dois dedos indicadores, ele mostra muitas vezes o seu peito.
“Sim, pequeno amigo. Como te chamas?”
“Miguel.”
“Nome do poderoso Arcanjo. Então, que te seja dada a boa vontade, Miguel. E que tu sejas um dos confessores do verdadeiro Deus, dizendo aos perseguidores, como disse o teu angélico protetor: “Quem como Deus?” Sê bendito agora e sempre”, e lhe impõe as mãos.
Mas o pequeno não ficou persuadido. Ele diz: “Não. Beija aqui. Em minha alma. E aí dentro entrará a tua bênção, e aí ficará fechada”, e ele descobre o pequeno peito para ser beijado, sem que nenhum obstáculo tenha vindo opor-se entre o seu pequeno corpo e os lábios divinos.
Sorriem e ficam comovidos, também os presentes. E bem que há motivo! A fé maravilhosa do inocente que, por instinto, como diriam alguns, mas que eu digo, por um estímulo espiritual, foi a Jesus. É verdadeiramente comovente, e Jesus o faz notar, dizendo:
“Oh! Se todos tivessem o coração das crianças.”


(de Jesus à Valtorta, Vol. 6, pgs. 290 a 293)

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