O ADEUS À MÃE ANTES DE ASCENDER AO PAI.
Vejo
sempre o quarto habitado por Maria. Os sinais da Paixão desapareceram. A Virgem
está sentada e lê. Devem ser livros sagrados, porque não lê certamente outra
coisa que o rolo que tem nas mãos. Não está mais torturada. O seu rosto
permanece mais grave desde a Paixão, mais maduro. Mas não está mais trágico o
seu rosto. Agora está majestoso e sereno.
Parece
manhã, porque há já um belo sol que da janela aberta, entra no quarto, mas se
vê que o jardim fechado com os altos muros, sobre o qual se abre a janela, está
ainda todo fresco de orvalho.
Entra
Jesus. Tem ainda a sua esplêndida veste da manhã da Ressurreição. O seu Rosto
emana fulgor e as suas Feridas são pequenos sóis.
Maria
se ajoelha sorrindo e depois se levanta e o beija sobre a Mão direita. Jesus a
abraça ao coração e a beija na fronte, sorrindo, e lhe pede um beijo que Maria
dá também sobre a Fronte dele.
“Mamãe!
O meu tempo de permanência sobre a terra terminou. Subo ao Pai. Vim dar-te um
adeus particular e mostrar-me a ti ainda uma vez, assim como estarei no Céu.
Não pude mostrar-me aos homens com esta veste de esplendor. Não teriam podido
suportar a beleza do meu Corpo glorificado. Essa é muito superior às suas
possibilidades. Mas a ti Mamãe, sim. E venho alegrar-te ainda uma vez com ela.
Beija
as minhas feridas. Que Eu sinta no Céu um perfume dos teus lábios e que
permaneça sobre esses a doçura do meu sangue.
Mas
estejas segura, Mamãe, que Eu não te deixarei jamais. Sairei de teu coração
naqueles poucos instantes necessários à consagração do Pão e do Vinho, para
retornar depois de ter-me separado de ti com fadiga, com uma ânsia de amor
semelhante à tua, ó meu Céu vivo do qual Eu sou o Céu.
Não
estaremos jamais tão unidos como de agora em diante. Antes havia a minha
incapacidade embrional, depois a minha infância, depois a luta da vida e do
trabalho, e depois a missão, e depois a Cruz e o Sepulcro a manter-me distante
e impedido de dizer-te quanto te amo. Mas agora serei em ti não apenas criatura
que se forma, não mais junto a ti entre os obstáculos do mundo, que impede a
fusão de dois que se amam. Agora estarei em ti como Deus, e nada, nada na terra
e no Céu será apto a separar-me de ti, tu de Mim, Mãe Santa.
Direi
a ti palavras de inefável amor, darei carícias de inexprimível doçura. E tu me
amarás por quem não me ama.
Oh!
Tu plenificas a medida do amor, que o mundo não dará ao Cristo, com teu amor
perfeito, Mamãe. Por isso, mais que um adeus, a minha é uma saudação de quem
sai por um momento, como se fosse colher rosas e lírios neste jardim florido.
Mas te trarei do Céu rosas e outros lírios mais belos que estes, aqui floridos.
Plenificarei o teu coração, Mamãe, para fazer-te esquecer a podridão da terra,
que não quer ser santa, e antecipar-te a auréola do bem-aventurado Paraíso,
onde és esperada com tanto amor.
E
o Amor, que não sabe esperar, virá sobre ti dentro de dez dias. Faze-te bela,
com tua mais bela alegria, ó Mãe Virgem, que o teu Esposo vem. O inverno já
passou... as vinhas em flor exalam o seu perfume, e Ele canta: “Vem, ó toda
bela. Vem, ó minha Esposa, serás coroada”. Do seu Fogo te coroará, ó Santa, e
te fará feliz com o teu Espírito, que se infundirá em ti com todos os seus
esplendores, ó Rainha da Sabedoria. Rainha, que pudeste compreendê-lo desde a
manhã de tua vida e amá-lo como criatura no mundo jamais o amou.
Mãe.
Eu subo ao nosso Pai. Sobre ti, Bendita, a bênção do teu Filho.”
Maria
irradia êxtase no quarto que permanece luminoso pela luz de Cristo.
(O
Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 10, pgs. 404, 405, 406)
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