“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A MISERICÓRDIA ANDOU NA TERRA, E SEU NOME ERA JESUS DE NAZARÉ




MILAGRE NO CASTELO EM CESARÉIA DE PANÉADES


“É uma das mulheres do castelo. É casada. Está para ter um filho. É o primeiro e o último, pois seu esposo morreu nas calendas de Casleu. E não sei se ele viverá, porque a mulher, desde quando ficou viúva, nada mais faz, senão desfazer-se em pranto. Parece uma sombra. Estás ouvindo? Não tem nem força para gritar... Tem razão... Viúva aos dezessete anos... E eles se amavam muito. Minha mulher e a sogra dela lhe dizem: “No filho encontrarás de novo Tobias.” Mas isso são palavras.
Vão descendo da torre, e fazendo a volta pelos bastiões, admirando o lugar e o panorama. Depois o intendente insiste em oferecer bebidas e frutas aos visitantes, e eles entram em uma ampla sala do castelo, onde os servos colocam o que foi mandado buscar. O gemido agora está dilacerante e próximo, e o intendente pede desculpas por aquilo, e porque o que está acontecendo obriga sua mulher a estar longe do Mestre. Mas uma gritaria, ainda mais triste do que o gemido de antes, é o que vem suceder a este, e faz que fiquem paradas no ar as mãos que estão trazendo as frutas ou os cálices, que estão indo a caminho das bocas.
“Vou ver o que aconteceu”, diz o intendente. E vai saindo enquanto a confusão dos gritos e prantos vem entrando, ainda mais fortes, pela porta entreaberta.
O intendente já está de volta. “O menino morreu, logo que nasceu... Que angústia. Estão procurando reanimá-lo, mas a vida se lhe escapa... Não respira mais. Está ficando preto...”, e sacode a cabeça, dizendo: “Pobre Dorcas!”
“Traze-me o menino.”
“Mas ele já morreu. Senhor.”
“Traze-me o menino, é o que Eu estou dizendo. Do jeito que ele estiver. E dize à mãe que tenha fé.”
O intendente sai correndo. Depois volta. “Ela não quer. Diz que não o entrega a ninguém. Parece que ficou doida. Diz que estamos fazendo assim para tirá-lo dela.”
“Leva-me até a soleira do quarto dela. Que ela me veja.”
“Mas...”
“Deixa-me ir! Eu me purificarei depois, se for o caso...”
Vão indo depressa, por um corredor escuro, até chegarem a uma porta fechada. Jesus, mesmo a abre, ficando na soleira, em frente da cama, na qual uma mulher pálida está apertando sobre o coração um pequeno ser, que não dá mais sinal de vida.
“A paz esteja contigo, Dorcas. Olha para Mim. Não chores. Eu sou o Salvador. Dá-me o teu pequenino...”
Que havia na voz de Jesus, eu não sei. Só sei que aquela desesperada que, logo que o viu, havia apertado ferozmente o recém-nascido contra seu coração, olha agora para Ele, e os seus olhos, angustiados e loucos, se abrem diante de uma luz cheia de dor, mas também de esperança. Ela entrega o pequenino ser, enrolado em uns panos leves, à mulher do intendente... e lá fica, com as mãos estendidas, com a vida e a fé naqueles olhos dilatados, surda a todos os pedidos da sobra, que a queria colocar sobre umas almofadas.
Jesus pega o pequenino embrulho de carne, já meio fria, e de panos, segura de pé o menino pelas axilas, apóia sua boca sobre aqueles labiozinhos entreabertos, tendo que ficar inclinado, porque a cabeçinha está caindo para trás. Ele sopra com força para dentro daquela garganta inerte... Fica com os lábios apoiados àquela boquinha por um instante, depois se afasta... e um pio, como o de um passarinho, se ouve, trêmulo, através do ar parado... depois, um segundo pio, mais forte... e um terceiro... e finalmente um vagido e um balancear da cabecinha pelada e do rostinho miúdo, e quem lhe responde é o grito da mãe: “Meu filho! Meu amor! A semente do meu Tobias. Sobre o coração! Estás sobre o coração da mamãe!... que ela morra feliz...”, diz a mulher em um sussurro, que termina em um beijo e no abandono de qualquer reação que se pudesse imaginar.
“Ela está morrendo!”, gritam as mulheres.
“Não. Ela está tomando um justo repouso... Quando ela acordar, dizei-lhe que dá ao menino o nome de Jesai-Tobias. Eu a tornarei a ver no Templo, no dia da purificação.” Jesus fecha a porta devagar, e se vira a fim de voltar para onde estava com os seus discípulos. Eles estão todos lá, todos comovidos pelo que viram, e que olham, admirados para Ele.
Voltam juntos para o pátio. Saúdam ao intendente, que está assombrado e que só sabe repetir: “Como vai ficar aborrecido o Tetrarca, por não ter estado aqui!” E retomam a descida, para voltarem à cidade.
Jesus põe a mão sobre o ombro do velho Benjamim, dizendo-lhe: “Eu te agradeço por tudo o que nos mostraste, e por ter sido esse teu convite razão de um milagre.”


(De Jesus à Valtorta, Vol. 5, pgs. 320, 321, 322)

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