UMA DECLARAÇÃO DE AMOR A JESUS
Gostaria que
lessem esta declaração de amor arrebatadora, feita por Maria Valtorta enquanto
escrevia o livro “ O Evangelho como me foi Revelado”, quando incapaz de se
conter diante da bondade de Jesus, cai em êxtase de amor e diz:
“ Como muitas vezes fazem, enquanto vão caminhando,
talvez para quebrar com esta distração, a monotonia do muito caminhar, os
apóstolos falam um com os outros, lembrando e contando o último acontecimento,
fazendo ao Mestre perguntas que ele quase sempre responde em poucas palavras,
só para não ser descortês, reservando as forças que ainda tem somente para
quando tem que falar ensinando o povo e seus apóstolos, corrigindo ideias
erradas ou confortando os infelizes.
Jesus era a “ Palavra”, mas certamente não era um
“palavrório”. Paciente e gentil como nenhum outro, sem mostrar nunca que
estivesse aborrecido por ter que repetir um conceito uma, duas, dez, cem vezes,
a fim de fazer que ele penetrasse nas cabeças encouraçadas pelos preceitos dos
fariseus e dos rabinos, sem cuidar do seu cansaço, que as vezes chegava a ser
tão grande, que passava a ser um sofrimento, contanto que aliviasse os
sofrimentos morais ou físicos de alguma criatura. Mas é evidente que ele
precisa calar-se, separar-se dos outros em silêncio meditativo, capaz de durar
horas se ele não for perturbado por alguém que lhe faça alguma pergunta.
Geralmente e sempre um pouco na frente de seus apóstolos, ele vai com a cabeça
um pouco inclinada, levantando-a de vez em quando, a fim de olhar para o Céu,
para o campo ou para as pessoas e para os animais. Para olhar eu disse, mas
falei mal. Devo dizer: PARA AMAR.Porque é um sorriso, sorriso de Deus, o que
sai daquelas pupilas e se derrama em carícias sobre o mundo e as criaturas, um
sorriso amor. Porque é o amor que transluz, que se expande, que abençoa, que
purifica a luz do seu olhar, sempre intenso, mas muito mais intenso quando ele
sai dos seus recolhimentos.
Mas, que serão os seus recolhimentos? Eu penso, e
tenho certeza de não estar errada, porque basta observar a expressão do sei
rosto para ver o que eles são, eu penso que são muito mais do que nossos
êxtases, durante os quais uma criatura já esta vivendo no Céu. Eles são a união
sensível de Deus com Deus. Sempre presente e unida á Divindade ao Cristo, que é
Deus como o Pai. Na Terra como no Céu, o Pai esta no Filho e o Filho esta no
Pai, e eles se amam, e amando-se geram a terceira pessoa. O poder do Pai e a
geração do Filho e o ato de gerar e de ser gerado cria o fogo, isto é o
Espírito do Espírito de Deus. O poder se volta para a sabedoria, que ele gerou,
e esta se volta para o Poder, na alegria de ser um pelo outro e de se
conhecerem pelo que são. E, visto que todo conhecimento bom e recíproco cria
amor, assim também são nossos conhecimentos ainda que imperfeitos, eis ai o
Espírito Santo. Eis aquele que se fosse possível introduzir uma perfeição nas
perfeições Divinas, dever-se-ia chamar a Perfeição da Perfeição. O Espírito
Santo! É ele que, só ao pensarmos nele, já nos enche de luz, de alegria de
paz...
Nos êxtases do Cristo, quando o incompreensível
mistério da Unidade e da Trindade de Deus se renovava no Santíssimo Coração de
Jesus, como uma completa, perfeita, incandescente, santificante, gozosa,
pacífica produção de amor devia gerar-se e produzir-se como o calor de uma
fornalha ardente , como o incenso em um turíbulo aceso, para beijar com o beijo
de Deus as coisas criadas pelo Pai, feitas por meio do Filho Verbo, feitas pelo
amor, só pelo amor, porque todas as operações de Deus são amor. E isto e o
olhar do homem Deus, quando, como homem e como Deus, levanta os olhos que contemplaram
em si mesmo o Pai. A si mesmo e ao amor, olhando o Universo, admirando como
homem o poder criador de Deus, admirando-se de poder salvá-lo nas criaturas
reais dessa criação, que são os homens, e de fazer isso como Deus.
Oh! Não se pode, ninguém poderá nem um poeta, nem um
artista, nem um pintor, tornar visível para as multidões aquele olhar de Jesus,
que sai do abraço, da união sensível com a Divindade, unida hipostaticamente
sempre ao homem, mas nem sempre tão profundamente sensível ao homem que era
Redentor, e que por isso as suas muitas dores, aos seus muitos aniquilamentos
devia acrescentar ainda este, grandíssimo, de não poder mais estar sempre no
Pai, no grande vértice do amor, como quando estava no Céu, onipotente, livre,
gozoso. Esplêndido o poder do seu olhar na hora do milagre, dulcíssima a
expressão do seu olhar de homem, tristíssima a luz de dor na hora da dor. Mas
são olhares ainda humanos, e contudo de uma expressão perfeita. Este, este é o
olhar de Deus que se contemplou e se amou na Triniforme Unidade, que não pode
ter comparação, nem há adjetivo para isso.
E a alma prostra-se, adorando, tornada um “ nada” no
conhecimento de Deus, tornada bem-aventurada no contemplar o seu infinito amor.
As torrentes de delícia se derramam em minha alma...Eu sou bem aventurada! Toda
dor, cada recordação se anula sob as ondas de amor de Jesus Deus... e essas
ondas me elevam ao Céu, ao Céu, a Ti...
Obrigada, meu adorável amor!...Obrigada!...Agora te
sirvo ainda...A criatura foi tornada mulher, foi tornada “portadora” depois de
ter sido por um instante “ Serafim”. Torna mulher, criatura-mártir, talvez um
outro tormento já lhe está as costas... Mas no meu espírito brilha a luz que tu
me deste, a beatífica luz de ter-te contemplado, nem torrentes de lágrimas, nem
torturas cruéis poderão arrancá-la. Obrigada, meu bendito! Tu somente me amas!
Compreendo Paulo como jamais antes! “ Quem poderá
separar-me do amor de Cristo? De todas essas coisas somos vencedores em virtude
daqueles que nos amou...Eu estou seguro que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as
futuras, nem a potência, nem a altitude, nem a profundidade, nem qualquer outra
coisa poderá separar-nos do amor de Deus que esta em Cristo Jesus Nosso
Senhor.” É o canto vitorioso, jubiloso, que jorra das fileiras dos vitoriosos,
dos amantes, dos salvos pelo amor, porque esta é a santidade, a salvação tida
porque fomos amados sobre a Terra, o percebe e canta a sua alegria, a sua
confiança, a sua certeza...E luz, ainda mais luz vem, e as palavras luminosas do
Apóstolo se iluminam ainda mais, ainda mais..” o amor de Deus que está em
Cristo Jesus, Senhor nosso”.
Eis agora compreendo as palavras de Azarias, deste
inverno: “ Jesus é o compêndio do amor dos três”. Eis! Todo o amor está nele.
Nós podemos encontrar este amor de Deus, nós homens, sem esperar o retorno de
Deus, sem esperar o Céu, amando Jesus. Eis! Para quem crê se abrem dentro das
fontes de água viva, fontes de luz, fontes de amor, porque quem crê vai a
Jesus, porque quem crê que Jesus está na Eucaristia com o seu corpo, sangue,
alma Divindade, como estava na Terra, como está no Céu, com o coração, com o
seu coração! E no coração de Jesus está o amor de Deus. E quando o homem recebe
o Corpo Santíssimo de Jesus acolhe em si o coração de Jesus. Tem por isso em si
não só Jesus, mas tem o amor de Deus, ou seja, tem Deus Pai, Filho e Espírito
Santo, porque o amor de Deus é a Santíssima Trindade, que é uma única coisa: O
AMOR. O amor que se reparte em três chamas para fazer-nos triplicemente
felizes. Felizes por ter um Pai, um irmão, um Amigo. Felizes por ter quem
providencia, quem orienta, quem ama. Felizes por ter Deus!
Oh! Não posso mais!...Senhor muito grande é o teu
dom! Quem o obtêm de mim dos Céus? És
tu, beatíssima Mãe, contemplada no teu fulgor de Rainha Assunta aos Céus? És
tu, amoroso de Cristo, João de Betsaida, meu amigo? És tu, amável patriarca
protetor dos perseguidos, solicito provedor de conforto, José veneradíssimo? És
tu minha grande irmãzinha, Tereza do Menino Jesus, que me obténs aquilo que desde
os meus vinte e um anos peço: que transbordem na minha alma as ondas do amor?
Oh! És tu, realiza a obra. Obtém-me de morrer não em um desses assaltos de
amor. Sou eu ainda uma pequena alma e não desejo coisas extraordinárias. Mas de
morrer depois de um destes assaltos de amor, quando sou tornada “ pequena alma,
pequeníssima”, feita ainda mais pequena pelo conhecimento daquele que é o
infinito amor, depois de um desses assaltos, porque depois estou como que
rebatizada pelo amor e não restam sombras de manchas em mim. O amor arde... Ó,
és tu, Azarias, bom amigo que por todas as lágrimas que recolheste de maus
cílios e levaste ao Céu, me obtiveste esta hora de bem-aventurança? Se és tu,
que sejas bendito!
Porém a ti, Teresa, a José, a João e Maria Santíssima,
eu não peço que este êxtase retorne ainda, a encher-me de jubilo e de fogo. Mas
vos peço, vos suplico, que vá a outros corações, e especialmente aqueles que
vós sabeis, aqueles corações que torturam o meu, e desagradam a Deus, que não
sabem sentir e não sabem obedecer. Se aqueles corações tiverem ainda que um
instante só desses assaltos de amor, se converterão ao amor, ao verdadeiro
amor. Amarão. Com tudo de si. Com o intelecto sobretudo, do qual cairão as
muralhas do racionalismo, da ciência humana, que negam e que obstaculizam a fé
simples e boa e colocam confins ao poder de Deus. E com o coração onde se
fundirão, como cera ao fogo, as crostas do egoísmo, da inveja, do ódio...
Fazei-o meus caríssimos. Eu aceito de não colocar mais
os lábios sobre o cálice restaurador do amor, aceito de beber sempre, até o
retorno de Deus, o cálice amargo de todas as renúncias, mas que esses tornem
sobre caminho luminoso, que esses se santifiquem em cada ação deles, para
merecer o olhar de Jesus-Deus, assim como me foi concedido de gozar hoje. Merecê-lo
aqui, possuí-lo para sempre no Céu, assim como, esperando no meu Senhor, confio
possuí-lo eu também...”
Depois desta declaração de Valtorta, Jesus diz:
“ Cantaste ao invés de contar, cantaste. Todo o
Paraíso cantava ontem as glórias de minha Mãe, e tu cantaste junto no Paraíso,
e o Paraíso ouviu num certo momento o teu solo. Sabes quando? Quando tu pediste
para não gozar, mas que “ aqueles” sejam invadidos pelo amor para serem salvos.
O Céu amante escutou a ti, porque renunciar á beatitude para que outros tenham
a vida é concedido somente a quem está sobre a Terra sendo já cidadão do Céu.
Os Santos, pelo seu canto, recordaram-se de quando eram cantores sobre a Terra.
Os anjos ouviram olhando com fraterna complacência o teu Azarias. Maria sorriu
oferecendo o teu canto de amor. E o amor! Oh! Minha Maria! E o amor te
beijou...e te beija ainda. Permanece no gáudio. Tu compreendeste o amor. Eu
estou em ti, e em mim está Deus Uno e Trino, como compreendeste. Percorre os
caminhos da alegria sobrenatural hoje, em vez das estrelas da Palestina, ao
encontro do amor de Jesus... Maria, não és feliz de estar nas condições em que
estavam os meus no último ano de minha vida? É um dom também isto, e uma luz
para compreender-me. Sem uma experiência própria, e proporcionada, a criatura
não poderia compreender o que foi a minha longa Paixão. Mas hoje, como ontem,
percorre os caminhos da alegria celeste. Deus está contigo.
Permanece em paz.”
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