“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

CHAMEM POR MIM MEUS FILHOS.


CHAMEM POR MIM MEUS FILHOS.


Jesus desperta de sua meditação. Levanta-se. Olha para o lago. Procura pela superfície dele, á luz das poucas estrelas que ainda restam e da pobre aurora enfermiça, e vê a barca de Pedro, na qual vão remando com grande esforço e procurando alcançar a margem oposta, mas sem conseguirem. Jesus se envolve em seu manto, cobrindo-se bem, e sungando a barra, que está suspensa, e, vendo que ela lhe cria dificuldade para descer, Ele a leva para cima da cabeça, fazendo com ela uma espécie de capuz, e desce depressa, não pela estrada por onde tinha vindo, mas por uma trilha mais curta, que vai em linha reta para o lago.
E Ele vai indo assim, e com tão grande velocidade, que parece estar voando.
Ao chegar á margem, que está açoitada pelas águas, que estão fazendo sobre a areia uma orla de espuma flocosa e que chia, Ele prossegue o seu caminho, apressado, como se não estivesse caminhando sobre um elemento líquido e movediço, mas sobre o pavimento mais liso e sólido da terra. Agora se tornou luminoso. Parece que a pouca luz, que ainda está vindo das últimas e agonizantes estrelas e da aurora tempestuosa, se concentra nele, e que por Ele seja recolhida, formando uma fosforescência ao redor de seu corpo, que avança rapidamente. Ele vai quase voando sobre as ondas, sobre aquelas cristas de espuma, por sobre as dobras escuras, entre uma e outra onda, com seus braços estendidos para a frente, com o manto que, pelo vento, fica inflado aos lados de sua face, mas que esvoaça, o tanto que pode, por mais que esteja apertado junto ao corpo, como se fosse o bater de uma asa.
Os apóstolos o vêem, e lançam um grito de medo, que o vento leva até Jesus.
Não temais. Sou Eu. A voz de Jesus, mesmo tendo ido contra o vento, espalhou-se por sobre o lago, sem dificuldade.
És Tu mesmo, Mestre? , pergunta Pedro. Se és Tu, manda que eu vá ao teu encontro, caminhando sobre as águas, como Tu.
Jesus sorri e diz: “ Vem!”, e diz isso simplesmente, como se fosse o mais natural do mundo caminhar sobre a água.
E Pedro, seminu como está, isto é, com uma túnica curta e sem manto, dá um salto da barca e vai para Jesus.
Mas, quando ele está a uns cinqüenta metros da barca, e a quase outros tantos de Jesus, fica tomado pelo medo. Até aquele ponto, ele ia indo impulsionado pelo amor. Agora, sua natureza humana o domina... e ele teme por sua própria pele. Como alguém colocado sobre um chão escorregadio, ou melhor, sobre areia movediça, ele começa a bambolear, a bracejar e a afundar. E, quanto mais braceja, com mais medo vai ficando, e mais vai afundando.
Jesus parou, e está olhando para ele. Está sério. Está esperando. Mas nem estende uma das mãos, pois continua com as duas mãos juntas sobre o peito, e não dá mais nem um passo, não diz nenhuma palavra.
Pedro vai afundando. Já desaparecem seus tornozelos, suas canelas, os joelhos, e as águas já estão atingindo sua virilha, já vão alcançando sua cintura. O terror já está em seu rosto. É um terror que paralisa até o pensamento. Ele não passa de carne com medo de se afogar. Não pensa nem em pôr-se a nadar. Nada. Fica apatetado de medo.
Finalmente, ele resolve olhar para Jesus. E bastou olhar para Ele, e logo começou a raciocinar, a compreender onde está a salvação.
Mestre, Senhor, salva-me.
Jesus abre os braços e, como que transportado pelo vento ou pela onda, precipita-se no rumo do apóstolo, e lhe estende a mão, dizendo: “Oh! Que homem de pouca fé! Porque quiseste fazer tudo por si mesmo?”
Pedro, que havia agarrado convulsivamente a mão de Jesus, nem responde. Somente olha para Ele, para ver se Ele está com raiva. Olha para Ele com uma mistura de um resto de medo e de arrependimento.
Mas Jesus sorri e o conserva bem seguro pelo pulso, até que, tendo alcançado a barca, transpõem a borda dela, e entram. E Jesus ordena: “ Ide para a margem. Este aqui está todo molhado.” E sorri olhando para o discípulo humilhado.
As ondas se espraiam para facilitar a arribação, e a cidade, vista outra vez do alto de uma colina, já vem aparecendo para lá da margem.




Diz Jesus:


Muitas vezes não fico esperando nem mesmo ser chamado, quando vejo que filhos meus estão em perigo. E muitas vezes vou correndo a eles, e até aos que para comigo são filhos ingratos.
Vós estais dormindo, ou estais preocupados com os cuidados da vida, com as solicitudes da vida. Eu estou velando e orando por vós. Anjo de todos os homens, Eu estou inclinado sobre vós, e nada para Mim é mais doloroso do que não poder intervir, pois que sois contra a minha intervenção, e preferis agir por vós mesmos, ou, pior ainda, pedindo a ajuda do Mal. Como um pai que recebe do filho estas palavras: “ Eu não te amo. Não te quero. Sai da minha casa”, e Eu fico humilhado e entristecido, mais do que se o fosse por ter recebido feridas. E, se vós somente me dizeis: “ Vai-te embora”, e estais somente despreocupados com a vida, então Eu sou o Eterno Vigilante, que está pronto a intervir, até mesmo antes de ser chamado. E, se Eu fico esperando somente que Me digais uma palavra, algumas vezes espero para ouvir que Me estais chamando.
Que carícia é para Mim, que doçura é ouvir que estou sendo chamado pelos homens, Ouvir que eles se lembram de que Eu sou o “ Salvador”. Por isso, Eu não te digo qual a alegria infinita que Me penetra, e Me exalta, quando há quem me ama e me chama, mesmo sem que fique esperando a hora da necessidade. Ele Me chama, porque Me ama mais do que tudo no mundo, e percebi que está cheio de uma alegria semelhante á minha, ao chamar-me: “ Jesus, Jesus, como fazem as crianças, quando chamam: “ Mamãe, Mamãe”, e lhes parece que é mel que desce sobre os seus lábios, porque só a palavra “ mamãe já traz consigo o sabor dos beijos maternos.
Os apóstolos estavam remando, obedientes á minha ordem de que fossem esperar-me em Cafarnaum. E Eu, depois do milagre dos pães, Me havia isolado da multidão, não por indignação contra ela ou por cansaço.
Eu nunca tinha indignação para com os homens, nem mesmo quando eram maus para comigo. Somente quando Eu via que a Lei estava sendo pisoteada ou profanada a Casa de Deus, é que a Eu chegava á indignação. Mas nesses casos não era Eu que estava em causa, e sim, os interesses do Pai. E Eu era sobre a terra o primeiro dos servos de Deus para servir ao Pai dos Céus. Eu nunca estava cansado por dedicar-me ás multidões, e também nem mesmo quando as via tão obtusas, lerdas e humanas, que faziam perder o entusiasmo até aos mais bem dispostos em sua missão. E até, justamente porque eram assim deficientes é que Eu multiplicava até o infinito a repetição de minhas lições, e os tratava mesmo como alunos mais tardos e guiava seus espíritos para as descobertas e iniciações mais rudimentares, tal qual faz um mestre paciente, guiando as mãozinhas inexperientes dos alunos para traçarem os primeiros sinais e para torná-los cada vez mais capazes de compreender e fazer.
Quanto amor Eu dediquei ás multidões! Eu as afastava da carne, para levá-las ao espírito. Também, Eu havia começado na carne. Mas enquanto Satanás começa por ela para levar para o Inferno, Eu começava por ela para levar para o Céu.
Eu me havia isolado para dar graças ao Pai pelo milagre dos pães. Muitos milhares de pessoas haviam comido. E Eu lhes havia recomendado que dissessem: “ Obrigado” ao Senhor. Mas, depois de ter recebido ajuda, o homem não sabe dizer “ obrigado”. Então, Eu ia dizer isso por eles.
E depois... E depois, Eu me havia unido ao meu Pai, do qual Eu estava com uma saudade infinita e cheia de amor. Eu estava na terra, como uma casca seca e sem vida. O meu espírito se havia arremessado ao encontro de meu Pai, que Eu sentia inclinado sobre o seu Verbo, e lhe dizia: “ Eu Te amo, ó Pai Santo!” E era a minha alegria dizer-lhe: “ Eu Te amo”. Dizer-lhe isso como homem, além de dizer-lhe como Deus. Humilhar diante dele o sentimento do homem, assim como lhe oferecia as minhas palpitações de Deus. Parecia-me que Eu era o Imã que atraia a si todos os amores do homem, capaz de amar um pouquinho a Deus, de acumulá-los e de oferecê-los do fundo do meu coração. Parecia-me que Eu estava sozinho: era o Homem, isto é, a raça humana, que voltava, como nos dias da sua inocência, a conversar com Deus, á brisa fresca da tarde.
Mas, por mais que a felicidade fosse completa, pois era uma felicidade de amor, ela não me fazia esquecer das necessidades dos homens. Por isso é que Eu percebi o perigo dos meus filhos no lago. E deixei o Amor por causa do amor. A caridade precisa ser pronta.
Julgavam que Eu fosse um fantasma. Oh! Quantas vezes, pobres filhos, Me tomais por um fantasma, um objeto que causa medo! Se pensásseis sempre em Mim, Me teríeis reconhecido logo. Mas tendes tantos outros fantasmas no coração, e é isso que vos causa vertigem. Mas Eu Me faço conhecer. Oh! Se Me soubessem perceber!
Por que afunda Pedro, depois de haver caminhado tantos metros?
Já o disseste: porque os sentimentos humanos dominam o seu espírito.
Pedro era muito “homem”. Se tivesse sido João, não teria nem dominadoramente ousado, nem voluvelmente mudado de pensamento.
A pureza dá prudência e firmeza. Mas Pedro era “homem” em toda a extensão da palavra. Ele tinha o desejo de ser o primeiro, de fazer ver que ninguém como ele amava o Mestre, queria impor-se, e, só porque era um dos meus, julgava-se já acima das fraquezas da carne. Mas, ao contrário, pobre Simão, que nas provas dava contraprovas nada sublimes. Mas era necessário para que ele fosse um dia aquele que iria perpetuar a misericórdia do Mestre no seio da Igreja nascente. Pedro, não somente se deixa levar pelo assalto do medo, por estar sua vida em perigo, mas se torna nada mais, como disseste, do que “carne que treme”. Ele não reflete mais, não olha mais para Mim. Também vós fazeis assim, e quando o perigo é eminente, mais quereis fazer por vós. Como se vós pudésseis fazer algo! Jamais, como nas horas em que deveríeis esperar em Mim, e chamar-me, vos afastais e fechais o coração, e também me maldizeis.
Pedro não fala mal de Mim. Mas se esquece de Mim, e Eu preciso dar-lhe uma ordem, para que seu espírito volte a Mim e o faça levantar os olhos para o seu Mestre e Salvador.
Eu o absolvo, antes que ele o peça, do seu pecado, do seu pecado de dúvida, porque Eu o amo, a este homem impulsivo que, quando for confirmado na graça, saberá proceder sem ter mais perturbações ou cansaços, até o martírio, e tornando incansável, até a morte, a sua mística rede para levar almas para o seu Mestre. E quando ele me invoca, Eu não vou caminhando, mas vou voando em seu socorro, e o seguro firmemente, para conduzi-lo a salvo. Branda foi a minha censura, porque conheço todos os atenuantes de Pedro. Eu sou o defensor e o juiz melhor que há, e o qual nunca terá havido igual. Isso para todos.
Eu vos compreendo, meus pobres filhos. E, mesmo quando vos digo uma palavra de censura, o meu sorriso vo-la adoça. Eu vos amo. Eis tudo. Eu quero que tenhas fé. E, se a tiverdes, Eu virei, e vos levarei para longe do perigo. Oh! Se a Terra soubesse dizer: “ Mestre, Senhor salva-me!” Bastaria um grito, mas de toda a Terra, para que, no mesmo instante, Satanás e os seus carrascos calassem vencidos.
Mas não sabeis ter fé. Eu vou multiplicando os meios para levar-vos a fé. E, no entanto, eles caem na vossa lama, como pedra jogada na lama de um brejo, e lá jazem sepultados.
Não quereis purificar as águas do vosso espírito, porque gostais de ser lodo podre. Não importa. Eu cumpro o meu dever de Eterno Salvador. E até, se Eu não puder salvar o mundo, porque o mundo não quer ser salvo, Eu salvarei o mundo aqueles que, por me amarem como devo ser amado, já não são mais deste mundo.



( O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4, pgs 326 á 330)

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