“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

FILHOS DO TROVÃO




FILHOS DO TROVÃO

14 de novembro de 1945.

Jesus caminha por uma região muito montanhosa. Não são montes altos, mas é um contínuo subir e descer por colinas e um fluir de torrentes, alegres nesta estação fresca, e agradáveis, límpidas como o céu, ainda novinhas, como as primeiras folhinhas, que sempre vão-se tornando mais numerosas sobre os ramos. Mas, por mais que a estação seja bela e alegre, a ponto de aliviar-nos o coração, não parece que Jesus esteja muito aliviado em seu espírito, e menos ainda do que Ele, os Apóstolos. Eles vão indo muito silenciosos, pelo fundo de um vale. Só os pastores e os rebanhos é o que se apresenta a seus olhos. Jesus, porém, nem parece vê-los. Um suspiro desconsolado de Tiago de Zebedeu e suas palavras imprevistas, nascidas de um pensamento aflitivo, é o que chama a atenção de Jesus...
Tiago diz: “Derrotas... e mais derrotas! Parecemos uns amaldiçoados...” Jesus lhe põe a mão sobre o ombro:
“Não sabes que esta é a sorte dos melhores?”
“É, eu sei disso, desde que estou contigo! Mas, de vez em quando, seria bom termos alguma coisa diferente, e antes nós a tínhamos, para animar de novo os corações e a fé...”
 “Estás duvidando de Mim, Tiago?” Grande é a dor que há nas palavras trêmulas do Mestre. “Naaão!...” O “não” dele, na, verdade, não tem muita firmeza. “Mas, que estás duvidando, estás. De que é, então, que estás duvidando? Já não me amas como antes? Ao veres que fui expulso, ou feito objeto de zombaria, ou somente perdido por estes confins da Fenícia, foi isso que enfraqueceu o teu amor?” Há um pranto cheio de temor na palavras de Jesus, ainda que não haja soluços nem lágrimas. É a própria alma dele que está chorando.
“Isto não, Senhor meu. Pelo contrário, o meu amor por Ti está crescendo mais, quando Te vejo incompreendido, não querido, abatido, aflito. E, para não ver-te assim, para poder mudar o coração dos homens, eu estaria pronto a dar a minha vida em sacrifício. Tu deves crer em mim. Não me fiques triturando o coração, já tão aflito, com essa dúvida de pensar que eu não te amo. Porque senão... Senão, eu sairei do sério. Voltarei atrás, e vou tirar vingança de quem te está fazendo sofrer, para provar-te que te amo, para tirar de Ti esta dúvida, e, se eu for preso ou morto, pouco me importará. Para mim bastará o ter-te dado uma prova de amor.”
“Oh! Filho do trovão! Para que tanta impetuosidade? Queres, então, ser um raio exterminador?” Jesus sorri do ardor e dos propósitos de Tiago.
“Isto já é um fruto destes meus propósitos. Que dizes, João? Deveremos por em prática o meu pensamento para consolar o Mestre abatido por tantas rejeições?”
“Oh! Sim. Vamos nós. Vamos voltar a falar. E, se o insultarem ainda como um rei de palavras, rei de ludíbrio, rei sem dinheiro, rei louco, batamos duro, para que desconfiem que o rei tem também um exército de fiéis, e que estes não estão dispostos a ser escarnecidos. A violência é útil em certos casos. Vamos, meu irmão!”
 Jesus se põe entre os dois, segura-lhes os braços para retê-los e diz: “Ora, escutai só o que estão dizendo! E Eu que já preguei durante tanto tempo! Oh! Surpresa das surpresas. Até João, a minha pomba, se me tornou um gavião. Olhai bem para ele, todos vós, e vede como está feio, perturbado, desgrenhado e com as feições desfiguradas pelo ódio. Oh! Que vergonha! E ainda ficais admirados, se os fenícios ficam indiferentes, se os hebreus estão irados, se os romanos me ordenam que saia, quando vós, os primeiros, ainda não compreendestes nada, depois destes dois anos que estais comigo, agora que vos transformais em fel, pelo ódio que trazeis no coração, quando pondes para fora de vossos corações a minha doutrina de amor e de perdão, e a expulsais como uma coisa sem valor, e acolheis, como vossa boa aliada, a violência! Oh! Pai Santo! Isto, sim, que é uma derrota! Em vez de serdes como outros tantos gaviões, que afiam os bicos e as garras, não seria melhor que fosseis anjos, orando ao Pai, para Ele dar um conforto ao seu Filho? Quando foi que já se viu um temporal produzir o bem, com os seus raios e suas saraivadas? 
Pois bem. Como lembrança deste vosso pecado contra a Caridade, como lembrança de quando Eu vi aparecer em vosso rosto o animal-homem, em lugar do homem-anjo, que Eu quero ver sempre em vós, Eu vos darei um sobrenome: “os filhos do trovão”.
Jesus está meio sério, enquanto está falando aos dois inflamados filhos de Zebedeu. Mas sua censura cessa, diante do arrependimento deles e, com um rosto iluminado pelo amor, Ele os aperta contra seu coração, dizendo: “E nunca mais fiqueis feios assim. E obrigado, pelo vosso amor.” “E também pelo vosso, meus amigos,”, diz ainda Jesus, virando-se para André, Mateus e os dois primos. “Vinde cá, para que Eu vos abrace também. Mas vós não sabeis que, se não houvesse outra coisa, a não ser a alegria de fazer a vontade de meu Pai e de ter o vosso amor, Eu seria sempre feliz, ainda que o mundo todo me esbofeteasse? Estou triste, mas não é por mim, pelas minhas derrotas, como vós as chamais, mas por compaixão para com as almas, que rejeitam a Vida. Aí está. Agora estamos todos contentes, não é verdade, ó grandes meninos que vós sois? Eia, então.  Ide aqueles pastores, que estão tirando o leite de suas ovelhas, e pedi-lhes um pouco de leite, em nome de Deus.” “Não tenhais medo”, acrescenta Ele, ao ver o olhar desanimado dos apóstolos. “Obedecei com fé. Recebereis leite, e não pauladas, ainda mesmo que o homem seja um fenício.”


(De Jesus à Valtorta – O Evangelho como me foi Revelado)

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