MILAGRE NO CASTELO EM
CESARÉIA DE PANÉADES
“É
uma das mulheres do castelo. É casada. Está para ter um filho. É o primeiro e o
último, pois seu esposo morreu nas calendas de Casleu. E não sei se ele viverá,
porque a mulher, desde quando ficou viúva, nada mais faz, senão desfazer-se em
pranto. Parece uma sombra. Estás ouvindo? Não tem nem força para gritar... Tem
razão... Viúva aos dezessete anos... E eles se amavam muito. Minha mulher e a
sogra dela lhe dizem: “No filho encontrarás de novo Tobias.” Mas isso são
palavras.
Vão
descendo da torre, e fazendo a volta pelos bastiões, admirando o lugar e o
panorama. Depois o intendente insiste em oferecer bebidas e frutas aos
visitantes, e eles entram em uma ampla sala do castelo, onde os servos colocam
o que foi mandado buscar. O gemido agora está dilacerante e próximo, e o
intendente pede desculpas por aquilo, e porque o que está acontecendo obriga
sua mulher a estar longe do Mestre. Mas uma gritaria, ainda mais triste do que
o gemido de antes, é o que vem suceder a este, e faz que fiquem paradas no ar
as mãos que estão trazendo as frutas ou os cálices, que estão indo a caminho
das bocas.
“Vou
ver o que aconteceu”, diz o intendente. E vai saindo enquanto a confusão dos
gritos e prantos vem entrando, ainda mais fortes, pela porta entreaberta.
O
intendente já está de volta. “O menino morreu, logo que nasceu... Que angústia.
Estão procurando reanimá-lo, mas a vida se lhe escapa... Não respira mais. Está
ficando preto...”, e sacode a cabeça, dizendo: “Pobre Dorcas!”
“Traze-me
o menino.”
“Mas
ele já morreu. Senhor.”
“Traze-me
o menino, é o que Eu estou dizendo. Do jeito que ele estiver. E dize à mãe que
tenha fé.”
O
intendente sai correndo. Depois volta. “Ela não quer. Diz que não o entrega a
ninguém. Parece que ficou doida. Diz que estamos fazendo assim para tirá-lo
dela.”
“Leva-me
até a soleira do quarto dela. Que ela me veja.”
“Mas...”
“Deixa-me
ir! Eu me purificarei depois, se for o caso...”
Vão
indo depressa, por um corredor escuro, até chegarem a uma porta fechada. Jesus,
mesmo a abre, ficando na soleira, em frente da cama, na qual uma mulher pálida
está apertando sobre o coração um pequeno ser, que não dá mais sinal de vida.
“A
paz esteja contigo, Dorcas. Olha para Mim. Não chores. Eu sou o Salvador. Dá-me
o teu pequenino...”
Que
havia na voz de Jesus, eu não sei. Só sei que aquela desesperada que, logo que
o viu, havia apertado ferozmente o recém-nascido contra seu coração, olha agora
para Ele, e os seus olhos, angustiados e loucos, se abrem diante de uma luz
cheia de dor, mas também de esperança. Ela entrega o pequenino ser, enrolado em
uns panos leves, à mulher do intendente... e lá fica, com as mãos estendidas,
com a vida e a fé naqueles olhos dilatados, surda a todos os pedidos da sobra,
que a queria colocar sobre umas almofadas.
Jesus
pega o pequenino embrulho de carne, já meio fria, e de panos, segura de pé o
menino pelas axilas, apóia sua boca sobre aqueles labiozinhos entreabertos,
tendo que ficar inclinado, porque a cabeçinha está caindo para trás. Ele sopra
com força para dentro daquela garganta inerte... Fica com os lábios apoiados
àquela boquinha por um instante, depois se afasta... e um pio, como o de um
passarinho, se ouve, trêmulo, através do ar parado... depois, um segundo pio,
mais forte... e um terceiro... e finalmente um vagido e um balancear da
cabecinha pelada e do rostinho miúdo, e quem lhe responde é o grito da mãe: “Meu
filho! Meu amor! A semente do meu Tobias. Sobre o coração! Estás sobre o
coração da mamãe!... que ela morra feliz...”, diz a mulher em um sussurro, que
termina em um beijo e no abandono de qualquer reação que se pudesse imaginar.
“Ela
está morrendo!”, gritam as mulheres.
“Não.
Ela está tomando um justo repouso... Quando ela acordar, dizei-lhe que dá ao
menino o nome de Jesai-Tobias. Eu a tornarei a ver no Templo, no dia da
purificação.” Jesus fecha a porta devagar, e se vira a fim de voltar para onde
estava com os seus discípulos. Eles estão todos lá, todos comovidos pelo que
viram, e que olham, admirados para Ele.
Voltam
juntos para o pátio. Saúdam ao intendente, que está assombrado e que só sabe
repetir: “Como vai ficar aborrecido o Tetrarca, por não ter estado aqui!” E
retomam a descida, para voltarem à cidade.
Jesus
põe a mão sobre o ombro do velho Benjamim, dizendo-lhe: “Eu te agradeço por
tudo o que nos mostraste, e por ter sido esse teu convite razão de um milagre.”
(De
Jesus à Valtorta, Vol. 5, pgs. 320, 321, 322)
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